INFLUÊNCIA DA ÉPOCA DE SEMEADURA SOBRE O RENDIMENTO E QUALIDADE FISIOLÓGICA DE SEMENTES DE PEPINO

INFLUENCE OF SEEDING DATES IN YIELD AND PHYSIOLOGIC QUALITY OF CUCUMBER SEEDS

Resumos

RESUMO Semeaduras de pepino, cv. Meio Comprido Fortuna, foram realizadas nas datas de 06/10, 01/12 e 04/01, no ano de 1987/ 88 e de 17/10, 14/11 e 12/12, no ano de 1988/89, no Campo Experimental do Departamento de Fitotecnia da UFSM, com o objetivo de determinar o rendimento, germinação e vigor das sementes produzidas. O delineamento experimental utilizado foi de blocos casualizados, com quatro repetições e 20 plantas na área útil das parcelas (5m²). Determinou-se a data de ocorrência e a duração dos subperíodos fenológicos da semeadura ate o inicio da floração feminina das plantas e desta ate o inicio da maturação dos frutos. Após a colheita realizou-se a contagem do número de frutos produzidos e a determinação do rendimento, germinação e vigor das sementes. Os resultados mostraram que os maiores rendimentos foram obtidos com as semeaduras realizadas no mês de outubro e que os valores mais elevados de germinação e vigor provem de sementes extraídas apôs a maturação completa dos frutos, independentemente da época de semeadura.

pepino; épocas de semeadura; rendimento de sementes; qualidade de sementes

SUMMARY Cucumber, cv. Meio Comprido Fortuna, was seeded in Santa Maria, RS, in October 06, December 01 and January 04, in 1987/88, and in October 17, November 14 and December 12, in 1988/89, in order to determine seed yield, germination and vigor. It was utilized the randomized block experimental design, with four replications and 20 plants per plot (5m²). Dates of anthesis of the first pistillate flowers and maturation of the first fruits were registered. The number of fruits, seed yield, germination and vigor were determined after harvest. The results showed the highest values of seed yield were obtained when seeding was done in October while germination and vigor were higher when seed extraction was done after the complete maturation of fruits, independently of the seeding date.

cucumber; seeding dates; seed yield; seed quality

INFLUÊNCIA DA ÉPOCA DE SEMEADURA SOBRE O RENDIMENTO E QUALIDADE FISIOLÓGICA DE SEMENTES DE PEPINO

INFLUENCE OF SEEDING DATES IN YIELD AND PHYSIOLOGIC QUALITY OF CUCUMBER SEEDS

Jerônimo Luiz Andriolo¹ Arno Bernardo Heldwein²

RESUMO

Semeaduras de pepino, cv. Meio Comprido Fortuna, foram realizadas nas datas de 06/10, 01/12 e 04/01, no ano de 1987/ 88 e de 17/10, 14/11 e 12/12, no ano de 1988/89, no Campo Experimental do Departamento de Fitotecnia da UFSM, com o objetivo de determinar o rendimento, germinação e vigor das sementes produzidas. O delineamento experimental utilizado foi de blocos casualizados, com quatro repetições e 20 plantas na área útil das parcelas (5m²). Determinou-se a data de ocorrência e a duração dos subperíodos fenológicos da semeadura ate o inicio da floração feminina das plantas e desta ate o inicio da maturação dos frutos. Após a colheita realizou-se a contagem do número de frutos produzidos e a determinação do rendimento, germinação e vigor das sementes. Os resultados mostraram que os maiores rendimentos foram obtidos com as semeaduras realizadas no mês de outubro e que os valores mais elevados de germinação e vigor provem de sementes extraídas apôs a maturação completa dos frutos, independentemente da época de semeadura.

Palavras-chave: pepino, épocas de semeadura, rendimento de sementes, qualidade de sementes.

SUMMARY

Cucumber, cv. Meio Comprido Fortuna, was seeded in Santa Maria, RS, in October 06, December 01 and January 04, in 1987/88, and in October 17, November 14 and December 12, in 1988/89, in order to determine seed yield, germination and vigor. It was utilized the randomized block experimental design, with four replications and 20 plants per plot (5m²). Dates of anthesis of the first pistillate flowers and maturation of the first fruits were registered. The number of fruits, seed yield, germination and vigor were determined after harvest. The results showed the highest values of seed yield were obtained when seeding was done in October while germination and vigor were higher when seed extraction was done after the complete maturation of fruits, independently of the seeding date.

Key Words: cucumber, seeding dates, seed yield, seed quality.

INTRODUÇÃO

O Rio Grande do Sul se destaca como um dos Estados pioneiros na produção de sementes de hortaliças. A produção de sementes de pepino (Cucumis sativus L.) ocupa lugar de destaque, devido principalmente a boa adaptação da cultura na região. Entretanto, apesar da importância que a atividade apresenta no contexto regional, são muito escassas as informações de pesquisas locais sobre as épocas de semeadura mais favoráveis a produção de sementes. Conseqüentemente, o processo de produção e realizado com base em informações locais, sem suporte experimental.

A produção de sementes de pepino depende da produção de frutos e esta, por sua vez, depende da floração. Dentre os fatores que influem sobre o crescimento e desenvolvimento das cucurbitáceas, a temperatura e o fotoperíodo são aqueles que apresentam maior importância. Thompson & Kelly apud, SILVA (1982), apontam a temperatura de 11°C como limite inferior para a sua germinação. O mesmo autor indica a faixa térmica entre 20°C e 30°C como aquela apropriada para o desenvolvimento, afirmando ainda que o crescimento da planta paralisa sob temperaturas inferiores a 12°C. De acordo com CRUZ (1987), a antese ocorre somente a partir de uma temperatura mínima de 18°C, sendo o intervalo entre 28°C e 30°C considerado ideal para a polinização e frutificação. Esses elementos meteorológicos exercem influencia também sobre a expressão sexual das plantas. Dias longos combinados com valores elevados tanto da temperatura do ar como da intensidade luminosa aumentam a proporção de flores masculinas, com reflexos negativos sobre a frutificação (TIEDJENS, 1928; WHITAKER,1931, SHIFRISS, 1961; KOOISTRA, J 967).

As plantas de pepino caracterizam-se pela emissão de flores durante um período prolongado de tempo. Conseqüentemente, os frutos de uma mesma planta atingem a maturação em diferentes épocas. Na produção comercial de sementes os frutos são colhidos quando apresentam a coloração amarela, sendo de imediato feita a extração das sementes (MULLER, 1982).HOLMES (1953) observou que a germinação e o vigor das sementes de cucurbitáceas estão relacionadas com a maturidade do fruto no momento da colheita. POPINIGIS (1977) afirma que o vigor máximo das sementes somente é atingido após o peso máximo da matéria seca destas também ter sido alcançado, considerado como o ponto de maturidade fisiológica. BARBEDO et al (1987) observaram que a germinação das sementes de pepino foi crescente com a idade dos frutos colhidos a partir do 30° dia após a antese, seguindo uma equação de segundo grau. ARAÚJO et al (1982), trabalhando com abóbora, observaram que o armazenamento dos frutos por um período de ate sete semanas após a colheita mostrou efeito positivo sobre a qualidade das sementes, de forma mais acentuada nos frutos colhidos imaturos. Os mesmos autores indicam ainda que após a colheita existe uma continuidade no fluxo de nutrientes do fruto para as sementes. Resultados semelhantes foram obtidos por PEDROSA et al (1987), mostrando que a qualidade das sementes do cruzamento entre Cucurbita máxima x moschata apresentou resposta linear quando extraídas após zero, 15 e 30 dias de armazenamento dos frutos.

Esta pesquisa teve como objetivo avaliar a influencia de três épocas de semeadura sobre o rendimento, germinação e vigor das sementes de pepino produzidas na microrregião de Santa Maria.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no Campo Experimental do Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), RS, latitude 29°41' Sul, longitude 53°48' Oeste e altitude 95,0m. O clima se enquadra na classificação "cfa", segundo Köeppen. O solo do local pertence à Unidade de Mapeamento São Pedro, classificado como Vermelho Amarelo Distrófico.

As semeaduras foram realizadas nas datas de 06/10. 01/12 e 04/01, no ano agrícola 1987/88 e de 17/10, 14/11 e 12/12, no ano agrícola 1988/89. O delineamento experimental utilizado foi de blocos casualizados, com quatro repetições por tratamento, sendo as parcelas constituídas por quatro fileiras de plantas, correspondendo as duas fileiras centrais à área útil da parcela. A adubação de manutenção foi realizada de acordo com a análise de solo realizada no laboratório de Análise de Solos da Universidade Federal de Santa Maria, nas doses equivalentes a 10kg/ha, 70kg/ha e 70kg/ha de N, P₂O₅ e K₂O, respectivamente.

A cultivar utilizada foi a Meio Comprido Fortuna. As mudas foram produzidas em recipientes de papel jornal (12cm x 7cm) e o plantio realizado no estádio de três folhas definitivas, no espaçamento de 1,00m entre fileiras e 0,25m entre plantas, totalizando 40 plantas por parcela.

O controle de ervas daninhas consistiu de duas capinas manuais, realizadas antes do inicio do estádio de floração das plantas. As irrigações foram realizadas de forma a manter o solo sempre próximo à capacidade de campo.

No transcorrer do ciclo da cultura foram efetuadas observações fonológicas relativas à duração dos subperíodos semeadura-floração feminina (S-F) das plantas e floração feminina-maturação (F-M) dos frutos. Considerou-se data de inicio da floração a data média de ocorrência da antese feminina em cinco plantas previamente escolhidas por sorteio na área útil das parcelas. A data de início de maturação dos frutos foi obtida pela data média em que foi constatado pelo menos um fruto apresentando a coloração amarela na epiderme da parte superior do mesmo, em cada uma das cinco plantas anteriormente selecionadas.

Os frutos foram colhidos imediatamente após terem atingido a maturação. No ano agrícola 1987/88 as sementes foram extraídas logo a seguir, sendo submetidas à fermentação natural, em recipientes de P.V.C., durante 72 horas, à sombra, sendo a seguir lavadas em água corrente e deixadas a secar , também à sombra, por um período de 96 horas (MULLER, 1982). Em 1988/89 os frutos permaneceram armazenados por dez dias, à sombra, antes de realizar a extração das sementes.

A avaliação do rendimento das sementes foi efetuada mediante pesagem, após secagem ate um teor de umidade de 8%. A germinação foi avaliada de acordo com as Regras para Analise de Sementes (BRASIL, 1976) e o vigor foi determinado em câmara de envelhecimento precoce, a temperatura de 42°C, umidade relativa do ar de 100% e período de exposição de 48 horas.

Durante a condução dos experimentos foram anotados diariamente os valores das temperaturas máximas e mínimas do ar, da insolação e da precipitação pluviométrica, obtidos junto a Estação Climatológica do Departamento de Fitotecnia da UFSM, localizada próxima a área experimental. Posteriormente, foram determinadas as principais relações existentes entre esses elementos meteorológicos e o desenvolvimento e produtividade da cultura.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A tabela 1 mostra a duração média dos subperíodos fenológicos semeadura-floração feminina (S - F) das plantas e floração feminina-maturação (F - M) dos frutos, nas três épocas e dois anos estudados. Verifica-se que houve uma redução acentuada na duração desses subperíodos da primeira para a segunda época, nos dois anos, enquanto da segunda para a terceira época houve uma menor duração somente no ano 1988/89. O subperíodo F - M apresentou grande variação entre as épocas, apresentando o menor valor na primeira época do ano 1987/88, enquanto no ano seguinte a menor duração foi constatada na terceira época de semeadura.

A duração do subperíodo S - F mostrou relação com a temperatura média diária do ar (Figura 1). Pode-se verificar que à medida que essas temperaturas se elevam acima de 21°C ocorre uma redução acentuada nesse subperíodo (R² = 0,854). A elevação da temperatura ambiente induziu um crescimento e desenvolvimento mais rápidos das plantas, confirmando as indicações de SILVA (1982), que aponta a faixa térmica entre 20°C e 30°C como aquela adequada para o desenvolvimento das cucurbitáceas.

As diferenças na duração do subperíodo F-M estão relacionadas principalmente com o número de dias chuvosos e com o total da precipitação pluviométrica ocorrida no período (Tabela 1). Observa-se que as maiores amplitudes desse subperíodo também apresentaram valores elevados em relação ao número de dias chuvosos e à precipitação pluviométrica. Isto indica que as condições de baixa precipitação foram mais favoráveis ao crescimento e maturação dos frutos, comprovando as indicações de FILGUEIRA (1981) o qual afirma que a elevada umidade do ar no período de maturação e colheita das cucurbitáceas e prejudicial ao seu desenvolvimento e qualidade.

A tabela 2 apresenta os valores médios relativos ao numero de frutos, rendimento, germinação e vigor das sementes. Constata-se que o número de frutos decresceu da primeira para a ultima época , o mesmo ocorrendo com o rendimento de sementes. O decréscimo da produção de frutos ocorreu à medida que as temperaturas médias do ar mostraram elevação (Tabela 1 e Figura 1). Observações semelhantes foram feitas por KOOISTRA (1967) sugerindo que as temperaturas elevadas do ar exercem um efeito negativo sobre a frutificação.

A queda no rendimento de sementes da primeira para a última época foi conseqüência da diminuição verificada no número de frutos, uma vez que foi constatada correlação positiva (R² = 0,74) entre o número de frutos e o rendimento de sementes (Figura 2). Os rendimentos observados em todas as épocas são superiores aqueles obtidos no País, que segundo LOPES (1982) situam-se na faixa entre 81kg/ha e 104kg/ha.

As médias de germinação e vigor foram inferiores no ano agrícola 1987/88. Nesse mesmo ano, a média mais baixa foi registrada na primeira época, enquanto a segunda e a terceira mostraram valores superiores. As sementes da primeira época foram provenientes de frutos desenvolvidos no período em que se verificaram os menores valores da temperatura do ar (Tabela 1). Deve-se salientar que o ponto de maturação dos frutos foi determinado pela coloração amarela da epiderme dos mesmos. De acordo com BICKFORD & DUNN (1978), o desenvolvimento da pigmentação dos vegetais sofre a influência direta da temperatura e da intensidade da radiação solar incidente. Variações nesses elementos meteorológicos provocam variações na expressão da coloração dos frutos, dificultando a determinação precisa do ponto de maturação. Segundo HOLMES (1953) a maturidade dos frutos no momento da colheita e um dos principais fatores que influenciam a qualidade fisiológica das sementes das cucurbitáceas. Esses resultados indicam, portanto, que o critério de coloração dos frutos é pouco eficiente na determinação do ponto de maturação. Essas conclusões ficam reforçadas quando se observam os valores superiores de germinação e vigor verificados no ano agrícola 1988/89, quando os frutos ficaram armazenados por dez dias antes de realizar a extração das sementes, confirmando observações semelhantes feitas por ARAÚJO et al (1982) e PEDROSA et al (1987).

²Engenheiro Agrônomo, Mestre, Professor Adjunto do Departamento de Fitotecnia, Universidade Federal de Santa Maria, RS. 97.119 - Santa Maria, RS.

Aprovado para publicação em 26.06.91

• 1. ARAÚJO, E.F., MANTOVANI, E.C. da, SILVA, R.F. Influência da idade e armazenamento dos frutos na qualidade de sementes de abóbora. Rev Bras Sem, v. 4, n. 1, p. 77-87, 1982.
• 2. BARBEDO, C.J., COELHO, A.S., NAKAGAWA, J. et al. Estudo da maturação de sementes de pepino cv. Aodai. Resumos Hort bras, v. 5, n. 1, p. 49, 1987.
• 3. BICKFORD, E.D., DUNN S. Lighting for plant growth London: The Kent State University Press, 1978. 221 p.
• 4. BRASIL, Ministério da Agricultura. Regras para análise de sementes Brasília: Ministério da Agricultura, 1976. 188 p.
• 5. CRUZ, A. de M. Influência de alguns fatores ambientais nos estádios de crescimento e desenvolvimento do melão (Cucumis melo L.), Recife: EMATER-PE, 1987. 12 p. Boletim Técnico, 4.
• 6. FILGUEIRA, F.A.R. Manual de Olericultura São Paulo: Agronômica Ceres, 1981, v. 1, 338 p.
• 7. HOLMES, A.D. Germination of seeds removed from mature and imature butternut squash after seven months of storage. Proc Amer Hort Sci, v. 62, p. 433-436, 1953.
• 8. KOOISTRA, E. Femaleness in breeding glasshouse cucumbers. Euphytica, v. 16, p. 1-17, 1967.
• 9. LOPES, J.f. Produção de sementes de cucurbitáceas. Inf Agrop, v. 8, n. 85, p. 65-67, 1982.
• 10. MULLER, J.J.V. Produção de sementes de pepino (Cucumis sativus L.) In: MULLER, J.J.V. , CASALI, V.W.D. Seminários de Olericultura, 2. ed. , Viçosa: UFV, 1982. p. 1-35.
• 11. PEDROSA, J.F., OLIVEIRA, G.M., MONTEIRO, M.R. Influência da idade e armazenamento do fruto na produção e qualidade de sementes de Cucurbita máxima x moschata. Hort bras, v. 5, n. 2, p. 15-17, 1987.
• 12. POPINIGIS, F. Fisiologia da semente Brasília: AGIPLAN, 1977. 289 p.
• 13. SHIFRISS, O. Sex control in cucumber. J Herd, v. 52, p. 5-13, 1961.
• 14. SILVA, W.I. Cucurbitáceas: Influência de alguns fatores climáticos. Inf Agrop, v. 8, n. 85, p. 20-21, 1982.
• 15. TIEDJENS, V.A. Sex ratios in cucumber flower as affected by different conditions of soil and light. J Agr Res, v. 36, p. 721-746, 1928.
• 16. WHITAKER, T.W. Sex ratio and sex expression in the cultivated cucurbita. Amer Jour Bot, v. 18, p. 359-367, 1931.

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Engenheiro Agrônomo, Mestre, Professor Assistente do Departamento de Fitotecnia, Universidade Federal de Santa Maria. 97.119 - Santa Maria, RS.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  26 Set 2014
• Data do Fascículo
  Abr 1991

Histórico

• Aceito
  26 Jun 1991