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Utilização da ultrassonografia na avaliação de retenção urinária em pacientes críticos * * Artigo extraído da dissertação de mestrado “Uso da ultrassonografia na mensuração do volume urinário de pacientes adultos e idosos internados em uma unidade de terapia intensiva”, apresentada à Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Uberaba, MG, Brasil.

Objetivo:

mensurar o volume urinário por meio da ultrassonografia de bexiga, realizada por enfermeiro em pacientes críticos, após a remoção do cateter vesical de demora, e verificar os fatores relacionados na retenção urinária.

Método:

estudo quantitativo, observacional e transversal, realizado com 37 pacientes críticos de ambos os sexos, idade superior a 18 anos, com retirada de cateter vesical de demora nas últimas 48 horas. Foram utilizados um questionário contendo as variáveis sociodemográficas e clinicas e o exame de ultrassonografia. Os dados foram apresentados por meio da distribuição de frequência, medidas de centralidade e de variabilidade, associação pelo teste exato de Fisher e, para análise a regressão logística binomial múltipla.

Resultados:

dos 37 pacientes, a maioria era do sexo masculino, com média de idade de 54,9 anos. A mensuração do volume urinário pela ultrassonografia variou de 332,3 a 950 ml, sendo que 40,54% dos pacientes apresentaram retenção urinária. A retenção urinaria apresentou associação significativa para a ocorrência de infecção do trato urinário, constipação intestinal e diurese espontânea por transbordamento. Pacientes com infecção urinária tiveram 7,4 vezes mais chance de apresentar retenção urinária.

Conclusão:

ultrassonografia de bexiga foi eficaz para mensurar o volume urinário após a remoção do cateter vesical de demora e poderá contribuir na detecção da retenção urinária.

Descritores:
Unidades de Terapia Intensiva; Exame Físico; Retenção Urinária; Ultrassonografia; Enfermagem de Cuidados Críticos; Cateterismo Urinário


Objetivo:

medir el volumen urinario por medio de la ecografía vesical, realizado por una enfermera en pacientes críticos, después de la retirada de la sonda urinaria permanente y verificar los factores relacionados en la retención urinaria.

Método:

estudio cuantitativo, observacional y transversal, realizado con 37 pacientes críticos de ambos sexos, mayores de 18 años, con retiro de catéter vesical permanente en las últimas 48 horas. Se utilizó un cuestionario con variables sociodemográficas y clínicas y el examen ecográfico. Se utilizó un cuestionario con variables sociodemográficas y clínicas y el examen ecográfico. Los datos fueron presentados a través de distribución de frecuencias, medidas de centralidad y variabilidad, asociación mediante la prueba exacta de Fisher y, para el análisis, regresión logística binomial múltiple.

Resultados:

de los 37 pacientes, en su mayoría fue de sexo masculino, con una edad média de 54,9 años. La medición del volumen urinario por ecografía osciló entre 332,3 y 950 ml, y el 40,54% de los pacientes presentó retención urinaria. La retención urinaria se asoció significativamente a la aparición de infección urinaria, estreñimiento intestinal y diuresis por rebosamiento espontáneo. Los pacientes con infección del tracto urinario tenían 7,4 veces más probabilidades de tener retención urinaria.

Conclusión:

la ecografía vesical fue eficaz para medir el volumen urinario después de retirar el catéter urinario permanente y puede contribuir a la detección de retención urinaria.

Descriptores:
Unidades de Cuidados Intensivos; Examen Físico; Retención Urinaria; Ultrasonografía; Enfermería de Cuidados Críticos; Cateterismo Urinario


Objective:

to measure urinary volume through bladder ultrasound, performed by a nurse in critically ill patients, after removal of the indwelling urinary catheter and to verify the related factors on urinary retention.

Method:

quantitative, observational and cross-sectional study, carried out with 37 critically ill patients of both sexes, over 18 years of age, with removal of indwelling urinary catheter in the last 48 hours. A questionnaire containing sociodemographic and clinical variables and an ultrasound examination were used. Data were presented through frequency distribution, centrality and variability measures, association using Fisher`s exact test and, for analysis multiple binomial logistic regression analysis.

Results:

the 37 patients were mostly male, with a mean age of 54.9 years. The measurement of urinary volume by ultrasound ranged from 332.3 to 950 ml, and 40.54% of patients had urinary retention. Urinary retention was significantly associated with the occurrence of urinary tract infection, intestinal constipation and spontaneous overflow diuresis. Patients with urinary tract infection were 7.4 times more likely to have urinary retention.

Conclusion:

bladder ultrasonography was effective in measuring urinary volume after removal of the indwelling urinary catheter and and may contribute to the detection of urinary retention.

Descriptors:
Intensive Care Units; Physical Examination; Urinary Retention; Ultrasonography; Critical Care Nursing; Urinary Catheterization


Destaques:

(1) Ultrassonografia de bexiga apresentou vantagem para melhor diagnóstico de enfermagem.

(2) Pacientes críticos apresentaram retenção urinária após retirada de cateter vesical.

(3) Foi detectada incontinência por transbordamento após retirada do cateter vesical.

(4) Pacientes com infecção urinária tiveram 7,4 vezes mais chance de apresentar retenção.

Introdução

O Cateter Vesical de Demora (CVD) é um dispositivo muito utilizado dentro da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) durante a assistência aos pacientes críticos, sendo fundamental a implementação de ações como a remoção precoce do dispositivo para a prevenção de Infecção do Trato Urinário associada a um cateter (ITU-AC) ( 11. Schettini DA, Freitas FGR, Tomotani DYV, Alves JCD, Bafi AT, Machado FR. Incidence and risk factors for urinary retention in critically ill patients: Acute urinary retention in critically ill patients. Nurs Crit Care. 2019;24(6):355-61. https://doi.org/10.1111/nicc.12341
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- 22. Barbosa LR, Mota EC, Oliveira AC. Infecção do trato urinário associada ao cateter vesical em unidade de terapia intensiva. Rev Epidemiol Controle Infec. 2019;9(2):103-8. https://doi.org/10.17058/reci.v9i1.11579
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).

Contudo, a retirada do CVD pode gerar risco de Retenção Urinária (RU), isto é, o esvaziamento incompleto da bexiga ( 33. Ceratti RN, Beghetto MG. Incidence of urinary retention and relationships between patient’s complaint, physical examination, and bladder ultrasound. Rev Gaúcha Enferm. 2021;42:e20200014. https://doi.org/10.1590/1983-1447.2021.20200014
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- 44. Herdman TH, Kamitsuru S, Lopes CT. NANDA International Nursing Diagnoses: Definitions and Classification 2021-2023 [Internet]. 12. ed. New York, NY: Thieme Publishers; 2021 [cited 2023 Jul 16]. 590 p. Available from: https://ebin.pub/nanda-international-nursing-diagnoses-definitions-and-classification-2021-2023-12th-edition-1684204542-9781684204540-9781684204557.html
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), pois, durante o tratamento e a internação na UTI, surgem alterações corporais nos pacientes, tais como: anasarca generalizada, lesões, nível de consciência alterado, presença de dispositivos invasivos e curativos, problemas que se tornam obstáculos para o correto diagnóstico de enfermagem para RU pelo enfermeiro ( 55. Bittencourt CM, Busanello J, Harter J, Garcia RP. Incidência de volume de líquidos excessivo em pacientes adultos sob cuidados intensivos. Cogitare Enferm. 2021;26:e72689. https://doi.org/10.5380/ce.v26i0.72689
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).

Os fatores de risco para RU nos pacientes sob cuidados críticos frequentemente estão relacionados ao uso de fármacos, tempo de permanência de dispositivo vesical de demora, restrição do paciente no leito, idade e Infecção do Trato Urinário (ITU) ( 22. Barbosa LR, Mota EC, Oliveira AC. Infecção do trato urinário associada ao cateter vesical em unidade de terapia intensiva. Rev Epidemiol Controle Infec. 2019;9(2):103-8. https://doi.org/10.17058/reci.v9i1.11579
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- 33. Ceratti RN, Beghetto MG. Incidence of urinary retention and relationships between patient’s complaint, physical examination, and bladder ultrasound. Rev Gaúcha Enferm. 2021;42:e20200014. https://doi.org/10.1590/1983-1447.2021.20200014
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).

A RU pode desencadear taquicardia, dor, agitação psicomotora, ITU, lesão de musculatura da bexiga, incontinência por transbordamento, insuficiência renal e pielonefrite ( 66. Brigas DF, Madeira M, Abrantes C, Santos F, Mendes G, Marques SN, et al. Use of Urinary Catheter in hospitalized patients: Reducing procedure’s related complications. RPMI. 2020;27(3):213-8. https://doi.org/10.24950/O/28/20/3/2020
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).

O tratamento usual para a RU é a realização do cateterismo vesical intermitente, procedimento realizado pelo enfermeiro, que, mesmo apresentando riscos tais como infecções, trauma uretral, estenose, sangramento e dor, é preferível ao CVD ( 33. Ceratti RN, Beghetto MG. Incidence of urinary retention and relationships between patient’s complaint, physical examination, and bladder ultrasound. Rev Gaúcha Enferm. 2021;42:e20200014. https://doi.org/10.1590/1983-1447.2021.20200014
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).

É plausível a retirada do CVD para a prevenção de infecções, em contrapartida, é importante que o enfermeiro tenha habilidades acuradas para o emprego do diagnóstico de enfermagem para prevenção do Risco de RU e RU nessa população, uma vez que ambos provocam prejuízos assistenciais ( 77. Costa JN, Botelho ML, Duran ECM, Carmona EV, Oliveira-Kumakura ARS, Lopes MHBM. Conceptual and Operational Definitions for the Nursing Diagnosis “Urinary Retention”. Int J Nurs Knowl. 2019;30(1):49-54. https://doi.org/10.1111/2047-3095.12196
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).

Reconhecer os fatores relacionados à manifestação da RU é fundamental para os cuidados de enfermagem ao paciente crítico, com o propósito de prevenir complicações e assistência de enfermagem qualificada. A inspeção, a percussão e a palpação, para implementação do diagnóstico de enfermagem RU, tem limitações devido à baixa especificidade semiológica do exame físico ( 88. Ferreira CIV, Simões IMH. Validation of a nursing protocol for the evaluation and diagnosis of urinary retention in adults. Rev Enf Referência. 2019;4(23):1-12. https://doi.org/10.12707/RIV19064
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), se comparado ao obtido com técnicas de imagens como a ultrassonografia (US) de bexiga ( 11. Schettini DA, Freitas FGR, Tomotani DYV, Alves JCD, Bafi AT, Machado FR. Incidence and risk factors for urinary retention in critically ill patients: Acute urinary retention in critically ill patients. Nurs Crit Care. 2019;24(6):355-61. https://doi.org/10.1111/nicc.12341
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, 33. Ceratti RN, Beghetto MG. Incidence of urinary retention and relationships between patient’s complaint, physical examination, and bladder ultrasound. Rev Gaúcha Enferm. 2021;42:e20200014. https://doi.org/10.1590/1983-1447.2021.20200014
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, 99. Carnaval BM, Teixeira AM, Carvalho R. Use of portable ultrasound to detect urinary retention by nurses in anesthesia recovery. Rev SOBECC. 2019;24(2):91-8. https://doi.org/10.5327/Z1414-4425201900020007
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).

O emprego da US de bexiga à beira do leito para diagnóstico de enfermagem RU contribui para a tomada de decisão do enfermeiro e a segurança do paciente, prevenindo complicações e procedimentos desnecessários.

Os enfermeiros estão amparados pela legislação, na Resolução do Conselho Federal de Enfermagem – COFEN 679/2021, a qual determina que esse profissional está apto para o manuseio do equipamento de US, desde que capacitado para o uso, sendo vedada a aplicação de laudos e diagnósticos ( 1010. Conselho Federal de Enfermagem. Resolução No 679/2021. Normatização da realização de Ultrassonografia à beira leito e no ambiente pré-hospitalar por Enfermeiro [Internet]. Brasília: COFEN; 2021 [cited 2022 Sep 20]. Available from: http://www.cofen.gov.br/resolucao-cofen-no-679- 2021_90338.html
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).

A US pode ser considerada uma extensão do exame físico para o enfermeiro e, nesse caso, tem a finalidade de realizar a mensuração do volume urinário, para que o profissional possa adotar a melhor conduta para cada caso ( 1010. Conselho Federal de Enfermagem. Resolução No 679/2021. Normatização da realização de Ultrassonografia à beira leito e no ambiente pré-hospitalar por Enfermeiro [Internet]. Brasília: COFEN; 2021 [cited 2022 Sep 20]. Available from: http://www.cofen.gov.br/resolucao-cofen-no-679- 2021_90338.html
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).

Uma revisão integrativa avaliou cinco estudos e elencou como principais vantagens do uso da US: efetividade na mensuração do volume urinário, diminuição do uso desnecessário de CVD e do risco de ITU, além da detecção precoce da RU ( 1111. Lopes KR, Nicolussi AC. Advantages of bladder ultrasound in measuring urine volume in critically ill patients: an integrative review. Rev Enferm UERJ. 2021;29:e61972. https://doi.org/10.12957/reuerj.2021.61972
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).

Em busca de propor novas estratégias de cuidados de enfermagem, este estudo teve como objetivo mensurar o volume urinário por meio da ultrassonografia de bexiga, realizada por enfermeiro em pacientes críticos, após a remoção do cateter vesical de demora, e verificar os fatores relacionados na retenção urinária.

Método

Tipo do estudo

Trata-se de um estudo quantitativo, observacional do tipo transversal, orientado pela ferramenta Standards for Quality Improvement Reporting Excellence (SQUIRE).

Local

O estudo foi realizado em um hospital-escola de alta complexidade, na cidade de Uberlândia, MG, Brasil. O hospital tem 30 leitos de UTI adulto, para tratamento de pacientes críticos.

População

Pacientes cirúrgicos, neurológicos e clínicos com 18 anos ou mais, internados na UTI, com necessidade de suporte para disfunções orgânicas, monitoração intensiva e assistência por equipe multiprofissional.

Critérios de seleção e amostragem

Foram incluídos pacientes adultos e idosos, de ambos os sexos, que fizeram uso de CVD, o qual foi retirado nas 48 horas anteriores. Foram excluídos: pacientes em pós-operatório de cirurgias urológicas e de transplantes renais; gestantes; pacientes com trauma de bexiga; câncer de bexiga; peritoniostomias; com ascite e portadores de insuficiência renal crônica; com instabilidade hemodinâmica e com infusão de noradrenalina maior que 50 ml/h; morte encefálica; e cuidados paliativos ou de fim de vida.

Para o cálculo do tamanho amostral, foram utilizados uma prevalência de RU de 27% ( 1212. Nguyen J, Harvey EM, Lollar D, Bradburn EH, Hamill ME, Collier BR et al. Alternatives to indwelling catheters cause unintended complications. Am Surg [Internet]. 2016;82(8):679-84 [cited 2022 Sep 20]. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27657581
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), o número de leitos existentes na UTI (30) e a média de internação/mês de 91 admissões, chegando-se a uma amostra de 272 pacientes, para um período de seis meses (junho a novembro de 2020). Contudo, devido ao impacto negativo da pandemia de COVID-19, como atraso da autorização de início da coleta de dados no local, ausência de visitas familiares para obtenção do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido do representante legal de pacientes sedados (inconscientes), autorização de apenas um pesquisador para a coleta de dados e novas restrições impostas em março de 2021, não foi possível alcançar a amostra estimada. Portanto, foi realizada amostragem não probabilística por conveniência ( 1313. Polit DF, Beck CT. Fundamentos de pesquisa em enfermagem: avaliação de evidências para a prática da enfermagem. 9. ed. Porto Alegre: Artmed; 2019. 431 p. ), ou seja, foram incluídos 52 pacientes elegíveis, durante o período de coleta de dados, dos quais um se recusou, oito foram a óbito e seis tiveram alta hospitalar, finalizando-se a amostra com 37 deles.

Instrumentos de coleta de dados e variáveis do estudo

Utilizou-se um questionário contendo variáveis sociodemográficas e clínicas referentes à RU, submetido à validação de conteúdo por três especialistas na área temática, selecionados pela Plataforma Lattes, com titulação mínima de doutor e contatados por e-mail. A validação aparente de conteúdo foi realizada de acordo com o conhecimento dos peritos para verificar clareza, compreensão e apresentação do instrumento. Após análise, o instrumento foi considerado válido com concordância de 90% entre os especialistas.

As variáveis sociodemográficas e clínicas foram: idade, sexo, especialidade médica, avaliação neurológica, presença de comorbidades, uso de anestésicos e analgésicos opioides, presença de ITU, presença de constipação, tempo de permanência do CVD e mensuração do volume urinário após a retirada do dispositivo.

A avaliação neurológica foi realizada através da Escala de Coma de Glasgow (ECG). Ela é empregada para avaliar o nível de consciência e a gravidade de uma lesão cerebral e/ou sequela permanente. É composta por três componentes principais: abertura ocular, resposta verbal e resposta motora. Cada componente é avaliado, de modo que são atribuídos pontos que são somados para se obter o escore, que varia de três a 15 pontos, com o menor valor indicando alto grau de acometimento neurológico ( 1414. Rezer F, Pereira BFO, Faustino WR. Conhecimento de enfermeiros na abordagem à vítima de traumatismo cranioencefálico. J Health NPEPS. 2020;5(2):291-302. https://doi.org/10.30681/252610104603
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).

A Richmond Agitation-Sedation Scale (RASS) foi aplicada para pacientes sob ventilação mecânica, com sedação ou sedoanalgesia. Ela é utilizada na avaliação do grau de agitação e sedação, com pontuações que vão desde o paciente agressivo, violento e perigoso (+4), passando por vários estágios, até ao extremo, que é a incapacidade de ser despertado, não respondendo ao som da voz ou ao estímulo (-5). Seu uso proporciona uma melhor assistência prestada ao paciente em UTI, pois evita a administração de sedação excessiva, diminui o tempo de ventilação mecânica e da internação hospitalar ( 1515. Barbosa TP, Beccaria LM, Bastos AS, Silva DC. Association between sedation level and mortality of intensive care patients on mechanical ventilation. Rev Esc Enferm USP. 2020;54:e03628. https://doi.org/10.1590/S1980-220X2019006903628
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).

Protocolo de avaliação e diagnóstico de enfermagem

Para a implementação do exame físico de enfermagem utilizando a US de bexiga, aplicou-se o protocolo “Avaliação clínica para o diagnóstico de enfermagem de retenção urinária em pacientes adultos” validado no Brasil ( 1616. Jorge BM, Martins JCA, Napoleão AA, Almeida RGS, Mazzo A. Avaliação clínica para diagnóstico de enfermagem de retenção urinária: construção e validação de protocolo. Rev Renome. 2020;9(1):67-75. https://doi.org/10.46551/rnm23173092202090108
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), que adota os parâmetros clínicos e de volume de urina considerados para a RU em maior ou igual a 400 ml. Aderiu-se a esse protocolo devido à congruência que o documento apresenta com a população incluída neste estudo.

Para a mensuração do volume urinário, foi utilizado o equipamento de ultrassom Logiq V2 (GE Healthcare, Milwaukee, Winsconsin, 2018), com um transdutor convexo com largura de banda de 1,6 a 4,6 Mhz, enquanto a eliminação urinária involuntária foi medida, pesando-se fraldas descartáveis com uso de balança digital infantil BP Baby (Filizola), ambos disponíveis na unidade.

Cada paciente foi avaliado apenas uma vez, a US de bexiga foi realizada dentro do intervalo mínimo de quatro e, no máximo, de 48 horas, após a retirada do CVD.

Tanto o modelo teórico utilizado para conceituar o diagnóstico RU quanto as intervenções de enfermagem seguiram a definição da Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE), criada em 1989 pelo Conselho Internacional de Enfermeiras (CIE). No catálogo CIPE ®, cada diagnóstico é composto por um núcleo conceitual e um conjunto mínimo de características que delimitam o conceito em si e constituem o que se denomina de indicadores clínicos (sinais e sintomas). Estes fazem parte da definição do diagnóstico que permite ao enfermeiro decidir pelo estabelecimento deste ou não. Para este estudo, foi utilizado o constructo Eliminação Urinária para pacientes adultos em processo de neurorreabilitação, validado no Brasil ( 1717. Andrade LT. Catálogo CIPE® para pacientes adultos em processo de neurorreabilitação [Dissertation]. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais; 2018 [cited 2022 Sep 20]. Available from: http://hdl.handle.net/1843/ENFC-B4HK2X
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).

Procedimentos de coleta de dados

Primeiramente foi realizado um teste-piloto com nove pacientes para determinar a aplicabilidade dos instrumentos e do protocolo de avaliação. A amostra final foi composta por 37 participantes avaliados no período de dezembro de 2020 a fevereiro de 2021, pois a inclusão de novos pacientes foi interrompida devido a um novo pico pandêmico cujas restrições foram descritas anteriormente.

Os dados sociodemográficos e clínicos foram coletados do prontuário eletrônico do paciente. A anamnese, o exame físico, a avaliação por meio de ultrassonografia e o estabelecimento dos diagnósticos de enfermagem foram realizados pela enfermeira e pesquisadora assistente na UTI adulto, nos turnos da manhã, tarde e noite, após ter sido devidamente habilitada em curso para avaliar o volume vesical com o uso de recursos auxiliares – point of care.

Tratamento e análise dos dados

Os dados coletados foram digitados em planilha eletrônica do programa Excel ®, por meio de dupla entrada para validação e, posteriormente, importados para o programa estatístico Statistic Package for the Social Sciences (SPSS) versão 23.0 for Windows.

As variáveis categóricas foram analisadas segundo estatística descritiva com distribuição de frequência absoluta e relativa, enquanto as variáveis quantitativas utilizaram as medidas de centralidade (central, média e mediana) e de variabilidade (amplitude e desvio-padrão). Foi considerado um nível de significância estatística de 5%, ou seja, α = 0,05.

Foi realizado o teste exato de Fisher para detectar possíveis associações das variáveis consideradas preditoras (faixa etária, sexo, uso de sedativos, de opioides, presença de ITU, presença de constipação e diurese espontânea por transbordamento ou não) para a ocorrência de RU. A análise de regressão logística binomial múltipla foi ajustada para sexo, faixa etária (adulto e idoso) e presença de ITU prévia, tendo como desfecho a RU, considerado estatisticamente significativo p<0,05.

Aspectos éticos

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) das instituições proponente e coparticipante, com o Parecer nº 3.952.840 e o Parecer nº 4.050.074, respectivamente. Todos os participantes e/ou representantes legais assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Resultados

Participaram 37 (100%) pacientes, com predominância do sexo masculino, 23 (62,16%); a média de idade foi de 54,9 anos, com mínimo de 22 e máximo de 87 anos; 18 (48,65%) pacientes estavam internados pela neurologia, 14 (37,84%), pela cirúrgica, e cinco (13,51%), pela clínica.

Na avaliação, 16 (43,24%) pacientes foram classificados como sedados/torporosos e 14 (37,84%), como alerta e calmos, de acordo com a RASS. Quanto ao padrão neurológico, utilizando a ECG, obteve-se uma média de 10 pontos, com mínimo de três e máximo de 15 (Dp = 4). O opioide e os sedativos mais utilizados foram: Metadona (10 – 27,3%), Midazolam (26 – 70,27%) e Fentanil (24 – 64,86%), respectivamente.

As comorbidades mais presentes foram: hipertensão arterial (12 – 32,43%) e diabetes mellitus (11 – 29,73%). Durante a internação, foram constatadas a constipação intestinal e a ITU em 32 (86,49 %) e 12 (32,43%) pacientes, respectivamente.

Após a retirada do CVD, houve um intervalo de 20,5 horas em média para a avaliação do exame físico e realização da US de bexiga. Os pacientes avaliados tiveram, no máximo, quatro procedimentos de cateterismo vesical de alívio (CVA), realizado em até 24 horas após a retirada do CVD. A Tabela 1 apresenta os resultados referentes ao uso do CVD e da mensuração do volume urinário.

Tabela 1 -
Distribuição de pacientes segundo o tempo de uso do cateter vesical de demora (CVD), tempo de avaliação após a retirada do CVD, intervalo de cateterismo vesical de alívio (CVA), número de CVAs realizados, perda involuntária de urina e mensuração urinária por ultrassonografia de bexiga (n=37). Uberlândia, MG, Brasil, 2020-2021

Doze pacientes apresentaram eliminação urinária involuntária em fralda ao serem examinados pela enfermeira, sendo que nove tiveram seu volume urinário residual (pós-miccional) maior que 400 ml mensurado pela US de bexiga, comprovando a ocorrência de micção por transbordamento e presença de RU; outros seis foram diagnosticados com RU após a realização da US, totalizando 15 pacientes (40,54%).

Através da aplicação do Catálogo CIPE, além do diagnóstico de enfermagem RU, outros três foram encontrados na população estudada: incontinência por transbordamento, micção prejudicada e risco de RU. As intervenções listadas no referido catálogo se mostraram compatíveis com aquelas realizadas, sendo as principais: avaliar características da eliminação urinária, avaliar distensão da bexiga, monitorar volume da bexiga com ultrassom, realizar cateterismo vesical sob técnica asséptica, realizar a troca de fraldas a cada três horas ou sempre que necessário.

Conforme mostra a Tabela 2, a incidência de RU foi maior para adultos (idade inferior a 60 anos), homens, com presença de ITU, constipação intestinal e com diurese espontânea (por transbordamento ou não), sendo estatisticamente significativo (p<0,05) para os últimos três. Também foram realizadas associações com uso de sedativos e opioides, porém sem significância estatística.

Tabela 2 -
Distribuição de pacientes segundo a associação de faixa etária, sexo, presença de ITU, constipação e diurese espontânea com RU (n=37). Uberlândia, MG, Brasil, 2020-2021

A Tabela 3 apresenta o resultado da análise de regressão logística binomial múltipla, ajustada para sexo e faixa etária (adulto e idoso), na qual os pacientes com ITU apresentaram 7,4 vezes mais chance de apresentar RU, quando comparados com os pacientes sem ITU, e essa associação foi estatisticamente significativa (p<0,05).

Tabela 3 -
Análise de regressão logística binomial múltipla, tendo-se como desfecho a retenção urinária (n=37). Uberlândia, MG, Brasil, 2020-2021

Discussão

Os resultados mostraram que os pacientes da UTI foram predominantemente masculinos, internados por causas neurológicas, encontravam-se sedados, utilizaram opioides durante o tratamento, permaneceram com CVD em média 11 dias, tinham hipertensão arterial e diabetes mellitus, apresentaram ITU e constipação intestinal durante a internação.

O perfil dessa população sugere que esses pacientes estão sujeitos a desenvolver RU, uma vez que a sua frequência é maior após os 70 anos, devido às comorbidades associadas. É mais frequente na população masculina devido às causas prostáticas e raro em mulheres. O tempo de permanência do CVD aumenta progressivamente o risco de ITU nos pacientes críticos em UTI, girando em torno de 2,5% ao dia e, após seis dias, acima de 26,9% ( 99. Carnaval BM, Teixeira AM, Carvalho R. Use of portable ultrasound to detect urinary retention by nurses in anesthesia recovery. Rev SOBECC. 2019;24(2):91-8. https://doi.org/10.5327/Z1414-4425201900020007
https://doi.org/10.5327/Z1414-4425201900...
, 1818. Billet M, Windsor TA. Urinary Retention. Emerg Med Clin North Am. 2019;37(4):649-60. https://doi.org/10.1016/j.emc.2019.07.005
https://doi.org/10.1016/j.emc.2019.07.00...
- 1919. Dionizio LC, Cruz I. Nursing evidence-based inteprofissional practice guidelines for Nursing Diagnosis on Intestinal Constipation Risk in ICU – Systematic Literature Review. J Spec Nurs Care [Internet]. 2019 [cited 2022 Sep 20];11(1). Available from: http://www.jsncare.uff.br/index.php/jsncare/article/view/3144
http://www.jsncare.uff.br/index.php/jsnc...
).

A constipação intestinal é outro fator desencadeante da RU, visto que a fisiopatologia da bexiga e do reto tem a mesma origem embriológica e mesma inervação, as quais controlam a função dos esfíncteres urinário e anal, aumentando as chances de desenvolver RU. Com a redução da motilidade intestinal motivada pelo uso de analgésicos opioides, sedativos e bloqueadores neuromusculares, a constipação intestinal se torna muito presente nessa população ( 1818. Billet M, Windsor TA. Urinary Retention. Emerg Med Clin North Am. 2019;37(4):649-60. https://doi.org/10.1016/j.emc.2019.07.005
https://doi.org/10.1016/j.emc.2019.07.00...
- 1919. Dionizio LC, Cruz I. Nursing evidence-based inteprofissional practice guidelines for Nursing Diagnosis on Intestinal Constipation Risk in ICU – Systematic Literature Review. J Spec Nurs Care [Internet]. 2019 [cited 2022 Sep 20];11(1). Available from: http://www.jsncare.uff.br/index.php/jsncare/article/view/3144
http://www.jsncare.uff.br/index.php/jsnc...
).

Na avaliação realizada pelas escalas de RASS e Glasgow, os pacientes apresentavam-se torporosos, sonolentos e calmos, estados que são muito frequentes dentro da UTI, muitas vezes desencadeados por excesso de uso de fármacos (psicotrópicos, opioides, analgésicos e sedativos), fatores esses que podem contribuir diretamente para ocorrência de RU ( 33. Ceratti RN, Beghetto MG. Incidence of urinary retention and relationships between patient’s complaint, physical examination, and bladder ultrasound. Rev Gaúcha Enferm. 2021;42:e20200014. https://doi.org/10.1590/1983-1447.2021.20200014
https://doi.org/10.1590/1983-1447.2021.2...
, 2020. Guadarrama Ortega D, Díaz Díaz R, Martín Hernández MA, Peces Hernández MT, Vallejo Paredes J, Chuvieco González Y. Impact of portable volumetric ultrasound on bladder catheterizations due to urinary retention in an internal medicine unit. Enferm Global. 2020;19(1):53-62. http://dx.doi.org/10.6018/eglobal.19.1.347591
https://doi.org/10.6018/eglobal.19.1.347...
).

Os participantes da presente investigação ficaram em média 11 dias com o CVD. Um estudo encontrou que, para cada dia de atraso na remoção do cateter, a chance de infecção aumenta em 21% e as de RU diminui em 12% ( 2121. Hung LY, Benlice C, Jia X, Steele SR, Valente MA, Holubar SD, et al. Outcomes after early versus delayed urinary bladder catheter removal after proctectomy for benign and malignant disease in 2,429 patients: An observational cohort study. Surg Infect. 2021;22(3):310-7. https://doi.org/10.1089/sur.2020.159
https://doi.org/10.1089/sur.2020.159...
).

A utilização da US de bexiga contribui efetivamente para a assistência de enfermagem segura, trazendo benefícios para a prática diária do enfermeiro. Essa tecnologia pode oferecer confiança ao trabalho do enfermeiro, pois a visualização direta da bexiga oferece segurança ao profissional para definir o momento certo de realizar o cateterismo vesical e contribuir assertivamente para o diagnóstico de enfermagem de RU ( 33. Ceratti RN, Beghetto MG. Incidence of urinary retention and relationships between patient’s complaint, physical examination, and bladder ultrasound. Rev Gaúcha Enferm. 2021;42:e20200014. https://doi.org/10.1590/1983-1447.2021.20200014
https://doi.org/10.1590/1983-1447.2021.2...
, 99. Carnaval BM, Teixeira AM, Carvalho R. Use of portable ultrasound to detect urinary retention by nurses in anesthesia recovery. Rev SOBECC. 2019;24(2):91-8. https://doi.org/10.5327/Z1414-4425201900020007
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).

Os pacientes, quando submetidos à US de bexiga, são favorecidos com diagnósticos mais ágeis, com menor risco de complicações, menos dor e processos mais seguros, dessa forma, reduzindo os cateterismos desnecessários e fortalecendo o diagnóstico precoce ( 99. Carnaval BM, Teixeira AM, Carvalho R. Use of portable ultrasound to detect urinary retention by nurses in anesthesia recovery. Rev SOBECC. 2019;24(2):91-8. https://doi.org/10.5327/Z1414-4425201900020007
https://doi.org/10.5327/Z1414-4425201900...
, 1818. Billet M, Windsor TA. Urinary Retention. Emerg Med Clin North Am. 2019;37(4):649-60. https://doi.org/10.1016/j.emc.2019.07.005
https://doi.org/10.1016/j.emc.2019.07.00...
).

Neste estudo, as mensurações de volume urinário pela US detectaram até 950 ml e uma taxa de 40,54% de RU. Mesmo no caso de pacientes que apresentaram micção espontânea em fralda, em nove deles, o volume de urina mensurado foi acima de 400 ml após essa micção, sugerindo incontinência por transbordamento. Esses resultados reforçam a necessidade de avaliações criteriosas realizadas pela equipe de enfermagem, pois volumes acima de 400 ml já são compatíveis com as queixas urinárias e sugerem complicações como a RU ( 1616. Jorge BM, Martins JCA, Napoleão AA, Almeida RGS, Mazzo A. Avaliação clínica para diagnóstico de enfermagem de retenção urinária: construção e validação de protocolo. Rev Renome. 2020;9(1):67-75. https://doi.org/10.46551/rnm23173092202090108
https://doi.org/10.46551/rnm231730922020...
, 1818. Billet M, Windsor TA. Urinary Retention. Emerg Med Clin North Am. 2019;37(4):649-60. https://doi.org/10.1016/j.emc.2019.07.005
https://doi.org/10.1016/j.emc.2019.07.00...
).

Uma pesquisa realizada em São Paulo mostrou que os enfermeiros consideraram importante o uso do ultrassom portátil para maior autonomia profissional, sentindo-se seguros e confiantes na avaliação dos pacientes na sala de recuperação pós-anestésica, uma vez que a realização da US facilitou o diagnóstico de RU. Os enfermeiros mostraram preocupação em realizar um diagnóstico mais preciso e tomada de decisões/intervenções imediatas, para prevenir complicações ( 99. Carnaval BM, Teixeira AM, Carvalho R. Use of portable ultrasound to detect urinary retention by nurses in anesthesia recovery. Rev SOBECC. 2019;24(2):91-8. https://doi.org/10.5327/Z1414-4425201900020007
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).

Um estudo desenvolvido na Região Sul do Brasil encontrou que o exame de US à beira do leito, realizado por enfermeiros, mostrou-se preciso em determinar o volume urinário, e que a incidência de RU foi maior quando a US foi empregada para o diagnóstico, se comparado à queixa do paciente e ao exame físico ( 33. Ceratti RN, Beghetto MG. Incidence of urinary retention and relationships between patient’s complaint, physical examination, and bladder ultrasound. Rev Gaúcha Enferm. 2021;42:e20200014. https://doi.org/10.1590/1983-1447.2021.20200014
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).

Os pacientes com ITU apresentaram 7,4 vezes mais chance de apresentar RU, quando comparados com os sem ITU, corroborando a literatura ( 33. Ceratti RN, Beghetto MG. Incidence of urinary retention and relationships between patient’s complaint, physical examination, and bladder ultrasound. Rev Gaúcha Enferm. 2021;42:e20200014. https://doi.org/10.1590/1983-1447.2021.20200014
https://doi.org/10.1590/1983-1447.2021.2...
, 66. Brigas DF, Madeira M, Abrantes C, Santos F, Mendes G, Marques SN, et al. Use of Urinary Catheter in hospitalized patients: Reducing procedure’s related complications. RPMI. 2020;27(3):213-8. https://doi.org/10.24950/O/28/20/3/2020
https://doi.org/10.24950/O/28/20/3/2020...
, 1212. Nguyen J, Harvey EM, Lollar D, Bradburn EH, Hamill ME, Collier BR et al. Alternatives to indwelling catheters cause unintended complications. Am Surg [Internet]. 2016;82(8):679-84 [cited 2022 Sep 20]. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27657581
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) que indica remoção precoce do CVD, e a presença de infecção pode levar a outras adversidades, inclusive uma internação prolongada.

Contrapondo esses resultados, pesquisa japonesa encontrou uma baixa ocorrência de RU (14,2%) em homens idosos em pós-operatório de cirurgia de quadril, e a análise de regressão logística multivariada com ajuste de idade mostrou que atividades de vida diária (RC = 2,88) foram significativamente associadas ao desenvolvimento de RU naquela amostra ( 2222. Higashikawa T, Shigemoto K, Goshima K, Iwai S, Moriyama M, Usuda D, et al. Postoperative urinary retention in Japanese elderly males with a femoral neck or trochanteric fracture. Acta Med Okayama. 2022;76(4):409-14. http://doi.org/10.18926/AMO/63895
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).

Percebe-se que o cenário no qual o paciente crítico está inserido é composto de muitas variáveis. Contextualizar e ressignificar o cuidado de enfermagem é primordial para oferecer assistência de enfermagem qualificada, pautada nos melhores parâmetros científicos que resultem em eficiência, eficácia e segurança dos pacientes ( 2323. Silva CRL, Silva VRF, Louro TQ, Silva RCL, Correio IBM, Carvalho FC. The perception of critical care nursing professionals on hard technology care. Cienc Cuid Saúde. 2019;18(3):e45090. http://doi.org/10.4025/cienccuidsaude.v18i3.45090
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).

Por estarem sedados, os pacientes não apresentavam queixas, sendo, então, muito importantes a realização do exame físico e a mensuração do volume urinário pela US após a retirada do CVD, o que tornou possível levantar os diagnósticos de enfermagem RU, risco de RU, incontinência por transbordamento e micção prejudicada e, por conseguinte, realizar uma assistência de enfermagem sistematizada e individualizada para cada paciente.

Os diagnósticos de enfermagem e as intervenções apresentadas pelo Catálogo CIPE ® foram coerentes com a prática clínica dos enfermeiros intensivistas, sendo possível o embasamento das condutas adotadas perante os desfechos de RU, bem como foi factível o emprego do protocolo de avaliação clínica para o diagnóstico de enfermagem RU em pacientes adultos ( 88. Ferreira CIV, Simões IMH. Validation of a nursing protocol for the evaluation and diagnosis of urinary retention in adults. Rev Enf Referência. 2019;4(23):1-12. https://doi.org/10.12707/RIV19064
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), com adaptação de modelos de equipamentos, para a varredura da bexiga, disponíveis nas UTIs brasileiras, sem prejuízos ao exame físico pelo enfermeiro.

As limitações se referem à coleta de dados realizada em apenas uma instituição hospitalar, ao tamanho da amostra, que, em decorrência da pandemia de COVID-19, levou a restrições no campo, e ao delineamento transversal, de modo que não foi possível realizar um acompanhamento dos pacientes, dificultando a generalização dos resultados. Portanto, sugerem-se novos estudos mais bem delineados para contribuir com a acurácia do diagnóstico de enfermagem RU, utilizando a ferramenta de imagem.

Ainda assim, a pesquisa visa contribuir com a assistência e o ensino na saúde e, principalmente, em enfermagem, por apresentar arcabouço teórico sobre o uso da US de bexiga e fomentar futuras pesquisas que se predisponham a testar o uso dessa tecnologia em pacientes com RU por meio de estudos clínicos randomizados, a fim de sustentar a prática clínica.

Conclusão

Dos 37 participantes, a maioria era do sexo masculino, cujo volume urinário médio foi de 332,3 ml. A incidência de RU (volume mensurado pela US acima de 400 ml) foi estatisticamente associada a pacientes com ITU, com constipação intestinal e diurese espontânea (por transbordamento ou não). A regressão logística binomial múltipla mostrou que pacientes com ITU tiveram 7,4 vezes mais probabilidade de apresentar RU, quando comparados com os sem ITU, ao se ajustar por sexo e faixa etária.

Os resultados apontaram que 40,54% dos pacientes apresentaram RU, após a retirada do cateter, um dado expressivo, considerando-se toda a demanda de cuidados de enfermagem que o paciente crítico requer, um complicador para a sua saúde.

Sugere-se a implementação da US de bexiga nos serviços de saúde, pois a tecnologia traz autonomia ao profissional e mais segurança aos pacientes, proporcionando melhor planejamento da assistência, economizando tempo e melhorando a qualidade da assistência de enfermagem.

Agradecimentos

Aos pacientes e familiares que participaram, contribuindo com as informações da pesquisa.

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    Artigo extraído da dissertação de mestrado “Uso da ultrassonografia na mensuração do volume urinário de pacientes adultos e idosos internados em uma unidade de terapia intensiva”, apresentada à Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Uberaba, MG, Brasil.
  • Como citar este artigo

    Lopes KR, Jorge BM, Barbosa MH, Barichello E, Nicolussi AC. Use of ultrasonography in the evaluation of urinary retention in critically ill patients. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2023;31:e4026 [cited ano mês dia]. Available from: URL . https://doi.org/10.1590/1518-8345.6618.4026
  • Todos os autores aprovaram a versão final do texto.

Editado por

Editora Associada:

Maria Lucia do Carmo Cruz Robazzi

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    09 Out 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    02 Dez 2022
  • Aceito
    25 Jul 2023
Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto / Universidade de São Paulo Av. Bandeirantes, 3900, 14040-902 Ribeirão Preto SP Brazil, Tel.: +55 (16) 3315-3451 / 3315-4407 - Ribeirão Preto - SP - Brazil
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