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MEMÓRIA DE 68: TERROR E INTERDIÇÃO DO PASSADOS

Memories of 68: terror and interdiction of the past

Resumos

O presente artigo procura desenvolver uma linha de interpretação que pretende reconstruir os acontecimentos de 68 e seus desdobramentos no Brasil, problematizando a questão da memória e do esquecimento. Estes acontecimentos, marcados por representações de vida e morte são explorados em dois registros: o de um passado que não se torna passado, dada a dificuldade de sua simbolização - no limite a experiência do terror como expressiva desta dificuldade de nomear a experiência; o da interdição mesma do passado - a anistia proposta a partir da restrição da investigação do passado e a prática de "normalização" da sociedade e da política no processo de transição.

Brasil; 1968: memória; esquecimento; terror; transição; anistia


This article tries to develop an approach, which intends to reconstruct the events of 68 and how they have unfolded in Brazil, focusing on the question of memory and forgetfulness. These events, which were marked by representations of life and death are explored in two registers: that of a past which does not become the past, due to the difficulty of its symbolization - at the limit, the experience of terror as the expressive difficulty of nominnanting the experience; that of the interdiction itself of the past - the amnesty proposed based on the restriction on the investigation of the past and the practice for "normalization" of the society and the politics in the transition process.

Brazil; 1968: memory; forgetfulness; terror; transition; amnesty


Texto completo disponível em PDF.

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    Texto originalmente apresentado no Colóquio Internacional: Estado, Autoritarismo e Violência Política (Brasil e Argentina); Núcleo de Estudos da Violência - FFLCH-USP; coordenação: Irene de Arruda Ribeiro Cardoso e Emilio E. Dellasoppa; setembro de 1989, São Paulo.
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    A noção aqui construída de modo de aproximação com os acontecimentos de 68, partindo da problematização da questão da memória e do esquecimento, pressupõe que a reconstrução possível daqueles acontecimentos é fragmentária. Os modos de aproximação constituem interpretações construídas a partir de recortes nos testemunhos e no conjunto da documentação, que permitem entendê-los como "itinerários" também construídos pelo investigador, que elabora os enfoques sobre o campo dos acontecimentos. A noção de aproximação é importante, ainda, porque, sendo central a questão da memória e do esquecimento, ficam postas a dificuldade de uma datação segundo a cronologia tradicional (tal ano, tal mês, tal dia) e a necessidade de tratar os acontecimentos com aproximações. Em outro artigo, "Os Acontecimentos de 1968 - Notas para uma interpretação", procurei construir o que chamei de "modo de aproximação melancólico", elaborado a partir de três imagens da melancolia: a melancolia associada a uma perda desconhecida; a melancolia-nostalgia, não inteiramente imotivada, nem inteiramente indeterminada; e a melancolia - a-kédia - na acepção do abandono de um cadáver sem sepultura, que permitia tratar a questão dos desaparecimentos (Cf Cardoso, 1988).

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Dec 1990

Histórico

  • Recebido
    Jun 1990
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