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Fatores associados ao uso inconsistente do preservativo entre trabalhadoras do sexo* * Apoio financeiro do Ministério da Saúde - Carta Acordo 130/2013, Brasil.

Resumos

Objetivo:

analisar os fatores associados ao uso inconsistente do preservativo entre trabalhadoras do sexo.

Método:

estudo transversal, realizado em áreas de prostituição, usou-se o Respondent Drive Sampling. O Cálculo amostral foi realizado com base na informação da Associação das Trabalhadoras do Sexo: 600 mulheres trabalhadoras do sexo. Foram selecionadas sete mulheres com características diferentes em relação à cor, idade e local de atuação, chamadas de sementes. Após a participação, elas receberam três cupons para recrutar outras participantes para obter uma amostra representativa. A definição de uso inconsistente do preservativo foi determinada como uso ocasional ou nunca usar. Foram realizadas análises univariadas e regressão logística multivariada.

Resultados:

participaram do estudo 416 mulheres trabalhadoras do sexo. Os fatores associados foram ter menos que oito anos de estudo (Odds Ratio = 27,28), não ter parceiro fixo (Odds Ratio = 2,79), uso de álcool elevado (Odds Ratio = 5,07) e cor da pele preta (Odds Ratio = 2,21).

Conclusão:

os fatores associados ao uso inconsistente do preservativo foram: menor escolaridade, não ter parceiro fixo, uso elevado de álcool e cor da pele preta.

Descritores:
Profissionais do Sexo; Parceiros Sexuais; Preservativos; Brasil; HIV; Comportamento Sexual


Objective:

to analyze the factors associated to the inconsistent condom use among sex workers.

Method:

a transversal study, carried out in prostitution area, using the Respondent Drive Sampling. The sample was calculated based on the information by the Sex Workers Association: 600 female sex workers. The study selected seven women with different characteristics regarding color, age, and place of work, who were called seeds. After the participation, they received three coupons to recruit other participants in order to obtain a representative sample. The definition of inconsistent condom use was determined as occasional use or never using it. Univariate analyses and a multivariate logistic regression were performed.

Results:

416 female sex workers participated in the study. The associated factors were having studied for less than eight years (Odds Ratio = 27.28), not having a permanent partner (Odds Ratio = 2.79), high alcohol use (Odds Ratio = 5.07), and being black (Odds Ratio = 2.21).

Conclusion:

the factors associated to inconsistent condom use were: lower education levels, not having a permanent partner, high alcohol use, and being black.

Descriptors:
Sex Workers; Sexual Partners; Condoms; Brazil; HIV; Sexual Behavior


Objetivo:

analizar los factores asociados al uso inconsistente del preservativo entre trabajadoras del sexo.

Método:

estudio transversal, que ha sido realizado en áreas de prostitución, se usó el Respondent Drive Sampling. El Cálculo de muestra fue realizado con base en la información de la Asociación de las Trabajadoras del Sexo: 600 mujeres trabajadoras del sexo. Fueron seleccionadas a siete mujeres con características distintas en relación al color, a la edad y al local de actuación, llamadas de semillas. Después de la participación, ellas recibieron tres cupones para reclutar a otras participantes para obtener una muestra representativa. La definición de uso inconsistente del preservativo fue determinada como uso ocasional o nunca usar. Fueron realizados análisis univariados y regresión logística multivariada.

Resultados:

participaron del estudio 416 mujeres trabajadoras del sexo. Los factores asociados fueron tener menos que ocho años de estudio (Odds Ratio = 27,28), no tener pareja fija (Odds Ratio = 2,79), uso de alcohol elevado (Odds Ratio = 5,07) y color de la piel negro (Odds Ratio = 2,21).

Conclusión:

los factores asociados al uso inconsistente del preservativo fueron: menor escolaridad, no tener pareja fija, uso elevado de alcohol y color de la piel negro.

Descriptores:
Trabajadores Sexuales; Parejas Sexuales; Condones; Brasil; VIH; Conducta Sexual


Introdução

A infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) permanece como um desafio mundial(11 Piot P, Quinn TC. Response to the AIDS pandemic - a global health model. N Engl J Med. 2013; 368(23): 2210-8. doi: http://dx.doi.org/10.1056/NEJMra1201533
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). No contexto brasileiro, prevalências mais elevadas foram detectadas em populações de maior vulnerabilidade ao vírus, como em usuários de drogas, de 22,6%(22 Pechansky F, Diemen LV, Inciardi JA, Surratt H, Boni RD. Fatores de risco para transmissão do HIV em usuários de drogas de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. Cad Saúde Publica. 2004; 20(6):1651-60. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X2004000600024
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), em Homens que fazem Sexo com Homens (HSH), de 18,4%(33 Keer L, Kenadall C, Guimarães MDC, Salani MR, Veras MA, Dourado I, et al. HIV prevalence among men who have sex with men in Brazil: results of the 2nd national survey using respondent - driven sampling. Medicine. [Internet]. 2018 [cited Aug 5, 2019]; 97 (1Suppl.1):9-15. Avaliable from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5991534/
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/article...
) e em Trabalhadoras do Sexo (TS), que apresentam variação de 1% a 4,8%(44 Fernandes FR, Mousquer GJ, Castro LS, Puga MA, Tanaka TS, Rezende GR, et al. HIV seroprevalence and high-risk sexual behavior among female sex workers in Central Brazil. AIDS Care. 2014; 26 (9):1095-9. doi: http://dx.doi.org/10.1080/09540121.2014.894609
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5 Caetano KAA, França DDDS, Carneiro MADS, Martins RMB, Stefani MMDA, Kerr LRFS, et al. Prevalence and virologic profile of HIV infections among female sex workers in Goiania City, central Brazil. AIDS Patient Care STDS. 2013; 27(1):1-4. doi: http://dx.doi.org/10.1089/apc.2012.0268
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-66 Szwarcawald CL, Souza Júnior PR, Damacena GN, Barbosa A Junior, Kendall C. Analysis of data collected by RDS among sex workers in 10 Brazilian cities, 2009: estimation of the prevalence of HIV, variance, and design effect. J Acquir Immune Defic Syndr. 2011; 57(3):129-35. doi: http://dx.doi.org/10.1097/QAI.0b013e31821e9a36
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).

Em uma epidemia concentrada, populações em situação de maior risco têm um papel fundamental na dinâmica da infecção. As mulheres trabalhadoras do sexo são uma população de alto risco para o HIV e consideradas populações-chave para o controle do HIV e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST)(66 Szwarcawald CL, Souza Júnior PR, Damacena GN, Barbosa A Junior, Kendall C. Analysis of data collected by RDS among sex workers in 10 Brazilian cities, 2009: estimation of the prevalence of HIV, variance, and design effect. J Acquir Immune Defic Syndr. 2011; 57(3):129-35. doi: http://dx.doi.org/10.1097/QAI.0b013e31821e9a36
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).

No Brasil, desde 2002, o trabalho sexual é uma ocupação reconhecida pelo Ministério do Trabalho, mesmo assim, ainda é preciso ampliar essa discussão para efetivar a regulamentação da profissão no país(77 Leite GS, Murray L, Lenz F. The Peer and Non-peer: the potential of risk management for HIV prevention in contexts of prostitution. Rev Bras Epidemiol. 2015; 18(1):7-25. doi: http://dx.doi.org/10.1590/1809-4503201500050003
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). Entretanto, essas mulheres ainda enfrentam dificuldade para ter acesso aos serviços de saúde, às informações sobre prevenção, além da ausência de intervenções específicas.

O preservativo masculino é o principal e mais eficaz método de prevenção recomendado como intervenção em contextos de trabalho sexual(77 Leite GS, Murray L, Lenz F. The Peer and Non-peer: the potential of risk management for HIV prevention in contexts of prostitution. Rev Bras Epidemiol. 2015; 18(1):7-25. doi: http://dx.doi.org/10.1590/1809-4503201500050003
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). Em países com diferentes níveis de desenvolvimento, renda e cultura, o risco de aquisição da infecção pelo HIV e outras IST’s está associado ao uso inconsistente do preservativo(88 Longo JD, Simaleko MM, Diemer HS, Grésenguet G, Brücker G, Belec L. Risk factors for HIV infection among female sex workers in Bangui, Central African Republic. PLoS One. 2017; 12(11):e0187654. doi: http://dx.doi.org/10.1371/journal.pone.0187654
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9 Duff P, Birungi J, Dobrer S, Akello M, Muzaaya G, Shannon K. Social and structural factors increase inconsistent condom use by sex workers’ one-time and regular clients in Northern Uganda. AIDS Care. 2018; 30(6):751-9. doi: http://dx.doi.org/10.1080/09540121.2017
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10 Budhwani H, Hearld KR, Hasbun J, Charow R, Rosario S, Tillotson L, et al. Transgender female sex workers’ HIV knowledge, experienced stigma, and condom use in the Dominican Republic. PLoS One. 2017; 12(11):e0186457. doi: http://dx.doi.org/10.1371/journal.pone.0186457
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11 Karamouzian M, Sadeghirad B, Sharifi H, Sedaghat A, Haghdoost AA, Mirzazadeh A. Consistent condom use with paying and nonpaying partners among female sex workers in Iran: Findings of a National Biobehavioral Survey. J Int Assoc Provid AIDS Care. 2017; 16(6):572-8. doi: http://dx.doi.org/10.1177/2325957417732834
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-1212 Barreto D, Shannon K, Taylor C, Dobrer S, Jean JS, Goldenberg SM, et al. Food insecurity increases HIV risk among young sex workers in metro Vancouver, Canada. AIDS Behav. 2017; 21(3):734-44. doi: http://dx.doi.org/10.1007/s10461-016-1558-8
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).

O uso inconsistente do preservativo por trabalhadoras do sexo está relacionado a fatores como a criminalização do trabalho sexual e as dificuldades de negociação com os clientes, além do estigma relacionado ao trabalho, contribuindo para a dificuldade de acesso ao preservativo(1313 Anderson S, Shannon J, Li Y, Lee J, Chettiar S, Goldenberg A, et al. Condoms and sexual health education as evidence: impact of criminalization of in-call venues and managers on migrant sex workers access to HIV/STI prevention in a Canadian setting. BMC Int Health Hum Rights. 2016; 16(1):30. doi: http://dx.doi.org/10.1186/s12914-016-0104-0
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-1414 Benoit C, Jansson SM, Smith M, Flagg J. Prostitution Stigma and its effect on the working conditions, personal lives, and health of sex workers. J Sex Res. 2018; 55(4-5): 457-71. doi: http://dx.doi.org/10.1080/00224499.2017.1393652
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). Nesse sentido, intervenções comportamentais para o incremento do uso de preservativo entre mulheres trabalhadoras do sexo têm sido descritas como ferramentas eficazes para a prevenção do HIV e outras IST’s(1515 Chow EP, Tung K, Tucker JD, Muessig KE, Su S, Zhang X, et al. Behavioral interventions improve condom use and HIV testing uptake among female sex workers in china: a systematic review and meta-analysis. AIDS Patient Care STDS. 2015; 29(8):454-60. doi: http://dx.doi.org/10.1089/apc.2015.0043
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).

Dentre os poucos estudos sobre os fatores associados ao uso do preservativo entre as trabalhadoras do sexo, um estudo de revisão demonstrou que intervenções comportamentais aumentam o uso do preservativo, mas há carência de informações sobre outros desfechos relacionados ao uso do preservativo entre aspopulações-chave(1616 Wariki WM, Ota E, Mori R, Koyanagi A, Hori N, Shibuya K. Behavioral interventions to reduce the transmission of HIV infection among sex workers and their clients in low and middle income countries. Cochrane Database Syst Rev. 2012; 15(2):CD005272. https://dx.doi.org/10.1002/14651858.CD005272.pub3
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). Outra revisão apresentou ainda que existem evidências sobre a eficácia de intervenções comportamentais, com melhores resultados para o uso do preservativo junto a parceiros pagantes(1717 Okafor UO, Crutzen R, Aduak Y, Adebajo S; Van BHW. Behavioural interventions promoting condom use among female sex workers in sub-Saharan Africa: a systematic review. Afr J AIDS Res. 2017; 16(3):257-68. http://dx.doi.org/10.2989/16085906.2017.1358753
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).

Nessa perspectiva, um estudo mostrou que, para as intervenções terem maiores efeitos, a vulnerabilidade de trabalhadoras do sexo deve ser entendida como um problema ocupacional e as intervenções devem envolver as próprias trabalhadoras no processo de empoderamento, para terem maiores probabilidades de sucesso em seu cotidiano de trabalho(1818 Moore L, Chersich MF, Steeen R, Reza-Paul S, Dhana A, Vuylsteke B, et al. Community empowerment and involvement of female sex workers in targeted sexual and reproductive health interventions in Africa: a systematic review. Global Health. 2014; 10(10):47. http://dx.doi.org/10.1186/1744-8603-10-47
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).

Entretanto, existem lacunas no que se refere a amostras amplas que contemplem TS que atuam nos mais diferentes espaços de trabalho sexual, como ruas, praças, boates ou mesmo em agências específicas para esses fins. Com isso, ainda é necessário o desenvolvimento de investigações capazes de arrolar amostras heterogêneas que concorram para uma compreensão acurada do uso de preservativos, seja em espaços públicos ou reservados. Experiências internacionais, como na China, sinalizam esta dificuldade por ser um trabalho estigmatizado(1919 Ma Q, Jiang J, Pan X, Cai G, Wang H, Zhou X, Chen L. Consistent condom use and its correlates among female sex workers at hair salons: a cross-sectional study in Zhejiang province, China. BMC Public Health. 2017; 17(1):910. http://dx.doi.org/10.1186/s12889-017-4891-6
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).

Portanto, diante do reconhecimento da vulnerabilidade ao HIV de trabalhadoras do sexo e da especial importância do uso de preservativos nessa população, este estudo tem como objetivo analisar os fatores associados ao uso inconsistente do preservativo entre mulheres trabalhadoras do sexo.

Método

Tratou-se de um estudo transversal(2020 Hulley SB, Cummings SR, Browner WS, Grady DG, Newman TB. Delineando a pesquisa clínica. Porto Alegre: Artmed; 2015.) realizado com Trabalhadoras do Sexo (TS) que atuaram em áreas de prostituição em uma capital do Nordeste brasileiro, entre março de 2014 e setembro de 2017.

As participantes foram recrutadas pelo método Respondent Drive Sampling (RDS), que se trata de um método de amostragem utilizada para o recrutamento de populações de difícil acesso, onde o próprio participante é responsável por recrutar outros indivíduos da mesma categoria que a sua.

O método RDS inclui vários requisitos essenciais para criar uma amostra representativa e tem sido recomendado para melhorar orecrutamento com populações de difícil acesso. Para atender às exigências do método RDS, selecionaram-se sete trabalhadoras do sexo com características diferentes em relação à cor (branca e não branca), à idade (jovem, adulta jovem e idosa) e ao local de atuação (ambientes fechados e abertos), que constituíram as primeiras participantes e foram chamadas de sementes.

Assim, cada participante recebeu três cupons válidos e foi orientada a convidar mais três trabalhadoras do sexo, de sua rede de atuação, até a obtenção de uma amostra significativa(2121 Damacena GN, Zwarcwald CL, Souza PRB. HIV risk practices by female sex workers according to workplace. Rev Saúde Pública. 2014; (48)3:428-37. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S0034-8910.2014048004992
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). Os cupons válidos tinham informações bem definidas sobre o local e o horário da coleta de dados, que ocorreu semanalmente no turno manhã, em local específico da zona central do município de coleta.

Dessa forma, foram considerados os seguintes critérios de inclusão: ter idade igual ou maior a 18 anos e atuar como trabalhadoras do sexo no município da coleta há pelo menos quatro meses. Em contrapartida, optou-se pelo seguinte critério de exclusão: estar visivelmente sob a influência de drogas, incluindo álcool, no momento da entrevista.

O instrumento utilizado para a coleta de dados foi elaborado pelos próprios pesquisadores, considerando as variáveis de interesse para a investigação e caracterização das participantes, validado quanto à forma e conteúdo por especialistas na temática e no método.

A composição da amostra final teve como base a informação verbal da Associação de Prostitutas que, no município do estudo, teria 600 mulheres com atuação como trabalhadoras do sexo. Além disso, foi considerada prevalência de 1,8% para o HIV(55 Caetano KAA, França DDDS, Carneiro MADS, Martins RMB, Stefani MMDA, Kerr LRFS, et al. Prevalence and virologic profile of HIV infections among female sex workers in Goiania City, central Brazil. AIDS Patient Care STDS. 2013; 27(1):1-4. doi: http://dx.doi.org/10.1089/apc.2012.0268
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), erro tolerável de 2%, índice de confiança (IC) de 95% e o acréscimo de 10% em virtude de eventuais perdas.

Os dados foram digitados duplamente no Excel em planilha eletrônica e, após validação, foram exportados para o software Statistical Package for the Social Sciences 21.0. Para verificar relações entre as variáveis, empregou-se o teste qui-quadrado, sendo considerada significância estatística em valor de p<0,005.

Para a regressão logística, a variável dependente foi o uso do preservativo, avaliada de forma dicotômica (Inconsistente/Consistente). A categoria Consistente foi considerada como nível de referência. Destaca-se que a definição de uso inconsistente do preservativo foi determinada como uso irregular deste (ocasional ou nunca) durante as práticas sexuais (oral, anal ou vaginal)(99 Duff P, Birungi J, Dobrer S, Akello M, Muzaaya G, Shannon K. Social and structural factors increase inconsistent condom use by sex workers’ one-time and regular clients in Northern Uganda. AIDS Care. 2018; 30(6):751-9. doi: http://dx.doi.org/10.1080/09540121.2017
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). As variáveis independentes do estudo utilizadas foram: faixa etária (18 a 24, 25-39, 40-59), cor (branco/amarelo, preto, pardo), escolaridade (≤ 8 anos de estudo e > 8 anos de estudo), estado civil (solteira, casada/viúva, separada), renda (sem rendimento, 1 a 2 salários mínimos, 2 a 3 salários mínimos, 4 a 10 salários mínimos), tipo de prática sexual (vaginal, anal ou mais de 1 tipo), parceiro fixo (sim/não), uso de drogas (sim/não), bebida alcoólica (nunca bebe, consumo leve, consumo moderado, consumo elevado) e local de prostituição (aberto, fechado).

Para a seleção das variáveis independentes, foi utilizado o teste da Razão de Verossimilhanças, a variável com o p-valor mais elevado era removida do modelo e um novo ajuste realizado. A partir do modelo escolhido, foram calculadas as razões de chances Odds Ratio (OR), considerando Intervalo de Confiança de 95%, para cada uma das variáveis presentes no modelo, bem como o cálculo de valores associados ao uso inconsistente de preservativo segundo a combinação das variáveis do modelo. Todas as análises foram realizadas considerando-se o nível de significância de 5% (α=0.05) e através do programa R versão 3.4.3.

O estudo obteve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Piauí, sob o parecer de número 0425.0.045.000-11. Destaca-se que foram atendidos todos os aspectos éticos de pesquisas que envolvem seres humanos.

Resultados

Participaram do estudo 416 TS, sendo a média de idade de 30,4 anos, 366 (88%) tinham baixa escolaridade, 341 eram (82%) solteiras, 174 (41,8%) tinham renda mensal de até dois salários mínimos, 179 (43%) declararam-se brancas, conforme Tabela 1.

Tabela 1
Fatores sociodemográficos associados ao uso consistente e inconsistente do preservativo entre trabalhadoras do sexo. Teresina, PI, Brasil, 2017

Das participantes, 359 (93,5%) relataram prática sexual vaginal e 82 (20%) fizeram uso inconsistente do preservativo, conforme a Tabela 2.

Tabela 2
Fatores relacionados ao comportamento sexual associados ao uso inconsistente do preservativo entre trabalhadoras do sexo. Teresina, PI, Brasil, 2017

As variáveis escolaridade, ≤8 anos de estudo (OR=27,28; IC95%:3,45 - 215,47), não ter parceiro fixo (OR=2,79; IC95%:1,5 - 5,2), uso de álcool elevado (OR= 5,07; IC95%:1,87 - 13,74) e cor da pele preta (OR=2,21; IC95%:1,17 - 4,18) mostraram-se associadas ao uso inconsistente do preservativo masculino (Tabela 3).

Tabela 3
Resultado da análise da regressão logística: variáveis independentes associadas ao uso inconsistente do preservativo masculino em trabalhadoras do sexo. Teresina, PI, Brasil, 2017

Discussão

Neste estudo, foram identificados os principais fatores associados ao uso inconsistente do preservativo entre trabalhadoras do sexo: anos de estudo, não ter parceiro fixo, uso elevado de álcool e cor da pele preta.

As limitações do estudo estão relacionadas às dificuldades de acessar a população de interesse, por conta de suas características de trabalho e dos seus espaços de atuação. Assim, optou-se por adotar a técnica de RDS, o que pode levar a um possível viés de seleção no recrutamento das participantes, pois trabalhadoras do sexo que estão distantes da rede de contatos das recrutadas tendem a não fazer parte da amostra.

É de vital importância que estudos futuros superem tais limitações, ampliando o recrutamento através de buscas em redes sociais, sites de relacionamento, sites de acompanhantes e aplicativos de geolocalização. Essas são estratégias que podem superar as limitações apontadas.

O uso inconsistente do preservativo entre trabalhadoras do sexo tem sido relatado por pesquisadores brasileiros(2121 Damacena GN, Zwarcwald CL, Souza PRB. HIV risk practices by female sex workers according to workplace. Rev Saúde Pública. 2014; (48)3:428-37. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S0034-8910.2014048004992
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). Nesse sentido, este estudo reflete a necessidade de maior atenção com populações semelhantes e a implementação de intervenções que objetivem incentivos à utilização de métodos preventivos combinados, visto que o uso inconsistente do preservativo, por essa população, é elevado.

Dessa forma, evidências internacionais corroboram as afirmações anteriores: uma revisão sistemática sobre trabalhadoras do sexo da Uganda evidenciou que de 33,3% a 55,1% referiu uso inconsistente de preservativo(2222 Muldoon KA. A systematic review of the clinical and social epidemiological research among sex workers in Uganda. BMC Public Health. [Internet]. 2015 [cited Aug 13, 2019]; (15)1:1226. Avaliable from: https://bmcpublichealth.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12889-015-2553-0
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).

Além disso, outros estudos internacionais relataram taxas mais elevadas: 34,5% na Ucrânia e 76,8% na Uganda(99 Duff P, Birungi J, Dobrer S, Akello M, Muzaaya G, Shannon K. Social and structural factors increase inconsistent condom use by sex workers’ one-time and regular clients in Northern Uganda. AIDS Care. 2018; 30(6):751-9. doi: http://dx.doi.org/10.1080/09540121.2017
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,2323 Iakunchykova P; Burlaka V. Correlates of HIV and inconsistent condom use among -female sex workers in Ukraine. AIDS Behav. 2017; 21(8):2306-15. doi: http://dx.doi.org/10.1007/s10461-016-1495-6
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). O uso inconsistente do preservativo entre mulheres que atuam em trabalho sexual mostra-se como um dado preocupante. Intervenções como educação em saúde devem ser implementadas a fim de se expor informações sobre os benefícios do uso do preservativo, bem como fornecer orientações sobre formas corretas de uso contribuindo para o incentivo à adesão regular ao preservativo.

Em relação aos fatores associados ao uso inconsistente, identificou-se que os anos de estudo da população investigada têm se mostrado semelhantes em pesquisas nacionais, sendo inferiores a 8 anos de estudo. Uma pesquisa realizada na região central do Brasil mostrou que 54,5% das trabalhadoras do sexo possuíam de 5 a 9 anos de estudo(55 Caetano KAA, França DDDS, Carneiro MADS, Martins RMB, Stefani MMDA, Kerr LRFS, et al. Prevalence and virologic profile of HIV infections among female sex workers in Goiania City, central Brazil. AIDS Patient Care STDS. 2013; 27(1):1-4. doi: http://dx.doi.org/10.1089/apc.2012.0268
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).

Nesse cenário, evidências indicam que o uso do preservativo está associado aos níveis de escolaridade. O uso inconsistente foi associado à baixa escolaridade entre pessoas acompanhadas na atenção primária da África do Sul(2424 Matseke G, Peltzer K, Louw J, Naidoo P, Mchunu G, Tutshana B. Inconsistent condom use among public primary care patients with tuberculosis in South Africa. Sci World J. 2012; 2012: 1-6. doi: http://dx.doi.org/10.1100/2012/501807
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). Além disso, existe forte associação documentada entre a baixa escolaridade e as relações sexuais desprotegidas(2525 Newman PA, Chakrapani V, Cook C, Shunmugam M, Kakinami L. Determinants of sexual risk behavior among men who have sex with men accessing public sex environments in Chennai, India. J LGBT Health Res. [Internet]. 2008 [cited Aug 13, 2019]; 4(2-3): 81-7. Avaliable from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19856741
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/1985...
).

Assim, os baixos níveis de escolaridade e o uso inconsistente do preservativo implicam em risco de exposição ao HIV. Resultado semelhante foi observado em um estudo com homens que fazem sexo com homens, na China(2626 Zhang X, Jia M, Chen M, Luo H, Chen H, Luo W, et al. Prevalence and the associated risk factors of HIV, STIs and HBV among men who have sex with men in Kunming, China. Int J STD AIDS. 2017; 28(11):1115-23. doi: http://dx.doi.org/10.1177/0956462416688818
http://dx.doi.org/10.1177/09564624166888...
). Ademais, mulheres com Ensino Superior tiveram menor probabilidade de risco para infecção(2727 Mabaso M, Sokhela Z, Mohlabane N, Chibi B, Zuma K, Simbayi L. Determinants of HIV infection among adolescent girls and young women aged 15-24 years in South Africa: a 2012 population-based national household survey. BMC Public Health. 2018; 18(1):183. doi: http://dx.doi.org/10.1186/s12889-018-5051-3
http://dx.doi.org/10.1186/s12889-018-505...
).

Existe a necessidade de estudos brasileiros de intervenção sobre essa problemática. Há evidências disponíveis sobre a eficácia de intervenções comportamentais que geram resultados positivos para adesão ao uso consistente do preservativo entre trabalhadoras do sexo(1717 Okafor UO, Crutzen R, Aduak Y, Adebajo S; Van BHW. Behavioural interventions promoting condom use among female sex workers in sub-Saharan Africa: a systematic review. Afr J AIDS Res. 2017; 16(3):257-68. http://dx.doi.org/10.2989/16085906.2017.1358753
http://dx.doi.org/10.2989/16085906.2017....
).

Nessa perspectiva, o acesso equânime à educação mostra-se necessário tanto para mulheres trabalhadoras do sexo, quanto para outras populações vulneráveis ao HIV, visto que a prevenção adequada envolve múltiplos fatores, incluindo a necessidade de acesso à informação sobre estratégias preventivas das IST/HIV, compreensão e sua incorporação nos seus repertórios de prevenção e cuidado.

Outras variáveis também foram associadas ao uso inconsistente: não ter parceiro fixo, consumo elevado de álcool e cor da pele preta. Resultado semelhante foi observado entre trabalhadoras do sexo da Uganda com clientes regulares(99 Duff P, Birungi J, Dobrer S, Akello M, Muzaaya G, Shannon K. Social and structural factors increase inconsistent condom use by sex workers’ one-time and regular clients in Northern Uganda. AIDS Care. 2018; 30(6):751-9. doi: http://dx.doi.org/10.1080/09540121.2017
http://dx.doi.org/10.1080/09540121.2017...
). Infere-se que mulheres trabalhadoras do sexo que têm parceiro sexual fixo apresentam maior motivação para protegerem-se e assim proteger também seus parceiros. Quanto ao uso de bebidas alcoólicas, estudos realizados na Ucrânia e Uganda corroboram os achados desta pesquisa(99 Duff P, Birungi J, Dobrer S, Akello M, Muzaaya G, Shannon K. Social and structural factors increase inconsistent condom use by sex workers’ one-time and regular clients in Northern Uganda. AIDS Care. 2018; 30(6):751-9. doi: http://dx.doi.org/10.1080/09540121.2017
http://dx.doi.org/10.1080/09540121.2017...
,2323 Iakunchykova P; Burlaka V. Correlates of HIV and inconsistent condom use among -female sex workers in Ukraine. AIDS Behav. 2017; 21(8):2306-15. doi: http://dx.doi.org/10.1007/s10461-016-1495-6
http://dx.doi.org/10.1007/s10461-016-149...
).

Sabe-se que o consumo de álcool entre trabalhadoras do sexo facilita o risco de infecção do HIV, especialmente quando o uso ocorre durante a interação sexual com clientes(2828 Leddy AM, Kerrigan D, Kennedy CE, Mbwambo J, Likindikoki S, Underwood CR. ‘You already drank my beer, I can decide anything’: using structuration theory to explore the dynamics of alcohol use, gender-based violence and HIV risk among female sex workers in Tanzania. Cult. Health Sex. 2018; 16:1-15. doi: http://dx.doi.org/10.1080/13691058.2018.1438667
http://dx.doi.org/10.1080/13691058.2018....
). O consumo de álcool faz parte do convívio social das mais diversas populações no mundo e insere-se em ambientes de confraternização(2929 Ennett ST, Jackson C, Cole VT, Haws S, Foshee VA, Reyes HL, et al. A multidimensional model of mothers’ perceptions of parent alcohol socialization and adolescent alcohol misuse. Psychol Addict Behav. 2016; 30(1):18-28. doi: https://dx.doi.org/10.1037/adb0000119
https://dx.doi.org/10.1037/adb0000119...
). Entretanto, o consumo elevado pode afetar o estado de saúde(3030 Stockings E, Hall WD, Lynskey M, Morley KI, Reavley N, Strang J, et al. Prevention, early intervention, harm reduction, and treatment of substance use in young people. Indian J Psychiatry. 2017; 59(1):111-8. doi: https://dx.doi.org/10.4103/0019-5545.204444
https://dx.doi.org/10.4103/0019-5545.204...
) e, no contexto do trabalho sexual, ser um aspecto importante de vulnerabilidade ao HIV e outras condições de saúde.

De fato, o uso do álcool tem sido descrito como um fator que, além de interferir no estado geral de saúde, tem impacto no aumento de casos de HIV. Evidências apontam que o consumo de álcool apresenta reflexos na carga de doenças e na mortalidade, em diversos países da África, tendo impacto direto na incidência e no curso do HIV/aids(3131 Ferreira-Borges C, Rehm J, Dias S, Babor T, Parry CD. The impact of alcohol consumption on African people in 2012: an analysis of burden of disease. Trop Med Int Health. 2016 ; 21(1):52-60. doi: https://dx.doi.org/10.1111/tmi.12618
https://dx.doi.org/10.1111/tmi.12618...
-3232 Magno L, Castellanos MEP. Meanings and vulnerability to HIV/AIDS among long-distance truck drivers in Brazil. Rev Saúde Pública 2016; 50(76):1-9. doi: http://dx.doi.org/10.1590/s1518-8787.2016050006185
http://dx.doi.org/10.1590/s1518-8787.201...
). Pode ainda interferir no controle cognitivo e diminuir a percepção de vulnerabilidade, contribuindo para maior exposição ao HIV(3333 Rehm J, Shield KD, Joharchi N, Shuper PA. Alcohol consumption and the intention to engage in unprotected sex: systematic review and meta-analysis of experimental studies. Addiction. 2012; 107(1):51-9. doi: https://dx.doi.org/10.1111/j.1360-0443.2011.03621.x
https://dx.doi.org/10.1111/j.1360-0443.2...
).

Conclusão

Este estudo contribui para o conhecimento sobre o uso do preservativo, por trabalhadoras do sexo, indicando que houve uso irregular do mesmo. Assim, os resultados evidenciaram os fatores associados ao uso inconsistente do preservativo masculino, sendo eles: ter menos que 8 anos de estudo;não ter parceiro fixo; uso elevado de álcool e cor da pele preta.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Dez 2019
  • Data do Fascículo
    2019

Histórico

  • Recebido
    29 Nov 2018
  • Aceito
    07 Set 2019
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