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Interrupções de atividades vivenciadas por profissionais de enfermagem em unidade de terapia intensiva1 1 Artigo extraído da dissertação de mestrado "Análise das interrupções ocorridas durante a assistência de enfermagem em Unidades de Tratamento Intensivo", apresentada à Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás, Goiânia, GO, Brasil.

RESUMO

Objetivo:

analisar as interrupções experienciadas por profissionais de enfermagem durante realização de atividades assistenciais.

Método:

estudo observacional realizado em duas unidades de tratamento intensivo. Dois enfermeiros observaram 33 profissionais de enfermagem, por três horas. Os dados foram registrados em tempo real, usando um instrumento semiestruturado.

Resultados:

após 99 horas de observação de 739 atividades, foi identificado que 46,82% sofreram interrupções, perfazendo 7,85 interrupções por hora. As interrupções comprometeram, em média, 9,42% do tempo de trabalho dos profissionais de enfermagem. As atividades direcionadas ao cuidado indireto do paciente foram as que sofreram maior número de interrupções (56,65%), sendo o registro de enfermagem a atividade mais interrompida. A principal fonte das interrupções foi externa, proveniente dos profissionais de saúde (51%), e as principais causas foram as relacionadas aos pacientes (34,70%) e às comunicações interpessoais (26,47%).

Conclusão:

A enfermagem sofre um grande número de interrupções, causadas principalmente pelos próprios profissionais de saúde, indicando que o ambiente de trabalho deve sofrer intervenções que objetivem reduzir o risco de comprometimento do desempenho do profissional e aumentar a segurança dos pacientes.

Descritores:
Segurança do Paciente; Cuidados de Enfermagem; Unidades de Terapia Intensiva; Observação

ABSTRACT

Objective:

to analyze the interruptions experienced by nursing professionals while undertaking care activities.

Method:

an observational study undertaken in two intensive care units. Two nurses observed 33 nursing professionals for three hours. The data were recorded in real time, using a semistructured instrument.

Results:

after 99 hours of observation of 739 activities, it was identified that 46.82% were interrupted, resulting in 7.85 interruptions per hour. On average, the interruptions compromised 9.42% of the nursing professionals' worktime. The activities geared towards indirect care of the patient suffered the highest number of interruptions (56.65%), with the nursing records being the activity interrupted most. The principal source of the interruptions was external, coming from the health professionals (51%), and the main causes were those related to the patients (34.70%) and to interpersonal communication (26.47%).

Conclusion:

the activity of nursing suffers a high number of interruptions, mainly caused by the health professionals themselves, indicating that the work environment needs to undergo interventions aiming to reduce the risk of compromising of the professional's performance and to increase the patients' safety.

Descriptors:
Patient Safety; Nursing Care; Intensive Care Units; Observation

RESUMEN

Objetivo:

analizar las interrupciones experimentadas por profesionales de enfermería durante la realización de actividades asistenciales.

Método:

estudio observacional realizado en dos unidades de tratamiento intensivo. Dos enfermeros observaron 33 profesionales de enfermería, durante tres horas. Los datos fueron registrados en tiempo real, usando un instrumento semiestructurado.

Resultados:

después de 99 horas de observación de 739 actividades, fue identificado que 46,82% sufrieron interrupciones, haciendo 7,85 interrupciones por hora. En promedio, las interrupciones comprometieron 9,42% del tiempo de trabajo de los profesionales de enfermería. Las actividades orientadas al cuidado indirecto del paciente fueron las que sufrieron el mayor número de interrupciones (56,65%), siendo el registro de enfermería la actividad más interrumpida. La principal fuente de interrupciones fue externa, proveniente de los profesionales de la salud (51%), y las principales causas fueron las relacionadas a pacientes (34,70%) y a comunicaciones interpersonales (26,47%).

Conclusión:

La enfermería sufre un gran número de interrupciones, causadas principalmente por los propios profesionales de la salud, indicando que el ambiente de trabajo debe sufrir intervenciones que objetiven reducir el riesgo de comprometer el desempeño del profesional y aumentar la seguridad de los pacientes.

Descriptores:
Seguridad del Paciente; Atención de Enfermería; Unidade de Cuidados Intensivos; Observación

Introdução

Nas últimas décadas muito tem sido discutido sobre a segurança do paciente, considerando que muitos usuários do sistema de saúde estão sofrendo eventos adversos em decorrência de erros ocorridos na assistência. A publicação do Institute of Medicine "To Err is Human: Building a Safer Health System" identificou que eventos adversos evitáveis são a quarta causa mais importante de óbito nos Estados Unidos da América (EUA)11. Kohn L, Corrigan J, Donaldson MS. To Err Is Human: Building a Safer Health System. Washington: National Academy Press; 2000. 546 p..

As interrupções sofridas pelos profissionais de saúde, durante a realização de suas atividades assistenciais, foram apontadas como possíveis fatores de erros, estabelecendo uma relação de causa entre a segurança do paciente e a ocorrência de interrupções, e desde 2008, este tema vem sendo fortemente estudado por pesquisadores de saúde22. Hopkinson SG, Jennings BM. Interruptions during nurses' work: a state-of-the-science review. Research in Nursing & Health. 2013;36:38-53. http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/nur.21515/epdf. doi: 10.1002/nur.21515
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-33. Rivera AJ. A socio-technical systems approach to studying interruptions: Understanding the interrupter's perspective. Appl Ergonom. 2014;45:747-56. doi: 10.1016/j.apergo.2013.08.009
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.

As interrupções, atos de romper ou suspender uma atividade, são derivadas de eventos externos, provenientes de pessoas ou de sons de equipamentos como telefones e alarmes, ou de autointerrupção44. Pereira BMT, Pereira AMT, Correia CS, Marttos AC Jr, Fiorelli RKA, Fraga GP. Interrupções e distrações na sala de cirurgia do trauma: entendendo a ameaça do erro humano. Rev Col Bras Cir. 2011;38(5):292-8. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-69912011000500002
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. As interrupções contribuem para a distração da atenção humana, podendo resultar em ruptura da atividade que está sendo realizada, mesmo que temporariamente, com diminuição do tempo de reflexão e da habilidade de pensamento44. Pereira BMT, Pereira AMT, Correia CS, Marttos AC Jr, Fiorelli RKA, Fraga GP. Interrupções e distrações na sala de cirurgia do trauma: entendendo a ameaça do erro humano. Rev Col Bras Cir. 2011;38(5):292-8. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-69912011000500002
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-55. Feil M. Distractions and Their Impact on Patient Safety. Pennsylvania Patient Safety Advisory [Internet]. 2013 [Acesso 12 mai 2014];10(1):1-10. Disponível em: http://patientsafetyauthority.org/ADVISORIES/AdvisoryLibrary/2013/Mar;10(1)/Pages/01.aspx
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. Após sofrer a interrupção, o profissional corre o risco de omitir ou repetir alguns passos, ou ainda toda a tarefa pode ser repetida, podendo causar efeitos desastrosos66. Institute for Safe Medication Practices (ISMP). Side tracks on the safety express. Interruptions lead to errors and unfinished... Wait, what was I doing? [Internet]. 2012 [Acesso 15 mai 2013]. Disponível em: https://www.ismp.org/newsletters/acutecare/showarticle.aspx?id=37
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.

Neste contexto, as interrupções devem ser foco de atenção nas instituições de saúde, consideradas ambientes complexos, pois podem ser prejudiciais à segurança dos pacientes77. Westbrook JI, Coiera E, Dunsmuir WTM, Brown BM, Kelk N, Paoloni R, et al. The impact of interruptions on clinical task completion. Qual Saf Health Care. 2010;19(4):284-9. http://qualitysafety.bmj.com/content/19/4/284.full.pdf+html. doi: 10.1136/qshc.2009.039255
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.

Em investigação realizada em dois hospitais de ensino da Austrália os enfermeiros interrompidos apresentaram maior chances de cometer erros88. Westbrook JI, Woods A, Rob MI, Dunsmuir WTM, Day RO. Association of Interruptions With an Increased Risk and Severity of Medication Administration Errors. Arch Intern Med. 2010;170(8):683-90. http://archinte.jamanetwork.com/article.aspx?articleid=415843. doi: 10.1001/archinternmed.2010.65
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. Nos EUA estudo indicou que as interrupções e distrações foram responsáveis por mais da metade dos eventos relatados (59,6%) associados com erros de medicação55. Feil M. Distractions and Their Impact on Patient Safety. Pennsylvania Patient Safety Advisory [Internet]. 2013 [Acesso 12 mai 2014];10(1):1-10. Disponível em: http://patientsafetyauthority.org/ADVISORIES/AdvisoryLibrary/2013/Mar;10(1)/Pages/01.aspx
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. Evidências indicam ainda associação entre interrupções e distrações da equipe cirúrgica e o aumento da mortalidade44. Pereira BMT, Pereira AMT, Correia CS, Marttos AC Jr, Fiorelli RKA, Fraga GP. Interrupções e distrações na sala de cirurgia do trauma: entendendo a ameaça do erro humano. Rev Col Bras Cir. 2011;38(5):292-8. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-69912011000500002
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.

A Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) merece destaque pois apresenta desafios consideráveis em relação à segurança do paciente, considerando que nela são executados processos altamente complexos. A assistência de enfermagem nesta unidade exige muita atenção dos profissionais, que precisam, frequentemente, tomar decisões de risco e rápidas, além de realizarem um número elevado de intervenções invasivas, utilizarem diversos dispositivos, vários medicamentos de alta vigilância e novas tecnologias terapêuticas, com estudos apontando a alta incidência de eventos adversos99. Sasangohar F, Donmez B, Easty A, Storey H, Trbovich P. Interruptions experienced by cardiovascular intensive care unit nurses: An observational study. J Crit Care; 2014;29(5):848-53. http://ac.els-cdn.com/S0883944114002081/1-s2.0-S0883944114002081-main.pdf?_tid=6a96edf6-14cd-11e6-a690-00000aacb35e&acdnat=1462678497_f8f270354b846cc127b3f9d7db3cc0f3. doi: 10.1016/j.jcrc.2014.05.007
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-1010. Grundgeiger T, Sanderson P, MacDougall HG, Venkatesh B. Interruption Management in the Intensive Care Unit: Predicting Resumption Times and Assessing Distributed Support. J Exp Psychol Appl. 2010;16(4):317-34. http://psycnet.apa.org/journals/xap/16/4/317.pdf. doi: 10.1037/a0021912
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.

Considerando a necessidade de identificação de situações de risco existentes no ambiente de trabalho da enfermagem que possam conduzir a ocorrência de erros na assistência prestada aos pacientes hospitalizados, a busca por evidências que apontem caminhos para a adoção de intervenções com foco na qualidade da assistência e na segurança dos pacientes, e o pouco conhecimento a respeito do fenômeno da interrupção no contexto do cuidado da enfermagem brasileira, o objetivo deste estudo foi analisar as interrupções vivenciadas pelos profissionais de enfermagem durante a realização de atividades de assistência a pacientes internados em UTI.

Método

Estudo quantitativo observacional, de corte transversal, realizado em duas UTI de uma instituição de ensino localizada no Estado de Goiás, Brasil.

A população do estudo constituiu-se de todos os profissionais de enfermagem que realizavam atividades de enfermagem nas unidades selecionadas. As observações foram realizadas durante os turnos da manhã (das 08:00 às 11:00 horas) e da tarde (das 13:00 às 16:00 horas) no período de junho a agosto de 2014.

Todos os profissionais de enfermagem foram observados individualmente, uma única vez, e simultaneamente por dois enfermeiros, com o objetivo de se obter confiança nos dados observados. Os observadores receberam treinamento sobre coleta de dados (4 horas cada) e participaram do estudo piloto (3 horas cada). O grau de concordância entre os observadores foi de 94,3%. Os casos discrepantes foram excluídos.

Para esta pesquisa, foi considerada interrupção todo e qualquer ato ou atitude que rompeu/ suspendeu/ quebrou ou desviou a atenção do profissional daquilo que estava fazendo, mesmo que temporariamente, ocasionado por fatores ambientais e/ou humanos.

Para coleta de dados foi utilizado um roteiro semiestruturado, validado por dois enfermeiros e um especialista em segurança do paciente, com questões fechadas para obtenção dos dados da caracterização dos profissionais e do ambiente, seguido de uma planilha a ser preenchida com as informações a respeito das interrupções observadas: descrição, hora de início e fim da atividade; ocorrência, hora de início e fim da interrupção; fonte e causa da interrupção. Os observadores fizeram uso de um cronômetro, como meio de aferir a duração de cada atividade observada e de cada interrupção identificada.

As causas de interrupção foram categorizadas conforme descrito abaixo:

Relacionada aos pacientes: Interrupções em que o profissional age em prol de qualificar seu cuidado ou de outro profissional, buscando ou fornecendo informações sobre práticas de cuidado ou quadro clínico do paciente sob seu cuidado; resolvendo alterações do quadro clínico; prestando auxílio e dando atenção a pacientes e familiares.

Comunicações Interpessoais: Interrupções relacionadas a comunicações que não dizem respeito à atividade de enfermagem, como participação em conversas sociais e paralelas.

Tarefas de enfermagem: Interrupções para fornecer informações sobre pacientes que não estão sob seus cuidados; fazer registros; ajustes em equipamentos; serviços burocráticos.

Materiais: Interrupções para resolver a falta de algum material durante realização de procedimento, separar e preparar materiais para novos procedimentos.

Movimentação de pessoas no ambiente: Interrupções causadas por circulação, ou entra e sai de pessoas na unidade de cuidado.

Aparelhos de telefonia: Interrupções para atender ao telefone celular ou da unidade.

Televisão: Interrupções para prestar atenção a algum programa transmitido pela televisão.

Alarme: Interrupções causadas por barulho dos alarmes dos equipamentos médicos- hospitalares como bomba de infusão, monitor cardíaco etc.

Pessoais: Interrupções ocorridas por distração do profissional, sem causas externas observáveis, como desviar o olhar.

Ruídos: Interrupções causadas por sons emitidos no ambiente, como batidas de porta, queda de algo, etc.

A prevalência das atividades com interrupção foi calculada dividindo o número de atividades com interrupção pelo total de atividades, com e sem interrupção, multiplicado por 100. Foi realizado o teste U de Mann-Whitney para verificar a diferença da duração das atividades com e sem interrupção. O coeficiente de correlação da duração do tempo da atividade e número de interrupções foi verificado a partir da correlação de Spearman.

Para verificar diferenças estatísticas entre o número de interrupções por categoria profissional foi realizado o teste de Kruskal-Wallis, com intervalos de confiança de 95%, e consideradas estatisticamente significantes as associações que obtiveram valor de p<0,05.

O projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás, com parecer nº 556.432/2014. A inclusão dos profissionais ocorreu após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

Resultados

Participaram do estudo 33 profissionais, o equivalente a 75% do total de profissionais, sendo 18 (54,55%) técnicos de enfermagem, oito (24,24%) enfermeiros e sete residentes de enfermagem (21,21%).

Durante 99 horas foram observadas 739 atividades realizadas pelos profissionais de enfermagem, das quais 346 (46,82%) sofreram pelo menos uma interrupção. Foram observadas, ao todo, 778 interrupções, perfazendo um total de 7,85 interrupções por hora, ou ainda, uma interrupção a cada 7,64 minutos. A prevalência das atividades interrompidas foi de 46,82%, com intervalo de confiança de 43,24-50,49. A média de interrupções por atividade foi de 1,05, com intervalo de confiança de 0,91-1,20.

Todos os profissionais observados sofreram interrupções. Apesar do técnico de enfermagem realizar o maior número de atividades, foi a categoria que apresentou menor proporção de interrupções por atividade, conforme a Tabela 1.

Tabela 1
Distribuição do número de atividades, número de interrupções e proporção de interrupções por atividade, segundo categoria profissional. Goiânia, GO, Brasil, 2014

As interrupções corresponderam, em média, a 11,08% do tempo de trabalho dos enfermeiros; a 9,09% do tempo dos residentes de enfermagem e 8,81% do tempo dos técnicos de enfermagem. De forma geral, as interrupções corresponderam, em média, 9,42% do tempo de trabalho dos profissionais de enfermagem. Não existiu diferença estatisticamente significativa do número de interrupções por categoria profissional (p=0,139).

As atividades interrompidas tiveram duração maior do que as sem interrupção. A mediana das atividades interrompidas foi de três minutos (mínimo=0,5 minuto; máximo=43 minutos), enquanto que as sem interrupção tiveram mediana de um minuto (mínimo=0,5 minutos; máximo=22 minutos). O coeficiente de correlação da duração do tempo da atividade e do número de interrupções, de acordo com a correlação de Spearman, foi de 0,590 e p=0,000, indicando que são diretamente proporcionais.

Ressalta-se que, em relação ao tempo de duração das interrupções, 584 (75,06%) tiveram duração menor que um minuto, 158 (20,31%) maior do que um minuto, 32 (4,11%) de dois a cinco minutos e quatro (0,51%) de seis a 15 minutos.

De todas as interrupções observadas, 449 (57,71%) levaram a ruptura da atividade realizada e em 329 (42,29%) atividades os profissionais continuaram o que estavam fazendo, apesar do desvio da atenção.

A análise das atividades desenvolvidas pelos profissionais permitiu a construção de três categorias: de cuidados diretos ao paciente, cuidados indiretos ao paciente e atividade administrativa. As atividades observadas, com e sem interrupção, estão descritas na Tabela 2.

Tabela 2
Distribuição das atividades realizadas pela enfermagem, segundo ocorrência ou não de interrupção, por tipo de atividade. Goiânia, GO, Brasil, 2014

Na tabela acima é possível identificar que as atividades que sofreram maior número de interrupções foram as relacionadas ao cuidado indireto (196/ 56,65%), seguido das de cuidado direto (142/ 41,04%) e administrativas (8/ 2,32%). Dentro das atividades de cuidado indireto, destacaram-se as "anotações e registros de enfermagem" com 82 interrupções; nas de cuidado direto a "administração de medicamentos" e na atividade administrativa o "uso do telefone".

O estudo também possibilitou a identificação das fontes de interrupção, conforme descrito na Tabela 3.

Tabela 3
Distribuição das fontes de interrupções de atividades de enfermagem. Goiânia, GO, Brasil, 2014

Destaca-se que foi possível identificar um total de 794 fontes de interrupções, visto que algumas atividades foram interrompidas por mais de uma fonte simultaneamente.

As causas das interrupções foram reunidas em 11 categorias, conforme apresentado na Tabela 4.

Tabela 4
Distribuição das causas das interrupções de atividades de enfermagem. Goiânia, GO, Brasil, 2014

Discussão

A enfermagem sofreu um grande número de interrupções, em média 7,85 por hora, muitas desnecessárias, provindas em sua maioria dos próprios profissionais de saúde, com destaque para o técnico de enfermagem, principalmente por causas relacionadas ao paciente sob seu cuidado e para estabelecer comunicações interpessoais, como conversas sociais.

Interrupções das atividades de enfermagem têm sido evidenciadas em outras pesquisas, variando de 0,3 a 13,9 interrupções por hora22. Hopkinson SG, Jennings BM. Interruptions during nurses' work: a state-of-the-science review. Research in Nursing & Health. 2013;36:38-53. http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/nur.21515/epdf. doi: 10.1002/nur.21515
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. Estudo realizado na Alemanha, durante a observação de enfermeiros de unidades de cuidado cirúrgico e de UTI, identificou uma interrupção a cada seis minutos1212. Kalisch BJ, Aebersold M. Interruptions and Multitasking in Nursing Care. Jt Comm J Qual Patient Saf. 2010 Mar;36(3):126-32. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20235414
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. Em um hospital universitário da cidade de São Paulo os enfermeiros de UTI vivenciaram uma interrupção a cada oito minutos1111. Monteiro C. Interrupções de atividades realizadas por enfermeiros de um hospital universitário: implicações para a segurança do paciente [thesis]. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo; 2013. 143 p.. Em uma UTI cardiovascular de um hospital de ensino canadense foi verificado uma média de 19,7 interrupções por hora99. Sasangohar F, Donmez B, Easty A, Storey H, Trbovich P. Interruptions experienced by cardiovascular intensive care unit nurses: An observational study. J Crit Care; 2014;29(5):848-53. http://ac.els-cdn.com/S0883944114002081/1-s2.0-S0883944114002081-main.pdf?_tid=6a96edf6-14cd-11e6-a690-00000aacb35e&acdnat=1462678497_f8f270354b846cc127b3f9d7db3cc0f3. doi: 10.1016/j.jcrc.2014.05.007
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.

A correlação positiva entre a duração do tempo da atividade e número de interrupções sugere que atividades que requerem maior tempo do profissional devem ser planejadas e receber intervenções para minimizar interrupções desnecessárias.

As interrupções podem provocar falhas cognitivas, incluindo falhas na atenção, memória ou percepção1313. Antoniadis S, Passauer-Baierl S, Baschnegger H, Weig Ml. Identification and interference of intraoperative distractions and interruptions in operating rooms. J Surgical Res. 2014;188(1):21-9. http://ac.els-cdn.com/S0022480413021677/1-s2.0-S0022480413021677-main.pdf?_tid=134f55e8-14cc-11e6-84b3-00000aab0f27&acdnat=1462677921_8b224a857bd3a68670a31f20d2300ea6. doi: 10.1016/j.jss.2013.12.002
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, afetando a concentração e contribuindo para que o ser humano esqueça o que estava fazendo, aumentando a probabilidade de cometer erros22. Hopkinson SG, Jennings BM. Interruptions during nurses' work: a state-of-the-science review. Research in Nursing & Health. 2013;36:38-53. http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/nur.21515/epdf. doi: 10.1002/nur.21515
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-33. Rivera AJ. A socio-technical systems approach to studying interruptions: Understanding the interrupter's perspective. Appl Ergonom. 2014;45:747-56. doi: 10.1016/j.apergo.2013.08.009
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,1414. Sevdalis N, Undre S, McDermott J, Giddie J, Diner L, Smith G. Impact of intraoperative distractions on patient safety: a prospective descriptive study using validated instruments. Wld J Surg. 2014;38:751-8. doi: 10.1007/s00268-013-2315-z
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. A consequência dessas falhas gera atraso na assistência, perda da concentração, trabalho incompleto, omissão do cuidado, aumento no risco de erros e exposição do paciente a erros1212. Kalisch BJ, Aebersold M. Interruptions and Multitasking in Nursing Care. Jt Comm J Qual Patient Saf. 2010 Mar;36(3):126-32. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20235414
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.

As interrupções ainda podem provocar respostas emocionais negativas para alguns profissionais, fazendo com que eles se sintam frustrados, estressados e desmotivados por terem sido interrompidos33. Rivera AJ. A socio-technical systems approach to studying interruptions: Understanding the interrupter's perspective. Appl Ergonom. 2014;45:747-56. doi: 10.1016/j.apergo.2013.08.009
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,1515. Sørensen EE, Brahe L. Interruptions in clinical nursing practice. J Clin Nurs. 2014;23(9-10):1274-82. http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/jocn.12329/epdf. doi: 10.1111/jocn.12329
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.

Em relação ao tempo da interrupção e à ruptura da atividade, foi constatado que interrupções curtas, como as encontradas na maioria dos casos nesse estudo, fazem com que os profissionais lembrem o que estavam fazendo e retomem às suas atividades com menos dificuldade, pois diminuem o esforço cognitivo1010. Grundgeiger T, Sanderson P, MacDougall HG, Venkatesh B. Interruption Management in the Intensive Care Unit: Predicting Resumption Times and Assessing Distributed Support. J Exp Psychol Appl. 2010;16(4):317-34. http://psycnet.apa.org/journals/xap/16/4/317.pdf. doi: 10.1037/a0021912
https://doi.org/10.1037/a0021912...
, porém continuam a ser potenciais fatores de risco, considerando que cada ser humano reage de forma distinta, em momentos diferentes, perante uma interrupção.

No presente estudo, em 42,29% das atividades interrompidas, os profissionais tiveram sua atenção dividida entre a continuação da atividade e dar atenção à interrupção. Esse pode ser um problema para a qualidade da assistência à saúde, considerando que na realização de processos de risco o nível de atenção dos profissionais deve ser elevado e toda a interrupção pode levar à ocorrência de erros88. Westbrook JI, Woods A, Rob MI, Dunsmuir WTM, Day RO. Association of Interruptions With an Increased Risk and Severity of Medication Administration Errors. Arch Intern Med. 2010;170(8):683-90. http://archinte.jamanetwork.com/article.aspx?articleid=415843. doi: 10.1001/archinternmed.2010.65
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. Estudo realizado em UTI apontou que em 6,6% das atividades interrompidas os profissionais tiveram a atenção desviada, fazendo com que não retornassem à tarefa ou tivessem a retomada impedida por outra interrupção ou devido à mudança no contexto do cuidado1010. Grundgeiger T, Sanderson P, MacDougall HG, Venkatesh B. Interruption Management in the Intensive Care Unit: Predicting Resumption Times and Assessing Distributed Support. J Exp Psychol Appl. 2010;16(4):317-34. http://psycnet.apa.org/journals/xap/16/4/317.pdf. doi: 10.1037/a0021912
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.

No que diz respeito ao tipo de atividade interrompida, a maioria foi de cuidado indireto ao paciente, com destaque para as anotações e registros de enfermagem. Essa atividade também esteve entre as mais interrompidas em unidades de emergência de dois hospitais suecos (27,0%)1616. Berg LM, Källberg AS, Göransson K, Östergren J, Florin J, Ehrenberg A. Interruptions in emergency department work: an observational and interview study. Qual Saf Health Care. 2013;00:1-8. http://qualitysafety.bmj.com/content/22/8/656.full.pdf+html. doi: 10.1136/bmjqs-2013-001967
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, assim como em unidades clínicas e cirúrgicas de um hospital de ensino de Toronto, Canadá (29,3%)1717. McGillis Hall L, Pedersen C, Fairley L. Losing the Moment: Understanding Interruptions to Nurses' Work. JONA. 2010;40(4):169-76. doi: 10.1097/NNA.0b013e3181d41162
https://doi.org/10.1097/NNA.0b013e3181d4...
.

Ao ser interrompido durante a documentação, o profissional pode esquecer-se de registrar informações essenciais para o cuidado do paciente e para continuidade de sua assistência. Vale lembrar, que os registros indicam a qualidade da assistência que está sendo prestada e o prontuário do paciente é o principal meio de comunicação entre a equipe de saúde, além de ser um instrumento legal e contribuir para a auditoria de enfermagem, para o ensino e a pesquisa1818. Maziero VG, Vannuchi MTO, Haddad MCL, Vituri DW, Tada CN. Qualidade dos registros dos controles de enfermagem em um hospital universitário. Rev Min Enferm. 2013;17(1):165-70. http://www.reme.org.br/artigo/detalhes/587
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Em relação às interrupções ocorridas durante a higienização das mãos, estas podem ser preocupantes, pois podem levar à omissão ou incorreção de alguns passos da técnica, impedindo a correta higienização de toda a extensão da mão, a não remoção da microbiota nela colonizada, colocando em risco a segurança do paciente1919. World Health Organization (WHO). World alliance for safer health care. Guidelines on hand hygiene in health care. First global patient safety challenge clean care is safer care. Geneva (SW): WHO Press; 2009. http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/44102/1/9789241597906_eng.pdf.

Interrupções frequentes também foram encontradas, neste estudo, durante a realização da administração de medicamentos. Em UTI ocorre administração de múltiplos medicamentos por via endovenosa, muitos potencialmente perigosos, sendo um processo de alto risco. Em caso de desatenção por parte do profissional, erros podem ocorrer e causar danos graves nos pacientes55. Feil M. Distractions and Their Impact on Patient Safety. Pennsylvania Patient Safety Advisory [Internet]. 2013 [Acesso 12 mai 2014];10(1):1-10. Disponível em: http://patientsafetyauthority.org/ADVISORIES/AdvisoryLibrary/2013/Mar;10(1)/Pages/01.aspx
http://patientsafetyauthority.org/ADVISO...
,2020. Prakash V, Koczmara C, Savage P, Trip K, Stewart J, McCurdie T, et al. Mitigating errors caused by interruptions during medication verification and administration: interventions in a simulated ambulatory chemotherapy setting. BMJ Qual Saf. 2014;23:884-92. http://qualitysafety.bmj.com/content/23/11/884.full.pdf+html. doi: 10.1136/bmjqs-2013-002484
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. Estudos apontam que cerca de 50% dos erros de medicação ocorreram em decorrência das distrações causadas pelas interrupções55. Feil M. Distractions and Their Impact on Patient Safety. Pennsylvania Patient Safety Advisory [Internet]. 2013 [Acesso 12 mai 2014];10(1):1-10. Disponível em: http://patientsafetyauthority.org/ADVISORIES/AdvisoryLibrary/2013/Mar;10(1)/Pages/01.aspx
http://patientsafetyauthority.org/ADVISO...
.

Quase metade das interrupções foi ocasionada pelos próprios profissionais de saúde, conforme demonstrado em estudos prévios66. Institute for Safe Medication Practices (ISMP). Side tracks on the safety express. Interruptions lead to errors and unfinished... Wait, what was I doing? [Internet]. 2012 [Acesso 15 mai 2013]. Disponível em: https://www.ismp.org/newsletters/acutecare/showarticle.aspx?id=37
https://www.ismp.org/newsletters/acuteca...
,1414. Sevdalis N, Undre S, McDermott J, Giddie J, Diner L, Smith G. Impact of intraoperative distractions on patient safety: a prospective descriptive study using validated instruments. Wld J Surg. 2014;38:751-8. doi: 10.1007/s00268-013-2315-z
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,2121. Redding DA, Robinson S. Interruptions and Geographic Challenges to Nurses Cognitive Workload. J Nurs Care Qual. 2009;24(3):194-200. https://pdfs.semanticscholar.org/fc5b/742885b76dfad764232195f1721d01e1bda6.pdf doi: 10.1097/01.NCQ.0000356907.95076.31
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. Infelizmente, os profissionais de saúde ainda não estão conscientizados para o impacto que as interrupções podem ter sobre a qualidade e segurança do cuidado que está sendo prestado2222. Raban MZ, Westbrook JI. Are interventions to reduce interruptions and errors during medication administration effective?: a systematic review. BMJ Qual Saf. 2013;0:1-8. http://qualitysafety.bmj.com/content/early/2013/08/26/bmjqs-2013-002118.full.pdf+html. doi:10.1136/bmjqs-2013-002118
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-2323. Raban MZ, Lehnbom EC, Westbrook JI. Interventions to reduce interruptions during medication preparation and administration. Australian Commission on Safety and Quality in Health Care, University of New South Wales [Internet]. 2013. [Acesso 21 Jan 2015];1(4). Disponível em: https://aihi.mq.edu.au/sites/default/files/aihi/resources/Interruption_final.pdf. Desta forma, faz-se necessária a adoção de estratégias de conscientização e educação dos profissionais sobre quando as interrupções devem ou não ser evitadas.

Além de a interrupção ter tido como principal fonte os próprios profissionais, chama a atenção nesse estudo o elevado número de autointerrupções ocorridas durante a execução de atividades de enfermagem, assim como destacado em estudos anteriores(6,12,24). Este tipo de interrupção pode ser evitada com condutas de melhor planejamento da prática e com a conscientização de que durante a realização de atividades laborais a resolução de necessidades pessoais pode esperar1111. Monteiro C. Interrupções de atividades realizadas por enfermeiros de um hospital universitário: implicações para a segurança do paciente [thesis]. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo; 2013. 143 p..

As autointerrupções por falta de materiais para conclusão de procedimentos demonstram falta de planejamento do profissional. Um estudo verificou que os profissionais gastaram cerca de 0,6 minuto por hora em interrupções por falta de suprimento, o que corresponde a 1% do tempo do turno de trabalho1111. Monteiro C. Interrupções de atividades realizadas por enfermeiros de um hospital universitário: implicações para a segurança do paciente [thesis]. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo; 2013. 143 p., refletindo em atraso na assistência. O uso de checklist pode ser uma importante ferramenta a ser utilizada para minimizar situações de esquecimento no preparo de materiais para procedimentos.

No que diz respeito às causas das interrupções, o fato da mais frequente ter sido aquela relacionada ao paciente, em que o profissional agiu em prol de qualificar seu cuidado ou de outro profissional, sugere que algumas interrupções têm impacto positivo na assistência. Em alguns momentos, como na obtenção de informação sobre o cuidado ao paciente ou para impedir o prosseguimento de um ato inseguro ou falho, aumentando a precisão de ações ou melhorando a condição do paciente, as interrupções podem ser bem vistas1212. Kalisch BJ, Aebersold M. Interruptions and Multitasking in Nursing Care. Jt Comm J Qual Patient Saf. 2010 Mar;36(3):126-32. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20235414
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,1717. McGillis Hall L, Pedersen C, Fairley L. Losing the Moment: Understanding Interruptions to Nurses' Work. JONA. 2010;40(4):169-76. doi: 10.1097/NNA.0b013e3181d41162
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.

Porém, este estudo evidenciou também que as comunicações interpessoais foram a segunda causa de interrupção. Os profissionais interromperam ou tiveram suas atividades assistenciais interrompidas para tratar de assuntos de interesses pessoais, fora do contexto do qual eles estavam envolvidos. Esse é um tipo de interrupção que deve ser adiada, devido às consequências que podem trazer para a qualidade do cuidado.

Para prevenir esse tipo de situação algumas medidas têm sido propostas, como o uso de coletes coloridos durante o preparo e administração de medicamentos, como um sinal de que eles não devem ser perturbados durante esta atividade, ou o preparo de medicação em cabines2020. Prakash V, Koczmara C, Savage P, Trip K, Stewart J, McCurdie T, et al. Mitigating errors caused by interruptions during medication verification and administration: interventions in a simulated ambulatory chemotherapy setting. BMJ Qual Saf. 2014;23:884-92. http://qualitysafety.bmj.com/content/23/11/884.full.pdf+html. doi: 10.1136/bmjqs-2013-002484
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. Outra abordagem para reduzir interrupção é proporcionar áreas específicas para a realização de atividades complexas e de risco, como o preparo de medicamentos, nas quais a interrupção não é permitida ou é limitada a comunicações de urgência2525. Anthony K, Wiencek C, Bauer C, Daly B, Anthony MK. No Interruptions Please: Impact of a No Interruption Zone on Medication Safety in Intensive Care Units. Crit Care Nurse. 2010;30(3):21-9. http://ccn.aacnjournals.org/content/30/3/21.full.pdf+html. doi: 10.4037/ccn2010473
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Neste contexto, fica evidente a necessidade da enfermagem analisar as circunstâncias nas quais as interrupções se dão, buscando evitar àquelas que não objetivam a qualidade do cuidado e que podem ser adiadas, não oportunizando situações que comprometam a segurança dos pacientes.

Conclusão

Interrupções ocorreram regularmente durante a realização de atividades executadas pela enfermagem que atua em UTI. A maioria das interrupções ocorreu durante as anotações de enfermagem e a higienização das mãos, causadas principalmente pelos próprios profissionais de saúde.

Muitas interrupções ocorreram com intuito de qualificar o cuidado prestado aos pacientes, porém outra grande parcela ocorreu para o estabelecimento de conversas que não diziam respeito à assistência, podendo ser fatores de risco para a redução do desempenho do profissional e para a gênese de um erro, comprometendo a segurança dos pacientes.

O presente estudo possibilita a compreensão da ocorrência da interrupção em ambiente de prática da enfermagem, indicando que intervenções que objetivam reduzir o risco de comprometimento do desempenho do profissional e aumentar a segurança dos pacientes devem ser efetivadas. Fornece ainda dados valiosos para estudos futuros, subsídios a outros pesquisadores, assim como aos gestores de saúde, indicando situações de risco para erros assistenciais e áreas para adoção de melhorias.

Como todo estudo observacional, esse apresentou limitações no que se diz respeito ao risco de a presença dos observadores ter influenciado o comportamento dos profissionais. Embora a equipe de enfermagem investigada soubesse que estava sendo observada, os demais profissionais e familiares não estavam cientes, portanto, acredita-se que este fato pode ter amenizado o risco dos resultados terem sido influenciados pelo método de coleta de dados. Considera-se ainda como limitação o estudo ter sido desenvolvido em UTI, restringindo o campo a uma instituição hospitalar e a uma população específica, limitando os resultados encontrados a grupos similares, assim como as observações não terem sido realizadas no período noturno, que pode possuir diferentes frequências e padrões de interrupções.

Futuras investigações devem ser realizadas com uma população mais abrangente, com variados cenários e direcionadas à análise de atividades assistenciais específicas, objetivando aprofundar o conhecimento sobre o impacto das interrupções no desempenho dos profissionais e, consequentemente, na qualidade do cuidado, na segurança dos pacientes e proporcionar maior compreensão do fenômeno estudado.

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    Artigo extraído da dissertação de mestrado "Análise das interrupções ocorridas durante a assistência de enfermagem em Unidades de Tratamento Intensivo", apresentada à Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás, Goiânia, GO, Brasil.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2016

Histórico

  • Recebido
    08 Jun 2015
  • Aceito
    12 Abr 2016
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