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Psicofarmacologia da criança: um guia para crianças, pais e profissionais

LIVROS

Psicofarmacologia da criança - Um guia para crianças, pais e profissionais

Bacy Fleitlich-Bilyk

Projeto de Atendimento, Ensino e Pesquisa em Transtornos Alimentares na Infância e Adolescência (PROTAD), Ambulatório de Transtornos Alimentares (AMBULIM), Instituto de Psiquiatria, Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo (USP), São Paulo (SP), Brasil

Instituto de Psiquiatria, Universidade de São Paulo (USP), São Paulo (SP), Brasil

Mercadante MT, Scahill L. Psicofarmacologia da criança - Um guia para crianças, pais e profissionais. São Paulo: Memnon Edições Científicas, 2005.

Nos últimos anos, os estudos brasileiros sobre saúde mental e transtornos psiquiátricos na infância têm aumentado. Um estudo epidemiológico recente identificou a prevalência geral de transtornos psiquiátricos de 12,5%. Os transtornos de conduta foram os mais prevalentes, com estimativas em torno dos 7%, seguidos pelos transtornos emocionais (predominantemente transtornos ansiosos), com índices de aproximadamente 6%. O grupo de transtornos hipercinéticos estava presente em 1,5% da amostra total. No Brasil, considerando estes dados e extrapolando para a população total de jovens entre 7 e 14 anos no país, 3,4 milhões de indivíduos têm um ou mais transtornos psiquiátricos, incluindo 1,9 milhões com transtornos de conduta e 1,6 milhões com transtornos ansiosos. Estas taxas talvez sejam conservadoras, uma vez que crianças de rua e não registradas na escola, provavelmente as mais expostas a fatores de risco, não foram incluídas neste estudo por razões metodológicas. A proporção de meninos (13,1%) com pelo menos um diagnóstico psiquiátrico foi maior do que a de meninas (10,2%). A prevalência entre os diferentes grupos socioeconômicos pesquisados foi de 13,7% para as crianças que habitavam regiões urbanas mais pobres, 11,4% para as de áreas rurais pobres e 5,9% para as de classe média urbana.

Dados como os apresentados acima indicam a eminente necessidade de informação acessível a pais, familiares e professores, para que possam saber identificar e encaminhar crianças que necessitem de ajuda. Os problemas de saúde mental na infância são de grande importância, pois afetam não só a família, mas toda a sociedade. Além de causarem sofrimento imediato, estes problemas podem agravar o consumo de drogas e álcool e levar ao abandono escolar. Consequentemente, levam ainda à dificuldade de encontrar empregos, à prática de atos criminosos e vida nas ruas e ao aumento do risco de suicídio. Na vida adulta, as conseqüências podem ser a desestruturação familiar, problemas psiquiátricos e dificuldades para criar filhos em gerações subsequentes. A prevenção e intervenção precoce podem reduzir os sofrimentos e os custos em longo prazo.

Os custos gerados pelos transtornos psiquiátricos na infância têm contribuído para o aumento do interesse em aprimorar a identificação e o tratamento precoce dos mesmos. Há estudos, por exemplo, investigando o custo cumulativo para os cofres públicos de adultos que tiveram transtorno de conduta na infância, comparado a adultos com outros problemas. Um estudo realizado na Inglaterra concluiu que a presença de transtorno de conduta na infância - que acomete cerca de 7% dos jovens brasileiros - eleva significativamente o custo de serviços públicos.

Tendo em vista este cenário, já há no Brasil livros que discorrem sobre quadro clínico, tratamento e dados relevantes de pesquisa para auxiliar familiares e professores de crianças com transtornos psiquiátricos. Entretanto, ainda há lacunas como, por exemplo, a falta de informação objetiva, resumida e acessível sobre os tratamentos medicamentosos. "Psicofarmacologia da criança - Um guia para crianças, pais e professores" vem não apenas completar esta lacuna, mas também favorece a desmistificação do tema com informações como as contidas no capítulo 2 ("Pequeno dicionário para entender este livro"). O resumo com as características de cada um dos principais transtornos auxilia na compreensão da indicação do tratamento.

A partir da leitura deste livro, conseguimos ter uma visão clara e resumida dos principais tratamentos para os transtornos psiquiátricos na infância. As ilustrações são simpáticas e diminuem a aridez do tema. As tabelas sobre interação medicamentosa são úteis para os leigos, mas também para o trabalho interdisciplinar dos pediatras, psicólogos, fonaudiologistas e psiquiatras.

É claro que novas iniciativas ainda são necessárias, como materiais mais específicos e aprofundados sobre cada um dos transtornos, abordando as outras formas de tratamento, que não o medicamentoso, e fornecendo informações de como lidar melhor com estas crianças que apresentam dificuldades. Também necessitamos de informações que enfoquem planejamento e implantação de programas de tratamento e campanhas preventivas na área de saúde mental infantil. Que a iniciativa dos Drs. Marcos Tomanik Mercadante e Lawrence Scahill seja um estímulo para novas publicações que tornem as informações sobre os transtornos psiquiátricos da infância e seus tratamentos cada vez mais acessíveis.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    24 Mar 2006
  • Data do Fascículo
    Mar 2006
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