Acessibilidade / Reportar erro

Percepções sobre imagem corporal na formação superior: com a palavra, graduandos de educação física 1 1 - Disponibilidade de dados: todo o conjunto de dados que dá suporte aos resultados deste estudo foi publicado no próprio artigo.

Perceptions about body image in higher education: words from physical education undergraduates

Resumo

Imagem corporal é definida como a representação mental do próprio corpo. Apesar de haver estudos que avaliaram a imagem corporal da população de universitários do curso de educação física, poucos buscaram entender como esta população conceitua esse construto. Esta pesquisa objetivou compreender as percepções sobre imagem corporal de um grupo de graduandos concluintes do curso de licenciatura em educação física de uma universidade pública do Rio de Janeiro, com enfoque em como eles constroem e problematizam o conceito de imagem corporal e suas aplicações na educação básica. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, descritiva e transversal, na qual 31 universitários, com média de idade de 24,6 anos (DP=±3,4 anos), participaram de grupos focais on-line e responderam a um questionário sociodemográfico para a coleta de dados. As sessões foram gravadas e transcritas, outrossim, para análise de dados, foi utilizada a análise de conteúdo categorial por acervo. Cinco categorias despontaram após a análise de conteúdo: (1) definições e conceitos sobre imagem corporal, (2) conhecimentos sobre quando se inicia e quando cessa a imagem corporal, (3) aspectos influenciadores da imagem corporal, (4) diferença entre a imagem corporal de homens e mulheres e (5) imagem corporal, formação e atuação na educação básica. Pôde-se concluir que os participantes compreendem a imagem corporal apoiados em uma perspectiva limitada, pouco pautada na literatura e baseada em suas vivências, o que pode impactar sua futura atuação profissional.

Formação inicial; Universitários; Insatisfação corporal; Pesquisa qualitativa; Grupo focal on-line

Abstract

Body image is defined as the mental representation of the body itself. Although there are studies that evaluated the body image of the population of university students in the physical education course, few sought to understand how it conceptualizes this construct. This research aimed to understand the perceptions about body image of a group of graduating students completing the degree course in physical education at a public university in Rio de Janeiro, focusing on how they construct and problematize the concept of body image and its applications in basic education. . This is a qualitative, descriptive and cross-sectional study, in which 31 university students, with a mean age of 24.6 years (SD=±3.4 years), participated in online focus groups and answered a sociodemographic questionnaire to the data collection. The sessions were recorded and transcribed for data analysis, and categorical content analysis by collection was used. Five categories emerged after the content analysis: (1) definitions and concepts about body image, (2) knowledge about when body image starts and when it stops, (3) influencing aspects of body image, (4) difference between body image body of men and women and (5) body image, formation and performance in basic education. It could be concluded that the participants understand body image based on a limited perspective, little based on the literature and based on their experiences, which can impact their future professional performance.

Initial training; University students; Body dissatisfaction; Qualitative research; Online focus group

Introdução

Imagem corporal pode ser definida como “a figuração de nosso corpo formada em nossa mente, ou seja, o modo pelo qual o corpo se apresenta para nós” ( SCHILDER, 1981SCHILDER, Paul. A imagem do corpo: as energias construtivas da psique. São Paulo: Martins Fontes, 1981. , p. 11). É relacionada diretamente à identidade corporal e está em constante desenvolvimento através das experiências corporais ao longo da vida ( TAVARES, 2003TAVARES, Maria da Consolação Gomes Cunha Fernandes. Imagem corporal: conceito e desenvolvimento. Barueri: Manole, 2003. ). Alterações na imagem corporal estão associadas a inúmeras psicopatologias, tais como depressão ( CATALDO et al., 2021CATALDO, Ilaria et al. Fitspiration on social media: body-image and other psychopathological risks among young adults. a narrative review. Emerging Trends in Drugs, Addictions, and Health, Amsterdam, v. 1, p. 100010, 2021. ), ansiedade (TOOLE; LOPARO; CRAIGHEAD, 2021), transtornos alimentares ( SANDOZ et al., 2020SANDOZ, Emily K. et al. Relative associations of body image avoidance constructs with eating disorder pathology in a large college student sample. Body Image, Amsterdam, v. 34, p. 242-248, 2020. ), baixa autoestima ( CARDOSO et al., 2020CARDOSO, Larissa et al. Insatisfação com a imagem corporal e fatores associados em estudantes universitários. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, Rio de Janeiro, v. 69, n. 3, p. 156-164, 2020. ), entre outras. Tal fato torna essencial o estudo da imagem corporal nas mais diferentes populações.

Uma população que se destaca é a de jovens universitários, que tem sido considerada por diferentes autores como suscetível a alterações na imagem corporal ( CHIN et al., 2020CHIN, Yit Siew et al. Comparison of factors associated with disordered eating between male and female Malaysian university students. Nutrients, Basel, v. 12, n. 2, p. 318, 2020. ; FERREIRA; CASTRO; MORGADO, 2014; HOSSAIN et al., 2020HOSSAIN, Sahadat et al. Self-perception of physical health conditions and its association with depression and anxiety among Bangladeshi university students. Journal of Affective Disorders, Amsterdam, v. 263, p. 282-288, 2020. ; MARQUIS et al., 2019MARQUIS, Marie et al. Exploring the environmental, personal and behavioural factors as determinants for university students’ food behaviour. International Journal of Consumer Studies, Oxford, v. 43, n. 1, p. 113-122, 2019. ; SOUSA et al., 2019SOUSA, Thiago Ferreira de et al. Prevalência e fatores associados à insatisfação com a imagem corporal em universitários: análise de inquéritos repetidos. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano, Florianópolis, v. 21, p. 223-232, 2019. ). Um dos fatores primordiais que torna esse grupo especialmente vulnerável tem relação com o estilo de vida, visto que a transição para a vida adulta universitária é marcada por mudanças significativas, as quais podem afetar e acentuar diversos aspectos da imagem corporal ( CARDOSO et al., 2020CARDOSO, Larissa et al. Insatisfação com a imagem corporal e fatores associados em estudantes universitários. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, Rio de Janeiro, v. 69, n. 3, p. 156-164, 2020. ; KESSLER; POLL, 2018KESSLER, Amanda Luisa; POLL, Fabiana Assmann. Relação entre imagem corporal, atitudes para transtornos alimentares e estado nutricional em universitárias da área da saúde. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, Rio de Janeiro, v. 67, n. 2, p. 118-125, 2018. ).

Entre graduandos do curso de educação física, especialmente, essa questão chama atenção, pois são universitários que possuem uma relação intrínseca com o corpo e, como um paradoxo, justamente por isso, é um dos fatores que os aproxima deste cenário. Graduandos de educação física geralmente relacionam a qualidade da sua prática profissional com o ideal corporal e, como consequência, podem assumir comportamentos que consideram de modo predominante um determinado padrão de beleza, muitas vezes, inalcançável ( BATISTA et al., 2015BATISTA, Alessandra et al. Dimensão atitudinal da imagem corporal e comportamento alimentar em graduandos de educação física, nutrição e estética da Cidade de Juiz de Fora - MG. Revista da Educação Física/UEM, Maringá, v. 26, n. 1, p. 69-77, 2015. ; FRANK et al., 2016FRANK, Robson et al. Fatores associados à insatisfação com a imagem corporal em acadêmicos de educação física. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, Rio de Janeiro, v. 65, n. 2, p. 161-167, 2016. ; OLIVEIRA et al., 2017OLIVEIRA, Pedro Leopoldo de et al. Insatisfação, checagem corporal e comportamentos de risco para transtornos alimentares em estudantes de cursos da saúde. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, Rio de Janeiro, v. 66, n. 4, p. 216-220, 2017. ).

Para entender essa problemática, destaca-se a importância de se aproximar da teoria sociocultural da imagem corporal proposta por Thompson et al. (1998)THOMPSON, Joel Kevin et al. Exacting beauty: theory, assessment, and treatment of body image disturbance. Washington, DC: American Psychological Associations, 1998. . Nesta, preconiza-se que agentes sociais e culturais, tais como os pais, os pares e a mídia, influenciam de modo preponderante o desenvolvimento da imagem corporal ao mediar e propagar determinados arquétipos corporais estabelecidos como ideais em cada cultura ( CASH; SMOLAK, 2012CASH, Thomas F.; SMOLAK, Linda (ed.). Body image: a handbook of science, practice and prevention. 2. ed. New York: Guilford Press, 2012. ). Ao longo da vida, esses três agentes, de maneira dinâmica e fluida, protagonizam graus diferentes de influência. Os pais estão fortemente presentes da primeira infância até o início da vida adulta, aproximadamente 20 anos ( ROGERS et al., 2019ROGERS, Courtney B. et al. “No seconds for you!”: exploring a sociocultural model of fat-talking in the presence of family involving restrictive/critical caregiver eating messages, relational body image, and anti-fat attitudes in college women. Body Image, Amsterdam, v. 30, p. 56-63, 2019. ). Já os pares demonstram sua importância nos ambientes de interação social, como a escola ( YAGER et al., 2013YAGER, Zali et al. What works in secondary schools? A systematic review of classroom-based body image programs. Body Image, Amsterdam, v. 10, n. 3, p. 271-281, 2013. ) e a universidade (FERREIRA; CASTRO; MORGADO, 2014). E, por fim, a influência da mídia, definida como qualquer meio de comunicação, permeia toda a vida ( RODGERS; ROUSSEAU, 2022RODGERS, Rachel F.; ROUSSEAU, Ann. Social media and body image: modulating effects of social identities and user characteristics. Body Image, Amsterdam, v. 41, p. 284-291, 2022. ).

Os ideais corporais transmitidos por essa rede de influências são estabelecidos por dois mecanismos: a comparação social (BETZ; SABIK; RAMSEY, 2019) e a internalização do ideal de beleza ( RODGERS et al., 2020RODGERS, Rachel F. et al. Psychometric properties of measures of sociocultural influence and internalization of appearance ideals across eight countries. Body Image, Amsterdam, v. 35, p. 300-315, 2020. ). O primeiro se dá a partir da comparação de um ser com o outro, de maneira que esse comportamento avaliativo busca definir a própria maneira de compreender a si mesmo. Em complemento, o segundo se refere à aceitação e à internalização de características perceptivas e atitudinais de outrem para si. Comparação social e internalização são aspectos negativos da imagem corporal, especialmente por protagonizarem desfechos de uma imagem corporal negativa, tais como: insatisfação corporal e adoção de comportamentos não saudáveis na tentativa de atingir um padrão estético, por exemplo, transtornos alimentares restritivos e atividades físicas em excesso ( TIGGEMANN, 2012TIGGEMANN, Marika. Sociocultural perspectives on human appearance and body image. In: CASH, Thomas F.; SMOLAK, Linda (ed.). Body image: a handbook of science, practice, and prevention. 2. ed. New York: Guilford Press, 2012. p. 12-19. ).

Considerando que a comparação social e a internalização de ideais de beleza são mecanismos elaborados, na maioria das vezes, a partir de determinados padrões corporais que fazem parte de uma estrutura social que privilegia um corpo branco, esbelto, cisgênero e heterossexual enquanto cultura dominante, podemos identificar a ampla problemática deste contexto ( FREDERICK et al., 2022FREDERICK, David A. et al. Demographic predictors of body image satisfaction: the U.S. body project I. Body Image, Amsterdam, v. 41, p. 17-31, 2022. ; MORRISON; MCCUTCHEON, 2012MORRISON, Todd G.; MCCUTCHEON, Jessica M. Body image among gay, lesbian, and bisexual individuals. In: CASH, Thomas F. (ed.). Encyclopedia of body image and human appearance. London: Academic Press, 2012. p. 103-107. ; WATSON; LEWIS; MOODY, 2019). A variedade de dimensões e formas corporais e as diferentes maneiras de existir e se expressar corporalmente são ignoradas em prol de determinados padrões aceitos socialmente. A literatura evidencia que minorias sexuais, de gênero e étnico-raciais, por exemplo, são vulneráveis ao desenvolvimento de transtornos de imagem corporal (GONZALES IV; BASHILL, 2021; ROMITO et al., 2021ROMITO, Madelaine et al. Exploring transgender adolescents’ body image concerns and disordered eating: semi-structured interviews with nine gender minority youth. Body Image, Amsterdam, v. 37, p. 50-62, 2021. ; STANTON et al., 2022STANTON, Alexis G. et al. Black women’s experiences of gendered racial sexual objectification, body image, and depressive symptoms. Body Image, Amsterdam, v. 41, p. 443-452, 2022. ). Por isso, é central que, ao abordar a imagem corporal no contexto escolar, sejam consideradas as mais diversas formas de existência e suas respectivas culturalidades.

No contexto da licenciatura em educação física, essa questão é particularmente importante. Considerando que estes universitários serão futuros professores que atuarão a partir das práticas corporais na educação básica, torna-se essencial a realização de investigações sobre imagem corporal e, particularmente, sobre a forma como este grupo constrói o conhecimento no campo da imagem corporal (BAILEY; GAMMAGE; VAN INGEN, 2017; MEDEIROS et al., 2020MEDEIROS, Aline de Souza Furtado et al. Promovendo diálogos sobre imagem corporal com futuros professores de Educação Física. Motrivivência, Florianópolis, v. 32, n. 63, p. 1-18, 2020. ). No estudo de Medeiros et al. (2020)MEDEIROS, Aline de Souza Furtado et al. Promovendo diálogos sobre imagem corporal com futuros professores de Educação Física. Motrivivência, Florianópolis, v. 32, n. 63, p. 1-18, 2020. , foi identificado que universitários do curso de educação física, antes de um programa formativo sobre imagem corporal, demonstraram ter concepções sobre este tema que pouco dialogavam com a literatura acadêmica, assim como insegurança em abordar o assunto no contexto escolar. Outrossim, professores de educação física evidenciaram ter dificuldade em abordar temas relacionados à imagem corporal na escola ( RUSSELL-MAYHEW et al., 2015RUSSELL-MAYHEW, Shelly et al. Pilot testing a professional development model for preservice teachers in the area of health and weight: feasibility, utility, and efficacy. Advances in School Mental Health Promotion, Stafford, v. 8, n. 3, p. 176-186, 2015. ).

Professores de educação física devem ter conhecimento e apropriação de conceitos de imagem corporal durante sua formação, de modo a viabilizar possibilidades de intervir na educação básica com práticas pedagógicas assertivas e consistentes ( TAVARES, 2003TAVARES, Maria da Consolação Gomes Cunha Fernandes. Imagem corporal: conceito e desenvolvimento. Barueri: Manole, 2003. ; YAGER et al., 2013YAGER, Zali et al. What works in secondary schools? A systematic review of classroom-based body image programs. Body Image, Amsterdam, v. 10, n. 3, p. 271-281, 2013. ).

Este estudo objetivou compreender as percepções sobre imagem corporal de graduandos do curso de licenciatura em educação física de uma universidade pública do Rio de Janeiro, com enfoque em como eles constroem e problematizam o conceito de imagem corporal e suas aplicações na educação básica.

Métodos

Aspectos éticos

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), cujo protocolo n.º 23083.028616/2019-96 foi gerado para meios de comprovação. Todos os participantes consentiram com a participação no estudo por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

Modelo de estudo

Esta pesquisa possui abordagem qualitativa e descritiva, de caráter transversal. Pesquisas qualitativas se tornam mais adequadas e necessárias quando, segundo Liamputtong (2016)LIAMPUTTONG, Pranee. The science of words and the science of numbers: research methods as foundations for evidence-based practice in health. In: LIAMPUTTONG, Pranee (ed.). Research methods in health: foundations for evidence-based practice. 2. ed. South Melbourne: Oxford University Press, 2016. p. 3-23. , o estudo se associa a questões de “como e/ou porque”, assim como quando existe uma escassez na literatura quanto ao conteúdo em questão e há a necessidade de se examinar fenômenos sobre os quais se tenta gerar uma teoria. Pesquisas descritivas objetivam enunciar fenômenos existentes em uma determinada população ( BARROS; LEHFELD, 2007BARROS, Aidil Jesus da Silveira; LEHFELD, Neide Aparecida de Souza. Fundamentos de metodologia científica. 3. ed. São Paulo: Pearson, 2007. ). Já a pesquisa do tipo transversal configura a coleta de dados em curto espaço de tempo, sem o estabelecimento de uma relação causal (THOMAS; NELSON; SILVERMAN, 2012).

Neste sentido, a utilização de grupos focais se torna adequada, uma vez que se trata de um método de coleta de dados gerado a partir de interações grupais ( GONDIM, 2003GONDIM, Sônia Maria Guedes. Grupos focais como técnica de investigação qualitativa: desafios metodológicos. Paidéia, Ribeirão Preto, v. 12, n. 24, p. 149-161, 2003. ; SOUZA, 2020SOUZA, Luciana Karine de. Recomendações para a realização de grupos focais na pesquisa qualitativa. Psi Unisc, Santa Cruz do Sul, v. 4, n. 1, p. 52-66, 2020. ). A intersubjetividade dos participantes permite que concepções sobre um determinado tema, em especial a imagem corporal, possam ser amplamente debatidas e compreendidas ( SOUZA, 2020SOUZA, Luciana Karine de. Recomendações para a realização de grupos focais na pesquisa qualitativa. Psi Unisc, Santa Cruz do Sul, v. 4, n. 1, p. 52-66, 2020. ; TRAD, 2009TRAD, Leny A. Bomfim. Grupos focais: conceitos, procedimentos e reflexões baseadas em experiências com o uso da técnica em pesquisas de saúde. Physis, Rio de Janeiro, v. 19, n. 3, p. 777-796, 2009. ).

Participantes

Participaram desta pesquisa discentes concluintes devidamente matriculados no curso de licenciatura em educação física da UFRRJ, de ambos os sexos, na faixa etária entre 22 e 40 anos. Como critério de seleção dos participantes, foram incluídos os discentes com status de concluinte (mínimo de 85% do curso integralizado) segundo o sistema acadêmico da universidade e aqueles que despojassem de adequado acesso à internet para as sessões de grupo focal on-line . Foram excluídos os discentes que não compareceram às reuniões dos grupos focais nos dias agendados previamente e não entregaram o TCLE assinado.

Procedimentos

Após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da UFRRJ e da assinatura do termo de anuência do chefe do Departamento de Educação Física e Desportos da instituição, o primeiro autor deste texto, com o suporte da coordenação do curso de Licenciatura em Educação Física, selecionou os graduandos que atendessem aos critérios de inclusão deste estudo.

O primeiro contato com os participantes foi feito através de convite disponibilizado por e-mail. Aqueles que aceitaram participar do estudo e responderam positivamente ao e-mail foram selecionados. A partir disso, formaram-se quatro grupos diferentes: dois masculinos e dois femininos, de 7 a 10 participantes em cada grupo, totalizando 31 universitários (16 homens e 15 mulheres). Os dias e horários para realização dos grupos focais on-line foram previamente decididos de maneira coletiva. No dia anterior à sessão agendada para a realização do grupo focal, cada participante fora individualmente contatado pelo responsável do estudo, de modo que fossem relembrados do compromisso agendado no dia seguinte. Momentos antes do início dos grupos focais, os participantes preencheram o questionário sociodemográfico e o TCLE disponibilizados por link do Google Forms .

Importante destacar que os grupos foram separados por sexo com base em recomendações da literatura considerando o objeto central deste estudo, a imagem corporal. Alguns autores ( CASH; SMOLAK, 2012CASH, Thomas F.; SMOLAK, Linda (ed.). Body image: a handbook of science, practice and prevention. 2. ed. New York: Guilford Press, 2012. ) destacam que os interesses e ideais corporais de homens e mulheres são distintos, assim como os processos de construção de sua imagem corporal, que costumam perpassar por trajetórias diferentes. Ao se tratar de uma temática relativamente sensível, uma vez que as percepções dos(as) participantes sobre o construto imagem corporal são também reflexos de sua trajetória de vida e de suas experiências corporais, foi importante a separação por sexo para que tanto os homens quanto as mulheres se sentissem mais confortáveis e à vontade para expor a intersubjetividade necessária contemplada em um grupo focal. Além disso, considerando os objetivos desta pesquisa, foi importante que os grupos se dispusessem dessa forma para que se aprofundassem em cada tópico específico de seus interesses. Apesar de a heterogeneidade ser importante em grupos focais, pois as diferentes concepções permitem uma abordagem ampla e detalhada do tema, é necessário também um grau de homogeneidade em cada grupo, de maneira que cada participação seja significativa ( TRAD, 2009TRAD, Leny A. Bomfim. Grupos focais: conceitos, procedimentos e reflexões baseadas em experiências com o uso da técnica em pesquisas de saúde. Physis, Rio de Janeiro, v. 19, n. 3, p. 777-796, 2009. ).

Os grupos focais on-line ocorreram através da plataforma virtual Google Meet . Essa ferramenta se mostra adequada, pois permite que o anfitrião (pesquisador) grave em vídeo e áudio o encontro na íntegra, sendo esta gravação armazenada para visualização futura, de modo a permitir a análise cuidadosa do conteúdo. Para além disso, a ferramenta é compatível com os mais diversos softwares , como: notebooks, smartphones, tablets, entre outros. Essa estratégia de coleta de dados on-line foi particularmente importante, porque essa etapa aconteceu no segundo semestre de 2020, momento em que medidas de isolamento social vigoravam no Brasil e no mundo em virtude da pandemia da covid-19, sendo esta a única possibilidade de realização de pesquisas dessa natureza durante o período. Destaca-se ainda que estratégias de coletas de dados on-line já foram descritas anteriormente (FIELDING; LEE; BLANK, 2008).

No início das sessões dos grupos focais on-line , aos participantes foi solicitada a autorização para a gravação. Após o consentimento, os grupos tiveram seu início. O total de tempo contabilizado a partir das quatro sessões foi de 396 minutos (6 horas e 36 minutos). As sessões tiveram em média 99 minutos cada (1h39min; DP=±22min), iniciando sua contagem na introdução e cessando ao final do sumário.

Após cada sessão, para que nenhum detalhe fosse perdido, os pesquisadores responsáveis (coordenador, moderador, observador e anotador) se reuniram para relatar suas impressões acerca de diferentes aspectos do grupo focal, como interação, silêncio, postura, anotações e observações de maneira geral. Todas as sessões dos grupos focais foram transcritas na íntegra e encaminhadas para análise.

Instrumentos

Guia moderador – Instrumento criado para este estudo pelo autor principal, com perguntas e questões que direcionaram e orientaram toda a discussão do grupo focal on-line . Idealizado por Morgado, Campana e Tavares (2012), o guia moderador é avaliado como um instrumento fundamental a todo grupo focal. Para tanto, este é estruturado em cinco tópicos: introdução (consiste nas falas iniciais do moderador, explicação da pesquisa e dinâmica para quebrar o gelo), parte principal, seção detalhada, parte-chave e sumário (encerramento da sessão, neste momento os participantes puderam retomar ou inserir qualquer assunto a respeito de tudo o que já havia sido dialogado anteriormente, sendo relembrados de seus anonimatos e do direito de sair da pesquisa a qualquer momento, e agradecimentos). Como exemplos de questões, citam-se: “O que é imagem corporal? Como vocês acreditam que ela é construída?”, “Quando se inicia a imagem corporal para vocês?” e “Que influências vocês acreditam que existam e que podem impactar a imagem corporal?”.

Questionário sociodemográfico – Instrumento desenvolvido para este estudo com o objetivo de coletar dados que contextualizaram e auxiliaram a interpretação dos resultados encontrados. Esse tipo de instrumento é o que apresenta maior prevalência em pesquisas do tipo descritivo (THOMAS; NELSON; SILVERMAN, 2012) e apresenta informações como: sexo, idade, período atual em curso, porcentagem de integralização do curso, participação em eventos científicos cuja imagem corporal fora temática principal, participação em atividade de estágio supervisionado etc.

Análise de dados

Os dados foram analisados a partir da análise de conteúdo na perspectiva de Bardin (2016)BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2016. . Definida como um conjunto de análises das comunicações, nesta pesquisa foi utilizada especificamente a análise categorial ( BARDIN, 2016BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2016. ). A formação das categorias se deu através do procedimento de acervo, no qual foram analisados os dados e, a partir deles, foram criados temas que orientaram a discussão ( BARDIN, 2016BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2016. ), apropriados para identificar e compreender de fato como jovens universitários entendem a imagem corporal.

Para que essas categorias fossem consideradas relevantes, foram compostas de algumas qualidades consideradas neste estudo, como: exclusão mútua, homogeneidade, pertinência, objetividade e produtividade ( BARDIN, 2016BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2016. ).

Todos os participantes foram codificados a fim de que o anonimato fosse garantido. As numerações cuja letra inicial é “H” significa que aquele participante é homem, da mesma forma, todas as numerações cuja letra inicial é “M” significa que a participante é mulher, e a letra “P” refere-se ao moderador.

Resultados

Esta pesquisa contou com a participação de 31 graduandos do curso de licenciatura em educação física de uma universidade federal do Rio de Janeiro. A média de idade foi de 24,6 anos (DP=±3,4). A média de porcentagem de integralização do curso foi de 87,5%. O período médio que os sujeitos se encontravam na universidade estava entre o nono e o décimo períodos, e 100% da amostra já havia realizado pelo menos um estágio supervisionado obrigatório. Apenas 9,5% dos participantes reportaram ter realizado atividades acadêmicas nas quais a imagem corporal era o conteúdo principal da intervenção. Outros dados sociodemográficos podem ser visualizados na Tabela 1 .

Tabela 1
– Dados sociodemográficos dos participantes

Em relação ao conteúdo das sessões dos grupos focais, cinco categorias emergiram, quais sejam: (1) Definições e conceitos sobre imagem corporal – agrupa relatos dos universitários na tentativa de definir e problematizar o conceito da imagem corporal; (2) Conhecimento sobre quando se inicia e quando cessa o desenvolvimento da imagem corporal – configura as percepções dos universitários a respeito de quando emergem e quando cessam as questões relacionadas à imagem corporal no âmbito do desenvolvimento humano; (3) Aspectos influenciadores da imagem corporal – configura questões existentes na fala dos participantes a respeito dos aspectos socioculturais que influenciam o desenvolvimento da imagem corporal; (4) Diferenças entre a imagem corporal de homens e mulheres – agrupa aspectos que diferenciam a imagem corporal entre os sexos, a intensidade de seus aspectos negativos e a pressão social; (5) Imagem corporal, formação e atuação na educação básica – reúne elementos que contextualizam a formação universitária no curso de licenciatura em educação física, bem como a atuação profissional no contexto educacional.

A seguir, a Figura 1 ilustra a geração das categorias destacadas anteriormente.

Figura 1
- Geração de categorias e temas

Discussão

A discussão deste estudo é estruturada de acordo com a formulação das categorias, como segue:

Definições e conceitos sobre imagem corporal

Os participantes deste estudo, ao definirem e conceituarem a imagem corporal, evidenciaram uma disparidade de opiniões. Entretanto, na maioria dos relatos (81%), as percepções voltaram-se a uma perspectiva limitada ao corpo físico e estético, aos aspectos negativos e à maneira como a sociedade é importante para a formação da sua imagem corporal. Nessa perspectiva limitada do corpo, a imagem corporal foi concebida como resultado de um estímulo visual, em detrimento de uma concepção integrada do corpo, proveniente dos mais variados estímulos perceptivos. As referidas percepções podem ser identificadas nos seguintes relatos: “Acho que imagem corporal é basicamente o conceito que todo mundo falou né, como ele se enxerga […] que é esse conceito de imagem corporal, de um corpo bonito né, visualmente magro […]” (H5); e “Como se fosse nosso reflexo no espelho também, aquela imagem que reflete […]” (M12).

Tais relatos se distanciam daquilo que é difundido na literatura acerca de uma teoria da imagem corporal complexa e multifacetada. Assim, apesar de o estímulo visual ser de fato importante para a obtenção de referências do corpo em pessoas videntes, tal estímulo não passa apenas de mais uma forma de constituir, desenvolver e ressignificar a identidade corporal (FERREIRA; CASTRO; MORGADO, 2014; SCHILDER, 1981SCHILDER, Paul. A imagem do corpo: as energias construtivas da psique. São Paulo: Martins Fontes, 1981. ). No processo de desenvolvimento da imagem corporal, as mais diversas experiências corporais são fatores que contribuem para a compreensão de si mesmo ( TAVARES, 2003TAVARES, Maria da Consolação Gomes Cunha Fernandes. Imagem corporal: conceito e desenvolvimento. Barueri: Manole, 2003. ). Resultados semelhantes aos nossos foram encontrados no estudo de Medeiros et al. (2020)MEDEIROS, Aline de Souza Furtado et al. Promovendo diálogos sobre imagem corporal com futuros professores de Educação Física. Motrivivência, Florianópolis, v. 32, n. 63, p. 1-18, 2020. , no qual se observou que universitários do curso de educação física, antes de uma intervenção formativa, apresentaram percepções pouco atreladas à literatura científica a respeito do conceito de imagem corporal.

Em complemento, no decorrer das falas dos participantes, foi possível observar tendência argumentativa de que a imagem corporal por si só era negativa, que foi explicitamente citada em: “[imagem corporal] me vem à cabeça estética, aparência e problemas com o corpo” (H12).

As pessoas falam mais sobre imagem corporal quando alguma coisa a incomoda, né?! Então, eu penso mais ou menos dessa forma, tipo é obesidade, discriminação e até mesmo, não sei assim qual seria a outra palavra exatamente, assim, como se fosse um, um trauma, ou uma limitação, bloqueio… (H10).

Um exemplo claro é o cabelo, assim, para mulher, né?! O cabelo que eu tenho, o cabelo curto e como eu sou vista na sociedade só por ter um cabelo curto é o que é atribuído a mim. Isso é um exemplo que eu tenho muito claro da minha realidade de imagem corporal e isso me afeta. (M2).

Tais percepções acerca do construto evidenciam de maneira preocupante como esses universitários enxergam o conceito de imagem corporal, uma vez que concluem e adotam alguns princípios negativos a respeito dessa questão como verdade, podendo internalizar padrões inalcançáveis do que é um corpo belo e perfeito. Stice, Becker e Yokum (2013) apontam que a internalização de ideais de beleza propagados na sociedade pode gerar percepções e questões atitudinais negativas para com o próprio corpo, o que provoca a reflexão acerca do tipo de atuação que este futuro professor terá no ambiente escolar, já que as nossas percepções sobre o nosso corpo influenciam a forma de o outro ver seu corpo.

Outro aspecto que chamou atenção foi a maneira como a sociedade foi incluída na definição do construto como um fator que não só o influencia, mas que o compõe, como se vê no diálogo: “Aí eu concordo com o que o H13 falou, eu acho que [a imagem corporal] é como você se vê, mas reflete um pouco no que as pessoas falam sobre você também né […]” (H10); e “Pode ser também a forma como o outro te vê […]” (M12).

Apesar de Schilder (1981)SCHILDER, Paul. A imagem do corpo: as energias construtivas da psique. São Paulo: Martins Fontes, 1981. destacar a importância das inter-relações da imagem corporal na construção da representação mental do corpo quando cita os aspectos sociais, ele também ressalta como este construto é individual, subjetivo e está ligado à identidade do sujeito. Neste sentido, a imagem corporal está imersa em um contexto social em que há uma troca contínua e dinâmica entre a imagem corporal do sujeito e a imagem corporal do outro ( SCHILDER, 1981SCHILDER, Paul. A imagem do corpo: as energias construtivas da psique. São Paulo: Martins Fontes, 1981. ). Entretanto, a estruturação e a expressão da imagem corporal de um indivíduo não são explicadas pela imagem corporal de outrem, pois essa relação é líquida e suas apreensões são distintas ( TAVARES, 2003TAVARES, Maria da Consolação Gomes Cunha Fernandes. Imagem corporal: conceito e desenvolvimento. Barueri: Manole, 2003. ). A imagem corporal é o resultado das interações do corpo com o mundo, no qual a realidade é interpretada por cada um de maneira diferente. Portanto, a imagem corporal é característica do indivíduo que construiu, é subjetiva, identitária e individual.

Na esteira desta questão, vale destacar que uma pequena parcela (19%) dos participantes conectou o conceito de imagem corporal a mais de uma dimensão, como evidenciado nas falas: “E hoje você entende que seu corpo é a sua história, é aquilo que você viveu, é aquilo que você passou, é aquilo que você tem construído” (M3); e “A imagem corporal é como a gente se vê, mas eu acho, também, como a pessoa se sente em relação a isso” (H1). Tais apontamentos vão na direção contrária da maioria dos relatos acerca das percepções da imagem corporal, vinculadas à aparência corporal subjugada aos ideais de beleza atuais, demonstrando, ainda que minimamente, a perspectiva multidimensional da imagem corporal ( SCHILDER, 1981SCHILDER, Paul. A imagem do corpo: as energias construtivas da psique. São Paulo: Martins Fontes, 1981. ).

Assim, ao analisarmos as percepções acerca da imagem corporal apresentadas nesta categoria, destaca-se, além da disparidade de definições, que a maior parte dos relatos esteve vinculada a uma concepção unidimensional do construto. Por isso, é importante a preocupação em se abordar a imagem corporal como componente curricular do ensino superior, a fim de que graduandos de educação física possam construir o conhecimento a respeito do assunto e entender as múltiplas facetas existentes, sejam biológica, psicológica, social ou cultural, sejam como as marcas de seu desenvolvimento ao longo da vida, no que tange aos aspectos perceptivos e atitudinais em dimensões positivas, com seus filtros cognitivos e respeito com o próprio corpo, e/ou negativas, com acurácia, disfunção e transtornos correlacionados, de modo a possibilitar futuras intervenções assertivas e consistentes.

Conhecimentos sobre quando se inicia e quando cessa o desenvolvimento da imagem corporal

Ao serem estimulados a falar sobre quando a imagem corporal se inicia e quando cessa, os participantes relacionaram novamente o construto ao aspecto negativo, característica que já havia aparecido na categoria de definições e conceitos. A partir dessa concepção, dividiram-se entre aqueles que acreditam que a imagem corporal se inicia no ambiente escolar (64%) e aqueles que acreditam que se iniciar no ambiente familiar (36%). Todos concordaram que a imagem corporal se inicia na infância e que cessa apenas com o fim da vida.

As falas dos participantes a seguir ilustram como pensam aqueles que acreditam que a imagem corporal se inicia especificamente no ambiente escolar: “Eu acho que ela começa na escola, nos primeiros contatos sociais externos da família. Quando você é muito novo, você começa a ser julgado pela sua imagem, pela sua aparência, pelo que você usa […]” (H12); e “Eu ia falar que também na escola, eu tava aqui refletindo que até mesmo na própria educação infantil […]” (M16). Em contrapartida às afirmações anteriores, 36% dos participantes relataram acreditar que a imagem corporal se inicia a partir da interação familiar: “Acho que isso [desenvolvimento da imagem corporal] inicia na infância mesmo, na própria educação dos pais […]” (H10); e “Eu queria falar que eu acredito que isso [desenvolvimento da imagem corporal] não começa na escola e começa às vezes dentro de casa […]” (M12).

Segundo Tavares (2003)TAVARES, Maria da Consolação Gomes Cunha Fernandes. Imagem corporal: conceito e desenvolvimento. Barueri: Manole, 2003. , dentro dos estágios de desenvolvimento da imagem corporal, a primeira fase se relaciona às primeiras vivências do bebê. Em seus primeiros meses de vida, a mãe tem a função, dentre tantas outras, de permitir que o bebê exista corporalmente em plenitude e, ao passar por determinadas tribulações, o ajuda a superar a fome, a sede, o frio etc. As percepções desses desafios superados, ou não, têm como consequência marcas positivas ou negativas que serão fundamentais em outras fases essenciais ao desenvolvimento da imagem corporal. Neste sentido, aponta Tavares (2003)TAVARES, Maria da Consolação Gomes Cunha Fernandes. Imagem corporal: conceito e desenvolvimento. Barueri: Manole, 2003. , o início do desenvolvimento da imagem corporal ocorre desde o nascimento, durante as primeiras e singulares experiências corporais do bebê, portanto, antes da fase da infância referida no relato dos participantes. Assim, é possível identificar a discrepância entre o reportado por eles e a literatura da área, o que pode ser justificada pela falta de debates e leituras na formação acadêmica dos universitários em questão.

A respeito de quando a imagem corporal conclui seu ciclo, os participantes afirmaram que ela “só termina na morte […]” (H17) e que “não para, nunca para, enquanto houver vida, vai continuar tendo informações sobre nossa imagem corporal” (M3). Tal compreensão conduz ao dinamismo inerente à imagem corporal, assim, qualquer mudança, seja positiva, seja negativa, retrata seu desenvolvimento constante de (re)significação do eu corporal (NEVES; HIRATA; TAVARES, 2015).

Em síntese, na categoria de conhecimento sobre quando se inicia e quando cessa a imagem corporal, os participantes percebem que a imagem corporal se inicia em um momento diferente do que a literatura relata. Entretanto, ao se referirem ao seu fim, os sujeitos vão ao encontro do que é estabelecido. Após o conhecimento dessa questão, vale a pena identificar como os participantes reconhecem os aspectos influenciadores da imagem corporal.

Aspectos influenciadores da imagem corporal

Na categoria dos aspectos influenciadores da imagem corporal, os participantes mencionaram os pais, os pares e a mídia (55%), a comparação social (32%) e a desejabilidade social (13%) como principais fatores que impactam o modo como as pessoas se veem.

A teoria sociocultural da imagem corporal discorre acerca da importância de agentes na aceitação dos ideais de beleza estabelecidos socialmente (THOMPSON; SCHAEFER; MENZEL, 2012). Esses agentes sociais (pais, pares e mídia) influenciam o desenvolvimento de aspectos negativos da imagem corporal através de dois mecanismos: internalização do ideal de beleza e comparação social (THOMPSON; SCHAEFER; MENZEL, 2012). Similar a esta teoria, os participantes percebem os aspectos influenciadores da imagem corporal como: “É a mídia, como a mídia transmite esse conceito de corpo perfeito, que a gente enxerga. Então, a gente vê no ambiente escolar, as crianças que veem jogadores de futebol, algum atleta ou até o próprio desenho de um personagem […]” (H7).

Além da mídia, os pais também foram explicitados:

Eu lembro que uma pessoa da minha família que falava o tempo todo para mim: “você vai engordar, você vai engordar, você vai engordar”; e sempre que falava isso ia me atingindo de uma forma que foi passando um tempo e eu comecei a ter sérios problemas em relação a bulimia por causa disso […]. (M1).

Em complemento, os pares também foram relatados pelos participantes, como segue: “Eu acho que essa realidade que a gente cria para gente, que a gente acaba criando uma percepção de mundo, é tudo à nossa volta, do que as pessoas estão falando, essas pessoas são as pessoas as quais a gente tem mais contato também” (M7).

Em consonância com o princípio sociocultural, a teoria da comparação social postula uma avaliação corporal a partir da percepção do outro e, ao julgá-lo, busca definir sua própria aparência ( SCHAEFER; THOMPSON, 2014SCHAEFER, Lauren M.; THOMPSON, Joel Kevin. The development and validation of the Physical Appearance Comparison Scale-Revised (PACS-R). Eating Behaviors, New York, v. 15, n. 2, p. 209-217, 2014. ). O participante H16 vai ao encontro dessa teoria quando diz:

Aqui em casa, todo mundo é barrigudinho, tem a “pancinha” e tal. Eu consigo andar na minha casa, por exemplo, sem camisa, tranquilo, mas aqui, por onde eu moro, a maioria da população, pelo menos dos homens da minha idade, a maioria é magra, e eu já fico receoso de, por exemplo, andar sem camisa. Então, eu acredito que também depende do lugar que você tá, o meio, o lugar social das pessoas que você convive. (H16).

Assim como o comparar-se com o outro a partir de um ideal de beleza muitas vezes inalcançável, a insegurança em se sentir pertencente a um grupo social foi outro aspecto mencionado:

Ouvindo, assim, o que a galera está falando, eu acho que vai muito do sentimento de pertencer a um determinado grupo, um determinado local […]. As pessoas que consomem aquele determinado tipo de conteúdo, elas sentem o desejo de pertencer àquele tipo de grupo, a gente tenta fazer coisas que não estão ao nosso alcance para se sentir parte de um grupo, e muitas vezes o que a gente vê nem é de fato verdade. (H15).

O desejo de pertencimento a um grupo social é um aspecto já descrito enquanto processo de adaptação do jovem universitário a este novo ambiente, em que novas influências sociais podem gerar aspectos negativos da imagem corporal ( CHIN et al., 2020CHIN, Yit Siew et al. Comparison of factors associated with disordered eating between male and female Malaysian university students. Nutrients, Basel, v. 12, n. 2, p. 318, 2020. ; FERREIRA; CASTRO; MORGADO, 2014; HOSSAIN et al., 2020HOSSAIN, Sahadat et al. Self-perception of physical health conditions and its association with depression and anxiety among Bangladeshi university students. Journal of Affective Disorders, Amsterdam, v. 263, p. 282-288, 2020. ; HOWARD; ROMANO; HERON, 2020; MARQUIS et al., 2019MARQUIS, Marie et al. Exploring the environmental, personal and behavioural factors as determinants for university students’ food behaviour. International Journal of Consumer Studies, Oxford, v. 43, n. 1, p. 113-122, 2019. ). Os pais, os pares e a mídia, a comparação social e o desejo de pertencimento a um grupo social apareceram neste estudo como aspectos importantes reportados pelos participantes como influenciadores no desenvolvimento da imagem corporal. Entretanto, os ideais de beleza, assim como a intensidade de internalizações desses ideais, podem diferir entre homens e mulheres ( SCHAEFER et al., 2015SCHAEFER, Lauren M. et al. Development and validation of the Sociocultural Attitudes Towards Appearance Questionnaire-4 (SATAQ-4). Psychological Assessment, Washington, DC, v. 27, n. 1, p. 54-67, 2015. ).

Diferença entre a imagem corporal de homens e mulheres

Ao descreverem a imagem corporal e as particularidades do homem e da mulher, os participantes deste estudo reportaram diferentes questões que merecem ser destacadas. As pressões sociais foram percebidas como mais intensificadas no relato das mulheres (81%), apesar de os homens também relatarem sofrer essas mesmas pressões (19%). Uma fala representativa da percepção da maior pressão sofrida por mulheres pode ser vista a seguir:

Temos muitas variáveis em relação a gênero e sexualidade, mas, na grande maioria que a gente vê, os meninos são influenciados a estarem mais próximos dos esportes e dos atletas, futebol e tudo mais. As meninas é um corpo escultural mesmo, as meninas querem um corpo bonito, mas elas têm que tomar cuidado também porque tem que ser um corpo bonito, mas não pode ser vulgar, então, existem algumas variáveis maiores por questões mais, né, dessa cultura machista que tem sobre o corpo da mulher […] para as mulheres, existe um pouco mais de peso na hora dessa pressão né. (H5)

A fala do participante H5 descreve brevemente, a partir de suas experiências, padrões de beleza socialmente estabelecidos para homens e mulheres. Segundo a literatura (FERREIRA; CASTRO; MORGADO, 2014), os corpos ideais socialmente impostos para os homens são aqueles ligados a baixos percentuais de gordura e altos índices de massa muscular, principalmente no tronco e nos membros superiores. Nesta mesma direção, além de as mulheres estarem ligadas a um ideal corporal, elas necessitam incluir questões como maquiagem, unha, cabelo, modo de se vestir e a forma como a sociedade julga isso ( CHIN et al., 2020CHIN, Yit Siew et al. Comparison of factors associated with disordered eating between male and female Malaysian university students. Nutrients, Basel, v. 12, n. 2, p. 318, 2020. ; FERREIRA; CASTRO; MORGADO, 2014; HOSSAIN et al., 2020HOSSAIN, Sahadat et al. Self-perception of physical health conditions and its association with depression and anxiety among Bangladeshi university students. Journal of Affective Disorders, Amsterdam, v. 263, p. 282-288, 2020. ; MARQUIS et al., 2019MARQUIS, Marie et al. Exploring the environmental, personal and behavioural factors as determinants for university students’ food behaviour. International Journal of Consumer Studies, Oxford, v. 43, n. 1, p. 113-122, 2019. ).

Outra importante questão que emergiu nessa categoria se refere à objetificação do corpo da mulher, presente em 19% dos relatos dos participantes. A teoria da objetificação da imagem corporal se volta para como uma sociedade machista naturalmente emprega sobre o corpo da mulher imposições socioculturais do ideal de beleza, avaliações comportamentais e possíveis objetificações, até mesmo sexuais, deste corpo, o que pode trazer, a partir da internalização desse ideal, consequências negativas para a imagem corporal ( CALOGERO et al., 2017CALOGERO, Rachel M. et al. Trappings of femininity: a test of the “beauty as currency” hypothesis in shaping college women’s gender activism. Body Image, Amsterdam, v. 21, p. 66-70, 2017. ; FREDRICKSON et al., 2011FREDRICKSON, Barbara Lee et al. Bringing back the body: a retrospective on the development of objectification theory. Psychology of Women Quarterly, New York, v. 35, n. 4, p. 689-696, 2011. ). A objetificação do corpo da mulher presente nas falas dos participantes pode ser exemplificada em:

Quando um pai machista cria um filho ou uma filha, então, tende a ele reproduzir ações do pai ou da mãe que sejam machistas. Então, vendo a sociedade de uma maneira geral, e aí estou generalizando mesmo, objetifica o corpo da mulher. Então, acho que essa pressão no psicológico das meninas é um “bocado” maior do que no psicológico dos meninos […]. (H2).

Eu já estive no salão de academia do dono virar para mim e falar que eu tenho que sorrir mais porque no salão da academia eu sou a carinha bonitinha e tenho que ficar no salão sorrindo, entendeu? Enquanto o cara não, o cara tinha que ficar mais sério, como eu era a menina bonitinha, eu e a outra menina né, a gente tinha que ficar sorrindo. E questões de comportamento também: você é mulher, não pode falar dessa forma, você tem que agir assim, você tem que sentar assim, você tem que que estar de vestido assim, você tem que estar com cabelo sempre arrumadinho, sabe? Essas palhaçadas, assim, até uma blusa, se você for malhar sem blusa, só com top, já é mais sensualizado do que o homem sem camisa. (F7).

Apesar de esse aspecto cultural intensificar a pressão, no sexo feminino, para sua adequação a padrões de beleza e de comportamento, os homens demonstraram também sofrer pressões sociais e dificuldade para externalizar seus sentimentos. Em razão disso, parecem criar mecanismos de atenuação dessas pressões, como expresso na fala do participante H15:

Vou dar um exemplo bem claro, a gente percebe muitos caras assim no bar, tomando uma cerveja e coisa e tal, sem camisa. Aí, eles mesmos se zoam… um zoou o outro. Mas, por mais que por dentro ele se sinta mal, ele não externa isso, por quê? Pelo menos na minha criação, a gente é criado desde pequeno dizendo que o homem não pode externar dizendo que tá mal, não pode internar que tá triste, tem que estar sempre bem, sempre feliz, sempre firme. E, aí, o cara tá barrigudo também, ele vai levar na brincadeira, ele vai levar na zoeira. Então, uma mulher demonstra muito mais insatisfação com seu corpo do que o homem.

Os apontamentos trazidos por H15 confirmam o alinhamento entre a dificuldade do homem em expressar questões, problemas e insatisfações e a fraqueza e perda da masculinidade ( GATTARIO; FRISÉN, 2019GATTARIO, Kristina Holmqvist.; FRISÉN, Ann. From negative to positive body image: men’s and women’s journeys from early adolescence to emerging adulthood. Body Image, Amsterdam, v. 28, p. 53-65, 2019. ; O’GORMAN; SHEFFIELD; GRIFFITHS, 2019; TAMPLIN; MCLEAN; PAXTON, 2018).

Diante do discutido, é perceptível que as falas apresentadas evidenciam diferenças na percepção de conceitos relacionados à imagem corporal entre participantes homens e mulheres. Os participantes relataram perceber que as mulheres sofrem pressões não só no que consiste ao aspecto estético do corpo, mas também à maneira de se vestir e comportar. Entretanto, 25% dos homens concordaram que também sofrem pressões quanto ao atendimento dos ideais de beleza, que possuem dificuldade de enfrentá-las e, por isso, criam meios de atenuá-las. Em suma, o fato de ambos os grupos apresentarem este cenário evidencia a importância de que estes futuros professores conheçam o construto imagem corporal e seu desenvolvimento ao longo da vida, principalmente no seu ambiente de atuação, ou seja, o ambiente escolar ( NEVES et al., 2017NEVES, Clara Mockedece et al. Imagem corporal na infância: uma revisão integrativa da literatura. Revista Paulista de Pediatria, São Paulo, v. 35, n. 3, p. 331-339, 2017. ).

Imagem corporal, formação e atuação na educação básica

Nesta categoria, ocorreram falas que descrevem o contexto de formação destes universitários, assim como o acesso às teorias de imagem corporal, o desconhecimento percebido acerca do construto, possíveis benefícios do acesso à temática e implicações enquanto futuros professores da educação básica.

Ao discorrerem acerca da temática no contexto de formação universitária no curso de licenciatura em educação física, os participantes relataram que, apesar de terem tido acesso ao conteúdo sobre imagem corporal em momentos específicos da formação (a exemplo de algumas disciplinas e atividades acadêmicas cursadas, tais como Dança I, Metodologia da Consciência Corporal, Investigação Científica em Educação Física e Núcleo de Ensino, Pesquisa e Extensão – corpo, cultura e sociedade), nenhum componente curricular tinha como temática central a imagem corporal ou utilizava especificamente a literatura da área para substanciar sua formação. A fala do participante H5 exemplifica essa percepção, que também esteve presente na fala de 25% dos participantes: “É, eu acho que a gente viu [o conteúdo de imagem corporal] em algumas matérias, por exemplo, a gente viu na Dança, Corpo, Cultura e Sociedade, mas nenhuma matéria parou para explicar o que é imagem corporal, para a gente ter um conhecimento aprofundado”.

Ao analisarmos essa fala e a maneira como ela se repete, é possível inferir que os participantes desta pesquisa entendem estas ofertas indiretas do conteúdo de imagem corporal como insuficientes para a formação e atuação profissional. É possível que os participantes tenham a sensação de desconhecimento no que diz respeito à abordagem específica da temática da imagem corporal, tendo em vista que esse conteúdo foi pouco abordado nas disciplinas mencionada. Em complemento, 75% dos participantes evidenciaram que não tiveram contato com o construto: “Eu também não vi nenhuma disciplina, na verdade, o que me foi exposto de imagem corporal foi, foram trabalhos, os projetos de investigação […]” (M9); e “Eu não me lembro de ter tido [o conteúdo de imagem corporal na universidade], de verdade, não me lembro não, não tive nenhum pensando agora, não, não tive” (M5).

O fato de os participantes relatarem que não tiveram uma disciplina ou conteúdo específico de imagem corporal se apresenta de maneira alarmante. O curso de educação física, seja licenciatura, seja bacharelado, possui um objeto fundamental de estudo e trabalho: o ser humano em movimento. A ausência de uma disciplina específica na formação superior voltada para entender teorias e conceitos que permeiam a forma que esse ser representa seu corpo, compreendendo suas múltiplas facetas e influências, é preocupante e nos faz questionar se os graduandos estão minimamente preparados para atuar com qualidade em sua futura prática profissional no que se refere às questões específicas de imagem corporal (BAILEY; GAMMAGE; VAN INGEN, 2017; RUSSELL-MAYHEW et al., 2015RUSSELL-MAYHEW, Shelly et al. Pilot testing a professional development model for preservice teachers in the area of health and weight: feasibility, utility, and efficacy. Advances in School Mental Health Promotion, Stafford, v. 8, n. 3, p. 176-186, 2015. ; YAGER, 2010YAGER, Zali. Issues of teacher training in the prevention of eating disorders and childhood obesity in schools. In: O’DEA, Jennifer A.; ERIKSEN, Michael P. (ed.). Childhood obesity prevention: international research, controversies, and interventions. New York: Oxford University Press, 2010. p. 56-66. ).

Tais achados vão ao encontro do apresentado na revisão de Nutter et al. (2019)NUTTER, Sarah et al. Weight bias in educational settings: a systematic review. Current Obesity Reports, Philadelphia, v. 8, n. 2, p. 185-200, 2019. . As autoras identificaram que a internalização do viés de magreza está presente nos futuros professores e que isso pode impactar negativamente a percepção da capacidade do aluno e suas experiências educacionais. Esse viés chama a atenção, visto que vai ao encontro do estudo de Fernandes, Ferreira e Soares (2019), em que tanto ingressantes quanto formandos possuíam conceitos e percepções similares em relação à imagem corporal.

A ausência de ambientes de formação específicos de um tema, como a imagem corporal, pode gerar limitado conhecimento no campo do saber e impactar a prática pedagógica do futuro professor. Tal questão foi problematizada na fala dos participantes, como exemplificado pela participante M5:

Olha, eu acho que é muito importante [ter componente curricular específico para abordar a imagem corporal]. Eu fiquei bem alarmada de a gente não ter isso, porque, pensando que nós seremos professores de educação física, se a gente não entende sobre imagem corporal fica complicado. No estágio, eu tive vários conflitos sobre isso, porque as crianças trazem muitas bagagens de casa, né? Então, como a gente vai tentar, não mudar né, mas não sei como fazer isso, sendo que você tem influências e tal. Mas eu acho que é importante sim ter isso no nosso currículo, que a gente aprenda mais sobre isso, pelo menos eu não tive nada na faculdade sobre isso, nada. Tô aprendendo basicamente assim, aprendi com a minha amiga que faz parte do laboratório de vocês e aqui com todo mundo.

A percepção de um conhecimento limitado durante a formação parece gerar inseguranças para intervir e promover a imagem corporal positiva no ambiente escolar, como pode ser notado na fala a seguir:

A gente consegue discutir muito pelas experiências da nossa percepção. Mas, se a gente fosse aqui abordar um ambiente de trabalho, na escola, talvez, possa ser que tenham algumas lacunas com relação à imagem corporal para gente abordar dentro do conteúdo. Imagina ter que discutir sobre isso com adolescentes do ensino médio?! Eu acredito que realmente se tivesse uma disciplina, talvez, a gente tivesse mais embasamento, mais segurança para abordar esse assunto. (M11).

Em complemento, a participante M3 destaca: “Eu também não, eu não me sentiria segura para passar isso de uma forma consciente, do que eu tô fazendo, eu teria que estudar muito mais sobre” (M3).

Essa fala vai ao encontro do estudo de Russell-Mayhew et al. (2015)RUSSELL-MAYHEW, Shelly et al. Pilot testing a professional development model for preservice teachers in the area of health and weight: feasibility, utility, and efficacy. Advances in School Mental Health Promotion, Stafford, v. 8, n. 3, p. 176-186, 2015. , no qual professores de educação física já atuantes relatam ter inseguranças no que consiste à intervenção em imagem corporal, o que também foi visto no estudo de Medeiros et al. (2020)MEDEIROS, Aline de Souza Furtado et al. Promovendo diálogos sobre imagem corporal com futuros professores de Educação Física. Motrivivência, Florianópolis, v. 32, n. 63, p. 1-18, 2020. e reforçado neste estudo a partir do reportado pela seguinte participante:

Sendo bem sincera, eu me sentiria insegura para intervir e eu nem sei como. Eu acho que eu não tenho conhecimento, eu não aprendi muito sobre para falar. O que eu disse é mais ou menos o que eu sei hoje, eu tô aprendendo aqui, é o que eu tô internalizando da conversa da gente, sabe? De que eu já ouvi de outras pessoas, mas eu não sei como. Eu acho que não tenho conhecimento também sobre para chegar segura e resolver. (M6).

Ao passo que os participantes desenvolviam suas ideias acerca das lacunas existentes sobre imagem corporal em sua formação, eles começaram a relatar os possíveis benefícios de ter esse conteúdo na graduação:

Eu acho muito bom [a possibilidade de se ter uma disciplina de imagem corporal] e foi uma coisa que eu estava meio impactada, meio que: “meu Deus, nunca trabalhei isso na escola”. Eu acho que isso é uma forma da gente absorver e poder passar para as outras pessoas como a gente está fazendo licenciatura, levar para escola isso e já começar criando nas crianças uma outra percepção sobre o corpo, sabe, que não é preciso estar atrás de um padrão, que ela precisa se sentir bem do jeito que ela é independente de opiniões. Então, eu acho que é muito legal e vou estudar isso aí para um próximo plano de aula. (M1)

E vejo muita importância porque, no ambiente escolar, se a gente for lidar com a situação, a gente vai saber falar, a gente vai saber conscientizar os alunos, a gente vai saber conscientizar professores. Se a gente não tem contato com isso, isso não é comum e nem construído na nossa mente. Então, como que a gente construiu durante a universidade, seria uma coisa muito relevante de construir também em nós para que a gente pense sobre isso, tendo um pensamento construído, para quando a gente tiver uma situação, a gente vai saber lidar. E se a gente não for construindo o pensamento em nós e a gente não aprender, é difícil lidar com essa situação. (M3).

É possível inferir, a partir desse relato, que a própria participante condiciona a possibilidade de ensinar aspectos da imagem corporal positiva na escola à possibilidade de ter esse conteúdo na universidade, ou ao momento em que ela passe a estudar e se aprofundar na temática e nos aspectos que a permeiam. Essa percepção está de acordo com a literatura que descreve a importância de que o conteúdo de imagem corporal seja ensinado na graduação ( MEDEIROS et al., 2020MEDEIROS, Aline de Souza Furtado et al. Promovendo diálogos sobre imagem corporal com futuros professores de Educação Física. Motrivivência, Florianópolis, v. 32, n. 63, p. 1-18, 2020. ; NEVES; HIRATA; TAVARES, 2015)

E, para que tais benefícios possam ser gerados, os participantes expuseram que a criação de uma disciplina, ou a aplicação do conteúdo nos estágios obrigatórios supervisionados, pode representar uma mudança deste cenário. Como pode ser visto em: “Então, eu acho que ter uma matéria e uma matéria que fosse obrigatória e não optativa, porque se for optativa as pessoas não vão fazer, muitas delas não vão escolher, né, fazer” (M2).

Outra opção mencionada foi a abordagem do conteúdo nas atividades de estágio supervisionado obrigatório, como visto na fala da participante M11:

Acho que seria bom algum estágio abordar isso, porque o estágio tá aí para preparar a gente para isso, não é para preparar para colocar a gente no mercado de trabalho? Então, se a gente tivesse uma oportunidade no estágio, também de vivenciar método ou alguma coisa relacionada a saber lidar com a imagem corporal, acho que seria muito, muito relevante.

Segundo Medeiros et al. (2020)MEDEIROS, Aline de Souza Furtado et al. Promovendo diálogos sobre imagem corporal com futuros professores de Educação Física. Motrivivência, Florianópolis, v. 32, n. 63, p. 1-18, 2020. , a abordagem de conteúdos de imagem corporal durante a formação proporciona aos alunos uma mudança drástica de conceitos, os aproxima de leituras e apropriações do que há na literatura de forma mais eficaz, viabiliza a criação e a utilização de estratégias de programas socioeducacionais na prática profissional e promove segurança na abordagem do conteúdo no ambiente escolar.

Este estudo apresenta, a princípio, três limitações que devem ser destacadas. A primeira se relaciona ao viés do pesquisador principal na análise dos dados, pois, por se tratar de uma pesquisa qualitativa, é possível que as vivências prévias tenham influenciado na maneira de interpretar as categorias e os conteúdos gerados. Contudo, considerando isso, todas as sessões de grupo focal contaram com uma equipe técnica de suporte que relatou possíveis vieses do pesquisador. Vale ressaltar que uma das integrantes da equipe era psicóloga e esteve atenta às diversas questões atreladas ao pensamento e comportamento humano.

Outra limitação que vale ser elencada permeia o caráter qualitativo do estudo, isto é, seus dados não devem ser generalizados e não se pode afirmar que, caso estes alunos tivessem acesso ao conteúdo de imagem corporal, teriam percepções diferentes, não estabelecendo assim uma relação causal. Entretanto, esta pesquisa se apresenta de maneira importante na comunidade científica pela escassez de estudos sobre o tema e necessidade de ser mapeado.

Por fim, dado que a pesquisa aconteceu de maneira on-line , é possível que as sessões de grupos focais tenham sido impactadas, uma vez que a dinâmica dialógica desse cenário pode limitar a interatividade e fluidez quando comparado à coleta presencial. Apesar disso, segundo Richard et al. (2021)RICHARD, Brendan et al. A guide to conducting online focus groups via Reddit. International Journal of Qualitative Methods, Edmonton, v. 20, p. 160940692110122, 2021. e Stewart e Shamdasani (2017)STEWART, David W.; SHAMDASANI, Prem. Online focus groups. Journal of Advertising, Athens, v. 46, n. 1, p. 48-60, 2017. , além de ser tão eficiente quanto o grupo focal presencial, o grupo focal on-line representa uma ótima estratégia, pois consegue reunir com facilidade a quantidade ideal de participantes em um mesmo momento. Portanto, realizar um grupo focal on-line foi a única maneira viável e segura de conduzir a pesquisa, uma vez que esta ocorreu durante a pandemia da SARS-CoV-2. Com a suspensão das aulas e a necessidade de isolamento social, esta foi a estratégia adotada no contexto dos pesquisadores e participantes deste estudo.

Considerações finais

Esta pesquisa apresentou as percepções sobre imagem corporal de universitários concluintes do curso de licenciatura em educação física de uma universidade pública do Rio de Janeiro, com enfoque em como eles constroem e problematizam esse conceito e suas aplicações na educação básica. Foi possível observar que essas percepções pouco dialogam com o que a literatura estabelece. Nesta direção, conceitos baseados em vivências e conhecimentos superficiais podem configurar uma perigosa lacuna na formação superior dos participantes em relação ao conhecimento construído sobre imagem corporal. Haja vista estes achados, é passível o questionamento se estes futuros professores estão preparados para serem agentes facilitadores do desenvolvimento da imagem corporal positiva de seus futuros alunos e alunas, escolares da educação básica.

Estudos que objetivam propor políticas educacionais para a formação superior com enfoque no conteúdo de imagem corporal são necessários e urgentes. Assim, tendo em vista a formação profissional como um espaço de transformação, é de central importância que haja alterações curriculares para o investimento no ensino, na pesquisa e na extensão universitária. No que diz respeito ao ensino, referenciais teóricos que abordem a imagem corporal são fundamentais, tanto na proposição de disciplinas específicas quanto na articulação da temática em diferentes disciplinas ou atividades, como o estágio supervisionado. Já em projetos de extensão, são importantes oficinas formativas que abordem as dimensões conceituais e procedimentais pertinentes ao ambiente escolar, assim como projetos que objetivam promover a imagem corporal de graduandos de educação física. Por fim, pesquisas que façam interfaces formativas podem se apresentar como uma oportunidade singular para avaliar aspectos da imagem corporal de escolares. Em todo caso, a imagem corporal é um construto fundamental na formação humana e deve ser tematizada nos diversos espaços de formação, em especial nos cursos de graduação em educação física.

Agradecimentos

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro - FAPERJ, pela bolsa concedida à prof.ª Dr.ª Fabiane Frota da Rocha Morgado no Programa Jovem Cientista do Nosso Estado - 2022 - Proc. N.º 200.233/2023.

Referências

  • BAILEY, K. Alysse; GAMMAGE, Kimberley L.; VAN INGEN, Cathy. How do you define body image? Exploring conceptual gaps in understandings of body image at an exercise facility. Body Image, Amsterdam, v. 23, p. 69-79, 2017.
  • BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2016.
  • BARROS, Aidil Jesus da Silveira; LEHFELD, Neide Aparecida de Souza. Fundamentos de metodologia científica. 3. ed. São Paulo: Pearson, 2007.
  • BATISTA, Alessandra et al. Dimensão atitudinal da imagem corporal e comportamento alimentar em graduandos de educação física, nutrição e estética da Cidade de Juiz de Fora - MG. Revista da Educação Física/UEM, Maringá, v. 26, n. 1, p. 69-77, 2015.
  • BETZ, Diana E.; SABIK, Natalie J.; RAMSEY, Laura R. Ideal comparisons: body ideals harm women’s body image through social comparison. Body Image, Amsteramã, v. 29, p. 100-109, 2019.
  • CALOGERO, Rachel M. et al. Trappings of femininity: a test of the “beauty as currency” hypothesis in shaping college women’s gender activism. Body Image, Amsterdam, v. 21, p. 66-70, 2017.
  • CARDOSO, Larissa et al. Insatisfação com a imagem corporal e fatores associados em estudantes universitários. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, Rio de Janeiro, v. 69, n. 3, p. 156-164, 2020.
  • CASH, Thomas F.; SMOLAK, Linda (ed.). Body image: a handbook of science, practice and prevention. 2. ed. New York: Guilford Press, 2012.
  • CATALDO, Ilaria et al. Fitspiration on social media: body-image and other psychopathological risks among young adults. a narrative review. Emerging Trends in Drugs, Addictions, and Health, Amsterdam, v. 1, p. 100010, 2021.
  • CHIN, Yit Siew et al. Comparison of factors associated with disordered eating between male and female Malaysian university students. Nutrients, Basel, v. 12, n. 2, p. 318, 2020.
  • FERNANDES, Laís Carolina; FERREIRA, Renato Melo; SOARES, Everton Rocha. Percepção de discentes de educação física sobre a imagem corporal de mulheres adultas. Perspectivas Online, Campos dos Goytacazes, v. 9, n. 30, p. 13-23, 2019.
  • FERREIRA, Maria Elisa Caputo; CASTRO, Marcela Rodrigues de; MORGADO, Fabiane Frota da Rocha (org.). Imagem corporal: reflexões, diretrizes e práticas de pesquisa. Juiz de Fora: UFJF, 2014.
  • FIELDING, Nigel G.; LEE, Raymond M.; BLANK, Grant (ed.). The Sage handbook of online research methods. London: Sage, 2008.
  • FRANK, Robson et al. Fatores associados à insatisfação com a imagem corporal em acadêmicos de educação física. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, Rio de Janeiro, v. 65, n. 2, p. 161-167, 2016.
  • FREDERICK, David A. et al. Demographic predictors of body image satisfaction: the U.S. body project I. Body Image, Amsterdam, v. 41, p. 17-31, 2022.
  • FREDRICKSON, Barbara Lee et al. Bringing back the body: a retrospective on the development of objectification theory. Psychology of Women Quarterly, New York, v. 35, n. 4, p. 689-696, 2011.
  • GATTARIO, Kristina Holmqvist.; FRISÉN, Ann. From negative to positive body image: men’s and women’s journeys from early adolescence to emerging adulthood. Body Image, Amsterdam, v. 28, p. 53-65, 2019.
  • GONDIM, Sônia Maria Guedes. Grupos focais como técnica de investigação qualitativa: desafios metodológicos. Paidéia, Ribeirão Preto, v. 12, n. 24, p. 149-161, 2003.
  • GONZALES IV, Manuel; BLASHILL, Aaron J. Ethnic/racial and gender differences in body image disorders among a diverse sample of sexual minority U.S. adults. Body Image, Amsterdam, v. 36, p. 64-73, 2021.
  • HOSSAIN, Sahadat et al. Self-perception of physical health conditions and its association with depression and anxiety among Bangladeshi university students. Journal of Affective Disorders, Amsterdam, v. 263, p. 282-288, 2020.
  • HOWARD, Lindsay M.; ROMANO, Kelly A.; HERON, Kristin E. Prospective changes in disordered eating and body dissatisfaction across women’s first year of college: the relative contributions of sociocultural and college adjustment risk factors. Eating Behaviors, New York, v. 36, p. 101357, 2020.
  • KESSLER, Amanda Luisa; POLL, Fabiana Assmann. Relação entre imagem corporal, atitudes para transtornos alimentares e estado nutricional em universitárias da área da saúde. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, Rio de Janeiro, v. 67, n. 2, p. 118-125, 2018.
  • LIAMPUTTONG, Pranee. The science of words and the science of numbers: research methods as foundations for evidence-based practice in health. In: LIAMPUTTONG, Pranee (ed.). Research methods in health: foundations for evidence-based practice. 2. ed. South Melbourne: Oxford University Press, 2016. p. 3-23.
  • MARQUIS, Marie et al. Exploring the environmental, personal and behavioural factors as determinants for university students’ food behaviour. International Journal of Consumer Studies, Oxford, v. 43, n. 1, p. 113-122, 2019.
  • MEDEIROS, Aline de Souza Furtado et al. Promovendo diálogos sobre imagem corporal com futuros professores de Educação Física. Motrivivência, Florianópolis, v. 32, n. 63, p. 1-18, 2020.
  • MORGADO, Fabiane Frota da Rocha; CAMPANA, Angela Nogueira Neves Betanho; TAVARES, Maria da Consolação Gomes Cunha Fernandes. Aplicabilidade do grupo focal com pessoas cegas. Benjamin Constant, Rio de Janeiro, n. 52, p. 1-12, 2012.
  • MORRISON, Todd G.; MCCUTCHEON, Jessica M. Body image among gay, lesbian, and bisexual individuals. In: CASH, Thomas F. (ed.). Encyclopedia of body image and human appearance. London: Academic Press, 2012. p. 103-107.
  • NEVES, Angela Nogueira; HIRATA, Karina Mayumi; TAVARES, Maria da Consolação Gomes Cunha Fernandes. Imagem corporal, trauma e resiliência: reflexões sobre o papel do professor de educação física. Psicologia Escolar e Educacional, São Paulo, v. 19, n. 1, p. 97-104, 2015.
  • NEVES, Clara Mockedece et al. Imagem corporal na infância: uma revisão integrativa da literatura. Revista Paulista de Pediatria, São Paulo, v. 35, n. 3, p. 331-339, 2017.
  • NUTTER, Sarah et al. Weight bias in educational settings: a systematic review. Current Obesity Reports, Philadelphia, v. 8, n. 2, p. 185-200, 2019.
  • O’GORMAN, Beth; SHEFFIELD, Jeanie; GRIFFITHS, Scott. Does masculinity moderate the relationship of height with height dissatisfaction? Findings from an Internet forum for short statured men. Body Image, Amsterdam, v. 31, p. 112-119, 2019.
  • OLIVEIRA, Pedro Leopoldo de et al. Insatisfação, checagem corporal e comportamentos de risco para transtornos alimentares em estudantes de cursos da saúde. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, Rio de Janeiro, v. 66, n. 4, p. 216-220, 2017.
  • RICHARD, Brendan et al. A guide to conducting online focus groups via Reddit. International Journal of Qualitative Methods, Edmonton, v. 20, p. 160940692110122, 2021.
  • RODGERS, Rachel F.; ROUSSEAU, Ann. Social media and body image: modulating effects of social identities and user characteristics. Body Image, Amsterdam, v. 41, p. 284-291, 2022.
  • RODGERS, Rachel F. et al. Psychometric properties of measures of sociocultural influence and internalization of appearance ideals across eight countries. Body Image, Amsterdam, v. 35, p. 300-315, 2020.
  • ROGERS, Courtney B. et al. “No seconds for you!”: exploring a sociocultural model of fat-talking in the presence of family involving restrictive/critical caregiver eating messages, relational body image, and anti-fat attitudes in college women. Body Image, Amsterdam, v. 30, p. 56-63, 2019.
  • ROMITO, Madelaine et al. Exploring transgender adolescents’ body image concerns and disordered eating: semi-structured interviews with nine gender minority youth. Body Image, Amsterdam, v. 37, p. 50-62, 2021.
  • RUSSELL-MAYHEW, Shelly et al. Pilot testing a professional development model for preservice teachers in the area of health and weight: feasibility, utility, and efficacy. Advances in School Mental Health Promotion, Stafford, v. 8, n. 3, p. 176-186, 2015.
  • SANDOZ, Emily K. et al. Relative associations of body image avoidance constructs with eating disorder pathology in a large college student sample. Body Image, Amsterdam, v. 34, p. 242-248, 2020.
  • SCHAEFER, Lauren M.; THOMPSON, Joel Kevin. The development and validation of the Physical Appearance Comparison Scale-Revised (PACS-R). Eating Behaviors, New York, v. 15, n. 2, p. 209-217, 2014.
  • SCHAEFER, Lauren M. et al. Development and validation of the Sociocultural Attitudes Towards Appearance Questionnaire-4 (SATAQ-4). Psychological Assessment, Washington, DC, v. 27, n. 1, p. 54-67, 2015.
  • SCHILDER, Paul. A imagem do corpo: as energias construtivas da psique. São Paulo: Martins Fontes, 1981.
  • SOUSA, Thiago Ferreira de et al. Prevalência e fatores associados à insatisfação com a imagem corporal em universitários: análise de inquéritos repetidos. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano, Florianópolis, v. 21, p. 223-232, 2019.
  • SOUZA, Luciana Karine de. Recomendações para a realização de grupos focais na pesquisa qualitativa. Psi Unisc, Santa Cruz do Sul, v. 4, n. 1, p. 52-66, 2020.
  • STANTON, Alexis G. et al. Black women’s experiences of gendered racial sexual objectification, body image, and depressive symptoms. Body Image, Amsterdam, v. 41, p. 443-452, 2022.
  • STEWART, David W.; SHAMDASANI, Prem. Online focus groups. Journal of Advertising, Athens, v. 46, n. 1, p. 48-60, 2017.
  • STICE, Eric; BECKER, Carolyn Black; YOKUM, Sonja. Eating disorder prevention: current evidence-base and future directions. International Journal of Eating Disorders, New York, v. 46, n. 5, p. 478-485, 2013.
  • TAMPLIN, Natalie C.; MCLEAN, Siân A.; PAXTON, Susan J. Social media literacy protects against the negative impact of exposure to appearance ideal social media images in young adult women but not men. Body Image, Amsterdam, v. 26, p. 29-37, 2018.
  • TAVARES, Maria da Consolação Gomes Cunha Fernandes. Imagem corporal: conceito e desenvolvimento. Barueri: Manole, 2003.
  • THOMAS, Jerry R.; NELSON, Jack K.; SILVERMAN, Stephen J. Métodos de pesquisa em atividade física. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2012.
  • THOMPSON, Joel Kevin; SCHAEFER, Lauren M.; MENZEL, Jessie E. Internalization of thin-ideal and muscular-ideal. In: CASH, Thomas F. (ed.). Encyclopedia of body image and human appearance London: Academic Press, 2012. p. 499-504.
  • THOMPSON, Joel Kevin et al. Exacting beauty: theory, assessment, and treatment of body image disturbance. Washington, DC: American Psychological Associations, 1998.
  • TIGGEMANN, Marika. Sociocultural perspectives on human appearance and body image. In: CASH, Thomas F.; SMOLAK, Linda (ed.). Body image: a handbook of science, practice, and prevention. 2. ed. New York: Guilford Press, 2012. p. 12-19.
  • TOOLE, Aubrey M.; LOPARO, Devon; CRAIGHEAD, Linda W. Self-compassion and dissonance-based interventions for body image distress in young adult women. Body Image, Amsterdam, v. 38, p. 191-200, 2021.
  • TRAD, Leny A. Bomfim. Grupos focais: conceitos, procedimentos e reflexões baseadas em experiências com o uso da técnica em pesquisas de saúde. Physis, Rio de Janeiro, v. 19, n. 3, p. 777-796, 2009.
  • WATSON, Laurel B.; LEWIS, Jioni A.; MOODY, Anahvia Taiyib. A sociocultural examination of body image among Black women. Body Image, Amsterdam, v. 31, p. 280-287, 2019.
  • YAGER, Zali. Issues of teacher training in the prevention of eating disorders and childhood obesity in schools. In: O’DEA, Jennifer A.; ERIKSEN, Michael P. (ed.). Childhood obesity prevention: international research, controversies, and interventions. New York: Oxford University Press, 2010. p. 56-66.
  • YAGER, Zali et al. What works in secondary schools? A systematic review of classroom-based body image programs. Body Image, Amsterdam, v. 10, n. 3, p. 271-281, 2013.
  • 1
    - Disponibilidade de dados: todo o conjunto de dados que dá suporte aos resultados deste estudo foi publicado no próprio artigo.
Editora: Profa. Dra. Mônica Caldas

Disponibilidade de dados

- Disponibilidade de dados: todo o conjunto de dados que dá suporte aos resultados deste estudo foi publicado no próprio artigo.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Jul 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    22 Dez 2021
  • Revisado
    14 Set 2022
  • Aceito
    10 Out 2022
Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo Av. da Universidade, 308 - Biblioteca, 1º andar 05508-040 - São Paulo SP Brasil, Tel./Fax.: (55 11) 30913520 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revedu@usp.br