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A pulsão de morte na perspectiva de Otto Kernberg

The death drive according to Otto Kernberg

La pulsion de mort selon Otto Kernberg

La pulsión de muerte en la perspectiva de Otto Kernberg

O psicanalista vienense Otto Kernberg repensou o conceito de pulsão de morte a partir de novos conhecimentos da área de neurobiologia e a partir da investigação de quadros psicopatológicos graves, pouco abordados por Freud. Ele reconheceu que os fenômenos elencados por Freud para sustentar a ideia de pulsão de morte, de fato, demonstram a presença de uma tendência autodestrutiva dominante, mas sustentou que essa tendência resulta de uma transformação maligna da agressão, decorrente de fatores constitucionais e relacionais, e não de uma tendência inata do psiquismo. O objetivo deste artigo é retomar alguns pontos problemáticos da teoria freudiana do segundo dualismo pulsional e procurar mostrar que a perspectiva de Kernberg permite escapar de certos impasses presentes nessa teoria.

Palavras-chave:
Otto Kernberg; Freud; teoria pulsional; pulsão de morte


Resumos

Based on new discoveries in the field of neurobiology and on his own research on severe psychopathological conditions mostly unaddressed by Freud, the Viennese psychoanalyst Otto Kernberg redefined the death drive concept. Despite acknowledging that the phenomena referred to by Freud refers as supporting the idea of a death drive reveal the existence of a dominant self-destructive tendency, Kernberg maintains that such tendency results from a malignant transformation of aggression due to constitutional and relational factors, rather than from an innate feature of the mind. This paper seeks to reassess some problematic points of Freud’s second drive theory and argue that Kernberg’s perspective allows to avoid some of its main stalemates.

Key words:
Otto Kernberg; Freud; drive theory; death drive

S’appuyant sur de nouvelles découvertes dans le domaine de la neurobiologie et sur ses propres investigations de tableaux psychopathologiques sévères, pour la plupart non abordés par Freud, le psychanalyste viennois Otto Kernberg a redéfini le concept de pulsion de mort. Toute en reconnaisant que les phénomènes énumérés par Freud pour soutenir l’idée de pulsion de mort révèlent l’existence d’une tendance dominante à l’autodestruction, Kernberg soutient que cette tendance résulte d’une transformation maligne de l’agressivité due à des facteurs constitutionnels et relationnels, plutôt que d’une caractéristique innée du psychisme. Cet article cherche à reprendre certains points problématiques de la théorie freudienne du second dualisme pulsionnel et soutient que la perspective de Kernberg permet d’échapper à certaines de ces impasses.

Mots clés:
Otto Kernberg; Freud; théorie pulsionnelle; pulsion de mort


El psicoanalista vienés Otto Kernberg replanteó el concepto de pulsión de muerte, a partir de nuevos conocimientos del área neurobiológica y de la investigación de cuadros psicopatológicos graves, poco abordados por Freud. Reconoce que los fenómenos enumerados por Freud para apoyar la idea de la pulsión de muerte, de hecho, demuestran la presencia de una tendencia autodestructiva dominante, pero sostiene que esta tendencia resulta de una transformación maligna de la agresión, resultante de factores constitucionales y relacionales, y no de una tendencia innata del psiquismo. El objetivo de este artículo es retomar algunos puntos problemáticos de la teoría freudiana del segundo dualismo pulsional y mostrar que la perspectiva de Kernberg permite salir de ciertos impasses presentes en esta teoría.

Palabras clave:
Otto Kernberg; Freud; teoría pulsional; pulsión de muerte


Quando Freud insere o princípio de inércia e a tendência à constância na base de sua teoria do aparelho psíquico, a existência de uma tendência à autoaniquilação se torna inerente ao funcionamento mental, embora, durante um longo período, isso não tenha sido explicitamente reconhecido. Desde essa perspectiva, a introdução do conceito de pulsão de morte, no texto “Além do princípio do prazer”, publicado em 1920, é perfeitamente coerente com as premissas básicas da teoria freudiana. No entanto, a suposição da existência de uma pulsão de vida se apresenta como problemática, justamente devido à dificuldade de conciliá-la com os pressupostos fundamentais dessa teoria. Pode-se argumentar que, para sustentar o segundo dualismo pulsional de forma coerente, Freud teria que ter descartado a hipótese de que a tendência à descarga total dos estímulos governa, em última instância, todos os fenômenos mentais.

O psicanalista vienense Otto Kernberg repensou o conceito de pulsão de morte a partir de novos conhecimentos da área de neurobiologia e a partir da investigação de quadros psicopatológicos graves, pouco abordados por Freud. Ele reconheceu que os fenômenos descritos por Freud para sustentar a ideia de pulsão de morte, de fato, demonstram a presença de uma tendência autodestrutiva dominante na vida mental, mas sustentou que essa tendência resulta de uma transformação maligna da agressão como sistema motivacional primário. O objetivo deste artigo é discutir alguns pontos das teorias desses autores e argumentar que a proposta de Kernberg permite sustentar a ideia de que a libido e a agressão sejam as duas pulsões básicas atuantes no psiquismo e escapar de alguns dos impasses com os quais Freud se deparou em sua segunda teoria pulsional.

O conceito freudiano de pulsão morte

A publicação do texto “Além do princípio do prazer” (Freud, 1920/ 1998dFreud, S. (1998d). Mas allá del principio de placer. (J. Strachey, Ed., J. L. Etcheverry, Trad.). In Obras Completas (vol. 18, pp. 1-62). Amorrortu. (Trabalho originalmente publicado em 1920).) gerou grandes polêmicas nos meios psicanalíticos. Greenberg (1990)Greenberg, D. E. (1990). Instinct and primary narcissism in Freud’s latter theory: an interpretation and reformulation of beyond the pleasure principle. International Journal of Psychoanalysis, 71, 271-183. considera que esse é o texto freudiano menos plausível e mais especulativo e inescrutável. Akhtar (2011)Akhatar, S. (2011). Introduction. In S. Akhatar, & M. K. O’Neil (Orgs.), On Freud’s Beyond the pleasure principle (pp. 1-10). Karnac. comenta que a introdução da teoria do segundo dualismo pulsional produziu um choque sísmico nos fundamentos da teoria psicanalítica, pois muitos conceitos tiveram que ser repensados. O mesmo autor comenta que a introdução da noção de pulsão de morte, em particular, produziu considerável incômodo, razão pela qual esse conceito foi negado e repudiado por muitos. Como aponta Monzani (1989)Monzani, L. R. (1989). Freud: o movimento de um pensamento. Editora da Unicamp., mesmo discípulos fiéis de Freud criticaram o conceito. Esse autor considera que a noção de pulsão de morte é uma das mais confusas e de mais difícil compreensão na teoria freudiana e que “Além do princípio do prazer” é o texto freudiano mais desorientador, mais embaraçoso e mais cheio de armadilhas. Tomlinson (2011)Tomlison, W. C. (2011). ‘Jenseits’ and beyond: teaching Freud´s late work. In S. Akhata, & M. K. O’Neil (Orgs.), On Freud´s Beyond the pleasure principle (pp. 73-85). Karnac. enfatiza que o próprio Freud reconheceu que as ideias apresentadas naquele momento eram provisórias e inconclusas.

Apesar da estranheza gerada pela ideia de pulsão de morte, principalmente após a publicação do “Projeto para uma psicologia científica”, texto redigido em 1895 e publicado apenas em 1950, ficou evidente que esse conceito não surgiu repentinamente em 1920. Ao introduzir a hipótese da pulsão de morte, Freud explicita algo que, desde o início, esteve implícito em sua teoria. Podemos argumentar que esse conceito é uma consequência necessária da hipótese do “princípio de inércia” e da “tendência à constância” introduzidas no “Projeto...” e mantidas ao longo de toda a obra freudiana.

No “Projeto...”, Freud (1950/2003)Freud, S. (2003). Projeto de uma Psicologia. In O. Gabbi Jr. (Ed. e Trad.), Notas a “Projeto de uma Psicologia”. Imago. (Trabalho original escrito em 1895 e publicado em 1950). sustenta que o sistema nervoso1 1 Nesse texto, o psíquico é identificado com uma parte do funcionamento cerebral. é originariamente regido pelo “princípio de inércia”, o qual consistiria em uma tendência a descarregar, da forma mais direta possível e pela via reflexa, todos os estímulos recebidos. Essa tendência à eliminação total da excitação, no entanto, não permitiria anular os estímulos provenientes do interior do corpo, de forma que o princípio de inércia daria lugar, então, a uma tendência à constância. Em vez de descarregar toda a excitação recebida, o aparelho passaria a manter um nível mínimo necessário para garantir a adequada descarga da excitação proveniente do interior do corpo.2 2 Para uma explicação mais detalhada às hipóteses no “Projeto...”, ver Simanke (2007). A diminuição da excitação produziria prazer, e o seu acréscimo, desprazer, de forma que a tendência à descarga da excitação se manifestaria como uma tendência à evitação do desprazer.

Freud ressalta que a tendência à constância não se opõe ao princípio de inércia, mas trabalha a seu favor. Ao comentar o surgimento dessa tendência, ele afirma: “mostra-se, no entanto, a permanência da mesma tendência, modificada no esforço de manter a Q’n no menor nível possível, em defender-se contra a elevação, ou seja, em mantê-la constante” (Freud, 1950/2003, p. 177Freud, S. (2003). Projeto de uma Psicologia. In O. Gabbi Jr. (Ed. e Trad.), Notas a “Projeto de uma Psicologia”. Imago. (Trabalho original escrito em 1895 e publicado em 1950).).3 3 Q´n é a abreviação usada por Freud para se referir às quantidades provenientes do interior do corpo. A preservação de certa quantidade de excitação seria necessária para tornar possível a execução das ações que permitem fazer cessar os estímulos provenientes do interior do organismo. Por exemplo, no caso da fome, a via reflexa de descarga, como o choro, o grito e demais descargas motoras, não permite que os estímulos internos que produzem a fome sejam anulados. Para que a fome de fato cesse, é necessário que o alimento seja alcançado, mas a execução dessa ação requer que a descarga reflexa seja abandonada e certo nível de quantidade retido no psiquismo. No entanto, a preservação de certa soma de excitação — a substituição do princípio de inércia pela tendência à constância — mantém como objetivo último eliminar os estímulos internos que geram desprazer. Portanto, pode-se dizer que a tendência à constância continua sendo guiada, em última instância, pela busca da eliminação dos estímulos, como reconhece Freud.

A partir de A interpretação dos sonhos, texto publicado em 1900, Freud deixa de se referir explicitamente ao sistema nervoso e passa a falar num “aparelho psíquico”. No entanto, as mesmas hipóteses sobre os princípios fundamentais do funcionamento mental são mantidas. No capítulo 7 desse livro, o autor afirma:

(...) o aparelho obedeceu primeiro ao afã de manter-se, dentro do possível, isento de estímulos e, por isso, em sua primeira construção, adotou o esquema do aparelho reflexo, que lhe permitia descarregar imediatamente, pelas vias motoras, uma excitação sensível que lhe alcançava a partir de fora. No entanto, as exigências da vida perturbaram essa simples função; o aparelho também deve a elas o impulso para seu desenvolvimento posterior. (Freud, 1900/1998a, p. 538Freud, S. (1998a). La interpretación de los sueños. (J. Strachey, Ed., J. L. Etcheverry, Trad.). In Obras Completas (vol. 5). Amorrortu. (Trabalho originalmente publicado em 1900).)

No artigo metapsicológico “Pulsões e seus destinos” (Freud, 1915/1998cFreud, S. (1998c). Pulsiones y destinos de pulsión. (J. Strachey, Ed., J. L. Etcheverry, Trad.). In Obras Completas (vol. 14, pp. 105-134). Amorrortu. (Trabalho originalmente publicado em 1915).), ao retomar sua teoria do aparelho psíquico, ele apresenta as mesmas hipóteses sobre a tendência primária do aparelho psíquico, como indica a seguinte passagem:

Não apenas acrescentamos a nosso material empírico certas convenções na qualidade de conceitos básicos, como nos servimos de muitas premissas complexas para nos guiarmos na elaboração do mundo dos fenômenos psicológicos. Já mencionamos a mais importante delas; só nos resta destacá-la de maneira expressa. É de natureza biológica, trabalha com o conceito de tendência (possivelmente, da adequação a fins) e diz: O sistema nervoso é um aparelho que tem a função de se livrar dos estímulos que o alcançam, de reduzi-los ao nível mínimo possível; dizendo de outro modo, é um aparelho que, se possível, queria se conservar isento de todo estímulo. (p. 83)

Tendo isso em vista, parece possível dizer que, em “Além do princípio do prazer”, ao introduzir o conceito de pulsão de morte, Freud explicita algo que já podia ser inferido desde suas primeiras especulações metapsicológicas: a tendência a descarregar toda a excitação que atinge o aparelho psíquico é uma tendência para a morte.

Em “Além do princípio do prazer”, como se sabe, Freud (1920/1998d)Freud, S. (1998d). Mas allá del principio de placer. (J. Strachey, Ed., J. L. Etcheverry, Trad.). In Obras Completas (vol. 18, pp. 1-62). Amorrortu. (Trabalho originalmente publicado em 1920). descarta um dos pressupostos fundamentais de sua teoria, sustentado desde A interpretação dos sonhos, a saber, a hipótese de que o princípio primário que governa os processos mentais é o princípio do prazer. No sétimo capítulo do seu livro sobre os sonhos, ele introduzira a hipótese de que o “princípio do desprazer”, designado, posteriormente, “princípio do prazer”, rege soberano os processos psíquicos primários. Nesse tipo de funcionamento mental, o desprazer estaria excluído; caminhos que conduzissem ao desprazer seriam automaticamente evitados.4 4 No “Projeto...”, estava presente a hipótese de que o funcionamento psíquico primário poderia conduzir tanto ao prazer como ao desprazer. Também já estava presente a hipótese de um funcionamento mental primário que consistiria em uma compulsão à repetição. Assim, apenas em 1900 surge a ideia de que os processos primários desde o início são capazes de evitar o desprazer. Para uma explicação mais detalhada dessas questões, ver Caropreso e Simanke (2011) e Caropreso (2020).

A partir da análise de uma série de fenômenos — tais como os sonhos traumáticos, brincadeiras infantis, manifestações transferenciais, neuroses de destino —, Freud (1920/1998d)Freud, S. (1998d). Mas allá del principio de placer. (J. Strachey, Ed., J. L. Etcheverry, Trad.). In Obras Completas (vol. 18, pp. 1-62). Amorrortu. (Trabalho originalmente publicado em 1920). conclui que é necessário admitir que existe um funcionamento mental primitivo que não obedece ao princípio do prazer. Esse tipo de funcionamento mental consistiria numa compulsão à repetição e poderia conduzir tanto ao prazer quanto ao desprazer. Ele teria como objetivo ligar a excitação que alcançasse o aparelho psíquico e preparar o terreno para que o princípio do prazer pudesse se tornar dominante.

Após introduzir o conceito de compulsão à repetição, Freud se pergunta de que maneira tal compulsão estaria relacionada à atividade pulsional. Sua resposta é que ela consiste numa característica universal da pulsão. Este último conceito é definido, nesse momento, da seguinte forma:

Uma pulsão seria um esforço, inerente ao orgânico vivo, de reprodução de um estado anterior, a que o vivo teve que renunciar sob o influxo de forças externas perturbadoras; seria um tipo de elasticidade orgânica ou, caso se queira, a exteriorização da inércia na vida orgânica. (Freud, 1920/1998d, p. 36Freud, S. (1998d). Mas allá del principio de placer. (J. Strachey, Ed., J. L. Etcheverry, Trad.). In Obras Completas (vol. 18, pp. 1-62). Amorrortu. (Trabalho originalmente publicado em 1920).)

Nessa passagem, Freud amplia a noção de pulsão em relação às suas formulações anteriores, ao defini-la como um esforço inerente ao orgânico vivo de reprodução de um estado anterior. Após apresentar essa definição, ele se pergunta qual seria o estado primário ao qual a pulsão visaria regressar e responde que seria o estado inorgânico, introduzindo, assim, o conceito de pulsão de morte. Desde o seu surgimento, a vida teria apresentado uma tendência a regressar ao inorgânico, a regressar a um estado de ausência total de estímulos. Se estendemos isso ao aparelho psíquico, chegamos à hipótese de que a tendência primordial que o governa é uma tendência a anular todos os estímulos recebidos, o que representa alcançar a morte. Assim, retornamos às hipóteses do “Projeto...”, em especial, à formulação original do princípio de inércia. Tendo isso em vista, podemos dizer que, em “Além do princípio do prazer”, como argumenta Monzani (1989)Monzani, L. R. (1989). Freud: o movimento de um pensamento. Editora da Unicamp., Freud confere direito pleno de cidadania a algo que sempre fora, de alguma forma, admitido.

Freud sustenta, então, que o “princípio de Nirvana” antecede o princípio do prazer e que este último seria uma expressão do primeiro. Em suas palavras:

Uma vez que discernimos como a tendência dominante da vida psíquica, e talvez da vida nervosa em geral, a de rebaixar, manter constante, suprimir a tensão interna de estímulo (o “princípio de Nirvana”, segundo a terminologia de Barbara Low [1920, p. 73]), do qual é expressão o princípio do prazer, esse constitui um dos nossos mais fortes motivos para crer na existência de pulsões de morte. (Freud, 1920/1998, p. 54)

Quando as propriedades da vida foram suscitadas na matéria inanimada, teria surgido a primeira pulsão: a de regressar ao estado inanimado imediatamente antecedente. Freud especula que, na origem da vida, apenas um curto caminho vital teria que ter sido percorrido, de forma que a morte poderia ser facilmente alcançada. Contudo, as alterações nas condições externas teriam imposto à substância viva desvios cada vez maiores no seu caminho vital originário. O autor argumenta, inicialmente, que as pulsões de autoconservação são plenamente compatíveis com a hipótese da pulsão de morte. De certa forma, essas ideias também já estavam pressupostas desde o “Projeto...”. Nesse texto, Freud argumentara que a satisfação das necessidades orgânicas teria como condição uma ação específica sobre o mundo, de modo que o funcionamento mental tivesse que aprender a tolerar certo nível de excitação, fazendo com que o princípio de inércia desse lugar à tendência à constância. Como a eliminação dos estímulos provenientes do interior do organismo não poderia ser alcançada pela via refexa, um adiamento da descarga se imporia, assim como a aprendizagem de certos caminhos indiretos e mais longos, tendo como resultado uma permanência maior na vida. O autor argumenta, portanto, que o esforço aparente de manter-se vivo — isto é, a manifestação das pulsões de autoconservação — seria apenas um caminho para a morte peculiar de cada organismo.

No entanto, Freud (1920/1998d)Freud, S. (1998d). Mas allá del principio de placer. (J. Strachey, Ed., J. L. Etcheverry, Trad.). In Obras Completas (vol. 18, pp. 1-62). Amorrortu. (Trabalho originalmente publicado em 1920). defende, num segundo momento do texto, que as pulsões sexuais trabalham no sentido da preservação da vida, de forma que haveria, no organismo, um impulso que se opõe à morte. Com essa hipótese, a preservação da vida deixa de ser pensada como apenas uma consequência da ação dos estímulos externos e um novo dualismo pulsional é introduzido na teoria.

Após estabelecer a oposição entre as pulsões de morte e as pulsões sexuais, que seriam as verdadeiras pulsões de vida, surge a questão de qual seria o estado originário ao qual a pulsão de vida buscaria regressar. Como Freud definira a pulsão em geral como um esforço para retornar a um estado anterior, também a pulsão de vida manifestaria essa tendência. Freud busca na biologia uma resposta e levanta a questão sobre o que a cópula entre dois protistas, a precursora da reprodução sexual, visa repetir. Ele aponta que havia pesquisas indicando que a cópula entre dois protistas possui um efeito rejuvenescedor sobre esses organismos. Além disso, havia indicações de que outras formas de estimulação produzem esse mesmo efeito. Impõe-se, então, a conclusão de que é o aumento da quantidade de estímulos que possui a capacidade de renovar a vida. O autor, então, sustenta que “as pulsões de vida ou sexuais, ativas em cada célula, são as que tomam por objeto as outras células, neutralizando parcialmente suas pulsões de morte, a dizer, os processos provocados por estas últimas, e mantendo-as, desse modo, na vida” (Freud, 1920/1998d, p. 49Freud, S. (1998d). Mas allá del principio de placer. (J. Strachey, Ed., J. L. Etcheverry, Trad.). In Obras Completas (vol. 18, pp. 1-62). Amorrortu. (Trabalho originalmente publicado em 1920).).

Consequentemente, as pulsões de morte atuariam no sentido da diminuição dos estímulos, e as pulsões de vida atuariam no sentido oposto, buscando produzir um aumento na estimulação. A hipótese de que o acréscimo dos estímulos fortalece a vida é coerente com a suposição de que o processo vital conduz, por razões internas, à nivelação das tensões químicas. No entanto, algumas questões colocam problemas a essas hipóteses. De acordo com a teoria da sexualidade elaborada por Freud desde os “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade” (Freud, 1905/1998bFreud, S. (1998b). Tres ensayos de teoría sexual. (J. Strachey, Ed., J. L. Etcheverry, Trad.). In Obras Completas (vol. 7, pp 109-224). Amorrortu. (Trabalho originalmente publicado em 1905).), as pulsões sexuais visariam, em última instância, a descarga da excitação. Nesse texto, o autor argumentara que a sexualidade era uma atividade que visava obter prazer a partir da estimulação de uma ou mais zonas erógenas. Tendo em vista essa definição, o contato entre dois corpos e o consequente aumento de estímulos pode ser compreendido como um objetivo intermediário da pulsão sexual, como uma etapa intermediária de um processo impulsionado por essa pulsão, cuja meta última seria a descarga da excitação. Sob essa luz, podemos pensar que o objetivo de descarregar a excitação que a pulsão de morte, também atuaria por trás da pulsão sexual, o que abala a defesa da segunda dualidade pulsional.

Freud se depara com outros problemas em sua tentativa de defender sua segunda teoria pulsional.5 5 Uma análise mais detalhada dos impasses do segundo dualismo pulsional pode ser encontrada em Caropreso e Simanke (2011) e Caropreso (2020). No final de “Além do princípio do prazer”, ele altera sua concepção e inclui as pulsões de autoconservação entre as pulsões de vida. No entanto, essa hipótese mostra-se frágil, uma vez que, nos primeiros capítulos do texto, como vimos, ele mesmo havia argumentado, de forma muito convincente, que as pulsões de autoconservação eram plenamente compatíveis com a pulsão de morte; que, em última instância, elas também eram guiadas pela tendência à anulação dos estímulos.

A característica regressiva atribuída a toda pulsão também coloca problemas para a defesa de uma pulsão de vida. Como a pulsão fora definida como um esforço inerente ao orgânico vivo de regressar a um estado anterior, torna-se necessário especificar a que estado primordial a pulsão de vida aspiraria retornar. Freud levanta a hipótese de que esse estado primordial consistiria em um estado de fusão e indiferenciação, que teria sido abandonado com o surgimento da vida. No entanto, ele não encontra na biologia apoio para essa hipótese, o que faz com que a deixe em suspenso. No “Esboço de psicanálise” (1940/1998i) Freud finalmente recusa a suposição de que as pulsões de vida teriam um caráter regressivo. Com isso, a compulsão à repetição passa a ser pensada como uma característica apenas da pulsão de morte. No entanto, uma vez que a tendência primária do funcionamento mental seria resgatar o estado originário de ausência de excitação — o princípio de Nirvana podemos concluir que a atuação da pulsão de morte antecederia aquela da pulsão de vida.

No texto “O problema econômico do masoquismo”, Freud (1924/1998g)Freud, S. (1998g). El problema económico del masoquismo. (J. Strachey, Ed., J. L. Etcheverry, Trad.). In Obras Completas (v. 19, pp. 161-176). Amorrortu. (Trabalho originalmente publicado em 1924). argumenta que o princípio de Nirvana expressa a tendência da pulsão de morte, e o princípio de prazer, que consiste numa modificação do primeiro, representa as exigências da libido. De acordo com isso, a pulsão de morte entraria em ação primeiro, sob influxo do princípio de Nirvana, e, apenas com o surgimento do princípio do prazer, a pulsão de vida passaria a atuar. Mas, como Freud mesmo afirma, o princípio de prazer também atuaria a serviço da pulsão de morte, de forma que essas ideias parecem conduzir à conclusão de que a tendência à morte esteja por trás de todos os processos psíquicos.

Tendo em vista os argumentos acima, podemos dizer que a pulsão de morte parece sempre se manifestar por trás de fenômenos que, à primeira vista, trabalhem no sentido da preservação da vida. Quando Freud coloca a tendência à descarga máxima da excitação na base de sua teoria, ele se compromete com a hipótese de uma pulsão de morte, o que dificulta a defesa da teoria do segundo dualismo pulsional. Podemos argumentar que, para se sustentar de forma coerente, esta última teria que deixar de lado o pressuposto de que, na base do psiquismo, está presente a tendência à descarga total dos estímulos (Caropreso, 2020Caropreso, F. (2020). Estrutura conceitual e impasses teóricos em “Além do princípio do prazer”. Voluntas: Revista Internacional de Filosofia, 11(2), 41-61. https://doi.org/10.5902/2179378644480.
https://doi.org/10.5902/2179378644480...
).

A hipótese de que a pulsão de morte se expressa como agressividade também se apresenta como consideravelmente problemática. Em “Além do princípio do prazer”, Freud sugere que o ódio ou a agressividade seriam expressões da pulsão de morte, de forma que haveria uma oposição primordial entre agressividade e libido. Com isso, ele modifica sua suposição anterior de que o masoquismo fosse posterior ao sadismo e sustenta que o masoquismo é primário, isto é, que há uma tendência autodestrutiva primária. Haveria, inicialmente, uma agressividade voltada para o Eu, a qual seria, num segundo momento, direcionada para o exterior, dando assim origem ao sadismo. No entanto, a hipótese da pulsão de morte como uma tendência à inércia, à eliminação da excitação, não é facilmente conciliável com a ideia da pulsão de morte como agressividade.

Figueiredo (1999)Figueiredo, L. C. (1999). Palavras cruzadas entre Freud e Ferenczi. Escuta. expressa bem a dificuldade que envolve essa questão ao dizer que, por um lado, o “além” do princípio do prazer tem a ver com o movimento do retorno ao estado anterior, de restauração de um estado de coisas prévio. Essa característica corresponderia ao que há de mais pulsional nas pulsões. Por outro, as pulsões de morte se diferenciam e se contrapõem às de vida e assumem a fsionomia do ódio e da agressividade. O autor argumenta que, ao explicar o masoquismo secundário pelo primário, como restauração e regressão, Freud parece estar jogando dois jogos diferentes com as mesmas cartas e ao mesmo tempo. Na teoria freudiana subsequente, a concepção da pulsão de morte como agressividade é enfatizada, o que pode ser percebido nos textos “Psicologia das massas e análise do Eu” (Freud, 1921/1998eFreud, S. (1998e). Psicología de las massas y análisis del yo. (J. Strachey, Ed., J. L. Etcheverry, Trad.). In Obras Completas (v. 18, pp. 63-136). Amorrortu. (Trabalho originalmente publicado em 1921).), “O ego e o id” (Freud, 1923/1998fFreud, S. (1998f). El yo y el ello. (J. Strachey, Ed., J. L. Etcheverry, Trad.). In Obras Completas (v. 19, pp. 1-66). Amorrortu. (Trabalho originalmente publicado em 1923).) “Mal-estar na civilização” (Freud, 1930/1998hFreud, S. (1998h). El malestar en la cultura. (J. Strachey, Ed., J. L. Etcheverry, Trad.). In Obras Completas (v. 21, pp. 57-140). Amorrortu. (Trabalho originalmente publicado em 1930).), entre outros.

No fim do texto “Além do princípio do prazer”, Freud reconhece que as hipóteses ali elaboradas apresentam lacunas. Em suas palavras: “Não desconheço que o terceiro passo da doutrina das pulsões, este que empreendo aqui, não pode reivindicar a mesma certeza que os dois anteriores, a saber, a ampliação do conceito de sexualidade e a tese do narcisismo (...)” (Freud, 1920/1998d, p. 57Freud, S. (1998d). Mas allá del principio de placer. (J. Strachey, Ed., J. L. Etcheverry, Trad.). In Obras Completas (vol. 18, pp. 1-62). Amorrortu. (Trabalho originalmente publicado em 1920).).

Como dissemos, Otto Kernberg repensa o conceito de pulsão de morte a partir de sua prática clínica e do conhecimento biológico atual e propõe uma concepção bastante original. Trata-se agora, portanto, de discutir suas concepções.

A pulsão de morte segundo Otto Kernberg

Em seu texto “O conceito de pulsão de morte: uma perspectiva clínica”, Otto Kernberg (2011)Kernberg, O. (2011). The concept of death drive: a clinical perspective. In S. Akhatar, & M. K. O’Neil (Orgs.), On Freud´s Beyond the pleasure principle (pp. 173-190). Karnac. comenta que a discussão sobre se a agressão é uma resposta primária ou secundária ao trauma e à frustração permeia o campo psicológico, para além da psicanálise. A suposição da existência de uma pulsão de morte vai profundamente contra uma visão mais otimista da natureza humana, baseada na suposição de que, se severas frustrações ou traumas não estiverem presentes no desenvolvimento primário, a agressão não será, então, um grande problema humano.

Kernberg (2003aKernberg, O. (2003a). Sanctioned social violence: A psychoanalytic view, Part I. International Journal of Psychoanalysis, 84, 683-698. https://doi.org/10.1516/XFVQ-LYCB-E40K-CXRF.
https://doi.org/10.1516/XFVQ-LYCB-E40K-C...
, 2003bKernberg, O. (2003b). Sanctioned social violence: A psychoanalytic view, Part II. International Journal of Psychoanalysis, 84, 953-968. https://doi.org/10.1516/NNQX-V7X9-DGCV-M8T8.
https://doi.org/10.1516/NNQX-V7X9-DGCV-M...
) comenta que a questão da existência de uma pulsão destrutiva, contudo, está diretamente relacionada a problemas culturais. A agressividade brutal e primitiva dos regimes fundamentalistas do último século, o assassinato de dezenas de milhares de pessoas em nome do Nacional-Socialismo Germânico e do comunismo marxista foi uma catástrofe sem precedentes, e essa violência começa a ser replicada sob novas bandeiras no século XXI. Assim, a existência de uma pulsão de morte consiste em uma questão prática e não meramente teórica, argumenta o autor:

Nenhuma sociedade, nenhum país está livre da história de massacres maciços e sem sentido de inimigos reais ou imaginados. A relativa onipresença desse fenômeno ao longo da história da civilização não pode ser ignorada. A questão da existência da pulsão de morte, como parte do cerne da psicologia humana, é, infelizmente, prática e não meramente um problema teórico. (Kernberg, 2011, p. 174Kernberg, O. (2011). The concept of death drive: a clinical perspective. In S. Akhatar, & M. K. O’Neil (Orgs.), On Freud´s Beyond the pleasure principle (pp. 173-190). Karnac.)

Embora a suposição da existência de uma pulsão de morte não possa ser descartada, na perspectiva de Kernberg, não é possível concebê-la da mesma forma como o fez Freud. Ele sustenta que essa denominação seja usada para designar a autodestrutividade severa presente em casos graves de psicopatologia, como procuraremos mostrar no que se segue.

De acordo com a teoria freudiana do segundo dualismo pulsional, como vimos, a libido e a agressão seriam as motivações primárias do psiquismo, de forma que, em última instância, todos os conflitos inconscientes envolveriam algum nível de conflito entre essas duas pulsões. Kernberg considera que isso faz sentido clinicamente. No entanto, ressalta que novos conhecimentos da área de neurobiologia colocam a necessidade de que o conceito freudiano de pulsão seja repensado. Ele propõe, inicialmente, uma alteração na maneira como Freud pensa a relação entre pulsão e representação.

Em seus artigos metapsicológicos, Freud sustenta que as pulsões se manifestam no psiquismo como afetos e como representações, de tal forma que as pulsões seriam primárias em relação aos afetos. Ele enfatiza que tudo o que podemos conhecer sobre a pulsão é sua expressão como afeto ou como representação e ressalta a provisoriedade desse conceito. Em “Pulsões e seus destinos” (Freud, 1915/1998cFreud, S. (1998c). Pulsiones y destinos de pulsión. (J. Strachey, Ed., J. L. Etcheverry, Trad.). In Obras Completas (vol. 14, pp. 105-134). Amorrortu. (Trabalho originalmente publicado em 1915).), a pulsão é caracterizada como um conceito “provisoriamente ainda um tanto obscuro, mas que não podemos dispensar na psicologia” (p. 53). A crença de que o avanço do conhecimento biológico permitiria aperfeiçoar a compreensão sobre as pulsões é claramente afirmada por Freud. Como comenta Kernberg (2011)Kernberg, O. (2011). The concept of death drive: a clinical perspective. In S. Akhatar, & M. K. O’Neil (Orgs.), On Freud´s Beyond the pleasure principle (pp. 173-190). Karnac., Freud postergou a tarefa de vincular as funções e estruturas psicológicas a processos neurobiológicos subjacentes, devido à natureza primitiva da neurobiologia de seu tempo, mas expressou sua esperança de que isso viesse a ser realizado futuramente.6 6 Vários exemplos de afirmações de Freud sobre essa questão podem ser encontrados em Caropreso (2018).

Kernberg (2011)Kernberg, O. (2011). The concept of death drive: a clinical perspective. In S. Akhatar, & M. K. O’Neil (Orgs.), On Freud´s Beyond the pleasure principle (pp. 173-190). Karnac. aponta que o conhecimento neurobiológico recente sobre o comportamento instintivo e sua organização nos mamíferos, em especial nos primatas, já permite repensar alguns conceitos freudianos. Esse conhecimento mostra que os afetos são sistemas motivacionais primários, no sentido de que sua ativação pelos mecanismos do sistema límbico, sob certas circunstâncias, desencadeia forte motivação para movimentos de aproximação ou afastamento dos objetos. O autor menciona o trabalho desenvolvido por Panksepp (1998)Panksepp, J. (1998). Affective neuroscience. Oxford University Press., que demonstra que a série dos afetos libidinais (alegria, euforia, gratificação sensual e excitação erótica) nos direciona a objetos libidinais primários, enquanto os afetos negativos (fúria, raiva, nojo, ansiedade) nos motiva a escapar de objetos perigosos, a controlá-los ou eliminá-los. Todos esses afetos estariam embutidos em representações mentais.

Kernberg (2011)Kernberg, O. (2011). The concept of death drive: a clinical perspective. In S. Akhatar, & M. K. O’Neil (Orgs.), On Freud´s Beyond the pleasure principle (pp. 173-190). Karnac. aponta que os estudos de pacientes com transtorno borderline, desenvolvidos por sua equipe no “Instituto de Transtornos de Personalidade” do Weill Cornell Medical College (Silbersweig et al., 2007Silbersweig, D., Clarkin, J. F., Goldstein, M., Kernberg, O. F., Tuescher, O., Levy, K. N., Brendel, G., Pan, H., Beutel, M., Pavony, M. T., Epstein, J., Lenzenweger, M. F., Thomas, K. M., Posner, M. I., & Stern, E. (2007). Failure of frontolimbic inhibitory function in the context of negative emotion in borderline personality disorder. The American Journal of Psychiatry, 164(12), 1832–1841. https://doi.org/10.1176/appi.ajp.2007.06010126.
https://doi.org/10.1176/appi.ajp.2007.06...
) confirmaram que pacientes borderline que sofrem de impulsos agressivos excessivos e falta de controle dos impulsos, ou seja, que sofrem de um forte predomínio de afetos e impulsos negativos, regularmente demonstram hiperatividade da amígdala, a estrutura límbica relacionada à ativação de afetos negativos. Tais estudos também demonstraram haver uma inibição do córtex pré-frontal dorsolateral, área relacionada à estrutura cognitiva dos afetos e ao estabelecimento de prioridades de foco, atenção e ação seguindo tais ativações afetivas.

Seguindo esses dados de pesquisas na área de neurobiologia e também a partir de sua experiência clínica, Kernberg (1992Kernberg, O. (1992). Agression in personality disorders and perversion. Yale University Press., 2011Kernberg, O. (2011). The concept of death drive: a clinical perspective. In S. Akhatar, & M. K. O’Neil (Orgs.), On Freud´s Beyond the pleasure principle (pp. 173-190). Karnac.) sustenta que os afetos são os sistemas motivacionais primários e que eles são integrados em pulsões positivas e negativas superpostas, nomeadamente, libido e agressão. Experiências afetivas positivas constituiriam a base das pulsões libidinais, e experiências afetivas negativas estariam na base das pulsões agressivas. Assim, a agressão e a libido seriam pulsões que emergem a partir dos afetos positivos e negativos primários, biologicamente determinados.

A agressividade que surge a partir dos afetos negativos primários seria, no entanto, uma agressividade adaptativa, a serviço da sobrevivência e secundária à frustração. O autor argumenta:

Que nossos pacientes sofrem devido a conflitos envolvendo amor e agressão e a sua ambivalência com relação àqueles que amam e dos quais precisam e que os gratificam e frustram, aqueles que nunca podem satisfazer todos os desejos e que, algumas vezes, recusam dramaticamente a gratificação das necessidades psicológicas básicas, parece razoavelmente suficiente. Aqui nós estamos falando sobre a agressão secundária à frustração, que se encaixa no tipo de agressão delineada por Freud como surgindo a partir do conflito entre o princípio do prazer e o princípio de realidade. A base dessa agressão, associada com as nossas necessidades mais profundas por amor e proximidade, pode naturalmente ser relacionada à disposição biológica para a agressão, tão inata quanto o amor e o erotismo e que nós encontramos como uma propriedade comum dos mamíferos. (Kernberg, 2011, p. 177Kernberg, O. (2011). The concept of death drive: a clinical perspective. In S. Akhatar, & M. K. O’Neil (Orgs.), On Freud´s Beyond the pleasure principle (pp. 173-190). Karnac.)

De acordo com essa visão, portanto, as disposições agressivas consistem num mecanismo normal de defesa do mamífero recém-nascido. Contudo, tratar-se-ia, nesse caso, da agressão que está a serviço da territorialidade, que visa proteger as fontes de nutrição, que está envolvida na competição dos machos pela posse das fêmeas. Essas disposições agressivas biologicamente ancoradas teriam disposições instintivas correspondentes nos seres humanos e permitiriam explicar o mecanismo de agressão secundário ao perigo ou à frustração.

No entanto, Freud descobriu também fenômenos clínicos nos quais a agressão não pode ser interpretada como resultante da frustração do princípio do prazer e se torna uma motivação autodestrutiva prevalente, lembra Kernberg (2011)Kernberg, O. (2011). The concept of death drive: a clinical perspective. In S. Akhatar, & M. K. O’Neil (Orgs.), On Freud´s Beyond the pleasure principle (pp. 173-190). Karnac.. Ele reconhece que há fortes evidências clínicas e sociológicas de um potencial universal para a violência nos seres humanos, o qual pode ser disparado facilmente sob certas condições de regressão grupal e liderança e que pode, a partir da perspectiva da sobrevivência das sociedades humanas, ser considerado fundamentalmente autodestrutivo.7 7 Essas ideias são mais desenvolvidas por Kernberg (1998 e 2020). Apesar disso, ele argumenta que não há evidências da existência de uma disposição biológica para a autodestruição, de uma tendência ao Nirvana, tal como defendera Freud. O que há, segundo ele, são evidências de uma tendência autodestrutiva severa, em casos graves de psicopatologia. Em suas palavras:

O que temos é evidência clínica poderosa da autodestrutividade severa e implacável em muitos casos de psicopatologia. A experiência dos últimos trinta anos com tipos severos de patologia do caráter e condições borderline nos tem fornecido evidências adicionais da natureza fundamental de profundas tendências autodestrutivas dos seres humanos, as quais suportam clinicamente o conceito de pulsão de morte. (Kernberg, 2011, p. 185Kernberg, O. (2011). The concept of death drive: a clinical perspective. In S. Akhatar, & M. K. O’Neil (Orgs.), On Freud´s Beyond the pleasure principle (pp. 173-190). Karnac.)

Kernberg (2011)Kernberg, O. (2011). The concept of death drive: a clinical perspective. In S. Akhatar, & M. K. O’Neil (Orgs.), On Freud´s Beyond the pleasure principle (pp. 173-190). Karnac. defende, assim, que há justificativa para chamar de “pulsão de morte” a motivação inconsciente dominante em direção à autodestruição, presente em casos graves de psicopatologia. No entanto, essa agressão autodestrutiva severa não consiste numa tendência primária, mas sim num sistema motivacional organizado, particularmente grave, que não é simplesmente secundário ao trauma, embora possa ser estimulado e influenciado por experiências traumáticas. Além disso, as funções inconscientes autodestrutivas não visam simplesmente destruir o eu, mas, essencialmente, destruir igualmente os outros significativos, seja por culpa, vingança, inveja ou triunfo, aponta o autor.

A teoria contemporânea das relações objetais defende que os blocos de construção das estruturas Ego, Id e Superego são relações objetais com outros significativos que se tornaram internalizadas. Essas relações são integradas sob forma de representações afetivamente determinadas do Self e dos objetos significativos. Ao adotar essa concepção, Kernberg (2004)Kernberg, O. (2004). Contemporary controversies in psychoanalytic theory, techniques and their applications. Yale University Press. sustenta que representações diádicas do Self e dos outros, sob o predomínio de uma valência afetiva particular, sejam internalizadas como séries paralelas de relações objetais positivas e negativas. Essas relações objetais internalizadas se consolidariam, de acordo com suas funções, em estruturas superegoicas, egoicas ou em estruturas do Id. Aquelas que possuam uma qualidade de comando ou de proibição constituiriam as estruturas superegoicas; as correspondentes a identificações egoicas conscientes ou pré-conscientes e a formações de caráter constituiriam o Ego; e as estruturas do Id, por sua vez, seriam constituídas por relações objetais internalizadas correspondentes a relações primitivas, agressivas ou eróticas, com objetos fantasiados temidos ou odiados, que não podem ser toleradas pela consciência.8 8 Uma explicação sobre a concepção de Kernberg sobre a constituição do psiquismo pode ser encontrada em St. Clair (1986) e Caropreso (2021). O autor justifica a adoção dessas hipóteses da seguinte forma:

A importância dessa reformulação das estruturas psíquicas em termos de relações objetais internalizadas reside no fato de que, nos tipos de estruturas mais primitivas que encontramos em psicopatologias severas, são essas relações objetais precocemente cindidas, idealizadas e persecutórias que dominam o campo transferencial, em vez das manifestações de funções egoicas e superegoicas maduras; o tratamento tem que ser centrado na análise de cada uma dessas unidades diádicas, tais como elas emergem na transferência. Considerando nosso entendimento dessas psicopatologias, talvez o maior avanço nos anos recentes tenha ocorrido no tratamento de patologias do caráter severas, particularmente de condições narcísicas e borderline. (Kernberg. 2011, p. 188Kernberg, O. (2011). The concept of death drive: a clinical perspective. In S. Akhatar, & M. K. O’Neil (Orgs.), On Freud´s Beyond the pleasure principle (pp. 173-190). Karnac.)

Kernberg (2011)Kernberg, O. (2011). The concept of death drive: a clinical perspective. In S. Akhatar, & M. K. O’Neil (Orgs.), On Freud´s Beyond the pleasure principle (pp. 173-190). Karnac. enfatiza que certas constelações clínicas refetem claramente o domínio de impulsos autodestrutivos. Essas constelações revelam batalhas intrapsíquicas entre representações sádicas internalizadas e representações do Self masoquistamente submetidas. Representações de objetos sádicos internalizadas podem representar tanto impulsos agressivos projetados e reintrojetados como experiências traumáticas realistas. Assim, o que se observa na motivação autodestrutiva não é simplesmente um “Nirvana”, mas a destruição ativa das relações libidinais com outros significativos. Na seguinte passagem, ele sintetiza suas conclusões:

(...) a agressão como sistema motivacional principal está sempre presente na mente, baseada na integração de afetos primários negativos, mas eu proponho que isso mereça a designação de pulsão de morte apenas quando tal agressão se torne dominante, quando ela recrute impulsos libidinais, tais como na síndrome da perversão, e quando seu principal objetivo seja, usando o termo de Green (1993)Green, A. (1993). The work of the negative. Free Association Books., alcançar a “desobjetalização”, a eliminação das representações de todos os outros significativos, bem como a eliminação do Self. A pulsão de morte, eu proponho, não é uma pulsão primária, mas representa uma complicação significativa da agressão como um sistema motivacional primário. (Kernberg, 2011, p. 186Kernberg, O. (2011). The concept of death drive: a clinical perspective. In S. Akhatar, & M. K. O’Neil (Orgs.), On Freud´s Beyond the pleasure principle (pp. 173-190). Karnac.)

Kernberg procura ainda explicar o processo que conduz da agressão ao ódio e à pulsão de morte. Segundo ele, as interações afetivas primárias dariam origem a memórias afetivas primárias e seriam divididas em experiências com baixa ativação afetiva — aquelas ligadas a atividades cognitivas e de aprendizado — e experiências com alta intensidade afetiva. Estas últimas, por sua vez, se dividiriam entre as que são determinadas por afetos positivos — que dariam origem aos aspectos idealizados da mente — e aquelas dominadas por afetos negativos — que dariam origem aos segmentos persecutórios do psiquismo. O predomínio de experiências positivas possibilitaria a integração dos aspectos contraditórios da vida mental e o desenvolvimento psíquico saudável. No entanto, a ativação excessiva da agressão e o predomínio de experiências carregadas de afetos negativos fixariam a raiva como estrutura, dando origem ao ódio, o que interferiria na integração normal entre os segmentos idealizados e persecutórios do psiquismo. O ódio, como estrutura, proporcionaria os blocos de construção de sistemas estáveis de relação Self-objeto, gerando um predomínio de interações raivosas (Caropreso, 2021Caropreso, F. (2021). Desamparo, pulsão de morte e trauma na constituição do psiquismo segundo Freud e Kernberg. In E. B. V. Campos, J. C. Bocchi, & A. M. Loffredo (Orgs.), Psicanálise em face ao desamparo e seus destinos (pp. 81-94). Editora Unesp.).

Dessa forma, a ativação excessiva da agressão e a consequente fixação da raiva como estrutura poderiam fazer com que esta última evoluísse em direção ao ódio, como um afeto agressivo secundário permanente, que visaria destruir o objeto odiado. Kernberg (1992)Kernberg, O. (1992). Agression in personality disorders and perversion. Yale University Press. indica que a raiva se manifesta, inicialmente, como uma tendência à eliminação das fontes de irritação, consistindo num afeto agressivo transitório. No entanto, essa raiva pode evoluir para a busca da destruição do objeto, transformando-se em ódio e, não sendo isso suficiente, pode conduzir à autodestruição, como único meio de eliminar o objeto odiado e a si mesmo como sujeito que sofre. Nesse caso, a autodestruição pode se tornar um sistema motivacional dominante, ou seja, pode fazer emergir o que o autor denomina pulsão de morte. Dessa maneira, uma tendência autodestrutiva emergiria como resultado de uma transformação maligna da agressão.

Kernberg (2011)Kernberg, O. (2011). The concept of death drive: a clinical perspective. In S. Akhatar, & M. K. O’Neil (Orgs.), On Freud´s Beyond the pleasure principle (pp. 173-190). Karnac. levanta a questão de quais circunstâncias tornam a agressão autodirigida um sistema motivacional inconsciente dominante e responde que, até o momento, há apenas respostas parciais para essas questões. Ele aponta que há evidências de um predomínio da ativação de afetos negativos constitucional e geneticamente determinada, assim como da contextualização cognitiva inadequada do afeto, também geneticamente determinada. Há também evidências de que a anormalidade no sistema de apego — o apego inseguro, a incapacidade da mãe de conter os afetos negativos da criança — pode contribuir significativamente para uma disposição que conduza a uma ativação afetiva predominantemente negativa. O autor menciona, ainda, experiências traumáticas, físicas ou sexuais, na infância — estruturas familiares severamente desorganizadas, imprevisibilidade da situação familiar, abandono crônico no primeiro ano de vida — como fatores que podem produzir a ativação excessiva da agressividade, desencadeando o processo que pode culminar na emergência de uma tendência autodestrutiva prevalecente.

Dessa maneira, uma combinação da intensidade de afeto agressivo, determinada tanto por fatores constitucionais como por fatores relacionais, com uma estruturação particular de relações objetais internalizadas poderia ser considerada o fator principal da transformação maligna da agressão numa motivação dominante para autodestruição. Apenas esta última mereceria a designação de pulsão de morte.

Considerações finais

A introdução do conceito de pulsão de morte, em “Além do princípio do prazer”, pode ser interpretada como a explicitação de uma hipótese presente na teoria freudiana, desde os primeiros textos metapsicológicos. A existência de pulsões de vida, ao contrário, não é facilmente conciliável com os pressupostos fundamentais da teoria, em especial, com a suposição de que a tendência primária do mental é a tendência ao Nirvana. Apesar desses impasses, Freud insiste em defender a existência de pulsões de vida que se oponham às pulsões morte. Sua argumentação, contudo, parece sempre ser reconduzida à hipótese de que a tendência à autoaniquilação se manifesta por trás mesmo dos processos que, aparentemente, conduzem à vida, de que a pulsão de morte atue em todos os processos mentais.

Procuramos argumentar que, para sustentar a teoria do segundo dualismo pulsional de forma coerente, Freud teria que ter descartado a suposição de que o princípio de Nirvana governe, em última instância, todos os fenômenos mentais. É justamente esse pressuposto que é recusado por Otto Kernberg. Esse autor defende que a agressão e a libido são pulsões que se constituem a partir dos afetos negativos e positivos, os quais consistiriam nos sistemas motivacionais primários. No entanto, essa agressão, constitucionalmente ancorada, não poderia ser associada a uma tendência à inércia, a um impulso autodestrutivo inato. Haveria, assim, na base do psiquismo, uma oposição entre libido e agressão, mas não entre libido e pulsão de morte, de forma que a vinculação necessária entre agressividade e pulsão de morte, pressuposto por Freud a partir de 1920, teria que ser recusada.

Ao retirar de sua teoria o pressuposto fundamental que compromete a defesa da teoria do segundo dualismo pulsional, Kernberg parece conseguir sustentar, de forma coerente, a hipótese de que a libido e a agressão sejam as pulsões primordiais na atividade mental. Em sua perspectiva, a oposição entre essas duas pulsões primárias é suficiente para explicar as neuroses e a ambivalência. No entanto, o autor reconhece que há vários fenômenos mentais que indicam a presença de uma tendência autodestrutiva dominante. Ele ressalta que há evidências clínicas poderosas da autodestrutividade implacável em casos severos de psicopatologia, tais como nas patologias do caráter e condições borderline. Contudo, defende também que essa tendência resulta de uma transformação maligna da agressão, desencadeada por fatores constitucionais e relacionais e que ela não manifesta simplesmente uma tendência à inércia, mas visa sempre uma destruição ativa do Self e das representações objetais internalizadas. Sua proposta é que o conceito de pulsão de morte seja usado apenas para descrever essas manifestações autodestrutivas. A pulsão de morte não seria, portanto, inerente à natureza humana, mas seria algo que poderia emergir a partir das disposições agressivas inatas, comuns a todos os seres humanos.

A concepção de que a agressividade inata seja adaptativa e de que a autodestrutividade resulte de um processo patológico determinado em grande medida por fatores relacionais, cria uma base teórica que permite o surgimento de modalidades de tratamento para psicopatologias graves, assim como de intervenções profláticas. Apesar de reconhecer que há elementos constitucionais que atuam na transformação patológica da agressão, Kernberg identificou vários fatores relacionais que contribuem para esse processo, tal como descrevemos acima, e sobre os quais é possível intervir. Ele propôs uma técnica de tratamento específica para transtornos graves de personalidade, denominada “Psicoterapia focada na transferência” (TFP), a qual envolve modificações das técnicas psicanalíticas tradicionais, tendo em vista adequá-las ao tratamento de pessoas que sofrem desses transtornos. A recusa da hipótese de que a autodestrutividade seja inata também traz uma perspectiva mais otimista do que a freudiana para o destino da civilização, pois abre espaço para se pensar que a destrutividade e os conflitos entre os seres humanos não são inevitáveis.

  • Financiamento/Funding: Este trabalho recebeu apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq (Rio de Janeiro, RJ, Br) / This work is supported by Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq (Rio de Janeiro, RJ, Br
  • 1
    Nesse texto, o psíquico é identificado com uma parte do funcionamento cerebral.
  • 2
    Para uma explicação mais detalhada às hipóteses no “Projeto...”, ver Simanke (2007)Simanke, R.T. (2007). Mente, cérebro e consciência nos primórdios da metapsicologia freudiana: uma análise do Projeto de uma Psicologia (1895) – Primeira Parte. EDUFSCar.
  • 3
    Q´n é a abreviação usada por Freud para se referir às quantidades provenientes do interior do corpo.
  • 4
    No “Projeto...”, estava presente a hipótese de que o funcionamento psíquico primário poderia conduzir tanto ao prazer como ao desprazer. Também já estava presente a hipótese de um funcionamento mental primário que consistiria em uma compulsão à repetição. Assim, apenas em 1900 surge a ideia de que os processos primários desde o início são capazes de evitar o desprazer. Para uma explicação mais detalhada dessas questões, ver Caropreso e Simanke (2011)Caropreso, F., & Simanke, R. T. (2011). Life and death in Freudian Metapsychology: a reappraisal of the second instinctual dualism. In S. Akhatar, & M. K. O’Neil (Orgs.), On Freud´s Beyond the pleasure principle (pp. 86-107). Karnac. e Caropreso (2020)Caropreso, F. (2020). Estrutura conceitual e impasses teóricos em “Além do princípio do prazer”. Voluntas: Revista Internacional de Filosofia, 11(2), 41-61. https://doi.org/10.5902/2179378644480.
    https://doi.org/10.5902/2179378644480...
    .
  • 5
    Uma análise mais detalhada dos impasses do segundo dualismo pulsional pode ser encontrada em Caropreso e Simanke (2011)Caropreso, F., & Simanke, R. T. (2011). Life and death in Freudian Metapsychology: a reappraisal of the second instinctual dualism. In S. Akhatar, & M. K. O’Neil (Orgs.), On Freud´s Beyond the pleasure principle (pp. 86-107). Karnac. e Caropreso (2020)Caropreso, F. (2020). Estrutura conceitual e impasses teóricos em “Além do princípio do prazer”. Voluntas: Revista Internacional de Filosofia, 11(2), 41-61. https://doi.org/10.5902/2179378644480.
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  • 6
    Vários exemplos de afirmações de Freud sobre essa questão podem ser encontrados em Caropreso (2018)Caropreso, F. (2018). A natureza do psíquico para Freud. In C. Vasconcelos (Org.), Ontologia e Psicanálise: diálogos possíveis (pp. 128-146). DWWe..
  • 7
    Essas ideias são mais desenvolvidas por Kernberg (1998Kernberg, O. (1998). Ideology, Conflict, and Leadership in Groups and Organizations. Yale University Press. e 2020Kernberg. O. (2020). Malignant narcissism and large group regression. The Psychoanalytic Quarterly, 89, 1, 1-24. https://doi.org/10.1080/00332828.2020.1685342.
    https://doi.org/10.1080/00332828.2020.16...
    ).
  • 8
    Uma explicação sobre a concepção de Kernberg sobre a constituição do psiquismo pode ser encontrada em St. Clair (1986)St. Clair, M. (1986). Object relations and Self psychology: an introduction. Brooks. e Caropreso (2021)Caropreso, F. (2021). Desamparo, pulsão de morte e trauma na constituição do psiquismo segundo Freud e Kernberg. In E. B. V. Campos, J. C. Bocchi, & A. M. Loffredo (Orgs.), Psicanálise em face ao desamparo e seus destinos (pp. 81-94). Editora Unesp..

Agradecimentos

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, pelo financiamento da pesquisa, sob a forma de Bolsa de Produtividade em Pesquisa.

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Editor/Editor: Prof. Dr. Nelson da Silva Jr.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Dez 2022
  • Data do Fascículo
    Set 2022

Histórico

  • Recebido
    03 Fev 2022
  • Revisado
    21 Abr 2022
  • Aceito
    07 Jun 2022
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