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500 anos de educação no Brasil

NOTAS DE LEITURA

Dermeval Saviani

Universidade Estadual de Campinas

LOPES, Eliana Marta Teixeira, FARIA FILHO, Luciano Mendes VEIGA, Cynthia Greive. (orgs.). 500 anos de educação no Brasil. 2ªed. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. 606 p.

O livro em referência, lançado ao ensejo das comemorações dos 500 anos do descobrimento do Brasil pelos portugueses, agora em 2ª edição onde são corrigidos os problemas ocorridos na editoração dos originais, apresenta um amplo painel da produção historiográfica sobre educação cobrindo um largo leque de temas e contemplando, de um modo ou de outro, os vários períodos atravessados pela educação na história de nosso país.

A obra é constituída por 24 textos. O primeiro, A civilização pela palavra, de João Adolfo Hansen, tem, de fato, caráter inaugural, pois traça o quadro em que a Igreja se associou à Monarquia para, através da palavra, implantar na nova terra a civilização dos que dela se apossavam. Nesse processo desempenharam papel central os jesuítas não sendo, pois, por acaso que o sistema pedagógico expresso no ratio studiorum tenha como elemento central a retórica. O período colonial é ainda contemplado nos textos seguintes, Educação jesuítica no Brasil colonial, de José Maria de Paiva, e O seminário de Olinda, de Gilberto Luiz Alves, dando conta, assim, das duas tendências pedagógicas que predominaram no referido período: a pedagogia jesuítica, que perdurou de 1549 a 1759, e a orientação pombalina que prevaleceu até praticamente o momento da independência. A escolha do seminário de Olinda para tratar da fase pombalina me parece acertada porque, efetivamente, foi nessa instituição que se expressaram, de forma mais acabada, o significado e as potencialidades do iluminismo português à base do qual foram formuladas as reformas pombalinas da instrução pública.

Os níveis, por assim dizer, clássicos, da organização dos sistemas de ensino são contemplados explicitamente nos textos de Moysés Kuhlmann Júnior, Educando a infância brasileira, Luciano Mendes de Faria Filho, Instrução elementar no século XIX, Heloísa de O.S. Villela, O mestre-escola e a professora, Denice Bárbara Catani, Estudos de história da profissão docente, Jailson Alves dos Santos, A trajetória da educação profissional, e Luiz Antônio Cunha, Ensino superior e universidade no Brasil, os quais tratam, respectivamente, da educação infantil, do ensino fundamental, da formação de professores e da profissão docente, da educação profissional e do ensino superior. Embora o ensino secundário não conte com um texto específico, ele não deixa de estar presente em diversos momentos do livro, seja em textos que tratam das concepções pedagógicas, seja naqueles que se debruçam sobre as reformas do ensino.

Além dos graus que compõem a estrutura dos sistemas de ensino, o livro apresenta estudos que abordam tanto aspectos amplamente reconhecidos pela sua importância no conjunto do processo educativo como temas cuja relevância se manifestou mais recentemente no contexto da renovação da historiografia educacional.

Entre os primeiros se encontram os textos de Marta Maria Chagas de Carvalho, Reformas da instrução pública, Clarice Nunes, (des)encantos da modernidade pedagógica, Marcus Vinicius da Cunha, A escola contra a família, Diana Gonçalves Vidal, Escola nova e processo educativo, Carlos Roberto Jamil Cury, A educação como desafio na ordem jurídica, e Rogério Fernandes, A instrução pública nas Cortes Gerais Portuguesas, tratando, este último, das posições assumidas sobre educação pelos delegados brasileiros presentes nas Cortes Gerais Portuguesas reunidas com o caráter de Congresso Constituinte em 1822.

Entre os segundos estão os trabalhos de Arilda Ines Miranda Ribeiro, Mulheres educadas na Colônia, Eliana Marta Teixeira Lopes, Conselhos de Bárbara Heliodora, Marly Gonçalves Bicalho Ritzkat, Preceptoras alemãs no Brasil, Constância Lima Duarte, A ficção didática de Nísia Floresta, Luiz Alberto Oliveira Gonçalves, Negros e educação no Brasil, Lúcio Kreutz, A educação de imigrantes no Brasil, Cynthia Greive Veiga, Educação estética para o povo, Guacira Lopes Louro, O cinema como pedagogia, e José Gonçalves Gondra, Medicina, higiene e educação escolar.

O fato de que os temas emergentes constituam o conjunto mais numeroso não é o único indicador do caráter inovador da obra. Com efeito, também os temas de que tradicionalmente se ocupam os estudos de história da educação são tratados, no livro, com novo enfoque, seja questionando explicitamente as versões anteriores, seja abrindo caminho para a compreensão de aspectos não privilegiados naquelas versões.

500 anos de educação no Brasil é, pois, uma obra de grande relevância, pois torna acessível aos professores de história da educação e aos educadores, de modo geral, um conjunto amplo de estudos oriundos de investigações realizadas nas universidades e nos centros de pesquisa de nosso país. Em tal condição, este livro expressa o significativo desenvolvimento da historiografia atual da educação brasileira ao mesmo tempo em que dá ao conhecimento do público alguns dos importantes resultados já obtidos. De posse desses resultados os professores poderão elevar, também, a qualidade do ensino não apenas da história da educação mas das demais disciplinas que, em larga medida, se baseiam no conhecimento histórico para o desenvolvimento de seus conteúdos curriculares.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Dez 2012
  • Data do Fascículo
    Ago 2000
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