Acessibilidade / Reportar erro

Finanças Comportamentais no Brasil: uma aplicação da teoria da perspectiva em potenciais investidores

Finanzas comportamentales en Brasil: aplicación de la teoría de la perspectiva a los inversores potenciales

RESUMO

A premissa de racionalidade ilimitada preconizada pela Hipótese dos Mercados Eficientes é contestada como ferramenta para tomada de decisões pelo arcabouço teórico que envolve as Finanças Comportamentais, cuja base, a Teoria da Perspectiva de Kahneman e Tversky (1979), questiona o que prediz a Teoria da Utilidade Esperada, importante elemento da Economia Neoclássica. A presente pesquisa objetiva replicar a investigação empírica do artigo seminal de Kahneman e Tversky (1979) para avaliar o processo decisório de funcionários (potenciais investidores) de uma importante instituição financeira nacional. Os resultados deste estudo foram comparados aos obtidos no trabalho original e em pesquisas similares. O questionário adotado foi uma adaptação do originalmente utilizado, para que se pudesse testar, na amostra estudada, a aplicabilidade da Teoria da Perspectiva, mais especificamente no que diz respeito aos Efeitos Certeza, Reflexão e Isolamento. Foram analisadas, ainda, as diferenças no comportamento frente à tomada de decisões considerando os perfis demográficos dos respondentes (gênero, idade e renda). Os resultados obtidos confirmaram a presença dos efeitos e comprovaram que uma grande parcela do público amostral apresentou efetiva inconsistência em suas escolhas segundo os fundamentos da Teoria da Utilidade Esperada, o que indica que suas decisões não foram tomadas de forma estritamente racional. Como contribuição, foi analisado se as violações estão relacionadas a características dos investidores, por meio de um modelo de regressão linear. Os resultados indicam que, em relação aos perfis, idade e renda apresentaram relação negativa com o total de violações.

Palavras-chave:
Teoria do prospecto; Heurísticas; Vieses cognitivos; Processo decisório; Características dos investidores

RESUMEN

La premisa de la racionalidad ilimitada defendida por la hipótesis del mercado eficiente se contempla como una herramienta para la toma de decisiones en el marco teórico que implica el comportamiento financiero, cuya base, la teoría de la perspectiva de Kahneman y Tversky (1979), cuestiona la teoría que predice la utilidad esperada, un elemento importante de la economía neoclásica. Esta investigación tiene como objetivo replicar la investigación empírica del artículo seminal para evaluar el proceso de toma de decisiones de los trabajadores (potenciales inversionistas) de una institución financiera nacional importante. Los resultados de este estudio se compararon con los obtenidos en la obra original y los estudios similares. El cuestionario utilizado fue una adaptación del utilizado originalmente, para que se pudiera probar, en nuestra muestra, la aplicabilidad de la teoría de la perspectiva, más específicamente en lo que respecta a los efectos certeza, reflexión y aislamiento. Se analizaron también las diferencias de comportamiento en la toma de decisiones teniendo en cuenta los perfiles demográficos de los entrevistados. Los resultados confirmaron la presencia de los efectos y demostraron que una gran parte de la muestra pública mostró inconsistencia efectiva en sus decisiones, de acuerdo a los principios de la teoría de utilidad esperada, lo que indica que sus decisiones no fueron tomadas de manera estrictamente racional. Como contribución, analizamos si los incumplimientos están relacionados con las características de los inversores a través de un modelo de regresión lineal. Los resultados indican que, en relación con el perfil, la edad y los ingresos mostraron una relación negativa con los incumplimientos totales.

Palabras clave:
Teoría de la perspectiva; Heurística; Sesgos cognitivos; Proceso de toma de decisiones; Características de los inversores

ABSTRACT

The premise of unbounded rationality defended by the Efficient Market Hypothesis is challenged by the theoretical framework that involves Behavioral Finance, whose basis, Kahneman and Tversky’s Prospect Theory (1979), questions the Expected Utility Theory, an important element of Neoclassical Economics, as basis for decision-making. This research aims to replicate the empirical research of Kahneman and Tversky’s seminal article (1979) to evaluate the decision-making process of employees (potential investors) from a major national financial institution. The results of this study were compared to those obtained in the original article and to other similar studies. The questionnaire employed was an adaptation of the one originally used, so that we could test, in the studied sample, the applicability of the Prospect Theory, more specifically with regard to Certainty, Reflection and Isolation Effects. We also analyzed differences in the decision-making process considering respondents’ attributes (gender, age and income). The results confirmed that behavioral effects do exist, and proved that a large portion of the sample presented significant inconsistency in their choices according to Expected Utility Theory principles, highlighting that their decisions were not made according to strictly rational behavior. Furthermore, we analyzed the relationship between violations and investor characteristics by estimating a linear model. Results indicate that both age and level of income were negatively related to total violations.

Keywords:
Prospect theory; Heuristics; Cognitive biases; Decision-making process; Investor characteristics

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

REFERÊNCIAS

  • BAJTELSMIT, V. L.; BERNASEK, A. Why do woman invest differently than men? Financial Counseling and Planning, 1996. Disponível em: <Disponível em: http://ssrn.com/abstract=2238 >. Acesso em: 26 maio 2013.
    » http://ssrn.com/abstract=2238
  • BAKER, M.; WURGLER, J. Behavioral corporate finance: an updated survey. NBER Working Paper, 17333, Aug. 2011. Disponível em: <Disponível em: http://www.nber.org/papers/w17333 >. Acesso em: 20 maio 2012.
    » http://www.nber.org/papers/w17333
  • BARBER, B. M.; ODEAN, T. Individual investors. In: THALER, R. (Org.). Advances in behavioral finance. New York: Russell Sage Foudation, 2005. v. 2, p. 543-569.
  • BARSKY, R. B. et al. Preference parameters and behavioral heterogeneity: an experimental approach in the health and retirement study. The Quarterly Journal of Economics, Cambridge, v. 112, n. 2, p. 537-579, 1997.
  • BAZERMAN, M. H.; MOORE, D. Processo decisório.7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
  • BHANDARI, G.; DEAVES, R. The demographics of overconfidence. The Journal of Behavioral Finance, Philadelphia, v. 7, n. 1, p. 5-11, 2006.
  • CÔRTES, F. M. Finanças comportamentais: uma aplicação da teoria do prospecto na tomada de decisão de investidores no Brasil.2008. 71 f. Dissertação (Mestrado em Administração de Empresas) - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008.
  • CRUZ, B. P. A.; PIRES JR, R. J. M; ROSS, S. D. Diferença de gênero na percepção de culpa no boicote de consumidores. Revista Brasileira de Gestão de Negócios, São Paulo, v.15, n.49, p. 504-523, out/dez 2013.
  • CUSINATO, R. T. Teoria da decisão sob incerteza e a hipótese da utilidade esperada: conceitos analíticos e paradoxos. 2003. 181 f. Dissertação (Mestrado em Economia) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2003.
  • DÉCOURT, R. F. As finanças comportamentais e o processo de decisão no mercado financeiro brasileiro. 2004. 122 f. Dissertação (Mestrado em Administração de Empresas) - Centro Universitário Álvares Penteado - Unifecap, São Paulo, 2004.
  • FAMA, E. Efficient capital markets: a review of theory and empirical work. Journal of Finance, Malden, v. 25, n. 2, p. 383-417, 1970.
  • HALFELD, M.; TORRES, F. F. L. Finanças comportamentais: aplicações no contexto brasileiro. RAE - Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 41, n. 2, p. 64-71 abr./jun. 2001.
  • HALLAHAN, T. A.; FAFF, R. W.; MCKENZIE, M. D. An empirical investigation of personal financial risk tolerance. Financial Services Review-Greenwich, [S.l.], v. 13, n. 1, p. 57-78, 2004.
  • JENSEN, M.C. Some anomalous evidence regarding market efficiency. Journal of Financial Economics, Amsterdan, v. 47, n. 2, p. 263-291, 1979.
  • KAHNEMAN, D. Rápido e devagar: duas formas de pensar. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.
  • KAHNEMAN, D.; TVERSKY, A. Prospect theory: ananalysis of decision under risk. Econometrica, Chicago, v. 47, n. 2, p. 263-291, Mar. 1979.
  • KAHNEMAN, D.; TVERSKY, A. Choices, values, and frames. American Psychologist, Washington, D.C, v. 34, n. 4, p. 341-350, 1984.
  • KIMURA, H.; BASSO, L. F. C; KRAUTER, E. Paradoxos em finanças: teoria moderna versus finanças comportamentais. Revista de Administração de Empresas - RAE, São Paulo, v. 46, n. 1, p. 41-58, 2006.
  • MACEDO JUNIOR, J. S.; KOLINSKY, R.; MORAIS, J. C. J. Finanças comportamentais: como o desejo, o poder, o dinheiro e as pessoas influenciam nossas decisões. São Paulo: Atlas, 2011.
  • MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. 7. ed. São Paulo: Atlas , 2010.
  • MARKOWITZ, H. Portfolio selection. The Journal of Finance, Malden, v. 7, n. 1, p. 77-91, Mar. 1952. Disponível em: <Disponível em: http://www.math.ust.hk/~maykwok/courses/ma362/07F/markowitz_JF.pdf >. Acesso em: 09 jun. 2012.
    » http://www.math.ust.hk/~maykwok/courses/ma362/07F/markowitz_JF.pdf
  • MODIGLIANI, F.; MILLER, M. H. The cost of capital, corporation finance, and the theory of investiment. American Economic Review, Nashville, v. 48, n. 3, p. 261-297, June 1958.
  • MODIGLIANI, F.; MILLER, M. H. Dividend policy, growth and the valuation of shares. Journal of Business, Chicago, v. 34, n. 4, p. 411-433, 1961.
  • MODIGLIANI, F.; MILLER, M. H. Corporate income taxes and the cost of capital: a correction. The American Economic Review, Nashville, v. 53, n. 3, p. 433-443, 1963.
  • RABELO JUNIOR, T. S.; IKEDA, R. H. Mercados eficientes e arbitragem: um estudo sob o enfoque das finanças comportamentais. Revista Contabilidade & Finanças, São Paulo, v. 15, n. 34, p. 97-107, jan./abr. 2004.
  • RIBEIRO, D. P. C. Prospect theory, diversificação ingênua e propensão a risco de especialistas em mercado: evidência empírica no Brasil. 2010. 55 f. Dissertação (Mestrado em Finanças e Economia Empresarial) - Escola de Pós-Graduação em Economia, Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, 2010.
  • ROGERS, P.; et al. Finanças comportamentais no Brasil: um estudo comparativo. Revista de Economia e Administração, São Paulo, v. 6, n.1, p. 49-68, 2007.
  • ROGERS, P.; FAVATO, V.; SECURATO, J. R. Efeito educação financeira no processo de tomada de decisões em investimentos: um estudo a luz das finanças comportamentais. In: CONGRESSO ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS, 2, 2008, Salvador. Anais eletrônicos... Salvador: ANPCONT, 2008. p. 1-17. Disponível em: <Disponível em: http://www.pablo.prof.ufu.br/artigos/anpcont2.pdf >. Acesso em: 23 jun. 2012.
    » http://www.pablo.prof.ufu.br/artigos/anpcont2.pdf
  • SHARPE, W. F. Capital and prices: a theory of market equilibrium under conditions of risk. Journal of Finance, Malden, v. 19, n. 3, p. 425-442, Sept. 1964.
  • SHLEIFER, A. Inefficient markets: an introduction to behavioral finance. New York: Oxford University Press, 2000.
  • SIMON, H. A. A behavioral model of rationality choice. Quarterly Journal of Economics, Cambridge, v. 69, n.1, p. 99-118, 1955.
  • THALER, R. The end of behavioral finance. Financial Analysts Journal, Charlottesville, v. 55, n. 6, p. 12-17, 1999.
  • TORRALVO, C. F. Finanças comportamentais: uma aplicação da teoria do prospecto em alunos brasileiros de pós-graduação. 2010. 124 f. Dissertação (Mestrado em Administração) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010.
  • TVERSKY, A.; KAHNEMAN, D. A judgment under uncertainty: heuristics and biases. Science, [S.l], v. 185, n. 4157, p. 1124-1131, Sept. 1974.
  • Processo de avaliação: Double Blind Review

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Oct-Dec 2014

Histórico

  • Recebido
    14 Jan 2014
  • Aceito
    11 Nov 2014
Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado, Av. da Liberdade, 532, 01.502-001 , São Paulo, SP, Brasil , (+55 11) 3272-2340 , (+55 11) 3272-2302, (+55 11) 3272-2302 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: rbgn@fecap.br