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Saúde e doença em Gestalt-Terapia: aspectos filosóficos

Health and Illness in Gestalt therapy: philosophical aspects

Resumos

O trabalho se propõe a analisar a questão da Psicopatologia sob o prisma da Dialética, a partir das reflexões de Heráclito de Éfeso, e da Filosofia Dialógica de Martin Buber, como fundamentos para uma compreensão gestáltica da realidade. A idéia básica para se traçar uma elaboração da psicopatologia em Gestalt-Terapia é a noção de que "tudo é um todo", como contraponto a urna visão nosográfica tradicional, que considera a patologia como intrapsíquica ou individual. A psicopatologia é vista como produto da subjetividade que se caracteriza por ser, antes de tudo, intersubjetividade. Partindo de uma epistemologia da Gestalt Terapia, traça um panorama histórico dos pensamentos que formaram a Gestalt-Terapia, designando suas principais filosofias de base. Aproveita para tecer uma crítica ao modelo psiquiátrico tradicional com base nas idéias de Thomas Szasz. O cerne do trabalho é a consideração dialética da Gestalt- Terapia, a partir de três asserções: 1) Tudo é uma totalidade; 2) Tudo muda e 3) Tudo se relaciona com algo mais; e de suas correlações com o pensamento de Heráclito de Éfeso. O trabalho elabora ainda uma consideração da psicopatologia sob o prisma relacional, conforme Buber, que assinala para a patologia como um produto da desconfirmação do ser enquanto um existente. A psicopatologia surge, na realidade, como um evento relacionado ao diálogo ou, melhor dizendo, à falta deste. Com isto, mais uma vez concluímos que o homem deve ser entendido como um ser de relações. Utilizando uma linguagem buberiana, o fundamento da relação está na confirmação da existência do Outro e a psicopatologia é, pois, produto da desconfirmação. A conclusão final reconhece a Gestalt-Terapia como o resgate de uma ética do vivido.

Psicopatologia; Gestalt Terapia; dialética; diálogo


This paper proposes an analysis of the question of psychopathology and the view of Dialetics in the reflections of Heraclitus of Ephesus and the dialogical philosophy of Martin Buber, as foundations for a gestaltic compreension of reality. The basic idea to trace an elaboration of psychopathology in Gestalt Therapy is the notion that "everything is a whole", like a counterpoint of a traditional nosographic view that considers pathology as individual or intra-psychic. Psychopathology is interpreted like a product of subjectivity that is caracterized, basically, to be an intersubjectivity. Beginning by an epistemology ofGestalt-Therapy, the article traces a historical panorama of the thinkings that fonned Gestalt-Therapy, establishing its basics philosophies. The text improves a critics of the traditional psychiatric model based on Thomas Szasz ideas. The core ofthe paper is the dialetical consideration of Gestalt Therapy, by three points: 1) Everything is a whole; 2) Everything changes and 3) Everything is related to everything else; and its correlations with the thinking of Heraclitus of Ephesus. There is an elaboration of psychopathology by the relational view, according Buber, who considers pathology a product of disconfirmation of the being whereas an existent. Psychopathology appears like an event related to the absence of the dialogue. We concludes that the human being might be understood like a being-in-relations. Using a buberian language, the foundation of the relation is the confirmation of the existence of the Other. The final conclusion recognizes Gestalt-Therapy as a theory preoccupied with the ransom of the ethics of living.

Psychopathology; Gestalt-Therapy; dialetics; dialogue


Saúde e doença em Gestalt-Terapia: aspectos filosóficos* * Revisão de trabalho apresentado no VI Encontro Nacional de Gestalt Terapia/II Encontro Nacional da Abordagem Gestáltica, Florianópolis, 2 a 5 de Outubro de 1997.

Health and Illness in Gestalt therapy: philosophical aspects

Adriano Holanda

Psicólogo, Psicoterapeuta com Formação de Facilitador na Abordagem Centrada na Pessoa e Gestalt Terapia de Grupos; Mestre em Psicologia Clínica pela Universidade de Brasília; Doutorando em Psicologia pela Pontificia Universidade Católica de Campinas: Vice-Presidente do Instituto de Gestalt Terapia de Brasília. Adriano Holanda

RESUMO

O trabalho se propõe a analisar a questão da Psicopatologia sob o prisma da Dialética, a partir das reflexões de Heráclito de Éfeso, e da Filosofia Dialógica de Martin Buber, como fundamentos para uma compreensão gestáltica da realidade. A idéia básica para se traçar uma elaboração da psicopatologia em Gestalt-Terapia é a noção de que "tudo é um todo", como contraponto a urna visão nosográfica tradicional, que considera a patologia como intrapsíquica ou individual. A psicopatologia é vista como produto da subjetividade que se caracteriza por ser, antes de tudo, intersubjetividade. Partindo de uma epistemologia da Gestalt Terapia, traça um panorama histórico dos pensamentos que formaram a Gestalt-Terapia, designando suas principais filosofias de base. Aproveita para tecer uma crítica ao modelo psiquiátrico tradicional com base nas idéias de Thomas Szasz. O cerne do trabalho é a consideração dialética da Gestalt- Terapia, a partir de três asserções: 1) Tudo é uma totalidade; 2) Tudo muda e 3) Tudo se relaciona com algo mais; e de suas correlações com o pensamento de Heráclito de Éfeso. O trabalho elabora ainda uma consideração da psicopatologia sob o prisma relacional, conforme Buber, que assinala para a patologia como um produto da desconfirmação do ser enquanto um existente. A psicopatologia surge, na realidade, como um evento relacionado ao diálogo ou, melhor dizendo, à falta deste. Com isto, mais uma vez concluímos que o homem deve ser entendido como um ser de relações. Utilizando uma linguagem buberiana, o fundamento da relação está na confirmação da existência do Outro e a psicopatologia é, pois, produto da desconfirmação. A conclusão final reconhece a Gestalt-Terapia como o resgate de uma ética do vivido.

Palavras-chave: Psicopatologia, Gestalt Terapia, dialética, diálogo.

ABSTRACT

This paper proposes an analysis of the question of psychopathology and the view of Dialetics in the reflections of Heraclitus of Ephesus and the dialogical philosophy of Martin Buber, as foundations for a gestaltic compreension of reality. The basic idea to trace an elaboration of psychopathology in Gestalt Therapy is the notion that "everything is a whole", like a counterpoint of a traditional nosographic view that considers pathology as individual or intra-psychic. Psychopathology is interpreted like a product of subjectivity that is caracterized, basically, to be an intersubjectivity. Beginning by an epistemology ofGestalt-Therapy, the article traces a historical panorama of the thinkings that fonned Gestalt-Therapy, establishing its basics philosophies. The text improves a critics of the traditional psychiatric model based on Thomas Szasz ideas. The core ofthe paper is the dialetical consideration of Gestalt Therapy, by three points: 1) Everything is a whole; 2) Everything changes and 3) Everything is related to everything else; and its correlations with the thinking of Heraclitus of Ephesus. There is an elaboration of psychopathology by the relational view, according Buber, who considers pathology a product of disconfirmation of the being whereas an existent. Psychopathology appears like an event related to the absence of the dialogue. We concludes that the human being might be understood like a being-in-relations. Using a buberian language, the foundation of the relation is the confirmation of the existence of the Other. The final conclusion recognizes Gestalt-Therapy as a theory preoccupied with the ransom of the ethics of living.

Keywords: Psychopathology, Gestalt-Therapy, dialetics, dialogue.

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    Revisão de trabalho apresentado no VI Encontro Nacional de Gestalt Terapia/II Encontro Nacional da Abordagem Gestáltica, Florianópolis, 2 a 5 de Outubro de 1997.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      02 Jun 2015
    • Data do Fascículo
      1998
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