Área irrigada e métodos de irrigação no Estado do Ceará, segundo o Censo Agropecuário de 1995-1996

Irrigated area and methods of irrigation in State of Ceará (Brazil) based on the 1995-1996 Agricultural Census

COMUNICADO TÉCNICO

Área irrigada e métodos de irrigação no Estado do Ceará, segundo o Censo Agropecuário de 1995-1996

Irrigated area and methods of irrigation in State of Ceará (Brazil) based on the 1995-1996 Agricultural Census

Adalberto R. Girão^I; Indalécio Dutra^II; Francisco de Souza^III

^IUFC. Av. da Universidade 3264, Benfica, CE CEP 60020-180, Fortaleza, CE. E-mail: [e-mail]

^IIUFC

^IIIDepartamento de Engenharia Agrícola/UFC. E-mail: [e-mail]

RESUMO

Com este estudo, objetivou-se analisar estatísticas sobre a área irrigada total no Estado do Ceará, em função dos grupos de área total e dos Agropólos, além do método de irrigação utilizado pelos estabelecimentos informantes, de acordo com o Censo Agropecuário de 1995-96. Observa-se que o método de irrigação por superfície é o mais utilizado, equivalendo a 61,2% dos estabelecimentos agrícolas do estado, seguido pela aspersão (37,2%) e pelos demais métodos (12,6%). O maior percentual de área irrigada se encontra nos estabelecimentos com área menor que 100 ha, representando 53,9% da área total irrigada do Estado, e aqueles com mais de 10.000 ha apresentam o menor percentual, equivalendo a apenas 1,3%. Nos Agropólos encontram-se 61,7% (68.753 ha) da área irrigada do Estado (108.998 ha), sendo o Agropólo do Baixo Jaguaribe o que apresenta maior área irrigada, com 34,4% da área irrigada nos Agropólos. O Agropólo do Baixo Acaraú tem a menor área, equivalente a 5,8%. A irrigação superficial também predomina nos Agropólos, sendo utilizada em 60,0% dos estabelecimentos, contra 33,9% da aspersão, e 13,5% dos outros métodos, predominando também por grupos de área total.

Palavras-chave: irrigação, Estado do Ceará, área irrigada, agropólos

ABSTRACT

This paper presents an analysis of the irrigated area in Ceará State (Brazil) based on the total area and irrigation methods. Surface irrigation is the most used method (61.2% of agricultural farms), followed by sprinkler (37.2%) and the other methods (12.6%). The major irrigated area is located in farms between 100 and 1,000 ha, corresponding to 30.4% of the total irrigated area of the state, while farms larger than 10,000 ha represent only 1.3%. The Agricultural Poles are responsible for 61.7% (68,753 ha) of the total irrigated area of the state (108,998 ha) and the Lower Jaguaribe Agricultural Pole is the largest one (34.4%), while Lower Acaraú Agricultural Pole is the smallest one (5.8%). Surface irrigation is also the most used in the Agricultural Poles (60% of the cultivated farms), followed by sprinkler (33.9%) and the other methods (13.5%), also predominating in relation to the groups of total area.

Key words: irrigation, irrigated area, agricultural pole

INTRODUÇÃO

O setor agrícola do Ceará, que já representou, no Estado, cerca de 10% do PIB, vem declinando, tendo em vista tratar-se de um setor que menos cresceu nos últimos 11 anos apresentando, nesse período, somente 12,2%, colaborando com apenas 6% no PIB (PROCEAGRI, 1999).

A irrigação pode ser uma das alternativas para o rendimento das culturas, pois se sabe que no cultivo tradicional de sequeiro, o rendimento é muito baixo, sendo destinado praticamente apena s para subsistência. Para Gomes (1997) a irrigação é uma prática agrícola de fornecimento de água às culturas, onde e quando as chuvas, ou qualquer outra forma natural de fornecimento, não são suficientes para suprir as necessidades hídricas das plantas.

Segundo a COMAGRI (1996) Comissão da Agricultura Irrigada, da então Secretaria da Agricultura e Reforma Agrária, a área potencialmente irrigável do Estado do Ceará foi determinada pelo Programa Estadual de Irrigação, PEI, elaborado pela SRH (Secretaria dos Recursos Hídricos) para o PROINE (Programa de Irrigação do Nordeste) em 1988, a partir de dados existentes em estudos de solo executados em nível de reconhecimento, semi-detalhe e de detalhe, por consultores e órgãos públicos. De acordo com esta informação, a área potencialmente irrigável totaliza 620.187 ha, sendo 160.480 ha identificados como irrigáveis, a nível de detalhe. O mesmo documento afirma que se admite, como realmente irrigáveis, 50% dos solos potencialmente irrigáveis; portanto, esta área é de 310.000 ha.

O PROCEAGRI (1999) prevê que o volume de água a ser armazenado no Estado após a conclusão do Açude do Castanhão, seja da ordem de 18 bilhões de m3, constituindo disponibilidade hídrica suficiente para irrigar 170.000 ha, sendo que o estado apresenta cerca de 300.000 ha de áreas aptas para a agricultura intensiva.

De acordo com a COMAGRI (1996) a área irrigada no Estado, segundo dados censitários da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (FIBGE) era, em 1985, de 67.275 ha; no entanto, ao citar outras fontes de dados, o mesmo documento da COMAGRI afirma que, em 1992, esta área irrigada era de 52.528 ha, sendo 15.377,6 ha de irrigação pública federal, implantados em 12 perímetros irrigados pelo DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas), 14.375,0 ha de irrigação pública estadual, de responsabilidade da SRH, e 22.774,8 ha de irrigação privada (43,5% da área irrigada do estado).

Repete-se, a nível estadual, o mesmo problema observado a nível regional e nacional, onde as estatísticas divulgadas sobre irrigação têm pouca credibilidade, em virtude de confusão causada pela divulgação através de várias fontes. Como afirmou Souza et al. (1994) ao analisar a irrigação no Nordeste: "a pobreza dos dados censitários não permite melhor caracterização da agricultura irrigada, havendo questionamento até mesmo acerca da dimensão da área irrigada". É interessante observar-se que, ao tentar explicar, em parte, a diferença entre a dimensão da área irrigada divulgada por diferentes fontes, a COMAGRI utiliza-se da mesma linha de argumentação de Souza (1994) quando afirma que "diferentes conceituações de irrigação podem ser a causa da grande diferença existente entre as áreas irrigadas, utilizando a FIBGE conceitos amplos, que consideram agricultura de vazante em rios e açudes como forma de irrigação, e outros órgãos consideram somente a área da irrigação formal".

Ainda segundo o documento da COMAGRI (1996) a irrigação por superfície (sulcos e inundação) é a de uso mais intenso no estado, sendo responsável por 63% da área irrigada; a aspersão é responsável por 32,8% e os métodos por gotejamento e pivô-central respondem por apenas 3,3% da área irrigada. A COMAGRI não indica a origem desta informação.

Com relação à evolução da área irrigada, a COMAGRI (1996) considerou que, de acordo com as estatísticas da FIBGE, de 1970 a 1985, o crescimento da irrigação no Ceará foi da ordem de 162,78%, com taxa média anual de 6,69%. Dados mais recentes, no entanto, do Banco do Nordeste-ETENE, indicam crescimento da área irrigada, dos pólos agroindustriais do Baixo-Médio Jaguaribe e Acaraú/Curu, no período de 1987/1992, de 72,55%, com taxa média anual de 11,53%.

Ante a importância que a irrigação e suas estatísticas, têm para o desenvolvimento do Estado do Ceará, o presente trabalho teve como objetivo analisar como se encontra atualmente a área total irrigada no estado e nos Agropólos, em função dos grupos de área total, bem como o método de irrigação utilizado pelos estabelecimentos informantes, com base no último Censo Agropecuário (1995/96).

MATERIAL E MÉTODOS

Este estudo constou basicamente de um levantamento das informações estatísticas do CD ROM do Censo Agropecuário 1995-1996 (FIBGE). Os dados foram analisados para 64 municípios, que constituem os Agropólos do PROCEAGRI: Baixo Acaraú, Baixo Jaguaribe, Carirí, Ibiapaba, Médio Jaguaribe e Metropolitano.

As informações censitárias foram analisadas em relação à área irrigada e ao uso dos métodos de irrigação considerando-se, em primeiro lugar, o Estado, como um todo, e a divisão dos estabelecimentos em grupos de área de menos de 10 ha, de 10 a menos de 100 ha, de 100 a menos de 1.000 ha, de 1.000 a menos de 10.000 ha e acima de 10.000 ha; em seguida, o Estado foi analisado de acordo com os seis Agropólos do PROCEAGRI, considerando-se a área irrigada, a distribuição dos métodos de irrigação mais usados dentro de cada Agropólo e o total de estabelecimentos e sua distribuição, de acordo com os grupos de área acima referidos.

Utilizou-se, também, o software MS-Excel na elaboração dos gráficos e tabelas analisadas, enquanto os dados censitários foram comparados com outras informações publicadas na escassa literatura disponível.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Área irrigada no Estado do Ceará

A Tabela 1 apresenta o total de estabelecimentos, os estabelecimentos que utilizam irrigação, a área irrigada e os métodos de irrigação usados segundo grupos de área do Estado do Ceará. Observa-se que, de acordo com o Censo Agropecuário 1995/96, a área irrigada total do Estado é de 108.998 ha (8,5% do Estado) pertencentes a 29.030 estabelecimentos que equivalem a 7,4% dos 339.602 estabelecimentos agrícolas do Estado. Deste modo, a área irrigada do Ceará cresceu 162%, se comparada ao Censo de 1985 (67.275 ha).

Analisando-se os dados, observa-se que os estabelecimentos com menos de 100 ha apresentam a maior área irrigada do Estado (58.791 ha), representando 53,9% de sua área total irrigada, enquanto os compreendidos entre 100 a 1.000 ha, correspondentes a 18,8% do total desse grupo, são responsáveis por 30,4% (33.110 ha) da área irrigada no Estado. Observa-se, ainda, que a participação dos estabelecimentos com mais de 10.000 ha, no total da área irrigada, é de apenas 1,3% (1.445 ha).

Uso dos métodos de irrigação

Verifica-se, ainda na Tabela 1, que das informações coletadas no levantamento sobre o uso do método praticado nos estabelecimentos, 61,2% (17.759) usam o método de irrigação por superfície, 33,6% (10.812) utilizam o método por aspersão e 11,3% (3.648) outros métodos. Observa-se que a metodologia aplicada pelo Censo não distingue os métodos localizados (gotejamento e microaspersão) e que esses dados são muito aproximados àqueles divulgados pela COMAGRI (63% da área irrigada do Estado são por superfície e 32,8% por aspersão). Sabe-se que o Censo divulga o número de estabelecimentos que adotam determinado método de irrigação, e não a área irrigada por cada método; no entanto, a COMAGRI não divulgou como obteve seus dados.

Observa-se que o método de irrigação por superfície é o mais usado nos estabelecimentos com menos de 10 ha, e nos de 10 a 100 ha (Figura 1); nos demais grupos, o método de irrigação por aspersão é o mais usado, seguido pelo método de superfície, cujos resultados demonstram a importância do método de irrigação por superfície para o Ceará, mostrando a necessidade do desenvolvimento de pesquisas que visem aumentar a eficiência do método de irrigação, com a conseqüente redução das perdas de água; por outro lado, a compatibilidade com os dados apresentados pela COMAGRI, mostra a importância dos dados censitários.

Os dados da Tabela 1, quanto ao total de área irrigada no Estado (108.998 ha), diferem do valor apresentado pelo Programa Cearense de Agricultura Irrigada (1999) que cita o total de 62.000 ha, sendo 15.200 ha em projetos públicos e 46.800 ha em projetos privados.

Os dados do Censo (Tabela 1) estão também em desacordo com a COMAGRI (1996) que afirma ser a área irrigada do estado, em 1992, era 52.528 ha. Esta diferença é de 48,2%, o que permite especular-se sobre se a razão para tal diferença reside apenas nas formas de conceituação usadas pela FIBGE (Souza, 1994; COMAGRI, 1996).

Área irrigada nos agropólos

Na Tabela 2 são apresentados os Agropólos do Estado do Ceará com as suas respectivas quantidades de estabelecimentos e áreas irrigadas (Figura 2).

De acordo com a Tabela 2, a área irrigada nos seis Agropólos é igual a 68.753 ha, distribuídos em 16.474 estabelecimentos, equivalentes a 13,5% dos 124.523 estabelecimentos que compõem os Agropólos. Os dados mostram que 5.834 estabelecimentos do Agropólo Baixo Jaguaribe (31,5%) são responsáveis por 34,4% (23.635 ha) da área irrigada no Estado; em seguida, vêm os Agropólos Metropolitano (2.403 estabelecimentos), Ibiapaba (3.492 estabelecimentos) e Médio Jaguaribe (4.187) que representam, respectivamente, 20,4% (14.054 ha), 15,9% (10.952 ha) e 12,0% (8.281 ha) da área irrigada nos Agropólos.

A

Figura 3 apresenta a distribuição dos métodos de irrigação praticados nos Agropólos do Estado do Ceará. Verifica-se que nos Agropólos da Ibiapaba e Metropolitano (48,3% e 58,4% dos estabelecimentos, respectivamente) utiliza-se mais o método de irrigação por aspersão, enquanto nos demais Agropólos, Baixo Acaraú, Baixo Jaguaribe, Cariri e Médio Jaguaribe (52,6%, 74,2%, 48,8% e 86,6% dos estabelecimentos, respectivamente) o método por superfície é o mais usado.

Área irrigada e métodos de irrigação nos Agropólos, por grupo de área

A Tabela 3 mostra o número de estabelecimentos com indicação do uso de irrigação e área total, segundo Agropólos e grupos de área no Estado do Ceará. Analisando-se os dados, verifica-se que, dos Agropólos do Estado do Ceará, o Baixo Jaguaribe possui a maior área irrigada em todos os grupos de área, exceto nos estabelecimentos com mais de 1.000 ha e menos de 10.000 ha, em que o Agropólo Metropolitano possui a maior área irrigada. Observa-se, ainda, nos Agropólos, que os estabelecimentos com menos de 10 ha são responsáveis pela maior área irrigada, eqüivalente a 33,0% (22.187 ha) da área total irrigada; em seguida, vêm os estabelecimentos com área entre 10 a 100 ha, que corresponde a 32,2% (21.669 ha). Os grupos com estabelecimentos de área compreendida entre 100 a 1.000 ha e 1.000 ha a 10.000 ha correspondem, respectivamente, a 23,7% (15.927 ha) e 11,1 % (7.439 ha) do total da área irrigada nos Agropólos. É importante observar-se que mais de 65,2% (43.856 ha) da área irrigada nos Agropólos do estado se concentram em pequenas propriedades, menores que 100 ha.

CONCLUSÕES

Com base nos dados da FIBGE (Censo Agropecuário 1995 - 1996) concluiu-se que a área irrigada no Estado do Ceará é de 108.998 ha, correspondendo a somente 8,5% (29.030) dos estabelecimentos do Estado. O método de irrigação mais usado pelos estabelecimentos informantes é o de superfície, com 61,2%; em seguida, vem o método de irrigação por aspersão, com 37,2%, e os demais métodos, com 12,6%. Esses dados coincidem com as demais fontes de informação. Os estabelecimentos com área menor que 100 ha possuem a maior área irrigada, representando 53,9% da área total irrigada no estado e 65,2% da área irrigada nos Agropólos; já os estabelecimentos com área maior que 10.000 ha, pouco utilizam irrigação, pois são responsáveis por apenas 1,3%. Nos Agropólos do Estado do Ceará irrigam-se 67.219 ha, sendo o Agropólo do Baixo Jaguaribe responsável pela maior área, com 33,3%, e o Agropólo do Baixo Acaraú com a menor área, 5,7%. Os estabelecimentos com menos de 100 ha dos Agropólos do Estado do Ceará, são responsáveis pela maior área irrigada, correspondendo a 65,2% da área total irrigada nos Agropólos. A SEAGRI (Secretaria de Agricultura Irrigada) deveria realizar estudos baseados em tecnologias mais avançadas, para determinar, com maior exatidão, a área irrigada do estado.

LITERATURA CITADA

COMAGRI - Comissão da Agricultura Irrigada. Secretaria da Agricultura e Reforma Agrária. Fortaleza, maio de 1996.

PROCEAGRI - Programa Cearense de Agricultura Irrigada. SEAGRI. Fortaleza, maio de 1999.

Protocolo 132 - 23/10/2000

• FIBGE - Censo Agropecuário 1995 - 1996. Número 9: Ceará.
• Gomes, H.P. Engenharia de irrigação. 2. ed. Campina Grande: UFPB, 1997.
• Souza, H.R.; Figueiredo, A.P.; Machado, R.R.T.; Ramos, A.S. Agricultura irrigada e desenvolvimento sustentável no Nordeste do Brasil. Brasília: Secretaria de Planejamento, Orçamento e Coordenação da Presidência da República, 1994. GTIV-IV3 Projeto ÁRIDAS. Uma estratégia de desenvolvimento sustentável para o Nordeste.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  30 Out 2006
• Data do Fascículo
  Abr 2001

Histórico

• Recebido
  23 Out 2000