Acessibilidade / Reportar erro

Dificuldades de comunicação e estratégias utilizadas pelos enfermeiros e sua equipe na assistência ao deficiente auditivo

RESUMO

Objetivo:

Identificar as dificuldades de comunicação da equipe de enfermagem com os deficientes auditivos no decorrer da assistência de enfermagem e conhecer as estratégias desenvolvidas na comunicação não verbal.

Métodos:

Trata-se de um estudo de caráter descritivo, exploratório, de nível I, com abordagem quantitativa. A amostra foi constituída por 37 enfermeiros e 63 técnicos em enfermagem de um hospital privado que, depois de cumprirem os procedimentos éticolegais, responderam a um questionário para identificar dificuldades e estratégias utilizadas no atendimento ao deficiente auditivo.

Resultados:

Dificuldade em explicar assunto de interesse do paciente foi relatada por 66% dos profissionais e, para 32%, dificuldade em entender o paciente a partir da sua forma de comunicação. A estratégia de comunicação utilizada por 100% dos pesquisados foi mímica, seguida por leitura labial, usada por 94%, auxílio do acompanhante por 65% e escrita por 42%. Somente 1% comunicou-se por meio de Linguagem Brasileira de Sinais (LIBRAS).

Conclusões:

As dificuldades encontradas e as estratégias utilizadas pela equipe de enfermagem na comunicação com pacientes deficientes auditivos justificam a necessidade de capacitar esses profissionais para promover uma assistência humanizada no contexto de uma sociedade mais inclusiva para portadores de necessidades especiais.

Descritores:
Pessoas com insuficiência auditiva; Comunicação não verbal/enfermagem; Comunicação não verbal/educação; Equipe de enfermagem; Equipe de enfermagem/educação; Humanização da assistência; Resolução de problemas; Linguagem de sinais; Surdez

ABSTRACT

Objectives:

To identify communication difficulties faced by the nursing staff and to learn the strategies developed for non-oral communication.

Methods:

This is a descriptive, exploratory, level I study with a quantitative approach. The sample group comprised 37 registered nurses and 63 licensed practical nurses of a private hospital who, after undergoing the ethical-legal procedures, answered a questionnaire to identify difficulties faced and strategies used in the care for hearing-impaired patients.

Results:

Difficulty in explaining matters of interest to the patient was reported by 66% of professionals; and 32% reported difficulties in understanding patients in their way of communicate. The strategy adopted by 100% of respondents was mimicry, followed by lip reading, used by 94% of respondents; help from a person accompanying the patient was used by 65%, and written communication by 42% of respondents. Only 1% used communication via the Brazilian Sign Language (LIBRAS).

Conclusions:

The difficulties found and the strategies adopted by the nursing staff in communicating with hearing-impaired patients justify the need to train these professionals to deliver a more humanized care, developing a more inclusive society for those with special needs.

Keywords:
Hearing impaired persons; Nonverbal communication; Nonverbal communication/nursing; Nonverbal communication/education; Nursing, team/methods; Nursing, team/education; Humanization of assistance; Problem solving; Sign language; Deafness

INTRODUÇÃO

A língua oral-auditiva ou o canal visual espacial proporcionam a comunicação entre os indivíduos e aumenta a capacidade de organização das ideias e dos pensamentos. A surdez compromete o principal meio de comunicação na sociedade e impede o acesso à comunicação oral-auditiva(11. Chaveiro N, Barbosa MA. A surdez, o surdo e seu discurso. Rev Eletrônica Enferm. 2004;6(2):166-71.).

Comunicação pode ser definida como um processo por meio do qual se compartilham mensagens enviadas e recebidas, ideias, sentimentos e diversos tipos de emoções. Ocorre mediante o uso da palavra escrita e falada, além de mecanismos não-verbais que podem ou não influenciar no comportamento das pessoas que, por sua vez, reagirão a partir de suas crenças, valores, história de vida e cultura(22. Silva LMG, Brasil VV, Guimarães HCQCP, Savonitti BHRA, Silva MJP. Comunicação não verbal: reflexões acerca da linguagem corporal. Rev Latinoam Enferm Ribeirão Preto. 2000;8(4):52-8.).

A audição é o sentido por meio do qual se percebem os sons. No caso dos deficientes auditivos, a falha ou a falta desse sentido interfere na sua relação com a sociedade(33. Pagliuca LMF, Fiúza NLG, Rebouças CBA. Aspectos da comunicação da enfermeira com o deficiente auditivo. Rev Esc Enferm USP. 2007;41(3):411-8.). Dentre todos os distúrbios da comunicação, a surdez é o de maior prevalência no Brasil, alcançando um índice de 60% das alterações(44. Costa SS. Audição, comunicação e linguagem: um convite à reflexão. Rev HCPA & Fac Med Univ Fed Rio Gd do Sul. 1999;19(2):147-66.).

As barreiras de comunicação enfrentadas por portadores de necessidades especiais passam despercebidas pelas demais pessoas, muitas vezes devido ao fato de essas barreiras serem de caráter ambiental(55. Galvão CM, Sawada NO, Castro AP, Corniani F. Liderança e comunicação: estratégias essenciais para o gerenciamento da assistência de enfermagem no contexto hospitalar. Rev Latinoam Enferm Ribeirão Preto. 2000;8(5):34-43). Para os enfermeiros, a comunicação com os pacientes é considerada um processo fundamental não apenas para a identificação de sinais, sintomas e problemas que o acometem, mas também para o desenvolvimento da comunicação terapêutica, a qual mostra o comprometimento dos profissionais com os pacientes(66. Torres EF, Mazzoni AA, Mello AG. Nem toda pessoa lê em Braille, nem toda pessoa surda se comunica em língua de sinais. Educ Pesq. 2007;33(2): 369-85.).

Conceitua-se comunicação terapêutica como a habilidade dos profissionais em utilizar os conhecimentos sobre comunicação para ajudar as pessoas com tensão temporária a superarem seus problemas, conviverem com os outros, visualizarem a experiência vivida, ajustarem-se ao que não pode ser mudado, enfrentarem os bloqueios da autorrealização e auxiliá-los a encontrar novos padrões de comportamento(77. Melles AM, Zazo MMF. A utilização da lousa mágica na comunicação do traqueostomizado. Rev Latinoam Enferm Ribeirão Preto. 2001;9(1):73-9.).

Existem técnicas de comunicação não-verbal como, por exemplo, a leitura labial, a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), a mímica, os desenhos, as figuras, a escrita, a presença de um acompanhante na maior parte do tempo de internação do paciente e a expressão corporal, que favorecem a comunicação terapêutica da equipe com o paciente(33. Pagliuca LMF, Fiúza NLG, Rebouças CBA. Aspectos da comunicação da enfermeira com o deficiente auditivo. Rev Esc Enferm USP. 2007;41(3):411-8.).

Estudos realizados com profissionais de enfermagem mostram que há falhas na comunicação não-verbal na interação com os pacientes portadores de deficiência auditiva, caracterizando a necessidade de atenção e treinamento a fim de não comprometer o atendimento(33. Pagliuca LMF, Fiúza NLG, Rebouças CBA. Aspectos da comunicação da enfermeira com o deficiente auditivo. Rev Esc Enferm USP. 2007;41(3):411-8.,44. Costa SS. Audição, comunicação e linguagem: um convite à reflexão. Rev HCPA & Fac Med Univ Fed Rio Gd do Sul. 1999;19(2):147-66.,77. Melles AM, Zazo MMF. A utilização da lousa mágica na comunicação do traqueostomizado. Rev Latinoam Enferm Ribeirão Preto. 2001;9(1):73-9.).

A cultura e a linguagem dos deficientes auditivos são diferentes e devem ser conhecidas e respeitadas de acordo com os princípios éticos. A comunicação com essa clientela surge como um desafio, principalmente para os profissionais que prestam assistência à saúde(88. Araújo MMT, Silva MJP, Puggina ACG. A comunicação não-verbal enquanto fator iatrogênico. Rev Esc Enferm USP. 2007;41(3):419-25.).

Por meio da comunicação estabelecida com o paciente, os profissionais podem compreendê-lo como ser holístico e perceber sua visão de mundo, isto é, seu modo de pensar, sentir e agir. Dessa forma, é possível entender suas necessidades e, assim, prestar assistência adequada, minimizando seu desconforto(99. Silva MJP. Aspectos gerais da construção de um programa sobre comunicação não-verbal para enfermeiros. Rev Latinoam Enferm Ribeirão Preto. 1996;4(e):25-37.).

OBJETIVOS

Identificar as dificuldades de comunicação da equipe de enfermagem com os deficientes auditivos no decorrer da assistência de enfermagem e conhecer as estratégias desenvolvidas pela equipe de enfermagem na comunicação não-verbal.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo de caráter descritivo, exploratório, de nível I, com abordagem quantitativa, realizado no Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE), hospital geral privado de grande porte localizado na região sul do Município de São Paulo(1010. Polit DF, Beck CT, Hungler BP. Fundamentos de pesquisa em enfermagem: métodos, avaliação e utilização. 3a ed. Porto Alegre: Artmed; 2004. Capítulo 8, Compreensão do delineamento da pesquisa quantitativa, p. 163-98.).

A amostra foi composta por enfermeiros e técnicos em enfermagem das unidades de internação das clínicas médico-cirúrgicas do HIAE nos três turnos de trabalho. Os critérios de inclusão da amostra foram que os profissionais atuassem na área da assistência no segundo semestre de 2008 e aceitassem participar da pesquisa, mediante assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido.

A coleta de dados foi realizada respeitando-se os princípios éticos e legais, de acordo com as normas da Resolução 196/1996, após a aprovação do projeto de pesquisa pela Comissão Científica da Faculdade de Enfermagem do Hospital Israelita Albert Einstein e pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Israelita Albert Einstein.

Para a obtenção dos dados, foi elaborado um questionário (Anexo Anexo Instrumento de coleta de dados ), constituído por duas partes. A primeira parte se referia à caracterização do perfil dos profissionais quanto ao gênero, à idade, à categoria profissional, ao tempo de formação e ao turno de trabalho. A segunda parte, composta por questões fechadas, abordava as dificuldades da equipe de enfermagem na assistência ao deficiente auditivo e as estratégias utilizadas na comunicação não-verbal.

RESULTADOS

Foram entrevistados 100 profissionais da equipe de enfermagem, 37 enfermeiros (37%) e 63 técnicos em enfermagem (63%). A maioria era do sexo feminino (61%), como mostra a figura 1.

Figura 1
Caracterização dos entrevistados segundo gênero e categoria profissional

A idade dos profissionais variou entre 23 e 52 anos, sendo que a faixa etária de 48% dos entrevistados foi de 30 a 36 anos e 56% tinham entre 11 e 20 anos de tempo de atuação profissional, como mostram as figuras 2 e 3.

Figura 2
Caracterização dos entrevistados segundo faixa etária
Figura 3
Tempo de atuação na área

A pesquisa foi realizada com profissionais que atuavam nos três turnos de trabalho, sendo 28% do período da manhã, 57% da tarde e 15% do período da noite. Dentre os entrevistados, 97% haviam prestado assistência a pacientes portadores de deficiência auditiva e 3%, constituídos por três técnicos em enfermagem, assinalaram que não tiveram contato com deficientes auditivos no ambiente hospitalar para assistência. Portanto, dos 97 entrevistados que atenderam pacientes portadores de deficiência auditiva, 37 eram enfermeiros e 60 eram técnicos em enfermagem e responderam as questões referentes às dificuldades e estratégias de comunicação entre equipe de enfermagem e pacientes deficientes auditivos.

A figura 4 ilustra as dificuldades de comunicação com os pacientes deficientes auditivos assinaladas pela equipe de enfermagem. Dificuldades em explicar assunto de interesse do paciente foram relatadas por 57% dos enfermeiros (21) e 72% dos técnicos em enfermagem (43), o que representa a resposta referida por 66% do total de entrevistados (64). Para 31 entrevistados (32%), a dificuldade consistiu em entender o paciente a partir da sua forma de comunicação, sendo a resposta marcada por 43% dos enfermeiros (16) e por 25% dos técnicos em enfermagem (15). Dois técnicos em enfermagem (3%) não encontraram dificuldades de comunicação com os pacientes, pois eram portadores de deficiência auditiva parcial e faziam uso de aparelho auditivo.

Figura 4
Dificuldades de comunicação encontradas pelos enfermeiros e técnicos em enfermagem no atendimento ao paciente com deficiência auditiva

A equipe de enfermagem pôde assinalar mais de uma possibilidade de estratégia de comunicação utilizada no atendimento aos pacientes. Assim, quando questionados sobre as estratégias utilizadas, considerandose tanto os enfermeiros quanto os técnicos em enfermagem, a totalidade (100%) respondeu utilizar a mímica durante o atendimento ao deficiente auditivo. A leitura labial foi relatada por 94% dos profissionais como forma de comunicação usada pelos pacientes. O auxílio do acompanhante (65%) e a escrita (42%) também foram utilizados como estratégia de comunicação. Somente 1% se comunicou por meio de LIBRAS e 2% por meio de outras formas de comunicação (Figura 5).

Figura 5
Porcentagem de profissionais que citaram as estratégias de comunicação.

Dentre as possibilidades de estratégias utilizadas pelos profissionais na assistência ao deficiente auditivo, a mímica foi citada por 100% dos profissionais, 37 enfermeiros e 60 técnicos em enfermagem; leitura labial foi referida por 34 enfermeiros (92%) e por 57 técnicos (95%); um técnico em enfermagem (2%) relatou comunicar-se em LIBRAS; a escrita foi utilizada por 7 enfermeiros (19%) e 34 técnicos (56%); comunicação com ajuda do acompanhante foi assinalada por 16 enfermeiros (43%) e 47 técnicos (78%), e 2 técnicos em enfermagem (2%) utilizaram outras formas de comunicação (Tabela 1).

Tabela 1
Categorias de profissionais segundo estratégias de comunicação

Quando questionados sobre o período em que os profissionais da equipe de enfermagem deveriam ser capacitados para prestar assistência e cuidados aos portadores de necessidades especiais, 100% dos enfermeiros (37) assinalaram que deveria ocorrer durante a formação acadêmica. Para 77% dos técnicos em enfermagem (46), o treinamento deveria ocorrer durante o exercício profissional, enquanto 23% (14) assinalaram que a capacitação deveria ocorrer tanto na formação acadêmica quanto em treinamentos durante o exercício profissional. Nenhum dos entrevistados, enfermeiros e técnicos em enfermagem, respondeu que a capacitação deveria ocorrer por iniciativa própria, por meio de cursos de especialização ou outros.

DISCUSSÃO

No contexto do ambiente hospitalar, que por suas peculiaridades favorece a insegurança, o paciente precisa sentir-se seguro e confiar no profissional que o atende para permitir o cuidado, e esse vínculo de confiança depende da comunicação interpessoal(22. Silva LMG, Brasil VV, Guimarães HCQCP, Savonitti BHRA, Silva MJP. Comunicação não verbal: reflexões acerca da linguagem corporal. Rev Latinoam Enferm Ribeirão Preto. 2000;8(4):52-8.,77. Melles AM, Zazo MMF. A utilização da lousa mágica na comunicação do traqueostomizado. Rev Latinoam Enferm Ribeirão Preto. 2001;9(1):73-9.).

No presente estudo, explicar um assunto de interesse do paciente deficiente auditivo foi uma dificuldade de comunicação assinalada pela maioria dos enfermeiros e dos técnicos em enfermagem, enquanto para uma minoria dos enfermeiros e dos técnicos, a dificuldade consistiu em entender o paciente a partir da sua forma de comunicação.

Percebe-se que as dificuldades referidas envolvem pessoas com dificuldades de receber e emitir mensagens não-verbais ou, então, de processá-las. Os resultados deste trabalho são confirmados por dados disponíveis na literatura que atestam que enfermeiros e técnicos em enfermagem se veem privados do uso da linguagem oral auditiva, o que pode ocasionar problemas na interação com o paciente deficiente auditivo(1111. Chaveiro N, Barbosa MA, Porto CC. Revisão de literatura sobre o atendimento ao paciente surdo pelos profissionais da saúde. Rev Esc Enferm USP. 2008;42(3):578-83.).

Estudos mostram que se faz necessária uma melhor comunicação dos profissionais da área da saúde com os deficientes auditivos a fim de que não haja frustração da parte do cliente no atendimento, bem como sentimentos de impotência e impaciência por parte dos profissionais de enfermagem(1212. Gomes V, Correa Soares M, Manfrin Muniz R, Silva Junior DS. Vivencia del enfermero al cuidar sordos y/o portadores de deficiencia auditiva. Enferm Glob. 2009;17:1-10.). Porém, apesar dos estudos, reportagens e relatos de casos, ainda se fazem presentes negligências nos serviços de saúde tanto em setores públicos quanto privados(1313. Pagliuca LMF, Fiúza NLG, Rebouças CBA. Aspecto da comunicação da enfermeira com o deficiente auditivo. Rev Esc Enferm USP. 2007;41(3):411-8.).

É importante compreender o paciente diante de suas necessidades individuais, avaliando seus aspectos psíquicos e orgânicos para que a sistematização da assistência de enfermagem seja feita de forma adequada(1414. Machado ACA, Brêtas ACP. Comunicação não-verbal de idosos frente ao processo de dor. Rev Bras Enferm. 2006;59(2):129-33.).

Em relação às estratégias utilizadas pelos profissionais na comunicação com o paciente deficiente auditivo, os resultados obtidos mostram que, a totalidade da equipe de enfermagem, considerando-se tanto os enfermeiros quanto os técnicos em enfermagem, utilizou mímica durante o atendimento. A leitura labial foi usada por quase a totalidade dos profissionais, o auxílio do acompanhante pela maioria, a escrita pela minoria. Raramente ocorreu a comunicação por meio de LIBRAS. As outras formas de comunicação citadas por alguns poucos técnicos correspondem aos pacientes que faziam uso do aparelho auditivo e não tiveram dificuldades na comunicação.

A mímica é uma estratégia de comunicação compensatória, uma vez que o movimento, o gestual e as expressões faciais são percebidos pela visão. Porém, estudos mostram que a função simbólica da mímica gestual nem sempre é compreendida devido ao seu surgimento em época primitiva e às alterações sofridas com o passar dos séculos, podendo cada indivíduo interpretar os gestos a partir da sua forma de pensar(1515. Jesus SC. A dimensão mimética da linguagem. Arqueiro. 2006;14:7-10.).

A utilização da leitura labial é viável na interação com o ouvinte e o surdo, mas não é responsável pela compreensão propriamente dita, devido ao fato de a pessoa surda ter que manter foco constante naquele com quem se comunica por conta de que qualquer mudança na posição de ambos os rostos levar a perdas de informações. Contudo, a leitura labial, muito utilizada, é superestimada e pode gerar problemas específicos no relacionamento entre paciente e enfermeiro(1616. Botelho P. Educação inclusiva para surdos: desmistificando pressupostos. In: I Seminário Internacional Sociedade inclusiva; 1999 Set; Belo Horizonte. Anais eletrônicos. Belo Horizonte: PUC Minas; 2007:1-5 [citado 2010 Feb 9]. Disponível em: http://www.sociedadeinclusiva.pucminas.br/anaispdf/educsurdos.pdf
http://www.sociedadeinclusiva.pucminas.b...
).

Contar com a ajuda do acompanhante para a comunicação com o paciente seria um recurso possível para melhor relação interpessoal entre paciente e equipe de enfermagem, já que o acompanhante entende cada gesto, cada símbolo, cada expressão facial utilizada pelo paciente para se comunicar. No entanto, para que a presença do acompanhante seja contínua, é necessário que a equipe esteja preparada para a convivência, visto que a internação junto ao paciente leva a possibilidades de aumento de conflitos, e o hospital tem que dispor de um ambiente que possa oferecer conforto e comodidade a ambos(1111. Chaveiro N, Barbosa MA, Porto CC. Revisão de literatura sobre o atendimento ao paciente surdo pelos profissionais da saúde. Rev Esc Enferm USP. 2008;42(3):578-83.,1717. Rosa CG, Barbosa MA, Bachion MM. Comunicação da equipe de enfermagem com deficiente auditivo com surdez severa: um estudo exploratório. Rev Eletrônica Enferm. [Internet]. 2000 [citado 2010 Feb 9]; 2(2): [cerca de 6p.] Disponível em: http://www.fen.ufg.br/revista/revista2_2/melita.html
http://www.fen.ufg.br/revista/revista2_2...
).

No caso da instituição pesquisada, os quartos são individuais e todos os pacientes permanecem com acompanhante durante toda a internação.

O uso da escrita é muitas vezes necessário e está presente no cotidiano da comunicação interpessoal, principalmente quando se trata de deficientes auditivos. No entanto, esse recurso pode ser de difícil utilização, já que para os portadores de deficiência auditiva, desde a infância, a escrita representa uma segunda língua, e como tal pode representar dificuldades de domínio, o que poderia gerar constrangimentos e frustrações ao paciente(1111. Chaveiro N, Barbosa MA, Porto CC. Revisão de literatura sobre o atendimento ao paciente surdo pelos profissionais da saúde. Rev Esc Enferm USP. 2008;42(3):578-83.,1414. Machado ACA, Brêtas ACP. Comunicação não-verbal de idosos frente ao processo de dor. Rev Bras Enferm. 2006;59(2):129-33.,1818. Brasil, Ministério da Educação e Cultura. Aquisição/aprendizagem da língua portuguesa (L2): o contexto da pessoa surda. [Internet]. 2004-2009 [citado 2010 Feb 9]. Disponível em: http://www.fonojp.hpgvip.ig.com.br/ebooks/mec05.pdf
http://www.fonojp.hpgvip.ig.com.br/ebook...
).

A língua de sinais é usada mundialmente com suas diferenças e particularidades em cada continente(1111. Chaveiro N, Barbosa MA, Porto CC. Revisão de literatura sobre o atendimento ao paciente surdo pelos profissionais da saúde. Rev Esc Enferm USP. 2008;42(3):578-83.). No Brasil, é conhecida como Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). É uma modalidade que utiliza o espaço visual e a coordenação das mãos e, em alguns casos, ruídos no canal pelo qual os signos e códigos transmitidos são recebidos pelos olhos e transmitidos pelas mãos(1111. Chaveiro N, Barbosa MA, Porto CC. Revisão de literatura sobre o atendimento ao paciente surdo pelos profissionais da saúde. Rev Esc Enferm USP. 2008;42(3):578-83.,1919. Dizeu LCTB, Caporali SA. A língua de sinais constituindo o surdo como sujeito. Educ Soc. 2005;26(91):583-97.). O que a diferencia da mímica é que cada gesto em LIBRAS significa muito mais que uma palavra. Dependendo do contexto, com apenas um gesto pode se formar uma frase. Geralmente, o aprendizado de LIBRAS inicia-se ainda na infância, facilitando essa forma de comunicação; quando a surdez é adquirida tardiamente, o deficiente auditivo poderá ficar limitado ao uso de gestos isolados e próprios(1515. Jesus SC. A dimensão mimética da linguagem. Arqueiro. 2006;14:7-10.,1717. Rosa CG, Barbosa MA, Bachion MM. Comunicação da equipe de enfermagem com deficiente auditivo com surdez severa: um estudo exploratório. Rev Eletrônica Enferm. [Internet]. 2000 [citado 2010 Feb 9]; 2(2): [cerca de 6p.] Disponível em: http://www.fen.ufg.br/revista/revista2_2/melita.html
http://www.fen.ufg.br/revista/revista2_2...
,2020. Cardoso AHA, Rodrigues KG, Bachion MM. Percepção da pessoa com surdez severa e/ou profunda acerca do processo de comunicação durante seu atendimento de saúde. Rev Latinoam Enferm. 2006;14(4):553-60.).

Compete à equipe de enfermagem o desenvolvimento de práticas assistenciais, habilidades, instrumentos, técnicas, capacidade e competência para oferecer melhores condições de comunicação aos pacientes(66. Torres EF, Mazzoni AA, Mello AG. Nem toda pessoa lê em Braille, nem toda pessoa surda se comunica em língua de sinais. Educ Pesq. 2007;33(2): 369-85.).

Existem muitas barreiras no atendimento aos pacientes surdos e, mesmo que o encontro seja temporário, torna-se um desafio para os profissionais da área da saúde a comunicação com esses indivíduos(2121. Fávero MH, Pimenta ML. Pensamento e linguagem: a língua de sinais na resolução de problemas. Psicol Refl Crít. 2006;19(2):225-36.). Durante o curso de graduação e também na vida profissional, discute-se sobre a deficiência auditiva como um problema patológico, sem buscar formas específicas de interação com essa clientela(1212. Gomes V, Correa Soares M, Manfrin Muniz R, Silva Junior DS. Vivencia del enfermero al cuidar sordos y/o portadores de deficiencia auditiva. Enferm Glob. 2009;17:1-10.,2121. Fávero MH, Pimenta ML. Pensamento e linguagem: a língua de sinais na resolução de problemas. Psicol Refl Crít. 2006;19(2):225-36.-2222. Chaveiro N, Barbosa MA. Assistência de enfermagem na área da saúde como fator de inclusão social. Rev Esc Enferm USP. 2005;39(4):417-22.).

É necessário que os profissionais adquiram conhecimentos sobre técnicas de comunicação seja por meio da introdução de disciplinas específicas na grade curricular que focalizem o atendimento aos portadores de necessidades especiais seja por meio de cursos de especialização e programas de educação continuada no ambiente hospitalar.

CONCLUSÕES

Os resultados obtidos mostraram que a equipe de enfermagem enfrenta dificuldades no que diz respeito à informação prestada aos deficientes auditivos e na compreensão do paciente a partir de sua forma de comunicar-se. Os profissionais procuram vencer essas barreiras com diferentes estratégias, porém a totalidade dos participantes utiliza a mímica como modo de comunicação.

A capacitação dos profissionais da área da saúde para o atendimento de portadores de necessidades especiais é importante para a promoção de uma assistência humanizada e focalizada no contexto de uma sociedade mais inclusiva.

Anexo Instrumento de coleta de dados


REFERENCES

  • 1
    Chaveiro N, Barbosa MA. A surdez, o surdo e seu discurso. Rev Eletrônica Enferm. 2004;6(2):166-71.
  • 2
    Silva LMG, Brasil VV, Guimarães HCQCP, Savonitti BHRA, Silva MJP. Comunicação não verbal: reflexões acerca da linguagem corporal. Rev Latinoam Enferm Ribeirão Preto. 2000;8(4):52-8.
  • 3
    Pagliuca LMF, Fiúza NLG, Rebouças CBA. Aspectos da comunicação da enfermeira com o deficiente auditivo. Rev Esc Enferm USP. 2007;41(3):411-8.
  • 4
    Costa SS. Audição, comunicação e linguagem: um convite à reflexão. Rev HCPA & Fac Med Univ Fed Rio Gd do Sul. 1999;19(2):147-66.
  • 5
    Galvão CM, Sawada NO, Castro AP, Corniani F. Liderança e comunicação: estratégias essenciais para o gerenciamento da assistência de enfermagem no contexto hospitalar. Rev Latinoam Enferm Ribeirão Preto. 2000;8(5):34-43
  • 6
    Torres EF, Mazzoni AA, Mello AG. Nem toda pessoa lê em Braille, nem toda pessoa surda se comunica em língua de sinais. Educ Pesq. 2007;33(2): 369-85.
  • 7
    Melles AM, Zazo MMF. A utilização da lousa mágica na comunicação do traqueostomizado. Rev Latinoam Enferm Ribeirão Preto. 2001;9(1):73-9.
  • 8
    Araújo MMT, Silva MJP, Puggina ACG. A comunicação não-verbal enquanto fator iatrogênico. Rev Esc Enferm USP. 2007;41(3):419-25.
  • 9
    Silva MJP. Aspectos gerais da construção de um programa sobre comunicação não-verbal para enfermeiros. Rev Latinoam Enferm Ribeirão Preto. 1996;4(e):25-37.
  • 10
    Polit DF, Beck CT, Hungler BP. Fundamentos de pesquisa em enfermagem: métodos, avaliação e utilização. 3a ed. Porto Alegre: Artmed; 2004. Capítulo 8, Compreensão do delineamento da pesquisa quantitativa, p. 163-98.
  • 11
    Chaveiro N, Barbosa MA, Porto CC. Revisão de literatura sobre o atendimento ao paciente surdo pelos profissionais da saúde. Rev Esc Enferm USP. 2008;42(3):578-83.
  • 12
    Gomes V, Correa Soares M, Manfrin Muniz R, Silva Junior DS. Vivencia del enfermero al cuidar sordos y/o portadores de deficiencia auditiva. Enferm Glob. 2009;17:1-10.
  • 13
    Pagliuca LMF, Fiúza NLG, Rebouças CBA. Aspecto da comunicação da enfermeira com o deficiente auditivo. Rev Esc Enferm USP. 2007;41(3):411-8.
  • 14
    Machado ACA, Brêtas ACP. Comunicação não-verbal de idosos frente ao processo de dor. Rev Bras Enferm. 2006;59(2):129-33.
  • 15
    Jesus SC. A dimensão mimética da linguagem. Arqueiro. 2006;14:7-10.
  • 16
    Botelho P. Educação inclusiva para surdos: desmistificando pressupostos. In: I Seminário Internacional Sociedade inclusiva; 1999 Set; Belo Horizonte. Anais eletrônicos. Belo Horizonte: PUC Minas; 2007:1-5 [citado 2010 Feb 9]. Disponível em: http://www.sociedadeinclusiva.pucminas.br/anaispdf/educsurdos.pdf
    » http://www.sociedadeinclusiva.pucminas.br/anaispdf/educsurdos.pdf
  • 17
    Rosa CG, Barbosa MA, Bachion MM. Comunicação da equipe de enfermagem com deficiente auditivo com surdez severa: um estudo exploratório. Rev Eletrônica Enferm. [Internet]. 2000 [citado 2010 Feb 9]; 2(2): [cerca de 6p.] Disponível em: http://www.fen.ufg.br/revista/revista2_2/melita.html
    » http://www.fen.ufg.br/revista/revista2_2/melita.html
  • 18
    Brasil, Ministério da Educação e Cultura. Aquisição/aprendizagem da língua portuguesa (L2): o contexto da pessoa surda. [Internet]. 2004-2009 [citado 2010 Feb 9]. Disponível em: http://www.fonojp.hpgvip.ig.com.br/ebooks/mec05.pdf
    » http://www.fonojp.hpgvip.ig.com.br/ebooks/mec05.pdf
  • 19
    Dizeu LCTB, Caporali SA. A língua de sinais constituindo o surdo como sujeito. Educ Soc. 2005;26(91):583-97.
  • 20
    Cardoso AHA, Rodrigues KG, Bachion MM. Percepção da pessoa com surdez severa e/ou profunda acerca do processo de comunicação durante seu atendimento de saúde. Rev Latinoam Enferm. 2006;14(4):553-60.
  • 21
    Fávero MH, Pimenta ML. Pensamento e linguagem: a língua de sinais na resolução de problemas. Psicol Refl Crít. 2006;19(2):225-36.
  • 22
    Chaveiro N, Barbosa MA. Assistência de enfermagem na área da saúde como fator de inclusão social. Rev Esc Enferm USP. 2005;39(4):417-22.
  • Trabalho apresentado para conclusão do curso de Graduação em Enfermagem na Faculdade de Enfermagem do Hospital Israelita Albert Einstein – HIAE, São Paulo (SP), Brasil.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Mar 2010

Histórico

  • Recebido
    14 Maio 2009
  • Aceito
    18 Dez 2009
Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein Avenida Albert Einstein, 627/701 , 05651-901 São Paulo - SP, Tel.: (55 11) 2151 0904 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revista@einstein.br