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Acidentes de trabalho em crianças e jovens em ambiente rural no Sul do Brasil

Resumos

Objetivo:

conhecer a prevalência de acidentes de trabalho em crianças e jovens que trabalham com a família no ambiente rural e identificar os fatores associados.

Método:

estudo exploratório, descritivo e analítico, com abordagem quantitativa, desenvolvido em três ambientes rurais. Participaram 211 crianças e jovens que auxiliavam a família no trabalho rural. A coleta de dados foi realizada por meio de questionário semiestruturado. A análise bivariada foi realizada utilizando-se os testes qui-quadrado de Pearson, exato de Fisher, t de Student e Mann-Whitney e análise multivariada, por meio da regressão de Poisson.

Resultados:

a prevalência de acidentes de trabalho autorreferidos foi de 55%. Destacaram-se: picadas de insetos (44%), queimaduras (40,5%), quedas no ambiente de trabalho (27,6%), lesão com instrumento de trabalho (16,4%), choque elétrico (15,5%), queimadura por animais (8,6%), mordida de animais (6,9%) e intoxicação por uso de agrotóxicos (2,6%). Esses relacionaram-se com moradia mista, atividade de lazer - andar de motocicleta, produto resultante do cultivo de alface e uso de equipamentos de proteção individual.

Conclusão:

acredita-se que esses achados possam incrementar o desenvolvimento de políticas públicas direcionadas à manutenção da saúde dessas crianças e jovens, ao controle das condições de trabalho e à redução dos riscos ocupacionais no ambiente rural.

Descritores:
Acidentes de Trabalho; Criança; Adolescente; Família; População Rural; Enfermagem


Objective:

to know the prevalence of occupational accidents in children and youth who work with their families in the rural environment and to identify the associated factors.

Method:

exploratory, descriptive and analytical study with quantitative approach, developed in three rural areas. Participants were 211 children and young people who assisted the family in rural work. Data collection was performed using a semi-structured questionnaire. Bivariate analysis was performed using Pearson’s chi-square, Fisher’s exact, Student’s t and Mann-Whitney tests and multivariate analysis using Poisson regression.

Results:

the prevalence of self-reported occupational accidents was 55%. It was highlighted: insect bites (44%), burns (40.5%), falls (27.6%), injury with a working tool (16.4%), electric shock (15.5 %), burn by animal (8.6%), animal bite (6.9%) and pesticide poisoning (2.6%). These were related to shared housing, leisure activity - riding a motorcycle, product resulting from lettuce cultivation and use of personal protective equipment.

Conclusion:

it is believed that these findings may enhance the development of public policies aimed at preserving the health of these children and young people, regulate working conditions and reduce occupational risks in the rural environment.

Descriptors:
Accidents, Occupational; Child; Adolescent; Family; Rural Population; Nursing


Objetivo:

conocer la prevalencia de accidentes de trabajo en niños y jóvenes que trabajan con la familia en ambiente rural e identificar los factores asociados.

Método:

estudio exploratorio, descriptivo y analítico, con abordaje cuantitativo, desarrollado en tres ambientes rurales. Participaron 211 niños y jóvenes que auxiliaban a la familia en el trabajo rural. La recolección de datos fue realizada por medio de cuestionario semiestructurado. El análisis bivariado fue realizado utilizando las pruebas: Chi-cuadrado de Pearson, exacta de Fisher, t de Student y Mann-Whitney y el análisis multivariado, por medio de la regresión de Poisson.

Resultados:

la prevalencia de accidentes de trabajo auto relatados fue de 55%. Se destacaron: picadas de insectos (44%), quemaduras (40,5%), caídas en el ambiente de trabajo (27,6%), lesión con instrumento de trabajo (16,4%), choque eléctrico (15,5%), quemadura por animales (8,6%), mordida de animales (6,9%) e intoxicación por uso de pesticidas (2,6%). Esos se relacionaron con vivienda mixta, actividad de ocio (andar de motocicleta), cultivo de lechuga y uso de equipamientos de protección individual.

Conclusión:

se piensa que esos hallazgos podrían incrementar el desarrollo de políticas públicas dirigidas a la manutención de la salud de esos niños y jóvenes, al control de las condiciones de trabajo y a la reducción de los riesgos ocupacionales en el ambiente rural.

Descriptores:
Accidentes de Trabajo; Niño; Adolescente; Familia; Población Rural; Enfermería


Introdução

Os indivíduos que vivem em ambientes rurais estão expostos às vulnerabilidades socioeconômicas que os obrigam, desde muito cedo, a desenvolverem atividades laborais voltadas à subsistência. Muitas vezes, essas atividades são realizadas no seio familiar e envolvem o auxílio de crianças e jovens(11 Nilsson K. Parents attitudes to risk and injury to children and young people on farms. PLoS One. 2016 Jun 30;11(6):1-15. doi: 10.1371/journal.pone.0158368.
https://doi.org/10.1371/journal.pone.015...
). Nesse contexto, esses geralmente atuam na agricultura, pesca e agropecuária de subsistência, executando tarefas como preparo do solo, plantio de culturas, colheita, carregamento de produtos, preparo de redes de pesca e criação de bovinos, equinos e ovinos(22 International Labour Organization. Rights at work in the rural economy. Geneva: International Labour Organization; 2017. Available from: https://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---ed_emp/---emp_policy/documents/publication/wcms_437200.pdf
https://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public...
). Cabe destacar que a inserção dessas crianças e jovens no trabalho rural pode ser positiva para seu desenvolvimento cívico, bem como para a economia familiar, desde que não repercuta, negativamente, sobre a saúde e/ou escolaridade(33 Ibrahim A, Abdalla SM, Jafer M, Abdelgadir J, Vries N. Child labor and health: a systematic literature review of the impacts of child labor on child’s health in low- and middle-income countries. J Public Health. 2018 Feb 2;1(1):1-9. doi: 10.1093/pubmed/fdy018.
https://doi.org/10.1093/pubmed/fdy018...
).

Ao desempenharem suas atividades de auxílio aos familiares no trabalho rural, muitas vezes, as crianças e jovens utilizam e/ou ficam expostos a rios, mares e lagoas profundas, animais, produtos químicos, maquinários e ferramentas perigosas, levantamento de cargas pesadas e transporte de produtos, por meio de veículos automotores, como tratores e caminhões. A isso somam-se os longos períodos de tempo nessas tarefas, que exigem atenção e força muscular, ritmo acelerado de produção, permanência em posições corporais incômodas e diferentes condições climáticas que enfrentam, como as temperaturas extremas e as tempestades que os colocam em riscos de acidentes no decorrer do labor(22 International Labour Organization. Rights at work in the rural economy. Geneva: International Labour Organization; 2017. Available from: https://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---ed_emp/---emp_policy/documents/publication/wcms_437200.pdf
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,44 Wright S, Marlenga B, Lee B. Childhood Agricultural Injuries: An update for clinicians. Curr Probl Pediatr Adolesc Health Care. 2013 Feb 4; 43(1):20-44. doi: 10.1016/j.cppeds.2012.08.002.
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-55 Bhattarai D, Singh SB, Baral D, Sah RB, Budhathoki SS, Pokharel PK. Work-related injuries among farmers: a cross-sectional study from rural Nepal. J Occup Med Toxicol. 2016 Jun 11;11(1):1-7. doi: 10.1186/s12995-016-0137-2.
https://doi.org/10.1186/s12995-016-0137-...
).

As evidências nacionais e internacionais apontam que os acidentes no trabalho rural, especialmente nas subcategorias agricultura e pesca, representam importante causa de acidentes e mortalidade em crianças e jovens de ambos os sexos, com idade entre 10 e 24 anos(66 Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador. Centro Colaborador em Vigilância aos Agravos à Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde. Coordenação Geral em Saúde do Trabalhador. Boletim epidemiológico sobre acidentes de trabalho fatais em crianças e jovens de 10 a 24 anos no Brasil, 2000 - 2014. Salvador (BA): Universidade Federal da Bahia, Instituto de Saúde Coletiva, Programa Integrado em Saúde Ambiental e do Trabalhador/PISAT; 2017 [Acesso 25 out 2018]. Disponível em: http://renastonline.ensp.fiocruz.br/sites/default/files/arquivos/recursos/boletim-epidemiologico-criancas-adolecentes.pdf
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). Destacam-se os afogamentos, as colisões no trânsito, queimaduras, quedas, contusões, fraturas, lesões transfixantes e esmagamentos como eventos comuns, decorrentes da desatenção durante o trabalho, devido ao esgotamento físico e mental, ocasionado por tarefas complexas e perigosas para essa faixa etária(11 Nilsson K. Parents attitudes to risk and injury to children and young people on farms. PLoS One. 2016 Jun 30;11(6):1-15. doi: 10.1371/journal.pone.0158368.
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,44 Wright S, Marlenga B, Lee B. Childhood Agricultural Injuries: An update for clinicians. Curr Probl Pediatr Adolesc Health Care. 2013 Feb 4; 43(1):20-44. doi: 10.1016/j.cppeds.2012.08.002.
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,66 Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador. Centro Colaborador em Vigilância aos Agravos à Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde. Coordenação Geral em Saúde do Trabalhador. Boletim epidemiológico sobre acidentes de trabalho fatais em crianças e jovens de 10 a 24 anos no Brasil, 2000 - 2014. Salvador (BA): Universidade Federal da Bahia, Instituto de Saúde Coletiva, Programa Integrado em Saúde Ambiental e do Trabalhador/PISAT; 2017 [Acesso 25 out 2018]. Disponível em: http://renastonline.ensp.fiocruz.br/sites/default/files/arquivos/recursos/boletim-epidemiologico-criancas-adolecentes.pdf
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7 Rathje C, Venegas A, Helmer SD, Drake RM, Ward JG, Haan JM. Kans J Med. [Internet]. 2017 Nov 30 [cited Oct 20, 2018];10(4):92-5. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5733402/pdf/kjm-10-4-92.pdf
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/article...
-88 Wilkinson A, Pettifor A, Rosenberg M, Halpern C, Thirumurthy H, Collinson MA, et al. The employment environment for youth in rural South Africa: A mixed-methods study. Dev South Afr. 2017 Jan 5; 34(1):17-32. doi:10.1080/0376835X.2016.1259986.
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).

Percebe-se que, embora a inserção de crianças e jovens em atividades de agricultura, pesca e agropecuária, em comunidades familiares rurais, seja vantajosa do ponto de vista da subsistência, pode representar um obstáculo para seu desenvolvimento biopsicossocial. Ainda, pode ser prejudicial para a saúde e segurança desses indivíduos, visto que muitas vezes desconhecem os riscos aos quais estão expostos e assumem atividades além de suas capacidades físicas e mentais, o que favorece a ocorrência de acidentes de trabalho(11 Nilsson K. Parents attitudes to risk and injury to children and young people on farms. PLoS One. 2016 Jun 30;11(6):1-15. doi: 10.1371/journal.pone.0158368.
https://doi.org/10.1371/journal.pone.015...
-22 International Labour Organization. Rights at work in the rural economy. Geneva: International Labour Organization; 2017. Available from: https://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---ed_emp/---emp_policy/documents/publication/wcms_437200.pdf
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).

Nessa perspectiva, fazem-se necessárias alternativas que retirem essas crianças e jovens da vulnerabilidade e dos riscos em que se encontram. A literatura internacional enfatiza que o investimento de políticas públicas, voltadas ao acesso à educação em comunidades rurais, tem potencial para gerar benefícios econômicos a esses indivíduos e às finanças públicas. Além disso, o ensino de qualidade pode findar com o ciclo vicioso de pobreza característico da economia rural(22 International Labour Organization. Rights at work in the rural economy. Geneva: International Labour Organization; 2017. Available from: https://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---ed_emp/---emp_policy/documents/publication/wcms_437200.pdf
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).

Ademais, crianças e jovens que vivem e trabalham nas áreas rurais necessitam constituir prioridade nas ações de saúde. Considera-se o enfermeiro o profissional que atua diretamente com os indivíduos no âmbito da saúde coletiva, predominantemente na atenção primária em saúde. Nesse sentido, torna-se essencial sua colaboração com a prestação de cuidados às crianças e aos jovens expostos aos riscos do trabalho em seus processos produtivos, concomitante com a produção de conhecimentos científicos e empíricos que embasem políticas públicas, com foco na proteção, vigilância, promoção da saúde e prevenção de agravos a esse público. Assim, investigar a relação saúde-processo de trabalho, no foco dos acidentes ocupacionais em ambientes rurais, representa importante contribuição na área da saúde coletiva e da enfermagem do trabalho.

Diante do exposto, a questão norteadora deste estudo foi: quais os acidentes de trabalho que acometem crianças e jovens que trabalham com a família no ambiente rural e quais os fatores associados mais frequentes? A partir dessa questão, objetiva-se conhecer a prevalência de acidentes de trabalho em crianças e jovens que trabalham com a família no ambiente rural e identificar os fatores associados.

Método

Trata-se de estudo exploratório, descritivo e analítico, com abordagem quantitativa. Foi desenvolvido em três ambientes rurais, no Sul do Brasil. Os participantes foram 211 crianças e jovens expostos aos riscos e aos acidentes de trabalho nos referidos locais, no período da realização do estudo.

Devido a não existência de registros do número total de crianças e jovens trabalhadores em zonas rurais em fontes oficiais, órgãos estaduais e municipais, realizou-se uma estimativa a partir da utilização do percentual da população, segundo os grupos de idade (10-14 que equivale a 4,4%, 15-17 que equivale a 4,5% e 18-24 que equivale a 4,5%), conforme distribuição descrita no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística(99 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [Internet]. O histórico de Rio Grande. 2014 [Acesso 30 out 2018]. Disponível em: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/dtbs/riograndedosul/riogrande.pdf 2014
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). A partir desse critério, aplicaram-se os referidos percentuais da população geral sobre o total de habitantes de cada ambiente rural, ou seja, no primeiro (1.800 habitantes), no segundo (1.200 habitantes) e no terceiro (400 habitantes). Desse total de 3.400 habitantes, 456 corresponderam à faixa etária pesquisada. Na sequência, calculou-se o número total da amostra, por meio da ferramenta Stat Calc do programa Epi Info 6.04, com nível de confiança de 95%, que resultou no número mínimo de 209 crianças e jovens de 10 a 24 anos. No entanto, conseguiu-se atingir um total de 211 participantes.

A seleção da amostra teve como base os seguintes critérios de inclusão: ser residente em áreas rurais do município incluído na pesquisa, ter idade mínima de 10 e máxima de 24 anos e trabalhar com a família no ambiente rural, com ou sem remuneração periódica. Essa faixa etária foi estabelecida de acordo com o boletim epidemiológico, desenvolvido pelo Programa Integrado em Saúde Ambiental e do Trabalhador (Pisat), em parceria com o Centro Colaborador em Vigilância aos Agravos à Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde, que evidenciou elevados índices de casos de acidentes de trabalho e mortalidade em crianças e jovens nesse intervalo etático(66 Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador. Centro Colaborador em Vigilância aos Agravos à Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde. Coordenação Geral em Saúde do Trabalhador. Boletim epidemiológico sobre acidentes de trabalho fatais em crianças e jovens de 10 a 24 anos no Brasil, 2000 - 2014. Salvador (BA): Universidade Federal da Bahia, Instituto de Saúde Coletiva, Programa Integrado em Saúde Ambiental e do Trabalhador/PISAT; 2017 [Acesso 25 out 2018]. Disponível em: http://renastonline.ensp.fiocruz.br/sites/default/files/arquivos/recursos/boletim-epidemiologico-criancas-adolecentes.pdf
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).

A coleta de dados foi realizada pela pesquisadora principal, no domicílio de cada participante, mediante agendamento prévio, no período de janeiro a março de 2018. Aplicou-se um questionário semiestruturado, contendo caracterização sociodemográfica dos participantes (idade, sexo, cor da pele, estado civil, nível de escolaridade, tipo de moradia quanto à constituição e à propriedade e renda familiar), do ambiente de trabalho rural (trabalho que desenvolve, atividades de trabalho, principais produtos resultantes da atividade de trabalho, tempo de atuação, horas de trabalho diário, atividades de lazer, horas de lazer), da utilização de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) e motivos de não utilizá-los (máscara com respirador, jaleco e calça hidrorrepelentes, viseira facial, boné árabe, botas de borracha, luvas impermeáveis, capacete, máscara, chapéu de aba, protetores auriculares e solar) e da ocorrência e motivos de acidentes de trabalho. Esse questionário foi construído com base em referência prévia utilizada em estudos anteriores do Laboratório de Estudos Socioambientais e Produção Coletiva de Saúde (Lamsa)(1010 Cezar-Vaz MR, Bonow CA, Borges AM, Almeida MCV, Rocha LP, Severo LO. Dermatological alterations in women working on dairy farm: a case study. Cienc Rural. 2013 Sep 1;43(1):1623-8. doi: 10.1590/S0103-84782013000900014.
https://doi.org/10.1590/S0103-8478201300...
-1111 Cezar-Vaz MR, Bonow CA, Silva MRS. Mental and physical symptoms of female rural workers: relation between household and rural work. Int J Environ Res Public Health. 2015 Sep 7;12(2):11037-49. doi: 10.3390/ijerph120911037.
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).

Foi realizado teste-piloto com dez crianças e jovens em um ambiente rural, no período anterior à coleta dos dados, a fim de confirmar a validade do instrumento, ou seja, identificar a necessidade de modificações semânticas nos questionamentos e verificar se o desenho de pesquisa possibilitaria o alcance dos objetivos propostos. Em virtude de não haver necessidade de ajustes em relação as nomenclaturas, como também no detalhamento e clareza das questões, as respostas dos questionários foram incluídas no estudo.

Os dados coletados foram digitados no software Epi Info, versão 6.04, com dupla digitação, para refinamento dos mesmos. Para análise estatística descritiva, os dados foram transportados para o software Statistical Package for the Social Science (SPSS), versão 21.0.

As variáveis quantitativas foram descritas por média e desvio-padrão ou mediana e amplitude interquartílica. O teste t de Student, para amostras independentes, foi utilizado para comparar as médias entre crianças e jovens que sofreram acidentes de trabalho e aos que não sofreram, o que possibilitou a categorização binária desse desfecho e posterior associação com as demais variáveis descritas anteriormente. Para avaliar a simetria, empregou-se o teste de Shapiro-Wilk, em conjunto com a magnitude do desvio-padrão. Em caso de assimetria, o teste de Mann-Whitney foi utilizado.

As variáveis categóricas foram descritas por frequências absolutas e relativas. Na comparação de proporções, os testes qui-quadrado de Pearson ou exato de Fisher foram utilizados. Para controle de fatores confundidores, a análise multivariada de regressão de Poisson foi empregada. O critério para a entrada da variável no modelo foi p<0,20 na análise bivariada e o critério para a permanência da mesma no modelo foi de que apresentasse um valor p<0,10 no modelo final. O nível de significância adotado foi de 5% (p≤0,05).

Foram respeitados os princípios éticos, conforme a Resolução 466, de 12 de dezembro de 2012, sobre pesquisas envolvendo seres humanos(1212 Conselho Nacional de Saúde (BR). Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012. Diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Brasília; 2012 [Acesso 1 nov 2018]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/cns/2013/res0466_12_12_2012.html.
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis...
). O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), sob Parecer nº 113/2017. Foi entregue aos participantes um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), no qual se prestam esclarecimentos quanto ao estudo, convidando-os, explicando os objetivos e a metodologia proposta e solicitando o seu consentimento para participar da pesquisa, quando maiores de 18 anos. Para idades inferiores, o TCLE foi assinado pela díade criança ou jovem e seu responsável legal, assegurando o respeito aos aspectos éticos envolvidos na pesquisa, como o direito à privacidade e o anonimato dos participantes.

Resultados

A amostra do presente estudo foi composta de 211 crianças e jovens. No que concerne aos seus dados sociodemográficos, 118 (55,9%) eram do sexo feminino, 190 (93%) solteiros, 150 (75,6%) da cor branca e 115 (54,5%) possuíam o ensino fundamental incompleto. A idade dos participantes variou de 10 a 24 anos, com média de 15 anos. Com relação à caracterização do trabalho, eles auxiliavam a família, principalmente em atividades alusivas à agricultura e pesca, com jornadas diárias de quatro horas e tempo médio de atuação de três anos.

Do total de participantes, 116 (55%) autorreferiram algum tipo de acidente de trabalho. Destacaram-se: picadas de insetos (44%) como abelha (11,8%) e mosquito (11,4%), queimaduras (40,5%), quedas no ambiente de trabalho (27,6%), lesão com instrumento de trabalho (16,4%), choque elétrico (15,5%), queimadura por animais (8,6%), mordida de animais (6,9%) e intoxicação por uso de agrotóxicos (2,6%).

Entre as causas referidas pelas crianças e jovens para ocorrência de acidentes de trabalho, verificou-se: falta de atenção no trabalho (93,7%), falta de conhecimento técnico (5,2%), falta de equipamento de proteção no trabalho (3,4%), sobrecarga de trabalho (1,7%) e excesso de atividades paralelas (0,9%). Devido a menor parte de crianças e jovens (95; 45%) não referir acidentes de trabalho, esse desfecho foi qualificado na referência do próprio participante ao expressar o acidente de trabalho da seguinte forma: com acidente de trabalho ou sem acidente de trabalho. Após a categorização binária do desfecho, o mesmo foi associado com as demais variáveis em estudo, as quais são apresentadas na Tabela 1.

Tabela 1
Associação das variáveis sociodemográficas em estudo com os acidentes de trabalho (n=211). Região Sul, Brasil, 2018

Na análise bivariada dos dados sociodemográficos e das condições do ambiente de trabalho de crianças e jovens, verificou-se que as variáveis (idade, sexo, cor da pele, estado civil, renda familiar, tipo de moradia quanto à constituição, tipo de moradia quanto à propriedade) não apresentaram significância estatística (p>0,05) com acidentes de trabalho (Tabela 1).

Em contraponto, no que se refere à condição sociodemográfica escolaridade (p=0,001) (Tabela 1), atividades de lazer, como andar de motocicleta (p=0,034) e ouvir música (p=0,002) (Tabela 2), peixe/camarão como produto resultante da atividade de trabalho (p=0,039), horas de trabalho diárias (p=0,010) (Tabela 3) e utilização de EPI (p<0,001), especialmente botas, luvas impermeáveis, chapéu de palha e protetor solar (Tabela 4), verificou-se significância estatística com acidentes de trabalho de crianças e jovens no ambiente rural. Assim, esses que sofreram acidentes de trabalho possuíam menor escolaridade, andavam mais de motocicleta, ouviam menos música, trabalhavam na agricultura, tinham peixe/camarão como produto resultante do trabalho, maior carga horária diária e utilizavam botas, luvas impermeáveis, chapéu de palha e protetor solar, como EPI.

Tabela 2
Associação das variáveis atividades de lazer em estudo com acidentes de trabalho (n=211). Região Sul, Brasil, 2018
Tabela 3
Associação das variáveis atividades que desenvolve no trabalho, principais produtos resultantes do trabalho e tempo em estudo com acidentes de trabalho (n=211). Região Sul, Brasil, 2018
Tabela 4
Associação das variáveis equipamentos de proteção individual em estudo com acidentes de trabalho (n=211). Região Sul, Brasil, 2018

Para controle de fatores confundidores, as variáveis que apresentaram valor de p<0,20, na análise bivariada foram inseridas em um modelo multivariado de regressão de Poisson. Permaneceram no modelo final apenas as variáveis com valor p<0,10. Após o ajuste, mantiveram-se associadas estatisticamente com a ocorrência de acidentes de trabalho: tipo de moradia quanto à constituição (p=0,047), atividades de lazer, como andar de motocicleta e tomar banho na lagoa (p=0,001 e p=0,006, respectivamente), alface como produto resultante da atividade de trabalho (p<0,001), utilização de EPI (p=0,015) e anos de escolaridade (p=0,029) (Tabela 5).

Tabela 5
Fatores independentemente associados* * Regressão de Poisson; com a ocorrência de acidentes de trabalho em crianças e jovens. Região Sul, Brasil, 2018

Ademais, por meio da regressão de Poisson, verificou-se que crianças e jovens que moravam em residência mista (madeira e alvenaria) apresentaram probabilidade 29% maior de ter acidentes de trabalho (RP=1,29; IC 95%: 1,00-1,66), quando comparados com os que moravam em residência de alvenaria. Além disso, daqueles que andavam de motocicleta mostrou-se aumento na prevalência de acidentes laborais em 69% (RP=1,69; IC 95%: 1,24-2,30). Por outro lado, os que ouviam música tiveram redução na prevalência desses eventos em 51% (RP=0,27; IC 95%: 0,07-1,02) (Tabela 5).

Outrossim, crianças e jovens que tinham alface como produto resultante das atividades de trabalho possuíam aumento na probabilidade de acidentes laborais em 86% (RP=1,86; IC 95%: 1,34-2,59), sendo o uso de EPI relacionado ao aumento da ocorrência desses eventos em 46% (RP=1,46; IC 95%: 1,08-1,97). Por fim, para o aumento de um ano de estudo, houve redução na prevalência dos mesmos em 5% (RP=0,95; IC 95%: 0,91-0,99).

Discussão

Os resultados mostraram que dos 211 entrevistados (crianças e jovens), 116 (55%) foram acometidos por acidentes ao auxiliarem seus familiares no trabalho rural. Em consonância, em estudo realizado no Canadá(1313 Burrows S, Auger N, Gamache P, Hamel D. Leading causes of unintentional injury and suicide mortality in canadian adults across the urban-rural continuum. Public Health Rep. 2013 Dec 1;128(6):443-53. doi: 10.1177/003335491312800604.
https://doi.org/10.1177/0033354913128006...
) identificou-se alta incidência de acidentes de trabalho nessa mesma população, com taxas anuais de 15,8%. Maior proporção desses eventos foi relatada em países de baixa renda, como verificado em estudos indiano(1414 Mathur A, Mehra L, Diwan V, Pathak A. Unintentional childhood injuries in urban and rural Ujjain, India: a community-based survey. Children. 2018 Feb 8;5(2):1-10. doi: 10.3390/children5020023.
https://doi.org/10.3390/children5020023...
), chinês(1515 Ma S, Jiang M, Wang F, Lu J, Li L, Hesketh T. Left-Behind Children and Risk of Unintentional Injury in Rural China-A Cross-Sectional Survey. Int J Environ Res Public Health. 2019 Jan 31;16(3):403. doi:10.3390/ijerph16030403.
https://doi.org/10.3390/ijerph16030403...
) e iraniano(1616 Lak R, Hajari A, Naderi Beni M. Accidents in children under 5 years in isfahan, Iran. Iran J Pediatr. [Internet]. 2014 Mar 1 [cited Nov 3, 2018];24(3):336. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4276594/pdf/IJPD-24-336.pdf
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/article...
). Esses resultados reforçam os acidentes ocupacionais, nessa faixa etária, como problemas de saúde pública por indicarem agravos que requerem intervenções, a fim de possibilitar a melhoria na qualidade de vida em países desenvolvidos e em desenvolvimento.

Nos estudos indiano(1414 Mathur A, Mehra L, Diwan V, Pathak A. Unintentional childhood injuries in urban and rural Ujjain, India: a community-based survey. Children. 2018 Feb 8;5(2):1-10. doi: 10.3390/children5020023.
https://doi.org/10.3390/children5020023...
), iraniano(1616 Lak R, Hajari A, Naderi Beni M. Accidents in children under 5 years in isfahan, Iran. Iran J Pediatr. [Internet]. 2014 Mar 1 [cited Nov 3, 2018];24(3):336. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4276594/pdf/IJPD-24-336.pdf
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/article...
) e chinês(1717 Li S, Tang Z, Zhang X, Yan L, Wang S, Liu G. et al. Epidemiologic features of child unintentional injury in rural PuCheng, China. J Inj Violence Res. 2013 Jun 1; 5(2):89-94. doi:10.5249/jivr.v5i2.304.
https://doi.org/10.5249/jivr.v5i2.304...
) verificaram-se, como evidências de acidentes de trabalho em crianças e jovens que auxiliavam a família no trabalho rural, eventos com animais, como mordidas de cães e picadas de insetos, seguidos de quedas e queimaduras. Tais achados corroboram o que foi encontrado no presente estudo e ratificam a importância de identificar e atuar sobre suas causas.

No caso desta investigação, a ocorrência de acidentes ocupacionais foi associada à falta de atenção no trabalho (93,7%), o que convergiu para os resultados de pesquisa norte-americana(1818 Summers P, Quandt SA, Spears Johnson CR, Arcury TA. Child Work Safety on the Farms of Local Agricultural Market Producers: Parent and Child Perspectives. J Agromedicine. 2018 Dec 1;23(1):52-59. doi: 10.1080/1059924X.2017.1387635.
https://doi.org/10.1080/1059924X.2017.13...
). Nessa constatou-se que crianças e jovens que ajudavam no trabalho agrícola, com o passar das horas, apresentavam redução na atenção às atividades em desenvolvimento, favorecendo a ocorrência de acidentes de trabalho. Ainda, indicou-se a necessidade de capacitação desses e suas famílias acerca dos riscos a que estão expostos, utilização de EPI, minimização dos fatores de risco à saúde e bem-estar no ambiente de trabalho e monitoramento familiar no desempenho de suas atividades.

Embora neste estudo não se tenha identificado a presença ou ausência do familiar no momento do acidente, outras pesquisas apontaram que dois terços das crianças mortas em acidentes agrícolas eram supervisionadas por um familiar e que, em metade desses eventos, o familiar estava próximo delas ou havia lhes dado instruções exatas e informações antes do ocorrido. Dessa forma, constatou-se que os familiares frequentemente superestimam as habilidades das crianças que, por vezes, realizam tarefas perigosas, como dirigir tratores e veículos automotores, pescar e cuidar de animais - cavalos, vacas e outros -, as quais favorecem acidentes(1818 Summers P, Quandt SA, Spears Johnson CR, Arcury TA. Child Work Safety on the Farms of Local Agricultural Market Producers: Parent and Child Perspectives. J Agromedicine. 2018 Dec 1;23(1):52-59. doi: 10.1080/1059924X.2017.1387635.
https://doi.org/10.1080/1059924X.2017.13...
-1919 Zaidi SHN, Khan Z, Khalique N. Injury pattern in children: a population-based study. Indian J Commun Health. 2013 Mar 1 [cited Mar 16, 2019]; 25(1):45-51. Available from: https://www.researchgate.net/publication/289020926_Injury_pattern_in_children_A_population-based_study
https://www.researchgate.net/publication...
). Achados do presente estudo e os incluídos no diálogo argumentado fortalecem a magnitude de um conjunto de ações organizadas, de forma a atender as necessidades das famílias dessas crianças e jovens. Como estratégia, destaca-se a necessidade de capacitação acerca dos riscos e seu manejo, o que aumenta a habilidade de avaliação do perigo existente e a decisão de evitá-lo.

Verificou-se, também, que os acidentes de trabalho mais frequentes em jovens ocorreram naqueles com idade de 15 anos e entre o sexo feminino (118; 55,9%). Embora sejam variáveis que não tenham apresentado significância estatística, podem configurar fator de risco para essas circunstâncias. Apesar dos participantes do presente estudo, com amostra mínima representativa da população, entende-se que, mesmo estimulados e esclarecidos acerca do que seja acidente laboral, não tenham apreendido, suficientemente, a sua acepção. Em consonância, em achado indiano(1919 Zaidi SHN, Khan Z, Khalique N. Injury pattern in children: a population-based study. Indian J Commun Health. 2013 Mar 1 [cited Mar 16, 2019]; 25(1):45-51. Available from: https://www.researchgate.net/publication/289020926_Injury_pattern_in_children_A_population-based_study
https://www.researchgate.net/publication...
) constatou-se que os acidentes de trabalho em crianças e jovens no ambiente rural ocorreram com maior frequência entre 6 e 15 anos de idade, porém, com predominância do sexo masculino. No entanto, em outro estudo(1313 Burrows S, Auger N, Gamache P, Hamel D. Leading causes of unintentional injury and suicide mortality in canadian adults across the urban-rural continuum. Public Health Rep. 2013 Dec 1;128(6):443-53. doi: 10.1177/003335491312800604.
https://doi.org/10.1177/0033354913128006...
) verificaram-se elevados índices desses acidentes na faixa etária com idade igual ou inferior a dez anos, o que se pode justificar pelas questões culturais, ou seja, pela transmissão intergeracional da tradição familiar do trabalho rural para possuir dificuldades em identificar o que seja um acidente de trabalho.

No que se refere à escolaridade, 72 (62,1%) participantes que sofreram algum acidente ocupacional possuíam ensino fundamental incompleto. Pesquisas realizadas na Carolina do Norte (Estados Unidos da América)(1818 Summers P, Quandt SA, Spears Johnson CR, Arcury TA. Child Work Safety on the Farms of Local Agricultural Market Producers: Parent and Child Perspectives. J Agromedicine. 2018 Dec 1;23(1):52-59. doi: 10.1080/1059924X.2017.1387635.
https://doi.org/10.1080/1059924X.2017.13...
), Brasil(2020 Riquinho DL, Hennington EA. Integrated tobacco production: health, labor, and working conditions of tobacco farmers in Southern Brazil. Cad Saúde Pública. 2016 Dec 22;32(12):1-10. doi: 10.1590/0102-311X00072415.
https://doi.org/10.1590/0102-311X0007241...
), Nepal(2121 Pant PR, Towner E, Pilkington P, Ellis M, Manandhar D. Community perceptions of unintentional child injuries in Makwanpur district of Nepal: a qualitative study. BMC Public Health. 2014 May 20;14(1):1-12. doi:10.1186/1471-2458-14-476.
https://doi.org/10.1186/1471-2458-14-476...
) e Canadá(2222 Elliot V, Cammer A, Pickett W, Marlenga B, Lawson J, Dosman J. et al. Towards a deeper understanding of parenting on farms: a qualitative study. PLoS One. 2018 Sep 6;13(6):1-19. doi:10.1371/journal.pone.0198796.
https://doi.org/10.1371/journal.pone.019...
) ratificaram esse achado ao verificar que crianças e jovens que auxiliavam na agricultura possuíam, em geral, o ensino fundamental incompleto devido à sua priorização ao trabalho e às dificuldades financeiras vivenciadas. Por outro lado, a baixa escolaridade dos participantes pode se relacionar ao fato de auxiliarem os familiares no trabalho rural por longo período de tempo e no turno inverso ao que frequentam a escola, o que pode ocasionar fadiga e consequente evasão escolar.

Em relação às horas diárias de trabalho, o presente estudo mostrou que crianças e jovens que trabalhavam com familiares por extensas jornadas apresentavam maior risco para ocorrência de acidentes. Semelhante constatação foi verificada em investigação inquirida no Peru(2323 Schlick C, Joachin M, Briceño L, Moraga D, Radon K. Occupational injuries among children and adolescents in Cusco Province: a cross-sectional study. BMC Public Health. 2014 Jul 30;14(1):1-8. doi:10.1186/1471-2458-14-766.
https://doi.org/10.1186/1471-2458-14-766...
), cujos dados revelaram que, das 375 crianças e jovens que auxiliavam no trabalho rural, 363 (97%) já haviam sofrido algum tipo de acidente ocupacional e que, desses, 188 (51,2%) trabalhavam mais de oito horas diárias. Sabe-se que jornadas prolongadas levam ao esgotamento físico e mental que, além de contribuir para a ocorrência de acidentes laborais, fazem com que esses indivíduos utilizem seu tempo livre para descansar e repor suas energias para prosseguir o trabalho no dia seguinte, dedicando poucas horas do dia às atividades recreativas.

Constatou-se que os participantes possuíam tempo reduzido para o lazer, o que contribui para a insatisfação pessoal, desmotivação, diminuição da qualidade de vida e, consequentemente, ocorrência de acidentes de trabalho. Nesse sentido, a literatura aponta que jovens que atuam no ambiente rural permanecem muitas horas em seu local de trabalho e, por conta disso, sentem-se sobrecarregados e demasiadamente cansados para dedicar-se às atividades recreativas, intensificando as lesões ocupacionais(2424 Miller ME. Historical background of the child labor regulations: strengths and limitations of the agricultural hazardous occupation’s orders. J Agromedicine. 2012 Apr 10; 17(1):163-85. doi: 10.1080/1059924X.2012.660434.
https://doi.org/10.1080/1059924X.2012.66...
). Contudo, em estudo chinês verificou-se que os indivíduos que conseguem equilibrar horas de trabalho e lazer autorreferem melhores índices de energia vital, motivação para as atividades diárias, melhora nas funções cognitivas e emocionais para gerenciar o estresse e diminuir a incidência de acidentes laborais, quando comparados aos que não têm recreação ou que possuem pouco tempo para diversão(2525 Li Y, Zhang C, Yanhong Y, Cui F, Cai J, Chen Z. et al. Neurological effects of pesticide use among farmers in China. Int J Environ Res Public Health. 2014 Apr 14;11(4):3995-4006. doi: 10.3390/ijerph110403995.
https://doi.org/10.3390/ijerph110403995...
).

Verificou-se, ainda, que os participantes que atuavam na pesca do peixe e/ou camarão apresentaram maior risco para acidentes ocupacionais. Dados semelhantes foram encontrados em pesquisas realizadas no Alasca(2626 Garcia GM, Castro B. Working conditions, occupational injuries, and health among filipino fish processing workers in Dutch Harbor, Alaska. Workplace Health Saf. 2017 May 1; 65(5):219-26. doi: 10.1177/2165079916665396.
https://doi.org/10.1177/2165079916665396...
) e Canadá(2727 Pratt B, Cheesman J, Breslin C, Do MT. Occupational injuries in Canadian youth: an analysis of 22 years of surveillance data collected from the Canadian Hospitals Injury Reporting and Prevention Program. Health Promot Chronic Dis Prev Can. 2016 May 1 [cited Mar 17, 2019];36(5):89-98. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4910461/pdf/36_5_1.pdf
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), quando se comprovou que crianças e jovens que trabalham na coleta de pescados estão sujeitos às lesões decorrentes de queimaduras solares e do manuseio de instrumentos de trabalho, como facas e anzóis e ciguatera (intoxicação alimentar). Esses achados inferem que a interação entre o trabalho e a ocorrência de acidentes e/ou adoecimentos não deve ser negligenciada no planejamento de intervenções de saúde com esse público.

Além disso, no presente estudo, o tipo de moradia mista mostrou probabilidade 29% maior na ocorrência de acidentes de trabalho. Em pesquisa realizada na China(1717 Li S, Tang Z, Zhang X, Yan L, Wang S, Liu G. et al. Epidemiologic features of child unintentional injury in rural PuCheng, China. J Inj Violence Res. 2013 Jun 1; 5(2):89-94. doi:10.5249/jivr.v5i2.304.
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), comprovou-se que a constituição da residência pode aumentar a vulnerabilidade aos acidentes ocupacionais, indo ao encontro dos achados deste estudo, os quais constataram maiores índices dessas ocorrências em crianças e jovens que moravam em casas construídas de alvenaria e madeira, como composição. Não se sabe ao certo como se dá essa relação, no entanto, acredita-se que possa estar associada à baixa disponibilidade de recursos financeiros da família e, como consequência, ao direcionamento desses para melhorias e abastecimento do domicílio em detrimento da aquisição de equipamentos de proteção, o que pode resultar, indiretamente, no aumento das chances de acidentes laborais.

Outro aspecto relevante evidenciado por este estudo foi o fato de que crianças e jovens que utilizavam motocicletas apresentaram aumento na prevalência de acidentes de trabalho em 69%. Justifica-se o uso desse meio de transporte pelos participantes em virtude de promover fácil locomoção no ambiente de trabalho rural, devido às longas distâncias percorridas. Em estudo canadense(1313 Burrows S, Auger N, Gamache P, Hamel D. Leading causes of unintentional injury and suicide mortality in canadian adults across the urban-rural continuum. Public Health Rep. 2013 Dec 1;128(6):443-53. doi: 10.1177/003335491312800604.
https://doi.org/10.1177/0033354913128006...
) demonstrou-se que o uso de instrumentos de trabalho automotores, como tratores, caminhonetes, caminhões e motocicletas, embora facilite a locomoção de objetos e cargas no meio rural, duplicou a incidência de acidentes em crianças e jovens trabalhadores.

Por outro lado, aqueles que possuíam atividades de lazer, como ouvir música, tiveram redução na prevalência de 51% em acidentes de trabalho. Nesse sentido, a literatura revelou que as atividades recreativas, como caminhadas, ciclismo, ioga, música, meditação e participação em grupos sociais, assim como as atividades escolares, impactam a qualidade de vida de crianças e jovens e, como efeito, em sua aptidão para o trabalho(2828 Wu S, Xuan Z, Li F, Xiao W, Fu X, Jiang P. et al. Work-recreation balance, health-promoting lifestyles and suboptimal health status in Southern China: a cross-sectional study. Int J Environ Res Public Health. 2016 Mar 10;13(3):1-16. doi:10.3390/ijerph13030339.
https://doi.org/10.3390/ijerph13030339...
). Portanto, torna-se relevante enfatizar a necessidade de manter equilíbrio entre trabalho, recreação e escola, devido ao aumento de conhecimentos técnico-científicos acerca da prevenção e ampliação da capacidade de voltar a atenção às atividades laborais.

No caso do presente estudo, dentre o conjunto de produtos resultantes da atividade de trabalho de crianças e jovens, somente a atividade relacionada à cultura de alface apresentou a probabilidade maior (86%) de acidentes laborais. Nesse sentido, a literatura aponta que os acidentes na agricultura, independentemente do produto da atividade, relacionaram-se sobremaneira ao uso de agrotóxicos/agroquímicos(2929 Zhang C, Sun Y, Hu R, Huang J, Huang X, Li Y. et al. A comparison of the effects of agricultural pesticide uses on peripherical nerve conduction in China. Sci Rep. 2018 Jun 24; 8(1):1-8. doi: 10.1038/s41598-018-27713-6.
https://doi.org/10.1038/s41598-018-27713...
-3030 Hu R, Huang X, Huang J, Li Y, Zhang C, Yanhong Y. et al. Long and short term health effects of pesticide exposure: a cohort study from China. Plos One. 2015 Jun 4;10(6):1-13. doi: 10.1371/journal.pone.0128766.
https://doi.org/10.1371/journal.pone.012...
). Embora este estudo não tenha abordado questões relacionadas ao uso de agrotóxicos, em outra investigação realizada na China foi constatado que o uso desses produtos nas plantações, como na cultura de alface, associado ao uso de instrumentos cortantes, como facas, facões e foices, pode ocasionar, entre outros efeitos, a redução da força muscular e a instabilidade da marcha, o que favorece acidentes relacionados a cortes, quedas e fraturas(2727 Pratt B, Cheesman J, Breslin C, Do MT. Occupational injuries in Canadian youth: an analysis of 22 years of surveillance data collected from the Canadian Hospitals Injury Reporting and Prevention Program. Health Promot Chronic Dis Prev Can. 2016 May 1 [cited Mar 17, 2019];36(5):89-98. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4910461/pdf/36_5_1.pdf
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/article...
).

Destaca-se, também, que os participantes que utilizavam EPI, como botas, luvas impermeáveis, chapéu de palha e protetor solar, apresentaram aumento de 46% na ocorrência de acidentes no trabalho rural, podendo diminuir essa probabilidade em 5% com o aumento de um ano de estudo. Esse achado é consistente com estudo de revisão integrativa que revelou que crianças e jovens que realizavam atividades agrícolas e pesqueiras, com baixo nível de escolaridade, utilizavam menos os EPI ou usavam-nos de forma inadequada ou incompleta, em comparação com alunos com mais tempo de escolaridade(2424 Miller ME. Historical background of the child labor regulations: strengths and limitations of the agricultural hazardous occupation’s orders. J Agromedicine. 2012 Apr 10; 17(1):163-85. doi: 10.1080/1059924X.2012.660434.
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). Essas são evidências que podem sugerir a necessidade do estímulo ao uso de EPI e de capacitações para o manuseio adequado desses equipamentos, em locais de fácil acesso a essa clientela, como escolas, unidades básicas de saúde e residências familiares. Como exemplo, tem-se o uso de protetores solares e sua reposição no tempo correto, de acordo com o fabricante do produto, além de roupas, como macacões, camisetas, calçados, luvas e chapéus adequados que protejam o corpo da exposição a riscos acidentais e de saúde.

Como limitação do estudo, sublinha-se o caráter exploratório que, apesar de ter possibilitado o alcance dos objetivos propostos, não permitiu atuar sobre o cenário identificado. Além disso, ressalta-se como fragilidade a utilização de uma única fonte subjetiva de dados - a autorreferência. No entanto, essa se torna necessária para o diagnóstico situacional do trabalho rural como nexo causal dos acidentes, visto que se trata do produto da auto-observação e autorreflexão do indivíduo acerca de suas vivências laborais, sendo essencial para o planejamento e desenvolvimento de ações cuidativo-educacionais. Ademais, salienta-se a carência de publicações sobre essa temática, em especial de pesquisas-ação/pesquisas-intervenção.

Com os resultados deste estudo, avança-se no conhecimento ao evidenciar, por meio de testes de análise multivariada, a relação de causa e efeito entre o auxílio no trabalho rural e a ocorrência de acidentes ocupacionais em crianças e jovens. Portanto, o mesmo poderá subsidiar intervenções mediante a comunicação de risco, o que possibilitará a ampliação do conhecimento acerca desses acidentes nessa clientela.

Conclusão

No presente estudo constatou-se que a prevalência de acidentes de trabalho tais como picadas de insetos, queimaduras e quedas no ambiente de trabalho, em crianças e jovens que trabalhavam com a família no ambiente rural, foi expressiva e esteve relacionada ao tipo de moradia mista, atividades de lazer como andar de motocicleta, produto resultante da atividade de trabalho, como o cultivo de alface e uso de EPI. Ao contrário, evidenciou-se que a atividade de lazer como ouvir música e o aumento de um ano de escolaridade contribuem para redução de acidentes de trabalho. Acredita-se que esses achados possam incrementar o desenvolvimento de políticas sociais direcionadas à manutenção da saúde desse público, ao controle das condições de trabalho e à redução dos riscos ocupacionais no ambiente rural.

Além disso, a identificação dos acidentes de trabalho mais prevalentes e seus fatores associados pode subsidiar ações nas escolas e nas unidades básicas de saúde tradicionais e de estratégia saúde da família, com vistas a instrumentalizar essas crianças e jovens para desenvolver suas atividades laborais no ambiente rural sem prejuízos para sua saúde e educação. Destaca-se o enfermeiro como importante ator nesse processo. Ele utiliza-se de conhecimentos para apreender as características clínicas desses indivíduos, as condições de trabalho e os ambientes ocupacionais aos quais estão expostos e que visem direcionar intervenções de saúde à essa faixa etária. Assim, auxiliará na vigilância em saúde coletiva, por meio da exploração e difusão de informações pertinentes sobre os ambientes laborais e a saúde de crianças e jovens que auxiliam a família no trabalho rural, além da capacitação acerca do correto uso e manuseio de equipamentos de proteção individual e da mecânica corporal adequada às atividades desenvolvidas.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    03 Fev 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    09 Nov 2018
  • Aceito
    01 Out 2019
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