Intervenções para ansiedade que podem ser utilizadas por enfermeiros: revisão de escopo

Intervenciones para la ansiedad que pueden ser utilizadas por enfermeros: revisión de alcance

Resumo

Objetivo

Mapear as intervenções que podem ser realizadas por enfermeiros nos diversos serviços de atenção à saúde para o manejo dos sintomas de ansiedade em adultos durante a COVID-19.

Métodos

A revisão de escopo foi conduzida conforme o manual do Joanna Briggs Institute (JBI). A pergunta de revisão foi “Qual o conhecimento disponível na literatura sobre as intervenções de manejo dos sintomas de ansiedade que podem ser utilizadas por enfermeiros nos diversos serviços de atenção à saúde, na população adulta, durante a COVID-19?”. As fontes de dados pesquisadas foram: Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), EMBASE, PUBMED, CINAHL, PsycINFo, SCOPUS e Web of Science. Não houve limitação de ano ou idioma de publicação.

Resultados

Foram analisados 85 artigos. Os estudos mostraram que, em geral, toda a população adulta apresentou mudanças nos níveis de ansiedade durante a pandemia. Entre as intervenções identificadas, que podem ser realizadas por enfermeiros para o manejo dos sintomas de ansiedade, houve singular destaque para as variadas formas de intervenções online , com frequência de 21,4% nos estudos, seguida pelas atividades físicas, com frequência de 13,3%.

Conclusão

Foi possível mapear as intervenções que podem reduzir os sintomas de ansiedade na população adulta, assim como delimitar as que podem ser aplicadas por enfermeiros, aumentando a visibilidade dessa categoria como protagonista do cuidado nos diversos setores de serviço de saúde. Dentre as intervenções sintetizadas, destacaram-se o teleatendimento, atividade física, exercícios cognitivos e intervenções não farmacológicas.Protocolo de registro do Artigo de Revisão: o protocolo de revisão está registrado no Open Science Framework (OSF), sob o número: https://doi.org/10.17605/OSF.IO/3Q2VT.

Ansiedade; Transtornos da ansiedade; COVID-19; SARS-Cov-2; Saúde mental

Resumen

Objetivo

Mapear las intervenciones que pueden ser realizadas por enfermeros en los diferentes servicios de atención a la salud para el manejo de los síntomas de ansiedad en adultos durante el COVID-19.

Métodos

La revisión de alcance fue realizada de acuerdo con el manual del Joanna Briggs Institute (JBI). La pregunta de revisión fue “¿Cuál es el conocimiento disponible en la literatura sobre las intervenciones de manejo de los síntomas de ansiedad que pueden ser utilizadas por enfermeros en los diferentes centros de atención a la salud, en la población adulta, durante el COVID-19?”. Las fuentes de datos investigadas fueron: Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), EMBASE, PUBMED, CINAHL, PsycINFo, SCOPUS y Web of Science. No hubo restricción de año ni idioma de publicación.

Resultados

Se analizaron 85 artículos. Los estudios mostraron que, en general, toda la población adulta presentó cambios en los niveles de ansiedad durante la pandemia. Entre las intervenciones identificadas para el manejo de los síntomas de ansiedad, que pueden ser realizadas por enfermeros, se observó un singular énfasis en las diversas formas de intervenciones en línea, con frecuencia de 21,4 % en los estudios, seguida por actividades físicas, con frecuencia de 13,3 %.

Conclusión

Fue posible mapear las intervenciones que pueden reducir los síntomas de ansiedad de la población adulta, así como determinar las que pueden ser aplicadas por enfermeros, y así aumentar la visibilidad de esta categoría como protagonista del cuidado en los diferentes sectores de servicios de salud. Entre las intervenciones sintetizadas, se destaca la teleatención, la actividad física, los ejercicios cognitivos y las intervenciones no farmacológicas.

Ansiedad; Trastornos de ansiedad; COVID-19; SARS-Cov-2; Salud mental

Abstract

Objective

To map the interventions that can be performed by nurses in the various health care services for the management of anxiety symptoms in adults during COVID-19.

Methods

The scoping review was conducted according to the JBI manual. The review question was: What is the knowledge available in the literature on interventions to manage anxiety symptoms that can be used by nurses in the various health care services, in the adult population, during COVID-19? The data sources searched were: Virtual Health Library (VHL), EMBASE, PubMed, CINAHL, PsycINFo, Scopus and Web of Science. There was no limitation of year or language of publication.

Results

Were analyzed 85 articles. Studies have shown that, in general, the entire adult population has experienced changes in anxiety levels during the pandemic. Among the identified interventions, which can be carried out by nurses to manage anxiety symptoms, there was singular emphasis on the various forms of online interventions, with a frequency of 21.4% in the studies, followed by physical activities, with a frequency of 13.3%.

Conclusion

It was possible to map interventions that can reduce anxiety symptoms in the adult population as well as delimit those that can be applied by nurses, increasing the visibility of this category as protagonist of care in the various sectors of health services. Among the synthesized interventions, teleassistance, physical activity, cognitive exercises and non-pharmacological interventions stood out.

Anxiety; Anxiety disorders; COVID-19; SARS-Cov-2; Mental health

Introdução

Síndromes respiratórias agudas graves (SARS) são doenças infecciosas que se tornam epidêmicas com variantes como coronavírus.( ¹ ) A COVID-19 é uma infecção causada pelo SARS-CoV-2, declarada pela OMS, como uma emergência de saúde global.( ¹ ) Em meio a essa situação, é possível observar dados preocupantes em relação à saúde mental, agravada durante uma grave crise social – como a gerada pela pandemia.( ² )

Diversos são os fatores que impactam a saúde mental da população durante um período pandêmico, incluindo a falta de informação confiável sobre as medidas de prevenção da doença, gerada pela disseminação de “fake news” , além de medo do contágio, distanciamento social, entre outros,( ² ) que causam diversas alterações biopsicossociais. Neste cenário, destaca-se a alta prevalência de ansiedade na população, mesmo após o controle do vírus.( ³ )

A ansiedade consiste em um vago e incômodo desconforto ou temor, acompanhado de alterações fisiológicas e comportamentais do indivíduo, causadas pela antecipação de um perigo. Em grau baixo, a ansiedade pode ser considerada um sinal de alerta que chama a atenção para o perigo iminente e permite ao indivíduo tomar medidas para lidar com a ameaça;( ⁴ ) entretanto, quando passa a dificultar a atuação em seu cotidiano, ela resulta em um estado patológico.( ⁵ )

No que tange à atuação dos profissionais de saúde frente aos sintomas de ansiedade, sabe-se que a enfermagem se destaca como a espinha dorsal do sistema de saúde, atuando em todos os níveis de atenção e garantindo o cuidado integral durante as 24 horas do dia, sendo o enfermeiro responsável pela organização do cuidado.( ⁶ ) A assistência deve atender à Resolução COFEN 358/2009, que dispõe sobre a Sistematização da Assistência em Enfermagem (SAE).( ⁷ )

O padrão ouro de tratamento para os sintomas de ansiedade são a Terapia Cognitivo Comportamental e o uso de medicamentos de primeira linha para transtornos de ansiedade.( ⁸ ) No entanto, a pandemia trouxe a necessidade da introdução de medidas inovadoras em conjunto com o modelo tradicional de cuidado. É importante, portanto, que haja a identificação e o mapeamento das evidências sobre as estratégias de manejo da ansiedade durante a pandemia da COVID-19, possibilitando traduzir conhecimento para prática em saúde aos profissionais – principalmente a enfermagem, que atua diretamente na linha de frente da assistência em todos os níveis de atenção à saúde.( ³ )

Neste contexto, o objetivo desta revisão foi mapear as intervenções que podem ser realizadas por enfermeiros, nos diversos serviços de atenção à saúde, para o manejo dos sintomas de ansiedade em adultos durante a COVID-19.

Métodos

O presente estudo trata-se de uma revisão de escopo a qual tem como objetivos mapear os principais conceitos que apoiam determinada área de conhecimento, examinar a extensão, alcance e natureza da investigação, sumarizar e divulgar os dados da investigação e identificar as lacunas de pesquisas existentes.

Essa revisão baseia-se em uma revisão exploratória conduzida conforme o manual do Joanna Briggs Institute (JBI),( ⁹ ) o qual propõe mapear a produção científica seguindo cinco etapas: identificação da questão e objetivo da pesquisa; busca por estudos relevantes; seleção dos estudos; análise dos dados; síntese e apresentação dos dados( ⁹ ) e a extensão PRISMA específica para revisão de escopo (PRISMA – ScR),( ¹⁰ )a qual auxiliou os autores no relato da revisão.

Partindo desse conceito, para a identificação dos critérios a serem apontados no estudo, utilizou-se o mnemônico PCC,( ⁹ ) sendo P (População): adultos (18 e 65 anos), com sintomas de ansiedade, indiferentemente se há ou não comorbidade; C (Conceito): intervenções que podem ser realizadas por enfermeiros para manejo dos sintomas de ansiedade, entendendo este sintoma como um vago e incômodo desconforto, acompanhado de alterações fisiológicas e comportamentais;( ⁴ ) e C (Contexto): diversos serviços de saúde, em todos os níveis de atenção, durante a pandemia da COVID-19, para a elaboração da questão de revisão do estudo.

Tendo em vista os elementos do mnemônico, a pergunta de pesquisa foi: “Qual o conhecimento disponível na literatura sobre as intervenções de manejo dos sintomas de ansiedade, que podem ser utilizadas por enfermeiros nos diversos serviços de atenção à saúde, na população adulta durante a COVID-19?”.

Em relação à metodologia dos estudos, foram incluídos estudos experimentais e quase-experimentais, ensaios clínicos controlados randomizados, ensaios controlados não randomizados, estudos de antes/depois e estudos de análise de séries temporais interrompidas; estudos observacionais descritivos e analíticos, incluindo estudos de casos, estudos prospectivos e retrospectivos de coorte, estudos de caso controle e estudos analíticos transversais; estudos qualitativos; e artigos de opinião. Nenhuma restrição de data ou de idioma foi aplicada à pesquisa, visto que o contexto pandêmico por si, limita o período e expande as possibilidades dos idiomas de publicação.

Tendo em vista o PCC, uma estratégia de busca foi desenvolvida, sendo consolidada para a PUBMED como (“Anxiety”[Mesh]OR anxiety OR anxious OR anxieties) AND (“coronavirus disease-19” OR covid-19 OR “COVID-19” OR “corona virus disease 2019” OR “SARS-CoV-2” OR “2019-new coronavirus” OR “2019 novel coronavirus” OR “2019-nCoV” OR coronavirus OR “SARS Virus” OR SARS-CoV-2) AND (Interventions OR “Patient Care” OR Treatment), e as adaptações dessa estratégia para as demais fontes de informação estão no quadro 1 .

Quadro 1
Quadro da estratégia de busca por base de dados

Database	Estratégia de Busca
PUBMED	(“Anxiety”[Mesh]OR anxiety OR anxious OR anxieties) AND (“coronavirus disease-19” OR covid-19 OR “COVID-19” OR “corona virus disease 2019” OR “SARS-CoV-2” OR “2019-new coronavirus” OR “2019 novel coronavirus” OR “2019-nCoV” OR coronavirus OR “SARS Virus” OR SARS-CoV-2) AND (Interventions OR “Patient Care” OR Treatment)
BVS	(“anxiety”) OR (“anxious”) OR (“anxieties”) AND (“coronavirus-disease-19”) OR (“covid-19”) OR (“coronavirus-disease-2019”) OR (“sars-cov-2”) OR (“2019-novel-coronavirus”) OR (“2019-ncov”) OR (“coronavirus”) OR (“sars-virus”) AND (“intervention”) OR (“patient-care”) OR (“treatment”)
EMBASE	(‘anxiety’/exp OR anxiety OR anxious OR anxieties) AND (‘coronavirus disease-19’:ti,ab,kw OR ‘covid 19’:ti,ab,kw OR ‘covid-19’:ti,ab,kw OR ‘corona virus disease 2019’:ti,ab,kw OR ‘sars-cov-2’:ti,ab,kw OR ‘2019-new coronavirus’:ti,ab,kw OR ‘2019 novel coronavirus’:ti,ab,kw OR ‘2019-ncov’:ti,ab,kw OR coronavirus:ti,ab,kw OR ‘sars virus’:ti,ab,kw OR ‘sars cov 2’:ti,ab,kw) AND (interventions:ti,ab,kw OR ‘patient care’:ti,ab,kw OR treatment:ti,ab,kw) AND adult:ti,ab,kw NOT child:ti,ab,kw
CINAHL via EBSCOhost	( anxiety OR anxious OR anxieties ) AND ( “coronavirus disease-19” OR covid-19 OR “COVID-19” OR “corona virus disease 2019” OR “SARS-CoV-2” OR “2019-new coronavirus” OR “2019 novel coronavirus” OR “2019-nCoV” OR coronavirus OR “SARS Virus” OR SARS-CoV-2 ) AND ( Interventions OR “Patient Care” OR Treatment )
PsycINFO	Any Field: “Anxiety”[Mesh]OR anxiety OR anxious OR anxieties AND Any Field: “coronavirus disease-19” OR covid-19 OR “COVID-19” OR “corona virus disease 2019” OR “SARS-CoV-2” OR “2019-new coronavirus” OR “2019 novel coronavirus” OR “2019-nCoV” OR coronavirus OR “SARS Virus” OR SARS-CoV-2 AND Any Field: Interventions OR Any Field: “Patient Care” OR Any Field: Treatment
Scopus	TITLE-ABS-KEY ( anxiety OR anxiousness OR ( generalized AND anxiety AND disorder ) AND coronavirus AND disease-19 OR covid-19 OR corona AND virus AND disease 2019 OR sars-cov-2 OR 2019-new AND coronavirus OR 2019 novel AND coronavirus OR 2019-ncov OR coronavirus OR sars AND virus OR sars-cov-2 AND interventions OR ( patient AND care ) OR treatment )
Web of Science	((ALL=(anxiety OR anxious OR anxieties)) AND ALL=((“coronavirus disease-19” OR covid-19 OR “COVID-19” OR “corona virus disease 2019” OR “SARS-CoV-2” OR “2019-new coronavirus” OR “2019 novel coronavirus” OR “2019-nCoV” OR coronavirus OR “SARS Virus” OR SARS-CoV-2)) AND ALL=(Interventions OR “Patient Care” OR Treatment))

Os textos completos selecionados foram avaliados, em relação aos critérios de elegibilidade, por dois revisores independentes. Os critérios de inclusão, referente à população foram: adultos (18 a 65 anos), com ou sem comorbidades, mas que apresentem sintomas de ansiedade mensurados por meio de escalas validadas; o conceito foi: intervenções para o manejo da ansiedade, realizadas ou não por enfermeiros, no entanto, de competência assistencial dos mesmos segundo legislação; e o contexto foi: a pandemia de COVID-19.

A implementação de medidas inovadoras por enfermeiros é facilitada, já que esses profissionais prestam assistência nos diferentes níveis de atenção à saúde (primário ao quaternário), sendo que o vínculo com os usuários é facilitado em razão do maior período de assistência direta com os pacientes.( ³ ) O enfermeiro, pela natureza direta e constante de seu trabalho assistencial, acaba por ser privilegiado na identificação dos sintomas de ansiedade e, nesse sentido, a realização dos diagnósticos de enfermagem e as definições das intervenções assistenciais serão os principais aliados. Frente a isso, a presente revisão se faz pertinente na otimização dos processos de enfermagem, tanto os voltados para ações de promoção da autonomia do paciente para enfrentamento, mas também na oferta de estratégias diversificadas para o manejo da ansiedade e para a facilitação no processo de adaptação.( ¹⁰ )

Seleção dos estudos e coleta de dados

A primeira etapa foi realizada na PUBMED, para análise das palavras contidas no título e no resumo dos artigos sobre o tema, para o desenvolvimento de uma estratégia de busca. Em seguida, houve adaptação dos descritores, para os estudos nas bases: BVS, EMBASE, PUBMED, CINAHL, PsycINFo, SCOPUS e Web of Science. No terceiro momento, foi realizada busca, nas referências dos artigos selecionados, para encontrar os estudos que não foram coletados pela estratégia de busca. A coleta ocorreu entre os meses de junho e julho de 2021. Todas as citações foram enviadas para o gerenciador de referência Mendeley v.1803/2020, que agrupou os artigos e identificou aqueles que encontravam-se duplicados. Na sequência, foi realizada triagem dos estudos, usando-se o software Covidence. Divergências entre os dois revisores independentes foram resolvidas com revisores adicionais. Os autores dos trabalhos foram contatados para obtenção de dados adicionais. O número de estudos encontrados foi descrito no diagrama de fluxo PRISMA. A extração e mapeamento dos dados se deu através de instrumento adaptado do formulário recomendado pelo JBI,( ⁹ ) as informações extraídas foram: título, autores, ano de publicação, país de origem, metodologia do estudo, intervenções identificadas, escala de avaliação da ansiedade aplicada e resultados obtidos. Os resultados foram explicitados por apresentação tabular, sendo realizada uma categorização simples das intervenções e do modo em que elas foram aplicadas, alinhando-os ao objetivo da revisão.

Resultados

Foram encontrados 15.309 estudos: destes, 10.868 duplicados, restando 4.441 estudos para seleção; destes, 4.215 foram excluídos. Restaram 226 artigos para leitura completa, dos quais 141 foram excluídos. A amostra final da revisão consistiu em 85 estudos. O fluxo do processo de seleção dos estudos, elaborado a partir das recomendações do PRISMA-ScR,( ¹¹ ) pode ser visto na figura 1 .

Figura 1
Fluxograma do processo de seleção dos estudos

A caracterização dos estudos, conforme os dados extraídos pelo instrumento adaptado, se encontra no quadro 2 .

Quadro 2
Caracterização geral dos estudos incluídos (n = 85)

Categoria	Variável	n(%)
Origem dos estudos	Ásia	33(38,9)
	América	25(29,5)
	Europa	20(23,5)
	Oceania	5(5,89)
	África	1(1,1)
	Transcontinental	1(1,1)
Design do estudo	Ensaio clínico randomizado/ Ensaio clínico não randomizado/ Estudo experimental/ Estudo piloto/ Estudo caso controle	40(47,0)
	Estudos observacionais/ Estudos transversais/ Estudos longitudinais/ Estudos de caso	31(36,5)
	Revisão de literatura	14(16,5)
Intervenções de competência do enfermeiro para manejo dos sintomas de ansiedade no contexto da COVID-19*	Consultas com o profissional da saúde no formato remoto	21(24,7)
	Psicoeducação online não guiada ou autoguiada	24(28,2)
	Técnicas para aprimoramento de habilidades psicocognitivas	17(20,0)
	Práticas complementares e integrativas de saúde	13(15,3)
	Técnicas de relaxamento	13(15,3)
	Adoção de hábitos de vida saudáveis	10(11,7)
	Suporte social/Espiritualidade	9(10,5)
	Terapia com ação farmacológica	4(4,7)

• Alguns estudos apresentaram mais de 1 intervenção, sendo realizadas em associação ou avaliadas/testadas separadamente

A análise sobre as intervenções de competência dos enfermeiros,( ¹² ) resultou no mapeamento e na classificação de oito intervenções gerais para manejo da ansiedade. Essas intervenções são compostas por um conjunto de ações/atividades (n=25), denominadas estratégias ( Quadro 3 ).

Quadro 3
Mapeamento das intervenções e das respectivas estratégias para manejo dos sintomas de ansiedade na população geral dentro do contexto da pandemia da COVID-19

Intervenção	Estratégias
Consulta com o profissional da saúde no formato remoto( 13 - 27 )	Telemedicina( 13 - 19 )
	Consulta telefônica para intervenção breve( 20 - 27 )
Psicoeducação online não guiada ou autoguiada( 14 , 16 , 19 , 26 , 28 - 45 )	Informativos para cuidados preventivos com a COVID-19( 26 , 28 - 30 )
	Aplicativos de celular( 14 , 19 , 29 , 31 - 44 )
	Mensagens de texto( 16 , 43 - 45 )
Técnicas para aprimoramento de habilidades psicocognitivas( 21 , 43 , 46 - 59 )	Inteligência emocional( 21 , 43 - 48 )
	Atenção plena( 49 - 52 )
	Coping/Terapias de Exposição( 56 - 59 )
Práticas integrativas complementares( 22 , 34 , 51 , 52 , 56 , 60 - 68 )	Meditação( 52 , 56 , 60 )
	Mindfulness( 22 , 34 , 51 , 61 - 63 )
	Ioga( 64 , 65 )
	Ecoterapia( 66 )
	Medicina tradicional chinesa( 67 , 68 )
Suporte social/Espiritualidade( 39 , 48 , 69 - 75 )	Oferta/incentivo do suporte social( 39 , 48 , 69 - 71 )
	Educação por pares( 72 )
	Aprimoramento da espiritualidade( 73 - 75 )
Adoção de hábitos de vida saudáveis( 14 , 64 , 76 - 82 )	Atividade física( 64 , 76 - 80 )
	Exergames( 14 , 81 )
	Alimentação saudável( 82 )
Técnicas de relaxamento( 25 , 52 , 67 , 83 - 88 )	Relaxamento muscular( 67 , 83 - 85 )
	Reabilitação respiratória( 67 , 86 , 87 , 25 , 52 )
	Neuromodulação cervicobraquial( 88 )
Terapia com ação farmacológica( 43 , 89 - 92 )	Psicofarmacologia( 88 , 89 )
	Plantas e ervas medicinais( 43 , 91 , 92 )

Discussão

Dos estudos que compuseram a amostra, a maioria (68,4%) tem origem na Ásia, local de início da pandemia, e América, em que concentra-se o maior número de mortes e pessoas acometidas com ansiedade devido a COVID-19.( ¹ , ⁹³ ) Parte expressiva dos estudos, teve como população alvo, os adultos jovens (18 até 28 anos),( ¹⁸ , ²⁴ , ²⁵ , ²⁸ , ³⁴ , ⁴³ , ⁵⁸ , ⁶⁶ - ⁶⁷ , ⁷⁰ , ⁷¹ , ⁷⁵ , ⁷⁷ , ⁸¹ , ⁸⁴ , ⁸⁶ ) o que converge com os indícios recentes que essa faixa etária, foi a mais acometida por sintomas de ansiedade em decorrência da pandemia, sinalizando a pertinência da investigação desta revisão.( ⁹⁴ ) Vale reforçar que esta revisão foi composta exclusivamente por estudos que apresentaram escalas validadas, acarretando em maior confiabilidade dos dados coletados.

Quanto ao conceito que desencadeou a pesquisa, a identificação de intervenções realizadas ou não por enfermeiros para o manejo da ansiedade, alguns estudos nomearam os interventores como profissionais de saúde, o qual inclui a categoria enfermeiro. Tais estudos foram incluídos visando aumentar as possibilidades de atuação do profissional enfermeiro no protagonismo do manejo da ansiedade, visto que todas as intervenções descritas são respaldadas pelas legislações vigentes.( ⁹⁵ )

Dentre as intervenções mapeadas, as práticas não farmacológicas, ferramentas de tecnologias de informação e comunicação (TIC) se destacaram em 53,1% dos estudos.( ¹³ - ⁴⁵ )Dentre elas, a telemedicina se destacou, ao abranger cuidados também englobando a saúde mental dos indivíduos que vivenciam a pandemia por COVID-19, uma vez que neste momento era necessário o distanciamento social, o que foi visto nas pesquisas identificadas que disponibilizavam a intervenção de forma remota/online.( ¹⁶ - ¹⁹ , ⁵¹ , ⁹² )

Um estudo aponta que a tele enfermagem – subárea da telemedicina – é recente e, por isso, se faz necessária a capacitação dos profissionais para incluir as TIC no processo de trabalho, a fim de expandir as práticas de assistência.( ⁹⁶ )Além disso, barreiras estruturais merecem ser sanadas, como investimento em infraestrutura, sistemas e serviços, além de atenção específica das questões éticas e legais.( ⁹⁷ )

No que diz respeito à terapia medicamentosa, o seu uso foi evidenciado em 7% dos estudos,( ⁴³ , ⁸⁹ - ⁹³ ) com destaque para a gabapentina no tratamento da ansiedade.( ⁸⁹ , ⁹⁰ )A gabapentina aumenta a atividade de descarboxilase do ácido glutâmico, interferindo também na síntese de monoaminas, apresentando assim efeito ansiolítico. A gabapentina possui efeitos colaterais, como tontura e sonolência, o que, por vezes, faz com que o usuário opte por outras terapêuticas.( ⁹⁸ )

Segundo a lei n° 7.498/86, “o Enfermeiro exerce todas as atividades de enfermagem, cabendo-lhe a prescrição de medicamentos estabelecidos em programas de saúde pública, e em rotina aprovada pela instituição”.( ⁹⁵ )A gabapentina não se apresenta nessa relação de medicações; porém, os enfermeiros apresentam diversas responsabilidades na administração de medicamentos. A título de comparação da atuação do enfermeiro entre países, vale ressaltar que, nos Estados Unidos, a prescrição de antidepressivos, antipsicóticos e anticonvulsivantes (como a gabapentina) por enfermeiros é liberada.( ⁹⁹ )

Os efeitos colaterais das medicações ansiolíticas interferem diretamente na adesão ao tratamento.( ⁹⁷ )Como possibilidade de auxílio no aumento da adesão, as Práticas Integrativas e Complementares (PIC) podem ser indicadas como complemento e consistem em diversos recursos terapêuticos, que podem ser utilizados como tratamento na redução de sintomas ansiosos.( ¹⁰⁰ )Após a implantação da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), através da Portaria 971/2006, a população brasileira ficou resguardada em seu direito de acessar práticas diferenciadas de diagnóstico e tratamento das enfermidades.( ¹⁰¹ )

A Resolução COFEN nº 581/18,( ¹⁰² ) respalda a execução das PIC por enfermeiros, permitindo a realização dessas práticas nas diversas áreas de atuação. Porém, se fazem necessários mais estudos que comprovem a efetividade destas práticas, bem como protocolos de aplicação.

Dentre os artigos que indicam PIC como intervenções, 64% descrevem a meditação e sua variante, o mindfulness , como benéficas no manejo dos sintomas da ansiedade.( ²² , ³⁴ , ⁵¹ , ⁵² , ⁵⁶ , ⁶⁰ - ⁶³ )A meditação apresenta um conceito amplo, mas, geralmente, está se referindo a uma prática utilizada para acalmar a mente, aumentando a autoconsciência e a percepção de si em relação ao ambiente, podendo ser guiada ou autoinduzida.( ⁵⁶ )

Nos artigos que destacam os efeitos benéficos da meditação do tipo mindfulness ,( ²¹ , ²⁵ , ⁴⁷ , ⁵² , ⁷⁰ ) cabe a observação que a modalidade proporciona mudanças psicofisiológicas, como a diminuição na produção de adrenalina e cortisol, bem como proporciona mudanças estruturais na plasticidade cortical, contribuindo, assim, na diminuição da ansiedade.( ¹⁰³ )No que diz respeito à prática de mindfulness , o enfermeiro se destaca, pois é o profissional responsável por promover apoio ao paciente que apresenta algum tipo de desequilíbrio – seja ele físico ou mental.( ¹⁰⁴ )

Estudos apontaram que as técnicas de relaxamento apresentam relação positiva entre a prática e a redução da ansiedade.( ¹⁷ , ²⁸ , ³⁷ , ⁵² , ⁶⁷ ) Essas técnicas podem ser respiratórias ou musculares, podendo ser associadas a outras estratégias.( ²⁸ )Um dos estudos relata que a prática de técnicas de relaxamento, quando realizada diariamente, contribui para redução significativa dos níveis de ansiedade em pacientes com COVID-19.( ¹⁷ )

Outro achado importante consiste na adoção de hábitos saudáveis de vida, como alimentação e prática de exercícios físicos.( ³³ , ⁶⁴ , ⁷⁶ , ⁷⁷ , ⁷⁹ , ⁸⁰ , ⁸² ) Os efeitos de um padrão alimentar saudável impactam positivamente na saúde mental, por meio da redução de sintomas ansiosos, haja vista que alimentos saudáveis possuem nutrientes que ocasionam alterações nos níveis de serotonina.

Conforme dispõe a Resolução COFEN n° 453/2014, que aprova a atuação da equipe de enfermagem em terapia nutricional, ao enfermeiro é atribuída a responsabilidade de prescrição, execução e avaliação permanente das condições de alimentação e da nutrição – enquanto terapia.( ¹⁰⁵ )Além da alimentação saudável, a prática regular de exercícios físicos pode produzir efeitos antidepressivos e antiansiolíticos.( ⁷⁶ )

Com menor expressividade entre os achados, o apoio social foi indicado como uma estratégia que pode reduzir os níveis de ansiedade de adultos em eventos estressantes, como a pandemia.( ³⁹ ) Esse apoio pode ser realizado de diversas formas, como através de: disseminação de informações verdadeiras acerca da pandemia, apoio econômico, grupos de apoio e apoio emocional.( ⁴⁷ )

Outro grupo de intervenções identificado foi o uso de ferramentas como aplicativos, plataformas de conversação, materiais educativos e redes sociais para atender as necessidades da população acometida por ansiedade.( ⁵ , ³⁴ , ⁴³ ) Todas as pesquisas que examinaram a eficácia dos textos de apoio via mensagem, apresentaram resultados positivos quanto à queda dos níveis de ansiedade.( ¹³ , ⁴³ )

A regulamentação do uso dessas ferramentas no trabalho de enfermagem é discussão antiga em países desenvolvidos;( ⁹⁵ ) porém, no Brasil a regulamentação apenas ocorreu devido ao contexto pandêmico, por meio da Resolução COFEN n°634/2020, que versa sobre a enfermagem na saúde digital, utilizando as TIC de modo seguro e expandindo as possibilidades de intervenção do enfermeiro. Tal resolução prevê o final dessa atuação para quando for finalizado o contexto pandêmico; no entanto, há movimentação, com consultas públicas, para que essa modalidade de atendimento se consolide de forma definitiva.( ¹⁰⁶ )

Escrita expressiva, prática de espiritualidade, ecoterapia, neuromodulação, criatividade benevolente e técnicas de aprimoramento da inteligência emocional também foram identificadas.( ³ , ³² , ³³ , ⁶⁴ , ⁷³ , ⁸⁶ ) Esses métodos aparecem com eficácia para o controle de ansiedade na população, sendo necessário mais pesquisas teóricas e práticas para maior compreensão dos aspetos que envolvem as atribuições do enfermeiro, visto que estes métodos são compreendidos dentro das necessidades de nível psicossocial.( ⁶⁴ , ⁷⁵ )

Considerando o objetivo de mapear as estratégias que estão sendo utilizadas por enfermeiros, para o manejo dos sintomas de ansiedade durante a COVID-19 na população adulta em geral, a diversidade de ações encontradas permitiu compreender que há mobilização mundial para melhorar o impacto secundário da pandemia, uma vez que cada uma das estratégias encontradas apresenta uma possibilidade de cuidado – o que permite a personalização de ações, de acordo com características regionais e até mesmo individuais, com aplicação nos diversos setores de saúde.

Conclusão

Compreende-se que a pandemia de COVID-19 tem um coeficiente bastante expressivo na saúde mental da população, em vista da contaminação com o coronavírus ainda encontra-se em curso. Dentre as intervenções sintetizadas de competência do enfermeiro, destacaram-se o teleatendimento, atividade física, exercícios cognitivos e intervenções não farmacológicas que podem reduzir os sintomas de ansiedade e ter um efeito positivo na qualidade de vida da população adulta. A identificação de intervenções de competência do enfermeiro pode aumentar a visibilidade dessa categoria como protagonista do cuidado nos diversos setores de serviço de saúde. Diante de tal diversidade das intervenções identificadas, se faz necessária uma delimitação mais específica; por isso, sugere-se uma revisão sistemática de efetividade das intervenções aqui encontradas, a fim de validá-las e consolidá-las no cotidiano da enfermagem.

Referências

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  Conselho Federal de Enfermagem (COFEN). Resolução n° 634, de 26 de Março de 2020. Autoriza e normatiza, “ad referendum” do Plenário do Cofen, a teleconsulta de enfermagem como forma de combate à pandemia provocada pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2), mediante consultas, esclarecimentos, encaminhamentos e orientações com uso de meios tecnológicos, e dá outras providências. Brasília (DF): COFEN: 2020 [citado 2022 Nov 24]. Disponível em: http://www.cofen.gov.br/resolucao-cofen-no-0634-2020_78344.html#:~:text=Autoriza%20e%20normatiza%2C%20%E2%80%9Cad%20referendum,tecnol%C3%B3gicos%2C%20e%20d%C3%A1%20outras%20provid%C3%AAncias
  » http://www.cofen.gov.br/resolucao-cofen-no-0634-2020_78344.html#:~:text=Autoriza%20e%20normatiza%2C%20%E2%80%9Cad%20referendum,tecnol%C3%B3gicos%2C%20e%20d%C3%A1%20outras%20provid%C3%AAncias

Editado por

Editor Associado (Avaliação pelos pares): Thiago da Silva Domingos ( https://orcid.org/0000-0002-1421-7468 ) Escola Paulista de Enfermagem, Universidade Federal de São Paulo, SP, Brasil

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  30 Jun 2023
• Data do Fascículo
  2023

Histórico

• Recebido
  8 Maio 2022
• Aceito
  20 Mar 2023