Editorial
PRINCÍPIOS ECOLÓGICOS E QUALIDADE DE VIDA
Isabel Amélia Costa Mendes1 1 Vice-Presidenta da Comissão de Editoração da Revista Latino-Americana de Enfermagem e Professor Titular do Departamento de Enfermagem Geral e Especializada da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da Organização Mundial da Saúde para o desenvolvimento da pesquisa em Enfermagem
Ao tratar da alfabetização ecológica, CAPRA argumenta que os homens podem aprender lições valiosas oriundas da análise de ecossistemas, tendo em vista a sua reconexão com a teia da vida ¾ o que significa criar, nutrir e educar comunidades sustentáveis, onde possamos obter a satisfação de nossas necessidades e aspirações, levando em consideração as chances das futuras gerações.
Para esse aprendizado o autor enfoca princípios básicos da ecologia, dizendo que precisamos nos tornar ecologicamente alfabetizados. Ou seja, precisamos compreender os pressupostos de organização das comunidades ecológicas e utilizá-los na construção de comunidades humanas sustentáveis, pois ambas apresentam os mesmos princípios básicos de organização - são redes estruturalmente fechadas, mas receptivas aos fluxos de energia e de recursos. Apesar das diferenças entre ecossistema e comunidade humana, podemos aprender, a partir de ecossistema, como viver de maneira sustentável na busca, no cultivo e no aprimoramento da qualidade de vida, ações estas que alicerçam-se, sobretudo, nas relações e nas atividades cooperativas.
O princípio da interdependência, estabelece que da interligação dos seres vivos, numa ampla e complexa rede de relações ¾ o que CAPRA denomina de teia da vida ¾ são derivadas as características essenciais e a própria existência dos organismos. Neste sentido, as implicações para as comunidades humanas são claras. Segundo o citado autor, "uma comunidade humana sustentável está ciente das múltiplas relações entre seus membros. Nutrir a comunidade significa nutrir essas relações".
Assim sendo, a parceria é fundamental nas comunidades sustentáveis e significa a tendência para a construção de associações, de ligações, tendo em vista a cooperação como um requisito de qualidade de vida. Conciliando parceria com o processo de transformação e desenvolvimento haverá a "coevolução". Os indivíduos coevoluem através de uma parceria confiante.
Ainda sobre a questão ¾ qualidade de vida ¾ a flexibilidade é outra característica essencial, pois sua falta resulta em tensão. No dizer de CAPRA, "tensão temporária é um aspecto essencial da vida, mas a tensão prolongada é nociva e destrutiva para o sistema".
Tais considerações nos remetem ao entendimento de que gerenciar uma organização "significa encontrar os valores ideais" para suas variáveis.
Enfim, a diversidade também cumpre seu papel na busca, no aprimoramento e no cultivo de qualidade de vida; mas, somente se constituirá em benefício estratégico se a comunidade humana for sustentada por uma "teia de relações" e se for consciente da interdependência; ou seja, da dependência mútua de seus membros; desta forma, a diversidade será fator enriquecedor das relações e da "coevolução".
A sobrevivência e a qualidade de vida da humanidade têm estreita conexão com a nossa alfabetização ecológica, com a nossa compreensão sobre os princípios ecológicos e com sua adequação às nossas comunidades humanas, tendo em vista sua sustentabilidade.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
CAPRA, F. A teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. Trad. Newton Roberval Eichemberg. São Paulo: Cultrix, 1999.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
30 Maio 2005 -
Data do Fascículo
Ago 2000