EDITORIAL
Cuidados paliativos: desafios dos sistemas de saúde
Regina Aparecida Garcia de Lima
Editora Científica da Revista Latino-Americana de Enfermagem, e Professor Titular da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da OMS para o desenvolvimento da pesquisa em enfermagem, Brasil, e-mail: limare@eerp.usp.br
As reflexões sobre o desenvolvimento de tecnologias na área da saúde têm sido acompanhadas por questões relacionadas à finitude e qualidade de vida, isso porque, se a tecnologia pode proporcionar a cura de uma enfermidade pode, também, prolongar a vida, muitas vezes sem considerar a sua qualidade. Dessa forma, as tecnologias para intervenções em processos de doenças crônico- degenerativas podem transformar a fase final da vida em longo e sofrido processo de morrer(1), momento no qual pacientes e suas famílias necessitam de uma abordagem de atenção à saúde, cujo foco seja a qualidade de vida e de morte.
Cuidados paliativos constituem-se em uma modalidade de atenção à saúde que vem ao encontro dessa realidade, para minimizar o sofrimento causado pelas doenças e pelas intervenções tecnológicas. Para a Organização Mundial de Saúde, cuidados paliativos são medidas que aumentam a qualidade de vida de pacientes e seus familiares que enfrentam doença terminal, mediante a prevenção e alívio do sofrimento, por meio de identificação precoce, avaliação correta e tratamento da dor e de outros problemas físicos, psicossociais e espirituais(2).
Documento da Organização Mundial de Saúde, intitulado Better palliative care for older people(3), reafirma e justifica a necessidade de incluir os cuidados paliativos como parte do cuidado integral à saúde, em todas as doenças crônicas e, especialmente, nos programas de atenção aos idosos. Nesse documento destacou-se a educação das equipes e da população em geral sobre os princípios e benefícios dos cuidados paliativos.
Estudos sobre as estimativas globais de atendimento em cuidados paliativos identificaram que 115 países mantêm um ou mais serviços de cuidados paliativos e que 60%, de 56 milhões de pessoas que morrem por ano, têm se beneficiado de alguma forma do cuidado paliativo. Embora haja a ampliação dessa modalidade de assistência em todo o mundo, ainda nos deparamos com mais de 20 milhões de pessoas morrendo sem acesso ao cuidado que busca amenizar sofrimentos e sintomas da doença, preservar a autonomia do doente e seu direito de participação e proporcionar melhor qualidade de vida(4).
A constatação de que grande número de pessoas ainda não recebe assistência adequada, no seu processo de morte, nos faz pensar sobre a necessidade de ampliar a cobertura desses serviços. Esse não é o único desafio dos sistemas de saúde, dado que a produção de tal cuidado tem como fundamentos a competência humana e científica. Sendo assim, a produção e divulgação de conhecimento nessa temática é vital para elaboração das melhores práticas em cuidados paliativos.
Referências
- 1. Rabello CAFG, Rodrigues PHA. Saúde da Família e cuidados paliativos infantis: ouvindo os familiares de crianças dependentes de tecnologia. Cięnc Saúde Col. 2010;15(2):379-88.
- 2. World Health Organization. Cancer pain relief and palliative care. Geneva: World Health Organization; 2002.
- 3. World Health Organization. Better palliative care for older people. Geneva: World Health Organization; 2004.
- 4. Wright M, Wood J, Lynch, Clark D. Mapping levels of palliative care development: a global view. Pain Sympton Manage. 2008;35(5): 469-85.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
06 Maio 2011 -
Data do Fascículo
Abr 2011