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Excelentíssima senhora diretora, senhora vice-diretora, professores, pais presentes e formandos

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Excelentíssima senhora diretora, senhora vice-diretora, professores, pais presentes e formandos

Cláudia E. F. Bis

Formanda da Quadragésima Turma do Curso de Graduação em Enfermagem da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo

Esta é uma noite esperada, temida e será intensamente vivida. Não é mais uma noite em nossas vidas. É simplesmente a noite onde nos tornamos profissionais e receberemos, em nossas mãos, nosso futuro em forma de canudo. E mesmo este canudo que nos aguarda estando em branco, para cada um aqui, representa uma imensidão. Repleto de sonhos, de ideais e desejos. Este canudo chega às nossas mãos depois de dias e mais dias de dedicação, de estudos, de aperfeiçoamento, de luta, força e raça. Tantos foram os desafios, tantas as batalhas, e aí está ele. Rompemos com o mundo, caímos em desvarios, e de tão lúcidos estamos aqui.Todos aqui.

Ninguém passa pela nossa escola sem ter uma profunda mudança no caráter, na condição de sua vida, no modo de ver o mundo. Nós e tantos outros como nós, participamos dos melhores e dos piores momentos do ser humano. Vemos nascer e morrer, vemos crescer e adoecer. Durante esses quatro anos pudemos ver coisa que muitos aqui não suportariam e muitas vezes fomos o suporte de muitas almas que já se foram. Quantas vezes não fomos os sentidos, o coração, o acalento de nossos pacientes. E ainda seremos sentido, coração e acalento, pois somos enfermeiros; pessoas capazes de se colocar no lugar do outro, e tomar sua vivência menos infeliz. E, posso dizer com certeza que foram pouquíssimas pessoas que puderam definir o que é ser enfermeiro sem desmerecer palavras e elogios.

Tantas vezes ouvi: "A Enfermagem é um dom". Digo mais, não é só um dom, é a doação, é ato de amor. Somos capazes de esquecermos de nós mesmos perante o sofrimento do próximo, sofrermos juntos e ajudarmos a morrer.

Nossa profissão é uma história de amor e ódio. Uma luta do bem com o mal eternamente travada onde cada dia se encerra uma batalha. Mas somos perseverante e pequenos-grandes guerreiros que têm em mãos toda uma vivacidade, uma pureza sem fim uma vontade apaixonada de ser enfermeiro, na essência em que esta palavra inspira.

Foram tantos os momentos em que tentei encontrar uma palavra que resumisse nossa turma e cheguei a conclusão que o que somos não se exprime através de palavras. Essa turma representa a própria vida que pulsa, viva e intensa. São tantas as nossas qualidades, nossos defeitos, os traços de nosso caráter, nossas manias e trejeitos, que de tão inversos se encaixam e a harmonia se faz presente...

Se eu pudesse mostrar a vocês algumas passagens de nossas vidas acadêmicas, as gargalhadas, as incertezas, as dificuldades, as festas, as desavenças, a união que sempre se sobressai, vocês me diriam que nós representamos um grande casamento de 72 pessoas. E como todo final de casamento, vai ser muito difícil ir embora sem chorar, sem querer ficar mais um pouquinho, sem dizer que quer mais uma chance...

Durante esses quatro anos, vivemos dentro do mesmo trem. Alguns desceram mais cedo, outros já estavam nesse trem. Agora chegou a hora de pararmos na estação e tomarmos os nossos caminhos, não mais juntos, individualmente. Seguiremos o nosso coração e destino, mesmo que o coração sussurre: "... quero ficar..."

É triste ir embora... Só em saber que esse dia representa o corte do cordão, da segurança, da certeza. Insistimos em negar o amanhã e até em tentar contorná-lo. Mas, lembre-se de que cada vez que olhamos para trás teremos a certeza da sorte de conhecermos pessoas maravilhosas que nos modificaram, deixaram em cada um de nós suas marcas e, afirmo, que não há maior gratificação do que saber que se teve a oportunidade de participar da vida dessas pessoas por quatro anos. Insisto em dizer que a partida é inevitável, e ela se aproximou muito rápido. Durante esse último ano, tentamos nos despedir de modos diferentes. Alguns, como eu, choraram, outros fotografaram na tentativa de fixar em papel a emoção e a saudade, outros tentaram se aproximar mais, esquecer diferenças e enfrentar desafios e outros ainda tentaram não viver de maneira alguma, como se ainda existe muito tempo para a despedida.

Gostaria de agradecer a essas mentes que brilham e que por um período de tempo nos abrigaram em sua sabedoria, dedicação e exemplo profissional. Mestres se encontraram aos montes... Mestres e amigos são raros. E iguais a vocês, pouquíssimos são. Durante esses anos em que vivemos juntos, vocês foram nosso conforto, nosso rumo, a mão que ajudava a traçarmos nosso caminho, o coração que nos ensinava a amar nossa profissão, o exemplo humano. Vocês exerceram funções a mais que as de mestre, tudo por amor à nossa formação e a nossa pessoa. Se somos completos profissionais, devemos grande parte à vocês. Somos suas crias, muitas vezes favoritas e agora, como filhos pródigos deixamos o nosso lar para gastar pelo mundo a fortuna que nos foi herdada. Lembrando que o filho, por mais pródigo que seja, sempre retorna ao lar. Vocês não estão livres de nós...

Como canta em sua canção Milton Nascimento: "... seja o que vier, venha o que vier, qualquer dia, por aí, amigo, a gente vai se encontrar e aquela emoção surgirá do nada e se fará presente será como antes e parecerá que nunca parou de ser aquela enormidade de vida. Aquela vontade louca de te abraçar e contar tudo o que aconteceu, de sorrir e esperar teu sorriso. Sorriso largo que sempre me acompanha e acompanhará, na lembrança da fotografia ou de uma tela em minha memória..."

Obrigada e até qualquer dia.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Maio 2006
  • Data do Fascículo
    Jan 1997
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