Política Editorial, DOI e (in)visibilidade das publicações científicas

Resgatar e valorizar a ciência já produzida é fundamental. Depreende-se desse entendimento a vigilância necessária para o fortalecimento da ciência em rede, que deve ser visível, de fácil acesso, perene em seus formatos na web, além de apresentar condições favoráveis aos parâmetros cienciométricos, de autenticidade e ética nas produções veiculadas e amplamente difundidas no ambiente virtual.

Sendo assim, publicar, comunicar e publicizar o conhecimento científico se constitui de etapas que subsidiam não apenas a responsabilidade do pesquisador, mas também do periódico em seu compromisso com a atual comunidade científica, bem como aos pesquisadores do futuro.

Nessa perspectiva, a área de editoração científica acompanha, e responde, a rapidez das inovações tecnológicas e transformações sociais. Assim, viu-se o surgimento de um novo empreendimento da editoração em ambiente digital, seja no modo gratuito, como no modo comercial, o que permite ao leitor interessado ter acesso imediato, completo, disponível e publicizado, em formatos cada vez mais inovadores e mutáveis, na medida em que a comunicação social evolui e que os editores de periódicos científicos assumem e implementam mudanças na forma de colocar seu produto ao alcance dos potenciais interessados.

Entre as necessidades decorrentes da migração da publicação científica impressa para o meio digital, na maioria dos periódicos científicos, está aquela centrada na importância de manter as produções localizáveis e seguras, resultando dessa demanda o desenvolvimento de estratégias que vêm sendo implementadas como forma de identificar pesquisas científicas, a exemplo do Digital Object Identifier (DOI). Este serviço é adotado globalmente e propicia uma padronização e preservação das informações do material publicado^1-2.

A criação do DOI, no final da década de 1990, surgiu a partir de discussões da indústria editorial que reconheceram a necessidade de identificar de forma única os conteúdos publicados^2-3. Nesse movimento, o primeiro registro por esse identificador único ocorreu em 2000, pela Crossref Registration Agency². Desde então, o número de registros cresceu de forma significativa sendo que, atualmente, essa prática é difundida e utilizada mundialmente.

O DOI, composto por números e letras, auxilia, portanto, na localização de produções científicas. Por conseguinte, os principais estilos de formatação de referências, como Vancouver, American Psychological Association (APA) Style e American Medical Association (AMA) Manual Style atribuem o DOI anexado à referência, complementando-a, de modo a propiciar a localização e acesso imediato à produção citada. Resultam desse processo não apenas a identificação mas, também, a confiabilidade para o acesso de informações amplamente difundidas no meio digital.

Ademais, os identificadores possuem alguns conceitos relacionados que ressaltam a sua importância, sendo: singularidade, resolução, interoperabilidade e persistência³, dos quais enfatiza-se a última característica, considerando que a partir do momento em que exista a atribuição de um identificador sempre haverá referência ao material citado e, desse modo, configura-se como uma conexão com o futuro.

Ao considerar o progresso científico, enfatiza-se a importância do conhecimento prévio produzido na ciência e, portanto, na conceituação de novas pesquisas. Nesse sentido, embora o primeiro registro por DOI tenha ocorrido apenas no ano 2000^2-3, ressalta-se que existe a possibilidade de cadastrar artigos antigos, intitulados “back file”.

Na comunidade científica, é consenso o entendimento sobre o qual repousa a importância das pesquisas atuais para o desenvolvimento da ciência. Tal preocupação é pertinente à dinâmica social, que é de igual modo transitória e complexa. Entretanto, primar pelos registros das produções anteriores ao período no qual as revistas adotaram a utilização do DOI, sinaliza compromisso com o processo de desenvolvimento da ciência do agora, com vistas à valorização da ciência que se vislumbra no futuro: robusta, perene e com identidade forjada em sua própria historicidade.

De fato, esta discussão é fundamental, visto que o DOI pode ser um dos caminhos para consolidar o periódico nas indexações em bases de dados para obter melhores índices bibliométricos e, assim sendo, ampliar a sua visibilidade diante de demais revistas científicas. Essa é uma posição que deve ser refletida pela comunidade editorial da Enfermagem, na reiteração de seu compromisso com a própria Ciência da Enfermagem.

Ademais, considerando que esta estratégia é globalmente utilizada, faz-se mister interrogar: existe alguma lacuna em sua utilização? A resposta para esse questionamento está relacionada com o compromisso na editoração científica inerente a cada periódico; embora alguns deles adotem o identificador digital como política para a coleção integral, percebe-se que, na maioria, essa estratégia ainda está restrita a artigos recém-publicados. Assim, é imperioso também valorizar a literatura científica pregressa - a base do conhecimento atual.

Desse modo, defendemos a necessidade de adoção do princípio de equidade no resgate e valorização da ciência, razão pela qual recomendamos a implementação retroativa da identificação digital por DOI. Esta medida assegura não apenas a dinâmica acelerada dos parâmetros para as boas práticas editoriais, mas também a configuração dos periódicos como guardiões do conhecimento científico, que deve ser perene em sua trajetória para que alcancemos a real compreensão dos desafios atuais e dos vindouros na Ciência da Enfermagem.

Referências

• ¹
  Gorraiz J, Melero-Fuentes D, Gumpenberger C, Valderrama-Zurián JC. Availability of digital object identifiers (DOIs) in Web of Science and Scopus. J Informetr. 2016;10(1):98-109. https://doi.org/10.1016/j.joi.2015.11.008
  » https://doi.org/10.1016/j.joi.2015.11.008
• ²
  International DOI Foundation. DOI® Handbook [Internet]. International DOI Foundation; 2015 [cited 2022 Jun 02]. Available from: https://www.doi.org/hb.html
  » https://www.doi.org/hb.html
• ³
  Paskin N. Digital object identifier (DOI®) system. In: Bates MJ, Maack MN, editors. Encyclopedia of Library and Information Sciences. Boca Raton, FL: CRC Press; 2010. p. 1586-92. https://doi.org/10.1081/E-ELIS3-120044418
  » https://doi.org/10.1081/E-ELIS3-120044418

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  01 Ago 2022
• Data do Fascículo
  2022