A crise humanitária na Ucrânia. Enfermeiros de todo o mundo podem e devem se unir para ajudar

A invasão da Ucrânia pela Rússia dá poucos sinais de retroceder. Em meio ao ataque em andamento à Ucrânia e uma crescente crise humanitária e de direitos humanos, a comunidade de enfermagem deve dar apoio.

Há mais de dois meses, a Rússia lançou uma guerra contra a Ucrânia. O conflito na Ucrânia causou vítimas civis e destruição da infraestrutura civil. Obrigou as pessoas a fugir de suas casas em busca de segurança, proteção e assistência. Em 25 de abril, estimava-se que mais de 5,2 milhões de ucranianos fugiram de sua terra natal para países vizinhos, incluindo Polônia, Hungria, Romênia, Eslováquia e Moldávia¹. Estima-se que ainda mais foram deslocados de suas casas, mas permanecem na Ucrânia. O conflito, e especialmente o bombardeio russo de instituições civis e a incapacidade dos civis de fugir em segurança, criaram uma crise interna avassaladora, exacerbando uma situação já terrível. As cadeias de suprimentos foram severamente interrompidas. Muitos distribuidores não estão operando, alguns estoques estão inacessíveis devido a operações militares, os suprimentos de medicamentos estão acabando e os hospitais lutam para cuidar dos doentes e feridos².

Enfermeiros e outros profissionais de saúde em campo demonstraram dedicação e bravura notáveis. Quando a invasão começou, muitos ajudaram a mover os pacientes para os porões por segurança e ficaram lá cuidando deles por dias sem socorro. Inicialmente, os enfermeiros que tiveram que ventilar os pacientes manualmente em porões de hospitais e abrigos antiaéreos escreveram às Nações Unidas um comunicado³. Além disso, muitos tiveram que prestar cuidados, pois suas instituições de saúde eram alvos. Em 10 de abril de 2022, a Organização Mundial da Saúde informou que havia verificado mais de 103 ataques a hospitais e clínicas na Ucrânia desde o início da invasão. Até agora os ataques custaram 73 vidas e feriram 51⁴. Além disso, quando as pessoas são impedidas de procurar e acessar os cuidados de saúde, seja porque as instalações foram destruídas ou por medo de que possam se tornar um alvo, o estresse psicológico é intenso. Civis ucranianos e profissionais de saúde estão enfrentando uma infinidade de emoções ao mesmo tempo, incluindo ansiedade, medo, tristeza, raiva, depressão e desespero. O pedágio de saúde mental causado pela guerra é vasto, com provavelmente muitas ramificações de longo prazo⁵.

Com o início da guerra, os efeitos da invasão russa da Ucrânia repercutiram em toda a comunidade global de enfermagem. Realmente não há palavras para expressar adequadamente o alcance do choque, dor e trauma infligidos. A política muitas vezes está longe de ser uma preocupação central dos enfermeiros e os conflitos armados são contrários ao objetivo principal da profissão. No entanto, a enfermagem existe para satisfazer uma necessidade fundamental da humanidade. Sem um fim à vista para este e outros conflitos, os enfermeiros devem ser envolvidos. Certamente, nenhum de nós em uma situação semelhante gostaria que nossos colegas globais ao redor do mundo desviassem o olhar. Cumprir o papel de paciente e defensor público determina que os enfermeiros apoiem ações que sejam nos melhores interesses da saúde pública. Esta responsabilidade não se limita ao local de trabalho; estende-se à comunidade global.

O que os enfermeiros podem fazer para dar apoio ou mostrar que são solidários com enfermeiros e outros profissionais de saúde na Ucrânia?

1. Se voluntariar como enfermeiro na Ucrânia e países vizinhos. O apoio imediato aos cuidados de saúde é necessário para evitar que o país se aprofunde ainda mais em uma crise humanitária que pode afetar dezenas de milhões de pessoas. Os enfermeiros que estão em posição de ajudar desta forma, podem chegar a organizações que procuram voluntários e oferecer os seus serviços. Exemplos incluem: Team Rubicom Disaster Response [International Team (http://www.teamrubiconusa.org)]; Children of War [Show Your Support - Children of War Foundation (http://www.cowf.org)]; devex [VOLUNTEER, NURSE | Devex (https://www.devex.com/jobs/volunteer-nurse-969760)]

2. Em uma abordagem diferente, a Escola de Enfermagem Johns Hopkins tentou fornecer apoio psicológico/saúde mental remotamente. Preparou vídeos e compilou recursos para ajuda psicossocial para nossa instituição parceira na Ucrânia. [Psychosocial Resources - Ukraine (http://www.jhu.edu)].

3. Advogar pela paz e pela proteção dos profissionais de saúde. Os profissionais de saúde em todo o país estão arriscando suas vidas para atender aqueles que precisam de serviços médicos, e eles e seus pacientes nunca deveriam ser alvos. Como uma das profissões mais confiáveis, os enfermeiros podem chamar a atenção para as necessidades humanitárias e pedir o fim da violência. Você pode assinar uma petição condenando a invasão da Ucrânia e os ataques militares a enfermeiros e outros profissionais de saúde [Assine a petição: #NURSESFORPEACE (https://www.gopetition.com/petitions/nursesforpeace.html)] ou advogue pela paz usando a hashtag #NursesforPeace on social media. Veja a declaração do Conselho Internacional de Enfermeiros aqui: https://www.icn.ch/system/files/documents/2022-03/Statement_ICN_EFN_EFNNMA_1.pdf.

4. Doar. Doar dinheiro para organizações mais familiarizadas com as circunstâncias é altamente valioso. Doe fundos (em vez de bens) para organizações respeitáveis para apoiar os esforços em campo. As equipes em campo, familiarizadas com o contexto cultural, estão melhor posicionadas para uma resposta coordenada na medida do possível. Exemplos incluem: The ICN Humanitarian Fund (https://icn-shop.myshopify.com/); Médecins San Frontières/Médicos Sem Fronteiras (https://donate.doctorswithoutborders.org/secure/donate); The World Central Kitchen [Doe para a World Central Kitchen (http://www.wck.org)]; Equipes de Socorro Internacional [Crisis in Ukraine | Doe - Equipes de Socorro Internacional (http://www.irteams.org)]

5. Pensar a longo prazo e apoiar os refugiados. As Nações Unidas estão alertando que o conflito contínuo na Ucrânia pode deslocar 10 milhões de pessoas - um número impressionante que a tornaria uma das maiores crises de refugiados do planeta. Muitas pessoas serão deslocadas nos próximos anos. Alguns enfermeiros se tornarão refugiados e deslocados de sua fonte de subsistência. Eles precisarão de apoio para se restabelecer se não puderem retornar ao seu país de origem. O ajuste social, econômico e psicológico pode ser extremamente desafiador. Os enfermeiros podem oferecer compaixão e ajuda aos refugiados em seus esforços de adaptação. Os enfermeiros devem mostrar liderança ao demonstrar empatia aos refugiados, sejam da Ucrânia ou de outros lugares. Entre em contato com o ACNUR local (Agência de Refugiados da ONU) ou doe Comitê Internacional de Refugiados (https://help.rescue.org/donate-br).

Enfermeiros na Ucrânia serão levados ao limite no cuidado dos feridos e doentes. Enfermeiros de todo o mundo devem se unir e se solidarizar com os enfermeiros da Ucrânia. Os enfermeiros devem enviar uma mensagem importante ao mundo sobre os valores que representam, e aos enfermeiros ucranianos de que não estão sozinhos. Em tempos de crises humanitárias como esta, atos de compaixão e generosidade podem fazer uma diferença importante.

Referências

• ¹
  The Un Refugee Agency. Refugees fleeing Ukraine (since 24 February 2022) [Homepage]. 2022 [cited 2020 Apr 13]. Available from: https://data2.unhcr.org/en/situations/ukraine
  » https://data2.unhcr.org/en/situations/ukraine
• ²
  World Health Organization. WHO is working day and night to keep medical supply chains open and preserve Ukraine's health system [Internet]. Geneva: WHO; 2022 [cited 2020 Apr 13]. Available from: https://www.euro.who.int/en/media-centre/sections/press-releases/2022/who-is-working-day-and-night-to-keep-medical-supply-chains-open-and-preserve-ukraines-health-system#:~:text=Since%20Russia's%20military%20offensive%20began,meet%20the%20immediate%20health%20needs
  » https://www.euro.who.int/en/media-centre/sections/press-releases/2022/who-is-working-day-and-night-to-keep-medical-supply-chains-open-and-preserve-ukraines-health-system#:~:text=Since%20Russia's%20military%20offensive%20began,meet%20the%20immediate%20health%20needs
• ³
  Treisman R. The WHO say Ukrainian health care is under attack, and it needs more funds to help [Internet]. 17 Mar 2022 [cited 2022 Apr 13]. Available from: https://wusfnews.wusf.usf.edu/2022-03-17/the-who-says-ukrainian-health-care-is-under-attack-and-it-needs-more-funds-to-help
  » https://wusfnews.wusf.usf.edu/2022-03-17/the-who-says-ukrainian-health-care-is-under-attack-and-it-needs-more-funds-to-help
• ⁴
  World Health Organization. WHO records 100th attack on health care in Ukraine [Internet]. 7 Apr. 2022 [cited 2022 Apr 13]. Available from: https://www.who.int/news/item/07-04-2022-who-records-100th-attack-on-health-care-in-ukraine
  » https://www.who.int/news/item/07-04-2022-who-records-100th-attack-on-health-care-in-ukraine
• ⁵
  Fleming L. How the war in Ukraine is affecting the mental health of survivors [Internet]. 24 Apr. 2022 [cited 2022 Apr 25]. Available from: https://www.verywellmind.com/ukrainian-mental-health-during-the-war-5225389#:~:text=Key%20Takeaways,to%20donate%20to%20relief%20organizations
  » https://www.verywellmind.com/ukrainian-mental-health-during-the-war-5225389#:~:text=Key%20Takeaways,to%20donate%20to%20relief%20organizations

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  08 Jul 2022
• Data do Fascículo
  2022