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ANPPAS

Iniciamos este editorial apresentando um breve relato sobre o 7º Encontro Nacional da ANPPAS, destacando a diversidade temática e a crescente abrangência no debate de temas atuais que dialogam com a realidade brasileira, latino-americana e internacional. Foram 465 inscritos, sendo 54 alunos de graduação, 223 de pós-graduação e 138 professores e profissionais, além dos 40 palestrantes em mesas redondas e painéis.

A conferência de abertura proferida pelo Prof. Dr. José Augusto Pádua - com o título "O Dilema do Berço Esplêndido: o Brasil na História do Antropoceno" abordou a intensa aceleração do consumo dos elementos naturais e os impactos das mudanças demográficas em âmbito mundial nos últimos 60 anos. Para o Prof. Pádua o intenso processo do Brasil como provedor de recursos naturais na forma de commodities tem um efeito degradador dos recursos naturais. Mas também ressaltou a importância potencial do pais como referência em alternativas sustentáveis de apropriação de recursos naturais.

As diversas Mesas redondas formadas por convidados nacionais e internacionais, que abordaram temas na ordem do dia como 'Responsabilidade socioambiental corporativa', 'Pagamento por serviços ambientais', 'Lei de acesso à biodiversidade', 'Mudanças climáticas e segurança alimentar', 'Política de Gestão Ambiental em Terra Indígena', e 'Bioenergia na economia de baixo carbono'.

Foram realizados oito Painéis propostos por professores e/ou pesquisadores da área para apresentação de trabalhos encomendados a três especialistas com abrangência temática. Abordaram-se de um lado temas associados com governança e políticas públicas tais como interações entre as políticas públicas e a agenda das mudanças climáticas na América Latina, novos arranjos de governança para limitar desmatamento: dando um papel proativo ao setor agrícola, mudanças Ambientais Globais: As políticas ambientais (com ênfase nas políticas climáticas) no Brasil e na China e Global Water Partnership e a visão de segurança hídrica nas escalas global, continental e nacional. De outro lado realizaram-se painéis com foco teórico em quatro temas, a saber Georgescu-Roegen, macroeconomia ecológica e decrescimento, Gênero e governança, Ambiente, política e desenvolvimento: o Brasil entre a tradição e a modernidade e conflitos ambientais.

O 7º encontro contou com 18 Grupos Temáticos, onde foram submetidos e apresentados artigos completos, mais o GT 'Jovens Pesquisadores', que recebeu resumos, e foi o espaço para apresentação de pôsteres. Foram submetidos 438 artigos e 71 resumos, e aceitos 309 artigos e 61 pôsteres. A taxa de rejeição foi de 27%.

O Prêmio ANPPAS 2015 de melhor tese e dissertação teve os seguintes agraciados:

1. Menção Honrosa - Dissertação de Mestrado

Paulo Roberto Cunha. "O Código Florestal e os Processos de Formulação do Mecanismo de Compensação de Reserva Legal (1996-2012): Ambiente Político e Política Ambiental". Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da Universidade de São Paulo. Orientação: Neli Aparecida de Mello-Théry

2. Melhor Dissertação de Mestrado

Laila Thomaz Sandroni. "Conservação da Biodiversidade nas Ciências Sociais Brasileiras: Um Campo em Construção". Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Orientação: Maria José Teixeira Carneiro

3. Menção Honrosa Tese de Doutorado

Satya Bottin Loeb Caldenhof. "Mudanças Sociais, Conflitos e Instituições na Amazônia: Os Casos do Parque Nacional do Jaú e da Reserva Extrativista do Rio Unini". Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais da Universidade Estadual de Campinas. Orientação: Lúcia da Costa Ferreira

4. Melhor Tese de Doutorado

Luis Otávio do Canto Lopes. "Conflito Socioambiental e (Re)Organização Territorial: Mineradora Alcoa e Comunidades Ribeirinhas do Projeto Agroextrativista Juruti Velho, Município de Juruti-Pará-Amazônia-Brasil"

Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Orientação: Jalcione Almeida

Nossos parabéns aos premiados que mostram o resultado de seus mestrados e doutorados em programas vinculados à Anppas, e nossos agradecimentos aos apoiadores financeiros - CAPES, CNPq e IRD que foram fundamentais para a viabilização do 7° Encontro.

Este volume foi organizado pelos professores Joaquim Shiraishi Neto e Dimas Floriani que tiveram sua proposta acolhida pelos editores de Ambiente e Sociedade com volume dedicado ao tema "Meio Ambiente, Direitos e Conflitos" composto de artigos que abordam a problemática em diversas regiões do Brasil.

Os autores Larissa Mellinger e Dimas Floriani realizaram um estudo de caso junto a populações "tradicionais" ao redor da baía de Guaratuba, litoral sul paranaense no artigo "Participação democrática na gestão dos bens naturais comuns e populações nativas no Litoral Sul do Paraná". O objetivo foi contextualizar o que hoje se chama de "participação social" ou "gestão participativa", sob a perspectiva da conservação ambiental no Brasil, utilizando como referências as teorias social e política.

No artigo "Pueblos originarios, conflicto socio-ambiental y post-desarrollo en America Latina", o autor Fernando de la Cuadra versa sobre as diferenças e contradições das visões de desenvolvimento dos povos indígenas e da sociedade moderna, em especial com relação ao uso dos recursos naturais. O objetivo é refletir sobre o resgate dos saberes tradicionais para transformar a relação meio ambiente e sociedade.

O artigo "(Des) acordos quanto ao uso dos recursos naturais em um contexto de Transformação fundiária em Sergipe", analisa o processo de disputa jurídica entre os catadores e o proprietário de uma área que contém mangabeiras nativas. Os autores Dalva Maria da Mota, Heribert Schmitz e Amintas da Silva Júnior pesquisaram de que forma estes atores se relacionam com os recursos naturais chamando a atenção para a complexidade do pluralismo jurídico.

Os autores Jodival Mauricio da Costa e Marie-Françoise Fleury abordam a questão ambiental sob os pontos de vista da organização do espaço e das ações no território. O artigo "Programa "Municípios Verdes": Estratégias de revalorização do espaço em municípios paraenses" apresenta de que forma o programa possibilitou um processo de revalorização econômica do espaço a partir do discurso do desenvolvimento sustentável.

No artigo "O suor marca a terra: trabalho, direito e território quilombola na Ilha do Marajó, Pará", o autor Luis Fernando Cardoso e Cardoso, realizou uma pesquisa de campo junto às comunidades quilombolas do município de Salvaterra, na ilha do Marajó, com o objetivo de refletir como essas comunidades se apropriam do território para defender suas próprias expressões de vida e percepções de mundo.

As autoras Josilene Ferreira Mendes e Noemi S. Miyasaka Porro analisaram os conflitos sociais relacionados à implementação de políticas agrárias e ambientais do Projeto de Desenvolvimento Sustentável Virola Jatobá, no município de Anapu - Pará, com o artigo "Conflitos sociais em tempos de ambientalismo: direito vivo à terra em assentamentos com enfoque conservacionista".

No artigo "Perspectivas Kaingang sobre o direito territorial e ambiental no sul do Brasil" os autores Ricardo Cid Fernandes e Leonel Piovezana discutem aspectos da relação cultura-natureza entre grupos indígenas no sul do Brasil, com base na etnografia sobre os grupos kaingang do Oeste do estado de Santa Catarina. O objetivo é demonstrar que a articulação entre a política e as concepções cosmológicas está na base da perspectiva indígena sobre seus direitos territoriais e ambientais.

Com o objetivo de refletir sobre o conflito socioambiental envolvendo o poder público e os moradores do Jardim Icaraí, em Curitiba, Paraná. Os autores Rosirene Martins Lima e Joaquim Shiraishi Neto, refletem sobre o direito ambiental como instrumento de produção e difusão de uma "ideia oficial de meio ambiente" que legitima o plano de intervenção das políticas urbanas no artigo "Conflitos Socioambientais: O Direito Ambiental como Legitimador da Atuação do Estado no Jardim Icaraí, Curitiba".

Os autores Estevão Bosco e Gabriela Marques Di Giulio apresentam os aspectos gerais da teoria da sociedade de risco, elaborada por Ulrich Beck, destacando as contribuições, insuficiências e desafios deixados para os estudos em Ambiente e Sociedade a partir de uma avaliação crítica no artigo "Ulrich Beck: considerações sobre sua contribuição para os estudos em Ambiente e Sociedade e desafios".

Por fim, a resenha "A modernidade insustentável. As críticas do ambientalismo à sociedade contemporânea, de Héctor Ricardo Leis" do autor Luciano Félix Florit, analisa a obra publicada em 1999, como um subsídio ao ambientalismo e um convite à reflexão crítica sobre as armadilhas da modernidade neste momento histórico.

Desejamos a todos uma boa leitura e contamos com vocês para ampliar a disseminação da revista.

Pedro Roberto Jacobi
Editor-Chefe
Revista Ambiente & Sociedade
Faculdade de Educação da USP e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    May-Jun 2015
ANPPAS - Revista Ambiente e Sociedade Anppas / Revista Ambiente e Sociedade - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revistaambienteesociedade@gmail.com