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Gestações na adolescência e adesão à consulta puerperal* * Este artigo refere-se à chamada temática “Saúde dos adolescentes e o papel do enfermeiro”. Editado pela Universidade de São Paulo, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Centro Colaborador da OPAS/OMS para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem, Ribeirão Preto, SP, Brasil. A publicação deste suplemento foi apoiada pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS). Os artigos passaram pelo processo padrão de revisão por pares da revista para suplementos. As opiniões expressas neste suplemento são exclusivas dos autores e não representam as opiniões da OPAS/OMS.

Resumo

Objetivo:

identificar o perfil das gestações e prevalência de adesão à consulta puerperal entre puérperas adolescentes comparadas a não adolescentes, assistidas em um ambulatório de hospital de ensino do interior de Minas Gerais.

Método:

estudo transversal aninhado a uma coorte de puérperas; amostra não probabilística, por conveniência; gestação na adolescência - variável dependente; sociodemográficas, clínicas e obstétricas - variáveis independentes. Utilizado instrumento próprio, testado mediante piloto. Calculadas razões de prevalência e intervalos de confiança; aplicados testes qui-quadrado e exato de Fisher, considerando nível de significância de 5%, e regressão de Poisson com variância robusta.

Resultados:

entrevistadas 121 puérperas, 18,2% (22) adolescentes, verificou-se entre elas baixa escolaridade (p<0,001); menor número de gestações cursando com patologias (p = 0,016); predomínio de primíparas (p<0,001) e maiores índices de parto normal (p = 0,032). A prevalência de adesão à consulta puerperal foi de 34,7% e de 31,8% para adolescentes. Não houve diferenças em relação à adesão e idade das puérperas.

Conclusão:

adolescentes não apresentaram desfechos obstétricos e neonatais negativos, embora tenha sido observada menor escolaridade. Identificou-se associação entre idade precoce e ausência de doenças na gestação e maiores índices de partos vaginais normais. A adesão ao retorno puerperal apresentou-se pouco inferior, porém sem significância estatística.

Descritores:
Adolescente; Gravidez na Adolescência; Período Pós-Parto; Prevalência; Prevenção de Doenças; Cooperação do Paciente

Abstract

Objective:

to determine the profile of pregnancies and prevalence of adherence to puerperal consultation among adolescent puerperal women compared to non-adolescent puerperal women served in an outpatient clinic of a teaching hospital in the rural area of Minas Gerais.

Method:

cross-sectional study nested in a cohort of puerperal women; non-probabilistic sample, by convenience; adolescent pregnancy - dependent variable; sociodemographic, clinical and obstetric - independent variables. It employed its own instrument, tested by means of a pilot test. Prevalence ratios and confidence intervals were calculated; chi-square and Fisher’s exact tests were applied, considering a significance level of 5%, and Poisson regression with robust variance.

Results:

we interviewed 121 puerperal women, of which 18.2% (22) were adolescents, and observed among them low educational level (p<0.001); fewer pregnancies with pathologies (p=0.016); predominance of primiparous women (p<0.001), and higher rates of normal delivery (p=0.032). The prevalence of adherence to puerperal consultation was 34.7% and 31.8% for adolescents. There were no differences regarding adherence and age of puerperal women.

Conclusion:

adolescents did not present negative obstetric and neonatal outcomes, although a lower educational level was observed. Association was found between early age and absence of diseases during pregnancy and higher rates of normal vaginal deliveries. Adherence to puerperal return visit was slightly lower, but without statistical significance.

Descriptors:
Adolescent; Pregnancy in Adolescence; Postpartum Period; Prevalence; Disease Prevention; Patient Compliance

Resumen

Objetivo:

identificar el perfil de embarazos y la prevalencia de adherencia a las consultas puerperales entre madres adolescentes frente a las no adolescentes, atendidas en un hospital clínico universitario en el interior de Minas Gerais (Brasil).

Método:

estudio transversal anidado en un grupo de puérperas; muestra no probabilística, por conveniencia; embarazo adolescente - variable dependiente; variables sociodemográficas, clínicas y obstétricas- variables independientes. Se utilizó instrumento propio, prueba piloto. Se calcularon razones de prevalencia e intervalos de confianza; Se aplicaron las pruebas chi-cuadrado y exacta de Fisher, considerando un nivel de significancia del 5%, y regresión de Poisson con varianza robusta.

Resultados:

se entrevistaron a 121 puérperas, el 18,2% (22) eran adolescentes, siendo confirmado entre ellas una baja escolaridad (p<0,001); menor número de embarazos con patologías (p = 0,016); predominando las primíparas (p<0,001) y mayores tasas de parto normal (p = 0,032). La prevalencia de adherencia a la consulta puerperal fue del 34,7% y de 31,8% en adolescentes. No hubo diferencias en cuanto a la adherencia y la edad de las puérperas.

Conclusión:

las adolescentes no presentaron resultados obstétricos y neonatales negativos, aunque se observó menor escolaridad. Se identificó una asociación entre la edad precoz y la ausencia de enfermedades durante el embarazo y mayores tasas de partos vaginales normales. La adherencia al retorno puerperal fue ligeramente inferior, pero sin significación estadística.

Descriptores:
Adolescente; Embarazo en Adolescencia; Periodo Posparto; Prevalencia; Prevención de Enfermedades; Cooperación del Paciente

Destaques:

(1) Puérperas adolescentes apresentaram baixa escolaridade.

(2) Associação entre idade precoce e ausência de doenças na gestação.

(3) Houve maiores índices de partos vaginais normais entre adolescentes.

(4) Adolescentes não apresentaram desfechos obstétricos e neonatais negativos.

(5) Não houve diferenças em relação à adesão e idade das puérperas.

Introdução

Adolescentes representam cerca de 40% da população brasileira11. World Health Organization. Adolescent Health 2021 [Internet]. Geneva: WHO; 2021 [cited 2022 Apr 27]. Available from: Available from: https://www.who.int/westernpacific/health-topics/adolescent-health
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. A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera ser a adolescência a fase da vida entre a infância e idade adulta, envolvendo a faixa etária dos 10 até os 19 anos de idade11. World Health Organization. Adolescent Health 2021 [Internet]. Geneva: WHO; 2021 [cited 2022 Apr 27]. Available from: Available from: https://www.who.int/westernpacific/health-topics/adolescent-health
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. Durante ela ocorrem rápidas e progressivas mudanças físicas, cognitivas e psicossociais que tendem a afetar o modo de sentir, pensar, tomar decisões e interagir com o mundo. Trata-se de período significativo para a constituição de subjetividades, escolha de comportamentos e estabelecimento da identidade11. World Health Organization. Adolescent Health 2021 [Internet]. Geneva: WHO; 2021 [cited 2022 Apr 27]. Available from: Available from: https://www.who.int/westernpacific/health-topics/adolescent-health
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.

Entre inúmeras pautas da adolescência, encontram-se a sexualidade, questões de gênero e de comportamento sexual e reprodutivo. Estudo brasileiro apontou que 27,5% dos adolescentes já haviam iniciado a atividade sexual, e destes, 66% faziam uso de preservativo22. Felisbino-Mendes MS, Paula TF, Machado IE, Oliveira-Campos M, Malta DC. Analysis of sexual and reproductive health indicators of Brazilian adolescents, 2009, 2012 and 2015. Rev Bras Epidemiol. 2018;21(suppl 1):E180013.supl.1. https://doi.org/10.1590/1980-549720180013.supl.1
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. Estudo realizado com 499 adolescentes com idade entre 12 e 17 anos revelou, por sua vez, que 47,3% já tinham iniciado atividades sexuais; a idade média da sexarca foi de 14,1 anos, com tendência de iniciação sexual precoce no sexo masculino, tendo sido um terço das primeiras relações sexuais desprotegidas (33,9%)33. Vieira KJ, Barbosa NG, Dionísio LA, Santarato N, Monteiro JCS, Gomes-Sponholz FA. Initiation of sexual activity and protected sex in adolescentes. Esc Anna Nery. 2021;25(3):e20200066. https://doi.org/10.1590/2177-9465-EAN-2020-0066
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.

A atividade sexual precoce e desprotegida aumenta chances de ocorrência da gravidez na adolescência. Dados da OMS apontam que a cada ano, mais de 21 milhões de meninas com idade entre 15 e 19 anos engravidam no mundo todo e, destas, mais de 10 milhões das gestações não foram planejadas44. Darroch J, Woog V, Bankole A, Ashford LS. Adding it up: costs and benefits of meeting the contraceptive needs of adolescents. New York: Guttmacher Institute; 2016..

Em território nacional, registros do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus) sinalizam mais de 29 milhões de nascimentos no período de 2010 a 2019. Destes, doze mães tinham idade inferior a 10 anos; 252 mil (0,9%) idade entre 10 e 14 anos e cerca de 5 milhões (17%), de 15 a 19 anos55. Ministério da Saúde (BR). Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde. Nascidos vivos por idade da mãe, 2010 a 2019 [Homepage]. 2021 [ cited 2021 Dec 04]. Available from: Available from: https://www.tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?/sinasc/cnv/nv.br.def
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. Nesse período, as gestações na adolescência representaram cerca de 18% de todos os nascimentos no território nacional e evidenciaram tendência estável55. Ministério da Saúde (BR). Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde. Nascidos vivos por idade da mãe, 2010 a 2019 [Homepage]. 2021 [ cited 2021 Dec 04]. Available from: Available from: https://www.tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?/sinasc/cnv/nv.br.def
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Mães adolescentes possuem maior risco de desenvolver pré-eclâmpsia, endometrite puerperal e outras infecções; já os seus filhos neonatos possuem maior risco de baixo peso ao nascer e nascimento prematuro66. World Health Organization. Global health estimates 2015: deaths by cause, age, sex, by country and by region, 2000-2015 [Internet]. Geneva: WHO ; 2016 [cited 2021 Dec 04]. Available from: Available from: https://www.who.int/data/global-health-estimates
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. Ainda, gestantes adolescentes que não possuem relacionamento estável podem experimentar estigma, rejeição e violência de todos os tipos por seus parceiros sexuais, pais e até mesmo por seus pares77. World Health Organization; The Joint United Nations Programme on HIV/Aids. Global standards for quality health-care services for adolescents: a guide to implement a standards-driven approach to improve the quality of health care services for adolescents [Internet]. Geneva: WHO ; 2015 [cited 2022 Apr 27]. Available from: Available from: https://apps.who.int/iris/handle/10665/183935
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-88. Cabral CS, Brandão ER. Adolescent pregnancy, sexual initiation, and gender: perspectives in dispute. Cad Saúde Pública. 2020;36(8):e00029420. https://doi.org/10.1590/0102-311X00029420
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.

Gestações e nascimentos na adolescência tendem a aumentar as taxas de evasão escolar99. World Health Organization. Every woman every child. The global strategy for women`s, children`s and adolescents` health (2016-2030) [Internet]. Geneva: WHO ; 2015 [cited 2022 Apr 27]. Available from: Available from: https://www.everywomaneverychild.org/wp-content/uploads/2017/10/EWEC_GSUpdate_Brochure_EN_2017_web.pdf
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, aspecto que contribui para a perpetuação do ciclo de baixa escolaridade associado a baixos salários, escassas oportunidades de emprego e capacitação, aumentando as desigualdades sociais1010. Batyra E. Increasing educational disparities in the timing of motherhood in the Andean region: a cohort perspective. Popul Res Policy Rev. 2020;39:283-309. https://doi.org/10.1007/s11113-019-09535-0
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.

Dado seus impactos, a OMS e o Ministério da Saúde (MS) classificam a gravidez na adolescência como uma gestação de alto risco devido à possibilidade de repercussões sobre a saúde e qualidade de vida da mãe e do recém-nascido (RN). Neste estudo, objetiva-se avaliar os desfechos no puerpério de mulheres que gestaram na adolescência. O puerpério compreende o processo involutivo após o parto; de tempo indeterminado, abarca alterações hormonais e imunológicas para a mulher1111. Sherer ML, Posillico CK, Schwarz JM. The psychoimmunology of pregnancy. Front Neuroendocrinol. 2018;51:25-35. https://doi.org/10.1016/j.yfrne.2017.10.006
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, além de ser período de intensa vulnerabilidade física e emocional.

A fim de evitar e identificar intercorrências nesse período, o Ministério da Saúde recomenda que, antes da alta hospitalar, a mulher seja direcionada para a unidade onde realizou a assistência pré-natal, munida com relatório completo sobre o nascimento e evolução pós-parto imediata e mediata e realize ao menos uma consulta entre sete e 42 dias após o nascimento1212. Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. Atenção ao pré-natal de baixo risco/Série A. Normas e Manuais Técnicos.Cadernos de Atenção Básica n° 32 [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2012 [cited 2022 Apr 27]. Available from: Available from: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cadernos_atencao_basica_32_prenatal.pdf
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-1313. Ministério da Saúde (BR). Portaria nº 1.459, de 24 de junho de 2011. Institui, no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS - a Rede Cegonha. [Internet]. Diário Oficial da União, 1 jul. 2011 [cited 2022 Apr 27]. Available from: Available from: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt1459_24_06_2011.html
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. Adicionalmente, recomenda-se ao menos uma visita domiciliar na primeira semana após a alta; entretanto, caso o recém-nascido tenha sido classificado como de risco, esta deve ocorrer nos primeiros três dias1212. Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. Atenção ao pré-natal de baixo risco/Série A. Normas e Manuais Técnicos.Cadernos de Atenção Básica n° 32 [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2012 [cited 2022 Apr 27]. Available from: Available from: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cadernos_atencao_basica_32_prenatal.pdf
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-1313. Ministério da Saúde (BR). Portaria nº 1.459, de 24 de junho de 2011. Institui, no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS - a Rede Cegonha. [Internet]. Diário Oficial da União, 1 jul. 2011 [cited 2022 Apr 27]. Available from: Available from: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt1459_24_06_2011.html
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Ainda que preconizada apenas uma consulta puerperal no território nacional, o índice de adesão varia de 16,8 a 58%1414. Monteiro MFV, Barbosa CP, Vertamatti MAF, Tavares MNA, Carvalho ACO, Alencar APA. Access to public health services and integral care for women during the puerperal gravid period in Ceará, Brazil. BMC. 2019;19:851. https://doi.org/10.1186/s12913-019-4566-3
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-1515. Baratieri S, Natal S. Postpartum program actions in primary health care: an integrative review. Ciênc Saúde Colet. 2019;24(11):4227-38. https://doi.org/10.1590/1413-812320182411.28112017
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. Índice este muito aquém do desejado, quando comparado a dados de outros países como o Reino Unido, em que a adesão à consulta puerperal apresenta índice de 91%1515. Baratieri S, Natal S. Postpartum program actions in primary health care: an integrative review. Ciênc Saúde Colet. 2019;24(11):4227-38. https://doi.org/10.1590/1413-812320182411.28112017
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.

Ao tomar a magnitude da gestação na adolescência no Brasil, a escassez de estudos na temática do puerpério na adolescência e os possíveis impactos nos desfechos maternos e neonatais, o estudo se justifica. O objetivo foi identificar o perfil das gestações e prevalência de adesão à consulta puerperal entre puérperas adolescentes comparadas a não adolescentes, assistidas em um ambulatório de hospital de ensino do interior de Minas Gerais.

Método

Trata-se de um estudo transversal aninhado a uma coorte de puérperas, em que foram comparados desfechos de puérperas adolescentes com a de não adolescentes, assistidas por serviço ambulatorial de pré-natal e puerpério de um hospital de ensino do interior de Minas Gerais. A instituição desenvolve o pré-natal de gestantes de risco habitual do distrito sanitário onde se localiza (cerca de 150 mil habitantes), assim como é referência para gestações de alto risco para 27 municípios do Triângulo Sul de Minas Gerais. Em consonância com o preconizado no Brasil, a puérpera é encaminhada para unidade onde realizou seu pré-natal, para o seguimento puerperal1313. Ministério da Saúde (BR). Portaria nº 1.459, de 24 de junho de 2011. Institui, no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS - a Rede Cegonha. [Internet]. Diário Oficial da União, 1 jul. 2011 [cited 2022 Apr 27]. Available from: Available from: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt1459_24_06_2011.html
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. De acordo com dados institucionais, no período de coleta dos dados - agosto a dezembro de 2019 - foram realizados 573 partos.

A captação das participantes em potencial e a coleta de dados foi realizada pela primeira autora deste estudo na enfermaria de Alojamento Conjunto (AC) do hospital mencionado e, posteriormente, apenas para checar o comparecimento, nos registros do ambulatório.

Os critérios de inclusão adotados foram: ser puérpera em assistência nas enfermarias de AC do hospital mencionado, com previsão de alta hospitalar; estar hemodinamicamente estável, consciente e orientada; estar com o retorno puerperal agendado. Como critério de não inclusão adotou-se: puérperas cujo retorno estava agendado para Unidades Básicas de Saúde (UBS) ou Unidades de Saúde da Família (USF). Desse modo, triavam-se puérperas que seriam seguidas pelo ambulatório do hospital elencado ao estudo.

A identificação dos critérios do estudo era realizada junto à enfermeira responsável pela enfermaria do AC. Respeitados os critérios de inclusão e não inclusão, não houve exclusões ou perdas durante a coleta.

A amostragem foi por conveniência, não probabilística, durante o período estabelecido para coleta dos dados. No total foram entrevistadas 121 puérperas, que corresponderam a 21% de todas as puérperas assistidas nas enfermarias de Alojamento Conjunto no período, e 100% das que possuíam critérios para o agendamento do retorno institucional.

Coleta de dados

A coleta de dados foi realizada prospectivamente em dois momentos distintos. Após serem orientadas e consentirem participar do estudo, todas as puérperas foram entrevistadas e dados foram complementados com registros de prontuários. A abordagem, coleta de dados de prontuários e entrevista foram realizadas por dois pesquisadores treinados e calibrados pelo pesquisador principal.

Os dados foram coletados em instrumento próprio, testado mediante estudo piloto, que não demonstrou necessidade de adaptações. Foram obtidos dados sociodemográficos (idade; cor/raça autodeclarada; se viviam com companheiro; escolaridade; se exerciam atividade remunerada e qual atividade exerciam), clínicos (hábitos como tabagismo, etilismo e uso de drogas ilícitas; doenças crônicas e/ou gestacionais) e obstétricos (número de gestações; partos; abortos; idade gestacional em semanas considerada no momento do parto; tipo de parto; peso de nascimento do recém-nascido; se houve intercorrências pós-parto), a partir de entrevista registrada no instrumento. Consultaram-se, nos dados de prontuários, informações específicas sobre o parto, neonato, indicação para retorno na instituição e informações incompletas ofertadas pela participante.

Em um segundo momento, a partir da listagem de consultas agendadas para a data no sistema informatizado do hospital (prontuários eletrônicos), os pesquisadores verificaram, de modo independente, presença ou falta à consulta agendada para as puérperas inclusas na amostra de estudo, sendo as respostas validadas após a digitação no banco de dados.

Análise estatística

A variável dependente do estudo foi a gestação na adolescência, de acordo com a definição da OMS, na faixa etária entre 10 e 19 anos. Dados sociodemográficos, clínicos e obstétricos foram investigados.

Após a coleta, os dados foram codificados, armazenados em planilha do Excel, com técnica de dupla digitação e posterior validação. Validado o banco, foi importado para o Statistical Package for the Social Sciences (versão 23). Inicialmente, realizaram-se análises descritivas (frequência, média, desvio-padrão, mínimo e máximo) das variáveis e os resultados foram apresentados em tabelas; foram aplicados testes qui-quadrado e exato de Fisher, considerando nível de significância de 5%; razões de prevalência e respectivos intervalos de confiança de 95% foram estimados.

A regressão de Poisson com variância robusta foi aplicada na análise múltipla, sendo indicada para análise de dados de contagem e para minimizar os efeitos da superestimação da razão de prevalência que ocorrem quando o desfecho é comum ou muito frequente na amostra1616. Barros AJD, Hirakata V. Alternatives for logistic regression in cross sectional studies: an empirical comparison of models that directly estimate the prevalence ratio. BMC Med Res Methodol. 2003;3:21. https://doi.org/10.1186/1471-2288-3-21
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. Utilizou-se o modelo em que as variáveis independentes foram inseridas em blocos na seguinte ordem: dados sociodemográficos, clínicos e obstétricos. Foram inclusas, no modelo, variáveis com valor de p<0,20 nas análises univariadas. A seleção de variáveis no modelo foi realizada pelo método de backward stepwise. Por este método, consideram-se todas as variáveis com valor igual a 0,20 na análise univariada para a estatística Wald na manutenção das variáveis durante a análise ajustada nível a nível, a fim de controlar potenciais fatores de confusão1717. Lopes AR, Trelha CS, Robazzi MLCC, Reis RA, Pereira MJB, Santos CB. Factors associated with musculoeskeletal symptons in professionals working sitting position. Rev Saúde Pública. 2021;55:2. https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2021055002617
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e identificar reais fatores de associação.

Aspectos éticos

Perante a indicação da enfermeira responsável pelo AC de ser a mulher participante em potencial, a pesquisadora dirigia-se à enfermaria, realizava o convite ao estudo e, com sinalização de interesse, lia de forma conjunta o Termo de Consentimento ou Assentimento Livre e Esclarecido com espaço para esclarecimentos de dúvidas. Nas situações em que a puérpera tinha idade inferior a 18 anos, seu responsável legal era previamente contatado, o estudo era apresentado a ele e seu consentimento registrado via Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, parecer número 2.148.698, de 30 de junho de 2017, e todo o seu desenvolvimento foi guiado e pautado pelas Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas envolvendo seres humanos contidas na Resolução 466/12/CNS/MS.

Resultados

Ao caracterizar as 121 puérperas que participaram do estudo, a idade média encontrada foi de 25,5 ± 6,7, variando entre 14 e 43 anos, e, destas, 22 (18,2%) eram adolescentes.

Entre as gestantes adolescentes entrevistadas, 40,9% (09) declararam-se de cor branca; 63,6% (14) eram casadas; apenas 9,1% (02) haviam completado o ensino médio e 50% (11) eram estudantes. Em relação aos hábitos, 18,2% (04) eram tabagistas e fumavam cerca de um maço por dia; 9,1% (02) declararam-se etilistas sociais e 9,1% (02) relataram fazer uso diário de maconha. Das entrevistadas, oito (36,4%) possuía alguma patologia, sendo mais frequentemente relatados o hipotireoidismo (9,1%) e a sífilis (9,1%).

A maioria das adolescentes (81,8% - 18) eram primíparas, embora 13,6% (03) estivessem gestantes pela segunda vez e uma (4,5%) encontrava-se na terceira gestação; 13,6% (03) tiveram experiência de abortamento prévio; todas (22) fizeram o pré-natal com número adequado de consultas (seis ou mais consultas) e 77,3% (17) das gestações tiveram como desfecho o parto normal. A maioria dos neonatos (90,9% - 20) nasceu a termo e nenhum nasceu com peso inferior a 2500 gramas. Três adolescentes (13,6%) tiveram intercorrências pós-parto, sendo descritos um caso de acretismo placentário, um caso de atonia uterina e um caso de hemorragia pós-parto.

A prevalência de adesão à consulta puerperal geral foi de 34,7%, e o índice entre as adolescentes foi de 31,8% (07) de retorno ao serviço. Não houve diferenças estatisticamente significantes em relação à adesão e idade das puérperas. Apenas duas adolescentes (9,1%) relataram contracepção no puerpério, sendo que em uma foi inserido o dispositivo intrauterino (DIU) pós-parto e a uma foi prescrito o anticoncepcional injetável.

A Tabela 1 apresenta os dados comparativos da caracterização amostral em relação às gestantes adolescentes e não adolescentes entrevistadas. Os dados apontaram baixa escolaridade entre as adolescentes; menor número de gestações cursando com patologias; predomínio de primíparas e com maiores índices de parto normal como desfecho.

Tabela 1
Caracterização sociodemográfica, clínica e obstétrica das gestações entre adolescentes e não adolescentes. Uberaba, MG, 2019

Na Tabela 2 apresenta-se o Modelo de Regressão Robusta de Poisson para explicar adesão à consulta puerperal associado a variáveis sociodemográficas, clínicas e obstétricas, incluindo a relação com a gestação na adolescência. Apresentaram significância as variáveis: uso de drogas ilícitas, que foi associada à não adesão, e a primiparidade, que explicou a adesão.

Tabela 2
Modelo de Regressão de Poisson para explicar adesão à consulta puerperal associado a variáveis sociodemográficas, clínicas e obstétricas. Uberaba, MG, 2019

Dessa forma, a gestação na adolescência não justificou a adesão ou não à consulta puerperal.

Discussão

O retorno puerperal é um momento estratégico para prevenir, detectar e tratar alterações que podem ser letais e/ou comprometedoras para a saúde da mulher e, consequentemente, de seu neonato.

As mulheres entrevistadas estavam na faixa etária considerada como idade fértil, assim como puérperas que participaram de outros estudos nacionais e internacionais1818. Gonçalves CS, Cesar JA, Marmitt LP, Gonçalves CV. Frequency and associated factors with failure to perform the puerperal consultation in a cohort study. Rev Bras Saúde Mater Infant. 2019;19(1):71-8. https://doi.org/10.1590/1806-93042019000100004
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/...

19. Fusquine RS, Lino NCF, Chagas ACF, Muller KTC. Adherence and rejection of puerperal Consultation by women of a basic health unit. Arch Health Sci. 2019;26(1):37-40. https://doi.org/10.17696/2318-3691.26.1.2019.1241
https://doi.org/https://doi.org/10.17696...

20. Vilela MLF, Pereira QLC. Puerperal consultation: guidance on its importance. J Health NPEPS. 2018;3(1):228-40. https://doi.org/10.30681/252610102908
https://doi.org/https://doi.org/10.30681...

21. Senoll DK, Yurdakul M, Ozkan SA. The effect of maternal fatigue on breastfeeding. Niger J Clin Pract. 2019;22:1662-8. https://doi.org/10.4103/njcp.njcp_576_18
https://doi.org/https://doi.org/10.4103/...

22. McNamara J, Townsend ML, Herbert JS. A systemic review of maternal wellbeing and its relationship with maternal fetal attachment and early postpartum bonding. PLoS One. 2019;14(7):e0220032. https://doi.org/10.1371/journal. pone.0220032
https://doi.org/https://doi.org/10.1371/...

23. Dev R, Kholer P, Feder M, Unger JA, Woods NF, Drake AL. A systematic review and meta-analysis of postpartum contraceptive use among women in low- and middle-income countries. Reprod Health. 2019;16:154. https://doi.org/10.1186/s12978-019-0824-4
https://doi.org/https://doi.org/10.1186/...
-2424. Wszołek KM, Żak E, Żurawska J, Olszewska J, Pięta B, Bojar I. Influence of socio-economic factors on emotional changes during the postnatal period. Ann Agric Environ Med. 2018;25(1):41-5. https://doi.org/10.26444/aaem/74486
https://doi.org/https://doi.org/10.26444...
. No entanto, a idade média (25 anos) foi inferior à encontrada em estudos realizados na região sul do país1818. Gonçalves CS, Cesar JA, Marmitt LP, Gonçalves CV. Frequency and associated factors with failure to perform the puerperal consultation in a cohort study. Rev Bras Saúde Mater Infant. 2019;19(1):71-8. https://doi.org/10.1590/1806-93042019000100004
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/...
e na Polônia2424. Wszołek KM, Żak E, Żurawska J, Olszewska J, Pięta B, Bojar I. Influence of socio-economic factors on emotional changes during the postnatal period. Ann Agric Environ Med. 2018;25(1):41-5. https://doi.org/10.26444/aaem/74486
https://doi.org/https://doi.org/10.26444...
. Embora tenham apresentado idade inferior a outros estudos, não foram encontradas associações entre adesão e idade materna.

Contudo, as adolescentes constituíram 18,5% da amostra de puérperas entrevistadas, semelhantemente aos dados nacionais55. Ministério da Saúde (BR). Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde. Nascidos vivos por idade da mãe, 2010 a 2019 [Homepage]. 2021 [ cited 2021 Dec 04]. Available from: Available from: https://www.tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?/sinasc/cnv/nv.br.def
https://www.tabnet.datasus.gov.br/cgi/ta...
, que apontam índices de 18% de gestações na adolescência. Mas o estudo mostrou superioridade aos dados encontrados na pesquisa Nascer no Brasil, realizada nos anos de 2011 e 2012, que revelou percentual de 11%2525. Viellas EF, Franco TL Netto, Gama SGN, Baldisserotto ML, Prado PF Neto, Rodrigues MR, et al. Childbirth care for adolescents and advanced maternal age in maternities linked to Rede Cegonha. Ciênc Saúde Colet. 2021;26(3):847-58. https://doi.org/10.1590/1413-81232021263.12492020
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/...
. Há indícios de tendência de ampliação de gestações entre adolescentes, aspecto que remete à ponderação da existência e alcance de ações da Atenção Básica voltadas à saúde de adolescentes e ao planejamento sexual e reprodutivo2626. D’Angelo A, Ferraguti G, Petrella C, Greco A, Ralli M, Vitali M, et al. Challenges for midwives healthcare practice in the next decade: COVID-19- Global climate chages - aging and pregnancy-gestational alchohol abuse. Clin Ter. 2021;171(1):e30-e36. https://doi.org/10.7417/CT.2021.2277
https://doi.org/https://doi.org/10.7417/...
, bem como à parceria entre saúde e escola.

O estudo apontou baixa escolaridade entre as gestantes adolescentes, semelhantemente aos dados apontados no estudo Nascer no Brasil2525. Viellas EF, Franco TL Netto, Gama SGN, Baldisserotto ML, Prado PF Neto, Rodrigues MR, et al. Childbirth care for adolescents and advanced maternal age in maternities linked to Rede Cegonha. Ciênc Saúde Colet. 2021;26(3):847-58. https://doi.org/10.1590/1413-81232021263.12492020
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/...
,2727. Assis TSC, Martinelli KG, Gama SGN, Santos ET Neto. Pregnancy in adolescence in Brazil: associated factors with maternal age. Rev Bras Saúde Mater Infant . 2021;21(4):1065-74. https://doi.org/10.1590/1806-93042021000400006
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/...
. Estudo qualitativo apontou que 75% das adolescentes interrompem os estudos devido à gestação em curso2828. Junqueira MPVD, Miranda EP, Resck ZMR, Freitas PS, Calheiros CAP, Felipe AOB. Assistance of health professionals in childbirth and postpartum: giving voice to adolescent women. Rev Eletr Enferm. 2022;24:59448. https://doi.org/10.5216/ree.v24.59448
https://doi.org/https://doi.org/10.5216/...
. A baixa escolaridade é determinante a ser considerada por profissionais. Estudo2929. Attanasio LB, Ranchoff BL, Geissler K. Perceived discrimination during the childbirth hospitalization and postpartum visit attendance and content: evidence from the Listening to Mothers in California survey. PLoS One . 2021;16(6):e0253055. https://doi.org/10.1371/jornal.pone.0253055
https://doi.org/https://doi.org/10.1371/...
realizado nos Estados Unidos relacionou baixa escolaridade de puérperas com se sentir discriminadas durante o período de internação e com baixos índices de adesão ao retorno pós-parto. As puérperas relataram dificuldades em compreender orientações, não perceberam esforços dos profissionais para adaptar o linguajar, apontando que isso contribuiu na sua decisão em não retornar ao serviço2929. Attanasio LB, Ranchoff BL, Geissler K. Perceived discrimination during the childbirth hospitalization and postpartum visit attendance and content: evidence from the Listening to Mothers in California survey. PLoS One . 2021;16(6):e0253055. https://doi.org/10.1371/jornal.pone.0253055
https://doi.org/https://doi.org/10.1371/...
. Embora não tenha sido encontrada associação entre escolaridade e adesão à consulta neste estudo, outros apontam menor adesão em mulheres com baixa escolaridade1818. Gonçalves CS, Cesar JA, Marmitt LP, Gonçalves CV. Frequency and associated factors with failure to perform the puerperal consultation in a cohort study. Rev Bras Saúde Mater Infant. 2019;19(1):71-8. https://doi.org/10.1590/1806-93042019000100004
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/...
,2929. Attanasio LB, Ranchoff BL, Geissler K. Perceived discrimination during the childbirth hospitalization and postpartum visit attendance and content: evidence from the Listening to Mothers in California survey. PLoS One . 2021;16(6):e0253055. https://doi.org/10.1371/jornal.pone.0253055
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-3030. Tessema ZT, Yazachew L, Tesema GA, Teshale AB. Determinants of postnatal care utilization in sub-Saharan Africa: a meta and multilevel analysis of data from 36 sub-saharan countries. Ital J Pediatr. 2020;46(1):175. https://doi.org/10.1186/s13052-020-00944
https://doi.org/https://doi.org/10.1186/...
.

Em relação aos hábitos, 18,2% das adolescentes eram tabagistas, 9,1% etilistas e 9,1% declararam consumo de drogas ilícitas (maconha). Ressalta-se que o uso de drogas ilícitas também se apresentou como um fator associado à não adesão. Estudo realizado no Rio Grande do Sul com puérperas revelou maiores índices de tabagismo (53,8%) e de consumo de álcool (63,3%), porém menor percentual de uso de drogas ilícitas (maconha) (3,8%)3131. Lopes KB, Ribeiro JP, Dilélio AS, Tavares AR, Franchini B, Hartmann M. Prevalence of psychoactive substance use in pregnant and puerperal women. Rev Enferm UFSM. 2021;11(e45):1-19. https://doi.org/10.5902/2179769254544
https://doi.org/https://doi.org/10.5902/...
. Os dados do estudo Nascer no Brasil2727. Assis TSC, Martinelli KG, Gama SGN, Santos ET Neto. Pregnancy in adolescence in Brazil: associated factors with maternal age. Rev Bras Saúde Mater Infant . 2021;21(4):1065-74. https://doi.org/10.1590/1806-93042021000400006
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apontaram menor índice de tabagismo entre as adolescentes (8,6%) e maior consumo de álcool (11,3%) quando comparados a dados do presente estudo. Cabem outras pesquisas para densificar evidências acerca do consumo de substâncias psicoativas por adolescentes e na gestação e puerpério, assim como a atuação do profissional diante de tais revelações. O uso de drogas ilícitas foi associado, neste estudo, à significância estatística de não adesão ao puerpério.

O índice de primiparidade na amostra foi de 34,7% e 81,8% entre as adolescentes, resultados semelhantes ao do estudo Nascer no Brasil2525. Viellas EF, Franco TL Netto, Gama SGN, Baldisserotto ML, Prado PF Neto, Rodrigues MR, et al. Childbirth care for adolescents and advanced maternal age in maternities linked to Rede Cegonha. Ciênc Saúde Colet. 2021;26(3):847-58. https://doi.org/10.1590/1413-81232021263.12492020
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26. D’Angelo A, Ferraguti G, Petrella C, Greco A, Ralli M, Vitali M, et al. Challenges for midwives healthcare practice in the next decade: COVID-19- Global climate chages - aging and pregnancy-gestational alchohol abuse. Clin Ter. 2021;171(1):e30-e36. https://doi.org/10.7417/CT.2021.2277
https://doi.org/https://doi.org/10.7417/...
-2727. Assis TSC, Martinelli KG, Gama SGN, Santos ET Neto. Pregnancy in adolescence in Brazil: associated factors with maternal age. Rev Bras Saúde Mater Infant . 2021;21(4):1065-74. https://doi.org/10.1590/1806-93042021000400006
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. Destaca-se que foi encontrada associação entre a primiparidade e maior adesão ao retorno puerperal. O acompanhamento puerperal de primíparas é estratégico para saúde da mulher e criança, em especial quando se considera a visita domiciliar3232. Correa MSM, Feliciano KVO, Pedrosa EM, Souza AI. Postpartum follow-up of women’s health. Cad Saúde Públ. 2017;33(3):e00136215. https://doi.org/10.1590/0102-311X00136215
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/...
. Na consulta de puerpério, há chances diferenciadas para identificar intercorrências como infecções e complicações, assim como obter informações acerca da saúde da mulher e sua família, realizar orientações sobre planejamento familiar e esclarecer dúvidas relacionadas ao cuidado da criança e ao aleitamento materno3333. Ribeiro JP, Lima FBC, Soares TMS, Oliveira BB, Klemtz FV, Lopes KB, et al. Needs felt by women in the puerperal period. Rev Enferm UFPE on line. 2019;13(1):61-9. https://doi.org/10.5205/1981-8963-v13i01a235022p61-69-2019
https://doi.org/https://doi.org/10.5205/...
.

Todas as puérperas adolescentes realizaram o pré-natal de maneira adequada, diferentemente dos dados apontados nos estudos Nascer no Brasil, que apontaram adesão inferior a 60%2525. Viellas EF, Franco TL Netto, Gama SGN, Baldisserotto ML, Prado PF Neto, Rodrigues MR, et al. Childbirth care for adolescents and advanced maternal age in maternities linked to Rede Cegonha. Ciênc Saúde Colet. 2021;26(3):847-58. https://doi.org/10.1590/1413-81232021263.12492020
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,2727. Assis TSC, Martinelli KG, Gama SGN, Santos ET Neto. Pregnancy in adolescence in Brazil: associated factors with maternal age. Rev Bras Saúde Mater Infant . 2021;21(4):1065-74. https://doi.org/10.1590/1806-93042021000400006
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/...
.

Dentre as adolescentes, 36,4% possuíam patologia, e encontrou-se maior associação entre ocorrência de patologias com o avançar da idade materna. Não foram encontrados casos de pré-eclâmpsia e/ou processos infecciosos, desfechos estes associados às gestações na adolescência em estudo multicêntrico internacional66. World Health Organization. Global health estimates 2015: deaths by cause, age, sex, by country and by region, 2000-2015 [Internet]. Geneva: WHO ; 2016 [cited 2021 Dec 04]. Available from: Available from: https://www.who.int/data/global-health-estimates
https://www.who.int/data/global-health-e...
. Em contrapartida, 9,1% das adolescentes reportaram caso de sífilis durante a gestação. A doença também foi relatada em estudo nacional sobre gestações na adolescência com frequência de 0,9%2727. Assis TSC, Martinelli KG, Gama SGN, Santos ET Neto. Pregnancy in adolescence in Brazil: associated factors with maternal age. Rev Bras Saúde Mater Infant . 2021;21(4):1065-74. https://doi.org/10.1590/1806-93042021000400006
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. A sífilis é um problema de saúde pública e reflete diretamente na qualidade assistencial do pré-natal e, também, no suporte da atenção em saúde relacionada às questões da saúde sexual e reprodutiva.

Quanto ao parto, os normais foram prevalentes na amostra deste estudo (77,3%), com índices superiores aos encontrados em estudos nacionais - variação de 62,4 a 65,7% dos partos2525. Viellas EF, Franco TL Netto, Gama SGN, Baldisserotto ML, Prado PF Neto, Rodrigues MR, et al. Childbirth care for adolescents and advanced maternal age in maternities linked to Rede Cegonha. Ciênc Saúde Colet. 2021;26(3):847-58. https://doi.org/10.1590/1413-81232021263.12492020
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,2727. Assis TSC, Martinelli KG, Gama SGN, Santos ET Neto. Pregnancy in adolescence in Brazil: associated factors with maternal age. Rev Bras Saúde Mater Infant . 2021;21(4):1065-74. https://doi.org/10.1590/1806-93042021000400006
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. Embora não tenha sido encontrada associação entre o tipo de parto e o retorno puerperal, estudo qualitativo apontou que mulheres que tiveram cesárea atribuíram maior importância ao retorno e visita domiciliar puerperal devido à avaliação profissional da ferida operatória3434. Batistti EES, Bertolini G, De Bortoli CFC, Beheregaray LR, Graminho FS. Recent mothers expectations on the puerperal review. Rev Baiana Saúde Públ. 2017;41(2):440-50. https://doi.org/10.22278/2318-2660.2017.v41.n2.a2357
https://doi.org/https://doi.org/10.22278...
.

Cabe ressaltar que embora haja descrição na literatura internacional de associação de gestações na adolescência, partos prematuros e baixo peso ao nascimento66. World Health Organization. Global health estimates 2015: deaths by cause, age, sex, by country and by region, 2000-2015 [Internet]. Geneva: WHO ; 2016 [cited 2021 Dec 04]. Available from: Available from: https://www.who.int/data/global-health-estimates
https://www.who.int/data/global-health-e...
, ela não foi encontrada pelo presente estudo, sendo o índice de prematuridade de 9,1% e inexistência de nascimento de neonatos com baixo peso entre as adolescentes estudadas.

Os resultados deste estudo apontaram baixa taxa de adesão à consulta puerperal (34,7%) na amostra total e índices inferiores entre puérperas adolescentes (31,8%), embora sem associação estatística com a idade. A adesão foi inferior quando comparada a taxas encontradas em estudos realizados no Mato Grosso do Sul (43,1%)1919. Fusquine RS, Lino NCF, Chagas ACF, Muller KTC. Adherence and rejection of puerperal Consultation by women of a basic health unit. Arch Health Sci. 2019;26(1):37-40. https://doi.org/10.17696/2318-3691.26.1.2019.1241
https://doi.org/https://doi.org/10.17696...
e no município de Botucatu - em que o índice de adesão foi de 46,9% nas UBS e de 69,7% nas USF3535. Oliveira LRA, Ferrari AP, Parada CMGL. Process and outcome of prenatal care according to the primary care models: a cohort study. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2019;27:e3058. https://doi.org/10.1590/1518-8345.2806.3058
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-, no estado do Paraná (51,1%)3636. Oliveira ICB, Silva RMM, Ferreira H, Ferrari RAP, Zilly A. Influence of epidemiological factors on follow-up and appearance of puerperal problems. Rev Baiana Enferm. 2020;34:e35763. https://doi.org/10.18471/rbe.v34.35763
https://doi.org/https://doi.org/10.18471...
e na região sul do Brasil (75,2%)1818. Gonçalves CS, Cesar JA, Marmitt LP, Gonçalves CV. Frequency and associated factors with failure to perform the puerperal consultation in a cohort study. Rev Bras Saúde Mater Infant. 2019;19(1):71-8. https://doi.org/10.1590/1806-93042019000100004
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. No entanto, o índice encontrado está dentro da taxa apontada em estudo de revisão de literatura que obteve índices de adesão variando de 16,8% a 58%1414. Monteiro MFV, Barbosa CP, Vertamatti MAF, Tavares MNA, Carvalho ACO, Alencar APA. Access to public health services and integral care for women during the puerperal gravid period in Ceará, Brazil. BMC. 2019;19:851. https://doi.org/10.1186/s12913-019-4566-3
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-1515. Baratieri S, Natal S. Postpartum program actions in primary health care: an integrative review. Ciênc Saúde Colet. 2019;24(11):4227-38. https://doi.org/10.1590/1413-812320182411.28112017
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/...
. Este índice está muito aquém do desejado, quando comparado aos dados do Reino Unido, em que a adesão à consulta puerperal apresenta índice de 91%1515. Baratieri S, Natal S. Postpartum program actions in primary health care: an integrative review. Ciênc Saúde Colet. 2019;24(11):4227-38. https://doi.org/10.1590/1413-812320182411.28112017
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/...
. Há que se mencionar que a assistência puerperal ainda é o ponto mais crítico, considerado o pior indicador da assistência ao ciclo gravídico-puerperal3737. Bittencourt SDA, Cunha EM, Domingues RMSM, Dias BAS, Dias MAB, Torres JA, et al. Nascer no Brasil: continuity of care during pregnancy and postpartum period for women and newborns. Rev Saúde Pública. 2020;54(100):1-10. https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2020054002021
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. Faz-se necessário repensar a atenção à saúde no puerpério, buscando motivos de adesão e não adesão ao seguimento puerperal.

A ausência ou insuficiência no seguimento puerperal pode repercutir em demandas desnecessárias aos serviços de urgência e emergência, destinados ao atendimento de problemas agudos de alta gravidade que requerem assistência rápida e imediata, principalmente quando há risco de morte iminente3838. Sousa KHJF, Damasceno CKCS, Almeida CAPL, Magalhães JM, Ferreira MA. Humanization in urgent and emergency services: contributions to nursing care. Rev Gaúcha Enferm. 2019;40:e20180263:1-10. https://doi.org/10.1590/1983-1447.2019.20180263
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/...
.

A literatura assinala pontos críticos da atenção puerperal: a atenção pós-parto ainda tem como foco principal o cuidado ao neonato3535. Oliveira LRA, Ferrari AP, Parada CMGL. Process and outcome of prenatal care according to the primary care models: a cohort study. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2019;27:e3058. https://doi.org/10.1590/1518-8345.2806.3058
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/...
; adesão à consulta articulada a intercorrências (curativo em detrimento do preventivo); necessidade de maior visibilidade à mulher e maior qualificação profissional no cuidado puerperal3232. Correa MSM, Feliciano KVO, Pedrosa EM, Souza AI. Postpartum follow-up of women’s health. Cad Saúde Públ. 2017;33(3):e00136215. https://doi.org/10.1590/0102-311X00136215
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.

Repensar a assistência puerperal implica identificar facilitadores e barreiras à adesão. Estudo americano identificou como fatores para não adesão a dificuldade de transporte, o cuidado demandado por outros filhos e o não engajamento profissional na busca ativa das faltas3939. Stuebe AM, Kending S, Suplee PD, D’Oria R. Consensus bundle on postpartum care basics: from birth to comprehensive postpartum visit. Obstet Gynecol. 2021;137(1):33-40. https://doi.org/10.1097/AOG0000000000004206
https://doi.org/https://doi.org/10.1097/...
. Além destes fatores, os autores identificaram que consultas e cuidados fragmentados para mãe e para o neonato dificultam a adesão3939. Stuebe AM, Kending S, Suplee PD, D’Oria R. Consensus bundle on postpartum care basics: from birth to comprehensive postpartum visit. Obstet Gynecol. 2021;137(1):33-40. https://doi.org/10.1097/AOG0000000000004206
https://doi.org/https://doi.org/10.1097/...
, já que muitas vezes a puérpera prioriza os cuidados com o filho em detrimento do próprio autocuidado.

Além disso, mesmo sendo recomendada uma única consulta, verifica-se que apenas este momento é insuficiente para abordar as particularidades da situação e realizar aconselhamento nos distintos temas que são previstos na agenda puerperal, como, por exemplo, depressão pós-parto, aleitamento materno, planejamento reprodutivo, alimentação saudável, prática de exercícios etc. Na direção de qualificar a consulta puerperal, há indicativos que o protocolo de atendimento poderia proporcionar uma consulta informativa, significativa e de qualidade4040. Grotell LA, Bryson L, Florence AM, Fogel J. Postpartum note template implementation demonstrates adherence to recommended counseling guidelines. J Med Syst. 2021;45(1):14. https://doi.org/10.1007/s10916-020-01692-6
https://doi.org/https://doi.org/10.1007/...
. Contudo, ao profissional cabe intervir na unicidade de vivência e necessidade de cada mulher, criança e família para que o sentido e significado da consulta puerperal se efetive. Ainda, ao se ponderar que a adolescência por si só já imputa questões, pode-se inferir a complexidade e abrangência que uma consulta de puerpério pode vir a tomar, questionando-se a suficiência de seguir rigidamente protocolos.

A vivência do puerpério na adolescência pode despertar senso de maturidade precoce devido à maternidade. Estudo apontou que as adolescentes recebem apoio instrumental de seus pais, ou seja, auxílio na sua rotina com o bebê, não reconhecendo profissionais de saúde como suporte4141. Cremonese L, Wilhelm LA, Prates LA, Paula CC, Sehnem GD, Ressel LB. Social support from the perspective of postpartum adolescents. Esc Anna Nery . 2017;21(4):e20170088. https://doi.org/10.1590/2177-9465-ean-2017-0088.21
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/...
. Este mesmo estudo identificou que a ausência de apoio repercutia em não acompanhamento de saúde, abandono da escola, isolamento social e relacionamentos conturbados com o companheiro e/ou família4141. Cremonese L, Wilhelm LA, Prates LA, Paula CC, Sehnem GD, Ressel LB. Social support from the perspective of postpartum adolescents. Esc Anna Nery . 2017;21(4):e20170088. https://doi.org/10.1590/2177-9465-ean-2017-0088.21
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/...
. Em contraponto, a visita domiciliar (VD) é apontada como alternativa para vinculação com adolescentes por favorecer compreensão do contexto de vida e individualidades da mulher adolescente1515. Baratieri S, Natal S. Postpartum program actions in primary health care: an integrative review. Ciênc Saúde Colet. 2019;24(11):4227-38. https://doi.org/10.1590/1413-812320182411.28112017
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,4141. Cremonese L, Wilhelm LA, Prates LA, Paula CC, Sehnem GD, Ressel LB. Social support from the perspective of postpartum adolescents. Esc Anna Nery . 2017;21(4):e20170088. https://doi.org/10.1590/2177-9465-ean-2017-0088.21
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. Ao ponderar o sentimento de abandono e negligência relatado pelas puérperas adolescentes2828. Junqueira MPVD, Miranda EP, Resck ZMR, Freitas PS, Calheiros CAP, Felipe AOB. Assistance of health professionals in childbirth and postpartum: giving voice to adolescent women. Rev Eletr Enferm. 2022;24:59448. https://doi.org/10.5216/ree.v24.59448
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, pode-se inferir que a busca ativa e a aposta na VD favorecem o entendimento e intervenção na singularidade da situação, além de poderem ser uma estratégia para adesão e vinculação com a equipe.

Destaca-se que, embora com baixa cobertura de retorno puerperal, as puérperas que são encaminhadas para a unidade de origem, onde realizaram o pré-natal, apresentam maior chance de retornar. Assim, a qualidade da atenção pré-natal se mostra como potencializadora da minimização dos efeitos socioeconômicos e adversidades nos indicadores de saúde materno-infantil3535. Oliveira LRA, Ferrari AP, Parada CMGL. Process and outcome of prenatal care according to the primary care models: a cohort study. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2019;27:e3058. https://doi.org/10.1590/1518-8345.2806.3058
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. Estes dados podem refletir nos resultados do presente estudo, que apontou ausência de desfechos desfavoráveis e adesão de todas as gestantes adolescentes à assistência pré-natal.

As gestações na adolescência no território nacional são classificadas como alto risco1212. Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. Atenção ao pré-natal de baixo risco/Série A. Normas e Manuais Técnicos.Cadernos de Atenção Básica n° 32 [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2012 [cited 2022 Apr 27]. Available from: Available from: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cadernos_atencao_basica_32_prenatal.pdf
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, e nestes casos, os enfermeiros obstetras podem atuar integralmente durante os cuidados pré e pós-natais4242. Ferreira AR Jr, Oliveira JT Filho, Albuquerque RAS, Siqueira DA, Rocha FAA. O enfermeiro no pré-natal de alto risco: papel profissional. Rev Baiana Enferm . 2017;41(3):650-67. https://doi.org/1022278/2318-2660.2017.v41.n3.a2524
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-4343. Oliveira ARC, Ventura CAA, Galante ML, Padilla M, Cunha A, Mendes IAC, et al. The current state of obstetric nursing in Brazil. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2021;29:e3510. https://doi.org/10.1590/1518-8345.0000.3510
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. No entanto, observa-se a restrição de sua atuação, que muitas vezes resume-se no acolhimento e ações pontuais de educação em saúde4242. Ferreira AR Jr, Oliveira JT Filho, Albuquerque RAS, Siqueira DA, Rocha FAA. O enfermeiro no pré-natal de alto risco: papel profissional. Rev Baiana Enferm . 2017;41(3):650-67. https://doi.org/1022278/2318-2660.2017.v41.n3.a2524
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. Cabe mencionar que mesmo diante do encaminhamento da adolescente ao ambulatório de alto risco, a AB deve ser a coordenadora do cuidado e permanecer em parceria colaborativa no acompanhamento dessa adolescente1313. Ministério da Saúde (BR). Portaria nº 1.459, de 24 de junho de 2011. Institui, no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS - a Rede Cegonha. [Internet]. Diário Oficial da União, 1 jul. 2011 [cited 2022 Apr 27]. Available from: Available from: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt1459_24_06_2011.html
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.

Além disso, os enfermeiros podem atuar junto às famílias, a fim de agir sobre o impacto da maternidade nessa fase da vida4444. Nascimento FC, Araujo AFP, Viduedo AFS, Ribeiro LM, Leon CGRMP, Schardosim JM. Scenario validation for clinical simulation: prenatal nursing consultation for adolescents. Rev Bras Enferm. 2022;75(3):e20200791. https://doi.org/10.1590/0034-7167-2020-0791
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, que pode repercutir na saúde mental, já que 26% a 50% das gestantes adolescentes apresentam depressão pós-parto4545. Booth L, Wedgeworth M, Turner A. Integrating optimal screening, intervention and referral of postpartum depression in adolescentes. Nurs Clin North Am. 2018;53(2):157-68. https://doi.org/10.1016/j.cnur.2018.01.003
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.

Destaca-se que a autonomia do enfermeiro na assistência ao ciclo gravídico-puerperal deve ser pautada em preparo técnico e científico4444. Nascimento FC, Araujo AFP, Viduedo AFS, Ribeiro LM, Leon CGRMP, Schardosim JM. Scenario validation for clinical simulation: prenatal nursing consultation for adolescents. Rev Bras Enferm. 2022;75(3):e20200791. https://doi.org/10.1590/0034-7167-2020-0791
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; no entanto, a assistência à gestação e puerpério na adolescência congrega conhecimentos e habilidades particulares do vivenciar a adolescência, quando acadêmicos finalistas demonstram despreparo técnico-científico e psicológico para atuarem com as adolescentes4646. Coimbra WS, Ferreira HC, Feijó ET, Souza RD, Coimbra LLM. Preparation of nursing students for the care of pregnant adolescents. Rev Min Enferm. 2018;22:e1102. https://doi.org/10.5935/1415-2762.20180030
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. A adolescência ainda se constitui em um desafio para profissão, uma vez que consiste em um grupo de alta vulnerabilidade social e necessita de cuidados qualificados e específicos4747. Egry EY, Fornari LF, Taminato M, Vigeta SMG, Fonseca RMGS. Indicators of Good Nursing Practices for vulnerable groups in Primary Health Care: a scoping review. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2021;29:e3488. https://doi.org/10.1590/1518-8345.5203.3488
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. Assim, a temática da adolescência e as gestações nesta fase precisam ser ampliadas nas formações em saúde.

Cuidar da gestante e puérpera adolescente significa proporcionar atenção integral sensível às especificidades da faixa etária e à transição relativa à maternidade, com ações que objetivem o empoderamento, o autocuidado e o planejamento reprodutivo, respeitando os aspectos éticos e legais do atendimento e os direitos dos adolescentes. A mãe adolescente precisa estar melhor informada e ser ouvida e atendida em seus direitos, sem nenhum tipo de restrição pelo simples fato de ser adolescente2525. Viellas EF, Franco TL Netto, Gama SGN, Baldisserotto ML, Prado PF Neto, Rodrigues MR, et al. Childbirth care for adolescents and advanced maternal age in maternities linked to Rede Cegonha. Ciênc Saúde Colet. 2021;26(3):847-58. https://doi.org/10.1590/1413-81232021263.12492020
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.

Os autores compreendem que uma limitação do estudo se refere à validade externa, uma vez que os dados não podem ser generalizados para outras realidades. Salienta-se que, a partir dos resultados encontrados, poderão ser realizados novos estudos sobre a temática, que sejam comprovados por meio de testes de hipóteses ou que utilizem delineamentos diferentes.

Conclusão

As gestações na adolescência na amostra de estudo não apontaram desfechos obstétricos e neonatais negativos, embora tenha sido observada menor escolaridade nesta população. Apesar das limitações do estudo quanto à sua generalização, estes dados podem refletir a importância e influência da adesão pré-natal nos desfechos favoráveis, uma vez que todas realizaram as consultas preconizadas. Identificou-se que a idade precoce apresentou associação com ausência de doenças durante a gestação e maiores índices de partos vaginais normais. A prevalência de adesão ao retorno puerperal apresentou-se pouco inferior às mulheres não adolescentes, mas esta diferença não foi estatisticamente significante.

A baixa adesão reforça a importância da consulta puerperal como ferramenta de prevenção e promoção à saúde materno-infantil e de adolescentes. O uso de maconha foi associado com baixa adesão à consulta puerperal.

Os resultados sugerem particularidades à atenção puerperal de mulheres mães adolescentes, com premência de se repensar os estruturantes da assistência puerperal e a formação de profissionais de saúde para as particularidades desta população.

As discussões traçadas poderão ser consideradas tanto na instituição onde foi realizado o estudo como em outras, dado que, em comparação com outros estudos, se identifica a necessidade de aumento da adesão em diferentes contextos e instituições.

Referências

  • *
    Este artigo refere-se à chamada temática “Saúde dos adolescentes e o papel do enfermeiro”. Editado pela Universidade de São Paulo, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Centro Colaborador da OPAS/OMS para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem, Ribeirão Preto, SP, Brasil. A publicação deste suplemento foi apoiada pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS). Os artigos passaram pelo processo padrão de revisão por pares da revista para suplementos. As opiniões expressas neste suplemento são exclusivas dos autores e não representam as opiniões da OPAS/OMS.

Editado por

Editor Associado: Pedro Fredemir Palha

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    03 Out 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    04 Maio 2022
  • Aceito
    25 Jun 2022
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