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ESPORTES E DESEMPENHO NA POPULAÇÃO TRANSGÊNERO: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA E METANÁLISE

RESUMO

Introdução:

O debate sobre as regulamentações relativas à participação de transgêneros no esporte não é recente, mais ainda está em progresso. Algumas organizações esportivas são mais flexíveis nesse aspecto, enquanto outras são mais conservadoras.

Objetivo:

Mediante revisão sistemática e metanálise, este estudo resume as evidências científicas dos efeitos do tratamento hormonal de redesignação sexual nas medidas de força muscular, hematócritos e hemoglobina, parâmetros que parecem estar ligados ao desempenho esportivo.

Métodos:

Foram realizadas buscas eletrônicas de artigos publicados antes de 20 de novembro de 2020 incluídos em três bancos de dados (PubMed, SciELO e Lilacs), sem restrição de tempo ou idioma, sendo usados os descritores “transgender”, “gender dysphoria”, “strength”, “hematocrit” e “hemoglobin”. A sistematização PRISMA foi usada para a elaboração desta revisão, enquanto a metanálise foi realizada para evidenciar matematicamente os resultados. A metanálise foi realizada com o modelo de efeito aleatório para encontrar o efeito combinado estimado do tratamento hormonal de redesignação sexual sobre os parâmetros analisados.

Resultados:

A busca eletrônica recuperou 21 artigos elegíveis. O tratamento hormonal de redesignação sexual influenciou os três parâmetros analisados em quase todos os estudos. No geral, houve um aumento significativo da força muscular nos homens trans (FtMs) no grupo de músculos analisado: +17,7% (intervalo de confiança [IC] de 95% 14,9; 20,6). Nas mulheres trans (MtFs) os resultados da análise da força muscular foram mais controversos, mas o efeito de estimativa agrupado mostrou uma diminuição: −3,6% (intervalo de confiança [IC] de 95% 6,6; −0,6).

Conclusão:

Força muscular, hematócritos e hemoglobina tiveram níveis alterados em resposta ao tratamento hormonal de redesignação sexual tanto em FtMs quanto em MtFs. No entanto, há escassez de estudos que comparem os indivíduos transgênero com a população do mesmo gênero desejado. Esses estudos são necessários para melhor definir as regras da participação de transgêneros nos esportes olímpicos. Nível de Evidência I; Revisão Sistemática e Metanálise.

Descritores:
Medicina do esporte; Transgênero; Desempenho esportivo

ABSTRACT

Introduction:

The debate surrounding the regulations on the participation of transgender individuals in sports is not recent, but it is still ongoing. Some sports organizations are more flexible in this regard, while others are more conservative.

Objective:

Through a systematic review and meta-analysis, this study summarizes the scientific evidence of the effects of cross-sex hormone therapy on muscle strength, hematocrit, and hemoglobin measurements, parameters that seem to be linked to sports performance.

Methods:

We conducted electronic searches for manuscripts published before November 20th, 2020. Studies published in three different databases (PubMed, SciELO, and Lilacs) were included, without any time or language restriction, and using keywords such as “transgender”, “gender dysphoria”, “strength”, “hematocrit”, and “hemoglobin”. The PRISMA systematization was used for the elaboration of this review, while a meta-analysis was conducted to mathematically evidence the results. The meta-analysis was performed using the random effect model, to find the pooled estimate effect of cross-sex hormone therapy on the parameters analyzed.

Results:

The electronic search retrieved 21 articles that were eligible for inclusion. Cross-sex hormone therapy influenced the three parameters analyzed in almost all the studies. Overall, there was a significant increase in muscle strength in female-to-males (FtMs), per muscle group analyzed: +17.7% (95% confidence interval [CI]14.9;20.6). In male-to-females (MtFs) the results of the muscle strength analysis were more controversial, but the pooled estimate effect showed a decrease: −3.6% (95% confidence interval [CI] −6.6; −0.6).

Conclusion:

Muscle strength, hematocrit, and hemoglobin were altered as a result of cross-sex hormone therapy in both FtMs and MtFs. However, there was a lack of studies comparing the transgender individuals to the population of the same desired gender. Such studies are needed, to better infer rules for the participation of transgender athletes in Olympic sports. Level of Evidence I; Systematic Review and Meta-analysis.

Keywords:
Sports medicine; Transgender; Athletic performance

RESUMEN

Introducción:

El debate sobre las regulaciones relativas a la participación de las personas transgénero en el deporte no es reciente. Algunas organizaciones deportivas son más flexibles, mientras que otras, más conservadoras.

Objetivo:

Este estudio tuvo como objetivo resumir la evidencia científica sobre los efectos de la terapia hormonal cruzada en la fuerza muscular, hematocrito, y hemoglobina, parámetros que parecen estar vinculados al rendimiento deportivo, mediante revisión sistemática y metanálisis.

Métodos:

Realizamos búsquedas electrónicas de manuscritos publicados antes del 20 de noviembre de 2020. Se incluyeron estudios publicados en tres bases de datos (PubMed, SciELO y Lilacs) sin restricción de tiempo o lenguaje. Se utilizaron palabras clave como “transgénero”, “disforia de género”, “fuerza”, “hematocrito” y “hemoglobina”. Para la elaboración de esta revisión se utilizó la sistematización PRISMA, mientras que se realizó un metanálisis para evidenciar matemáticamente los resultados. El metanálisis se realizó utilizando el modelo de efecto aleatorio, para encontrar el efecto de estimación agrupado de la terapia hormonal cruzada en los parámetros analizados.

Resultados:

La búsqueda electrónica incluyó 21 artículos. La terapia hormonal cruzada influyó en los tres parámetros analizados en casi todos los estudios. En general, hubo un aumento significativo en la fuerza muscular en hombres trans (FtMs), por grupo muscular analizado: +17.7% (95% intervalo de confianza [CI]14.9;20.6). En mujeres trans (MTFs) los resultados en el análisis de fuerza muscular fueron más controvertidos, pero el efecto de estimación agrupado mostró una disminución: −3.6% (95% intervalo de confianza [CI] −6.6; −0.6).

Conclusión:

Fuerza muscular, hematocrito, y hemoglobina han cambiado sus niveles en respuesta a la terapia hormonal cruzada en hombres trans y mujeres trans. Sin embargo, encontramos una falta de estudios que compararan a las personas transgénero con la población del mismo género deseado, lo que sería necesario para inferir mejor las reglas sobre la participación de los transexuales en los deportes olímpicos. Nivel de Evidencia I; Revisión sistemática y Metanálisis.

Descriptores:
Medicina deportiva; Personas Transgénero; Rendimiento atlético

INTRODUÇÃO

A universalidade do esporte e sua importância como fenômeno social e cultural o coloca como eixo das discussões pertinentes ao longo de sua evolução e lugar em nossa sociedade. As principais competições entre atletas altamente treinados podem cativar e inspirar muitas pessoas nas disputas com regras justas.11 Lombardo MP. On the evolution of sport. Evolutionary Psychology. 2012;10(1):147470491201000101.,22 Furley P. What modern sports competitions can tell us about human nature. Perspectives on Psychological Science. 2019;14(2):138-55. Contudo, justiça é um conceito subjetivo com limites maleáveis que podem mudar com o tempo, com frequência seguindo demandas sociais e questões científicas.33 Zhang Y, Fu F. Strategy intervention for the evolution of fairness. PloS one. 2018;13(5):e0196524.

Sexo pode ser definido como um estado biológico específico, objetivo, notadamente sexo genético, cromossômico, gonadal, hormonal e fenotípico (incluindo genital), cada um dos quais tem uma forma característica.44 Hughes IA, Houk C, Ahmed SF, Lee PA, Society LWPE. Consensus statement on management of intersex disorders. Journal of pediatric urology. 2006;2(3):148-62. Os transtornos do desenvolvimento sexual são entendidos como um grande grupo de condições congênitas que afetam a determinação e/ou diferenciação do sexo humano, por exemplo, a síndrome de Klinefelter.44 Hughes IA, Houk C, Ahmed SF, Lee PA, Society LWPE. Consensus statement on management of intersex disorders. Journal of pediatric urology. 2006;2(3):148-62.,55 Cools M, Nordenström A, Robeva R, Hall J, Westerveld P, Flück C, et al. Caring for individuals with a difference of sex development (DSD): a consensus statement. Nature Reviews Endocrinology. 2018;14(7):415-29. Por outro lado, gênero é um construto social subjetivo, maleável e autoidentificado que define o papel e a orientação de gênero de uma pessoa.66 Hembree WC, Cohen-Kettenis P, Delemarre-Van De Waal HA, Gooren LJ, Meyer III WJ, Spack NP, et al. Endocrine treatment of transsexual persons: an Endocrine Society clinical practice guideline. The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism. 2009;94(9):3132-54.

Até 2018 havia uma classificação médica para a identificação do gênero oposto, conhecida como disforia de gênero.66 Hembree WC, Cohen-Kettenis P, Delemarre-Van De Waal HA, Gooren LJ, Meyer III WJ, Spack NP, et al. Endocrine treatment of transsexual persons: an Endocrine Society clinical practice guideline. The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism. 2009;94(9):3132-54. Hoje em dia, desde que a Assembleia Mundial da Saúde aprovou a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde-11 (CID-11) em 2019, ser transgênero não é mais classificado como transtorno mental. A nomenclatura transgênero foi mantida, como homem transgênero (FtMs) para os indivíduos de sexo feminino designado ao nascer que se identificam com o gênero masculino e como mulher transgênero (MtFs) para os indivíduos de sexo masculino no nascimento que se identificam com o gênero feminino.66 Hembree WC, Cohen-Kettenis P, Delemarre-Van De Waal HA, Gooren LJ, Meyer III WJ, Spack NP, et al. Endocrine treatment of transsexual persons: an Endocrine Society clinical practice guideline. The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism. 2009;94(9):3132-54.99 Cavanagh SL, Sykes H. Transsexual bodies at the Olympics: The International Olympic Committee's policy on transsexual athletes at the 2004 Athens Summer Games. Body & Society. 2006;12(3):75-102.

O fato de um indivíduo se identificar como transgênero não implica que deseje atendimento médico ou tratamento. No entanto, do ponto de vista médico, os tratamentos hormonais, como o tratamento hormonal de redesignação sexual (THRS) e as cirurgias são geralmente relacionados com as características fenotípicas do gênero desejado. Esses tratamentos, à semelhança de outros na medicina, têm efeitos secundários, riscos e, de modo ideal, devem ter acompanhamento multidisciplinar.1010 Vita R, Settineri S, Liotta M, Benvenga S, Trimarchi F. Changes in hormonal and metabolic parameters in transgender subjects on cross-sex hormone therapy: a cohort study. Maturitas. 2018;107:92-6.,1111 Tangpricha V, den Heijer M. Oestrogen and anti-androgen therapy for transgender women. The Lancet Diabetes & Endocrinology. 2017;5(4):291-300.

Na maioria dos esportes competitivos, encontramos duas categorias: masculina e feminina. Sua classificação pareceu coerente, visto que, por exemplo, os resultados masculinos nos 100 metros, natação e levantamento de peso, têm valores de desempenho significativamente superiores aos femininos.1212 Storey A, Smith HK. Unique aspects of competitive weightlifting. Sports medicine. 2012;42(9):769-90.1414 Vogt P, Rüst CA, Rosemann T, Lepers R, Knechtle B. Analysis of 10 km swimming performance of elite male and female open-water swimmers. Springerplus. 2013;2(1):1-15. Isso pode ser atribuído a algumas características fenotípicas como a estatura.1515 Perkins JM, Subramanian SV, Davey Smith G, Özaltin E. Adult height, nutrition, and population health. Nutrition reviews. 2016;74(3):149-65. Em parte, essas e outras diferenças entre homens e mulheres podem ser explicadas pelo fato de que, depois da puberdade, os homens produzem 20 vezes mais testosterona do que as mulheres.1616 Horton R, Tait J. Androstenedione production and interconversion rates measured in peripheral blood and studies on the possible site of its conversion to testosterone. The Journal of clinical investigation. 1966;45(3):301-13.,1717 SOUTHREN AL, GORDON GG, TOCHIMOTO S. Further study of factors affecting the metabolic clearance rate of testosterone in man. The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism. 1968;28(8):1105-12. Existem alguns esportes em que essa mudança notável da testosterona circulante pós-puberdade amplia o desempenho dos homens, aumentando a massa e a força muscular e os níveis de hemoglobina; são exemplos o levantamento de peso e a maratona, respectivamente.1818 Handelsman DJ, Hirschberg AL, Bermon S. Circulating testosterone as the hormonal basis of sex differences in athletic performance. Endocrine reviews. 2018;39(5):803-29. Contudo, essa regra não previa espaço para MtFs, por exemplo, que poderiam, por um lado, ter desvantagem competitiva com a categoria de origem e, por outro, ter vantagem indevida quanto à categoria de destino, ou no caso dos FtMs, o oposto.1919 IOC approves consensus with regard to athletes who have changed sex. Olympic Games. 2004.

Em outubro de 2003, a Comissão Médica do Comitê Olímpico Internacional (COI) estabeleceu a primeira política para inclusão de atletas transgênero nos Jogos Olímpicos, o Consenso de Estocolmo. Esse consenso permitiu que MtFs que se submeteram ao tratamento hormonal de redesignação sexual antes da puberdade competissem na categoria feminina e FtMs que haviam feito a transição antes da puberdade competissem na categoria masculina.1919 IOC approves consensus with regard to athletes who have changed sex. Olympic Games. 2004. A International Association of Athletic Federations (IAAF) declarou, em 2011, endossada pelo COI em 2012, uma regra para mulheres hiperandrogênicas. Em 2015, o COI afirmou que FtMs podem competir na categoria masculina sem restrições, enquanto MtFs devem ter níveis de testosterona abaixo de 10 nmol/l por pelo menos 12 meses antes da competição.2020 Harper J HA, Jose M, Patino M, Ritzén M, Vilain E, Partner JT, Bird B&, Riley L, Thill C. IOC Consensus Meeting on Sex Reassignment and Hyperandrogenism. Olympic Games; https://www.olympic.org/news/ioc-approves-consensus-with-regard-to-athletes-who-have-changed-sex. https://stillmed.olympic.org/Documents/Commissions_PDFfiles/Medical_commission/2015-1_ioc_consensus_meeting_on_sex_reassignment_and_hyperandrogenismen.pdf2015.
https://www.olympic.org/news/ioc-approve...
2222 Camporesi S. Ethics of regulating competition for women with hyperandrogenism. Clinics in sports medicine. 2016;35(2):293-301. Como exemplo do dinamismo desse tema, a própria IAAF por sua vez, em 2019, afirmou que os níveis de testosterona deveriam ficar abaixo de 5 nmol/l por 12 meses e que sua equipe médica especializada faria uma revisão abrangente do atendimento ao atleta e tratamento médico após a redesignação do sexo.2323 WORLD ATHLETICS ELIGIBILITY REGULATIONS FOR TRANSGENDER ATHLETES. In: IAAF, editor. http://www.athletics.org.tw2019.
http://www.athletics.org.tw2019...

É amplamente entendido que em competições esportivas de elite, a capacidade física é um trunfo importante para o desempenho do atleta e, consequentemente, para suas conquistas e destaque.2424 ARDLE M, Willian D, KATCH FI, KATCH VL. Fisiologia do exercício. Energia, Nutrição e Desempenho humano. 6ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2008. porém, não há dados essenciais sobre a magnitude da mudança dos indicadores de desempenho com THRS.

Compreender os efeitos do desempenho de pessoa trans sobre a competição de um determinado esporte é uma questão delicada, que até hoje não tem resposta que garanta uma disputa justa, segura e significativa e, ao mesmo tempo, proteja o direito desse indivíduo de participar da inclusão universal do esporte.2525 Genel M. Transgender athletes: how can they be accommodated? Current sports medicine reports. 2017;16(1):12-3.,2626 Singh B, Singh K, Sharma N. Equality, equity and inclusion: transgender athletes’ participation in competitive sports-a new era. Physical Culture and Sport Studies and Research. 2010;49(1):85-8. Nesse contexto, esta revisão pode ser útil para impulsionar a evolução dos critérios que determinam a participação de atletas transgênero em esportes de elite. Portanto, o objetivo do presente estudo de revisão foi pesquisar a influência do THRS sobre a capacidade física e, em decorrência, sobre o desempenho dos atletas.

MATERIAIS E MÉTODOS

Analisamos um total de 795 artigos recuperados de três bancos de dados: PubMed, SciELO e Lilacs. Cinco estudos foram coletados a partir das referências desses estudos.

Estratégia de busca e seleção de estudos

Depois de discussão com uma equipe de ortopedistas, psiquiatras, médicos do esporte, fisioterapeutas, psicólogos e estudantes de medicina, a busca foi realizada utilizando os seguintes descritores: “transgender”, “transsexual”, “strength”, “force”, “power”, “sport”, “performance”, “endurance”, “muscle”, “physiology”, “complete blood count”, “full blood count” e “hemoglobin”. A pesquisa selecionou artigos publicados antes de 20 de novembro de 2020. Além disso, os autores realizaram uma busca nas referências dos estudos incluídos.

Critérios de inclusão e exclusão

Incluímos estudos que: 1) eram prospectivos ou retrospectivos e mostraram valores pré e pós-tratamento ou alterações absolutas ou relativas; 2) avaliou os efeitos do tratamento hormonal de redesignação sexual sobre a força, ou hemoglobina ou hematócrito. Não consideramos nesta revisão: diretrizes, relatos de caso, comentários, editoriais, cartas ao editor. Com relação aos indivíduos, consideramos os transgêneros MtFs (mulher transgênero) e FtMs (homem transgênero). Não houve limitação de idade, nível de desempenho esportivo, data de publicação ou idioma do artigo original. Incluímos só estudos com participantes saudáveis e livres de doenças agudas ou crônicas.

Extração de dados

A extração de dados incluiu: 1) características gerais do estudo (autores, ano de publicação e país); 2) dados sobre a população do estudo (tamanho da amostra, transgênero MtFs, FtMs e idade); 3) método de avaliação da força muscular; 4) medicações usadas no tratamento e 5) médias e desvios-padrão de pré e pós-medições ou escores de mudança absoluta ou relativa. Entramos em contato com os respectivos autores nos casos de falta de alguma informação.

Avaliação de risco de viés

A qualidade dos artigos foi analisada por meio da escala PEDro15, empregada em estudos semelhantes. Essa escala consiste em analisar, por meio de 11 itens, duas características relacionadas com a qualidade dos artigos, a validade interna e se o artigo apresenta informações estatísticas suficientes que o tornam compreensível. Os escores da escala variam de 0 a 10 (o primeiro item da lista não é contado) e os estudos com escore maior que cinco são considerados de alta qualidade. Analisamos o risco de viés usando os seguintes critérios: geração de sequência aleatória (viés de seleção), ocultação de alocação (viés de seleção), código cego para participantes e profissionais (viés de desempenho), código cego de avaliação de desfecho (viés de detecção) e relatos de desfecho seletivo (viés de relato). Dois autores independentes analisaram simultaneamente os resultados da avaliação de risco de viés.

Análise estatística

As análises de dados agrupados para calcular os tamanhos de efeito foram realizadas com um modelo de efeitos aleatórios, e os dados foram relatados como diferença média com intervalo de confiança de 95%. Os escores de mudança foram calculados como a porcentagem das diferenças médias entre as pré e pós-medições. Apenas os estudos que mostraram os resultados em termos de média + DP foram incluídos na metanálise. Com relação às medidas de força, se um artigo mediu a força de mais de um grupo muscular, consideramos cada achado separadamente para a análise.

RESULTADOS

Encontramos um total de 795 artigos em três bases de dados (PubMed, SciELO, Lilacs), aplicando os critérios de extração. Depois da triagem de resumos e/ou do texto completo, um total de 21 artigos (2,6%) foi elegível para análise, considerando os critérios de inclusão (Figura 1). Dentre os 21 artigos, cinco (23,8%) analisaram os efeitos do tratamento hormonal de redesignação sexual nas medidas de força muscular e 17 (80,9%) analisaram os efeitos nos níveis de hemoglobina e/ou hematócrito, como mostra a Tabela 1.

Figura 1
Fluxograma de seleção de artigos.
Tabela 1
Extração de dados dos estudos incluídos.

Participantes e medicamentos

Um total de 533 MtFs e 963 FtMs participou dos estudos incluídos. O tratamento de MtFs consistiu em acetato de ciproterona (CPA), ou espironolactona, ou antagonista do hormônio liberador de gonadotrofina (GnRHa) isolado ou em combinação com estradiol transdérmico (adesivo ou gel) ou oral (valerato de estradiol) ou intramuscular (polifosfato de estrogênio). Os FtMs usaram undecanoato de testosterona (UT), cipionato de testosterona, ésteres de testosterona, gel de testosterona, adesivo de testosterona ou linestrenol (L). Em alguns estudos, homens trans também usaram GnRHa ou progestinas.

Mudanças nas medidas de força

Verificamos um total de cinco estudos sobre os efeitos do tratamento hormonal de redesignação sexual nas medidas de força, quatro deles (80%) em MtFs e quatro (80%) em FtMs. Entre esses estudos, um deles (20%) mediu a força muscular dos membros inferiores (força extensora e flexora do joelho) e quatro estudos (80%) mediram a força de preensão, conforme mostra a Tabela 1.

Todos os estudos em FtMs mostraram um aumento da força, e o aumento médio foi de 16,4 ± 5,0% por grupo muscular analisado. O efeito da estimativa combinada das mudanças nas medidas de força no final das pesquisas foi de +17,73% (intervalo de confiança [IC] de 95% 14,9; 20,6) (Figura 2).

Figura 2
Medições de força em FtMs (aproximadamente 12 meses em THRS).#

De quatro estudos sobre MtFs, dois deles (50%) não mostraram nenhuma diferença entre as medidas pós e pré-tratamento, mas em um desses estudos (LJW Tack, 2018), esperava-se um aumento nas medidas de força por causa da idade dos participantes; portanto, o resultado pode ser interpretado como diminuição nos níveis de força. O efeito da estimativa combinada das mudanças nas medidas de força no final das pesquisas foi de −3,63% (intervalo de confiança [IC] de 95% −6,6; −0,6) (Figura 3). Entre os dois estudos (50%) que mostraram uma diminuição das medidas de força, a diminuição média foi de 6,9 ± 3,7%.

Figura 3
Medidas de força em MtFs (aproximadamente 12 meses em THRS).

Alterações dos níveis de hemoglobina e hematócrito

Entre os 17 artigos que se referem aos efeitos do tratamento hormonal de redesignação sexual sobre os níveis de hemoglobina e/ou hematócrito, encontramos sete estudos (41,2%) com MtFs, seis (35,3%) para análise de hemoglobina e cinco (29,4%) para análise de hematócrito. Entre esses 17 artigos, encontramos 16 estudos (94,1%) com FtMs, 14 (82,4%) estudos com análise de hemoglobina e 13 (76,5%) para análise de hematócrito, conforme mostra a Tabela 1.

Cinco de seis estudos com MtFs (83,3%) mostraram diminuição, enquanto um estudo (16,7%) não mostrou diferença nos níveis de hemoglobina desde o basal. Entre os estudos que mostraram redução dos níveis de hemoglobina, a redução média foi de 9 ± 1% (−1,24 a −1,57 g/dl). Além disso, quatro dos cinco estudos (80%) com MtFs mostraram redução, enquanto um (20%) não mostrou diferença na medição de hematócrito, e a redução média foi de 8,2 ± 1,4% (3,2 a 4,7%). O efeito da estimativa combinada de alterações de hemoglobina e hematócrito no final das pesquisas foi −1,34 g/dl (intervalo de confiança [IC] de 95% 1,59; −1,10) e −3,62% (intervalo de confiança [IC] de 95% −4,23; −3,02) (Figuras 4 e 5).

Figura 4
Níveis de hemoglobina no final dos estudos em MtFs; todas as medições além de seis meses.
Figura 5
Níveis de hematócrito no final dos estudos em MtFs; todas as medições além de seis meses.

Todos os estudos com FtMs mostraram aumento nos níveis de hemoglobina e hematócrito, e o aumento médio no final das pesquisas foi de 12,2 ± 3,7% (0,4 a 2,5 g/dL) e 11,35 ± 3,2% (3,3 a 6,9%), respectivamente. O efeito da estimativa combinada das alterações de hemoglobina no final das pesquisas foi +1,83g/dl (intervalo de confiança [IC] de 95% 1,56; 2,11) (Figura 6), e quando se trata de alterações do hematócrito, o efeito da estimativa combinada foi +4,82% (intervalo de confiança [IC] de 95% 3,99; 5,65) (Figura 7). Depois de apenas 12 meses de THRS em FtMs, o efeito estimado combinado para hemoglobina e hematócrito foi de +1,37g/dl (intervalo de confiança [Cl] de 95% 1,08; 2,11) e de +4,13% (intervalo de confiança [Cl] de 95% 3,09; 5,17) (Figuras 8 e 9).

Figura 6
Níveis de hemoglobina no final dos estudos em FtMs, todas as medições além de seis meses.
Figura 7
Níveis de hematócrito no final dos estudos em FtMs, todas as medições além de seis meses.
Figura 8
Níveis de hemoglobina aos 12 meses em FtMs.
Figura 9
Níveis de hematócrito aos 12 meses em FtMs.

DISCUSSÃO

Depois de revisão sistemática e metanálise focada nos efeitos do THRS sobre as medidas de força (preensão, flexor do joelho e extensor do joelho) e os níveis de hematócrito/hemoglobina em FtMS e MtFs, encontramos uma diferença significativa nessas medições com administração ou supressão de T. A administração de T (FtMs) foi correlacionada com um aumento da força, hemoglobina e das medidas de hematócrito, enquanto a supressão de T (MtFs) foi correlacionada com diminuição. Concordamos que a privação de T poderia reverter seu efeito prévio da exposição sobre a força muscular,2727 Mauras N, Hayes V, Welch S, Rini A, Helgeson K, Dokler M, et al. Testosterone deficiency in young men: marked alterations in whole body protein kinetics, strength, and adiposity. The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism. 1998;83(6):1886-92. enquanto a administração de T pode aumentar esse parâmetro,2828 Storer TW, Magliano L, Woodhouse L, Lee ML, Dzekov C, Dzekov J, et al. Testosterone dose-dependently increases maximal voluntary strength and leg power, but does not affect fatigability or specific tension. The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism. 2003;88(4):1478-85. e que eles parecem estar ligados ao desempenho esportivo,1818 Handelsman DJ, Hirschberg AL, Bermon S. Circulating testosterone as the hormonal basis of sex differences in athletic performance. Endocrine reviews. 2018;39(5):803-29. como descrito abaixo.

Força

O papel da testosterona no tecido muscular é amplamente estudado, e sua ação estimulante do aumento da síntese proteica muscular2929 Miller KK. Androgen deficiency: effects on body composition. Pituitary. 2009;12(2):116-24. e da força muscular também foi descrita. A força pode melhorar o desempenho atlético em alguns esportes, como levantamento de peso e eventos de atletismo.3030 Tønnessen E, Svendsen IS, Olsen IC, Guttormsen A, Haugen T. Performance development in adolescent track and field athletes according to age, sex and sport discipline. PloS one. 2015;10(6):e0129014.

Em nossa revisão, todos os estudos com FtMs mostraram aumento das medidas de força muscular depois do tratamento e, consequentemente, a metanálise mostrou um aumento do efeito da estimativa combinada. Esse achado está de acordo com uma metanálise que analisou os efeitos da terapia de reposição de testosterona em homens idosos usando apenas estudos duplo-randomizados e constatou aumento da força muscular,3131 Ottenbacher KJ, Ottenbacher ME, Ottenbacher AJ, Acha AA, Ostir GV. Androgen treatment and muscle strength in elderly men: a meta-analysis. Journal of the American Geriatrics Society. 2006;54(11):1666-73. enquanto um artigo de revisão clínica3232 Liu PY, Swerdloff RS, Veldhuis JD. The rationale, efficacy and safety of androgen therapy in older men: future research and current practice recommendations. The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism. 2004;89(10):4789-96. verificou que estudos anteriores “mostram que a reposição de andrógeno em homens com mais idade aumenta os músculos e reduz a massa gorda a um grau baixo, mas até agora não melhorou a força muscular”.

Quando se trata de MtFs, os resultados foram mais controversos. Entre os quatro estudos analisados, dois (50%) não mostraram diferença na força muscular entre as medidas pós e pré-tratamento, enquanto os outros dois estudos (50%) mostraram diminuição dessas medidas. Vale ressaltar que os dois estudos com MtFs que revelaram diminuição das medidas de força analisaram a força de preensão. Contudo, entre os estudos que não encontraram diferença, um mediu a força muscular dos membros inferiores e o outro mediu a força de preensão em adolescentes, e nessa média de idade, esperava-se que a força muscular aumentasse. Entre todos os quatro estudos com FtMs, os níveis médios de testosterona no final estavam abaixo de 10 nmol/l (limite superior para participação em esportes olímpicos).

Hemoglobina/hematócrito

A testosterona também tem sido associada à estimulação da eritropoiese, aumentando a hemoglobina e o hematócrito pela estimulação da EPO e reduzindo a ferritina e a hepcidina.3333 Bachman E, Travison TG, Basaria S, Davda MN, Guo W, Li M, et al. Testosterone induces erythrocytosis via increased erythropoietin and suppressed hepcidin: evidence for a new erythropoietin/hemoglobin set point. Journals of Gerontology Series A: Biomedical Sciences and Medical Sciences. 2014;69(6):725-35. Além disso, a testosterona pode estimular diretamente a eritropoiese na medula óssea.3434 Shahani S, Braga-Basaria M, Maggio M, Basaria S. Androgens and erythropoiesis: past and present. Journal of endocrinological investigation. 2009;32(8):704-16. Diante disso, o risco de trombose pode ser um possível efeito adverso, conforme a monitoração de alguns estudos entre os incluídos na análise. Por outro lado, como agentes no transporte de oxigênio para os tecidos, o aumento da hemoglobina/hematócrito demonstrou melhorar o desempenho de resistência.1818 Handelsman DJ, Hirschberg AL, Bermon S. Circulating testosterone as the hormonal basis of sex differences in athletic performance. Endocrine reviews. 2018;39(5):803-29.,3535 Ekblom B, Goldbarg AN, Gullbring B. Response to exercise after blood loss and reinfusion. Journal of Applied Physiology. 1972;33(2):175-80.

Catorze estudos com FtMs analisaram a relação entre a administração de testosterona e as alterações da hemoglobina, enquanto 13 analisaram os efeitos nos níveis de hematócrito. Todos eles revelaram aumento dessas medidas pós-terapia, da mesma forma que o efeito da estimativa combinada. Entre as diferentes vias de administração de testosterona (gel, intramuscular e subcutânea), a formulação em gel parece apresentar o menor aumento em ambos os analitos.5656 Pelusi C, Costantino A, Martelli V, Lambertini M, Bazzocchi A, Ponti F, et al. Effects of three different testosterone formulations in female-to-male transsexual persons. The journal of sexual medicine. 2014;11(12):3002-11. Esse achado é compatível com uma metanálise que encontrou correlação positiva entre testosterona e níveis mais elevados de hemoglobina e hematócrito em homens com hipogonadismo.3636 Fernández-Balsells MM, Murad MH, Lane M, Lampropulos JF, Albuquerque F, Mullan RJ, et al. Adverse effects of testosterone therapy in adult men: a systematic review and meta-analysis. The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism. 2010;95(6):2560-75.

Nos casos de MtFs, a supressão dos níveis de testosterona por THRS reduziu os níveis de hemoglobina e hematócrito em seis dos sete estudos (85,7%) que cobriram essa análise. Apenas um estudo não encontrou diferença nas medidas pós e pré-terapia, tanto na hemoglobina quanto no hematócrito. É digno de nota que em todos os estudos com MtFs com relação aos níveis de hemoglobina ou hematócrito a média final de testosterona sérica estava abaixo de 10 nmol/l, e o estudo que não encontrou diferença revelou a maior média final de concentração de testosterona sérica (6,9 nmol/l).

Nossa metanálise coincide com uma revisão recente3737 Harper J, O’Donnell E, Khorashad BS, McDermott H, Witcomb GL. How does hormone transition in transgender women change body composition, muscle strength and haemoglobin? Systematic review with a focus on the implications for sport participation. British Journal of Sports Medicine. 2021. que incluiu parâmetros de composição corporal, força muscular e hematológicos (hemoglobina e hematócrito) em mulheres trans, mostrando que esses níveis diminuíram com a terapia hormonal. Esses achados confirmados, juntamente com os resultados dos FtMs e das metanálises deste estudo, ampliam a base científica da inclusão da população transgênero nos esportes, principalmente os olímpicos. No entanto, destacamos a falta de estudos que comparem pessoas trans com grupos de controle de seu gênero-alvo como um fator limitante desta análise.

CONCLUSÕES

Esta meta-análise fornece evidências de que o tratamento hormonal de redesignação sexual promove mudanças nas medidas de força, hematócrito e hemoglobina, tanto em mulheres transgênero quanto em homens transgênero. Com base nos estudos incluídos, podemos concluir que todas essas medidas aumentaram em FtMs após THRS, enquanto diminuíram em MtFs. Todavia, considerando que os estudos compararam indivíduos transgênero submetidos ao THRS com indivíduos do mesmo sexo biológico e não com indivíduos do mesmo gênero assumido, torna-se difícil inferir regras sobre a participação de pessoas transgênero em esportes. Até onde sabemos, esta é a primeira metanálise que resume os efeitos do THRS nas medidas de força, hemoglobina e hematócrito.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem aos autores correspondentes dos estudos incluídos nesta revisão que responderam às nossas solicitações e forneceram mais informações sobre os dados publicados.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Nov 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    26 Mar 2021
  • Aceito
    11 Jun 2021
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