Acessibilidade / Reportar erro

Avaliação da eficácia dos métodos de desinfecção cutânea em doadores de sangue: uma etapa relevante na segurança transfusional

Efficacy of donor arm disinfection methods for blood donors: one relevant step in blood safety

EDITORIAIS EDITORIALS

Avaliação da eficácia dos métodos de desinfecção cutânea em doadores de sangue. Uma etapa relevante na segurança transfusional

Efficacy of donor arm disinfection methods for blood donors. One relevant step in blood safety

Cesar de Almeida Neto

Chefe do Departamento de Aféreses da Fundação Pró-Sangue - Hemocentro de São Paulo

Médico Assistente do Serviço de Hemoterapia do Hospital Nove de Julho

Correspondência Correspondência: Cesar de Almeida Neto Rua Peixoto Gomide, 625 – Cerqueira César 01409-902 – São Paulo-SP – Brasil Email: cesarnt@uol.com.br

Desde os anos 70, houve um grande avanço no controle da transmissão dos vírus por transfusão sanguínea. Entretanto, a transmissão de bactérias permanece como um problema relevante na prática transfusional.1 Blajchman estima que, nos países desenvolvidos, o risco de se transfundir um concentrado de plaquetas contaminado por bactérias é 10 a 1.000 vezes maior do que a somatória do risco de se transfundir uma unidade infectada pelo vírus da imunodeficiência humana, vírus da hepatite B e vírus linfotrópico de células-T humanas.2

As possíveis fontes de contaminação bacteriana do sangue e seus componentes são: contaminação do local de punção, bacteremia do doador, contaminação de equipamentos e contaminação durante o processamento e estoque. De maneira geral, microorganismos oriundos da pele do doador, sejam eles transitórios ou residentes, são responsáveis por cerca de 90% das contaminações dos concentrados de plaquetas e 70% das contaminações dos concentrados de hemácias.3-5 Portanto, a desinfecção da pele do doador constitui-se na medida mais importante na prevenção da transmissão de bactérias por sangue e componentes.

Os fatores mais críticos que afetam a eficácia da desinfecção do local de punção são: o tipo e combinação dos desinfectantes utilizados, concentração e quantidade dos desinfectantes aplicados, tempo de secagem e metodologia na aplicação.1 Embora a coleta de sangue de doadores seja um processo considerado simples e rotineiro, no nosso país há uma escassez de literatura médica abordando este processo. Neste fascículo, Fonseca et al.6 avaliaram 363 doadores de sangue submetidos a quatro diferentes métodos de desinfecção. Os autores demonstram que a combinação de álcool etílico a 70% e agentes iodados (tintura de iodo e polivinilpirrolidona) foi mais eficaz na desinfecção da pele dos doadores de sangue do que o álcool a 70%, isoladamente, ou em associação com a clorexidina. Estes achados são de fundamental importância para tornar o processo de coleta do sangue mais seguro e eficiente, contribuindo para as boas práticas hemoterápicas, sem demandar grandes recursos financeiros. Ainda, a associação de álcool etílico a 70% e agentes iodados vai ao encontro das normas hemoterápicas nacionais que recomendam que a desinfecção da pele seja feita em duas etapas: degermação e antissepsia.

Novos estudos abordando métodos de desvio do volume inicial coletado, treinamento e motivação dos flebotomistas nas técnicas de desinfecção da pele de doadores, fatores de risco para contaminação bacteriana, testes de triagem para bactérias e retrovigilância das unidades infectadas são factíveis e necessários. Além disso, os avanços nos métodos de inativação de vírus e bactérias no sangue e componentes têm um futuro promissor e já iniciaram mais um fascinante capítulo na história da hemoterapia.

Recebido: 05/01/2009

Aceito: 06/01/2009

Avaliação: O tema abordado foi sugerido e avaliado pelo editor.

  • 1. McDonald CP. Bacterial risk reduction by improved donor arm disinfection, diversion and bacterial screening. Transfus Med. 2006; 16(6):381-96.
  • 2. Blajchman MA. Incidence and significance of the bacterial contamination of blood components. Dev Biol (Basel). 2002; 108:59-67.
  • 3. Kuehnert MJ, Roth VR, Haley NR, Gregory KR, Elder KV, Schreiber GB, et al Transfusion-transmitted bacterial infection in the United States, 1998 through 2000. Transfusion. 2001;41(12):1493-9.
  • 4. Perez P, Salmi LR, Follea G, Schmit JL, de Barbeyrac B, Sudre P, et al Determinants of transfusion-associated bacterial contamination: results of the French BACTHEM Case-Control Study. Transfusion. 2001;41(7):862-72.
  • 5. Stainby D, Cohen H, Jones H, Knowles S, Milkins C, Chapman C, et al Serious hazards of transfusion (SHOT). SHOT Annual Report. 2003:1-88.
  • 6. Fonseca LG, Langhi Júnior DM, Carvalho RLB, Mimica LMJ, Chiattone CS. Avaliação da antissepsia cutânea por quatro métodos em doadores de sangue. Rev. Bras. Hematol. Hemoter. 2009; 31(1):5-8.
  • Correspondência:

    Cesar de Almeida Neto
    Rua Peixoto Gomide, 625 – Cerqueira César
    01409-902 – São Paulo-SP – Brasil
    Email:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      06 Abr 2009
    • Data do Fascículo
      Fev 2009
    Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia e Terapia Celular R. Dr. Diogo de Faria, 775 cj 114, 04037-002 São Paulo/SP/Brasil, Tel. (55 11) 2369-7767/2338-6764 - São Paulo - SP - Brazil
    E-mail: secretaria@rbhh.org