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Escala de Identidade Acadêmica e Atlética (AAIS-Br): Adaptação e Evidências de Validade

Academic and Athletic Identity Scale (AAIS-Br): Adaptation and evidence of validity

Escala de Identidad Académica y Deportiva (AAIS-Br): Adaptación y evidencias de validez

Resumo

Este estudo objetivou adaptar e apresentar evidências de validade de construto, convergente e discriminante da Academic and Athletic Identity Scale para o contexto brasileiro. Participaram da pesquisa 303 estudantes universitários brasileiros (M =23,33 anos, DP = 4,605). A amostra respondeu a um questionário sociodemográfico, Escala de Identidade Acadêmica e Atlética, Escala de Identidade Profissional e Escala Flourishing. A análise fatorial confirmatória evidenciou que a versão brasileira da AAIS reproduziu integralmente a estrutura original do instrumento. As dimensões identidade acadêmica e identidade atlética apresentaram correlação significativa entre si (r = 0,205, p<0,001). A dimensão identidade acadêmica apresentou correlação significativa com identidade profissional (r = 0,354, p<0,001) e flourishing (r = 0,269, p<0,001), enquanto a identidade atlética não apresentou correlação significativa com a identidade profissional e flourishing. Os resultados evidenciaram propriedades psicométricas da AAIS-Br que recomendam seu uso em investigações destinadas a avaliar o grau da identificação com os papéis acadêmico e atlético de estudantes universitários brasileiros que praticam esportes.

Palavras-chave:
identidade; psicologia do esporte; ensino superior; esportes; psicometria

Abstract

This study aimed to adapt and present evidence of construct, convergent, and discriminant validity of the Academic and Athletic Identity Scale for the Brazilian context. A total of 303 Brazilian university students participated in the research (M=23.33 years, SD=4.60). The sample completed a sociodemographic questionnaire, the Academic and Athletic Identity Scale, the Professional Identity Scale, and the Flourishing Scale. Confirmatory factorial analysis showed the Brazilian version of the AAIS fully reproduced the original structure of the instrument. The dimensions academic identity and athletic identity showed a significant correlation between them (r=0.205, p<0.001). The academic identity dimension also showed significant correlation with professional identity (r=0.354, p<0.001) and flourishing (r=0.269, p<0.001), while athletic identity did not show any significant correlation with professional identity and flourishing. The results showed that the psychometric properties of the AAIS-Br recommend its use in investigations to evaluate the degree of identification with academic and athletic roles in Brazilian university student-athletes.

Keywords:
identity; sport psychology; sports; higher education; psychometrics

Resumen

Este estudio tuvo como objetivo adaptar y presentar evidencias de validez de constructo, convergente y discriminante de la Academic and Athletic Identity Scale para el contexto brasileño. Participaron de la investigación 303 estudiantes universitarios brasileños (M=23,33 años, DS=4,605). La muestra respondió a un cuestionario sociodemográfico, a la Escala de Identidad Académica y Deportiva, a la Escala de Identidad Profesional y a la Escala Flourishing. El análisis factorial confirmatorio evidenció que la versión brasileña de AAIS reproducía completamente la estructura original del instrumento. Las dimensiones de identidad académica y deportiva presentaron una correlación significativa entre ellas (r=0,205, p<0,001). La dimensión identidad académica presentó correlación significativa con identidad profesional (r=0,354, p<0,001) y flourishing (r=0,269, p<0.001), mientras que la identidad deportiva no presentó ninguna correlación significativa con la identidad profesional y flourishing. Los resultados mostraron propiedades psicométricas de AAIS-Br que recomiendan su uso en investigaciones destinadas a evaluar el grado de identificación con roles académicos y deportivos en universitarios brasileños que practican deportes.

Palabras clave:
identidad; psicología del deporte; educación universitaria; deportes; psicometría

Introdução

Estudos sobre a identidade a definem como um processo psicológico base, constituído pela interpretação subjetiva sobre quem se é, e no qual resultam diferentes papéis, com atribuição de significados que o indivíduo tipicamente representa e/ou desempenha (Brewer et al., 1993Brewer, B. W., Van Raalte, J. L., & Linder, D. E. (1993). Athletic identity: Hercules’ muscles or Achilles heel? International Journal of Sport Psychology, 24(2), 237-254.; Caza et al., 2018Caza, B. B., Vough, H., & Puranik, H. (2018). Identity work in organizations and occupations: Definitions, theories, and pathways forward. Journal of Organizational Behavior, 39, 889-910. https://doi.org/10.1002/job.2318
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; Stryker & Burke, 2000Stryker, S., & Burke, P. J. (2000). The past, present, and future of an identity theory. Social Psychology Quarterly, 63(4), 284-297. https://doi.org/10.2307/2695840
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; Sturm et al., 2011Sturm, J. E., Feltz, D. L., & Gilson, T. A. (2011). A comparison of athlete and student identity for Division I and Division III athletes. Journal of Sport Behavior, 34(3), 295-306.). De acordo com as teorias sociais de identidade de Tajfel (1978Tajfel, H. (1978). Social categorization, social identity and social comparison. In H. Tajfel (Ed.), Differentiation between social groups: Studies in the social psychology of intergroup relations (pp. 61-76). Academic Press.) e Erikson (1987Erikson, E. H. (1987). Identidade: juventude e crise. (2ª Ed.). Guanabara.), a autopercepção subjetiva desenvolve-se nos múltiplos contextos das interações sociais, relacionamentos, instituições e processos. Assim, atribui-se o eu (self) como um “autoconceito multifacetado”, uma vez que não é definido por um único rótulo, mas envolve vários papéis que um indivíduo assume durante sua vida.

Nesse sentido, este estudo assume as identidades acadêmica e atlética como tipificações/tipos identitários de estudantes universitários que praticam esportes, assim como conceitua Yukhymenko-Lescroart (2014Yukhymenko-Lescroart, M. A. (2014). Students and athletes? Development of the Academic and Athletic Identity Scale (AAIS). Sport, Exercise, and Perfomance Psychology, 3(2), 89-101. https://doi.org/10.1037/spy0000009
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). As tipificações, por sua vez, são definidas por Erikson (1987Erikson, E. H. (1987). Identidade: juventude e crise. (2ª Ed.). Guanabara.) como modelos socialmente significativos para realizar combinações de identificações fragmentárias.

Uma vez que as identidades se formam em torno dos papéis-chave dos indivíduos (Stryker & Burke, 2000Stryker, S., & Burke, P. J. (2000). The past, present, and future of an identity theory. Social Psychology Quarterly, 63(4), 284-297. https://doi.org/10.2307/2695840
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), a identidade de estudantes universitários que praticam esporte tende a ser formada e sustentada em dois principais papéis e contextos sociais dominantes, nesse caso, ligados ao estudo e ao esporte (Huml et al., 2019Huml, M. R., Hancock, M. G., & Hums, M. A. (2019). Athletics and academics: The relationship between athletic identity sub-constructs and educational outcomes. Journal of Issues in Intercollegiate Athletics, 12, 46-62. http://csri-jiia.org/wp-content/uploads/2019/03/RA_2019_03.pdf
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; Sturm et al., 2011Sturm, J. E., Feltz, D. L., & Gilson, T. A. (2011). A comparison of athlete and student identity for Division I and Division III athletes. Journal of Sport Behavior, 34(3), 295-306.; Van Rens, et al., 2018Van Rens, F. E. C. A., Ashley, R. A., & Steele, A. R. (2018). Wellbeing and performance in dual careers: The role of academic and athletic identities. The Sport Psychologist, 33(1), 42-51. https://doi.org/10.1123/tsp.2018-0026
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; Yukhymenko-Lescroart, 2018Yukhymenko-Lescroart, M. A. (2018). On identity and sport conduct of student-athletes: Considering athletic and academic contexts. Psychology of Sport and Exercise, 34, 10-19. https://doi.org/10.1016/j.psychsport.2017.09.006
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).

Conceitualmente, a “identidade atlética” refere-se à autopercepção do indivíduo sobre seu papel relativo ao esporte, e tem função central no autoconceito de atletas (Steele et al., 2020Steele, A. R., van Rens, F. E. C. A., & Ashley, R. (2020). A systematic literature review on the academic and athletic identities of student-athletes. Journal of Intercollegiate Sport, 13(1), 69-92. https://doi.org/10.17161/jis.v13i1.13502
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). Sua mensuração enquanto construto psicológico foi proposta pioneiramente por Brewer et al., (1993Brewer, B. W., Van Raalte, J. L., & Linder, D. E. (1993). Athletic identity: Hercules’ muscles or Achilles heel? International Journal of Sport Psychology, 24(2), 237-254.), por meio da criação da Athletic Identity Measurement Scale - AIMS. Desde então, essa escala foi amplamente utilizada e testada no decorrer dos anos. Contudo, ao passo em que foi sendo aprimorada, a escala apresentou algumas incoerências psicométricas, observadas nas tentativas de aprimoramento com novos modelos do mesmo instrumento.

Por sua vez, a “identidade acadêmica” refere-se ao grau de identificação do indivíduo com seu papel acadêmico, ou seja, relativo aos estudos (Ewing & Allen, 2017Ewing, D. R., & Allen, C. T. (2017). Self-congruence is not everything for a brand: Initial evidence supporting the relevance of identity cultivation in a college student role-identity context. Journal of Brand Management,24, 405-422. https://doi.org/10.1057/s41262-017-0047-3
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). Na literatura, não houve a consistência na mensuração dessa identidade como construto psicológico, também conhecida de estudantil, sendo mais estudada em termos do desempenho acadêmico, isto é, em comparação a outras variáveis do contexto escolar (Steele et al., 2020Steele, A. R., van Rens, F. E. C. A., & Ashley, R. (2020). A systematic literature review on the academic and athletic identities of student-athletes. Journal of Intercollegiate Sport, 13(1), 69-92. https://doi.org/10.17161/jis.v13i1.13502
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). Contudo, foi encontrada uma medida específica, conhecida como Measure of Student Identity - MSI (Shields, 1995Shields, N. (1995). The link between student identity, attributions, and self-esteem among adult returning students. Sociological Perspectives, 38(2), 261-272. https://doi.org/10.2307/1389293
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), para esse fim. Apesar da iniciativa, o autor não apresentou o resultado das medidas de validação e fidedignidade, e o instrumento não foi amplamente utilizado e aperfeiçoado.

Embora exista conhecimento considerável sobre cada uma das identidades, não há indícios suficientes sobre como essas duas variáveis identitárias coexistem e podem contribuir para a autopercepção de estudantes que praticam esportes (ver van Rens et al., 2018Van Rens, F. E. C. A., Ashley, R. A., & Steele, A. R. (2018). Wellbeing and performance in dual careers: The role of academic and athletic identities. The Sport Psychologist, 33(1), 42-51. https://doi.org/10.1123/tsp.2018-0026
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). Nesse sentido, foi identificada uma escala, criada com a proposta de mensurar ambas as identidades - atlética e acadêmica - em um formato curto e específico.

A escala foi desenvolvida por Yukhymenko-Lescroart (2014Yukhymenko-Lescroart, M. A. (2014). Students and athletes? Development of the Academic and Athletic Identity Scale (AAIS). Sport, Exercise, and Perfomance Psychology, 3(2), 89-101. https://doi.org/10.1037/spy0000009
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) e intitulada Academic and Athletic Identity Scale (AAIS), a qual consiste em 11 itens que objetivam medir a identidade acadêmica e atlética por meio da autopercepção dos papéis relativos às duas identidades. O referido instrumento visa a indicação do respondente a partir do quão central é o senso de quem realmente é em cada uma das características/qualidades elencadas, a partir de uma escala do tipo Likert, em que 1 seria “não central” e 7 “núcleo central”. Além disso, a escala possui dois fatores (Identidade Acadêmica e Identidade Atlética), com cinco e seis itens respectivamente. As primeiras evidências de validade apresentadas decorreram do estudo da autora com 596 universitários estadunidenses praticantes de modalidades coletivas, em dois níveis de participação esportivo: estudantes do time da universidade versus de clubes esportivos. Em termos psicométricos, o estudo apresentou um modelo de dois fatores, índices de ajustamento satisfatórios e coeficientes de confiabilidade adequados.

Estudos posteriores com a escala e com o mesmo público-alvo de universitários praticantes de esportes foram desenvolvidos por MacNab (2015MacNab, B. A. (2015). Student-athlete academic and athletic identity and self-efficacy (Unpublished master’s thesis). Louisiana State University, Baton Rouge, LA.), no contexto estadunidense, por Van Rens et al. (2018Van Rens, F. E. C. A., Ashley, R. A., & Steele, A. R. (2018). Wellbeing and performance in dual careers: The role of academic and athletic identities. The Sport Psychologist, 33(1), 42-51. https://doi.org/10.1123/tsp.2018-0026
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), no contexto australiano, e por Hagiwara et al. (2020Hagiwara, G., Yukhymenko-Lescroart, M. A., Shimozono, H., Isogai, H., Akiyama, D., Shinriki, R., Ohshita, K., & Hagiwara, Y. (2020). Journal of Japan Society of Sports Industry, 30(2), 183-193. https://doi.org/10.5997/sposun.30.2_183
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), no contexto japonês. A estrutura de dois fatores da escala foi apoiada pelas análises fatoriais confirmatórias. Além disso, as pesquisas forneceram evidências de validade e confiabilidade satisfatórias.

Apesar de ser uma medida relativamente nova, a AAIS demonstrou ter bons índices de ajustamento e ser eficaz na mensuração das identidades de estudantes que praticam esportes, além de ser a única medida recomendada no mais recente estudo de revisão sistemática sobre essa temática, realizado por Steele et al. (2020Steele, A. R., van Rens, F. E. C. A., & Ashley, R. (2020). A systematic literature review on the academic and athletic identities of student-athletes. Journal of Intercollegiate Sport, 13(1), 69-92. https://doi.org/10.17161/jis.v13i1.13502
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), ressaltando suas propriedades psicométricas promissoras e a possibilidade de se tornar um padrão ouro para as futuras pesquisas em dupla carreira.

Embora exista um referencial teórico rico na literatura internacional sobre a experiência dos estudantes universitários que praticam esporte, principalmente de origem estadunidense e pautada no alto rendimento, há contribuições discretas a respeito da definição desse grupo específico no Brasil. Em geral, o modelo nacional esportivo indica a existência de três manifestações distintas do esporte (educação, participação e desempenho), que resulta na existência tanto de universitários que praticam esporte como forma de lazer, participando ou não de competições, englobando também aqueles que se aventuram a aprender uma modalidade, quanto de universitários com mais experiência esportiva que, em alguns casos, recebem incentivos para a prática, como patrocínios ou bolsas, e mais voltado ao alto rendimento (Barbosa, 2017Barbosa, C. G. (2017). A gestão pública do esporte universitário brasileiro: A bola não deve entrar por acaso (Tese de doutorado não publicada). Universidade Estadual Paulista “Júlio Mesquita Filho”, Rio Claro, SP.; Corrêa & Dias, 2020Corrêa, M. A., & Dias, A. C. G. (2020). Core self-evaluations and sportive practice: Comparisons between practitioners and non-practitioners college students. Psicologia: Teoria e Prática, 22(2), 444-457. https://doi.org/10.5935/1980-6906/psicologia.v22n2p444-457
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; Fiochi-Marques et al., 2018Fiochi-Marques, M., Oliveira, M. C., & Melo-Silva, L. L. (2018). Construção da carreira do universitário-atleta: Percepções e expectativas na transição universidade-trabalho. Psicologia Revista, 27(Esp.), 679-706. https://doi.org/10.23925/2594-3871.2018v27i3p679-706
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; Guerrero & Fernandes, 2020Guerrero, K. B., & Fernandes, P. T. (2020). Manual do esporte universitário: A sinuosidade de uma vertente ímpar do esporte. FEF/UNICAMP. https://doi.org/10.20396/ISBN9786588397046
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).

Nesse sentido, investigações que focalizam a experiência do estudante universitário que pratica esporte a partir de sua relação entre os níveis identitários, constitui-se como uma lacuna observada na literatura nacional. Para tanto, o presente estudo objetivou a adaptação transcultural e apresentação de evidências de validade da Academic and Athletic Identity Scale (AAIS), a fim de possibilitar o pioneirismo brasileiro para fins diagnósticos na temática e com vistas a direcionar a atenção à população específica de estudantes universitários praticantes de esportes no Brasil.

Ainda, foram escolhidas as variáveis de identidade profissional e nível de autopercepção do desenvolvimento pessoal, aqui descrito como flourishing, para o estudo de validação convergente e discriminante da escala. Tais construtos objetivaram a investigação de hipóteses sobre a percepção de autodesenvolvimento da população-alvo do estudo por meio dos esportes e dos estudos, bem como possibilidades relativas à dupla carreira no contexto brasileiro. Isso porque, estudos internacionais sugerem a possibilidade de equilibrar as demandas relativas aos contextos acadêmico e atlético, tendo ambos como possibilidade de carreira profissional (ver Steele et al., 2020Steele, A. R., van Rens, F. E. C. A., & Ashley, R. (2020). A systematic literature review on the academic and athletic identities of student-athletes. Journal of Intercollegiate Sport, 13(1), 69-92. https://doi.org/10.17161/jis.v13i1.13502
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).

Método

Participantes

Para a etapa de adaptação do instrumento, a amostra de conveniência constituiu-se de 11 juízes participantes. Seis eram professores, pesquisadores e integrantes de grupos de pesquisa ligados à temática estudada, e os demais provenientes de parte do público-alvo do estudo, para fins do estudo piloto.

Na etapa de validação, a amostra por conveniência incluiu 303 participantes, de acordo com os seguintes critérios de inclusão: (a) ser estudante universitário; (b) estar matriculado em uma Instituição de Ensino Superior (IES) brasileira, no nível de graduação ou pós-graduação; (c) ter participado de ao menos uma competição esportiva. Não houve restrição sobre a natureza da IES (pública ou privada), o tipo e tempo de curso, o sexo e as modalidades esportivas. Assim, a Tabela 1 apresenta o perfil amostral da etapa de validação caracterizado pela participação de 303 estudantes universitários com idades entre 18 e 51 anos (M = 23,33; DP = 4,605), dos quais 52,5% eram do sexo feminino, e 49,8% apresentaram nível socioeconômico B, conforme classificação da ABEP, seguido do nível A (30%).

Tabela 1
Informações Sociodemográficas dos Participantes

Os dados sociodemográficos indicam que a maior parte da amostra é composta de estudantes de graduação (79,9%), da área de Ciências da Saúde (46,9%), de ensino superior público (66,3%) e da região sudeste (64,7%). A maioria dos participantes apresentou alto grau de identificação com seu respectivo curso (94,7%). Em relação às informações esportivas, a maior parte dos respondentes praticava intencionalmente esporte por lazer (63%). Dentre as 31 modalidades praticadas pelos respondentes, destacaram as de quadra, compondo juntas mais de 60%, como futebol, handebol, basquete e vôlei. A média de tempo de prática foi de 12 anos, com tempo mínimo de seis meses e máximo de 45 anos. Ainda, 77,2% da amostra se autodeclarou mais identificada com o papel de estudante/acadêmico do que com o de esportista/atleta, e 64% classificaram seu envolvimento esportivo, no momento da pesquisa, como amador, 26,7% como semiprofissional e 9,2%, profissional.

Instrumentos

Para obtenção de dados, foram utilizados quatro instrumentos: (a) um questionário sociodemográfico contendo informações escolares e esportivas; (b) a Escala de Identidade Acadêmica e Atlética (AAIS-Br), (c) a Escala de Identidade Profissional (EIP-Br) e (d) a Escala Flourishing (EF).

A AAIS-Br foi originalmente construída em língua inglesa por Yukhymenko-Lescroart (2014Yukhymenko-Lescroart, M. A. (2014). Students and athletes? Development of the Academic and Athletic Identity Scale (AAIS). Sport, Exercise, and Perfomance Psychology, 3(2), 89-101. https://doi.org/10.1037/spy0000009
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) e apresenta evidências de validade. Trata-se de um instrumento de autorrelato que objetiva mensurar a identidade acadêmica e atlética por meio da autopercepção dos papéis relativos às duas identidades. A escala de resposta é do tipo Likert de sete pontos variando de 1 (não central) a 7 (o núcleo central). As afirmações são precedidas pelo enunciado “Indique o quanto cada uma das características é central a quem você realmente é...”. A escala possui 11 itens distribuídos em duas dimensões: identidade acadêmica (ωt = 0,93) e identidade atlética (ωt = 0,93), respectivamente.

As escalas EIP-Br e EF foram utilizadas para apresentação de evidências de validade convergente e discriminante da AAIS-Br. A EIP-Br, desenvolvida originalmente por Adams et al. (2006Adams, K., Hean, S., Sturgis, P., & Clark, J. M. (2006). Investigating the factors influencing professional identity of first-year healthy and social care students. Learning in Health and Social Care, 5(2), 55-68. https://doi:10.1111/j.1473-6861.2006.00119
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) e adaptada para o contexto brasileiro por Rossi e Oliveira (2020Rossi, G. A. N., & Oliveira, M. C. (2020). Adaptação e evidências de validade de Escalas de Identidade Profissional para estudantes. Psychologica, 63(1), 119-137. https://doi.org/10.14195/1647-8606_63-1_7
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), é um instrumento que visa avaliar o nível de identidade profissional de estudantes que fazem formação profissional e apresenta evidências de validade. A escala é unidimensional (identidade profissional; a = 0,83) e contém seis itens, com escala Likert de cinco pontos (1 - Não muito; 5 - Sempre) precedida do enunciado sobre “o quanto você se identifica com a profissão para qual está se formando”.

A EF foi desenvolvida por Diener et al. (2010Diener, E., Wirtz, D., Tov, W., Kim-Prieto, C., Choi, D., Oishi, S., & Biswas-Diener, R. (2010). New well-being measures: Short scales to assess flourishing and positive and negative feelings. Social Indicators Research, 97(2), 143-156. https://doi:10.1007/s11205-009-9493-y
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) e adaptada para o contexto brasileiro por Fonseca et al. (2015Fonseca, P. N., Nascimento, B. S., Barbosa, L. H. G. M., Vione, K. C., & Gouveia, V. V. (2015). Flourishing Scale: Evidence of its suitability to the Brazilian context. Social Inquiry into Well-Being, 1(2), 33-40. https://doi.org/10.13165/SIIW-15-1-2-07
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). A escala tem por objetivo medir o sucesso/desenvolvimento autopercebido dos indivíduos em áreas importantes, como relacionamentos, autoestima, propósito e otimismo. Trata-se de uma escala unidimensional (flourishing; α = 0,73) do tipo Likert de 1 (discordo totalmente) a 5 (concordo totalmente) de oito itens, como “Sinto-me envolvido e interessado nas minhas atividades do dia a dia”, “Sou competente e capaz nas atividades que são importantes para mim” e “Estou otimista em relação ao meu futuro”.

Procedimentos

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, conforme processo padronizado via Plataforma Brasil, sob o registro CAAE nº 80891817.0.0000.5407. Além disso, a permissão do uso do instrumento, para fins desta pesquisa, foi solicitada à autora da AAIS, Mariya A. Yukhymenko-Lescroart, atual pesquisadora da Universidade Estadual da Califórnia, EUA. A versão adaptada da AAIS na presente pesquisa para o contexto brasileiro é então nomeada Escala de Identidade Acadêmica e Atlética, versão brasileira (AAIS-Br).

Para a coleta de dados de ambas as etapas de adaptação e validação da AAIS-Br, foram estruturados formulários online via Google Forms. A aplicação virtual dos instrumentos é justificada pelas vantagens de utilização dessa estratégia na contemporaneidade, como a possibilidade de maior abrangência de participantes (Faleiros et al., 2016Faleiros, F., Käppler, C., Pontes, F. A. R., Silva, S. S. C., Goes, F. S. N., & Cucick, C. D. (2016). Uso de questionário online e divulgação virtual como estratégia de coleta de dados em estudos científicos. Texto & Contexto - Enfermagem, 25(4), 1-6. https://doi.org/10.1590/0104-07072016003880014
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).

O primeiro formulário foi enviado aos juízes do estudo, para cumprimento do processo de adaptação transcultural da AAIS ao contexto brasileiro. Para tanto, foram seguidas as diretivas e considerações de Borsa et al. (2012Borsa, J. C., Damásio, B. F., & Bandeira, D. R. (2012). Cross-cultural adaptation and validation of psychological instruments: Some considerations. Paidéia (Ribeirão Preto), 22(53), 423-432. https://doi.org/10.1590/S0103-863X2012000300014
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), contemplando cinco etapas: (a) diferentes versões traduzidas do instrumento do idioma de origem (inglês) para o idioma-alvo (português-Brasil); (b) síntese das versões traduzidas; (c) avaliação da síntese por juízes experts; (d) tradução reversa; (e) avaliação do instrumento pelo público-alvo. Tais etapas foram seguidas com o objetivo principal de atingir as quatro áreas de equivalência propostas pelos autores, por serem critérios mais abrangentes do que a simples tradução do instrumento.

Ainda de acordo com Borsa et al. (2012Borsa, J. C., Damásio, B. F., & Bandeira, D. R. (2012). Cross-cultural adaptation and validation of psychological instruments: Some considerations. Paidéia (Ribeirão Preto), 22(53), 423-432. https://doi.org/10.1590/S0103-863X2012000300014
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), quatro áreas de equivalência devem ser avaliadas: equivalência semântica (analisar se as palavras apresentam o mesmo significado, se o item apresenta mais de um significado e se existem erros gramaticais na tradução), idiomática (verificar se os itens de difícil tradução foram adaptados por uma expressão equivalente que não tenha mudado o significado cultural do item), experiencial (observar se determinado item é aplicável na nova cultura e, em caso negativo, substituir por algum item equivalente) e conceitual (determinar se determinado termo ou expressão, ainda que traduzido adequadamente, avalia o mesmo aspecto em diferentes culturas).

Nessa direção, a primeira etapa da adaptação do instrumento contemplou as traduções. Inicialmente foram elaboradas duas versões do inglês para o português, realizadas por dois pesquisadores bilíngues e mestres em Psicologia, ligados à área de Psicologia do Esporte e da Psicometria. Em um segundo momento, a síntese das versões traduzidas foi realizada por uma das pesquisadoras autora deste estudo, bilíngue e familiarizada com a temática.

A avaliação da síntese foi feita seguidamente por dois juízes pesquisadores bilíngues, doutores e professores, experts em Psicometria, com publicações científicas sobre estudos de validade. Nessa etapa, também foram enviadas a eles as instruções sobre as quatro áreas de equivalência que deveriam avaliar. Além de pequenos ajustes nas instruções de preenchimento da escala, houve alterações principalmente nas formas nominais dos verbos de cada item e substituição de palavras por outras com maior equivalência semântica.

Em sequência, a primeira versão do instrumento foi submetida à retrotradução dos itens para a língua inglesa, visando avaliar em que medida a versão traduzida refletia o conteúdo de cada item, conforme a versão original propõe. Tal etapa foi realizada por um pesquisador bilíngue, professor e pós-doutor em Psicologia, expert em Psicometria. Apesar desse procedimento não pressupor que os itens devem se manter literalmente igual ao original, e sim manter a equivalência conceitual, nenhuma alteração foi sugerida.

Por fim, a versão refinada foi aplicada a uma pequena amostra do público-alvo, composta por cinco estudantes universitários envolvidos com esporte em qualquer nível, de lazer ao alto rendimento. A partir dessas considerações, objetivou-se verificar a clareza das instruções, das mensagens e dos termos de consentimento livre e esclarecido e de autorização para banco de dados no formato virtual, bem como o tempo dedicado à resposta aos instrumentos.

Após o estudo piloto proveniente da adaptação transcultural, foi iniciada a divulgação para a coleta de dados da etapa de validação, realizada por quase dois meses. Os participantes, por sua vez, foram localizados por diferentes estratégias virtuais. O convite para participar do estudo foi enviado por correio eletrônico para os endereços eletrônicos de Instituições de Ensino Superior (IES) do Brasil, de professores e possíveis colaboradores ligados ao esporte universitário, bem como divulgado por meio de redes sociais e por intermédio da técnica de bola de neve.

O formulário enviado aos participantes da etapa de validação inicialmente apresentou os objetivos da pesquisa, incluindo o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e o Termo de Inclusão em Banco de Dados, além dos cuidados éticos da pesquisa. Somente após o aceite dos termos, os participantes obtiveram acesso ao questionário sociodemográfico e aos demais instrumentos da pesquisa, descritos anteriormente, podendo desistir a qualquer momento.

Para evitar a omissão de respostas no formulário, todas as perguntas eram obrigatórias, isto é, os participantes só conseguiam finalizar o questionário se tivessem respondido a todas as questões. Assim, os dados dos formulários concluídos foram enviados automaticamente a uma base de dados acessada apenas pelos pesquisadores.

Análise de Dados

Após a conclusão da coleta, foram iniciadas as análises dos dados. Inicialmente, os dados foram transferidos do Google Forms via planilha de excel e codificados para que pudessem ser lidos pelo Software Statistical Package for Social Sciences (SPSS) versão 23. Prosseguiu-se então para a avaliação do poder discriminativo dos itens baseada na análise da distribuição da porcentagem de respostas pelas alternativas propostas em cada escala, a fim de observar se manifestam capacidade de diferenciar os sujeitos entre si. Foi observado que as respostas se distribuem de forma aleatória e de acordo com uma curva normal. Em seguida, foi realizada a análise fatorial confirmatória das três escalas utilizadas por meio do Statistical Package for the Social Science - AMOS for Windows, com base nos fatores estabelecidos nos estudos anteriores da criação das medidas, a fim de avaliar as suas qualidades psicométricas.

Como critério inicial de manutenção dos itens da escala foi considerada a existência de uma carga fatorial igual ou superior a 0,40. O ajustamento dos modelos testados aos dados recolhidos foi avaliado por índices de modelos de equações estruturais: a estatística do qui-quadrado sobre graus de liberdade (χ2gl), que se refere à magnitude da discrepância entre a matriz de variância-covariância implícita no modelo com a matriz de variância-covariância observada nos dados; o índice comparativo do ajustamento Comparative Fit Index (CFI), que compara o modelo especificado com um modelo nulo sem trajetórias ou variáveis latentes; Goodness of Fit Index (GFI), a raiz do erro quadrático médio de aproximação, Root Mean Square Error of Apoximation (RMSEA), que compara a matriz de variância-covariância implícita no modelo com a matriz de variância-covariância observada nos dados, ajustada para o tamanho da amostra e para a complexidade do modelo, e Standardized Root Mean Square Residual (SRMR). A fim de aferir a validade convergente e discriminante, foram realizadas correlações entre a AAIS-Br e os outros dois instrumentos de medida (EIP-Br e EF), por meio do teste de correlação de Pearson (r de Pearson).

Resultados

Adaptação Transcultural AAIS

A partir das considerações obtidas pelo estudo piloto com os juízes, pequenos ajustes foram feitos nas instruções e preenchimento da escala. Foram realizadas alterações principalmente nas formas nominais dos verbos de cada item e a substituição de palavras por outras com maior equivalência semântica na etapa de síntese, conforme apresenta a Tabela 2.

Tabela 2
Reformulação dos Itens da AAIS-Br

Para facilitar a visualização da escala no formulário online, foi acrescentada à legenda um número em ordem crescente, referente ao quanto o participante identificava-se com frases contidas em cada item. Assim, o respondente indicava o quanto cada uma das características descritas por item era central para ele, a partir da escala Likert: (1) não central, (2) um pouco central, (3) quase central, (4) central, (5) muito central, (6) extremamente central, e (7) o núcleo central.

Evidências de Validade AAIS-Br

O primeiro procedimento realizado para fins de evidências de validade da escala AAIS-Br foi a avaliação do poder discriminativo dos itens. Neste estudo, em nenhum item se observou uma porcentagem de respostas acima de 80% em qualquer das alternativas de resposta. Assim, esse método não conduziu à eliminação de qualquer item.

Com o intuito de apresentar evidência de validade de construto e confirmar a adequação da estrutura fatorial, realizou-se a análise fatorial confirmatória (AFC) da AAIS-Br, com recurso ao software SPSS AMOS versão 22. A adequação do modelo foi verificada por meio dos índices de ajustamento. Inicialmente, o modelo apresentou índices não satisfatórios: χ2/gl = 9,501 (p = 0,000); CFI = 0,898; GFI = 0,785; RMSEA = 0,168; SRMR = 0,0474.

Assim, a partir dos índices de modificação (MI) indicados pelo software SPSS-AMOS, foram sugeridas correlações de erros com maiores valores, a fim de verificar possíveis melhorias nos resultados. Após apreciação de sua congruência teórica, tais sugestões foram implementadas, tendo-se procedido à correlação dos erros dos itens 4 e 5 pertencentes ao fator Identidade Acadêmica, e entre os erros dos itens 1 e 2, e itens 5 e 6 pertencentes ao fator Identidade Atlética. Com a introdução das referidas correlações, foram obtidos bons índices de ajustamento: χ2/gl = 2,506 (p = 0,000); CFI = 0,947; GFI = 0,981; RMSEA = 0,071; SRMR = 0,04, conforme ilustra a Figura 1. Tais resultados confirmam a estrutura fatorial original da escala.

Figura 1
Modelo final AFC da AAIS-Br

A fim de apresentar evidências de validade convergente e discriminante da AAIS-Br, foram utilizadas a EIP-Br e EF. Para tanto, foram realizadas AFCs nesses instrumentos. A AFC realizada para a EF confirmou a estrutura original do instrumento com bons índices de ajustamento: χ2/gl = 2,771 (p = 0,000); CFI = 0,958; GFI = 0,959; RMSEA = 0,077; SRMR = 0,0381.

Já o modelo da EIP-Br não apresentou índices satisfatórios de ajustamento. Após essa análise, observou-se que o item 3 apresentava uma carga fatorial muito baixa (0 < 0,40), o que ocasionou sua eliminação do modelo. Dessa forma, os índices de ajuste tornaram-se satisfatórios: χ2/gl = 1,228 (p = 0,293); CFI = 0,998; GFI = 0,992; RMSEA = 0,027; SRMR = 0,0226.

De modo a avaliar a consistência interna dos fatores, foram aferidos os índices de confiabilidade das escalas por meio do alfa de Cronbach (α), da Confiabilidade Composta (CC) e da Variância Média Extraída (VEM). Todos os fatores apresentaram bons índices de confiabilidade: Identidade Acadêmica (α = 0,947; CC = 0,944; VEM = 0,771), Identidade Atlética (α = 0,946; CC = 0,942; VEM = 0,732), Identidade Profissional (IP; α = 0,811; CC = 0,827; VEM = 0,507), Flourishing (Fl; α = 0,860; CC = 0,863; VEM = 0,442). As estatísticas descritivas dos quatro fatores são apresentadas na Tabela 3. Baseando-se nos valores da assimetria e da curtose (abaixo de +- 2) (George & Mallery, 2010George, D., & Mallery, M. (2010). SPSS for Windows step by step: A simple guide and reference, 17.0 update (10th ed.). Pearson.), considera-se que não existem desvios significativos à normalidade da distribuição dos dados.

Tabela 3
Estatísticas Descritivas do Estudo

As correlações entre as quatro variáveis são apresentadas na Tabela 4. As análises realizadas evidenciam que a Identidade Acadêmica está correlacionada com Flourishing e Identidade Profissional. Por outro lado, a Identidade Atlética não está correlacionada com Flourishing e Identidade Profissional. Por último, é observada ainda uma correlação entre Identidade Acadêmica e Identidade Atlética. Tanto o flourishing como a identidade profissional funcionaram como teste de validade convergente para a identidade acadêmica, e teste de validade discriminante para identidade atlética.

Tabela 4
Correlações de Pearson

Discussão

O estudo e a mensuração dos construtos de identidade acadêmica e identidade atlética podem auxiliar a compreensão dos próprios estudantes que participam do esporte e demais envolvidos. Como apresentado anteriormente, instrumentos em português (Brasil) que mensuram tais identidades constituíam parte de uma lacuna na literatura científica, caracterizando-se então como o objetivo da presente pesquisa. A partir dos resultados apresentados, considera-se que o objetivo de adaptar e apresentar evidências de validade da Escala de Identidade Acadêmica e Atlética para o contexto brasileiro foi atingido.

Nessa direção, inicialmente procedeu-se à adaptação transcultural da escala AAIS ao português (Brasil). Após a adaptação transcultural e a análise fatorial confirmatória, observou-se que os dados se ajustaram ao modelo bifatorial apresentado originalmente. Tais resultados confirmam, portanto, o modelo proposto por Yukhymenko-Lescroart (2014Yukhymenko-Lescroart, M. A. (2014). Students and athletes? Development of the Academic and Athletic Identity Scale (AAIS). Sport, Exercise, and Perfomance Psychology, 3(2), 89-101. https://doi.org/10.1037/spy0000009
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) e sua mesma estrutura para a AAIS-Br. O índice de consistência interna das dimensões desta escala (identidade acadêmica - α = 0,947; identidade atlética - α = 0,946) foram muito bons.

Esses achados assemelham-se aos anteriormente verificados em análise fatorial confirmatória da AAIS feita por MacNab (2015MacNab, B. A. (2015). Student-athlete academic and athletic identity and self-efficacy (Unpublished master’s thesis). Louisiana State University, Baton Rouge, LA.), que obteve índices alfa de 0,92 (identidade acadêmica) e 0,93 (identidade atlética), aos encontrados por Van Rens, et al. (2018Van Rens, F. E. C. A., Ashley, R. A., & Steele, A. R. (2018). Wellbeing and performance in dual careers: The role of academic and athletic identities. The Sport Psychologist, 33(1), 42-51. https://doi.org/10.1123/tsp.2018-0026
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), com alfas de 0,91 e 0,90, e por Hagiwara et al. (2020Hagiwara, G., Yukhymenko-Lescroart, M. A., Shimozono, H., Isogai, H., Akiyama, D., Shinriki, R., Ohshita, K., & Hagiwara, Y. (2020). Journal of Japan Society of Sports Industry, 30(2), 183-193. https://doi.org/10.5997/sposun.30.2_183
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), com índices α = 0,82 e α = 0,92, respectivamente. Os índices de ajustamento do modelo da AAIS-Br também corroboram os apresentados pelos últimos autores: x 2 (39) = 38,65; P = 0,49; CFI = 1,0; GFI = 0,91; SRMR = 0,07).

No que diz respeito às evidências de validade convergente e discriminante apresentadas, os resultados obtidos se assemelham a grande parte das expectativas do estudo. De fato, não era esperada uma correlação significativa entre a identidade atlética e a identidade profissional. Isso porque a tendência de que universitários encarem seu papel esportivo com uma carreira profissional esportiva como uma profissão é pautada predominantemente em estudos estadunidenses, em que o modelo de esporte é pensado ao longo da vida escolar. Nesse sentido, a falta de correlação pode indicar que estudantes universitários brasileiros dessa amostra não encaram a prática esportiva universitária como parte da carreira profissional.

O resultado corrobora a dificuldade encontrada no país para a valorização do esporte brasileiro, sobretudo a partir de 2019, com a extinção do Ministério do Esporte, cujas atribuições são transferidas para uma Secretaria no âmbito do Ministério da Cidadania (Decreto Nº 9.674, 2019Decreto No. 9.674, de 2 de janeiro de 2019 (2019). http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/decreto/D9674.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_at...
). Particularmente, nos momentos em que teve espaço, não foi evidenciado, como a tentativa de implantação de um modelo nacional pensado para o esporte universitário, apresentado e não acatado na III Conferência Nacional de Esporte1 1 http://www2.esporte.gov.br/conferencianacional/conferencia3.jsp , em 2010. Além disso, a ausência de definições claras sobre o lugar do esporte universitário (Barbosa, 2017Barbosa, C. G. (2017). A gestão pública do esporte universitário brasileiro: A bola não deve entrar por acaso (Tese de doutorado não publicada). Universidade Estadual Paulista “Júlio Mesquita Filho”, Rio Claro, SP.; Guerrero & Fernandes, 2020Guerrero, K. B., & Fernandes, P. T. (2020). Manual do esporte universitário: A sinuosidade de uma vertente ímpar do esporte. FEF/UNICAMP. https://doi.org/10.20396/ISBN9786588397046
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; Maroni 2012Maroni, F. C. (2012). Gestão do esporte universitário. Em: L. C. Mazzei & F. C. Bastos. Gestão do esporte no Brasil: desafios e perspectivas. Ícone.) e a ausência de políticas públicas de incentivo à carreira profissional esportiva dentro do ensino superior também se destacam, como apontam Starepravo et al. (2010Starepravo, F. A., Reis, L. J. A., Mezzadri, F. M., Marchi, W., Jr. (2010). O esporte universitário no Brasil: Uma interpretação a partir da legislação esportiva. Esporte e Sociedade, 5(1), 47-62.) e Fiochi-Marques et al. (2018Fiochi-Marques, M., Oliveira, M. C., & Melo-Silva, L. L. (2018). Construção da carreira do universitário-atleta: Percepções e expectativas na transição universidade-trabalho. Psicologia Revista, 27(Esp.), 679-706. https://doi.org/10.23925/2594-3871.2018v27i3p679-706
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).

Por sua vez, a correlação positiva entre a identidade acadêmica e identidade profissional era esperada no estudo. O resultado indicou que os participantes derivam a sua identidade profissional não da identidade atlética, mas da identidade acadêmica, vendo nos estudos uma questão ligada à identificação profissional. Isto é, os resultados apontam que tais participantes, que praticam esporte e estão no ensino superior, tendem a olhar para sua identidade profissional como algo que deriva mais da vida escolar.

Tal resultado não corrobora alguns achados da literatura estrangeira, sobretudo norte-americana, cuja tendência é de que os estudantes universitários que praticam esporte priorizem a identidade atlética sobre a acadêmica quando sentem dificuldade de equilibrar os dois contextos (Sturm et al., 2011Sturm, J. E., Feltz, D. L., & Gilson, T. A. (2011). A comparison of athlete and student identity for Division I and Division III athletes. Journal of Sport Behavior, 34(3), 295-306.). Apesar de oposto aos estudos estadunidenses, o resultado atendeu às expectativas do estudo, uma vez que fora observada recentemente que a dificuldade dos universitários brasileiros praticantes de esportes em equilibrar os contextos, juntamente com a falta de incentivos e de investimento esportivo, há uma tendência de priorização dos estudos e possibilidade de abandono das atividades esportivas (Fiochi-Marques et al., 2018Fiochi-Marques, M., Oliveira, M. C., & Melo-Silva, L. L. (2018). Construção da carreira do universitário-atleta: Percepções e expectativas na transição universidade-trabalho. Psicologia Revista, 27(Esp.), 679-706. https://doi.org/10.23925/2594-3871.2018v27i3p679-706
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; Guerrero & Fernandes, 2020Guerrero, K. B., & Fernandes, P. T. (2020). Manual do esporte universitário: A sinuosidade de uma vertente ímpar do esporte. FEF/UNICAMP. https://doi.org/10.20396/ISBN9786588397046
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).

Observa-se ainda que a identidade acadêmica apresentou significativa correlação com a identidade atlética, conforme o esperado. Esse resultado é coerente com a tendência apresentada em estudos estadunidenses, que sustentam a associação entre as identidades acadêmicas e atléticas de estudantes universitários que praticam esportes, como em MacNab (2015MacNab, B. A. (2015). Student-athlete academic and athletic identity and self-efficacy (Unpublished master’s thesis). Louisiana State University, Baton Rouge, LA.), Sturm et al. (2011Sturm, J. E., Feltz, D. L., & Gilson, T. A. (2011). A comparison of athlete and student identity for Division I and Division III athletes. Journal of Sport Behavior, 34(3), 295-306.) e Yukhymenko-Lescroart (2014Yukhymenko-Lescroart, M. A. (2014). Students and athletes? Development of the Academic and Athletic Identity Scale (AAIS). Sport, Exercise, and Perfomance Psychology, 3(2), 89-101. https://doi.org/10.1037/spy0000009
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; 2018).

Nesse sentido, o resultado dessa associação pode ser explicado pela falta de clareza em relação ao papel do estudante universitário que pratica esporte no Brasil e, também, pela falta de perspectiva de construção da carreira esportiva no contexto do país. Compreende-se uma apropriação do modelo de alto rendimento notavelmente emprestado dos EUA e defendidos pela Confederação Brasileira do Desporto Universitário (Leiros et al., 2010Leiros, A. C. R., Damiani, C., Costa, F. S., Gnecco, J. R., Filgueira, J., & Cabral, L. (2010). Perspectivas para o esporte universitário: Reflexões do 1º Encontro Nacional de Atléticas Universitárias. Centro de Estudos e Memória da Juventude.), enquanto há manifestações cada vez mais significativas de campeonatos universitários que visam promover a integração social entre os estudantes (Malagutti, 2015Malagutti, J. P. M. (2015). Esporte ou festa? Uma análise sobre o subcampo do esporte universitário no Paraná (Dissertação de mestrado não publicada). Universidade Estadual de Maringá, Maringá, PR.). O resultado do estudo australiano de Van Rens et al. (2018Van Rens, F. E. C. A., Ashley, R. A., & Steele, A. R. (2018). Wellbeing and performance in dual careers: The role of academic and athletic identities. The Sport Psychologist, 33(1), 42-51. https://doi.org/10.1123/tsp.2018-0026
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), contudo, destaca-se por não encontrar associações significativas entre essas duas variáveis e é de notável importância ao evidenciar a necessidade de produzir evidências científicas adequadas ao contexto brasileiro.

Dada a escassez de estudos sobre identidade acadêmica na literatura tanto brasileira quanto estrangeira, não foi firmada uma expectativa sobre correlações entre identidade acadêmica e o flourishing. Contudo, a associação positiva entre as duas variáveis indica que a autopercepção de crescimento pessoal dos participantes tem relação com seu papel acadêmico. No entanto, esperava-se uma correlação entre a identidade atlética e o flourishing. A expectativa era que a identificação com o esporte levasse à percepção de desenvolvimento pessoal, visto que há evidências em estudos recentes, no contexto brasileiro, que indicam o desenvolvimento positivo por meio do esporte e de habilidades transferíveis para a vida (Corrêa & Dias, 2020Corrêa, M. A., & Dias, A. C. G. (2020). Core self-evaluations and sportive practice: Comparisons between practitioners and non-practitioners college students. Psicologia: Teoria e Prática, 22(2), 444-457. https://doi.org/10.5935/1980-6906/psicologia.v22n2p444-457
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; Fiochi-Marques et al., 2018Fiochi-Marques, M., Oliveira, M. C., & Melo-Silva, L. L. (2018). Construção da carreira do universitário-atleta: Percepções e expectativas na transição universidade-trabalho. Psicologia Revista, 27(Esp.), 679-706. https://doi.org/10.23925/2594-3871.2018v27i3p679-706
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; Guerrero & Fernandes, 2020Guerrero, K. B., & Fernandes, P. T. (2020). Manual do esporte universitário: A sinuosidade de uma vertente ímpar do esporte. FEF/UNICAMP. https://doi.org/10.20396/ISBN9786588397046
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). A falta de correlação entre tais variáveis aponta para a necessidade de novas investigações que ampliem a definição de flourishing no contexto brasileiro, bem como a correlacione no âmbito esportivo.

Considerações Finais

A partir dos resultados analisados, foi possível tornar válido e confiável para o contexto brasileiro um instrumento capaz de mensurar o grau de identificação acadêmica e atlética de estudantes universitários praticantes de esporte. Além disso, ficou clara a necessidade de compreender como vêm sendo equilibradas as identidades relativas ao estudo e ao esporte por esse grupo específico, no sentido de preencher a lacuna na produção do conhecimento nesse domínio no Brasil. Ao notar as altas médias obtidas para os dois fatores principais estudados, os resultados indicam uma forte identificação autodeclarada dos participantes para ambas as identidades. Confirma-se então o papel significativo do esporte na vida acadêmica dos estudantes universitários.

É importante destacar que houve dificuldades para alcançar o público-alvo do estudo nas regiões norte e nordeste do Brasil. Provavelmente isso tenha ocorrido em função do menor número de IES em ambas as regiões do país, se comparadas às outras regiões. Para sanar essa dificuldade, foram estabelecidos contatos com coordenações de cursos, professores e responsáveis pelas atléticas das IES de tais regiões e, dessa forma, a amostra foi equilibrada para atender às generalizações aqui realizadas.

Contudo, algumas limitações deste estudo são apontadas. Ainda que tenha atendido aos critérios estatísticos para a análise, destacam-se a coleta online, seu tempo restrito e o número de participantes. Nesse sentido, sugere-se que novas investigações sejam feitas com o mesmo delineamento e de maneira presencial, com maior número de participantes, entre estudantes de IES públicas e privadas, para além do contexto universitário. As identidades acadêmica e atlética também podem estar salientes em estudantes de outros níveis escolares, o que pode implicar em novos resultados e proporcionar outras análises e conclusões, corroborando ou diferenciando-se deste estudo.

No que diz respeito às análises da AAIS-Br, sugere-se também a busca por novas correlações para que evidências de validade adicionais reforcem ou apontem possíveis mudanças de estrutura para o contexto brasileiro. Isso porque não há um consenso na literatura sobre quais análises são necessárias para considerar a validação de uma medida como completa, sendo então melhor quanto mais evidências o instrumento fornecer, visto que isso tende a aumentar a confiabilidade da medida (Borsa et al., 2012Borsa, J. C., Damásio, B. F., & Bandeira, D. R. (2012). Cross-cultural adaptation and validation of psychological instruments: Some considerations. Paidéia (Ribeirão Preto), 22(53), 423-432. https://doi.org/10.1590/S0103-863X2012000300014
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).

Ainda, como direcionamentos para novas pesquisas, sugere-se a utilização da escala AAIS-Br com variáveis independentes relativas à identidade acadêmica, voltadas ao desempenho escolar, nível de satisfação com a escolha do curso, vivências estudantis e integração acadêmica, por exemplo. Ainda, são pertinentes investigações que busquem relações entre a AAIS-Br e satisfação de vida, prazer nos esportes e na universidade, que apesar de temas relevantes, continuam escassos (Van Rens et al., 2018Van Rens, F. E. C. A., Ashley, R. A., & Steele, A. R. (2018). Wellbeing and performance in dual careers: The role of academic and athletic identities. The Sport Psychologist, 33(1), 42-51. https://doi.org/10.1123/tsp.2018-0026
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; Steele et al., 2020Steele, A. R., van Rens, F. E. C. A., & Ashley, R. (2020). A systematic literature review on the academic and athletic identities of student-athletes. Journal of Intercollegiate Sport, 13(1), 69-92. https://doi.org/10.17161/jis.v13i1.13502
https://doi.org/10.17161/jis.v13i1.13502...
).

Finalizando, espera-se que os resultados deste estudo sobre a adaptação e a validação da AAIS-Br, como ferramenta de mensuração da identidade acadêmica e atlética, contribua para a produção do conhecimento na interface das áreas Psicologia do Esporte e do Desenvolvimento de Carreira no âmbito das identidades. Um instrumento validado para o contexto brasileiro pode ser utilizado em intervenções ou pesquisas direcionadas à população específica que lida com as demandas dos indivíduos e buscam experimentar os dois papéis (acadêmico e esportivo) durante a realização do ensino superior.

Conhecer mais sobre os universitários que praticam esporte e o desenvolvimento da identidade profissional também é útil para fornecer pistas para a elaboração de programas de apoio ao universitário com foco no desenvolvimento de competências para a construção das possibilidades de carreira esportiva ou de competências transferíveis para a carreira acadêmica. O esporte inserido no contexto escolar, especialmente no que toca ao ensino superior, foco desta pesquisa, oferece um espaço de socialização e ambiente propício para a formação e o desenvolvimento integral do universitário, o trabalhador do futuro, independentemente da área profissional na qual irá atuar.

Referências

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    » https://doi:10.1111/j.1473-6861.2006.00119
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Set 2022
  • Data do Fascículo
    Apr-Jun 2022

Histórico

  • Recebido
    02 Jun 2020
  • Revisado
    03 Nov 2020
  • Aceito
    24 Fev 2021
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