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Dei Sepolcri/Os Sepulcros

TRADUÇÕES

Dei Sepolcri/Os Sepulcros

Gleiton Lentz* * Mestre em Estudos da Tradução e doutorando em Teoria da Literatura, pela UFSC. Tradutor de Dino Campana ( Cantos Órficos, 2004), Delmira Agustini ( Líricas, 2005), entre outros, dedica-se ao estudo e tradução da poesia simbolista italiana e hispano-americana e integra a comissão editorial da revista Scientia Traductionis.

RESUMO

Apresenta-se a tradução integral do poema Os Sepulcros, do escritor e poeta italiano Ugo Foscolo (1778-1827), precedida de uma breve contextualização histórica.

Palavras-chave: poesia italiana; tradução literária; Ugo Foscolo.

ABSTRACT

We present a full translation of the poem "Os Sepulcros" by the Italian poet and writer Ugo Foscolo (1778-1827), preceded by a brief historical contextualization.

Key words: Italian symbolist poetry; literary translation; Ugo Foscolo.

RIASSUNTO

Si presenta la traduzione integrale del poema Os Sepulcros, dello scrittore e poeta italiano Ugo Foscolo (1778-1827), preceduta da un breve contesto storico.

Parole chiave: poesia italiana; traduzione letteraria; Ugo Foscolo.

Para uma tradução D'Os Sepulcros, de Ugo Foscolo

O poema Os Sepulcros (Dei Sepolcri), um dos mais célebres textos de Ugo Foscolo, composto entre os anos de 1806 e 1807, e publicado pela primeira vez na primavera de 1807, desenvolve o tema dos cemitérios e dos sepulcros. Tema que, na época do escritor, fora fruto de uma série de polêmicas, originadas a partir de um decreto napoleônico, difundido na Itália em setembro de 1806, que impunha que os cemitérios fossem construídos fora dos limites da cidade e que sobre as tumbas fossem colocadas lápides comuns e de igual tamanho para todos. Por trás do decreto havia um motivo de saúde pública e também um motivo político, resultante do princípio de igualdade entre todos os cidadãos, sancionado pela Revolução Francesa.

O fato suscitara inúmeras controvérsias, e os católicos, assim como o poeta Ippolito Pindemonte - com o qual Foscolo iniciara a discussão sobre o tema dos sepulcros e a quem dedicara o poema -, defendiam, sob o viés religioso, tanto o culto aos mortos quanto a instituição das sepulturas. Foscolo, ateu e materialista, em um primeiro momento, se mostrou a favor da lei, mas depois refletiu acerca do tema da morte, reconhecendo que os sepulcros (e, nesta lista, incluem-se tumbas, túmulos, cenotáfios, mausoléus, jazigos, lápides, lousas, urnas), se não são de proveito aos mortos, então o são aos vivos.

Deteve-se, para isso, sobre o significado e a função que os sepulcros assumem para os vivos, impostando o "carme" - composição tipicamente italiana que remonta à tradição romana - como uma celebração daqueles valores e ideais que podem dar um significado à vida humana. A publicação do poema, no entanto, não fez com que Foscolo mudasse suas convicções materialistas acerca da morte, por ele considerada nada mais que o desfalecimento da vida. Pelo contrário, à visão materialista da morte como "nada eterno", contrapôs a ilusão de uma sobrevivência garantida pelos sepulcros que, se de um lado, preservam os vínculos familiares e os valores, isto é, aqueles valores que inspiram os homens a cumprir "nobres empresas" (pátria, glória, heroísmo), por outro, se constituem em matéria de poesia, poesia imortal que "vence o silêncio de incontáveis séculos" e a própria morte, consentindo uma sobrevivência ideal aos mortos.

Essa é a visão clássica de Foscolo, mas própria de um poeta neoclássico, e onde reside também a proposta d'Os Sepulcros, pois se desde a Antiguidade clássica os sepulcros já eram considerados testemunhos de feitos gloriosos e como tais considerados sagrados, nos últimos séculos, sobretudo a partir do século XVIII, com a instituição dos campos-santos, se converteram em objeto de culto religioso.

E Foscolo o sabia, e a partir disso desenvolveu o tema dos sepulcros, discutindo, sob o viés filosófico, a relação entre a ideologia e a moral laica e materialista, nascida com o Iluminismo e patrocinada pela revolução, e do qual era favorável, com os grandes temas tradicionalmente abordados pela religião, entre os quais a dualidade suprema: vida e morte. Isso porque, para o escritor, havia duas possibilidades: negar a importância dos sepulcros e da morte, ou então redefinir, desde um ponto de vista laicizante, o valor da morte e dos cultos que a acompanharam historicamente desde o surgimento da civilização. Era preciso, uma vez adotada essa segunda via, reescrever as coordenadas de uma antropologia laica que tomasse o lugar daquela cristã até então predominante. Aqui, portanto, reside a proposta inovadora d'Os Sepulcros, enquanto texto literário e filosófico.

Ao longo dos 295 hendecassílabos (decassílabos brancos, na métrica portuguesa) d'Os Sepulcros, alternados estilisticamente com versos de outras medidas por anisossilabismo, rico de enjambements e de licença sintática, a meditação sobre a morte se transforma em um hino de lembrança à vida e de memória à morte, além de adquirir um significado de política ressurgimental e de mensagem social, reflexos diretos de uma época que, dir-se-ia, parece pairar sob uma atmosfera sombria, se não fosse, anos mais tarde, chamada de o Século das Luzes. O texto traduzido segue a edição: Dei Sepolcri. Brescia: Officina Tipografica Bettoni, 1808: 1-14.

Gleiton Lentz

Dei Sepolcri

Ugo Foscolo

A Ippolito Pindemonte

Deorum manium iura sancta sunto.

(XII Tab.)

All'ombra de' cipressi e dentro l'urne
confortate di pianto è forse il sonno
della morte men duro? Ove piú il Sole
per me alla terra non fecondi questa
bella d'erbe famiglia e d'animali,
e quando vaghe di lusinghe innanzi
a me non danzeran l'ore future,

5

né da te, dolce amico, udrò piú il verso
e la mesta armonia che lo governa,
né piú nel cor mi parlerà lo spirto
delle vergini Muse e dell'amore,
unico spirto a mia vita raminga,

10

qual fia ristoro a' dí perduti un sasso
che distingua le mie dalle infinite
ossa che in terra e in mar semina morte?
Vero è ben, Pindemonte! Anche la Speme,
ultima Dea, fugge i sepolcri: e involve

15

tutte cose l'obblío nella sua notte;
e una forza operosa le affatica
di moto in moto; e l'uomo e le sue tombe
e l'estreme sembianze e le reliquie
della terra e del ciel traveste il tempo.

20

Ma perché pria del tempo a sé il mortale

invidierà l'illusïon che spento

pur lo sofferma al limitar di Dite?

Non vive ei forse anche sotterra, quando

gli sarà muta l'armonia del giorno,

25

se può destarla con soavi cure

nella mente de' suoi? Celeste è questa

corrispondenza d'amorosi sensi,

celeste dote è negli umani; e spesso

per lei si vive con l'amico estinto

30

e l'estinto con noi, se pia la terra

che lo raccolse infante e lo nutriva,

nel suo grembo materno ultimo asilo

porgendo, sacre le reliquie renda

dall'insultar de' nembi e dal profano

35

piede del vulgo, e serbi un sasso il nome,

e di fiori odorata arbore amica

le ceneri di molli ombre consoli.

40

Sol chi non lascia eredità d'affetti

poca gioia ha dell'urna; e se pur mira

dopo l'esequie, errar vede il suo spirto

fra 'l compianto de' templi acherontei,

o ricovrarsi sotto le grandi ale

45

del perdono d'lddio: ma la sua polve

lascia alle ortiche di deserta gleba

ove né donna innamorata preghi,

né passeggier solingo oda il sospiro

che dal tumulo a noi manda Natura.

50

Pur nuova legge impone oggi i sepolcri

fuor de' guardi pietosi, e il nome a' morti

contende. E senza tomba giace il tuo

sacerdote, o Talia, che a te cantando

nel suo povero tetto educò un Lauro

55

con lungo amore, e t'appendea corone;

e tu gli ornavi del tuo riso i canti

che il lombardo pungean Sardanapalo,

cui solo è dolce il muggito de' buoi

che dagli antri abdüani e dal Ticino

60

lo fan d'ozi beato e di vivande.

O bella Musa, ove sei tu? Non sento

spirar l'ambrosia, indizio del tuo nume,

fra queste piante ov'io siedo e sospiro

il mio tetto materno. E tu venivi

65

e sorridevi a lui sotto quel tiglio

ch'or con dimesse frondi va fremendo

perché non copre, o Dea, l'urna del vecchio

cui già di calma era cortese e d'ombre.

Forse tu fra plebei tumuli guardi

70

vagolando, ove dorma il sacro capo

del tuo Parini? A lui non ombre pose

tra le sue mura la citta, lasciva

d'evirati cantori allettatrice,

non pietra, non parola; e forse l'ossa

75

col mozzo capo gl'insanguina il ladro

che lasciò sul patibolo i delitti.

Senti raspar fra le macerie e i bronchi

la derelitta cagna ramingando

su le fosse e famelica ululando;

80

e uscir del teschio, ove fuggia la luna,

l'úpupa, e svolazzar su per le croci

sparse per la funerëa campagna

e l'immonda accusar col luttüoso

singulto i rai di che son pie le stelle

85

alle obblïate sepolture. Indarno

sul tuo poeta, o Dea, preghi rugiade

dalla squallida notte. Ahi! su gli estinti

non sorge fiore, ove non sia d'umane

lodi onorato e d'amoroso pianto.

90

Dal dí che nozze e tribunali ed are

diero alle umane belve esser pietose

di se stesse e d'altrui, toglieano i vivi

all'etere maligno ed alle fere

i miserandi avanzi che Natura

95

con veci eterne a sensi altri destina.

Testimonianza a' fasti eran le tombe,

ed are a' figli; e uscían quindi i responsi

de' domestici Lari, e fu temuto

su la polve degli avi il giuramento:

100

religïon che con diversi riti

le virtú patrie e la pietà congiunta

tradussero per lungo ordine d'anni.

Non sempre i sassi sepolcrali a' templi

fean pavimento; né agl'incensi avvolto

105

de' cadaveri il lezzo i supplicanti

contaminò; né le città fur meste

d'effigïati scheletri: le madri

balzan ne' sonni esterrefatte, e tendono

nude le braccia su l'amato capo

110

del lor caro lattante onde nol desti

il gemer lungo di persona morta

chiedente la venal prece agli eredi

dal santuario. Ma cipressi e cedri

di puri effluvi i zefiri impregnando

115

perenne verde protendean su l'urne

per memoria perenne, e prezïosi

vasi accogliean le lagrime votive.

Rapían gli amici una favilla al Sole

a illuminar la sotterranea notte,

120

perché gli occhi dell'uom cercan morendo

il Sole; e tutti l'ultimo sospiro

mandano i petti alla fuggente luce.

Le fontane versando acque lustrali

amaranti educavano e viole

125

su la funebre zolla; e chi sedea

a libar latte o a raccontar sue pene

ai cari estinti, una fragranza intorno

sentía qual d'aura de' beati Elisi.

Pietosa insania che fa cari gli orti

130

de' suburbani avelli alle britanne

vergini, dove le conduce amore

della perduta madre, ove clementi

pregaro i Geni del ritorno al prode

cne tronca fe' la trïonfata nave

135

del maggior pino, e si scavò la bara.

Ma ove dorme il furor d'inclite gesta

e sien ministri al vivere civile

l'opulenza e il tremore, inutil pompa

e inaugurate immagini dell'Orco

140

sorgon cippi e marmorei monumenti.

Già il dotto e il ricco ed il patrizio vulgo,

decoro e mente al bello italo regno,

nelle adulate reggie ha sepoltura

già vivo, e i stemmi unica laude. A noi

145

morte apparecchi riposato albergo,

ove una volta la fortuna cessi

dalle vendette, e l'amistà raccolga

non di tesori eredità, ma caldi

sensi e di liberal carme l'esempio.

150

A egregie cose il forte animo accendono

l'urne de' forti, o Pindemonte; e bella

e santa fanno al peregrin la terra

che le ricetta. Io quando il monumento

vidi ove posa il corpo di quel grande

155

che temprando lo scettro a' regnatori

gli allòr ne sfronda, ed alle genti svela

di che lagrime grondi e di che sangue;

e l'arca di colui che nuovo Olimpo

alzò in Roma a' Celesti; e di chi vide

160

sotto l'etereo padiglion rotarsi

piú mondi, e il Sole irradïarli immoto,

onde all'Anglo che tanta ala vi stese

sgombrò primo le vie del firmamento:

- Te beata, gridai, per le felici

165

aure pregne di vita, e pe' lavacri

che da' suoi gioghi a te versa Apennino!

Lieta dell'aer tuo veste la Luna

di luce limpidissima i tuoi colli

per vendemmia festanti, e le convalli

170

popolate di case e d'oliveti

mille di fiori al ciel mandano incensi:

e tu prima, Firenze, udivi il carme

che allegrò l'ira al Ghibellin fuggiasco,

e tu i cari parenti e l'idïoma

175

désti a quel dolce di Calliope labbro

che Amore in Grecia nudo e nudo in Roma

d'un velo candidissimo adornando,

rendea nel grembo a Venere Celeste;

ma piú beata che in un tempio accolte

180

serbi l'itale glorie, uniche forse

da che le mal vietate Alpi e l'alterna

onnipotenza delle umane sorti

armi e sostanze t' invadeano ed are

e patria e, tranne la memoria, tutto.

185

Che ove speme di gloria agli animosi

intelletti rifulga ed all'Italia,

quindi trarrem gli auspici. E a questi marmi

venne spesso Vittorio ad ispirarsi.

Irato a' patrii Numi, errava muto

190

ove Arno è piú deserto, i campi e il cielo

desïoso mirando; e poi che nullo

vivente aspetto gli molcea la cura,

qui posava l'austero; e avea sul volto

il pallor della morte e la speranza.

195

Con questi grandi abita eterno: e l'ossa

fremono amor di patria. Ah sí! da quella

religïosa pace un Nume parla:

e nutria contro a' Persi in Maratona

ove Atene sacrò tombe a' suoi prodi,

200

la virtú greca e l'ira. Il navigante

che veleggiò quel mar sotto l'Eubea,

vedea per l'ampia oscurità scintille

balenar d'elmi e di cozzanti brandi,

fumar le pire igneo vapor, corrusche

205

d'armi ferree vedea larve guerriere

cercar la pugna; e all'orror de' notturni

silenzi si spandea lungo ne' campi

di falangi un tumulto e un suon di tube

e un incalzar di cavalli accorrenti

scalpitanti su gli elmi a' moribondi,

e pianto, ed inni, e delle Parche il canto.

210

Felice te che il regno ampio de' venti,

Ippolito, a' tuoi verdi anni correvi!

E se il piloto ti drizzò l'antenna

215

oltre l'isole egèe, d'antichi fatti

certo udisti suonar dell'Ellesponto

i liti, e la marea mugghiar portando

alle prode retèe l'armi d'Achille

sovra l'ossa d'Ajace: a' generosi

220

giusta di glorie dispensiera è morte;

né senno astuto né favor di regi

all'Itaco le spoglie ardue serbava,

ché alla poppa raminga le ritolse

l'onda incitata dagl'inferni Dei.

225

E me che i tempi e il desio d'onore

fan per diversa gente ir fuggitivo,

me ad evocar gli eroi chiamin le Muse

del mortale pensiero animatrici.

Siedon custodi de' sepolcri, e quando

230

il tempo con sue fredde ale vi spazza

fin le rovine, le Pimplèe fan lieti

di lor canto i deserti, e l'armonia

vince di mille secoli il silenzio.

Ed oggi nella Troade inseminata

235

eterno splende a' peregrini un loco,

eterno per la Ninfa a cui fu sposo

Giove, ed a Giove diè Dàrdano figlio,

onde fur Troia e Assàraco e i cinquanta

talami e il regno della giulia gente.

240

Però che quando Elettra udí la Parca

che lei dalle vitali aure del giorno

chiamava a' cori dell'Eliso, a Giove

mandò il voto supremo: - E se, diceva,

a te fur care le mie chiome e il viso

245

e le dolci vigilie, e non mi assente

premio miglior la volontà de' fati,

la morta amica almen guarda dal cielo

onde d'Elettra tua resti la fama. -

Cosí orando moriva. E ne gêmea

250

l'Olimpio: e l'immortal capo accennando

piovea dai crini ambrosia su la Ninfa,

e fe' sacro quel corpo e la sua tomba.

Ivi posò Erittonio, e dorme il giusto

cenere d'Ilo; ivi l'iliache donne

255

sciogliean le chiome, indarno ahi! deprecando

da' lor mariti l'imminente fato;

ivi Cassandra, allor che il Nume in petto

le fea parlar di Troia il dí mortale,

venne; e all'ombre cantò carme amoroso,

260

e guidava i nepoti, e l'amoroso

apprendeva lamento a' giovinetti.

E dicea sospirando: - Oh se mai d'Argo,

ove al Tidíde e di Läerte al figlio

pascerete i cavalli, a voi permetta

265

ritorno il cielo, invan la patria vostra

cercherete! Le mura, opra di Febo,

sotto le lor reliquie fumeranno.

Ma i Penati di Troia avranno stanza

in queste tombe; ché de' Numi è dono

270

servar nelle miserie altero nome.

E voi, palme e cipressi che le nuore

piantan di Priamo, e crescerete ahi presto

di vedovili lagrime innaffiati,

proteggete i miei padri: e chi la scure

275

asterrà pio dalle devote frondi

men si dorrà di consanguinei lutti,

e santamente toccherà l'altare.

Proteggete i miei padri. Un dí vedrete

mendico un cieco errar sotto le vostre

280

antichissime ombre, e brancolando

penetrar negli avelli, e abbracciar l'urne,

e interrogarle. Gemeranno gli antri

secreti, e tutta narrerà la tomba

Ilio raso due volte e due risorto

285

splendidamente su le mute vie

per far piú bello l'ultimo trofeo

ai fatati Pelídi. Il sacro vate,

placando quelle afflitte alme col canto,

i prenci argivi eternerà per quante

290

abbraccia terre il gran padre Oceano.

E tu onore di pianti, Ettore, avrai,

ove fia santo e lagrimato il sangue

per la patria versato, e finché il Sole

risplenderà su le sciagure umane.

295

Os Sepulcros

Ugo Foscolo

tradução e notas de Gleiton Lentz

A Ippolito Pindemonte

Deorum manium iura sancta sunto. 1 1 "Que os direitos dos deuses manes sejam sagrados", expressão latina de Cícero (106-43 a.C.), encontrada em De Legibus, obra composta provavelmente em 52 a.C. A citação, colocada como epígrafe d' Os Sepulcros, é a interpretação de uma das leis romanas das Doze Tábuas, a XII Tábua, que, segundo a historiografia, tratava de temas Complementares da antiga legislação romana, entre os quais, provavelmente, os sepulcros.

(XII Tab.)

À sombra dos ciprestes, numa urna

banhada pelo pranto, é talvez menos

duro o sono da morte? Quando eu não

mais contemplar a luz do sol e vê-la

cobrir a terra de animais e plantas,

5

e as horas futuras não mais passarem

diante de mim cheias de ilusões,

e não mais ouvir, caro amigo,2 2 Ippolito Pindemonte (1753-1828), escritor italiano, célebre pela tradução da Odisseia, a quem Foscolo dedica os Sepulcros. Um ano após a publicação do poema de Foscolo, Pindemonte publicou um homônimo poema, intitulado I Sepolcri, onde o tema cemiterial é tratado sobre um plano particularmente afetivo, enquanto que em Foscolo o poema adquire um caráter civil. a triste

harmonia que o teu verso desvela,

e não mais sentir em meu coração

10

a poesia do amor e das sacras Musas,

que confortam a minha vida errante,

qual paz terei eu senão uma lousa

que distingua meus ossos entre outros

que na terra e no mar semeia a morte?

15

É certo, Pindemonte! Até a Esperança,

última Deusa,3 3 A Esperança, deusa romana, foi a última divindade a permanecer na terra quando todos os deuses a abandonaram para subir ao Olimpo. foge dos sepulcros:

e o Olvido envolve tudo na sua noite;

e alguma força operosa atormenta

a natureza sem cessar. E o tempo

transforma o homem, suas tumbas, seus vultos

e vestígios, quer na terra ou no céu.

20

Mas por que, antes do tempo, o mortal

negará, a si mesmo, a ilusão que morto

ainda o mantém no limiar de Dite?4 4 Referência a Dite ou Plutão, o deus dos infernos, do submundo e da morte, na mitologia romana. Na Divina Comédia de Dante, Dite é a cidade infernal onde se situa o sexto círculo e também pode ser entendida como a personificação de Lúcifer.

25

Se viver no subsolo, mesmo quando

a harmonia da vida lhe for muda,

poderá avivá-la, com nobres zelos,

na memória dos seus? Celeste é esta

correspondência de doces sentidos,

30

dom divino há nos humanos; e muitas

vezes vivemos com o amigo morto

e o morto com nós, se a piedosa terra

que acolheu o infante e o alimentou,

dando o último refúgio em seu ventre

35

materno, suas relíquias invioláveis

torna dos nimbos e dos pés profanos

do vulgo, e se alguma lousa conserva

o nome, junto a um maço de flores,

as cinzas consola com suaves sombras.

40

Somente quem não legou bons afetos

olhará as urnas com tristeza; e após

as exéquias verá errar seu espírito

no lamento dos templos aquerônticos5 5 Referência a Aqueronte, um dos rios do Inferno, através do qual o barqueiro Caronte conduzia os mortos.

ou refugiar-se sob as grandes asas

45

do perdão de Deus: mas deixa suas cinzas

às urtigas de uma terra deserta

onde nem rogará mulher cativa,

e nem peregrino ouvirá os suspiros

que a Natureza nos manda dos túmulos.

50

Hoje uma nova lei6 6 Um decreto napoleônico de Saint-Cloud, que entrara em vigor na Itália em 5 de setembro de 1806, obrigava, por razões de saúde pública, que os sepulcros fossem construídos fora das cidades e proibia, por razões de igualdade, que neles fossem colocados epígrafes com o nome dos mortos, além da exigência de lápides iguais para todos. impõe os sepulcros

fora da cidade, e o nome aos mortos

nega. E sem túmulo algum jaz o teu

poeta, ó Talia,7 7 Talia, musa da comédia e da poesia satírica. que, inspirando-se em ti,

em sua pobre casa escreveu uma obra

55

com longo amor, e pôs-te uma guirlanda;

e inspiravas com teu sorriso os cantos

que pungiam o lombardo Sardanapalo,8 8 Referência a Sardanapalo ou Assurbanipal (690-621 a.C.), último rei da Assíria.

a quem somente o mugido dos bois

dos antros do Adda e do Ticino é suave

60

e que o fazem beato do ócio e iguarias.

Ó bela Musa, onde estás? Não sinto

a Ambrósia exalar, sinal de teu nume,

entre essas plantas onde eu suspiro

pela minha terra natal. E aqui vinhas

65

e rias ao poeta9 9 O poeta é o italiano Giuseppe Parini (1729-1799), citado mais adiante, no verso 72. naquela tília

que agora com folhas caídas freme

porque não cobre, ó Deusa, a urna do velho

ao qual já oferecia calma e sombra.

Buscas talvez em cemitérios plebeus

70

onde repousa os restos sagrados

de Parini? A cidade,10 10 Milão, a cidade em que viveu Parini. engendradora

de evirados cantantes, não deixou

para ele entre seus muros nem sombra,

nem lápide ou epígrafe; e o ladrão

75

que decapitado pagou seus crimes

talvez lhe cobre de sangue os restos.

Entre arbustos e ruínas roer ouves

a cadela perdida enquanto vaga

em meio às fossas e uiva famélica;

80

e vê a poupa,11 11 Ave migratória, encontrada na Europa, caracterizada por Foscolo como um pássaro noturno, pelo canto lúgubre que emite, quando, na realidade, trata-se de um pássaro diurno. quando fugia da lua,

sair de um crânio e voar sobre as cruzes

dispersas em torno ao lúgubre campo,

lamentando-se com sinistro canto

do fulgor que os luzeiros vertem sobre

85

os sepulcros esquecidos. Em vão

sobre o teu poeta, ó Deusa, rogas chuva

à árida noite. Ai! por sobre os mortos

não cresce uma flor, se não for mantida

por rezas e por prantos amorosos.

90

Desde que os tribunais, o matrimônio

e os altares deixaram o homem bestial

ser piedoso, consigo e com os outros,

os vivos tomaram do ar e das feras

os míseros restos que a Natureza

95

transforma eternamente em outras formas.12 12 Entre os versos 90-96, Foscolo retoma o pensamento do filósofo napolitano Giambattista Vico (1668-1744) ao afirmar que o culto dos mortos iniciara com o surgimento da própria civilização, aqui exemplificada pela instituição do casamento, pela formulação das leis e pelo surgimento da religião.

Monumentos de glória eram as tumbas,

e aras aos filhos. Dali pressagiavam

os Lares,13 13 Lares, divindades protetoras das casas. Entre os antigos romanos, representavam também os antepassados que cada família venerava. e o juramento nas cinzas

dos ancestrais foi honr

do sagrado.

100

Religião que, com inúmeros ritos,

a virtude pátria e a piedade unia,

sendo por longos anos conservada.

Nem sempre cobriram o pavimento

dos templos as lápides sepulcrais,

105

nem o odor dos cadáveres mesclado

ao fumo do incenso, se respirou.

Nem as cidades choraram efígies

de esqueletos, nem as mães despertavam

do sono trementes, tendendo os braços

110

à cabeça do infante que em seus seios

jazem, até que o lamento das almas

mortas não despertasse a oração

do santuário. Mas cedros e ciprestes,

impregnando os ventos de puro eflúvio,

115

sobre as lápides espalhavam folhas

em memória eterna, e em preciosos vasos

continham as lágrimas derramadas.

Para alumbrar a subterrânea noite,

os amigos pegavam uma chispa

120

do Sol, pois os olhos dos moribundos

buscam a sua luz; e os peitos um último

suspiro exalam ao fugente Sol.

As fontes, vertendo águas lustrais,

regavam amarantos e violetas

125

na funérea terra; e quem se sentava

para libar leite ou narrar suas penas

aos caros finados, sentia ao redor

fragrância igual às auras dos Elíseos.

Piedosa insânia esta que faz as jovens

130

inglesas estimar os suburbanos

jazigos, para onde as conduz o amor

perdido da mãe, e onde os Gênios14 14 Deuses tutelares da pátria. clementes

pregaram pelo retorno do herói15 15 Referência ao comandante Horatio Nelson (1758-1805), oficial inglês da Marinha Real Britânica, que em 1805, na Batalha de Trafalgar, derrubou a mastro principal de um dos navios da frota franco-espanhola.

que após conquistar o navio cortou

135

o mastro, e dali fez o seu caixão.

E se o anseio de ínclita gesta dorme

enquanto a riqueza e o medo governam

o viver social, surgem monumentos

marmóreos por inútil pompa além

140

de execrandos cenotáfios do Orco.16 16 Na mitologia greco-romana, Orco significa ora o deus dos infernos ora uma personificação da morte. Na poesia italiana, sobretudo em Foscolo, símbolo da morte e do além-túmulo.

Já o douto, o rico e o patrício vulgar,

decoro e orgulho do reino italiano,

possuem, ainda em vida, em seus palácios,

sepulturas, e brasões como lauda.

145

Que a morte nos prepare um bom refúgio

quando, de uma vez, a sorte cessar

de nos perseguir, e a amizade obter

como herança não tesouros, mas nobres

paixões e o exemplo de uma poesia livre.

150

As urnas dos grandes, ó Pindemonte,

instigam o ânimo a nobres empresas;

fazem a terra que as acolhe santa

ao peregrino. Eu, quando vi o jazigo

onde repousa

o corpo daquele homem17 17 Referência a Niccolò Machiavelli (1469-1527), historiador e poeta italiano, autor de O príncipe.

155

que, ao reforçar o cetro dos príncipes,

logo o despojou, revelando ao povo

com que lágrimas e sangue está cheio;

e a tumba daquele18 18 A tumba de Michelangelo Buonarroti (1475-1564), pintor, escultor e arquiteto renascentista italiano que projetou a cúpula da Basílica de São Pedro. que um novo Olimpo

ergueu em Roma aos Deuses; e o sepulcro

160

daquele19 19 A tumba de Galileu Galilei (1564-1642), físico, astrônomo e filósofo italiano, que afirmou e demonstrou, cientificamente, que o sol era o centro do sistema solar e que os planetas giravam ao seu redor. que viu os mundos girarem

no etéreo pavilhão e o sol imóvel,

e que ao imortal inglês20 20 Ao físico inglês Isaac Newton (1643-1727), que a partir das descobertas de Galileu sondou os mistérios do universo para lhe formular leis. revelou

as vias do antes ignoto firmamento:

- Ditosa te chamei, beata cidade21 21 Florença.

165

de auras vitais, banhada por torrentes

que o Apenino lança desde seus cumes!

A Lua, feliz pela atmosfera, alumbra

com uma luz mui clara tuas colinas,

para a colheita festiva, e os convales

170

povoados de casas e de oliveiras

mandam milhares de aromas ao céu.

E tu, Florença, que ouviste primeiro

o canto do exilado gibelino,22 22 Referência ao poeta Dante Alighieri (1265-1321), que embora pertencesse ao partido político dos "Guelfos Brancos", ideologicamente se aproximava dos Gibelinos, outra facção de florentinos da época.

e que nos deste os caros pais e à língua

175

aquele doce lábio de Calíope,23 23 Referência ao poeta e humanista italiano Francesco Petrarca (1304-1474). Calíope, musa grega da poesia heroica.

o qual, adornando com um véu cândido

o amor, nu pela Roma e pela Grécia,

voltou ao ventre de Vênus Celeste;

e mais feliz, pois num templo conservas

180

as glórias da Itália, talvez as únicas,

depois que a queda dos Alpes e a instável

onipotência do destino humano

te arrebataram as armas, riquezas,

altares e a pátria; salvo a memória.24 24 Referência à destruição e devastação causada por contínuas invasões estrangeiras na Itália, desde a queda de Carlo VIII (1470-1498), ocorrida em 1495, até a invasão francesa, em 1796.

185

Que a esperança de glória renasça

nos nobres corações e que anunciemos

um novo presságio. Por estas tumbas

Alfieri25 25 Vittorio Alfieri (1749-1803), escritor italiano, a quem fora construído, após sua morte em Florença, um grandioso sepulcro na Igreja de Santa Croce. soía vir a se inspirar.

Com os pátrios Numes irado, errava

190

mudo onde o Arno é mais deserto, e os campos

e o céu olhava insatisfeito; e como

ninguém lhe abrandava o pensar, o Austero

por aqui ficava; e tinha na fronte

o palor da morte e a cor da esperança.

195

Com os grandes repousa eternamente:

e seus ossos tremem à voz da pátria.

Ah, sim! da paz das tumbas fala um Nume:

o que nutriu a ira e o valor dos gregos

contra os persas em Maratona quando

200

Atenas consagrou aos seus heróis

troféus. O navegante que sulcou

o mar rumo à Eubeia, viu na escuridão

cintilar elmos e espadas e piras

fumegar ígneo vapor, e fantasmas

205

de guerreiros cheios de armas férreas

cercar a guerra; e no horror do silêncio

noturno ouviu ecoar pelos campos

um tumulto de falanges e trompas,

e um relincho de cavalos volantes

pisoteando os elmos dos moribundos

e o pranto, os hinos e o canto das Parcas.26 26 Parcas, divindades que na mitologia clássica romana determinavam o curso da vida humana.

210

Feliz de ti, Ippolito, que ao império

dos ventos partiste em teus tenros anos!

E se o timoneiro te levou além

215

das ilhas egeias, de antigos feitos

por certo ouviste falar no Helesponto,

e ondas rugirem como as que trouxeram

as armas de Aquiles ao promontório

Reteu até a tumba de Ájax:27 27 Aquiles e Ájax, heróis da guerra de Troia. só a morte

220

dispensa com justiça eterna glória;

nem a astúcia, nem o favor de reis

conservou os árduos despojos do Ítaco,

porque foram arrastados pela onda

incitada por deuses infernais.

225

Eu, que os tempos e o desejo de glória

fazem andar fugitivo a evocar

os heróis, sou chamado pela musas,

animadoras do mortal pensar.

Elas velam os sepulcros, e quando

230

o tempo com suas frias asas ousa

tocá-los, as Pimpleias28 28 As musas são chamadas de "pimpleias" devido ao monte Pimpleia, a elas consagrado, localizado na Piéria, região da Tessália, nas encostas do monte Olimpo. com seu canto

tornam alegre o deserto, e a harmonia

vence o silêncio de incontáveis séculos.

E hoje um lugar na Troas desolada

235

resplende eternamente aos peregrinos,

eterno pela Ninfa29 29 Electra. que de Júpiter30 30 Na mitologia romana, Júpiter, o senhor dos Deuses.

foi esposa e que deu a vida a Dárdano,31 31 Dárdano, filha de Zeus e de Electra, que, de acordo com a mitologia clássica, construiu a cidade de Troia.

que ergueu Troia, de onde provêm Assáraco,32 32 Assáraco, rei troiano, descendente de Enéas.

os tálamos e o reino dos Romanos.

240

Quando Electra ouviu o decreto da Parca,33 33 Átropos, uma das três Parcas.

que da aura vital aos coros Elíseos

a conduzia, a Júpiter dirigiu

uma última súplica: - E se nunca

minha beleza ou as doces vigílias

245

te estimaram, e a vontade do Fado

não me oferta prêmio melhor, ao menos

desde os céus protejas a minha morte

até que de tua Electra reste a fama. -

Pregando assim morria. E fez tremer

250

o Olimpo: e o imortal brandindo fez cair

dos cabelos ambrósia sobre a Ninfa,

e tornou sagrado seu corpo e tumba.

Ali jaz Erictônio, e repousa o corpo

do justo Ilo;34 34 Erictônio e Ilo, heróis míticos troianos. ali as troianas faziam

255

sacrifícios, querendo em vão deter,

ai!, o fado iminente dos maridos;

ali veio Cassandra,35 35 Cassandra, filha de Príamo, que possuía o dom da profecia e que vaticinou a destruição de Troia. quando o Nume

fê-la vaticinar a destruição

de Troia, e às sombras cantar um belo hino;

260

e guiando os sobrinhos, lhes ensinava

o canto fúnebre da pátria, enquanto

suspirando, exclamava: - Oh, se o céu

não vos conceder o retorno de Argos,

onde dareis de pastar aos cavalos

265

de Tideu e Laertes,36 36 Tideu, herói da Etólia, antiga província da Grécia, e Laertes, pai de Ulisses. em vão vossa pátria

buscareis! Os muros, obra de Febo,37 37 Febo, deus do Sol, na mitologia latina.

arderão abaixo de suas relíquias.

Mas os penates38 38 Deuses do lar, os antepassados da cidade de Troia. de Troia terão

lugar nessas tumbas; pois nas desditas

270

os Numes conservam todo o recordo.

Oh, palmeiras e ciprestes, que as noras

de Príamo plantaram, e que, ai!, logo

crescereis com o pranto das viúvas,

protegei meus antepassados, pois

275

quem afastar a secure39 39 Secure, espécie de machado rodeado de fasces que na antiga Roma os guardas, chamados de litores, carregavam adiante dos magistrados, como símbolo de poder. das sacras

folhas, não terá luto entre os parentes,

e tocará com reverência o altar.

Protegei meus antepassados. Um

dia vereis um pobre cego errante40 40 Referência ao poeta Homero que, segundo a tradição literária, era cego.

280

vagar entre vossas antigas sombras,

penetrar nas urnas e interrogar

os sepulcros. Os antros gemerão

e cada tumba narrará o destino

de Ilión, duas vezes ao pó reduzida

285

e duas reerguida com glória nova

para adornar o último troféu

do Pelides fatal.41 41 Para os gregos, "Pelides" são propriamente Aquiles e seu filho Pirro, também chamado de Neoptôlemo, descendentes de Peleu, que aqui representa todos os gregos. O sacro vate,

aplacando as sombras com o seu canto,

eternizará os príncipes argivos

290

pelas terras todas que o Oceano abraça.

E tu, Héctor,42 42 Héctor, o mais valoroso herói troiano, morto em duelo por Aquiles. terás honras de pranto,

onde santo e sofrido será o sangue

pela pátria vertido, até que o Sol

resplenderá sobre a miséria humana.

295

  • *
    Mestre em Estudos da Tradução e doutorando em Teoria da Literatura, pela UFSC. Tradutor de Dino Campana (
    Cantos Órficos, 2004), Delmira Agustini (
    Líricas, 2005), entre outros, dedica-se ao estudo e tradução da poesia simbolista italiana e hispano-americana e integra a comissão editorial da revista
    Scientia Traductionis.
  • 1
    "Que os direitos dos deuses manes sejam sagrados", expressão latina de Cícero (106-43 a.C.), encontrada em
    De Legibus, obra composta provavelmente em 52 a.C. A citação, colocada como epígrafe d'
    Os Sepulcros, é a interpretação de uma das leis romanas das Doze Tábuas, a XII Tábua, que, segundo a historiografia, tratava de temas Complementares da antiga legislação romana, entre os quais, provavelmente, os sepulcros.
  • 2
    Ippolito Pindemonte (1753-1828), escritor italiano, célebre pela tradução da
    Odisseia, a quem Foscolo dedica os
    Sepulcros. Um ano após a publicação do poema de Foscolo, Pindemonte publicou um homônimo poema, intitulado
    I Sepolcri, onde o tema cemiterial é tratado sobre um plano particularmente afetivo, enquanto que em Foscolo o poema adquire um caráter civil.
  • 3
    A Esperança, deusa romana, foi a última divindade a permanecer na terra quando todos os deuses a abandonaram para subir ao Olimpo.
  • 4
    Referência a Dite ou Plutão, o deus dos infernos, do submundo e da morte, na mitologia romana. Na
    Divina Comédia de Dante, Dite é a cidade infernal onde se situa o sexto círculo e também pode ser entendida como a personificação de Lúcifer.
  • 5
    Referência a Aqueronte, um dos rios do Inferno, através do qual o barqueiro Caronte conduzia os mortos.
  • 6
    Um decreto napoleônico de Saint-Cloud, que entrara em vigor na Itália em 5 de setembro de 1806, obrigava, por razões de saúde pública, que os sepulcros fossem construídos fora das cidades e proibia, por razões de igualdade, que neles fossem colocados epígrafes com o nome dos mortos, além da exigência de lápides iguais para todos.
  • 7
    Talia, musa da comédia e da poesia satírica.
  • 8
    Referência a Sardanapalo ou Assurbanipal (690-621 a.C.), último rei da Assíria.
  • 9
    O poeta é o italiano Giuseppe Parini (1729-1799), citado mais adiante, no verso 72.
  • 10
    Milão, a cidade em que viveu Parini.
  • 11
    Ave migratória, encontrada na Europa, caracterizada por Foscolo como um pássaro noturno, pelo canto lúgubre que emite, quando, na realidade, trata-se de um pássaro diurno.
  • 12
    Entre os versos 90-96, Foscolo retoma o pensamento do filósofo napolitano Giambattista Vico (1668-1744) ao afirmar que o culto dos mortos iniciara com o surgimento da própria civilização, aqui exemplificada pela instituição do casamento, pela formulação das leis e pelo surgimento da religião.
  • 13
    Lares, divindades protetoras das casas. Entre os antigos romanos, representavam também os antepassados que cada família venerava.
  • 14
    Deuses tutelares da pátria.
  • 15
    Referência ao comandante Horatio Nelson (1758-1805), oficial inglês da Marinha Real Britânica, que em 1805, na Batalha de Trafalgar, derrubou a mastro principal de um dos navios da frota franco-espanhola.
  • 16
    Na mitologia greco-romana, Orco significa ora o deus dos infernos ora uma personificação da morte. Na poesia italiana, sobretudo em Foscolo, símbolo da morte e do além-túmulo.
  • 17
    Referência a Niccolò Machiavelli (1469-1527), historiador e poeta italiano, autor de
    O príncipe.
  • 18
    A tumba de Michelangelo Buonarroti (1475-1564), pintor, escultor e arquiteto renascentista italiano que projetou a cúpula da Basílica de São Pedro.
  • 19
    A tumba de Galileu Galilei (1564-1642), físico, astrônomo e filósofo italiano, que afirmou e demonstrou, cientificamente, que o sol era o centro do sistema solar e que os planetas giravam ao seu redor.
  • 20
    Ao físico inglês Isaac Newton (1643-1727), que a partir das descobertas de Galileu sondou os mistérios do universo para lhe formular leis.
  • 21
    Florença.
  • 22
    Referência ao poeta Dante Alighieri (1265-1321), que embora pertencesse ao partido político dos "Guelfos Brancos", ideologicamente se aproximava dos Gibelinos, outra facção de florentinos da época.
  • 23
    Referência ao poeta e humanista italiano Francesco Petrarca (1304-1474). Calíope, musa grega da poesia heroica.
  • 24
    Referência à destruição e devastação causada por contínuas invasões estrangeiras na Itália, desde a queda de Carlo VIII (1470-1498), ocorrida em 1495, até a invasão francesa, em 1796.
  • 25
    Vittorio Alfieri (1749-1803), escritor italiano, a quem fora construído, após sua morte em Florença, um grandioso sepulcro na Igreja de Santa Croce.
  • 26
    Parcas, divindades que na mitologia clássica romana determinavam o curso da vida humana.
  • 27
    Aquiles e Ájax, heróis da guerra de Troia.
  • 28
    As musas são chamadas de "pimpleias" devido ao monte Pimpleia, a elas consagrado, localizado na Piéria, região da Tessália, nas encostas do monte Olimpo.
  • 29
    Electra.
  • 30
    Na mitologia romana, Júpiter, o senhor dos Deuses.
  • 31
    Dárdano, filha de Zeus e de Electra, que, de acordo com a mitologia clássica, construiu a cidade de Troia.
  • 32
    Assáraco, rei troiano, descendente de Enéas.
  • 33
    Átropos, uma das três Parcas.
  • 34
    Erictônio e Ilo, heróis míticos troianos.
  • 35
    Cassandra, filha de Príamo, que possuía o dom da profecia e que vaticinou a destruição de Troia.
  • 36
    Tideu, herói da Etólia, antiga província da Grécia, e Laertes, pai de Ulisses.
  • 37
    Febo, deus do Sol, na mitologia latina.
  • 38
    Deuses do lar, os antepassados da cidade de Troia.
  • 39
    Secure, espécie de machado rodeado de fasces que na antiga Roma os guardas, chamados de litores, carregavam adiante dos magistrados, como símbolo de poder.
  • 40
    Referência ao poeta Homero que, segundo a tradição literária, era cego.
  • 41
    Para os gregos, "Pelides" são propriamente Aquiles e seu filho Pirro, também chamado de Neoptôlemo, descendentes de Peleu, que aqui representa todos os gregos.
  • 42
    Héctor, o mais valoroso herói troiano, morto em duelo por Aquiles.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      05 Abr 2010
    • Data do Fascículo
      Dez 2009
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