Acessibilidade / Reportar erro

A construção da identidade profissional em estudantes de enfermagem: pesquisa qualitativa na perspectiva histórico-cultural* * Artigo extraído da tese de doutorado “A construção da identidade profissional dos alunos de enfermagem: um estudo à luz da abordagem histórico-cultural”, apresentada à Universidade de São Paulo, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Centro Colaborador da OPAS/OMS para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem, Ribeirão Preto, SP, Brasil.

Resumos

Objetivo:

analisar o processo de construção da identidade profissional de enfermeiro pelos estudantes de graduação em Enfermagem no percurso de sua formação.

Método:

pesquisa qualitativa, ancorada no referencial Histórico-Cultural. Participaram 23 estudantes da graduação em Enfermagem. Os dados foram coletados por entrevistas individuais, com roteiro semiestruturado. Para análise dos dados, utilizou-se a Análise Temática.

Resultados:

obtiveram-se quatro temas, “O sujeito em movimento de tornar-se enfermeiro: das experiências prévias ao ingresso no curso”; “O professor enfermeiro na construção da identidade profissional do graduando: dois sentidos do mesmo espelho”; “Relação pedagógica: instrumento para construção da identidade profissional do aluno” e “Condições histórico-culturais: espaço de construção da identidade profissional do aluno”.

Conclusão:

a construção da identidade profissional dos alunos circunscreve-se às condições materiais de existência, traduz a apropriação para o âmbito intrapsíquico de elementos que se dão, primeiramente, no espaço interpsicológico das interações. Os professores enfermeiros podem se constituir espelho paradoxal, com uma face tomada para imitação, e outra que materializa significados de modelo a não ser seguido. Essa construção é também influenciada pelas condições do exercício profissional e da formação universitária.

Descritores:
Estudantes de Enfermagem; Bacharelado em Enfermagem; Pesquisa em Educação de Enfermagem; Aprendizado Social; Desenvolvimento Humano; Pesquisa Qualitativa


Objective:

to analyze the process of professional identity construction in undergraduate nursing students during their education.

Method:

qualitative research, anchored in the Historical-Cultural framework. Twenty-three undergraduate nursing students took part. Data were collected through individual interviews, with a semi-structured script. Thematic Analysis was used to analyze the data.

Results:

the following four themes were obtained, “The subject in movement to become a nurse: from previous experiences to entering the courses”; “The nursing professor in the construction of the undergraduate’s professional identity: a two-way mirror”; “Pedagogical relationship: instrument for constructing the student’s professional identity” and “Historical-cultural conditions: space for the construction of the student’s professional identity”.

Conclusion:

the construction of the students’ professional identity is limited to the material conditions of existence, translating appropriation to the intrapsychic scope of elements that occur, first, in the inter-psychological space of interactions. Nursing professors can become a paradoxical mirror, with one face to be imitated and the other, which materializes meanings of a model not to be followed. This construction is also influenced by the conditions of professional practice and university education.

Descriptors:
Students, Nursing; Education, Nursing, Baccalaureate; Nursing Education; Nursing Education Research; Social Learning; Human Development; Qualitative Research


Objetivo:

analizar el proceso de construcción de la identidad profesional de los enfermeros por los estudiantes de pregrado de enfermería durante su formación profesional.

Método:

investigación cualitativa, anclada en el marco histórico-cultural. Participaron 23 estudiantes de pregrado de enfermería. Los datos fueron recolectados a través de entrevistas individuales, con un guion semiestructurado. Para el análisis de datos, se utilizó el análisis temático.

Resultados:

se obtuvieron cuatro temas, “El individuo en movimiento para convertirse en un profesional de enfermería: desde las experiencias previas hasta ingresar al curso”; “El maestro de enfermería en la construcción de la identidad profesional del estudiante: dos sentidos del mismo espejo”; “Relación pedagógica: instrumento para construir la identidad profesional del estudiante” y “Condiciones histórico-culturales: espacio para la construcción de la identidad profesional del estudiante”.

Conclusión:

la construcción de la identidad profesional de los estudiantes se limita a las condiciones materiales de existencia, traduciendo la apropiación al alcance intrapsíquico de elementos que ocurren, primero, en el espacio interpsicológico de interacciones. Los maestros de enfermería pueden convertirse en un espejo paradójico, con una frente que sirve de ejemplo, y la otra que materializa significados que indican un modelo que no se debe seguir. Esta construcción también está influenciada por las condiciones de la práctica profesional y la educación universitaria.

Descriptores:
Estudiantes de Enfermería; Bachillerato en Enfermería; Investigación en Educación de Enfermería; Aprendizaje Social; Desarrollo Humano; Investigación Cualitativa


Introdução

O termo identidade profissional na Enfermagem nem sempre é claramente fundamentado(11 Johnson M, Cowin LS, Wilson I, Young H. Professional identity and nursing: contemporary theoretical developments and future research challenges. Int Nurs Rev. 2012 Dec;59(4):562-9. doi: 10.1111/j.1466-7657.2012.01013.x
https://doi.org/10.1111/j.1466-7657.2012...
). Talvez porque este campo de estudo seja marcado pela complexidade, em estreita relação com a diversidade de referenciais teóricos nos quais as pesquisas são apoiadas(22 Cardoso I, Batista P, Graça A. Professional identity in analysis: a systematic review of the literature. Open Sports Sci J. 2014;70(Suppl 2):83-97. doi: 10.2174/1875399X01407010083
https://doi.org/10.2174/1875399X01407010...
).

Não obstante, os educadores da área da Enfermagem em todo mundo compartilham a preocupação de que é necessário propiciar, aos futuros enfermeiros, espaços para construção da identidade profissional(33 Marañón AA, Pera MPI. Theory and practice in the construction of professional identity in nursing students: a qualitative study. Nurse Educ Today. 2015 Jul;35(7):859-63. doi: 10.1016/j.nedt.2015.03.014
https://doi.org/10.1016/j.nedt.2015.03.0...
), sobretudo na formação, a fim de oportunizar condições para que o sujeito se aproprie das produções culturais do que consiste ser e agir como enfermeiro em um dado momento histórico e social. A construção desta identidade se relaciona, portanto, ao contexto da profissão, aos movimentos e às atuações da Enfermagem(44 Silva AR, Padilha MI, Backes VMS, Carvalho JB. Professional nursing identity: a perspective through the Brazilian printed media lenses. Esc Anna Nery. 2018;22(4):e20180182. doi: 10.1590/2177-9465-ean-2018-0182
https://doi.org/10.1590/2177-9465-ean-20...
).

Nessa direção, a perspectiva dialética do desenvolvimento humano - como processo histórico e cultural, produtor de transformações qualitativas, sempre em movimento, que possibilitam ao sujeito a conquista da autodeterminação(55 García LD. El desarrollo psicológico humano como processo de continuidade y ruptura: La "Situacíon social del desarrollo". Educ Filos. 2015;29(57): 21-42. doi: 10.14393/REVEDFIL.issn.0102-6801.v29n57a2015-p21a42
https://doi.org/10.14393/REVEDFIL.issn.0...
) - pode trazer contribuições para a compreensão do fenômeno.

Com base na Teoria Histórico-Cultural, não é possível conceber o homem e, por conseguinte, sua identidade de modo bipartido e estudá-los de modo dissociado; ou seja, buscar a compreensão da psique sem o comportamento ou vice-versa(66 Vygotski LS. Obras escogidas III: problemas del desarrollo de la psique. 2thed. Madrid: Visor Distribuiciones; 2000.), pois os estudos, assim, seriam reduzidos a leituras explicativo-causais ou compreensivo-descritivas.

Portanto, busca-se uma compreensão da identidade profissional para além do dualismo entre os atributos inerentes ao sujeito e os comportamentos expressos por um grupo profissional. Concebe-se a identidade profissional do enfermeiro como um conjunto de funções psicológicas integradas entre si, desenvolvidas a partir das múltiplas relações dos sujeitos ao longo de sua história e operadas nas relações de trabalho no âmbito do exercício laboral.

Como funções eminentemente socio-históricas, este desenvolvimento não pode ser descontextualizado das condições de sua produção, o que coloca em questão: como são disponibilizados os elementos culturais da profissão e como são apropriados pelos estudantes na trajetória de construção de sua identidade profissional de enfermeiro?

Denota-se a necessidade de investigações que possibilitem a compreensão dos processos de construção da identidade profissional dos alunos de enfermagem para, nessa base, ampliar as possibilidades de mudança da formação(77 Baldwin A, Mills J, Birks M, Budden L. Role modeling in undergraduate nursing education: an integrative literature review. Nurse Educ Today. 2014 Mar;34(6):18-26. doi: 10.1016/j.nedt.2013.12.007
https://doi.org/10.1016/j.nedt.2013.12.0...
), por vezes ainda calcada em paradigmas conteudistas, centrada na doença e nas práticas hospitalares(88 Cassiani SHB, Wilson LL, Mikael SSE, Peña LM, Grajales RAZ, McCreary LL, et al . The situation of nursing education in Latin America and the Caribbean towards universal health. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2017 May;25:e2913. doi: 10.1590/1518-8345.2232.2913
https://doi.org/10.1590/1518-8345.2232.2...
-99 Fortuna CM, Matumoto S, Mishima SM, Rodríguez AMMM. Collective health nursing: desires and practices. Rev Bras Enferm. 2019 Feb;72(Suppl 1):336-40. doi: 10.1590/0034-7167-2017-0632
https://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0...
), em dissonância ao que se espera do enfermeiro na contemporaneidade.

Ademais, a relevância dessa investigação se desponta quando se considera o momento histórico que a profissão enfermagem atravessa, materializado na campanha mundial Nursing Now, que busca a valorização e o empoderamento dos profissionais em face aos desafios do setor saúde(1010 Kennedy A. Wherever in the world you find nurses, you will find leaders. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2019;27:e3181. doi: 10.1590/1518-8345.0000.3181
https://doi.org/10.1590/1518-8345.0000.3...
). Compreende-se que discutir a construção da identidade profissional de estudantes de enfermagem ainda em formação pode trazer elementos importantes que contribuirão para o alcance dos resultados desta campanha, particularmente em relação à meta de melhoria da educação e ao desenvolvimento profissional(1111 Cassiani SHB, Lira JCG Neto. Nursing perspectives and the "Nursing Now" campaign. Rev Bras Enferm. 2018 Oct;71(5):2351-2. doi: 10.1590/00347167.2018710501
https://doi.org/10.1590/00347167.2018710...
). Sobretudo porque o alcance das transformações macropolíticas desejadas pressupõem a análise crítica da dinâmica da micropolítica, nos espaços concretos onde ocorre a formação dos futuros enfermeiros(1212 Chaves SE. Macropolitical and micropolitical movements in the undergraduate teaching on nursing. Interface. (Botucatu). 2014 Jun; 18(49):325-36. doi: 10.1590/1807-57622013.0715
https://doi.org/10.1590/1807-57622013.07...
).

À vista desses apontamentos, este estudo tem por objetivo analisar o processo de construção da identidade profissional de enfermeiro pelos estudantes de graduação em enfermagem no percurso de sua formação.

Método

Pesquisa qualitativa fundamentada no referencial Histórico-Cultural, o qual direciona o esforço investigativo no sentido de desvendar as bases que constituem a gênese de um fenômeno, porque a aparência e o modo como o fenômeno se manifesta dependem das condições que possibilitam sua produção(66 Vygotski LS. Obras escogidas III: problemas del desarrollo de la psique. 2thed. Madrid: Visor Distribuiciones; 2000.,1313 Vygotski LS. Obras escogidas II: problemas de psicología general. 2thed. Madrid: A. Machado Libros; 2001.). Propõe-se, assim, uma análise para além da superfície fenotípica, indo além de sua aparência.

O estudo foi desenvolvido com estudantes do curso de enfermagem de uma universidade pública situada na região sul do estado de Minas Gerais (MG), Brasil. Foram incluídos no estudo: estudantes de enfermagem da instituição, matriculados nas disciplinas do oitavo ou nono períodos da graduação, que aceitassem participar da investigação. Optou-se por este critério por se entender que nessa fase os alunos estão em período relevante de sua formação, em que se espera que aprimorem as competências requeridas para o exercício profissional, durante os estágios. Excluiu-se aqueles que possuíam certificado e/ou experiência profissional como técnicos de enfermagem, por se entender que o processo de constituição da identidade profissional desses sujeitos como enfermeiros pode percorrer outro itinerário que remete às experiências profissionais ou curriculares anteriores à graduação.

A coleta de dados ocorreu entre os meses de outubro de 2016 e abril de 2017. No período da coleta dos dados, havia 29 estudantes matriculados, seis deles possuíam certificado e/ou experiência profissional como técnicos de enfermagem e não foram incluídos. Foi realizado, previamente, estudo piloto com quatro estudantes para avaliar a pertinência do roteiro de entrevista. Como não foi necessária a alteração do roteiro semiestruturado, os dados resultantes foram incluídos na análise. Portanto, participaram da pesquisa 23 alunos, selecionados por conveniência. Não houve recusas à participação.

Os dados foram obtidos pelo pesquisador principal por meio de entrevistas individuais, gravadas em áudio e orientadas por um roteiro semiestruturado (Figura 1).

Figura 1
Roteiro semiestruturado utilizado para as entrevistas, Minas Gerais, 2019

Ressalta-se que o pesquisador entrevistador, embora não tivesse no período disciplinas com os alunos participantes, já havia ministrado disciplinas ao longo da graduação, o que favoreceu a abordagem aos discentes e o convite pessoal à participação no estudo. As entrevistas foram realizadas em uma sala da própria universidade, com agendamento conforme a solicitação dos pesquisados. Permaneciam, no ambiente, apenas o pesquisador e o entrevistado a fim de propiciar um ambiente acolhedor, sem interferência externa.

Para a gravação em áudio, utilizou-se gravador digital. O tempo total de duração das entrevistas foi de aproximadamente seis horas, com variação de oito a 30 minutos cada. A variação de tempo teve relação com a singularidade de cada participante no modo como expressava suas ideias, o que não representou diferença significativa no conteúdo das entrevistas.

Os depoimentos foram transcritos integralmente em editor de texto pelo primeiro autor. O conjunto de dados transcritos totalizou 101 páginas.

Para a análise dos dados, utilizou-se a Análise Temática(1414 Braun V, Clarke V. Using thematic analysis in psychology. Qual Res Psychol. 2006 Jul;3(2):77-101. doi: 10.1191/1478088706qp063oa
https://doi.org/10.1191/1478088706qp063o...
-1515 Braun V, Clarke V. Reflecting on reflexive thematic analysis. Qual Res Sport Exerc Health. 2019 Jun;11(4): 589-97. doi: 10.1080/2159676X.2019.1628806
https://doi.org/10.1080/2159676X.2019.16...
), seguindo-se seis fases: familiarização com os dados; geração de códigos iniciais, que foi realizada indutivamente a partir de todo o conjunto de dados; elaboração dos temas, ou seja, agrupamento de conjunto de significados relacionados às assunções ontológicas e epistemológicas que subsidiam a construção da pesquisa; revisão dos temas quanto à heterogeneidade externa e homogeneidade interna; definição e nomeação dos temas; e produção do relatório de pesquisa.

A análise foi colaborativa, operacionalizada pelo pesquisador principal em conjunto com a orientadora da pesquisa, com a contribuição crítica das outras autoras(1515 Braun V, Clarke V. Reflecting on reflexive thematic analysis. Qual Res Sport Exerc Health. 2019 Jun;11(4): 589-97. doi: 10.1080/2159676X.2019.1628806
https://doi.org/10.1080/2159676X.2019.16...
).

Para assegurar o rigor da investigação, explicitaram-se os procedimentos para coleta e análise dos dados, a perspectiva teórica que fundamentou a pesquisa, bem como analisaram-se os resultados com as interpretações à luz da literatura correlata(1616 Ryan F, Coughlan M, Cronin P. Step-by-step guide to critiquing research. Part 2: Qualitative research. Br J Nurs. 2007 Jun;16(12):738-44. doi: 10.12968/bjon.2007.16.12.23726
https://doi.org/10.12968/bjon.2007.16.12...
).

A condução da pesquisa e produção do relatório atendeu aos critérios do Consolidated criteria for reporting qualitative research (1717 Tong A, Sainsbury P, Craig J. Consolidated criteria for reporting qualitative research (COREQ): a 32-item checklist for interviews and focus groups. Int J Qual Health Care. 2007 Dec;19(6):349-57. doi: 10.1093/intqhc/mzm042
https://doi.org/10.1093/intqhc/mzm042...
).

Obteve-se a aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa (CEP), sob parecer n.º 1.691.082. Os alunos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), após serem orientados sobre o objetivo da investigação. Para preservar o anonimato, atribuíram-se nomes fictícios aos participantes e aos professores citados nas entrevistas.

Resultados

A análise temática dos dados levou à constituição de quatro temas, três dos quais com dois subtemas (Figura 2).

Figura 2
Temas e subtemas da pesquisa: A construção da identidade profissional em estudantes de enfermagem: pesquisa qualitativa na perspectiva Histórico-Cultural. Minas Gerais, 2019

O primeiro tema intitulado “O sujeito em movimento de tornar-se enfermeiro: das experiências prévias ao ingresso no curso”, remete às menções dos participantes a respeito da sua história de vida e das interinfluências destes elementos na escolha profissional: [...] foi uma paixão, que veio do meu pai. Ele tinha vontade de ser enfermeiro, não fez o curso, aí a gente sempre assistia a programa de televisão, de socorro, de socorrista, e eu gostava muito. [...] Quando chegou o terceiro colegial eu falei - não, é isso que eu quero! - e escolhi a enfermagem (Ana Maria, 23 anos, desejava cursar enfermagem e pretende exercê-la).

Observou-se a influência da família como fator que desperta a busca pela enfermagem como opção de carreira, contudo, notou-se que ela também pode determinar uma escolha coercitiva:[...] eu joguei minha nota para vários cursos, vários, passei em engenharia civil, [...] passei em direito [...] tenho meu irmão muito como referência assim, sabe? Aí, ele simplesmente falou - você vai fazer enfermagem! - Eu falei - não, não vou [...] Você vai! [...] Senão amanhã você volta para casa, vou te buscar! [...] (Joana, 25 anos, desejava cursar engenharia e pretende exercer a enfermagem).

Para alguns participantes, a enfermagem não representava a primeira opção de carreira: [...] Na verdade, eu não tinha em mente é... o plano de fazer enfermagem, eu queria medicina. Como eu vi que a minha nota do ENEM [Exame Nacional do Ensino Médio] não dava para medicina, eu falei assim - ah, vou colocar para enfermagem - (Heloísa, 23 anos, desejava cursar medicina e pretende exercer a enfermagem); [...] Porque eu sempre tentei medicina, e eu não passava em medicina, aí eu tentei enfermagem [...] assim, não é o que eu quero muito para minha vida. O meu objetivo sempre foi medicina e ainda é né? (Bruna, 37 anos, desejava cursar medicina e não pretende exercer a enfermagem).

No entanto, chama atenção o movimento de reconfiguração do sujeito ao longo da formação, vê-se, por exemplo, que Heloísa modificou seu modo de perceber a profissão: [...] tem muitos colegas meus que começaram enfermagem e realmente viram que não era aquilo e queriam mudar para medicina, ou até outra profissão. Mas eu não, eu não queria enfermagem, mas eu comecei, hoje eu amo e eu não trocaria por medicina (Heloísa, 23 anos, desejava cursar medicina e pretende exercer a enfermagem).

O segundo tema, nomeado “O professor enfermeiro na construção da identidade profissional do graduando: dois sentidos do mesmo espelho”, manifesta o modo como os professores são percebidos pelos discentes. Em alguns momentos, o professor configura-se modelo a partir do qual a enfermagem toma forma para os alunos, aspecto este organizado no subtema “Professor: espelho do enfermeiro que se quer ser”. [...] pude ver, tipo, o quanto era importante a competência de saber fazer e tal, e aí meio que fui me espelhando na pessoa, sabe? Nas pessoas, porque não foi apenas uma pessoa. E aí, meio que a gente vai se moldando [...] (Carla, 22 anos, desejava cursar biomedicina e pretende exercer a enfermagem); Ah eu acho que é importante, porque a partir do momento que você vê que o seu professor é o profissional - e a gente se espelha nos nossos professores - então quanto melhor o professor [...] melhor o profissional (Janaína, 25 anos, desejava cursar medicina e pretende exercer a enfermagem).

Por outro lado, coloca-se em perspectiva o paradoxo de que pelo mesmo exercício do professor enfermeiro, particularmente no âmbito do ensino da prática profissional nos serviços de saúde, os alunos parecem delimitar aquilo que não desejam ser. Estes significados foram organizados no subtema “Professor: espelho do enfermeiro que não se quer ser”. [...] tem professores que falam certas coisas dentro de sala de aula e depois a gente chega na prática e vê que não age como deveria. [...] é de humanização, questões éticas, questões de relação mesmo com outras pessoas. [...] É que tem gente que fala, mas chega na hora não faz (Denise, 22 anos, desejava cursar fisioterapia e pretende exercer a enfermagem); [...] eu falava - gente, eu nunca quero ser uma enfermeira desse jeito, vou trancar essa faculdade, eu não vou voltar mais! [...] eles só vieram para reforçar que eu tenho que ser melhor todo dia, que eles são [...] exemplos incríveis de como a gente nunca tem que ser (Joana, 25 anos, desejava cursar engenharia e pretende exercer a enfermagem).

O terceiro tema, intitulado “Relação pedagógica: instrumento para construção da identidade profissional do aluno” indica que a relação professor-aluno nos processos de ensino e aprendizagem constitui-se como ferramenta que favorece a apropriação de significados relativos à identidade de enfermeiro. Em dissonância, outras formas de interação podem distanciar os estudantes dessa apropriação.

O subtema “Relações que levam ao reconhecimento do professor como modelo” manifesta o reconhecimento do professor como ponto de apoio na constituição da identidade profissional: [...] A gente discute caso, no outro dia, a gente faz a evolução do paciente, a gente leva para casa, a gente estuda, chega no outro dia, se eu virar para professora e falar assim - eu não sei, eu não entendi, eu cheguei em casa e pesquisei mas não entendi, você me explica? - Explica, tranquilamente (Lúcia, 23 anos, desejava cursar enfermagem e pretende exercê-la).

Outro componente da ação do professor enfermeiro que parece ter influência na constituição identitária dos alunos reside no manejo de conteúdos e técnicas no ato de ministrar aulas: Consegue ensinar, ele primeiro, vamos falar assim, ele digere tudo isso, e depois sabe explicar para gente de uma maneira que a gente saiba entender [...] (Camila, 25 anos, desejava cursar enfermagem e pretende exercê-la).

A outra face do ato de ensinar praticado pelos docentes manifesta interações que podem ser geradoras de crises, como se apresenta no subtema “Relações que levam ao sofrimento e à crise”. Eu acho que depois que eu entrei na faculdade. [...] eu me tornei uma pessoa totalmente ansiosa, descobri problemas de saúde... [...] por causa da faculdade! (Pesquisador) - Você atribui isso ao curso de graduação? - (Lúcia) Aos professores (Lúcia, 23 anos, desejava cursar enfermagem e pretende exercê-la); [...] Ah, não colocar muita pressão como os professores colocam [...] aí a gente vai até com medo para as práticas. [...] Às vezes, você tem até medo de falar alguma coisa e estar errado, e aí ela chamar sua atenção, sabe? Perder nota (Elaine, 26 anos, desejava cursar fisioterapia e pretende exercer a enfermagem).

O modo como o professor atua em sala de aula pode estabelecer barreiras ao aprendizado e distanciar os estudantes da apropriação dos significados relacionados à identidade profissional: [...] a gente acaba discutindo, fala assim - nossa, mas como assim, como que a didática desse professor... quando chega para dar aula parece que vem por obrigação dar aula, entendeu? [...] chega, lê slide [...] isso eu vou, pego o livro, e leio (Lucas, 21 anos, desejava cursar área da saúde e pretende exercer a enfermagem).

Com relação ao quarto e último tema, denominado “Condições histórico-culturais - espaço de construção da identidade profissional do aluno”, constatou-se que as condições socialmente constituídas do exercício profissional, bem como as condições em que ocorre a formação, traduzidas na conformação da estrutura curricular, participam da configuração da identidade profissional.

No subtema “Condições do exercício profissional da enfermagem” apresenta-se o modo como significados sobre a profissão, socialmente elaborados, acompanham os alunos em sua trajetória: [...] o pessoal fala... [...] - nossa, mas vai fazer enfermagem, nossa, mas é um curso tão ruim, tão desvalorizado, ganha tão pouco - [...] A população em geral [...] Ninguém dá os parabéns para você [...] (Roberto, 24 anos, desejava cursar enfermagem e pretende exercê-la).

Durante todo o transcorrer da formação e na iminência da sua conclusão os alunos deparam-se com esta questão: Ah, é porque de toda a graduação, parece que eu só me deparei com profissionais que não estavam felizes, falando mal da profissão, falando mal do reconhecimento, falando que ganham mal (Janaína, 25 anos, desejava cursar medicina e pretende exercer a enfermagem).

Na perspectiva dos estudantes, a formação, do modo como está estruturada, também pode estabelecer alguns entraves ao desenvolvimento profissional. Organizou-se este aspecto dos resultados no subtema “Condições da formação superior em enfermagem”.

Os estudantes apontaram fatores que, em seu entendimento, desfavorecem a formação profissional. [...] a gente poderia ter aprofundado mais lá com o docente, principalmente agora nesse final, a gente não fica muito com o docente lá. [...] eu ia poder ter outras experiências [...] isso poderia dar um pouco mais de segurança [...] (Roberto, 24 anos, desejava cursar enfermagem e pretende exercê-la); [...] podia tentar aumentar um pouco essa grade... esse tempo de prática, sabe? [...] em vez de ficar só aprendendo na parte teórica (Camila, 25 anos, desejava cursar enfermagem e pretende exercê-la).

Ademais, nem sempre a experiência clínica é dialógica e a inserção nos serviços de saúde, durante o curso, às vezes, restringe-se à observação ou não possibilita a clareza a respeito do que é ser enfermeiro: [...] porque a gente não pode debater, né? Falar - “Não, você está errado, você não tem que fazer dessa maneira”, porque a gente é acadêmico ainda, então a gente tem mais que olhar e aprender do que retrucar, né? (Luana, 23 anos, desejava cursar enfermagem e pretende exercê-la); [...] ficou muito a desejar esse negócio de liderança, algumas vezes eu me sinto líder, outras vezes eu não me sinto líder [...] Que, às vezes, fala muito [...] em sala de aula e lá na prática fica um pouco... abstrato [...] (Vivian, 23 anos, desejava cursar enfermagem e pretende exercê-la).

Discussão

A trajetória de construção da identidade profissional do aluno de enfermagem é relacionada à sua história de vida e circunscrita às condições materiais de existência a partir da qual se constitui, por meio da apropriação dos elementos culturais que lhe são disponibilizados.

Os alunos ingressam na enfermagem pelas possibilidades históricas que lhes circunscrevem. Por exemplo, para alguns participantes o acesso à universidade ocorreu por meio do curso de enfermagem, tendo em vista a menor concorrência, se comparado a outros cursos da área da saúde(1818 Puertas Cañaveral IC, Sá OAT. REUNI: expansion, segmentation and institucional determination of dropout. Case study at Unifal-MG. Eccos. 2017 Sep;44:93-115. doi: 10.5585/eccos.n44.7899
https://doi.org/10.5585/eccos.n44.7899...
). Embora a primeira opção de curso para alguns alunos fosse medicina, eles não conseguiram acessar esta carreira, restrita, na maioria das vezes, a um grupo de estudantes em função de sua concorrência(1919 Wickbold CC, Siqueira V. Quotas policy, curriculum and identity construction of medical students at a public university. Pro-Posições. 2018 Apr;29(1):83-105. doi: 10.1590/1980-6248-2016-0153
https://doi.org/10.1590/1980-6248-2016-0...
).

Para a composição da enfermagem como força de trabalho isto é particularmente importante. Se historicamente a medicina tende a ser a primeira escolha dos estudantes que aspiram às carreiras na área da saúde(2020 Teodosio SS, Padilha MI. To be a nurse: a professional choice and the construction of identity processes in the 1970s. Rev Bras Enferm. 2016 Jun;69(3):428-34. doi: 10.1590/0034-7167.2016690303i
https://doi.org/10.1590/0034-7167.201669...
), a enfermagem pode congregar alunos que não desejam se tornar enfermeiros e ingressam, contudo, sem que esta opção esteja alicerçada em uma escolha com consciência a respeito das atribuições da profissão(2121 Barbarà-i-Molinero A, Cascón-Pereira R, Hernández-Lara AB. Professional identity development in higher education: influencing factors. IJEM. 2017;31(2): 189-203. doi: 10.1108/IJEM-05-2015-0058
https://doi.org/10.1108/IJEM-05-2015-005...
), o que pode repercutir no modo como a mesma é valorizada pelo próprio estudante e futuro profissional da área.

Nesse sentido, políticas de incentivo devem ser realizadas para recuperar o valor histórico e cultural da profissão do enfermeiro, fortalecendo o posicionamento social e político como aspectos centrais para a saúde e o desenvolvimento da sociedade(1010 Kennedy A. Wherever in the world you find nurses, you will find leaders. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2019;27:e3181. doi: 10.1590/1518-8345.0000.3181
https://doi.org/10.1590/1518-8345.0000.3...
).

Não obstante, as falas dos estudantes permitem inferir que é possível aos sujeitos ressignificar a profissão. Embora não se possa garantir que a conclusão do curso implicará em efetivo exercício profissional, o fato de que um aluno entra no curso sem conscientemente o desejar e o conclui reconfigurando seu pensamento, coloca em relevo a importância do processo de formação.

Relaciona-se isso ao pressuposto de que o processo de aprendizagem leva ao desenvolvimento contínuo das funções psicológicas superiores e a educação não apenas influencia os processos de desenvolvimento isoladamente, mas pode reestruturar as funções do sujeito em toda sua amplitude(1313 Vygotski LS. Obras escogidas II: problemas de psicología general. 2thed. Madrid: A. Machado Libros; 2001.).

O ser humano cria, sobre a base de novas necessidades, uma apropriação diferente dos significados dos objetos ao seu entorno. Esses, em consequência, dialeticamente o transformam, na mesma medida em que ele modifica o próprio entorno(66 Vygotski LS. Obras escogidas III: problemas del desarrollo de la psique. 2thed. Madrid: Visor Distribuiciones; 2000.). Assim, a aprendizagem que ocorre na graduação poderá modificar o desenvolvimento do estudante nos outros campos de sua vida, com consequentes novas formações de propósitos pessoais e concepção de mundo.

Em contínua interação com os atores sociais ao longo de sua formação, o estudante pode desenvolver recursos e funções para se adequar às exigências da carreira em perspectiva(2222 Porteous D, Machin A. The lived experience of first year undergraduate student nurses: a hermeneutic phenomenological study. Nurse Educ Today. 2018 Jan;60:56-61. doi: 10.1016/j.nedt.2017.09.017
https://doi.org/10.1016/j.nedt.2017.09.0...
) ou mesmo repensar suas escolhas.

Nesse processo, a atuação dos professores, como enfermeiros, parece importante para que os estudantes materializem o que significa ser e agir como enfermeiro. A participação do professor nessa construção não se limita aos espaços de sala de aula(2323 Baldwin A, Mills J, Birks M, Budden L. Reconciling professional identity: a grounded theory of nurse academics' role modelling for undergraduate students. Nurse Educ Today. 2017 Dec; 59:1-5. doi: 10.1016/j.nedt.2017.08.010
https://doi.org/10.1016/j.nedt.2017.08.0...
) e a sua atuação contextualizada nos campos da prática ocupou lugar de destaque nesta investigação.

O percurso de construção da identidade profissional de enfermeiro pelos estudantes pode assemelhar-se à trajetória formulada na Lei do Desenvolvimento Cultural, que pressupõe que toda função psicológica superior é antes uma formação sociocultural, para além do campo biológico(66 Vygotski LS. Obras escogidas III: problemas del desarrollo de la psique. 2thed. Madrid: Visor Distribuiciones; 2000.). Assim, em um primeiro momento, o ser enfermeiro acontece na esfera interpsicológica, entre os pares. O professor como enfermeiro demonstra condutas, exerce habilidades, materializa atributos e indica significados e, a partir dessa relação, o estudante apropria-se do que, em si, significa ser enfermeiro, apresentando-se como enfermeiro para o outro, o professor e para os pares, e, ao mesmo tempo, constituindo-se enfermeiro para si.

A partir daquilo que demonstram pelo modo como operam as diversas características do ser enfermeiro, os professores figuram-se como modelo para o aluno(33 Marañón AA, Pera MPI. Theory and practice in the construction of professional identity in nursing students: a qualitative study. Nurse Educ Today. 2015 Jul;35(7):859-63. doi: 10.1016/j.nedt.2015.03.014
https://doi.org/10.1016/j.nedt.2015.03.0...
,2424 González-Aguilar A, Vázquez-Catano F, Almazán-Tlalpan, Morales-Nieto, Garcia-Solano. Process of professional identity perception in nursing. Rev Cuidarte. 2018;(9)3:2297-308. doi: 10.15649/cuidarte.v9i3.519
https://doi.org/10.15649/cuidarte.v9i3.5...
).

Os modelos profissionais são percebidos como aqueles que influenciam os demais, exemplificando modos de agir, características profissionais e/ou pessoais esperadas para enfermagem, e que podem ser imitados por outros(2525 Felstead IS, Springett K. An exploration of role model influence on adult nursing students' professional development: a phenomenological research study. Nurse Educ Today. 2016;37:66-70. doi: 10.1016/j.nedt.2015.11.014
https://doi.org/10.1016/j.nedt.2015.11.0...
). A imitação, por sua vez, é um mecanismo de grande relevância nas transformações que ocorrem nas funções da personalidade, porque é um processo que possibilita que a aprendizagem aconteça em colaboração com o outro, provocando desenvolvimento e transições(1313 Vygotski LS. Obras escogidas II: problemas de psicología general. 2thed. Madrid: A. Machado Libros; 2001.).

Nota-se esse aspecto nas entrevistas, principalmente sobre as interações entre professores e alunos nos ambientes de prática clínica. É consenso na literatura que a prática clínica é parte essencial da educação em enfermagem(2626 Lee JJ, Clarke CL, Carson MN. Nursing students' learning dynamics and influencing factors in clinical contexts. Nurse Educ Pract. 2018 Mar;29:103-9. doi: 10.1016/j.nepr.2017.12.003
https://doi.org/10.1016/j.nepr.2017.12.0...
), confere sentido à teoria(33 Marañón AA, Pera MPI. Theory and practice in the construction of professional identity in nursing students: a qualitative study. Nurse Educ Today. 2015 Jul;35(7):859-63. doi: 10.1016/j.nedt.2015.03.014
https://doi.org/10.1016/j.nedt.2015.03.0...
) e o fazer vinculado à prática é central para que o aluno desenvolva sua identidade profissional como futuro enfermeiro(2727 Williams, MG, Burke LL. Doing learning knowing speaking: how beginning nursing students develop their identity as nurses. Nurs Educ Perspect. 2015 Jan/Feb;36(1):50-2. doi: 10.5480/12-908
https://doi.org/10.5480/12-908...
-2828 Ewertsson M, Bagga-Gupta S, Allvin R, Blomberg K. Tensions in learning professional identities - nursing students' narratives and participation in practical skills during their clinical practice: an ethnographic study. BMC Nurs. 2017 Aug;16(48):1-8. doi: 10.1186/s12912-017-0238-y#Sec14
https://doi.org/10.1186/s12912-017-0238-...
). Consoante a tal constatação, estudos têm observado que a manifestação dos valores por modelos profissionais, no campo prático, é grande estímulo para que os estudantes desenvolvam estas características(2929 Shafakhah M, Molazem Z, Khademi M, Sharif F. Facilitators and inhibitors in developing professional values in nursing students. Nurs Ethics. 2016 Sep;25(2):153-64. doi: 10.1177/0969733016664981
https://doi.org/10.1177/0969733016664981...
). Os estudantes podem tomar os professores como exemplos e buscarem apropriar-se dos atributos profissionais, no início da formação, durante o estágio, e na carreira futura(2323 Baldwin A, Mills J, Birks M, Budden L. Reconciling professional identity: a grounded theory of nurse academics' role modelling for undergraduate students. Nurse Educ Today. 2017 Dec; 59:1-5. doi: 10.1016/j.nedt.2017.08.010
https://doi.org/10.1016/j.nedt.2017.08.0...
).

Por outro lado, observou-se que os modelos percebidos pelos estudantes como inadequados também participam do processo de desenvolvimento da identidade profissional. Há autores que inferem que os estudantes podem aprender, inclusive, a partir de modelos profissionais que não dispõem de posturas condizentes na prática(2525 Felstead IS, Springett K. An exploration of role model influence on adult nursing students' professional development: a phenomenological research study. Nurse Educ Today. 2016;37:66-70. doi: 10.1016/j.nedt.2015.11.014
https://doi.org/10.1016/j.nedt.2015.11.0...
) e que a percepção da falta de empatia dos professores provoca nos estudantes de enfermagem o encorajamento para trabalharem no sentido de desenvolverem um padrão melhor do que o depreendido pelos seus professores(3030 Mikkonen K, Kyngäs H, Kääriäinen M. Nursing students' experiences of the empathy of their teachers: a qualitative study. Adv Health Sci Educ Theory Pract. 2015 Aug;20(3):669-82. doi: 10.1007/s10459-014-9554-0
https://doi.org/10.1007/s10459-014-9554-...
).

Todavia, a coexistência de exemplos com atitudes incoerentes pode ocasionar perda do interesse no aprendizado, sentimento de que não se conseguirá ser um enfermeiro de sucesso(3030 Mikkonen K, Kyngäs H, Kääriäinen M. Nursing students' experiences of the empathy of their teachers: a qualitative study. Adv Health Sci Educ Theory Pract. 2015 Aug;20(3):669-82. doi: 10.1007/s10459-014-9554-0
https://doi.org/10.1007/s10459-014-9554-...
), dificuldades em desenvolver estratégias pessoais para evitar se tornar igual aos modelos que criticam(3131 Traynor M, Buus N. Professional identity in nursing: UK students' explanations for poor standards of care. Soc Sci Med. 2016 Oct;166:186-94. doi: 10.1016/j.socscimed.2016.08.024
https://doi.org/10.1016/j.socscimed.2016...
) e apropriação de condutas inadequadas que podem ser replicadas no exercício profissional(3232 Felstead I. Role modelling and students' professional development. Br J Nurs. 2013;22(4):223-7. doi: 10.12968/bjon.2013.22.4.223
https://doi.org/10.12968/bjon.2013.22.4....
).

Estes apontamentos aliados à concepção do aprendizado como processo, dependente da colaboração de outras pessoas, que visa proporcionar ao indivíduo o domínio sobre o que não consegue operar sozinho(1313 Vygotski LS. Obras escogidas II: problemas de psicología general. 2thed. Madrid: A. Machado Libros; 2001.), destacam o papel do professor enfermeiro no processo de construção identitária dos estudantes.

Participam dessa dinâmica as relações estabelecidas durante a graduação, haja vista que a formação do aluno não se restringe ao currículo formal, mas leva em conta aspectos subjetivos(3232 Felstead I. Role modelling and students' professional development. Br J Nurs. 2013;22(4):223-7. doi: 10.12968/bjon.2013.22.4.223
https://doi.org/10.12968/bjon.2013.22.4....
) que também repercutem no aprendizado e no desenvolvimento profissional(3333 Chan ZCY, Tong CW, Henderson S. Power dynamics in the student-teacher relationship in clinical settings. Nurse Educ Today. 2017 Feb;49: 174-9. doi: 10.1016/j.nedt.2016.11.026
https://doi.org/10.1016/j.nedt.2016.11.0...
-3434 Chan ZCY, Tong CW, Henderson S. Uncovering nursing students' views of their relationship with educators in a university context: a descriptive qualitative study. Nurse Educ Today. 2017 Feb;49:110-4. doi: 10.1016/j.nedt.2016.11.020
https://doi.org/10.1016/j.nedt.2016.11.0...
).

Por esse ângulo, uma relação empática pode provocar uma experiência de aprendizado construtiva, e assim os estudantes podem se sentir interessados, motivados a aprender mais, continuar os estudos e alcançar melhores resultados(3030 Mikkonen K, Kyngäs H, Kääriäinen M. Nursing students' experiences of the empathy of their teachers: a qualitative study. Adv Health Sci Educ Theory Pract. 2015 Aug;20(3):669-82. doi: 10.1007/s10459-014-9554-0
https://doi.org/10.1007/s10459-014-9554-...
). O estabelecimento de uma relação de tal natureza é facilitado pela confiança mútua, pela compreensão, pelo cuidado e pelas orientações claras(3333 Chan ZCY, Tong CW, Henderson S. Power dynamics in the student-teacher relationship in clinical settings. Nurse Educ Today. 2017 Feb;49: 174-9. doi: 10.1016/j.nedt.2016.11.026
https://doi.org/10.1016/j.nedt.2016.11.0...
).

No entanto, as relações quando verticalizas podem implicar no distanciamento dos alunos da convivência com possíveis modelos importantes para a constituição identitária. Algumas atitudes dos professores, como as críticas desacompanhadas de incentivo e a repreensão dos erros, podem distanciar os estudantes e gerar sentimentos como medo de perguntar(3333 Chan ZCY, Tong CW, Henderson S. Power dynamics in the student-teacher relationship in clinical settings. Nurse Educ Today. 2017 Feb;49: 174-9. doi: 10.1016/j.nedt.2016.11.026
https://doi.org/10.1016/j.nedt.2016.11.0...
-3434 Chan ZCY, Tong CW, Henderson S. Uncovering nursing students' views of their relationship with educators in a university context: a descriptive qualitative study. Nurse Educ Today. 2017 Feb;49:110-4. doi: 10.1016/j.nedt.2016.11.020
https://doi.org/10.1016/j.nedt.2016.11.0...
), parecer estúpido, não saber nada(3030 Mikkonen K, Kyngäs H, Kääriäinen M. Nursing students' experiences of the empathy of their teachers: a qualitative study. Adv Health Sci Educ Theory Pract. 2015 Aug;20(3):669-82. doi: 10.1007/s10459-014-9554-0
https://doi.org/10.1007/s10459-014-9554-...
), além de ansiedade frente à postura avaliativa e à comunicação inapropriada por parte do instrutor(3535 Arkan B, Ordin Y, Yilmaz D. Undergraduate nursing students' experience related to their clinical learning environment and factors affecting to their clinical learning process. Nurse Educ Pract. 2018 Mar;29:127-32. doi: 10.1016/j.nepr.2017.12.005
https://doi.org/10.1016/j.nepr.2017.12.0...
).

Outro aspecto relevante nos achados desta pesquisa diz respeito às influências dos constructos socioculturais do exercício profissional do enfermeiro.

A despeito das mudanças na última década, por vezes persistem no imaginário social percepções que desvalorizam a enfermagem e a carreira na área(3636 Girvin J, Jackson D, Hutchinson M. Contemporary public perceptions of nursing: a systematic review and narrative synthesis of the international research evidence. J Nurs Manag. 2016 Jul;24(8):994-1006. doi: 10.1111/jonm.12413
https://doi.org/10.1111/jonm.12413...
). Os estereótipos expressos pela mídia e a pouca retribuição financeira dada a segmentos importantes da enfermagem no cenário nacional, fomentam dúvidas a respeito da enfermagem como escolha profissional(44 Silva AR, Padilha MI, Backes VMS, Carvalho JB. Professional nursing identity: a perspective through the Brazilian printed media lenses. Esc Anna Nery. 2018;22(4):e20180182. doi: 10.1590/2177-9465-ean-2018-0182
https://doi.org/10.1590/2177-9465-ean-20...
). Tais percepções influenciam parte dos aspirantes à profissão(3636 Girvin J, Jackson D, Hutchinson M. Contemporary public perceptions of nursing: a systematic review and narrative synthesis of the international research evidence. J Nurs Manag. 2016 Jul;24(8):994-1006. doi: 10.1111/jonm.12413
https://doi.org/10.1111/jonm.12413...
).

Esta desvalorização também se expressa nas relações de trabalho precarizadas, concernentes a um mercado de trabalho instável, caracterizado por contratos empregatícios por tempo determinado(3737 Oliveira JSA, Pires DEP, Alvarez AM, Sena RR, Medeiros SM, Andrade SR. Trends in the job market of nurses in the view of managers. Rev Bras Enferm. 2018 Jan-Feb;71(1):148-55. doi: 10.1590/0034-7167-2016-0103
https://doi.org/10.1590/0034-7167-2016-0...
), duplas jornadas e carga horária semanal elevada(3838 Oliveira BLCA, Silva AM, Lima SF. Weekly workload for nurses in Brazil: challenges to practice profession. Trab Educ Saúde. 2018 Sep-Dec;16(3):1221-36. doi: 10.1590/1981-7746-sol00159
https://doi.org/10.1590/1981-7746-sol001...
).

Reconhece-se que os estudantes precisam de suporte às suas decisões para superar as dificuldades que encontram ao longo da formação quando se deparam com estes elementos, objetivos e subjetivos. Por conseguinte, não se abdica da necessidade de reconhecer as contradições que perpassam o exercício profissional do enfermeiro na contemporaneidade.

Infere-se a necessidade de que o estudante tenha experiências que manifestem as condições materiais, por vezes desfavoráveis, do exercício profissional do enfermeiro. Entretanto, deve-se tomar especial cuidado com o tipo de interação estabelecida, uma vez que esta pode, ou não, proporcionar a compreensão e o diálogo sobre as dinâmicas que mantêm essas mesmas condições e oportunizar espaço para análise crítica dos elementos contraditórios, culturalmente estabelecidos, manifestos nas hierarquias organizacionais, na consolidação histórica e nos aspectos legais e educacionais da profissão(3939 Strouse SM, Nickerson CJ. Professional culture brokers: nursing faculty perceptions of nursing culture and their role in student formation. Nurse Educ Pract. 2016 May;18:10-5. doi: 10.1016/j.nepr.2016.02.008
https://doi.org/10.1016/j.nepr.2016.02.0...
).

Destacou-se também nesta investigação a imbricada influência da estrutura da formação, operada por meio da dinâmica curricular, na construção da identidade profissional do graduando. Os estudantes apontam que a restrita carga horária prática, além de outros fatores como o modelo de supervisão de estágios, desfavorece o seu desenvolvimento profissional.

Se a experiência clínica nos serviços de saúde é fundamental para que os estudantes construam sua identidade profissional(2828 Ewertsson M, Bagga-Gupta S, Allvin R, Blomberg K. Tensions in learning professional identities - nursing students' narratives and participation in practical skills during their clinical practice: an ethnographic study. BMC Nurs. 2017 Aug;16(48):1-8. doi: 10.1186/s12912-017-0238-y#Sec14
https://doi.org/10.1186/s12912-017-0238-...
), caso seja oportunizado curto tempo nesses espaços, o aprendizado pode ser desfavorecido e não proporcionar as apropriações dos elementos fundantes da profissão(2626 Lee JJ, Clarke CL, Carson MN. Nursing students' learning dynamics and influencing factors in clinical contexts. Nurse Educ Pract. 2018 Mar;29:103-9. doi: 10.1016/j.nepr.2017.12.003
https://doi.org/10.1016/j.nepr.2017.12.0...
).

Igualmente, a depender de como se configura a supervisão dos alunos, nem sempre estes serão acompanhados sistematicamente por um professor vinculado à academia e, teoricamente, com formação para articular os conhecimentos pedagógicos com os específicos.

Embora as diretrizes curriculares nacionais (DCN) prescrevam que os enfermeiros dos serviços de saúde onde ocorrem os estágios devam participar efetivamente da elaboração e do processo de supervisão dos alunos(4040 Resolução CNE/CES n. 3 de 07 de novembro de 2001 (BR). Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem. [Internet]. Diário Oficial da União, 9 de novembro de 2001. [Acesso 15 set 2017]. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES03.pdf
http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pd...
), múltiplos fatores de ordem socioeconômica e política se interpõem ao alcance desse objetivo.

Ademais, os serviços de saúde nos quais ocorrem as práticas clínicas durante o período formativo podem apresentar governabilidade limitada(4141 Lima MM, Reibnitz KS, Kloh D, Silva KL, Ferraz F. The pedagogical relationship in practical-reflexive education: characteristic elements of teaching integrality in nurse education. Texto Contexto Enferm. 2018;27(2):e1810016. doi: 10.1590/0104-070720180001810016
https://doi.org/10.1590/0104-07072018000...
) e relações hierarquizadas(2626 Lee JJ, Clarke CL, Carson MN. Nursing students' learning dynamics and influencing factors in clinical contexts. Nurse Educ Pract. 2018 Mar;29:103-9. doi: 10.1016/j.nepr.2017.12.003
https://doi.org/10.1016/j.nepr.2017.12.0...
) que delimitam as possibilidades de ensino, materializadas nas propostas curriculares.

Desse modo, nem sempre o que se deseja operacionalizar na formação é possível, haja vista as condições materiais que circunscrevem as propostas educacionais, tais como a hegemonia do modelo disciplinar e tradicional de ensino, as dificuldades na parceria ensino e serviço e os tipos de contratação dos enfermeiros professores(4242 Soriano ECI, Peres CRFB, Marin MJS, Tonhom SFR. State nursing courses in São Paulo foward the curriculum guidelines. REME. 2015 Oct-Dec;19(4):965-72. doi: 10.5935/1415-2762.20150074
https://doi.org/10.5935/1415-2762.201500...
).

Ademais, é preciso reconhecer que nem sempre os enfermeiros dos serviços possuem o preparo necessários para dar suporte ao aprendizado dos estudantes(2626 Lee JJ, Clarke CL, Carson MN. Nursing students' learning dynamics and influencing factors in clinical contexts. Nurse Educ Pract. 2018 Mar;29:103-9. doi: 10.1016/j.nepr.2017.12.003
https://doi.org/10.1016/j.nepr.2017.12.0...
,4343 Hanson SE, Macleod ML, Schiller CJ. It's complicated: staff nurse perceptions of their influence on nursing students' learning. A qualitative descriptive study. Nurse Educ Today. 2018 Apr; 63:76-80. doi: 10.1016/j.nedt.2018.01.017
https://doi.org/10.1016/j.nedt.2018.01.0...
). Assim, entende-se que o modo como se estrutura a formação e se oportuniza o aprendizado, para o qual professores e alunos podem não atentar(4444 Liljedahl M, Boman LE, Fält CP, Laksov KB. What students really learn: contrasting medical and nursing students'experiences of the clinical learning environment. Adv Health Sci Educ Theory Pract. 2015 Ago;20(3):765-79. doi: 10.1007/s10459-014-9564-y
https://doi.org/10.1007/s10459-014-9564-...
), é elemento importante na trajetória de construção identitária.

Os resultados dessa pesquisa são corroborados pela literatura nacional e internacional, o que evidencia a preocupação global com os processos formativos em enfermagem, o papel dos professores, do currículo e seus desdobramentos na constituição de futuros enfermeiros e na valorização da profissão.

Esta pesquisa apresenta alguns limites, como o fato de ter sido desenvolvida em apenas uma instituição de ensino, o que traduz condições socioculturais específicas, e a produção dos dados ter ocorrido somente com entrevistas. Todavia, ao privilegiar as entrevistas, considerou-se que é principalmente por meio da linguagem que se acessa o sistema de significados historicamente construídos e os sentidos singularmente atribuídos pelos alunos(1313 Vygotski LS. Obras escogidas II: problemas de psicología general. 2thed. Madrid: A. Machado Libros; 2001.), elementos esses imprescindíveis para se compreender os complexos processos de aprendizagem relativos à identidade profissional.

Desse entendimento, a análise apresentada, por ser fundamentada em um referencial teórico(66 Vygotski LS. Obras escogidas III: problemas del desarrollo de la psique. 2thed. Madrid: Visor Distribuiciones; 2000.,1313 Vygotski LS. Obras escogidas II: problemas de psicología general. 2thed. Madrid: A. Machado Libros; 2001.) que não é comumente utilizado para abordagem da temática, permitiu avanços nesse campo de estudos na medida em que possibilitou um outro olhar para a interação como ferramenta psicológica que pode, ou não, favorecer a apropriação dos significados da identidade de enfermeiro.

Esse estudo pode contribuir para mudanças curriculares ao reforçar a importância de oportunizar espaços apropriados, quantitativa e qualitativamente, para o estabelecimento de interações que potencializem o desenvolvimento da identidade profissional, o que implica no estabelecimento de estratégias para aprimoramento das parcerias ensino-serviço e na adoção de posicionamento contrário aos cursos de graduação em enfermagem na modalidade a distância.

Conclusão

A construção da identidade profissional dos alunos é influenciada pela trajetória de vida e circunscrita às condições materiais da existência de cada sujeito. Percorre um caminho que traduz a apropriação para o âmbito intrapsíquico de elementos que se dão, primeiramente, no espaço interpsicológico, e depreendem-se das interações, sobretudo daquelas oportunizadas pela formação, com destaque para aquelas entre professor enfermeiro e aluno.

Para os estudantes, o professor enfermeiro pode se constituir em espelho paradoxal, com uma face tomada para imitação, e outra que materializa significados que indicam um modelo a não ser seguido.

Este processo de construção da identidade profissional não é descolado das condições que implicam, recursivamente, na configuração do exercício profissional do enfermeiro e da própria formação profissional.

  • *
    Artigo extraído da tese de doutorado “A construção da identidade profissional dos alunos de enfermagem: um estudo à luz da abordagem histórico-cultural”, apresentada à Universidade de São Paulo, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Centro Colaborador da OPAS/OMS para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem, Ribeirão Preto, SP, Brasil.

References

  • 1
    Johnson M, Cowin LS, Wilson I, Young H. Professional identity and nursing: contemporary theoretical developments and future research challenges. Int Nurs Rev. 2012 Dec;59(4):562-9. doi: 10.1111/j.1466-7657.2012.01013.x
    » https://doi.org/10.1111/j.1466-7657.2012.01013.x
  • 2
    Cardoso I, Batista P, Graça A. Professional identity in analysis: a systematic review of the literature. Open Sports Sci J. 2014;70(Suppl 2):83-97. doi: 10.2174/1875399X01407010083
    » https://doi.org/10.2174/1875399X01407010083
  • 3
    Marañón AA, Pera MPI. Theory and practice in the construction of professional identity in nursing students: a qualitative study. Nurse Educ Today. 2015 Jul;35(7):859-63. doi: 10.1016/j.nedt.2015.03.014
    » https://doi.org/10.1016/j.nedt.2015.03.014
  • 4
    Silva AR, Padilha MI, Backes VMS, Carvalho JB. Professional nursing identity: a perspective through the Brazilian printed media lenses. Esc Anna Nery. 2018;22(4):e20180182. doi: 10.1590/2177-9465-ean-2018-0182
    » https://doi.org/10.1590/2177-9465-ean-2018-0182
  • 5
    García LD. El desarrollo psicológico humano como processo de continuidade y ruptura: La "Situacíon social del desarrollo". Educ Filos. 2015;29(57): 21-42. doi: 10.14393/REVEDFIL.issn.0102-6801.v29n57a2015-p21a42
    » https://doi.org/10.14393/REVEDFIL.issn.0102-6801.v29n57a2015-p21a42
  • 6
    Vygotski LS. Obras escogidas III: problemas del desarrollo de la psique. 2thed. Madrid: Visor Distribuiciones; 2000.
  • 7
    Baldwin A, Mills J, Birks M, Budden L. Role modeling in undergraduate nursing education: an integrative literature review. Nurse Educ Today. 2014 Mar;34(6):18-26. doi: 10.1016/j.nedt.2013.12.007
    » https://doi.org/10.1016/j.nedt.2013.12.007
  • 8
    Cassiani SHB, Wilson LL, Mikael SSE, Peña LM, Grajales RAZ, McCreary LL, et al . The situation of nursing education in Latin America and the Caribbean towards universal health. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2017 May;25:e2913. doi: 10.1590/1518-8345.2232.2913
    » https://doi.org/10.1590/1518-8345.2232.2913
  • 9
    Fortuna CM, Matumoto S, Mishima SM, Rodríguez AMMM. Collective health nursing: desires and practices. Rev Bras Enferm. 2019 Feb;72(Suppl 1):336-40. doi: 10.1590/0034-7167-2017-0632
    » https://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0632
  • 10
    Kennedy A. Wherever in the world you find nurses, you will find leaders. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2019;27:e3181. doi: 10.1590/1518-8345.0000.3181
    » https://doi.org/10.1590/1518-8345.0000.3181
  • 11
    Cassiani SHB, Lira JCG Neto. Nursing perspectives and the "Nursing Now" campaign. Rev Bras Enferm. 2018 Oct;71(5):2351-2. doi: 10.1590/00347167.2018710501
    » https://doi.org/10.1590/00347167.2018710501
  • 12
    Chaves SE. Macropolitical and micropolitical movements in the undergraduate teaching on nursing. Interface. (Botucatu). 2014 Jun; 18(49):325-36. doi: 10.1590/1807-57622013.0715
    » https://doi.org/10.1590/1807-57622013.0715
  • 13
    Vygotski LS. Obras escogidas II: problemas de psicología general. 2thed. Madrid: A. Machado Libros; 2001.
  • 14
    Braun V, Clarke V. Using thematic analysis in psychology. Qual Res Psychol. 2006 Jul;3(2):77-101. doi: 10.1191/1478088706qp063oa
    » https://doi.org/10.1191/1478088706qp063oa
  • 15
    Braun V, Clarke V. Reflecting on reflexive thematic analysis. Qual Res Sport Exerc Health. 2019 Jun;11(4): 589-97. doi: 10.1080/2159676X.2019.1628806
    » https://doi.org/10.1080/2159676X.2019.1628806
  • 16
    Ryan F, Coughlan M, Cronin P. Step-by-step guide to critiquing research. Part 2: Qualitative research. Br J Nurs. 2007 Jun;16(12):738-44. doi: 10.12968/bjon.2007.16.12.23726
    » https://doi.org/10.12968/bjon.2007.16.12.23726
  • 17
    Tong A, Sainsbury P, Craig J. Consolidated criteria for reporting qualitative research (COREQ): a 32-item checklist for interviews and focus groups. Int J Qual Health Care. 2007 Dec;19(6):349-57. doi: 10.1093/intqhc/mzm042
    » https://doi.org/10.1093/intqhc/mzm042
  • 18
    Puertas Cañaveral IC, Sá OAT. REUNI: expansion, segmentation and institucional determination of dropout. Case study at Unifal-MG. Eccos. 2017 Sep;44:93-115. doi: 10.5585/eccos.n44.7899
    » https://doi.org/10.5585/eccos.n44.7899
  • 19
    Wickbold CC, Siqueira V. Quotas policy, curriculum and identity construction of medical students at a public university. Pro-Posições. 2018 Apr;29(1):83-105. doi: 10.1590/1980-6248-2016-0153
    » https://doi.org/10.1590/1980-6248-2016-0153
  • 20
    Teodosio SS, Padilha MI. To be a nurse: a professional choice and the construction of identity processes in the 1970s. Rev Bras Enferm. 2016 Jun;69(3):428-34. doi: 10.1590/0034-7167.2016690303i
    » https://doi.org/10.1590/0034-7167.2016690303i
  • 21
    Barbarà-i-Molinero A, Cascón-Pereira R, Hernández-Lara AB. Professional identity development in higher education: influencing factors. IJEM. 2017;31(2): 189-203. doi: 10.1108/IJEM-05-2015-0058
    » https://doi.org/10.1108/IJEM-05-2015-0058
  • 22
    Porteous D, Machin A. The lived experience of first year undergraduate student nurses: a hermeneutic phenomenological study. Nurse Educ Today. 2018 Jan;60:56-61. doi: 10.1016/j.nedt.2017.09.017
    » https://doi.org/10.1016/j.nedt.2017.09.017
  • 23
    Baldwin A, Mills J, Birks M, Budden L. Reconciling professional identity: a grounded theory of nurse academics' role modelling for undergraduate students. Nurse Educ Today. 2017 Dec; 59:1-5. doi: 10.1016/j.nedt.2017.08.010
    » https://doi.org/10.1016/j.nedt.2017.08.010
  • 24
    González-Aguilar A, Vázquez-Catano F, Almazán-Tlalpan, Morales-Nieto, Garcia-Solano. Process of professional identity perception in nursing. Rev Cuidarte. 2018;(9)3:2297-308. doi: 10.15649/cuidarte.v9i3.519
    » https://doi.org/10.15649/cuidarte.v9i3.519
  • 25
    Felstead IS, Springett K. An exploration of role model influence on adult nursing students' professional development: a phenomenological research study. Nurse Educ Today. 2016;37:66-70. doi: 10.1016/j.nedt.2015.11.014
    » https://doi.org/10.1016/j.nedt.2015.11.014
  • 26
    Lee JJ, Clarke CL, Carson MN. Nursing students' learning dynamics and influencing factors in clinical contexts. Nurse Educ Pract. 2018 Mar;29:103-9. doi: 10.1016/j.nepr.2017.12.003
    » https://doi.org/10.1016/j.nepr.2017.12.003
  • 27
    Williams, MG, Burke LL. Doing learning knowing speaking: how beginning nursing students develop their identity as nurses. Nurs Educ Perspect. 2015 Jan/Feb;36(1):50-2. doi: 10.5480/12-908
    » https://doi.org/10.5480/12-908
  • 28
    Ewertsson M, Bagga-Gupta S, Allvin R, Blomberg K. Tensions in learning professional identities - nursing students' narratives and participation in practical skills during their clinical practice: an ethnographic study. BMC Nurs. 2017 Aug;16(48):1-8. doi: 10.1186/s12912-017-0238-y#Sec14
    » https://doi.org/10.1186/s12912-017-0238-y#Sec14
  • 29
    Shafakhah M, Molazem Z, Khademi M, Sharif F. Facilitators and inhibitors in developing professional values in nursing students. Nurs Ethics. 2016 Sep;25(2):153-64. doi: 10.1177/0969733016664981
    » https://doi.org/10.1177/0969733016664981
  • 30
    Mikkonen K, Kyngäs H, Kääriäinen M. Nursing students' experiences of the empathy of their teachers: a qualitative study. Adv Health Sci Educ Theory Pract. 2015 Aug;20(3):669-82. doi: 10.1007/s10459-014-9554-0
    » https://doi.org/10.1007/s10459-014-9554-0
  • 31
    Traynor M, Buus N. Professional identity in nursing: UK students' explanations for poor standards of care. Soc Sci Med. 2016 Oct;166:186-94. doi: 10.1016/j.socscimed.2016.08.024
    » https://doi.org/10.1016/j.socscimed.2016.08.024
  • 32
    Felstead I. Role modelling and students' professional development. Br J Nurs. 2013;22(4):223-7. doi: 10.12968/bjon.2013.22.4.223
    » https://doi.org/10.12968/bjon.2013.22.4.223
  • 33
    Chan ZCY, Tong CW, Henderson S. Power dynamics in the student-teacher relationship in clinical settings. Nurse Educ Today. 2017 Feb;49: 174-9. doi: 10.1016/j.nedt.2016.11.026
    » https://doi.org/10.1016/j.nedt.2016.11.026
  • 34
    Chan ZCY, Tong CW, Henderson S. Uncovering nursing students' views of their relationship with educators in a university context: a descriptive qualitative study. Nurse Educ Today. 2017 Feb;49:110-4. doi: 10.1016/j.nedt.2016.11.020
    » https://doi.org/10.1016/j.nedt.2016.11.020
  • 35
    Arkan B, Ordin Y, Yilmaz D. Undergraduate nursing students' experience related to their clinical learning environment and factors affecting to their clinical learning process. Nurse Educ Pract. 2018 Mar;29:127-32. doi: 10.1016/j.nepr.2017.12.005
    » https://doi.org/10.1016/j.nepr.2017.12.005
  • 36
    Girvin J, Jackson D, Hutchinson M. Contemporary public perceptions of nursing: a systematic review and narrative synthesis of the international research evidence. J Nurs Manag. 2016 Jul;24(8):994-1006. doi: 10.1111/jonm.12413
    » https://doi.org/10.1111/jonm.12413
  • 37
    Oliveira JSA, Pires DEP, Alvarez AM, Sena RR, Medeiros SM, Andrade SR. Trends in the job market of nurses in the view of managers. Rev Bras Enferm. 2018 Jan-Feb;71(1):148-55. doi: 10.1590/0034-7167-2016-0103
    » https://doi.org/10.1590/0034-7167-2016-0103
  • 38
    Oliveira BLCA, Silva AM, Lima SF. Weekly workload for nurses in Brazil: challenges to practice profession. Trab Educ Saúde. 2018 Sep-Dec;16(3):1221-36. doi: 10.1590/1981-7746-sol00159
    » https://doi.org/10.1590/1981-7746-sol00159
  • 39
    Strouse SM, Nickerson CJ. Professional culture brokers: nursing faculty perceptions of nursing culture and their role in student formation. Nurse Educ Pract. 2016 May;18:10-5. doi: 10.1016/j.nepr.2016.02.008
    » https://doi.org/10.1016/j.nepr.2016.02.008
  • 40
    Resolução CNE/CES n. 3 de 07 de novembro de 2001 (BR). Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem. [Internet]. Diário Oficial da União, 9 de novembro de 2001. [Acesso 15 set 2017]. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES03.pdf
    » http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES03.pdf
  • 41
    Lima MM, Reibnitz KS, Kloh D, Silva KL, Ferraz F. The pedagogical relationship in practical-reflexive education: characteristic elements of teaching integrality in nurse education. Texto Contexto Enferm. 2018;27(2):e1810016. doi: 10.1590/0104-070720180001810016
    » https://doi.org/10.1590/0104-070720180001810016
  • 42
    Soriano ECI, Peres CRFB, Marin MJS, Tonhom SFR. State nursing courses in São Paulo foward the curriculum guidelines. REME. 2015 Oct-Dec;19(4):965-72. doi: 10.5935/1415-2762.20150074
    » https://doi.org/10.5935/1415-2762.20150074
  • 43
    Hanson SE, Macleod ML, Schiller CJ. It's complicated: staff nurse perceptions of their influence on nursing students' learning. A qualitative descriptive study. Nurse Educ Today. 2018 Apr; 63:76-80. doi: 10.1016/j.nedt.2018.01.017
    » https://doi.org/10.1016/j.nedt.2018.01.017
  • 44
    Liljedahl M, Boman LE, Fält CP, Laksov KB. What students really learn: contrasting medical and nursing students'experiences of the clinical learning environment. Adv Health Sci Educ Theory Pract. 2015 Ago;20(3):765-79. doi: 10.1007/s10459-014-9564-y
    » https://doi.org/10.1007/s10459-014-9564-y

Editado por

Editora Associada: Sueli Aparecida Frari Galera

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Jun 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    26 Jul 2019
  • Aceito
    07 Mar 2020
Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto / Universidade de São Paulo Av. Bandeirantes, 3900, 14040-902 Ribeirão Preto SP Brazil, Tel.: +55 (16) 3315-3451 / 3315-4407 - Ribeirão Preto - SP - Brazil
E-mail: rlae@eerp.usp.br