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Associação entre indicadores da capacidade funcional e do estado nutricional em idosos da comunidade: uma nova abordagem

Association between functional capacity and nutritional status indicators in elderly community: a new approach

Resumo

Introdução

Alterações na composição corporal do idoso podem ser rapidamente identificadas por profissionais de saúde na Atenção Básica, reduzindo o impacto sobre a saúde, o estado nutricional e a capacidade funcional.

Objetivo

Identificar relações entre massa e força muscular com o estado nutricional e a capacidade funcional em idosos da comunidade.

Método

Estudo transversal, envolvendo 323 idosos. A avaliação da composição corporal foi realizada por absorciometria (DEXA) e antropometria. A capacidade funcional foi avaliada pelas Atividades Instrumentais de Vida Diária, pela velocidade da marcha (VM) e Time Up and Go (TUG).

Resultados

Nesta amostra, o índice de massa magra (IMM) se mostrou associado aos indicadores do estado nutricional (IMC, CP e CC), além de ter apresentado importante correlação com a força de preensão palmar (FPP). A FPP esteve relacionada à VM e ao TUG. A análise de regressão identificou associação entre o IMC e o IMM (p<0,001), bem como entre a VM e a FPP (p=0,003).

Conclusão

A FPP se apresentou como importante indicador da capacidade funcional e se mostrou correlacionada com o IMM. Consequentemente, o IMM está associado aos indicadores do estado nutricional. Logo, na impossibilidade de avaliação do IMM, recomendamos a avaliação da FPP, CP e IMC como preditores de comprometimento do estado nutricional e da incapacidade funcional do idoso.

Palavras-chave:
idosos; estado nutricional; capacidade funcional

Abstract

Background

Changes in the body composition of the elderly can be quickly identified by health professionals in primary care, reducing the impact on health, nutritional status, and functional capacity.

Objective

To look for links between muscle mass and strength, nutritional status, and functional capacity in community-dwelling elderly.

Method

A cross-sectional study involving 323 elderly people was carried out. Body composition assessment was performed by absorptiometry (DEXA) and anthropometry. Functional capacity was assessed by Instrumental Activities of Daily Living and by gait speed (VM) and Time Up and Go (TUG).

Results

In this sample, the lean mass index (LMI) was associated with indicators of nutritional status (BMI, NC, and WC), in addition to having shown an important correlation with handgrip strength (HGS). HGS was associated with VM and TUG. Regression analysis identified an association between BMI and LMI (p < 0.001) and between GS and HGS (p = 0.003).

Conclusion

HGS was an important indicator of functional capacity and correlated with LMI. Consequently, the LMI is associated with indicators of nutritional status. Therefore, when it is impossible to assess the LMI, we recommend the assessment of HGS, NC and BMI as predictors of compromised nutritional status and functional disability in the elderly.

Keywords:
elderly; nutritional status; functional capacity

INTRODUÇÃO

O envelhecimento está associado às mudanças progressivas na composição corporal, com um importante impacto sobre a saúde, estado nutricional, capacidade funcional e qualidade de vida11 Woodrow G. Body composition analysis techniques in the aged adult: indications and limitations. Curr Opin Clin Nutr Metab Care. 2009;12(1):8-14. http://dx.doi.org/10.1097/MCO.0b013e32831b9c5b. PMid:19057181.
http://dx.doi.org/10.1097/MCO.0b013e3283...
, resultantes da relação entre fatores genéticos, ambientais e presença de enfermidades22 Frontera WR, Hughes VA, Fielding RA, Fiatarone MA, Evans WJ, Roubenoff R. Aging of skeletal muscle: a 12-yr longitudinal study. J Appl Physiol. 2000;88(4):1321-6. http://dx.doi.org/10.1152/jappl.2000.88.4.1321. PMid:10749826.
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.

A inadequação nutricional desencadeia diversas consequências, dentre elas, as alterações na capacidade de realizar atividades de vida diária (AVDs)33 Apovian CM, Frey CM, Wood GC, Rogers JZ, Still CD, Jensen GL. Body mass index and physical function in older women. Obes Res. 2002;10(8):740-7. http://dx.doi.org/10.1038/oby.2002.101. PMid:12181382.
http://dx.doi.org/10.1038/oby.2002.101...
,44 Ferrucci L, Penninx BW, Leveille SG, Corti MC, Pahor M, Wallace R, et al. Characteristics of nondisabled older persons who perform poorly in objective tests of lower extremity function. J Am Geriatr Soc. 2000;48(9):1102-10. http://dx.doi.org/10.1111/j.1532-5415.2000.tb04787.x. PMid:10983911.
http://dx.doi.org/10.1111/j.1532-5415.20...
. Um estado nutricional adequado é o ponto chave para estabelecer medidas preventivas à saúde55 Corona LP, Pereira de Brito TR, Nunes DP, Silva Alexandre T, Ferreira Santos JL, Oliveira Duarte YA, et al. Nutritional status and risk for disability in instrumental activities of daily living in older Brazilians. Public Health Nutr. 2014;17(2):390-5. http://dx.doi.org/10.1017/S1368980012005319. PMid:23237425.
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, isto posto, as alterações da composição corporal podem ser identificadas ainda no início por profissionais devidamente treinados, utilizando métodos de baixo custo e de fácil execução. Eventos negativos frequentemente observados nos idosos, como quedas, fraturas e episódios cardiovasculares66 Cooper C, Dere W, Evans W, Kanis JA, Rizzoli R, Sayer AA, et al. Frailty and sarcopenia: definitions and outcome parameters. Osteoporos Int. 2012;23(7):1839-48. http://dx.doi.org/10.1007/s00198-012-1913-1. PMid:22290243.
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, estão diretamente associados à baixa capacidade física e ao comprometimento do estado nutricional, os quais, isoladamente ou em associação, podem favorecer um maior número de hospitalizações e de mortalidade nessa população77 Evans WJ. Drug discovery and development for ageing: opportunities and challenges. Philos Trans R Soc Lond B Biol Sci. 2011;366(1561):113-9. http://dx.doi.org/10.1098/rstb.2010.0287. PMid:21115538.
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.

Alterações na composição corporal durante o processo de envelhecimento estão ligadas às perdas progressivas de massa muscular esquelética e à redistribuição de gordura corporal. Essas alterações podem ocorrer a despeito de mudanças no índice de massa corporal (IMC); indicador frequentemente usado tanto pela praticidade da avaliação quanto pelo baixo custo, porém com algumas limitações de interpretação e utilização88 Falsarella GR, Gasparotto LPR, Barcelos CC, Coimbra IB, Moretto MC, Pascoa MA, et al. Body composition as a frailty marker for the elderly community. Clin Interv Aging. 2015;10:1661-6. http://dx.doi.org/10.2147/CIA.S84632. PMid:26527868.
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.

Um estudo epidemiológico mostrou associação direta entre os indicadores do estado nutricional e a capacidade funcional de idosos99 Davison KK, Ford ES, Cogswell ME, Dietz WH. Percentage of body fat and body mass index are associated with mobility limitations in people aged 70 and older from NHANES III. J Am Geriatr Soc. 2002;50(11):1802-9. http://dx.doi.org/10.1046/j.1532-5415.2002.50508.x. PMid:12410898.
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. A identificação de métodos e instrumentos de avaliação nutricional em nível populacional que preencham os critérios de validade, aplicabilidade e baixo custo1010 Arroyo P, Lera L, Sánchez H, Bunout D, Santos JL, Albala C. Anthropometry, body composition and functional limitations in the elderly. Rev Med Chil. 2007;135(7):846-54. PMid:17914541., que sejam capazes de apresentar correlação entre medidas consideradas “padrão-ouro” são fundamentais para o cuidado da pessoa idosa vivendo em comunidade, de maneira que sua utilização na prática dos serviços de saúde se torne viável.

O índice de massa muscular (IMM) é o indicador mais sensível às alterações corporais ainda na fase inicial do comprometimento da massa muscular, e pode ser considerado em análises comparativas entre populações de diferentes etnias. O comprometimento da massa muscular no idoso, avaliada pelo IMM, tem sido frequentemente associado aos danos na capacidade funcional dessa população e, por conseguinte, parece ser um importante preditor de complicações clínicas relacionadas à funcionalidade nessa população1010 Arroyo P, Lera L, Sánchez H, Bunout D, Santos JL, Albala C. Anthropometry, body composition and functional limitations in the elderly. Rev Med Chil. 2007;135(7):846-54. PMid:17914541.

11 Santos RR, Bicalho MAC, Mota P, de Oliveira DR, de Moraes EN. Obesidade em idosos. Rev Med Minas Gerais. 2013;23(1):64-73.
-1212 Lang PO, Trivalle C, Vogel T, Proust J, Papazyan JP, Dramé M. Determination of cutoff values for DEXA-based body composition measurements for determining metabolic and cardiovascular health. Biores Open Access. 2015;4(1):16-25. http://dx.doi.org/10.1089/biores.2014.0056. PMid:26309779.
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. No entanto, esse índice ainda não encontra ampla aplicação devido ao seu alto custo e à complexa operacionalidade dos métodos utilizados para avaliação dessas medidas, como absorciometria de feixe duplo (DEXA), bioimpedância elétrica (BIA) ou tomografia1111 Santos RR, Bicalho MAC, Mota P, de Oliveira DR, de Moraes EN. Obesidade em idosos. Rev Med Minas Gerais. 2013;23(1):64-73.

12 Lang PO, Trivalle C, Vogel T, Proust J, Papazyan JP, Dramé M. Determination of cutoff values for DEXA-based body composition measurements for determining metabolic and cardiovascular health. Biores Open Access. 2015;4(1):16-25. http://dx.doi.org/10.1089/biores.2014.0056. PMid:26309779.
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-1313 Rothney MP, Martin FP, Xia Y, Beaumont M, Davis C, Ergun D, et al. Precision of GE Lunar iDXA for the measurement of total and regional body composition in nonobese adults. J Clin Densitom. 2012;15(4):399-404. http://dx.doi.org/10.1016/j.jocd.2012.02.009. PMid:22542222.
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. Além disso, valores de corte apropriados ainda não foram propostos, dificultando assim o uso rotineiro no âmbito populacional1111 Santos RR, Bicalho MAC, Mota P, de Oliveira DR, de Moraes EN. Obesidade em idosos. Rev Med Minas Gerais. 2013;23(1):64-73..

Desse modo, será que alguns indicadores da composição corporal já conhecidos na prática dos profissionais de saúde, por serem de fácil e rápida execução, podem estar relacionados ao comprometimento da capacidade funcional do idoso e apresentar correlação com o IMM? Este estudo tenta responder tal questionamento, apresentando uma nova abordagem para o uso de alguns indicadores antropométricos e funcionais na rotina dos profissionais da Atenção Básica — ferramentas estas que poderiam ser mais utilizadas e valorizadas na avaliação da saúde do idoso.

Considerando que a funcionalidade não é um processo estático, e sim dinâmico1414 Hardy SE, Dubin JA, Holford TR, Gill TM. Transitions between states of disability and independence among older persons. Am J Epidemiol. 2005;161(6):575-84. http://dx.doi.org/10.1093/aje/kwi083. PMid:15746474.
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, que compromete a independência e acarreta demandas de cuidado a longo prazo além de custos com saúde1515 Tak E, Kuiper R, Chorus A, Hopman-Rock M. Prevention of onset and progression of basic ADL disability by physical activity in community dwelling older adults: a meta-analysis. Ageing Res Rev. 2013;12(1):329-38. http://dx.doi.org/10.1016/j.arr.2012.10.001. PMid:23063488.
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, é importante avaliar a interface entre o estado nutricional e a capacidade funcional, de forma a desenvolver estratégias de prevenção e de promoção da saúde para a população idosa.

Sendo assim, a presente pesquisa objetivou identificar possíveis associações entre massa e força muscular com o estado nutricional e a capacidade funcional em idosos da comunidade.

MÉTODOS

Aspectos éticos

Esta pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), aprovada com parecer CAAE nº 835.715 de 2014.

Desenho, período e local do estudo

Trata-se de uma pesquisa epidemiológica com delineamento transversal norteado pela ferramenta STROBE.

A amostra foi composta por pessoas idosas, de ambos os sexos e com idade igual ou superior a 60 anos, que faziam parte do banco de dados da coorte “Análise Comparativa do Perfil Epidemiológico de Idosos de uma Comunidade: Um estudo de coorte”, desenvolvido com uma amostra probabilística dos idosos (N total = 416) da cidade de Amparo – São Paulo, Brasil, cadastrados na Unidade de Saúde da Família (USF) de Jardim Camanducaia, zona urbana da cidade. A metodologia da pesquisa original está descrita e detalhada no artigo “Prevalence and Factors Associated with Rheumatic Diseases and Chronic Joint Symptoms in the Elderly”88 Falsarella GR, Gasparotto LPR, Barcelos CC, Coimbra IB, Moretto MC, Pascoa MA, et al. Body composition as a frailty marker for the elderly community. Clin Interv Aging. 2015;10:1661-6. http://dx.doi.org/10.2147/CIA.S84632. PMid:26527868.
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.

Amostra

Para o cálculo da amostra do presente estudo, considerou-se o número total de habitantes da cidade de Amparo – São Paulo no período da coleta de dados, disponível no Plano Municipal de Saúde (2014) do município (69.322 habitantes). Na sequência, levando em conta a ausência de dados brutos sobre o número total de idosos de Amparo, identificou-se o percentual relativo de idosos (acima de 60 anos) no estado de São Paulo, que foi de 13% da população geral, estimando-se então o total de 9.011 idosos no município de Amparo – SP. Assim, tendo presente o tamanho amostral da população de idosos, a prevalência média de sarcopenia observada no estudo brasileiro foi de 30%1616 Rech CR, Dellagrana RA, Marucci MFN, Petroski EL. Validade de equações antropométricas para estimar a massa muscular em idosos. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum. 2011;14:23-31., com precisão de 5% e intervalo de confiança de 95%, o tamanho da amostra calculado para este estudo foi de 312 indivíduos.

O Banco de dados da coorte original consistia em 416 pessoas idosas de ambos os sexos, com idade igual ou maior que 60 anos. Nesta pesquisa foram inseridos apenas os idosos com as variáveis força de preensão palmar (FPP), circunferência da panturrilha (CP) e índice de massa corporal (IMC) que constavam no banco de dados e que foram coletadas no momento da admissão na pesquisa original, sendo portanto excluídos 93 idosos.

Protocolo do estudo

A massa muscular foi avaliada por meio da Densitometria de Dupla Emissão de Raios-x (DEXA), posteriormente foram calculados o índice de massa magra (IMM), a força muscular avaliada por meio da dinamometria manual e o estado nutricional classificado pelo IMC. A capacidade funcional dos idosos foi avaliada por meio da escala de Atividades Instrumentais de Vida Diária (AIVDs). Ademais, foram coletadas variáveis preditoras de fragilidade do idoso como velocidade da marcha (VM), Time up and go (TUG) e histórico de perda de peso, além das variáveis antropométricas como peso, estatura, circunferência da panturrilha (CP) e circunferência da cintura (CC).

Para a caracterização sociodemográfica dos participantes da pesquisa foram coletadas, mediante autorrelato, as variáveis de sexo (masculino ou feminino), idade (data de nascimento e anos vividos, que posteriormente foram categorizados em < 80 anos e ≥ 80 anos), escolaridade (número de anos que frequentou a escola), estado civil (solteiro, casado ou vivendo com companheiro, viúvo, divorciado, separado ou desquitado) e renda familiar (com o somatório do valor mensal em reais das pessoas residentes no mesmo domicílio estratificado pelo salário mínimo vigente em 2014, categorizado como ≤ 1SM e > 1SM).

A identificação da massa muscular (MM) do idoso foi realizada pela DEXA (GE / Lunar enCore / modelo iDXA), utilizando a técnica de imagem baseada no modelo de três compartimentos (muscular, ósseo e gorduroso). O instrumento emite dois níveis de energia de fótons através de um raio-x do corpo, medidas por um detector ao atravessar os tecidos corporais. Os procedimentos de controle de qualidade diário e calibração foram realizados na DXA usando o padrão do fabricante. Após identificação da MM foi calculado o IMM por meio da divisão da massa magra (em quilogramas) pela estatura ao quadrado (em metros), expresso em kg/m2. Os resultados foram estratificados por sexo, equivalendo ao percentil 10 da amostra, uma vez que este percentil apresentou o melhor equilíbrio entre sensibilidade e especificidade definidos pela Receiver Operating Characteristic (Curva ROC), com valores relacionados ao diagnóstico de magreza. Deste modo, o ponto de corte estabelecido para o IMM das mulheres foi ≤ 13,10 kg/m2 (70% de especificidade e 97% de sensibilidade) e para os homens, ≤ 15,2 kg/m2 (71% de especificidade e 97% de sensibilidade).

O índice de massa corporal, variável utilizada para classificação do estado nutricional do idoso, foi calculado pela razão entre o peso e o quadrado da altura, seguindo os critérios de Lipschitz1717 Lipschitz DA. Screening for nutritional status in the elderly. Prim Care. 1994;21(1):55-67. http://dx.doi.org/10.1016/S0095-4543(21)00452-8. PMid:8197257.
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que considera baixo peso o IMC < 22 kg/m2; eutrofia o IMC entre 22 e 27 kg/m2; e sobrepeso, IMC > 27 kg/m2.

Para análise da circunferência da panturrilha, foi usado o ponto de corte definido pela Organização Mundial de Saúde (World Health Organization - WHO)1818 World Health Organization. Physical status: the use and interpretation of anthropometry. Report of a WHO Expert Committee. Geneva: WHO; 1995., com medidas ≤ 31 cm indicando perda de massa muscular. Neste estudo, classificou-se como magreza o indivíduo com IMC < 22 kg/m2 e/ou com CP < 31cm.

Na análise da circunferência da cintura (CC), como importante indicador de risco para eventos cardiovasculares e distúrbios metabólicos, utilizaram-se os parâmetros do 3º Painel do Programa Nacional de Educação sobre Colesterol dos Estados Unidos (National Cholesterol Education Program’s Adult Treatment, Panel III)1919 National Cholesterol Education Program. Third Report of the National Cholesterol Education Program (NCEP) expert panel on detection, evaluation, and treatment of high blood cholesterol in adults (Adult Treatment Panel III) final report. Circulation. 2002;106(25):3143-421. http://dx.doi.org/10.1161/circ.106.25.3143. PMid:12485966.
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, ou seja, foram considerados com risco elevado os idosos que apresentaram valores ≥ 94 cm para homens e ≥ 80 cm para mulheres. A perda de peso não intencional foi avaliada através da pergunta “No último ano, o(a) senhor(a) perdeu mais do que 4,5 kg ou 5% do peso corporal sem intenção?”. Desta forma, utilizando os critérios de fragilidade de Fried et al.20, a20 Fried LP, Tangen CM, Walston J, Newman AB, Hirsch C, Gottdiener J, et al. Frailty in older adults: evidence for a phenotype. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2001;56(3):M146-56. http://dx.doi.org/10.1093/gerona/56.3.M146. PMid:11253156.
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resposta positiva classifica o idoso como pré-frágil.

Para avaliar a força de preensão palmar, os pontos que representaram o melhor equilíbrio entre sensibilidade e especificidade com valores relacionados ao diagnóstico de magreza, segundo a curva ROC, foram: 10,5 kg (88% de especificidade e 94% de sensibilidade) para mulheres e 17,5 kg (85% de especificidade e 92% de sensibilidade) para homens, cujos valores correspondem ao percentil 10.

Avaliou-se também a concentração sérica de albumina por meio do método de dosagem do biureto e verde bromocresol, com valores de referência para normalidade entre 3,5 g/dl e 5,5 g/dl. Em seguida, a concentração sérica de albumina foi classificada segundo o critério de Blackburn et al.2121 Blackburn GL. Nutritional assessment and support during infection. Am J Clin Nutr. 1977;30(9):1493-7. http://dx.doi.org/10.1093/ajcn/30.9.1493. PMid:900061.
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, ou seja, valores < 3,5 mg/dL foram considerados como depleção.

Para investigar a capacidade funcional, empregou-se a escala de Atividades Instrumentais de Vida Diária (AIVDs)2222 Lawton MP. The functional assessment of elderly people. J Am Geriatr Soc. 1971;19(6):465-81. http://dx.doi.org/10.1111/j.1532-5415.1971.tb01206.x. PMid:5094650.
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, sendo considerados dependentes os indivíduos com dificuldade na realização de pelo menos uma AIVD2323 Dunlop DD, Hughes SL, Manheim LM. Disability in activities of daily living: patterns of change and a hierarchy of disability. Am J Public Health. 1997;87(3):378-83. http://dx.doi.org/10.2105/AJPH.87.3.378. PMid:9096537.
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.

A Velocidade de Marcha foi avaliada a partir do tempo médio em segundos (s) que cada idoso levou para percorrer uma distância de 4,6 m em passo usual, sobre superfície plana, por três vezes. As médias obtidas foram ajustadas conforme a altura dos homens e das mulheres.

O equilíbrio dinâmico foi avaliado pelo teste Timed Up and Go (TUG), cronometrando o tempo que cada idoso gastou para se levantar de uma cadeira, caminhar três metros, voltar e se sentar novamente na mesma cadeira, sendo considerada como resultado a média de duas tentativas.

Os tempos gastos para conclusão dos testes VM e TUG foram computados como variáveis contínuas, as medidas de tendência central foram calculadas (média ± desvio padrão) e apresentadas.

Análise dos resultados e estatística

As variáveis foram organizadas em um banco de dados eletrônicos pelo Programa Estatístico SPSS (Statistical Package for Social the Sciences), versão 20.0®.

A associação entre a frequência das variáveis foi realizada pelo teste qui--quadrado de Pearson ou exato de Fisher. Para análise da diferença entre as médias, utilizaram-se os testes t de Student e de Mann-Whitney, com resultados expressos em média (± DP) ou mediana (intervalo interquartil), respectivamente. A correlação entre as variáveis contínuas (FPP, IMM, IMC, CP, Albumina e VM) foi determinada por meio do teste de correlação de Pearson, considerando a normalidade das suas distribuições. Mediante análises bivariadas, foram selecionadas as possíveis variáveis para associação entre IMM ≤ p10 e FPP ≤ p10, com as variáveis explanatórias referentes ao estado nutricional (IMC, CP e albumina), ao risco cardiovascular (CC) e à capacidade funcional.

Adotou-se a análise de regressão logística multivariada ajustada por sexo, idade, escolaridade e renda quanto ao IMM ≤ p10 e FPP ≤ p10 em função das variáveis antropométricas (contínuas: IMC, albumina, percentual de perda de peso; e categóricas: CC e CP), assim como das variáveis de capacidade funcional (contínuas: TUG e VM). O processo de modelagem foi realizado pelo método backward selection, ou seja, partiu-se de um modelo mais complexo (com todas as variáveis) para um mais simples, excluindo as variáveis de confusão de acordo com valores de p obtidos: inicialmente, p < 0,5 seguido de p < 0,2, mantendo no modelo final apenas os valores significantes de p < 0,05.

RESULTADOS

A amostra foi composta por 323 idosos (196 mulheres e 127 homens) com idades variando de 63 a 93 anos, com a média de 72,6 + 5,6 anos para as mulheres e 72,9 ± 6,0 anos para os homens. A maioria dos idosos desse estudo apresentou escolaridade de até quatro anos de estudo (87,0%; n = 280) e renda familiar inferior/igual a um salário mínimo (92,0%; n = 296). Nessa população, 31,8% (n = 107) apresentaram-se dependentes para AIVDs e 11,5% (n = 37) tinham comprometimento do estado nutricional, sendo classificados como magros (Tabela 1).

Tabela 1
Caracterização sociodemográfica, capacidade funcional e estado nutricional de idosos da comunidade (Amparo-SP, 2020)

A média do índice de massa magra foi de 17,7 ± 1,9 kg/m2 para homens e de 15,4 ± 1,7 kg/m2 para mulheres (p < 0,001). A força de preensão palmar apresentou média de 28,6 ± 7,8 kg entre os homens e de 16,4 ± 4,7 kg entre as mulheres (p < 0,001) (Tabela 1).

Quando classificados quanto ao índice de massa magra (IMM ≤ p10) e quanto à força de preensão palmar (FPP ≤ p10), a frequência de indivíduos do sexo feminino e de participantes com histórico de perda ponderal não intencional foi maior nos grupos com menor IMM e com menor FPP. Ademais, observou--se que o grupo de idosos com IMM ≤ p10 apresentou 14,2 vezes mais chances de ser classificado com magreza e aqueles com FPP ≤ p10 apresentaram 2,2 vezes mais chances de serem classificados como dependentes no tocante às AIVDs (Tabela 2).

Tabela 2
Caracterização sociodemográfica, capacidade funcional e estado nutricional de idosos segundo o Índice de Massa Magra e Força de Preensão Palmar (Amparo-SP, 2020)

Apenas um indivíduo da amostra apresentou valor de albumina sérica inferior a 3,5 mg/dL.

O índice de massa magra (≤ p10) esteve associoado aos indicadores antropométricos de comprometimento do estado nutricional (IMC, CP e percentual de perda de peso), exceto à albumina e ao indicador de risco cardiovascular (CC). Porém, não apresentou associação com os indicadores de capacidade funcional (VM e TUG) (Tabela 3). Houve associação da FPP com a CP, um importante indicador de perda de massa muscular no idoso, bem como com a VM e com o TUG, relevantes indicadores de capacidade funcional (Tabela 4).

Tabela 3
Associação entre o Índice de Massa Magra (IMM) com os indicadores do estado nutricional e a capacidade funcional de idosos (Amparo-SP, 2020)
Tabela 4
Associação entre a Força de Preensão Palmar (FPP) com os indicadores do estado nutricional e a capacidade funcional de idosos (Amparo-SP, 2020)

O IMM apresentou correlação positiva e moderada com a FPP (r = 0,423; p < 0,001), o IMC (r = 0,562; p < 0,001) e a CP (r = 0,549; p < 0,001). Portanto, quanto maiores os valores da FPP, do IMC e da CP, maior o IMM. A velocidade da marcha apresentou correlação negativa e muito fraca com o IMM (Tabela 5).

Tabela 5
Matriz de correlação entre os indicadores do estado nutricional e da capacidade funcional em idosos (Amparo-SP, 2020)

A força de preensão palmar apresentou correlação negativa e moderada com a VM (r = -0,418; p < 0,001) e com o TUG (r = -0,0401; p < 0,001), de modo que, quanto maior a FPP, menores foram os tempos dispendidos nas avaliações de VM e TUG. A circunferência da panturrilha apresentou correlação positiva e fraca com a FPP (Tabela 4).

Uma análise de regressão logística bivariada ajustada por sexo, idade, renda e escolaridade foi realizada para identificar possíveis associações do IMM com os indicadores do estado nutricional e de capacidade funcional. Após exclusão da CP, CC, Albumina, % Perda de peso involuntária, VM e TUG, infere-se, com 95% de confiança, que apenas o índice de massa corporal apresentou associação com o IMM, demonstrando que a diminuição de cada 1 kg/m2 nesse índice reduz em 41,9% o risco do indivíduo ser classificado com baixo IMM (< p10) (B = - 0,544; OR ajustado = 0,581; 95% IC = 0,495-0,681; Wald = 44,468; p < 0,001).

Similar à análise do IMM, um modelo de regressão logística bivariada ajustado por sexo, idade, renda e escolaridade foi proposto para identificar possíveis associações entre a FPP e os indicadores do estado nutricional e de capacidade funcional. Após exclusão do IMC, CP, CC, albumina e TUG, o modelo final possibilitou inferir, com 95% de confiança, que apenas a VM esteve associada à FPP, onde cada segundo gasto para concluir a avaliação aumentou em 37,7% o risco de o indivíduo ser classificado com baixa FPP (≤ p10) (B = 0,320; OR ajustado = 1,377; 95% IC = 1,114-1,703; Wald=8,873; p = 0,003 (Tabela 5).

DISCUSSÃO

O índice de massa magra é um preditor de sarcopenia em idosos e é um importante indicador do estado nutricional, uma vez que os dois fatores parecem estar intimamente ligados. Neste estudo, observou-se que o IMM, importante marcador de comprometimento da massa muscular, porém pouco utilizado na prática dos profissionais de saúde, esteve associado ao IMC, à CP e à CC, além de estar correlacionado com a FPP. Por sua vez, a FPP parece estar mais relacionada com os marcadores da capacidade funcional no idoso e esteve associada à VM e ao TUG, além de estar levemente correlacionada com a CP nos idosos deste estudo.

Considerando a importância de identificação do risco de sarcopenia na população idosa, visto que esse fenômeno se caracteriza por perda da massa magra juntamente com a redução da força muscular24, o24 Bianchi L, Ferrucci L, Cherubini A, Maggio M, Bandinelli S, Savino E, et al. The predictive value of the EWGSOP definition of sarcopenia: results from the InCHIANTI study. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2016;71(2):259-64. http://dx.doi.org/10.1093/gerona/glv129. PMid:26333772.
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IMM seria o indicador mais sensível a tais alterações; entretanto, seu alto custo e a necessidade de uma técnica apurada para a avaliação torna esse indicador pouco utilizado na atenção à saúde do idoso nos serviços de saúde. A circunferência da panturrilha, por sua vez, parece ser adequada como indicador de massa magra, pois pode ser utilizada em triagem rápida para detectar sarcopenia, é de baixo custo2525 Landi F, Liperoti R, Fusco D, Mastropaolo S, Quattrociocchi D, Proia A, et al. Prevalence and risk factors of sarcopenia among nursing home older residents. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2012;67(1):48-55. http://dx.doi.org/10.1093/gerona/glr035. PMid:21393423.
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26 Hedayati KK, Dittmar M. Prevalence of sarcopenia among older community-dwelling people with normal health and nutritional state. Ecol Food Nutr. 2010;49(2):110-28. http://dx.doi.org/10.1080/03670240903541154. PMid:21883084.
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27 Lanari AF. Sarcopenia: repercusiones mecánicas y funcionales. Revista de la Asociacion Argentina de Traumatologia del Deporte. 2012;19(1):23-31.
-2828 Alfaro-Aparicio L, Velázquez-Tlapanco J, García-Chávez E. Nutritional assessment in elderly patients in a Family Medicine Unit. Aten Primaria. 2012;44(3):181-2. http://dx.doi.org/10.1016/j.aprim.2011.06.002. PMid:22296795.
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e apresentou importante correlação com o IMM nesta pesquisa. Portanto, a CC pode ser mais valorizada por profissionais de saúde da Atenção Básica que tenham como objetivo detectar alterações precoces de comprometimento da massa muscular no idoso, em casos de impossibilidade de avaliar o IMM.

Na população aqui estudada, a CC esteve associada ao IMM em ambos os sexos; e, no grupo com baixo IMM, a média da CC também foi menor, evidenciando que as alterações na composição corporal que refletem o comprometimento da massa muscular nesse grupo de idosos parecem também estar associadas à redução da reserva de tecido adiposo abdominal, possivelmente por restrição energética (não avaliado neste estudo).

Com o envelhecimento, ocorre um aumento relativo da gordura intra-abdominal maior que o da gordura subcutânea ou corporal total2929 Zamboni M, Mazzali G, Zoico E, Harris TB, Meigs JB, Di Francesco V, et al. Health consequences of obesity in the elderly: a review of four unresolved questions. Int J Obes. 2005;29(9):1011-29. http://dx.doi.org/10.1038/sj.ijo.0803005. PMid:15925957.
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30 Villareal DT, Apovian CM, Kushner RF, Klein S. Obesity in older adults: technical review and position statement of the American Society for Nutrition and NAASO, The Obesity Society. Obes Res. 2005;13(11):1849-63. http://dx.doi.org/10.1038/oby.2005.228. PMid:16339115.
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-3131 Mankowski RT, Anton SD, Aubertin-Leheudre M. The role of muscle mass, muscle quality, and body composition in risk for the metabolic syndrome and functional decline in older adults. Curr Geriatr Rep. 2015;4(3):221-8. http://dx.doi.org/10.1007/s13670-015-0132-y.
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. Carmienke et al.3232 Carmienke S, Freitag MH, Pischon T, Schlattmann P, Fankhaenel T, Goebel H, et al. General and abdominal obesity parameters and their combination in relation to mortality: a systematic review and meta-regression analysis. Eur J Clin Nutr. 2013;67(6):573-85. http://dx.doi.org/10.1038/ejcn.2013.61. PMid:23511854.
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, em uma metanálise, recomendam que as medidas de obesidade abdominal sejam utilizadas na prática clínica juntamente com o IMC para avaliar mortalidade relacionada à obesidade em adultos e idosos. Um estudo recente desenvolvido com idosos brasileiros demonstrou que indivíduos com obesidade abdominal apresentaram um risco 1,9 vez maior para incapacidade do que aqueles sem circunferência de cintura alterada, revelando ser um indicador mais significante que o IMC3333 Corona LP, Alexandre TD, Duarte YA, Lebrão ML. Abdominal obesity as a risk factor for disability in Brazilian older adults. Public Health Nutr. 2017;20(6):1046-53. http://dx.doi.org/10.1017/S1368980016003505. PMid:28112078.
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. Embora a maioria dos estudos aborde o comprometimento da capacidade funcional associado à CC aumentada, destacamos que um balanço energético negativo evidenciado pela perda de massa muscular e tecido adiposo (especialmente em região abdominal) poderá, em médio ou longo prazo, reverberar em prejuízo da capacidade funcional.

Outra variável destacada na presente pesquisa é a força de preensão palmar, devido a sua sensibilidade à incapacidade funcional e ao comprometimento do estado nutricional em idosos. Observou-se que essa medida apresentou correlação negativa com os menores valores de VM, TUG e CP. Em um estudo transversal desenvolvido no Chile com 377 idosos, a FPP avaliada por meio da dinamometria não apresentou associação com o estado nutricional, e sim com a limitação funcional em ambos os sexos. Nas mulheres, essa limitação foi diretamente proporcional à maior idade e maior IMC1010 Arroyo P, Lera L, Sánchez H, Bunout D, Santos JL, Albala C. Anthropometry, body composition and functional limitations in the elderly. Rev Med Chil. 2007;135(7):846-54. PMid:17914541..

Al Snih et al.3434 Al Snih S, Markides KS, Ottenbacher KJ, Raji MA. Hand grip strength and incident ADL disability in elderly Mexican Americans over a seven-year period. Aging Clin Exp Res. 2004;16(6):481-6. http://dx.doi.org/10.1007/BF03327406. PMid:15739601.
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encontraram uma associação entre uma menor força de preensão palmar e um maior risco de incapacidade, tanto em relação às atividades instrumentais de vida diária (AIVDs) quanto às atividades básicas de vida diária (ABVDs) em ambos os sexos, sendo as mulheres mais suscetíveis.

Um estudo derivado da pesquisa multicêntrica SABE (Saúde e Bem-Estar no Envelhecimento), desenvolvido com uma amostra probabilística do estado de São Paulo – Brasil envolvendo 1.634 indivíduos (701 homens e 933 mulheres) com idade ≥ 60 anos, demonstrou que um maior FPP foi um fator protetor de incapacidade em idosas, assim como observado na presente pesquisa. Isso se deve ao fato de que as mulheres têm menos massa muscular e força do que os homens, tornando-as mais vulneráveis ao declínio de componentes musculoesqueléticos com impacto na funcionalidade, especialmente entre as sedentárias3535 Alexandre TS, Corona LP, Nunes DP, Santos JL, Duarte YA, Lebrão ML. Gender differences in incidence and determinants of disability in activities of daily living among elderly individuals: SABE study. Arch Gerontol Geriatr. 2012;55(2):431-7. http://dx.doi.org/10.1016/j.archger.2012.04.001. PMid:22546518.
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.

Na população estudada, observou-se uma maior frequência do sexo feminino. Dados já estabelecidos na literatura relatam que as mulheres vivem mais que os homens e, portanto, estão mais propensas a envelhecer com incapacidades3636 Murtagh KN, Hubert HB. Gender differences in physical disability among an elderly cohort. Am J Public Health. 2004;94(8):1406-11. http://dx.doi.org/10.2105/AJPH.94.8.1406. PMid:15284051.
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,37, o37 Leveille SG, Penninx BW, Melzer D, Izmirlian G, Guralnik JM. Sex differences in the prevalence of mobility disability in old age: the dynamics of incidence, recovery, and mortality. J Gerontol B Psychol Sci Soc Sci. 2000;55(1):S41-50. http://dx.doi.org/10.1093/geronb/55.1.S41. PMid:10728129.
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que justifica a diferença nas frequências entre os sexos em toda a amostra. Entretanto, quando agrupados segundo o estado nutricional, não foi identificada diferença entre os sexos, evidenciando que o comprometimento do estado nutricional pareceu não sofrer influência do sexo nesse grupo.

No presente estudo, observou-se um alto percentual de indivíduos com magreza nos grupos de idosos com menor IMM e FPP. Também houve maior frequência de indivíduos com renda familiar inferior a um salário mínimo nos grupos de idosos com menor IMM e menor FPP. O estudo COMO VAI? (Consórcio de Mestrado Orientado para a Valorização da Atenção ao Idoso), desenvolvido com 1.451 idosos de Pelotas, cidade do sul do Brasil, encontrou um perfil socioeconômico semelhante ao dos idosos desta pesquisa, chamando atenção para uma maior frequência de sarcopenia (13,9%) entre aqueles com baixa escolaridade, baixo nível socioeconômico e maior idade3838 Barbosa-Silva TG, Bielemann RM, Gonzalez MC, Menezes AM. Prevalence of sarcopenia among community-dwelling elderly of a medium-sized South American city: results of the COMO VAI? study. J Cachexia Sarcopenia Muscle. 2016;7(2):136-43. http://dx.doi.org/10.1002/jcsm.12049. PMid:27493867.
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.

Estudos sugerem que o comprometimento do estado nutricional e a perda ponderal em pessoas idosas, seja voluntária ou involuntária, está associada ao aumento da idade3939 Assumpção D, Borim FSA, Francisco PMSB, Neri AL. Factors associated with being underweight among elderly community-dwellers from seven Brazilian cities: the FIBRA Study. Cien Saude Colet. 2018;23(4):1143-50. PMid:29694568.,4040 Wallace JI, Schwartz RS, LaCroix AZ, Uhlmann RF, Pearlman RA. Involuntary weight loss in older outpatients: incidence and clinical significance. J Am Geriatr Soc. 1995;43(4):329-37. http://dx.doi.org/10.1111/j.1532-5415.1995.tb05803.x. PMid:7706619.
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, à deficiência de micronutrientes, à fragilidade, ao aumento de hospitalizações e ao risco de quedas, além de retardar a recuperação de doenças e aumentar o risco de mortalidade4141 Tayback M, Kumanyika S, Chee E. Body weight as a risk factor in the elderly. Arch Intern Med. 1990;150(5):1065-72. http://dx.doi.org/10.1001/archinte.1990.00390170095021. PMid:2331187.
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,4242 Mowé M, Bøhmer T, Kindt E. Reduced nutritional status in an elderly population (> 70 y) is probable before disease and possibly contributes to the development of disease. Am J Clin Nutr. 1994;59(2):317-24. http://dx.doi.org/10.1093/ajcn/59.2.317. PMid:8310980.
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. Nesta amostra, os idosos longevos apresentaram maiores chances de estarem na faixa do IMC denominada “magreza”, indicando que a idade pode ser considerada como um fator de risco para desnutrição (dado não apresentado).

Pesquisadores inferem que idosos com magreza e com histórico de perda de peso têm um maior risco de morte prematura e de incapacidades associadas à sarcopenia, mesmo se excluídos aqueles com doenças preexistentes4141 Tayback M, Kumanyika S, Chee E. Body weight as a risk factor in the elderly. Arch Intern Med. 1990;150(5):1065-72. http://dx.doi.org/10.1001/archinte.1990.00390170095021. PMid:2331187.
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42 Mowé M, Bøhmer T, Kindt E. Reduced nutritional status in an elderly population (> 70 y) is probable before disease and possibly contributes to the development of disease. Am J Clin Nutr. 1994;59(2):317-24. http://dx.doi.org/10.1093/ajcn/59.2.317. PMid:8310980.
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43 Lang T, Streeper T, Cawthon P, Baldwin K, Taaffe DR, Harris TB. Sarcopenia: etiology, clinical consequences, intervention, and assessment. Osteoporos Int. 2010;21(4):543-59. http://dx.doi.org/10.1007/s00198-009-1059-y. PMid:19779761.
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44 Imai K, Gregg EW, Chen YJ, Zhang P, de Rekeneire N, Williamson DF. The association of BMI with functional status and self-rated health in US adults. Obesity (Silver Spring). 2008;16(2):402-8. http://dx.doi.org/10.1038/oby.2007.70. PMid:18239651.
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-4545 Gadalla TM. Relative body weight and disability in older adults: results from a national survey. J Aging Health. 2010;22(4):403-18. http://dx.doi.org/10.1177/0898264310361367. PMid:20231727.
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.

No que se refere à desnutrição, um importante indicador é a albumina — a mais abundante proteína plasmática. Hipoalbuminemia é um fator prognóstico de mortalidade em idosos, sejam da comunidade, hospitalizados ou institucionalizados. Entretanto, o envelhecimento não é necessariamente uma causa de hipoalbuminemia4646 Cabrerizo S, Cuadras D, Gomez-Busto F, Artaza-Artabe I, Marín-Ciancas F, Malafarina V. Serum albumin and health in older people: review and meta analysis. Maturitas. 2015;81(1):17-27. http://dx.doi.org/10.1016/j.maturitas.2015.02.009. PMid:25782627.
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. Prova disso é que os idosos desta pesquisa apresentaram valores dentro da normalidade.

No presente estudo, não houve associação entre dependência para AIVDs e o estado nutricional. Esse achado corrobora um estudo transversal com 377 idosos, no qual não foi observada associação entre a limitação funcional avaliada pelas AIVDs e as variáveis do estado nutricional de idosos1010 Arroyo P, Lera L, Sánchez H, Bunout D, Santos JL, Albala C. Anthropometry, body composition and functional limitations in the elderly. Rev Med Chil. 2007;135(7):846-54. PMid:17914541..

Observou-se que um número considerável (31,8%) dos idosos pesquisados relataram dependência para AIVDs. Haja vista que a perda de capacidade funcional ocorre de forma hierárquica, iniciando com AIVDs e posteriormente evoluindo para ABVDs4747 Verbrugge LM, Jette AM. The disablement process. Soc Sci Med. 1994;38(1):1-14. http://dx.doi.org/10.1016/0277-9536(94)90294-1. PMid:8146699.
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, esse dado é preocupante, especialmente por se tratar de idosos residentes na comunidade. Corona et al.55 Corona LP, Pereira de Brito TR, Nunes DP, Silva Alexandre T, Ferreira Santos JL, Oliveira Duarte YA, et al. Nutritional status and risk for disability in instrumental activities of daily living in older Brazilians. Public Health Nutr. 2014;17(2):390-5. http://dx.doi.org/10.1017/S1368980012005319. PMid:23237425.
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demonstraram que a incidência de incapacidade para todas as atividades instrumentais de vida diária (AIVDs) aumentou progressivamente com a idade, tanto em idosos com baixo peso quanto naqueles com excesso de peso55 Corona LP, Pereira de Brito TR, Nunes DP, Silva Alexandre T, Ferreira Santos JL, Oliveira Duarte YA, et al. Nutritional status and risk for disability in instrumental activities of daily living in older Brazilians. Public Health Nutr. 2014;17(2):390-5. http://dx.doi.org/10.1017/S1368980012005319. PMid:23237425.
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A redução da força muscular durante o envelhecimento compromete o desempenho neuromuscular, o que se evidencia pela fraqueza muscular, lentidão dos movimentos, perda de força muscular e fadiga precoce. Dessa forma, ocorrem limitações para caminhar, levantar-se e manter o equilíbrio postural, assim como iminência de quedas, levando à dificuldade para realizar as atividades de vida diária, à dependência funcional e à incapacidade4848 Frontera R. Função da musculatura esquelética nas pessoas idosas. In: Timothy L, editor. Manual de reabilitação geriátrica. Rio de Janeiro: Guanabra Koogan; 2001.

Tendo em vista que os indicadores do estado nutricional FPP e CP apresentaram boa correlação com o IMM, sendo estas medidas de simples execução e baixo custo, propõe-se seu uso de forma rotineira nos serviços de saúde, especialmente na Atenção Básica, como alternativa a outros métodos de estimativa de composição corporal mais complexos e dispendiosos. O objetivo dessa ação é identificar precocemente as alterações na composição corporal dessa população, sobretudo na reserva de massa muscular, visando que as medidas de intervenção sejam rapidamente implementadas para retardar ou interromper a progressão do comprometimento muscular.

Este estudo apresenta algumas limitações. Trata-se de uma pesquisa transversal e com considerável número de perdas. Alguns dados foram autorrelatados, o que pode ser entendido como um viés. Porém, um estudo metodológico mostrou que esses dados têm validade satisfatória e são consistentes com os diagnósticos médicos e/ou com resultados de testes físicos4949 Zunzunegui MV, Alvarado BE, Béland F, Vissandjee B. Explaining health differences between men and women in later life: a cross-city comparison in Latin America and the Caribbean. Soc Sci Med. 2009;68(2):235-42. http://dx.doi.org/10.1016/j.socscimed.2008.10.031. PMid:19036488.
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.

O perfil de saúde da população estudada, relativa aos idosos da comunidade — não hospitalizados nem institucionalizados — apresenta-se favorável ao envelhecimento ativo. A importância desta pesquisa reside no número de sujeitos, incluindo 44 indivíduos com idade igual ou superior a 80 anos, avaliados por indicadores antropométricos e de composição corporal (medida pela DEXA), assim como por testes de capacidade funcional. Sugere--se um resgate dessa população para melhor estabelecer uma relação entre os fatores.

O estudo apresentado propõe uma estratégia relevante para o cuidado à saúde do idoso, por meio de indicadores do comprometimento do estado nutricional e da capacidade funcional. É necessário dispor de instrumentos de avaliação em nível populacional que sejam válidos, de fácil aplicabilidade, baixo custo e passíveis de serem utilizados na Atenção Primária, a fim de possibilitar uma detecção precoce das alterações na capacidade funcional de pessoas idosas.

CONCLUSÃO

Os resultados deste estudo demonstraram associação entre o estado nutricional e a capacidade funcional de idosos. O índice de massa magra (IMM) foi um importante indicador do estado nutricional nessa população. Porém, por ser de alto custo, o uso dessa técnica é limitado na prática clínica dos serviços prestados pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

A força de preensão palmar (FPP) figurou como um importante indicador de capacidade funcional e do estado nutricional nesses idosos, uma vez que corroborou o diagnóstico estabelecido pelo IMC e circunferência da panturrilha (CP), se mostrando correlacionada ao índice de massa magra (IMM) e podendo ser utilizada como um indicador indireto significativo de comprometimento do estado nutricional.

Logo, na impossibilidade de avaliação do IMM, recomendamos a avaliação da FPP, da CP e do IMC como preditores de comprometimento do estado nutricional e incapacidade funcional do idoso.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao Laboratório de Biologia Molecular de Cartilagem (LABIMOCA) da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP-SP pelas análises; ao Professor Dr. Gil Guerra Jr. do Centro de Investigações em Pediatria (CIPED) e ao Departamento de Pediatria da FCM-UNICAMP pela permissão do uso do equipamento para exame de absorciometria de feixe duplo – DEXA; à Prof. Nutricionista Maria de Cássia de Oliveira Melo pelo auxílio na redação e revisão crítica do artigo.

  • Como citar: Wanderley EM, Coimbra AMV, Falsarella GM, Gasparotto LPR, Barros-Neto JA, Costallat BL, et al. Associação entre indicadores da capacidade funcional e do estado nutricional em idosos da comunidade: uma nova abordagem. Cad Saúde Colet, 2023;31(1):e31010443. https://doi.org/10.1590/1414-462X202331010443
  • Trabalho realizado no Programa de Pós-graduação em Gerontologia da Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) – Campinas (SP), Brasil.
  • Fonte de financiamento: nenhuma.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Abr 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    31 Ago 2020
  • Aceito
    19 Fev 2021
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