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A formação do enfermeiro e o fenômeno das drogas no estado do Rio de Janeiro - Brasil: atitudes e crenças

Nursing formation and the drugs phenomenon in the state of Rio de Janeiro - Brazil: attitudes and beliefs

La formación del enfermero y el fenómeno de las drogas en el estado de Rio de Janeiro - Brasil: actitudes y creencias

Resumos

O presente estudo consistiu em identificar as atitudes e crenças em relação ao fenômeno das drogas, de alunos matriculados em cursos de graduação em Enfermagem de Universidade Pública do Rio de Janeiro (Brasil). A intenção foi caracterizar o preparo acadêmico e as atitudes e crenças consolidadas durante a formação profissional do enfermeiro. Trata-se de uma investigação descritiva, cuja amostra foi de 122 alunos do último período acadêmico de quatro cursos de Enfermagem. O instrumento de coleta de dados utilizado foi um questionário (escala) autoaplicável. Os dados foram coletados entre setembro de 2003 e fevereiro de 2004. O projeto percorreu todos os trâmites necessários a sua execução (avaliação do comitê de ética da Universidade Estadual do Rio de janeiro, autorização das instituições participantes e Termo de Consentimento Livre e Esclarecido assinado pelos alunos). Os resultados evidenciaram a existência de fragilidade nos conhecimentos teóricos específicos (álcool e drogas) obtidos pelos estudantes, bem como a manutenção de atitudes e crenças não tão positivas em relação ao usuário, o que poderá interferir na futura atenção de enfermagem.

alcoolismo; detecção do abuso de substancias; educação em enfermagem; estudante de enfermagem; conhecimentos; atitudes e pratica em saúde


The present study consisted of identifying the attitudes and faiths in relation to the phenomenon of the drugs, of students registered in graduation courses in Nursing of Public University of Rio de Janeiro (Brazil). The intention went characterize it I prepare academic and the attitudes and faiths consolidated during the male nurse professional formation. It is a descriptive investigation, whose sample belonged to 122 students of the last academic period of four courses of nursing. The used instrument of collection of data was a questionnaire (it climbs) applicable. The data were collected between September of 2003 and February of 2004. The project traveled all the necessary procedures its execution (evaluation of the committee of ethics of the State University of Rio of January, authorization of the participant institutions and Term of Free and Illustrious Consent signed by the students). The results evidenced the fragility existence in the specific theoretical knowledge (alcohol and drugs) obtained by the students, as well as the maintenance of attitudes and faiths not so positive in relation to the user, what can interfere in the future nursing attention.

alcoholism; substance abuse detection; education nursing; students nursing; health knowledge; attitudes, practice


El presente estudio consistió en identificar las actitudes y creencias nciasen relación al fenómeno de las drogas, de alumnos matriculados en cursos de pré-grado en Enfermería de Universidad Publicas de Rio de Janeiro (Brasil). La intención fue caracterizar la preparación académica y las actitudes y creencias consolidadas durante la formación profesional del enfermero. Se trata de una investigación descriptiva, cuya muestra fue de 122 estudiantes del último periodo académico de cuatro cursos de enfermería. El instrumento de recolección de datos utilizado fue un cuestionario (escala) auto-aplicable. Los datos fueron recolectados entre septiembre de 2003 y febrero de 2004. El proyecto percorrió todos los trámites necesarios a su ejecución (evaluación por el Comité de Ética de la Universidad Estadual de Rio de Janeiro, autorización de las instituciones participantes y Término de Consentimiento Libre y Esclarecido, firmado por los alumnos). Los resultados evidenciaron la existencia de fragilidad en los conocimientos teóricos específicos (alcohol y drogas) obtenidos por los estudiantes bien como la manutención de actitudes y creencias no tan positivas en relación al usuario, lo que podrá interferir en la futura atención de enfermería.

alcoholismo; detección de abuso de sustancias; educación en enfermería; estudiante de enfermería; conocimientos; actitudes y práctica en salud


ARTIGO ORIGINAL

A formação do enfermeiro e o fenômeno das drogas no estado do Rio de Janeiro - Brasil: atitudes e crenças1 1 As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores e não representam a posição da organização onde trabalham ou de sua administração.

Nursing formation and the drugs phenomenon in the state of Rio de Janeiro - Brazil : attitudes and beliefs

La formación del enfermero y el fenómeno de las drogas en el estado de Rio de Janeiro - Brasil: actitudes y creencias

Gertrudes Teixeira LopesI; Margarita Antonia Villar LuisII

IProfessora Titular da Faculdade de Enfermaria da UERJ. Livre Docente em Enfermagem. Coordenadora do Programa de Mestrado da FENF/UERJ

IIDocente da Escola de Enfermagem Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da OMS para o desenvolvimento da pesquisa em enfermagem, e-mail: margarit@eerp.usp.br

RESUMO

O presente estudo consistiu em identificar as atitudes e crenças em relação ao fenômeno das drogas, de alunos matriculados em cursos de graduação em Enfermagem de Universidade Pública do Rio de Janeiro (Brasil). A intenção foi caracterizar o preparo acadêmico e as atitudes e crenças consolidadas durante a formação profissional do enfermeiro. Trata-se de uma investigação descritiva, cuja amostra foi de 122 alunos do último período acadêmico de quatro cursos de Enfermagem. O instrumento de coleta de dados utilizado foi um questionário (escala) autoaplicável. Os dados foram coletados entre setembro de 2003 e fevereiro de 2004. O projeto percorreu todos os trâmites necessários a sua execução (avaliação do comitê de ética da Universidade Estadual do Rio de janeiro, autorização das instituições participantes e Termo de Consentimento Livre e Esclarecido assinado pelos alunos). Os resultados evidenciaram a existência de fragilidade nos conhecimentos teóricos específicos (álcool e drogas) obtidos pelos estudantes, bem como a manutenção de atitudes e crenças não tão positivas em relação ao usuário, o que poderá interferir na futura atenção de enfermagem.

Descritores: alcoolismo; detecção do abuso de substancias; educação em enfermagem; estudante de enfermagem; conhecimentos; atitudes e pratica em saúde

ABSTRACT

The present study consisted of identifying the attitudes and faiths in relation to the phenomenon of the drugs, of students registered in graduation courses in Nursing of Public University of Rio de Janeiro (Brazil). The intention went characterize it I prepare academic and the attitudes and faiths consolidated during the male nurse professional formation. It is a descriptive investigation, whose sample belonged to 122 students of the last academic period of four courses of nursing. The used instrument of collection of data was a questionnaire (it climbs) applicable. The data were collected between September of 2003 and February of 2004. The project traveled all the necessary procedures its execution (evaluation of the committee of ethics of the State University of Rio of January, authorization of the participant institutions and Term of Free and Illustrious Consent signed by the students). The results evidenced the fragility existence in the specific theoretical knowledge (alcohol and drugs) obtained by the students, as well as the maintenance of attitudes and faiths not so positive in relation to the user, what can interfere in the future nursing attention.

Descriptors: alcoholism; substance abuse detection; education nursing; students nursing; health knowledge; attitudes, practice

RESUMEN

El presente estudio consistió en identificar las actitudes y creencias nciasen relación al fenómeno de las drogas, de alumnos matriculados en cursos de pré-grado en Enfermería de Universidad Publicas de Rio de Janeiro (Brasil). La intención fue caracterizar la preparación académica y las actitudes y creencias consolidadas durante la formación profesional del enfermero. Se trata de una investigación descriptiva, cuya muestra fue de 122 estudiantes del último periodo académico de cuatro cursos de enfermería. El instrumento de recolección de datos utilizado fue un cuestionario (escala) auto-aplicable. Los datos fueron recolectados entre septiembre de 2003 y febrero de 2004. El proyecto percorrió todos los trámites necesarios a su ejecución (evaluación por el Comité de Ética de la Universidad Estadual de Rio de Janeiro, autorización de las instituciones participantes y Término de Consentimiento Libre y Esclarecido, firmado por los alumnos). Los resultados evidenciaron la existencia de fragilidad en los conocimientos teóricos específicos (alcohol y drogas) obtenidos por los estudiantes bien como la manutención de actitudes y creencias no tan positivas en relación al usuario, lo que podrá interferir en la futura atención de enfermería.

Descriptores: alcoholismo; detección de abuso de sustancias; educación en enfermería; estudiante de enfermería; conocimientos; actitudes y práctica en salud

INTRODUÇÃO

A velocidade com que as mudanças vêm acontecendo no cenário mundial e as incertezas acerca desse mesmo processo de integração econômica e social em escala global, redefinem as relações e os papéis dos países em âmbito mundial. A saúde é uma das áreas que estão sendo consideradas estratégicas para desencadear novamente o desenvolvimento econômico(1) e o grande desafio com o qual as sociedades se deparam é o uso de substâncias psicoativas pelas populações.

A Organização Mundial da Saúde destaca que o uso de drogas é um problema que vem crescendo em termos de saúde pública nos países desenvolvidos e em desenvolvimento, repercutindo em uma gama de problemas que envolvem a família e a sociedade com um forte impacto econômico(2-3).

O consumo de álcool tabaco e outras drogas regulamentadas esta aumentando e contribuindo de maneira evidente para a carga de doenças em todo o mundo. No caso do álcool, embora o nível de consumo nos últimos vinte anos, tenha diminuído nos países desenvolvidos, esta aumentando nos países em desenvolvimento. Tal indicador é importante para a região da América Latina na medida em que entre os principais fatores de risco, em termos da carga de enfermidades evitáveis, o tabaco e o álcool continuam no topo da lista nas previsões para os próximos quinze anos(4).

Avaliando a carga imposta à sociedade, através de um padrão de medida conhecido como anos de vida ajustados por incapacidade (DALY), verificou-se que a maior parte dos problemas mundiais decorrentes do consumo de substâncias psicoativas, nos anos de 2000 e 2001, proveio das drogas lícitas. O tabaco e o álcool apareceram como importantes causas de mortalidade e incapacidade, nos países desenvolvidos(4).

No Brasil, o primeiro levantamento domiciliar sobre o uso de drogas psicotrópicas foi realizado em 2001, por Carlini e colaboradores do Centro Brasileiro de Informações sobre drogas psicotrópicas(5) com o objetivo de verificar como a sociedade, de uma maneira geral, se comporta frente ao uso de drogas e propiciar elementos para a elaboração de políticas Públicas de prevenção do abuso de drogas. O estudo contemplou 107 cidades brasileiras com população superior a 200.000 habitantes. Os resultados mostraram a magnitude do problema no Brasil e evidenciaram que 19,4% dos entrevistados já haviam feito uso de algum tipo de droga, o que corresponde a uma população estimada de 9.109.000 pessoas, excluindo-se desse dado o álcool e o tabaco. Tal resultado é, comparável ao obtido em estudo semelhante no Chile (20,6%)(6) no mesmo ano, porém maior ao de investigação realizada na Colômbia, em 1997 (6,5%)(7), e no tocante aos Estados Unidos (EUA), o dado brasileiro corresponde a praticamente, a metade dos resultados obtidos nesse país (38,9%)(8).

Nessas investigações o álcool figura como a droga de consumo mais freqüente. No Brasil o uso na vida de álcool foi de 68,7%, equivalente ao verificado no Chile (70,8%) e inferior ao dos EUA (81,0%), contudo apresentou-se maior do que o observado na Colômbia (35,5%)(6-8).

Estudos focalizando algumas populações específicas como os jovens, tem revelado que na Região das Américas, o beber pesado (cinco a seis ou mais doses ao menos em uma ocasião, no ultimo mês) tem se constituído num comportamento exibido com mais freqüência pelos jovens(4).

Estudo realizado nas 27 capitais brasileiras entre estudantes do ensino fundamental e médio, da rede publica realizada em 2004, mostrou que 65,2% da amostra investigada (10.030estudantes) haviam feito uso na vida de álcool, com o agravante de que 41,2% situaram-se na faixa etária dos 10 a 12 anos de idade. Quanto ao uso freqüente (seis vezes ou mais no mês) e uso pesado, as taxas foram de 11,7% e 6,7%, respectivamente. Salientando-se que neste estudo o álcool foi a substancia que teve menor media de idade de primeiro uso(9).

Diante deste quadro, parece ficar claro que o enfermeiro tem um papel importante na promoção, prevenção, na redução de danos e reinserção social dos indivíduos, pois convive com estes grupos em seu cotidiano de trabalho. Assim, a formação do enfermeiro, deve preparar o profissional para atuar neste campo, buscando assegurar uma melhor qualidade de vida das populações inclusive dos usuários. Atualmente o ensino formal na área de Enfermagem sobre o uso e abuso de drogas parece não corresponder às reais necessidades que a temática vem impondo à sociedade nos últimos anos.

Autores(10-11) ao realizarem pesquisas sobre o uso do álcool e a educação formal dos enfermeiros registraram a "necessidade de sensibilizar as instituições de ensino superior para um maior investimento na ministração de conteúdos sobre álcool e outras substâncias psicoativas aos alunos de Enfermagem".

Neste âmbito, o papel social que as Escolas de Enfermagem devem assumir diante da sociedade e o compromisso com o ensino da promoção da saúde, prevenção de agravos e reinserção social dos usuários de substâncias psicoativas coloca os educadores de enfermagem diante de desafios inusitados.

Esse é um desafio que está posto para os enfermeiros do século XXI, saber lidar com essas situações que são cotidianas, com segurança, conhecimento e liderança para o encaminhamento das questões e as tomadas de decisões em diferentes âmbitos.

A partir dessas reflexões delineou-se como objeto de investigação, as atitudes e as crenças do enfermeiro em relação ao fenômeno das drogas adquiridas em Cursos de Graduação em Enfermagem de Universidades públicas do Estado do Rio de Janeiro - Brasil.

OBJETIVO

Caracterizar o preparo do enfermeiro em relação às atitudes e às crenças referentes ao fenômeno das drogas, decorrentes de sua formação profissional.

Este estudo pretende contribuir para a reflexão e discussão de conteúdos que venham a sustentar a formação do Enfermeiro no que se refere ao fenômeno das drogas. Pretende-se ainda contribuir, por meio da divulgação e disseminação dos resultados, para que outros venham a dar continuidade na produção do conhecimento sobre a temática.

METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa descritiva, uma vez que o que se pretende com essa investigação é descrever as atitudes e crenças expressadas pelos alunos de graduação em enfermagem.

A população investigada foi constituída de alunos do último período acadêmico de quatro Cursos de Graduação em Enfermagem, de quatro escolas públicas, sendo três federais e uma estadual, do Estado do Rio de Janeiro. A amostra, intencional, foi composta por 122 alunos (72% do total de alunos matriculados no ano) sendo que os dados foram coletados, entre setembro de 2003 e fevereiro de 2004.

Como critérios de inclusão, considerou-se o ser aluno regularmente matriculado na instituição, ter cursado a faculdade desde o inicio da graduação, ser aluno do ultimo período acadêmico, desejar participar da investigação voluntariamente e estar presente no dia da apresentação do instrumento (escala).

Para obtenção dos dados utilizou-se uma escala para medir o conhecimento dos alunos de enfermagem do último período sobre o fenômeno das drogas em nível nacional e internacional e as atitudes e crenças em relações à sua formação acadêmica e às ações a serem desenvolvidas com o usuário de álcool e drogas. Esta escala denominada NEADA FACULTY Y SURVEY, do Project NEADA - Nursing Education in Álcohol and Drugs - Conneticut - EUA. O instrumento foi traduzido do inglês para o português por um brasileiro e um britânico e posteriormente foi feito a "back translation" por um tradutor da Universidade Federal do Rio de Janeiro - URFJ. O Projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Estadual do Rio de Janeiro - UERJ. O Teste Piloto foi realizado com 76 alunos de escolas privadas e após esse procedimento aplicou-se a escala aos alunos componentes da amostra, ressaltando-se que todos devolveram o termo de consentimento livre e esclarecido

Para melhor apresentar os resultados decidiu-se agrupar as alternativas, concordo muito, concordo, indiferente, discordo e discordo muito, em três itens apenas: concordo indiferente e discordo. Este procedimento possibilitou uma visão mais concisa dos dados obtidos, facilitando e dando maior consistência à análise.

RESULTADOS

Por ser tratar de uma amostra pequena, optou-se por fazer uma analise qualitativa dos resultados obtidos através da escala, agrupando-se os fatores da mesma em três categorias: álcool, drogas e, álcool e drogas, sendo possível delimitar duas sub categorias: formação teórica e cuidado de enfermagem nas quais foram incluídas as alternativas pertinentes. O que se apresenta a seguir são quadros contendo os resultados de acordo com essa disposição.

ÁLCOOL - FORMAÇÃO TEÓRICA E CUIDADO

Observa-se no Tabela 1 em relação à formação teórica alto nível de concordância nas alternativas referentes ao diagnóstico precoce (96%), à educação básica recebida ser adequada (84%), e media concordância quanto à falta de controle do dependente de álcool (67%) e à existência de base genética nos dependentes de álcool (57%). Por outro lado, no que se refere à discordância nota-se alta percentagem nas alternativas sobre alcoolismo como falta de moral, (94%) e aproximação entre as alternativas, que se referem à diferenciação do usuário que bebe pesado e o dependente (49%) e do dependente poder reduzir seu beber e manter sob controle (51%).

As pontuações obtidas dos alunos na primeira, terceira e quarta afirmações parecem consolidar o problema do uso do álcool como uma doença. A segunda evidencia que o aluno sente haver recebido boa educação básica sobre o tema. Porém de maneira aparentemente contraditória, concordam com a alternativa relativa ao paciente não ter o controle do seu beber (não se controla quando bebe uma vez) e quando discordam da capacidade do dependente em reduzir o uso e manter o seu beber sob controle. Essa atitude não tão positiva em relação ao dependente pode estar relacionada ao enfoque recebido durante o aprendizado e até o conhecimento adquirido por outras vias que não o acadêmico (experiências de convívio pessoal e meio de comunicação) O não diferenciar o uso pesado da dependência sugere formação desatualizada ou incompleta.

Analisando-se as atitudes e crenças dos estudantes de Enfermagem sobre o cuidar de pacientes usuários de álcool, obteve-se um alto nível de concordância em relação às ações que os enfermeiros devem desempenhar junto a esta clientela.

Por outro lado, no que se refere à discordância, mesmo quando cientes que o álcool está contribuindo para problemas de saúde do paciente, assinalaram não ser da competência do enfermeiro conversar com o paciente sobre o beber, com uma porcentagem elevada (91%). Ao discordarem os estudantes acreditam ser de sua competência abordar os usuários, confirmando ser esta uma questão de saúde que precisa de sua intervenção.

Na Tabela 2 observa-se um alto índice de concordância entre as três primeiras alternativas. Destaca-se a compreensão de que uma pessoa que se torna livre das drogas por meio de tratamento nunca pode tornar-se um usuário social (68%). Nota-se ainda à discordância quanto ao uso diário de cigarro de maconha não ser nocivo. Portanto demonstram atitudes formadas a partir do modelo de doença.

A atitude dos estudantes em relação ao usuário de drogas não controlar seu uso mostra que eles não acreditam no potencial de reabilitação do sujeito. Tal pensamento pode ser fruto da crença de que uso de drogas é ruim. Essa atitude por parte do profissional pode gerar desesperança no cliente e desestímulo ao seu tratamento.

Em relação ao cuidado, a maioria (96%) acredita ser da responsabilidade dos enfermeiros intervir quando os pacientes estão fazendo uso de drogas mesmo não sendo essa a causa primeira do seu tratamento. Ao elegerem tal alternativa, os alunos declaram ser da competência dos enfermeiros atuarem frente à drogadição, demonstrando uma atitude de comprometimento com a questão das drogas, mesmo não sendo um especialista (mas sugerem o encaminhamento como a melhor forma de intervir).

A analise das atitudes dos estudantes sobre a sua formação teórica em relação ao álcool e drogas Tabela 3, aponta, a comunicação com o usuário como principal problema dado que participantes assinalaram não ser fácil para o enfermeiro falar (59%) perguntar (58%) sobre o uso de drogas. Por outro lado, também apareceu a discordância a respeito do não saber o que perguntar (86%). Portanto mais da metade considera haver dificuldade em falar e perguntar sobre o assunto, mas a maioria discorda que isso se deva ao fato de não saber que perguntas deve fazer. Ressalte-se ainda a discordância significativa (92%) em relação a considerar o dependente como alguém que não pode ser ajudado. Essa percepção é indicativa de uma atitudes claramente otimista (positiva) sobre o usuário de substancias psicoativas.

Os dados sugerem que a formação recebida até o momento pelos alunos, não forneceu elementos para garantir a segurança suficiente para o estabelecimento de uma relação que permita a abordagem desses temas sem constrangimentos, embora alguns (57%) reconheçam a importância de conversar com o usuário de substancias.

Por outro lado é bastante contraditório assumir que saberiam o que perguntar tendo manifestado sua dificuldade em comunicar-se com o usuário de álcool e drogas a respeito do seu consumo.

Verifica-se ainda que a concordância maior (74%) referiu-se ao entendendimento de que a melhor intervenção do enfermeiro seria encaminhá-lo a bom programa de tratamento. Também ratifica-se a crença de que perguntar sobre o próprio uso "incomoda" o paciente (60%), porém conforme indicam os participantes (84%) a razão para isso não é a invasão de privacidade. Resta então investigar qual poderia ser o possível motivo desse "incomodo" na opinião dos estudantes.

È bastante positiva a atitude relativa ao cuidado, no que concerne à discordância de que a intervenção do enfermeiro restringe-se às situações de dependência, bem como sobre não ser necessária a coleta de um histórico detalhado.

Contudo, a discordância sobre o paciente dependente de substancias ser desagradável para trabalhar foi relativamente pequena (56% dos alunos).

Nas duas ultimas alternativas os estudantes mostram que não há entre eles um padrão definido de atitudes frente aos pacientes usuários na medida em que aumentou a porcentagem dos que se manifestaram indiferentes e a diferença de porcentagem dos que concordam com a não veracidade da fala dos pacientes, relativa ao uso (37%), em comparação com a daqueles que discordam (44)% é insignificante.

Da mesma forma percebe-se a manutenção da crença de que os pacientes irritar-se-iam quando abordados sobre "assuntos pessoais", como o uso dessas substancias, pois além da existência de alunos de acordo com isso (28%), apareceram os indiferentes (34%) superando os primeiros e praticamente na mesma porcentagem dos que discordaram (38%).

Estes dados revela a existência de alunos com uma visão negativa dessa clientela, parte é capaz de manifestar suas crenças e outra parece não assumir ou não ter posição definida, manifestando-se indiferente. Essa situação é preocupante, na medida em tais concepções podem influenciar nas ações de cuidado que os enfermeiros devem realizar junto a estes pacientes, denotando um preparo insuficiente para a prática da Enfermagem, especificamente em relação à abordagem dos usuários de álcool e drogas.

DISCUSSÃO

Percebe-se que as concepções predominantes nas afirmativas dos estudantes quanto ao conceito que os mesmos fazem dos pacientes envolvidos com álcool e drogas inserem-se na perspectiva dos modelos explicativos do uso e abuso de drogas vigentes(12).

Os estudantes estão direcionados para o modelo de doença, embora perceba-se que pode estar havendo influencia do modelo moral, dado que algumas posições sugerem dubiedade.

O modelo de doença envolve a aceitação de que o uso da substância exerce um papel fundamental na doença e que o indivíduo espera ser tratado como doente. Este enfoque pressupõe recuperá-lo do uso, abuso e/ou dependência de substâncias, sendo a abstinência total a meta a ser atingida(12).

Vale ressaltar que não existe um único modelo de atenção a essa clientela, mesmo porque as pessoas e as condições às quais estão expostas são diferentes. Os modelos são construções teóricas que tentam explicar fenômenos complexos como é o caso do uso de substâncias psicoativas(12).

A complexidade desse fenômeno requer a expansão dos conceitos, de modo a incluir determinantes de natureza macro-social como as questões das redes de tráfico internacional e os aspectos econômicos relacionados que interferem no âmbito local dos paises (tráfico, corrupção, pobreza). Além desses há de se considerar ainda, fatores sócio-culturais envolvidos e que influenciam nas crenças e atitudes da população e conseqüentemente, nos estudantes de enfermagem.

Atentando para a singularidade do ser humano, há de se considerar o "modelo do paciente", ou seja utilizar-se das varias possibilidades de intervenção, desde que adequadas ao individuo. O cliente usuário de drogas deve ser o sujeito do seu tratamento e que o enfermeiro na relação com ele, entra como um mediador, como um técnico que conhece as possibilidades de cuidado, como um elemento de ajuda.

Os resultados desta pesquisa mostram que os alunos pouco acreditam na potencialidade do indivíduo auto-administrar seu comportamento e sua reabilitação, muito embora acreditem que essas pessoas possam ser ajudadas neste processo. Quando isto se evidencia provavelmente os conteúdos não foram abordados de modo apropriado.

Existem diferentes níveis de dependência química (leve, moderada, grave), portanto, se o profissional não consegue identificar o grau de dependência, dificilmente poderá ajustar a abordagem a cada paciente, podendo entender a dependência como uma entidade fixa, com tratamento universal para todos os indivíduos(13). O aluno, futuro enfermeiro que não tiver adquirido informações adequadas, pertinentes à área das dependências químicas, estará propenso a guiar suas intervenções pelo senso comum.

Nesse sentido, o estudo, realizado com uma amostra de estudantes de escolas de enfermagem de Ribeirão Preto evidenciou que muitos conceitos e atitudes dos mesmos pautavam-se justamente, em concepções do senso comum parecendo estar muito mais vinculados às vivencias do seu cotidiano do que no preparo técnico, cientifico e ético, o qual deveria ser proporcionado no decorrer da formação(14).

Os dados desse estudo revelam também, que o ensino recebido pouco influenciou nas atitudes desses alunos sobre o alcoolismo, embora aceitassem o conceito de alcoolismo como doença (da mesma forma que os estudantes do presente estudo) persistiram idéias preconceituosas explicadas pelo modelo moral, reveladas através de atitudes negativas frente ao alcoolista(14).

Nesta investigação realizada em outro estado, verificam-se resultados que guardam certa similaridade embora os instrumentos de mensuração tenham sido diferentes. Os dados apontam que os acadêmicos não têm conhecimento suficiente para abordar os pacientes, demonstrando insegurança em relação ao diálogo que pode ser estabelecido na interação enfermeiro / paciente. A manifestação de crenças dos estudantes em relação às dificuldades de diálogo com os usuários de álcool e drogas embora seja compreensível em razão do estereótipo e da discriminação que sofrem estes pacientes socialmente, não pode ser mais uma condição aceitável pelas instituições formadoras, pois se trata de uma questão que vem se arrastando por anos sendo inclusive evidenciada em estudos nacionais(10-11,14-15) e que deve ser enfrentada.

No momento atual, ainda é difícil para a maioria dos profissionais lidar com o fenômeno da drogadição tanto no que concerne ao contexto em que o dependente químico vive, como em relação ao tratamento a ser implementado(16). Sendo que no enfrentamento das situações vinculadas ao uso e abuso de álcool e drogas o enfermeiro já pode utilizar estratégias de aproximação do usuário, inclusive em situações de tratamento e reabilitação podendo incentivar a participação do cliente em grupos de apoio para orientação, grupos de acolhimento e outras estratégias terapêuticas, com vistas às mudanças de comportamento e ao desenvolvimento de um estilo de vida mais saudável(12, 16).

Como aspecto positivo salientando por este estudo apareceram as atitudes positivas dos estudantes em relação ao papel do enfermeiro no cuidar dessa clientela, pois consideram ser esta uma competência em seu exercício profissional, demonstrando uma atitude de comprometimento com a questão das drogas enquanto enfermeiros generalistas. Essas atitudes revelam ainda que eles acreditam em seu próprio potencial para o cuidado.

Pode-se inferir neste estudo que o conhecimento oferecido pelos cursos de graduação, para a amostra de estudantes investigada, foram insuficientes e superficiais. Ou ainda, a maneira como foram ministrados não proporcionou mudanças nas suas crenças e atitudes em relação aos usuários de álcool e outras drogas psicoativas. Fatores que podem comprometer sua atuação profissional frente a essas pessoas.

Cabe ressaltar ainda sobre a formação do graduando em enfermagem, a concordância com a posição de Pillon e Luis(12), no tocante à utilização de um único modelo explicativo do fenômeno uso de álcool e drogas (no total ou em partes) como um fator que pode contribuir para o julgamento de valores e a estigmatização dos usuários por parte dos futuros profissionais de saúde. A pratica tem revelado que o planejamento das intervenções exige uma visão ampla contemplando os múltiplos aspectos (contidos nos diversos modelos) e o não direcionamento para apenas um modelo padrão que supostamente, explicaria a totalidade desse fenômeno.

CONCLUSÃO

Pode-se concluir a partir dos resultados obtidos nesta pesquisa que a formação da amostra de estudantes de enfermagem das escolas investigadas no Estado do Rio de Janeiro possui características positivas e dados contraditórios. Dentre os pontos positivos destacamos o fenômeno das drogas sendo abordado nos cursos de graduação, fato que levou os alunos a se manifestarem sobre a temática em suas diferentes dimensões.

Os futuros profissionais compreendem que o conhecimento sobre drogas é importante para seu exercício profissional e incorporam o cuidado às pessoas envolvidas com substâncias psicoativas como inerente ao papel do enfermeiro. Além disto, os acadêmicos acreditam no seu potencial para atuar junto a esses clientes, apesar dos conteúdos ministrados nos cursos de graduação não acompanharem os avanços teóricos conceituais desse conhecimento tornando assim a abordagem defasada no preparo profissional do enfermeiro.

Como pontos contraditórios o destaque é para a desarticulação entre a teoria e a prática, bastante evidenciada no decorrer do estudo. Também, os dados apontam para conteúdos centrados no modelo médico, no qual as pessoas envolvidas com substâncias psicoativas são percebidas como doentes.

Sugere-se, pois que os conteúdos de drogas a serem apresentados nos cursos de graduação em Enfermagem estejam pautados em conhecimento atualizado e correspondam às exigências e às necessidades da população brasileira.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos a Comissão Interamericana para o Controle de Drogas/ CICAD, ao Programa de Bolsas da OEA, ao Governo do Japão, a todos os docentes da Escola de Enfermagem Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da OMS para o desenvolvimento da pesquisa em enfermagem, e aos quinze representantes dos oito países da América Latina que participaram do "II Programa Regional de Capacitação em Investigação para Enfermeiros da América Latina" implementado na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo no ano de 2003.

Recebido em: 4.7.2005

Aprovado em: 7.10.2005

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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      15 Dez 2005
    • Data do Fascículo
      Out 2005

    Histórico

    • Aceito
      07 Out 2005
    • Recebido
      04 Jul 2005
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