EDITORIAL
Estratégias de pesquisa para o controle de doenças negligenciadas: projetos colaborativos de enfermagem em rede
Tereza Cristina Scatena Villa
Membro da Comissão de Editoração da Revista Latino-Americana de Enfermagem, Professor Titular da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da OMS para o desenvolvimento da pesquisa em enfermagem, Brasil, e-mail: tite@eerp.usp.br
Esta década têm como foco atingir as Metas do Milênio(1), dentre as quais figuram a redução da mortalidade infantil, e a redução na incidência de doenças transmissíveis, notadamente o HIV/Aids, a malária e a tuberculose. Todos estes mecanismos têm como característica em comum um foco específico, o propósito do desenvolvimento de estratégias auto-sustentáveis, assegurados mecanismos de financiamento para intervenção e pesquisa.
As doenças tropicais consideradas "negligenciadas" constituem um conjunto de enfermidades prevalentes nos países em desenvolvimento, que afetam indistintamente toda a população, mas que tem tido maior impacto em grupos populacionais em situação de vulnerabilidade social representando um sério obstáculo ao desenvolvimento socioeconômico e a melhoria da qualidade de vida(2).
O Brasil contribui com a maior parte da carga de doenças tropicais negligenciadas na América Latina e Caribe. Isto significa que grande parte do contingente dos 40 milhões da população mais pobre do Brasil está infectada por uma ou mais doenças tropicais negligenciadas"(3). Essas doenças persistem devido à diferentes causas ou "falhas" que classificamos em três tipos: falha de ciência (conhecimentos insuficientes); falha de mercado (alto custo de medicamentos ou vacinas); falha de saúde pública (planejamento deficiente para diagnósticos e tratamentos)(4). Falhas de ciência exigem uma reorganização do sistema nacional de pesquisa considerando a construção de uma ponte entre a produção do conhecimento e sua aplicação nos vários setores. Falhas de mercado requerem mecanismos inovadores de financiamento ou negociações. Falhas de saúde pública exigem novas estratégias de intervenção(5).
Relatório da Comissão de Macro economia e Saúde, apontou o "desequilíbrio 90/10", ou seja, 10% dos investimentos em pesquisas e desenvolvimento (P&D) são direcionados para os problemas de saúde de 90% da população mundial(6).
Diante disso, o Grupo interisntitucional de pesquisa epidemiológica-operacional "GEOTB"/CNPq da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto-USP, Centro Colaborador da Organização Mundial da Saúde para o desenvolvimento da pesquisa, vem assumindo a liderança na captação de fomento e desenvolvimento de projetos de pesquisa visando contribuir para o alcance das metas do milênio, por meio de estímulos às práticas investigativas que somem esforços e fomentem a integração de grupos de pesquisa e instituições no desenvolvimento de projetos de investigação multicêntricos de pesquisa e na formação de recursos humanos para o SUS (Sistema Único de Saúde). Nesse sentido, merece destaque o desenvolvimento de projetos de pesquisa em Tuberculose em rede nacional do qual participam dez Escolas de Enfermagem e duas Faculdades de Medicina de instituições universitárias das regiões Norte, Nordeste, Sul e Sudeste do Brasil, de forma articulada ao Ministério da Saúde e a REDE TB com financiamento nacional e internacional. Os resultados das pesquisas têm contribuído para a produção de conhecimento sobre metodologias de avaliação do desempenho de serviços de atenção primária na atenção à tuberculose(7-8), a fim de subsidiar a formulação de políticas públicas para o SUS e formar novos grupos de pesquisa em áreas estratégicas do país.
REFERÊNCIAS
- 1. Sridhar D, Batniji R. Misfinancing global health: a case for transparency in disbursements and decision making. Lancet. 2008; 372:1185-91
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2World Health Organization. Strategic and technical meeting on intensified control of neglected tropical diseases: A renewed effort to combat entrenched communicable diseases of the poor: Report of an international workshop, Berlin, 18-20 April 2005 [Internet]. WHO; 2006 [Access April 14 2009]. 46p. Available from: http://whqlibdoc.who.int/hq/2006/WHO_CDS_NTD_2006.1_eng.pdf
- 3. Hotez P. The giant anteater in the room: Brazil's neglected tropical diseases problem. PLoS Neglected Tropical Diseases. 2008; 2(1):77.
- 4. Morel CA. Pesquisa em saúde e os objetivos do milênio: desafios e oportunidades globais, soluções e políticas nacionais. Ciênc. Saúde Colet. 2004; 9(2):261-70.
- 5. Morel C. Inovação em saúde e doenças negligenciadas Cad Saúde Publica 2006; 22(8):1522-3.
- 6. World Health Organization. The World Health Report 2000: Health Systems: Improving Performance [Internet]. France: WHO; 2000 [Access April 14 2009]. 206p. Available from: http://www.who.int/whr/2000/en/whr00_en.pdf
- 7. Villa TCS, Ruffino A Netto. Questionário para Avaliação de Desempenho de Serviços de Atenção Básica no Controle da Tuberculose no Brasil. J. Bras. Pneumol. 2009;35(6):610-2.
- 8. Scatena LM, Villa TCS, Rufino-Netto A, Kritski AL, Figueiredo TMRM, Vendramini SHF, et al. Dificuldades de acesso a serviços de saúde para diagnóstico de tuberculose em municípios do Brasil. Rev. Saúde Pública. 2009; 43(3):389-97.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
02 Out 2009 -
Data do Fascículo
Ago 2009