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Percepção de Risco e Internacionalização de Empresas Born Global em Mercados Emergentes

Resumo

Objetivo

O objetivo deste artigo é propor um modelo integrador de análise de risco e de fatores que influenciam a propensão e a velocidade do processo de internacionalização das empresas nascidas globais, as chamadas born globals.

Referencial teórico

A pesquisa tem como base a literatura sobre negócios internacionais, com foco no risco da internacionalização. As variáveis e escalas utilizadas para a construção do modelo são provenientes da referida literatura, fundamentada em estudos recentes.

Metodologia

O modelo foi testado por uma pesquisa realizada em uma amostra de 200 microcervejarias brasileiras e os dados foram analisados por meio da modelagem de equações estruturais. Os resultados indicam que a velocidade da internacionalização, que envolve o processo, a estratégia e as redes, tem forte relação com a percepção de risco. Em contrapartida, a propensão à internacionalização, que envolve as características do empreendedor, não está relacionada à avaliação de risco.

Implicações práticas e sociais da pesquisa

Este estudo complementa e enriquece a pesquisa sobre percepção de risco no campo do empreendedorismo internacional e contribui para a literatura sobre mercados emergentes, discutindo as características do empreendedorismo e das pequenas empresas nesse contexto.

Contribuições

Este estudo busca aprimorar o conhecimento propondo um modelo estrutural e testando empiricamente os construtos da propensão e velocidade de internacionalização e o impacto da avaliação e percepção de risco nas born globals.

Palavras-chave:
Percepção de risco; internacionalização; born global; mercados emergentes

Abstract

Purpose

The purpose of this paper is to propose an integrative model of risk analysis and influencing factors regarding the propensity and speed of the born globals internationalization process.

Theoretical framework

The research is based on the international business literature focusing on the risk in internationalization. The variables and scale used to construct the model come from that literature, supported by recent studies.

Design/methodology/approach

The model is tested by a survey carried out on a sample of 200 Brazilian microbreweries and the data are analyzed using structural equation modeling.

Findings

The findings indicate that the speed of internationalization, which involves the process, strategy, and networks, has a strong relationship with the risk perception. In contrast, the internationalization propensity, which involves the characteristics of the entrepreneur, is not related to the risk evaluation.

Practical & social implications of research

This study further complements and enriches the research of risk perception in the field of international entrepreneurship, and contributes to the literature in emerging markets, discussing the characteristics of entrepreneurship and small businesses within this context.

Originality/value

This study seeks to improve the knowledge by proposing a structural model and empirically testing the constructs of the propensity for and speed of internationalization and the impact of the evaluation and perception of risks on born globals.

Keywords:
Risk perception; internationalization; born globals; emerging markets

1 Introdução

O surgimento de um novo campo de estudo na literatura sobre o empreendedorismo internacional, causado pelo surgimento das empresas nascidas globais, as chamadas born globals, no início dos anos 1990, cria um grande desafio para as teorias dominantes sobre o processo de internacionalização (Paul & Rosado-Serrano, 2019Paul, J., & Rosado-Serrano, A. (2019). Gradual internationalization vs born-global/international new venture models: A review and research agenda. International Marketing Review, 36(6), 830-858. http://dx.doi.org/10.1108/IMR-10-2018-0280.
http://dx.doi.org/10.1108/IMR-10-2018-02...
). Esses novos empreendimentos adotam uma visão global desde o início de suas operações e focam em um rápido processo de internacionalização (Fan & Phan, 2018Fan, T., & Phan, P. (2018). International new ventures: Revisiting the Influences behind the ‘born-global’firm. International Entrepreneurship, 38(7), 131-172. http://dx.doi.org/10.1007/978-3-319-74228-1_5.
http://dx.doi.org/10.1007/978-3-319-7422...
), que vem sendo investigado por diversos autores, como Choquette et al. (2017)Choquette, E., Rask, M., Sala, D., & Schröder, P. (2017). Born Globals- Is there fire behind the smoke? International Business Review, 26(3), 448-460. http://dx.doi.org/10.1016/j.ibusrev.2016.10.005.
http://dx.doi.org/10.1016/j.ibusrev.2016...
, Gabrielsson et al. (2008)Gabrielsson, M., Kirpalani, V. M., Dimitratos, P., Solberg, C. A., & Zucchella, A. (2008). Born globals: Propositions to help advance the theory. International Business Review, 17(4), 385-401. http://dx.doi.org/10.1016/j.ibusrev.2008.02.015.
http://dx.doi.org/10.1016/j.ibusrev.2008...
, Grazzi e Moschella (2018)Grazzi, M., & Moschella, D. (2018). Small, young, and exporters: New evidence on the determinants of firm growth. Journal of Evolutionary Economics, 28(1), 125-152. http://dx.doi.org/10.1007/s00191-017-0523-7.
http://dx.doi.org/10.1007/s00191-017-052...
e Knight e Cavusgil (2004)Knight, G., & Cavusgil, S. (2004). Innovation, organizational capabilities, and the born-global firm. Journal of International Business Studies, 35(2), 124-141. http://dx.doi.org/10.1057/palgrave.jibs.8400071.
http://dx.doi.org/10.1057/palgrave.jibs....
, com foco principalmente em empresas de tecnologia e em países desenvolvidos.

Estudos anteriores identificaram que empresas de mercados emergentes desenvolvem diferentes estratégias para competir e sobreviver no mercado internacional (Santos et al., 2021aSantos Jr., R. O., Abib, G., & Stocker, F. (2021a). Business across borders: Perceptions of political risk in internationalized Brazilian companies. International Journal of Business and Emerging Markets, 25(23), 106-130. https://www.ceeol.com/search/article-detail?id=1007176
https://www.ceeol.com/search/article-det...
; Stocker et al., 2021Stocker, F., Abib, G., Santos Jr., R. O., & Irigaray, H. A. R. (2021). Brazilian craft breweries and internationalization in the born global perspective. Revista de Gestão, 28(2), 163-178. http://dx.doi.org/10.1108/REGE-01-2021-0014.
http://dx.doi.org/10.1108/REGE-01-2021-0...
). Novos empreendimentos e born globals específicos, comandados por seus fundadores/empreendedores, adotam um posicionamento mais agressivo, com visão e objetivos globais e com menor aversão percepção de risco (Bangara et al., 2012Bangara, A., Freeman, S., & Schroder, W. (2012). Legitimacy and accelerated internationalization: An Indian perspective. Journal of World Business, 47(4), 623-634. http://dx.doi.org/10.1016/j.jwb.2011.09.002.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jwb.2011.09....
). Por isso, tem recebido maior atenção dos pesquisadores nos últimos anos (De Clercq et al., 2016De Clercq, D., Zhou, L., & Wu, A. (2016). Unpacking the relationship between young ventures’ international learning effort and performance in the context of an emerging economy. The International Entrepreneurship and Management Journal, 12(1), 47-66. http://dx.doi.org/10.1007/s11365-014-0328-1.
http://dx.doi.org/10.1007/s11365-014-032...
; Llanos-Contreras et al., 2021Llanos-Contreras, O., Arias, J., & Maquieira, C. (2021). Risk taking behavior in Chilean listed family firms: A socioemotional wealth approach. The International Entrepreneurship and Management Journal, 17(1), 165-184. http://dx.doi.org/10.1007/s11365-019-00628-y.
http://dx.doi.org/10.1007/s11365-019-006...
). No entanto, as investigações sobre pequenas e médias empresas internacionais nesse contexto de mercados emergentes ainda são escassas (Prieto‐Sánchez & Merino, 2022Prieto‐Sánchez, C. J., & Merino, F. (2022). Incidence of cultural, economic, and environmental factors in the emergence of born‐global companies in Latin America. Global Strategy Journal, 12(2), 245-272. http://dx.doi.org/10.1002/gsj.1398.
http://dx.doi.org/10.1002/gsj.1398...
; Urbano et al., 2019Urbano, D., Audretsch, D., Aparicio, S., & Noguera, M. (2019). Does entrepreneurial activity matter for economic growth in developing countries? The role of the institutional environment. The International Entrepreneurship and Management Journal, 16(3), 1065-1099. https://doi.org/10.1007/s11365-019-00621-5.
https://doi.org/10.1007/s11365-019-00621...
).

Especificamente nas born globals, acredita-se que as competências, habilidades e a forma como os riscos são percebidos e gerenciados diferem de outros empreendimentos, haja vista que o processo de internacionalização ocorre de forma diferenciada e não gradual, conforme analisado pela literatura (Gabrielsson et al., 2008Gabrielsson, M., Kirpalani, V. M., Dimitratos, P., Solberg, C. A., & Zucchella, A. (2008). Born globals: Propositions to help advance the theory. International Business Review, 17(4), 385-401. http://dx.doi.org/10.1016/j.ibusrev.2008.02.015.
http://dx.doi.org/10.1016/j.ibusrev.2008...
; Ughetto, 2016Ughetto, E. (2016). Growth of born globals: The role of the entrepreneur’s personal factors and venture capital. The International Entrepreneurship and Management Journal, 12(3), 839-857. http://dx.doi.org/10.1007/s11365-015-0368-1.
http://dx.doi.org/10.1007/s11365-015-036...
). No entanto, embora o risco e a internacionalização das born globals sejam temas de interesse acadêmico e corporativo, nenhum modelo avalia esses construtos. Além disso, faltam pesquisas nessa área. Assim, novas proposições podem ser oferecidas com estudos mais aprofundados e constatações empíricas (Knight & Liesch, 2016Knight, G., & Liesch, P. (2016). Internationalization: From incremental to born global. Journal of World Business, 51(1), 93-102. http://dx.doi.org/10.1016/j.jwb.2015.08.011.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jwb.2015.08....
).

Dada a falta de clareza teórica no exame da internacionalização e percepção de risco em born globals, principalmente em mercados emergentes, o objetivo deste artigo é suprir essa lacuna, propondo um modelo integrador de análise de risco e de fatores que influenciam a propensão e a velocidade do processo de internacionalização das born globals. O modelo proposto foi testado empiricamente em microcervejarias de origem brasileira. Esse setor é caracterizado pela intensa concorrência nacional e pelo rápido crescimento de pequenos empreendimentos focados na produção artesanal e com posicionamento internacional desde sua fundação – as microcervejarias born global. A aplicação da pesquisa resultou em uma amostra de 200 microcervejarias. As variáveis e a escala utilizadas para construir o modelo são oriundas da literatura sobre born globals e o risco da internacionalização, apoiada por estudos recentes.

Os dados foram analisados com o uso da modelagem de equações estruturais (MEE). Este estudo apresenta duas contribuições teóricas, além de sua implicação gerencial. Em primeiro lugar, este estudo complementa e enriquece a pesquisa sobre percepção de risco no campo do empreendedorismo internacional (Crovini et al., 2021Crovini, C., Santoro, G., & Ossola, G. (2021). Rethinking risk management in entrepreneurial SMEs: Towards the integration with the decision-making process. Management Decision, 59(5), 1085-1113. http://dx.doi.org/10.1108/MD-10-2019-1402.
http://dx.doi.org/10.1108/MD-10-2019-140...
), oferecendo integração entre os construtos de internacionalização (características, velocidade e propensão à internacionalização) e os construtos de avaliação e percepção de risco (do ponto de vista dos empreendedores e do contexto da organização). Em segundo lugar, este estudo contribui para a literatura sobre mercados emergentes, discutindo as características do empreendedorismo e das pequenas empresas dentro desse contexto, e apresentando um posicionamento estratégico mais agressivo. Por fim, apresentamos as limitações desta pesquisa e sugestões para pesquisas futuras.

2 Referencial teórico e desenvolvimento de hipóteses

O processo de internacionalização abrange uma série de compromissos e projetos que são planejados pela administração de uma empresa. No entanto, especialmente em empresas de pequeno e médio porte, os gestores não conseguem prever todos os riscos a serem enfrentados durante o processo de internacionalização (Liesch et al., 2011Liesch, P., Welch, L., & Buckley, P. (2011). Risk and uncertainty in internationalization and international entrepreneurship studies. Management International Review, 51(6), 851-873. http://dx.doi.org/10.1007/s11575-011-0107-y.
http://dx.doi.org/10.1007/s11575-011-010...
), e às vezes essa falta de percepção sobre riscos específicos afeta o processo e aumenta os custos da operação internacional (Guo & Jiang, 2020Guo, Z., & Jiang, W. (2020). Risk-taking for entrepreneurial new entry: Risk-taking dimensions and contingencies. The International Entrepreneurship and Management Journal, 16(2), 739-781. http://dx.doi.org/10.1007/s11365-019-00567-8.
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).

Segundo Cavusgil et al. (2014)Cavusgil, St., Knight, G., & Riesenberger, J. R. (2014). International business. Austrália: Pearson., a evolução na constituição de novos empreendimentos internacionais é uma evidência clara do fenômeno da globalização e do impacto persuasivo das novas tecnologias. Além disso, esse fenômeno tem causado divergências entre as explicações clássicas sobre o processo de internacionalização das empresas tradicionais e desses novos empreendimentos, abrindo espaço para novas discussões e novas perspectivas teóricas sobre esse novo fenômeno.

2.1 Born globals

A mudança no ambiente do comércio internacional, devido à internacionalização dos mercados, à presença cada vez maior de empresas e profissionais com experiência internacional e ao fortalecimento das redes de relacionamento ao redor do mundo, tem impulsionado o surgimento de novos empreendimentos com atuação no exterior e uma visão global desde o início, os chamados born globals, que têm sido investigados por vários autores, como Choquette et al. (2017)Choquette, E., Rask, M., Sala, D., & Schröder, P. (2017). Born Globals- Is there fire behind the smoke? International Business Review, 26(3), 448-460. http://dx.doi.org/10.1016/j.ibusrev.2016.10.005.
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, Gabrielsson et al. (2008)Gabrielsson, M., Kirpalani, V. M., Dimitratos, P., Solberg, C. A., & Zucchella, A. (2008). Born globals: Propositions to help advance the theory. International Business Review, 17(4), 385-401. http://dx.doi.org/10.1016/j.ibusrev.2008.02.015.
http://dx.doi.org/10.1016/j.ibusrev.2008...
, Grazzi e Moschella (2018)Grazzi, M., & Moschella, D. (2018). Small, young, and exporters: New evidence on the determinants of firm growth. Journal of Evolutionary Economics, 28(1), 125-152. http://dx.doi.org/10.1007/s00191-017-0523-7.
http://dx.doi.org/10.1007/s00191-017-052...
, Oviatt e McDougall (2005)Oviatt, B., & McDougall, P. (2005). Toward a theory of international new ventures. Journal of International Business Studies, 36(1), 29-41. http://dx.doi.org/10.1057/palgrave.jibs.8400128.
http://dx.doi.org/10.1057/palgrave.jibs....
, Stocker e Abib (2019)Stocker, F., & Abib, G. (2019). Risk management in born globals: The case of Brazilian craft breweries. Brazilian Business Review, 16(4), 334-349. http://dx.doi.org/10.15728/bbr.2019.16.4.2.
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, entre outros.

Nas born globals com crescimento acelerado, os empreendedores apresentam uma mentalidade global, visão de longo prazo e menor percepção de risco (Civera et al., 2020Civera, J. N., Bó, M. P., & López-Muñoz, J. F. (2020). Do contextual factors influence entrepreneurship? Spain’s regional evidences. The International Entrepreneurship and Management Journal, 17(1), 105-129. http://dx.doi.org/10.1007/s11365-019-00625-1.
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). Consequentemente, adotam um posicionamento mais agressivo no mercado e fazem escolhas estratégicas diferentes das apresentadas pela literatura tradicional, mesmo que se trate de empresas de países emergentes (Bangara et al., 2012Bangara, A., Freeman, S., & Schroder, W. (2012). Legitimacy and accelerated internationalization: An Indian perspective. Journal of World Business, 47(4), 623-634. http://dx.doi.org/10.1016/j.jwb.2011.09.002.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jwb.2011.09....
; Stocker et al., 2021Stocker, F., Abib, G., Santos Jr., R. O., & Irigaray, H. A. R. (2021). Brazilian craft breweries and internationalization in the born global perspective. Revista de Gestão, 28(2), 163-178. http://dx.doi.org/10.1108/REGE-01-2021-0014.
http://dx.doi.org/10.1108/REGE-01-2021-0...
). Oviatt e McDougall (2005)Oviatt, B., & McDougall, P. (2005). Toward a theory of international new ventures. Journal of International Business Studies, 36(1), 29-41. http://dx.doi.org/10.1057/palgrave.jibs.8400128.
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comparam as empresas born global e a teoria da internacionalização de Johanson e Martín Martín (2015)Johanson, M., & Martín Martín, O. (2015). The incremental expansion of Born Internationals: A comparison of new and old Born Internationals. International Business Review, 24(3), 476-496. http://dx.doi.org/10.1016/j.ibusrev.2014.10.006.
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. Eles consideram isso, diferentemente das premissas do modelo de Uppsala, cujo processo de internacionalização é gradual, para as born globals. No entanto, os recursos podem ser limitados devido ao porte e ao tempo de existência, e elas podem ter pouca ou nenhuma experiência em qualquer mercado. Ainda assim, esses novos empreendimentos se comprometem com o mercado internacional, assumindo os riscos das primeiras operações nesse mercado. Além disso, os estudos argumentam que as born globals têm vantagem na aquisição de conhecimento e experiência devido à exposição ao mercado internacional e desenvolvem habilidades mais rapidamente do que outros empreendimentos tradicionais (Gabrielsson et al., 2008Gabrielsson, M., Kirpalani, V. M., Dimitratos, P., Solberg, C. A., & Zucchella, A. (2008). Born globals: Propositions to help advance the theory. International Business Review, 17(4), 385-401. http://dx.doi.org/10.1016/j.ibusrev.2008.02.015.
http://dx.doi.org/10.1016/j.ibusrev.2008...
; Paul & Rosado-Serrano, 2019Paul, J., & Rosado-Serrano, A. (2019). Gradual internationalization vs born-global/international new venture models: A review and research agenda. International Marketing Review, 36(6), 830-858. http://dx.doi.org/10.1108/IMR-10-2018-0280.
http://dx.doi.org/10.1108/IMR-10-2018-02...
).

Ainda há uma interpretação equivocada sobre o conceito e a extensão do tipo de empresa que nasce global. De acordo com Gabrielsson et al. (2008)Gabrielsson, M., Kirpalani, V. M., Dimitratos, P., Solberg, C. A., & Zucchella, A. (2008). Born globals: Propositions to help advance the theory. International Business Review, 17(4), 385-401. http://dx.doi.org/10.1016/j.ibusrev.2008.02.015.
http://dx.doi.org/10.1016/j.ibusrev.2008...
, há a necessidade de adotar um conceito familiar para estudar as born globals, a fim de fazer comparações e generalizações. Este estudo adota a definição de born globals apresentada por Gabrielsson et al. (2008)Gabrielsson, M., Kirpalani, V. M., Dimitratos, P., Solberg, C. A., & Zucchella, A. (2008). Born globals: Propositions to help advance the theory. International Business Review, 17(4), 385-401. http://dx.doi.org/10.1016/j.ibusrev.2008.02.015.
http://dx.doi.org/10.1016/j.ibusrev.2008...
, que definem born global como uma empresa com visão global desde o início, com produtos e serviços potencialmente globais e capacidade empreendedora para acelerar o processo de internacionalização. Da mesma forma, Melén e Nordman (2009)Melén, S., & Nordman, E. R. (2009). The internationalisation modes of Born Globals: A longitudinal study. European Management Journal, 27(4), 243-254. http://dx.doi.org/10.1016/j.emj.2008.11.004.
http://dx.doi.org/10.1016/j.emj.2008.11....
também argumentam que as empresas born global passam a atuar em diversos mercados estrangeiros desde o início ou logo depois, podendo apresentar múltiplos modos de internacionalização.

Grande parte das pesquisas sobre born globals foi realizada em países desenvolvidos, como Johanson e Martín Martín (2015)Johanson, M., & Martín Martín, O. (2015). The incremental expansion of Born Internationals: A comparison of new and old Born Internationals. International Business Review, 24(3), 476-496. http://dx.doi.org/10.1016/j.ibusrev.2014.10.006.
http://dx.doi.org/10.1016/j.ibusrev.2014...
, que analisam empresas espanholas, Sui e Baum (2014)Sui, S., & Baum, M. (2014). Internationalization strategy, firm resources and the survival of SMEs in the export market. Journal of International Business Studies, 45(7), 821-841. http://dx.doi.org/10.1057/jibs.2014.11.
http://dx.doi.org/10.1057/jibs.2014.11...
, que analisam empresas canadenses, Trudgen e Freeman (2014)Trudgen, R., & Freeman, S. (2014). Measuring the performance of born-global firms throughout development their process: The roles of initial market selection and internationalization speed. Management International Review, 54(4), 551-579. http://dx.doi.org/10.1007/s11575-014-0210-y.
http://dx.doi.org/10.1007/s11575-014-021...
, que analisam empresas australianas, e Braunerhjelm e Halldin (2019)Braunerhjelm, P., & Halldin, T. (2019). Born globals–presence, performance and prospects. International Business Review, 28(1), 60-73. http://dx.doi.org/10.1016/j.ibusrev.2018.07.004.
http://dx.doi.org/10.1016/j.ibusrev.2018...
, que analisam startups suecas. Elas se concentram também em empresas de tecnologia, como Øyna et al. (2018)Øyna, S., Almor, T., Elango, B., & Tarba, S. Y. (2018). Maturing born globals and their acquisitive behaviour. International Business Review, 27(3), 714-725. http://dx.doi.org/10.1016/j.ibusrev.2017.12.002.
http://dx.doi.org/10.1016/j.ibusrev.2017...
, com empresas de tecnologia globais de Israel, e Brouthers et al. (2016)Brouthers, K. D., Geisser, K. D., & Rothlauf, F. (2016). Explaining the internationalization of ibusiness firms. Journal of International Business Studies, 47(5), 513-534. http://dx.doi.org/10.1057/jibs.2015.20.
http://dx.doi.org/10.1057/jibs.2015.20...
, com empresas da Alemanha. Como no contexto da pesquisa em países emergentes há uma concentração de estudos principalmente na China (Lin & Si, 2019Lin, S., & Si, S. (2019). The influence of exploration and exploitation on born globals’ speed of internationalization. Management Decision, 57(1), 193-210. http://dx.doi.org/10.1108/MD-08-2017-0735.
http://dx.doi.org/10.1108/MD-08-2017-073...
), há espaço para novos estudos e avanços na área de empresas de outros países de mercados emergentes, e de setores mais tradicionais e menos dinâmicos.

2.2 Propensão à internacionalização

Nesta pesquisa, a propensão à internacionalização é considerada conforme o modelo de pesquisa para born globals proposto por Madsen e Servais (1997)Madsen, T. K., & Servais, P. (1997). The internationalization of Born Global are: An evolutionary process? International Business Review, 6(6), 561-583. http://dx.doi.org/10.1016/S0969-5931(97)00032-2.
http://dx.doi.org/10.1016/S0969-5931(97)...
. O modelo dos autores é proposto a partir de uma análise consolidada das pesquisas sobre novos empreendimentos internacionais e define três variáveis principais: empreendedora (fatores individuais), organizacional e ambiental.

As características do empreendedor/fundador do negócio abrangem questões de cognição, formação e experiência profissional e facilidade de adaptação cultural (Ughetto, 2016Ughetto, E. (2016). Growth of born globals: The role of the entrepreneur’s personal factors and venture capital. The International Entrepreneurship and Management Journal, 12(3), 839-857. http://dx.doi.org/10.1007/s11365-015-0368-1.
http://dx.doi.org/10.1007/s11365-015-036...
). As características organizacionais do empreendimento incluem competências, rotinas, fluxo de processos internos e estrutura da governança corporativa (Ughetto, 2016Ughetto, E. (2016). Growth of born globals: The role of the entrepreneur’s personal factors and venture capital. The International Entrepreneurship and Management Journal, 12(3), 839-857. http://dx.doi.org/10.1007/s11365-015-0368-1.
http://dx.doi.org/10.1007/s11365-015-036...
). Além disso, as características do ambiente externo incluem a própria dinâmica de internacionalização do mercado e os avanços tecnológicos influenciados principalmente pelo fenômeno da globalização (Civera et al., 2020Civera, J. N., Bó, M. P., & López-Muñoz, J. F. (2020). Do contextual factors influence entrepreneurship? Spain’s regional evidences. The International Entrepreneurship and Management Journal, 17(1), 105-129. http://dx.doi.org/10.1007/s11365-019-00625-1.
http://dx.doi.org/10.1007/s11365-019-006...
; Madsen & Servais, 1997Madsen, T. K., & Servais, P. (1997). The internationalization of Born Global are: An evolutionary process? International Business Review, 6(6), 561-583. http://dx.doi.org/10.1016/S0969-5931(97)00032-2.
http://dx.doi.org/10.1016/S0969-5931(97)...
; Ughetto, 2016Ughetto, E. (2016). Growth of born globals: The role of the entrepreneur’s personal factors and venture capital. The International Entrepreneurship and Management Journal, 12(3), 839-857. http://dx.doi.org/10.1007/s11365-015-0368-1.
http://dx.doi.org/10.1007/s11365-015-036...
).

Empreendedores com mentalidade global são mais capazes de explorar novas oportunidades de negócio em mercados internacionais (Cahen & Borini, 2020Cahen, F., & Borini, F. M. (2020). International digital competence. Journal of International Management, 26(1), 100691. http://dx.doi.org/10.1016/j.intman.2019.100691.
http://dx.doi.org/10.1016/j.intman.2019....
), atuando de forma mais ativa e agressiva, além de terem um potencial de adaptabilidade mais significativo do que gestores com orientação para o mercado interno/nacional (Civera et al., 2020Civera, J. N., Bó, M. P., & López-Muñoz, J. F. (2020). Do contextual factors influence entrepreneurship? Spain’s regional evidences. The International Entrepreneurship and Management Journal, 17(1), 105-129. http://dx.doi.org/10.1007/s11365-019-00625-1.
http://dx.doi.org/10.1007/s11365-019-006...
; Grazzi & Moschella, 2018Grazzi, M., & Moschella, D. (2018). Small, young, and exporters: New evidence on the determinants of firm growth. Journal of Evolutionary Economics, 28(1), 125-152. http://dx.doi.org/10.1007/s00191-017-0523-7.
http://dx.doi.org/10.1007/s00191-017-052...
; Jin et al., 2018Jin, B., Jung, S., & Jeong, S. W. (2018). Dimensional effects of Korean SME’s entrepreneurial orientation on internationalization and performance: The mediating role of marketing capability. The International Entrepreneurship and Management Journal, 14(1), 195-215. http://dx.doi.org/10.1007/s11365-017-0457-4.
http://dx.doi.org/10.1007/s11365-017-045...
).

O modelo integrativo proposto testa as hipóteses de associação entre as características do empreendedor, da organização, do ambiente e a definição de born globals. Assim, serão testadas as seguintes hipóteses:

  • H1. O alto nível das características globais do empreendedor tem relação positiva com a propensão à internacionalização das born globals.

  • H2. O alto nível das características organizacionais dinâmicas tem relação positiva com a propensão à internacionalização das born globals.

  • H3. O alto nível do ambiente de mercado tem relação positiva com a propensão à internacionalização das born globals.

2.3 Velocidade da internacionalização

A velocidade de internacionalização das born globals envolve a estratégia de internacionalização, a inserção em redes e o processo de internacionalização (Oviatt et al., 2004Oviatt, B., Shrader, R., & McDougall, P. (2004). The internationalization of new ventures: The risk management model. Advances in International Management, 16(1), 165-185. http://dx.doi.org/10.1016/S0747-7929(04)16009-5.
http://dx.doi.org/10.1016/S0747-7929(04)...
). A velocidade de internacionalização das born globals é influenciada também pela propensão à internacionalização, diferenciando-se das empresas tradicionais por sua motivação para negócios internacionais desde o momento em que foram fundadas (Gabrielsson et al., 2008Gabrielsson, M., Kirpalani, V. M., Dimitratos, P., Solberg, C. A., & Zucchella, A. (2008). Born globals: Propositions to help advance the theory. International Business Review, 17(4), 385-401. http://dx.doi.org/10.1016/j.ibusrev.2008.02.015.
http://dx.doi.org/10.1016/j.ibusrev.2008...
; Lin & Si, 2019Lin, S., & Si, S. (2019). The influence of exploration and exploitation on born globals’ speed of internationalization. Management Decision, 57(1), 193-210. http://dx.doi.org/10.1108/MD-08-2017-0735.
http://dx.doi.org/10.1108/MD-08-2017-073...
).

Nas born globals, a propensão à internacionalização e a velocidade da internacionalização estão interligadas. Essa interligação ocorre porque sua expansão no mercado internacional acontece em um curto espaço de tempo, logo após seu surgimento, diferentemente de outras empresas cuja atuação internacional ocorre de forma gradual, como indica a abordagem comportamental aos negócios internacionais de Johanson e Martín Martín (2015)Johanson, M., & Martín Martín, O. (2015). The incremental expansion of Born Internationals: A comparison of new and old Born Internationals. International Business Review, 24(3), 476-496. http://dx.doi.org/10.1016/j.ibusrev.2014.10.006.
http://dx.doi.org/10.1016/j.ibusrev.2014...
.

Embora existam diferentes definições sobre o que é uma empresa born global, há um entendimento específico entre os pesquisadores de negócios internacionais sobre suas características. Seja pelo curto tempo para iniciar suas atividades no exterior, seu envolvimento e comprometimento com atividades no mercado externo, sua orientação para o mercado internacional ou os fatores que levam ao seu acelerado processo de internacionalização (Amorós et al., 2016Amorós, J. E., Basco, R., & Romaní, G. (2016). Determinants of early internationalization of new firms: The case of Chile. The International Entrepreneurship and Management Journal, 12(1), 283-307. http://dx.doi.org/10.1007/s11365-014-0343-2.
http://dx.doi.org/10.1007/s11365-014-034...
).

Pesquisas recentes em mercados emergentes, como Cahen e Borini (2020)Cahen, F., & Borini, F. M. (2020). International digital competence. Journal of International Management, 26(1), 100691. http://dx.doi.org/10.1016/j.intman.2019.100691.
http://dx.doi.org/10.1016/j.intman.2019....
, Prieto‐Sánchez e Merino (2022)Prieto‐Sánchez, C. J., & Merino, F. (2022). Incidence of cultural, economic, and environmental factors in the emergence of born‐global companies in Latin America. Global Strategy Journal, 12(2), 245-272. http://dx.doi.org/10.1002/gsj.1398.
http://dx.doi.org/10.1002/gsj.1398...
, Stocker e Abib (2019)Stocker, F., & Abib, G. (2019). Risk management in born globals: The case of Brazilian craft breweries. Brazilian Business Review, 16(4), 334-349. http://dx.doi.org/10.15728/bbr.2019.16.4.2.
http://dx.doi.org/10.15728/bbr.2019.16.4...
, Santos et al. (2021b)Santos Jr., R. O., Abib, G., & Stocker, F. (2021b). Risk perception in the internationalization of Brazilian companies: An analysis in different entry modes. Organizations and Markets in Emerging Economies, 12(1), 106-130. http://dx.doi.org/10.15388/omee.2021.12.50.
http://dx.doi.org/10.15388/omee.2021.12....
, chamaram atenção para a predisposição das pequenas e médias empresas de países emergentes, com recursos escassos e capacidades organizacionais limitadas, para se internacionalizar rapidamente. Essa propensão e velocidade de internacionalização por meio de múltiplas estratégias de atuação internacional têm desafiado alguns modelos teóricos, como a abordagem comportamental, sobre o processo de internacionalização. Assim, propõe-se a seguinte hipótese:

  • H4. A alta propensão à internacionalização das born globals de mercados emergentes tem uma relação positiva com a velocidade de internacionalização.

O construto envolve a rápida penetração em segmentos globais, o desenvolvimento global de novos produtos, o uso de diferentes estratégias internacionais para acelerar o processo de internacionalização, como joint ventures e licenças, bem como o uso de redes de relacionamento internacionais para o processo de aprendizado e para a estabilidade no mercado (Drewniak & Karaszewski, 2020Drewniak, R., & Karaszewski, R. (2020). Diffusion of knowledge in strategic alliance: Empirical evidence. The International Entrepreneurship and Management Journal, 16(2), 387-416. http://dx.doi.org/10.1007/s11365-019-00589-2.
http://dx.doi.org/10.1007/s11365-019-005...
).

Sobre o uso de redes como estratégia adotada por empresas born global, Drewniak e Karaszewski (2020)Drewniak, R., & Karaszewski, R. (2020). Diffusion of knowledge in strategic alliance: Empirical evidence. The International Entrepreneurship and Management Journal, 16(2), 387-416. http://dx.doi.org/10.1007/s11365-019-00589-2.
http://dx.doi.org/10.1007/s11365-019-005...
afirmam que o uso da estrutura de redes de relacionamento e alianças estratégicas facilitam o processo de aprendizado e a gestão de informações sobre mercados externos e clientes, reduzindo o risco que as operações internacionais apresentam. As redes podem ter um impacto considerável na internacionalização, no que diz respeito à entrada, expansão e integração internacional (Humphrey et al., 2019Humphrey, J., Todeva, E., Armando, E., & Giglio, E. (2019). Global value chains, business networks, strategy, and international business: Convergences. Revista Brasileira de Gestão de Negócios, 21(4), 607-627. http://dx.doi.org/10.7819/rbgn.v21i4.4014.
http://dx.doi.org/10.7819/rbgn.v21i4.401...
; Stocker & Abib, 2019Stocker, F., & Abib, G. (2019). Risk management in born globals: The case of Brazilian craft breweries. Brazilian Business Review, 16(4), 334-349. http://dx.doi.org/10.15728/bbr.2019.16.4.2.
http://dx.doi.org/10.15728/bbr.2019.16.4...
).

Uma das principais diferenças entre as empresas born global e os meios tradicionais de internacionalização diz respeito à velocidade da internacionalização, às estratégias de entrada no mercado externo, e ao nível maior de envolvimento (Paul & Rosado-Serrano, 2019Paul, J., & Rosado-Serrano, A. (2019). Gradual internationalization vs born-global/international new venture models: A review and research agenda. International Marketing Review, 36(6), 830-858. http://dx.doi.org/10.1108/IMR-10-2018-0280.
http://dx.doi.org/10.1108/IMR-10-2018-02...
; Lin & Si, 2019Lin, S., & Si, S. (2019). The influence of exploration and exploitation on born globals’ speed of internationalization. Management Decision, 57(1), 193-210. http://dx.doi.org/10.1108/MD-08-2017-0735.
http://dx.doi.org/10.1108/MD-08-2017-073...
). Considerando esses argumentos, propõem-se as seguintes hipóteses:

H5. As diferentes estratégias internacionais têm uma relação positiva com a velocidade de internacionalização nas born globals.

H6. A inserção intensa em redes tem uma relação positiva com a velocidade de internacionalização nas born globals.

H7. O alto nível do processo de internacionalização tem uma relação positiva com a velocidade de internacionalização nas born globals.

2.4 Avaliação e percepção de risco nas born globals

A vulnerabilidade dos mercados interligados, as instabilidades econômicas e as recentes crises globais têm chamado a atenção dos gestores para temas como o fenômeno do risco no processo estratégico das organizações (Frigo & Anderson, 2011Frigo, M. L., & Anderson, R. J. (2011). Strategic risk management: A foundation for improving enterprise risk management and governance. Journal of Corporate Accounting & Finance, 22(3), 81-88. http://dx.doi.org/10.1002/jcaf.20677.
http://dx.doi.org/10.1002/jcaf.20677...
). No entanto, essa avaliação de risco, assim como as ações e estratégias desenvolvidas por meio de processo de gestão de risco, parecem ser influenciadas tanto pelas características do empreendedor (Civera et al., 2020Civera, J. N., Bó, M. P., & López-Muñoz, J. F. (2020). Do contextual factors influence entrepreneurship? Spain’s regional evidences. The International Entrepreneurship and Management Journal, 17(1), 105-129. http://dx.doi.org/10.1007/s11365-019-00625-1.
http://dx.doi.org/10.1007/s11365-019-006...
; Crovini et al., 2021Crovini, C., Santoro, G., & Ossola, G. (2021). Rethinking risk management in entrepreneurial SMEs: Towards the integration with the decision-making process. Management Decision, 59(5), 1085-1113. http://dx.doi.org/10.1108/MD-10-2019-1402.
http://dx.doi.org/10.1108/MD-10-2019-140...
) quanto pelos recursos disponíveis para realizar os objetivos de internacionalização e pelo ambiente em que a empresa atua (Guo & Jiang, 2020Guo, Z., & Jiang, W. (2020). Risk-taking for entrepreneurial new entry: Risk-taking dimensions and contingencies. The International Entrepreneurship and Management Journal, 16(2), 739-781. http://dx.doi.org/10.1007/s11365-019-00567-8.
http://dx.doi.org/10.1007/s11365-019-005...
; Liesch et al., 2011Liesch, P., Welch, L., & Buckley, P. (2011). Risk and uncertainty in internationalization and international entrepreneurship studies. Management International Review, 51(6), 851-873. http://dx.doi.org/10.1007/s11575-011-0107-y.
http://dx.doi.org/10.1007/s11575-011-010...
).

Segundo Dimitratos e Plakoyiannaki (2003)Dimitratos, P., & Plakoyiannaki, E. (2003). Theoretical foundations of an international entrepreneurial culture. Journal of International Entrepreneurship, 1(2), 187-215. http://dx.doi.org/10.1023/A:1023804318244.
http://dx.doi.org/10.1023/A:102380431824...
, a percepção de risco está intimamente relacionada às características e atributos do gestor e da empresa e se revela em decisões críticas (como a internacionalização). No entanto, Guo e Jiang (2020)Guo, Z., & Jiang, W. (2020). Risk-taking for entrepreneurial new entry: Risk-taking dimensions and contingencies. The International Entrepreneurship and Management Journal, 16(2), 739-781. http://dx.doi.org/10.1007/s11365-019-00567-8.
http://dx.doi.org/10.1007/s11365-019-005...
trataram a propensão ao risco devido a um traço de personalidade do gestor como um fator que influencia a tomada de decisão, mas que não é determinante. De acordo com Stocker e Abib (2019)Stocker, F., & Abib, G. (2019). Risk management in born globals: The case of Brazilian craft breweries. Brazilian Business Review, 16(4), 334-349. http://dx.doi.org/10.15728/bbr.2019.16.4.2.
http://dx.doi.org/10.15728/bbr.2019.16.4...
, as born globals localizadas em mercados emergentes enfrentam alguns fatores de risco diferentes dos de empresas internacionais de países desenvolvidos, devido à insegurança institucional, à regulação do mercado doméstico, e às situações socioeconômicas e políticas desses países, questões que também foram destacadas por Llanos-Contreras et al. (2021)Llanos-Contreras, O., Arias, J., & Maquieira, C. (2021). Risk taking behavior in Chilean listed family firms: A socioemotional wealth approach. The International Entrepreneurship and Management Journal, 17(1), 165-184. http://dx.doi.org/10.1007/s11365-019-00628-y.
http://dx.doi.org/10.1007/s11365-019-006...
e Santos et al. (2021a)Santos Jr., R. O., Abib, G., & Stocker, F. (2021a). Business across borders: Perceptions of political risk in internationalized Brazilian companies. International Journal of Business and Emerging Markets, 25(23), 106-130. https://www.ceeol.com/search/article-detail?id=1007176
https://www.ceeol.com/search/article-det...
.

Cavusgil et al. (2014)Cavusgil, St., Knight, G., & Riesenberger, J. R. (2014). International business. Austrália: Pearson. afirmam que o processo de internacionalização envolve quatro tipos principais de risco: risco comercial, risco monetário, risco-país e risco intercultural. Segundo os autores, os riscos envolvidos nos negócios internacionais não são controláveis e inevitáveis; porém, ao percebê-los e avaliá-los, os gestores podem direcionar ações para mitigar seus efeitos. Nessa classificação, os autores elencaram os seguintes itens como inerentes ao risco comercial: a fragilidade dos sócios, a intensidade da concorrência e os problemas operacionais e estratégicos. Os riscos financeiros incluem questões sobre ativos, tributação externa, preço, inflação e exposição monetária. No risco-país, há questões governamentais, sociais e políticas. Por fim, no risco cultural, há questões éticas e culturais e questões relativas à tomada de decisão e estilos de gestão das empresas presentes no país.

Nos estágios iniciais da internacionalização, muitas empresas carecem de informações e conhecimento sobre os mercados externos, acentuando a percepção de risco e incerteza (Crovini et al., 2021Crovini, C., Santoro, G., & Ossola, G. (2021). Rethinking risk management in entrepreneurial SMEs: Towards the integration with the decision-making process. Management Decision, 59(5), 1085-1113. http://dx.doi.org/10.1108/MD-10-2019-1402.
http://dx.doi.org/10.1108/MD-10-2019-140...
; Drewniak & Karaszewski, 2020Drewniak, R., & Karaszewski, R. (2020). Diffusion of knowledge in strategic alliance: Empirical evidence. The International Entrepreneurship and Management Journal, 16(2), 387-416. http://dx.doi.org/10.1007/s11365-019-00589-2.
http://dx.doi.org/10.1007/s11365-019-005...
). Essas percepções são importantes para a tomada de decisão em vários níveis das atividades internacionais, mas principalmente no envolvimento em novas atividades, como a introdução de novos mercados, utilizando diferentes modos de atuação, ou uma mudança nas estratégias internacionais (Liesch et al., 2011Liesch, P., Welch, L., & Buckley, P. (2011). Risk and uncertainty in internationalization and international entrepreneurship studies. Management International Review, 51(6), 851-873. http://dx.doi.org/10.1007/s11575-011-0107-y.
http://dx.doi.org/10.1007/s11575-011-010...
; Santos et al., 2021bSantos Jr., R. O., Abib, G., & Stocker, F. (2021b). Risk perception in the internationalization of Brazilian companies: An analysis in different entry modes. Organizations and Markets in Emerging Economies, 12(1), 106-130. http://dx.doi.org/10.15388/omee.2021.12.50.
http://dx.doi.org/10.15388/omee.2021.12....
).

Com relação à propensão à internacionalização, Dib et al. (2010)Dib, L. A., Rocha, A., & Silva, J. F. (2010). The internationalization process of Brazilian software firms and the born global phenomenon: Examining firm, network, and entrepreneur variables. Journal of International Entrepreneurship, 8(3), 233-253. http://dx.doi.org/10.1007/s10843-010-0044-z.
http://dx.doi.org/10.1007/s10843-010-004...
afirmam que quanto menor o empreendimento, maior será a flexibilidade e a propensão para enfrentar riscos internacionais. Da mesma forma que Guo e Jiang (2020)Guo, Z., & Jiang, W. (2020). Risk-taking for entrepreneurial new entry: Risk-taking dimensions and contingencies. The International Entrepreneurship and Management Journal, 16(2), 739-781. http://dx.doi.org/10.1007/s11365-019-00567-8.
http://dx.doi.org/10.1007/s11365-019-005...
afirmam sobre o tempo de existência e atuação da empresa, quanto mais jovem a empresa, menor será sua aversão ao risco no ambiente internacional.

Portanto, considera-se que os construtos que envolvem a internacionalização das born globals neste estudo estão relacionados à avaliação do empreendedor e à percepção do risco (Crovini et al., 2021Crovini, C., Santoro, G., & Ossola, G. (2021). Rethinking risk management in entrepreneurial SMEs: Towards the integration with the decision-making process. Management Decision, 59(5), 1085-1113. http://dx.doi.org/10.1108/MD-10-2019-1402.
http://dx.doi.org/10.1108/MD-10-2019-140...
; Dib et al., 2010Dib, L. A., Rocha, A., & Silva, J. F. (2010). The internationalization process of Brazilian software firms and the born global phenomenon: Examining firm, network, and entrepreneur variables. Journal of International Entrepreneurship, 8(3), 233-253. http://dx.doi.org/10.1007/s10843-010-0044-z.
http://dx.doi.org/10.1007/s10843-010-004...
; Guo & Jiang, 2020Guo, Z., & Jiang, W. (2020). Risk-taking for entrepreneurial new entry: Risk-taking dimensions and contingencies. The International Entrepreneurship and Management Journal, 16(2), 739-781. http://dx.doi.org/10.1007/s11365-019-00567-8.
http://dx.doi.org/10.1007/s11365-019-005...
; Llanos-Contreras et al., 2021Llanos-Contreras, O., Arias, J., & Maquieira, C. (2021). Risk taking behavior in Chilean listed family firms: A socioemotional wealth approach. The International Entrepreneurship and Management Journal, 17(1), 165-184. http://dx.doi.org/10.1007/s11365-019-00628-y.
http://dx.doi.org/10.1007/s11365-019-006...
); assim, propõem-se as seguintes hipóteses:

H8. A maior propensão à internacionalização em born globals está relacionada à menor percepção de risco.

H9. A maior velocidade de internacionalização em born globals está relacionada à menor percepção de risco.

A partir de uma perspectiva integradora, os diferentes construtos – a propensão à internacionalização (considerada com base nas características do empreendedor, da organização e do ambiente do mercado), a avaliação e percepção de risco, e a velocidade de internacionalização (observada através da estratégia, do processo de internacionalização e das redes) – formam o modelo estrutural (Figura 1) proposto e testado nesta pesquisa, considerando as hipóteses supracitadas.

Figura 1
Modelo estrutural

3 Métodos

Este estudo tem como objetivo propor um modelo integrador de análise de risco e de fatores que influenciam a propensão e a velocidade do processo de internacionalização das born globals. Esta pesquisa utiliza uma abordagem quantitativa com dados primários. Esta seção apresenta o desenho metodológico, inclusive as etapas de coleta de dados e as técnicas de análise, e apresenta o contexto e a definição das variáveis utilizadas na modelagem estrutural.

3.1 Amostra e contexto dos mercados emergentes

Este estudo foi realizado e aplicado no contexto das micro e pequenas empresas brasileiras, internacionalizadas ou em processo de internacionalização. Ele busca enfatizar o contexto dos mercados emergentes, evidenciando pontos relevantes que têm impacto na interpretação dos resultados, bem como na contribuição do estudo. A contextualização adequada dos estudos sobre negócios internacionais, como enfatizam Teagarden et al. (2018)Teagarden, M. B., Von Glinow, M. A., & Mellahi, K. (2018). Contextualizing international business research: Enhancing rigor and relevance. Journal of World Business, 53(3), 303-306. http://dx.doi.org/10.1016/j.jwb.2017.09.001.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jwb.2017.09....
, pode melhorar a precisão e a relevância dos resultados, possibilitando replicabilidade, generalização ou definição de especificidades para aplicação em diferentes casos.

O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de cerveja, e apenas quatro grandes corporações estão concentradas no mercado interno. Juntas, essas empresas representam 99% de toda a produção nacional de cerveja, sendo uma delas a Ambev, que responde por 70% do mercado cervejeiro do país. Embora seja um ambiente altamente competitivo e dominado por grandes empresas, os últimos anos têm visto a ascensão de pequenas empresas emergindo como potenciais participantes do mercado cervejeiro – as chamadas cervejarias artesanais.

Devido ao nível da concorrência nacional, esses pequenos empreendimentos surgiram internacionalmente, buscando prestígio internacional para fortalecer sua marca no mercado nacional ou mesmo para buscar maior competitividade externa. Devido a esse cenário competitivo, optamos por focar no cenário do setor de bebidas, especificamente o mercado cervejeiro, como objeto deste estudo.

De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Governo Federal, até o final de 2019, 944 microcervejarias artesanais haviam sido registradas no país (Brasil, 2020Brasil, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. (2020). Anuário da cerveja. Brasília. https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/noticias/com-crescimento-de-14-4-em-2020-numero-de-cervejarias-registradas-no-brasil-passa-de-1-3-mil/anuariocerveja2.pdf
https://www.gov.br/agricultura/pt-br/ass...
). Dentre elas, algumas cervejarias, apesar de atuarem no mercado há menos tempo, já têm a intenção ou estão em processo de internacionalização, por meio da produção direta ou indireta, de parcerias e alianças estratégicas para produção e distribuição, e da terceirização e importação de produtos, entre outras estratégias de internacionalização.

Embora as cervejarias artesanais, sendo algumas chamadas de microcervejarias, representem cerca de 1% do volume total do setor cervejeiro no Brasil e cerca de 2,5% da receita de vendas no país, elas representaram um crescimento de mais de 91% nos últimos três anos. Além disso, estão mudando a cultura cervejeira brasileira, com inúmeros festivais, eventos, lojas especializadas e reconhecimento internacional por meio de premiações em diversos concursos de cerveja.

3.2 Variáveis do modelo estrutural

O questionário da pesquisa (Apêndice A Apêndice A - Questionário de Pesquisa Gênero Idade Nível de escolaridade o Masculino o 21 a 29 o Ensino Médio o 30 a 39 o Graduação ou ensino técnico Qual é a sua função/cargo? o Feminino o 40 a 49 o Mestrado e pós-graduação o Mais de 50 o Doutorado Tempo de atividade da empresa? Atividades internacionais Receita média o 0 a 1 ano o desde a fundação o 10.000,00 dólares por ano. Como foi o processo de internacionalização? o 2 a 4 anos o a partir de 2 anos o 100.000,00 dólares por ano, o 5 a 10 anos o a partir de 5 anos o 500.000,00 dólares por ano. o mais de 10 o depois de 10 anos o 1 milhão de dólares por ano. Perguntas sobre Born Global* Sobre o perfil... Discordo fortemente Discordo Neutro Concordo Concordo fortemente 8 Eu tinha experiência anterior 1 2 3 4 5 9 Tenho um alto nível de ambição. 1 2 3 4 5 10 Tenho uma grande motivação para a internacionalização. 1 2 3 4 5 11 Eu tenho experiência internacional 1 2 3 4 5 12 A empresa possui recursos e capacidades para internacionalização. 1 2 3 4 5 13 A empresa tem uma rotina estruturada. 1 2 3 4 5 14 A empresa tem uma estrutura de governança definida. 1 2 3 4 5 15 A empresa tem alto nível tecnológico 1 2 3 4 5 16 A empresa é especializada no que faz 1 2 3 4 5 * Madsen e Servais (1997) Modelo de Born Globals Questão de internacionalização ** Sobre a internacionalização... Discordo fortemente Discordo Neutro Concordo Concordo fortemente 17 Temos uma estratégia para aumentar a capacidade de competição 1 2 3 4 5 18 Temos uma estratégia para expandir e diversificar internacionalmente 1 2 3 4 5 19 Temos uma estratégia para nos posicionarmos 1 2 3 4 5 20 Temos uma estratégia para aumentar os ganhos comerciais e financeiros 1 2 3 4 5 21 Temos uma estratégia para diversificar o fluxo de caixa 1 2 3 4 5 22 Temos uma estratégia para acessar recursos escassos e reduzir custos 1 2 3 4 5 23 Usamos redes e parcerias para compartilhar riscos e custos 1 2 3 4 5 24 Usamos redes e parcerias para ter mais força internacionalmente 1 2 3 4 5 25 Usamos redes e parcerias para aumentar o conhecimento do mercado 1 2 3 4 5 26 Temos uma estratégia para aumentar a exposição ao mercado 1 2 3 4 5 27 Temos uma estratégia para alcançar um número maior de países 1 2 3 4 5 28 Temos uma estratégia para melhorar nossa eficiência e ganhos em escala 1 2 3 4 5 ** Modelo de internacionalização de born global apresentado por Oviatt et al., (2004) Perguntas de risco* Sobre a percepção de risco... Discordo fortemente Discordo Neutro Concordo Concordo fortemente 29 Temos uma baixa percepção dos riscos comerciais 1 2 3 4 5 30 Temos uma baixa percepção dos riscos interculturais 1 2 3 4 5 31 Temos uma baixa percepção dos riscos monetários 1 2 3 4 5 32 Temos uma baixa percepção do risco-país 1 2 3 4 5 Riscos em negócios internacionais da Cavusgil et al., (2014) ) foi desenvolvido com o uso de escalas estabelecidas e amplamente utilizadas em estudos sobre negócios internacionais (Tabela 1). De acordo com pesquisas anteriores (Fan & Phan, 2018Fan, T., & Phan, P. (2018). International new ventures: Revisiting the Influences behind the ‘born-global’firm. International Entrepreneurship, 38(7), 131-172. http://dx.doi.org/10.1007/978-3-319-74228-1_5.
http://dx.doi.org/10.1007/978-3-319-7422...
; Grazzi & Moschella, 2018Grazzi, M., & Moschella, D. (2018). Small, young, and exporters: New evidence on the determinants of firm growth. Journal of Evolutionary Economics, 28(1), 125-152. http://dx.doi.org/10.1007/s00191-017-0523-7.
http://dx.doi.org/10.1007/s00191-017-052...
; Jin et al., 2018Jin, B., Jung, S., & Jeong, S. W. (2018). Dimensional effects of Korean SME’s entrepreneurial orientation on internationalization and performance: The mediating role of marketing capability. The International Entrepreneurship and Management Journal, 14(1), 195-215. http://dx.doi.org/10.1007/s11365-017-0457-4.
http://dx.doi.org/10.1007/s11365-017-045...
; Ribau et al., 2018Ribau, C. P., Moreira, A. C., & Raposo, M. (2018). Categorising the internationalization of SMEs with social network analysis. International Journal of Entrepreneurship and Small Business, 35(1), 57-80. http://dx.doi.org/10.1504/IJESB.2018.094264.
http://dx.doi.org/10.1504/IJESB.2018.094...
; Stocker & Abib, 2019Stocker, F., & Abib, G. (2019). Risk management in born globals: The case of Brazilian craft breweries. Brazilian Business Review, 16(4), 334-349. http://dx.doi.org/10.15728/bbr.2019.16.4.2.
http://dx.doi.org/10.15728/bbr.2019.16.4...
; Stocker et al., 2021Stocker, F., Abib, G., Santos Jr., R. O., & Irigaray, H. A. R. (2021). Brazilian craft breweries and internationalization in the born global perspective. Revista de Gestão, 28(2), 163-178. http://dx.doi.org/10.1108/REGE-01-2021-0014.
http://dx.doi.org/10.1108/REGE-01-2021-0...
), com base nas escalas desenvolvidas, o modelo estrutural foi construído com sete construtos. As variáveis escolhidas para a modelagem e coleta de dados são baseadas na literatura sobre born globals e estratégia internacional. Os construtos 1, 2 e 3 foram extraídos do modelo de pesquisa sobre born globals de Madsen e Servais (1997)Madsen, T. K., & Servais, P. (1997). The internationalization of Born Global are: An evolutionary process? International Business Review, 6(6), 561-583. http://dx.doi.org/10.1016/S0969-5931(97)00032-2.
http://dx.doi.org/10.1016/S0969-5931(97)...
, considerando as características do empreendedor, da organização e do ambiente. Os construtos 4, 5 e 6, estratégia de internacionalização, redes e processo de internacionalização, foram retirados do modelo de internacionalização de born globals apresentado por Oviatt et al. (2004)Oviatt, B., Shrader, R., & McDougall, P. (2004). The internationalization of new ventures: The risk management model. Advances in International Management, 16(1), 165-185. http://dx.doi.org/10.1016/S0747-7929(04)16009-5.
http://dx.doi.org/10.1016/S0747-7929(04)...
. Por fim, o construto 7, avaliação e percepção de risco, foi extraído da proposta de classificação dos riscos de negócios internacionais de Cavusgil et al. (2014)Cavusgil, St., Knight, G., & Riesenberger, J. R. (2014). International business. Austrália: Pearson.. O modelo proposto para esta investigação e as relações entre as hipóteses são apresentados na Figura 1.

Tabela 1
Medição das variáveis

Para melhor compreensão da construção do modelo estrutural e de medição analisado por este estudo, a Tabela 1 identifica as variáveis latentes não observáveis e os indicadores que compõem essas variáveis, representados pelas perguntas da pesquisa formuladas durante a coleta de dados. Cada item foi pontuado em uma escala Likert de 5 pontos: 1 = “discordo totalmente” a 5 = “concordo totalmente”.

O modelo proposto nesta pesquisa visa também contribuir para a inclusão de múltiplos níveis de análise, tendo fatores ao nível individual (percepção dos gestores), ao nível de empresa (capacidades da organização) e ao nível macro (influência do mercado e do ambiente), ou seja, diferentes níveis de análise foram incluídos para propor uma melhor representação da realidade e possibilitar a aplicação em outros contextos. Ressalta-se também que, para este trabalho, o contexto das empresas de mercados emergentes não é moderador ou preditivo para explicar os resultados (Bidault et al., 2018Bidault, F., de la Torre, J. R., Zanakis, S. H., & Ring, P. S. (2018). Willingness to rely on trust in global business collaborations: Context vs. demography. Journal of World Business, 53(3), 373-391. http://dx.doi.org/10.1016/j.jwb.2016.08.001.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jwb.2016.08....
). No entanto, sua justificativa contextual é necessária para compreender o fenômeno estudado e sua amplitude de generalização do modelo.

3.3 Coleta de dados

O questionário foi estruturado na plataforma Qualtrics®. Primeiramente, o instrumento foi aplicado a uma amostra de 10 empreendedores. Em seguida, o feedback foi incorporado e uma versão revisada foi utilizada para a coleta final dos dados.

Os dados foram coletados entre maio e julho de 2018. Foi obtida uma lista de microcervejarias com a Associação Brasileira de Cerveja Artesanal (Abracerva). O questionário foi enviado para toda a lista, direcionado aos empresários/gestores/proprietários, com uma amostra total de 740 microcervejarias. Além disso, foi utilizada a técnica bola de neve, na qual cada respondente poderia indicar um gerente de outra microcervejaria, reforçando a pesquisa e aumentando as chances de resposta. Foi obtido um total de 317 respostas, mas 117 não foram consideradas para análise por não se enquadrarem no perfil da pesquisa – empreendimentos já em processo de internacionalização, parceria internacional, ou com visão global desde sua concepção – born globals. A amostra final da pesquisa é composta por 200 empresários de microcervejarias brasileiras que responderam à pesquisa de forma espontânea.

As empresas participantes são relativamente jovens, em média com 2 a 4 anos em atividade, estando 75% da amostra em operação há menos de quatro anos, e apenas 4% há mais de dez anos. A maioria dos respondentes são empresários, gestores e mestres cervejeiros, sendo 89% do sexo masculino e 98% com nível superior, 50% com pós-graduação e mestrado, representando um alto nível de escolaridade. A média de idade dos entrevistados é 39 anos, estando 80% da amostra com entre 30 e 49 anos. Ressalta-se aqui que esse perfil não representa o perfil típico de empreendedores no Brasil, considerando nível superior, experiência profissional e histórico pessoal. A receita média desses empreendimentos é de US$ 100.000,00 anuais, sendo que apenas 5% são receitas acima de US$ 1 milhão anuais. Esse valor representa a receita total, considerando sua atuação no mercado interno e externo.

3.4 Modelagem de equações estruturais

A modelagem de equações estruturais (MEE) é uma técnica de análise multivariada que, com base em modelos estatísticos, busca explicar as relações entre múltiplas variáveis, examinando simultaneamente um conjunto de relações de dependência (Hair et al., 2014Hair Jr., J. F., Hult, G. T. M., Ringle, C. M., & Sardstedt, M. (2014). A Primer on Partial Least Squares Strucutural Equation Modeling (PLS-SEM). Thousand Oaks: Sage Publications.).

O modelo proposto nesta análise, conforme revelado na Figura 1, é constituído por variáveis latentes (não observáveis) e seus respectivos indicadores reflexivos (variáveis observadas). O software SmartPLS v.3.2.6 foi usado para estimar e medir o modelo.

Para preparar os dados e confirmar o modelo proposto, utilizou-se inicialmente a análise fatorial confirmatória (AFC), para analisar os construtos utilizados na modelagem. Após a análise fatorial, foi efetuada a MEE para avaliar os processos causais entre as variáveis. A AFC foi aplicada nesta etapa para validar o modelo de medição apresentado na Figura 1. O objetivo da AFC é correlacionar todos os fatores entre si (lv1 +lv2 +lv3) e avaliar se o modelo possui validade convergente, validade discriminante e confiabilidade. Após o cumprimento dos critérios de validade, inicia-se o processo de validação do modelo estrutural.

Para avaliar o modelo estrutural e de medição proposto nesta pesquisa, os seguintes critérios, propostos por Hair et al. (2014)Hair Jr., J. F., Hult, G. T. M., Ringle, C. M., & Sardstedt, M. (2014). A Primer on Partial Least Squares Strucutural Equation Modeling (PLS-SEM). Thousand Oaks: Sage Publications., serão seguidos e complementados com outros parâmetros:

  1. a

    Validade convergente: analisa-se a carga fatorial dos indicadores, que deve ser maior que 0,7, bem como a variância média extraída (VME) (elevada ao quadrado, ou seja 0,49), que deve ser próxima de 0,5 (Henseler et al., 2009Henseler, J., Ringle, C. M., & Sinkovics, R. R. (2009). The use of partial least squares path modeling in international marketing. In R. R. Sinkovics & P. N. Ghauri (Eds.), New challenges to international marketing (Advances in International Marketing, No. 20, pp. 277-319). Bingley: Emerald Group Publishing. http://dx.doi.org/10.1108/S1474-7979(2009)0000020014.
    http://dx.doi.org/10.1108/S1474-7979(200...
    ).

  2. b

    Validade discriminante ao nível do item: a validade discriminante das cargas cruzadas é analisada se a carga fatorial mais baixa de sua variável latente for mais significativa do que a carga fatorial dos demais indicadores das demais variáveis latentes (Chin, 1998Chin, W. W. (1998). The partial least squares approach to structural equation modeling. In G. A. Marcoulides (Ed.), Modern methods for business research (Chap. 10, pp. 295-336). London: Psychology Press.).

  3. c

    Validade discriminante ao nível da variável latente: as correlações entre as variáveis devem ser inferiores às raízes quadradas das VMEs. Em outras palavras, as raízes quadradas das VMEs devem ser maiores que as correlações dos construtos (Fornell & Larcker, 1981Fornell, C., & Larcker, D. F. (1981). Structural equation models with unobservable variables and measurement error: Algebra and statistics. JMR, Journal of Marketing Research, 18(3), 382-388. http://dx.doi.org/10.1177/002224378101800313.
    http://dx.doi.org/10.1177/00222437810180...
    ).

  4. d

    Confiabilidade composta: como critério de confiabilidade, assume-se que seja superior a 0,7; ou seja, CC > 0,70 (Hair et al., 2014Hair Jr., J. F., Hult, G. T. M., Ringle, C. M., & Sardstedt, M. (2014). A Primer on Partial Least Squares Strucutural Equation Modeling (PLS-SEM). Thousand Oaks: Sage Publications.).

4 Resultados da pesquisa

O modelo proposto neste estudo foi analisado com o auxílio do software SmartPLS. Assim, foram analisadas a validade discriminante, a validade convergente e a confiabilidade do modelo de medição.

Quanto à validade convergente, a análise de cada item revela que todas as cargas fatoriais estão próximas de 0,7 e são altamente significativas. Além disso, para a validade discriminante, as raízes quadradas das VMEs foram maiores que a correlação entre as demais variáveis latentes, portanto, há validade discriminante.

A validade convergente dos indicadores utilizados para a medição também foi analisada em relação ao nível da variável latente. A grande maioria das cargas fatoriais tem uma carga maior que 0,7, e as cargas fatoriais se mostraram significativas, com valor-t acima de 1,96 (informação obtida por meio de análise de bootstrapping). Ainda sobre o valor-p, observa-se que os indicadores são significativos e estão abaixo de 1%. A Tabela 2 apresenta a avaliação das variáveis latentes de primeira ordem.

Tabela 2
Avaliação do modelo de medição ao nível da VL – 1ª ordem

No modelo, os seis fatores que afetariam a avaliação e a percepção de risco no processo de internacionalização foram modelados como variáveis latentes de primeira ordem e dois atributos (propensão para a internacionalização e velocidade da internacionalização), como variáveis latentes de segunda ordem, conforme ilustrado na Figura 1. Na avaliação do modelo de medição para as variáveis latentes de primeira ordem, observou-se que todas as cargas fatoriais estão próximas de 0,7 e são altamente significativas. Além disso, a VME foi superior a 0,49, aproximando-se do valor recomendado (mínimo de 0,5). Portanto, o modelo tem validade convergente. Além disso, as raízes quadradas das VMEs foram maiores que a correlação entre as demais variáveis latentes de primeira ordem, portanto há validade discriminante. Por fim, a CC das variáveis ficou entre 0,72 e 0,93, portanto os valores foram superiores ao valor mínimo sugerido de 0,7.

Além de avaliar o modelo de medição ao nível da variável latente de primeira ordem, foram realizadas também a análise e avaliação do modelo ao nível do item. Para isso, foi realizada uma análise das cargas cruzadas para mensurar a validade discriminante. Os resultados mostram que todas as cargas fatoriais foram superiores a 0,5, o que indica validade convergente. Além disso, todas as cargas fatoriais são significativas em 1%, e todos os itens apresentaram cargas fatoriais maiores em seus fatores do que em qualquer outro fator, o que indica validade discriminante.

A avaliação do modelo de medição para as variáveis latentes de segunda ordem é apresentada na Tabela 3.

Tabela 3
Avaliação do modelo de medição ao nível da VL – 2ª ordem

Os resultados do modelo sobre as variáveis de segunda ordem apresentam validade convergente, visto que todas as cargas fatoriais são superiores a 0,7 e altamente significativas. A VME foi de 0,67 para o fator “propensão à internacionalização” e de 0,65 para a velocidade de internacionalização, ambos superiores ao valor recomendado (mínimo de 0,5). Em relação à validade discriminante, a raiz quadrada da VME (0,788 e 0,773 para propensão à internacionalização e velocidade de internacionalização, respectivamente) foi superior à correlação entre as variáveis latentes de segunda ordem, ou seja, 0,615; portanto, há validade discriminante entre as duas variáveis latentes de segunda ordem.

A CC foi igual a 0,84 para a propensão à internacionalização e 0,82 para a velocidade de internacionalização. Ambos os valores são superiores ao valor mínimo sugerido de 0,7. Além disso, com relação à validade do modelo, pode-se observar que a VME e a CC ficaram dentro do valor especificado. Todas as variáveis apresentam valor em suas cargas. O R-quadrado mostra que elas não estão fortemente correlacionadas entre si.

Para apresentar a avaliação do modelo estrutural, os resultados são apresentados na Tabela 4, utilizando-se os valores identificados na coluna do coeficiente de trajetória, -valores, f2, FIV e R2 ajustado. O modelo estrutural apresentado na Figura 2, aplicado agora com as cargas fatoriais, refere-se às relações entre as variáveis latentes de primeira e segunda ordem.

Tabela 4
Resultado do modelo estrutural proposto
Figura 2
Modelo estrutural e de medição com cargas fatoriais

A avaliação de Pearson dos coeficientes de determinação (R2) avalia a parcela de variância das variáveis endógenas que o modelo estrutural explica. Segundo Cohen (2013)Cohen, J. (2013). Statistical power analysis for the behavioral sciences (2nd ed.). New York: Routledge. http://dx.doi.org/10.4324/9780203771587.
http://dx.doi.org/10.4324/9780203771587...
, para as ciências sociais e comportamentais, R2 = 2% pode ser classificado como efeito pequeno, R2 = 13% como efeito médio e R2 = 26% como efeito significativo. Assim, conforme apresentado na Tabela 4 nas colunas R2 Ajustado, com exceção de um caso, os demais afetam significativamente o modelo estrutural.

O efeito f2 avalia a utilidade de cada construto para o ajuste do modelo. Valores de 0,02, 0,15 e 0,35 são considerados pequenos, médios e grandes, respectivamente (Hair et al., 2014Hair Jr., J. F., Hult, G. T. M., Ringle, C. M., & Sardstedt, M. (2014). A Primer on Partial Least Squares Strucutural Equation Modeling (PLS-SEM). Thousand Oaks: Sage Publications.). Assim, considerando os valores de f2, conclui-se que temos construtos de efeito médio e grande, conforme ilustrado na Tabela 4.

Portanto, os resultados revelam que apenas o construto propensão à internacionalização não está fortemente relacionado à avaliação e percepção de risco nas born globals. Essa constatação revela que as características do empreendedor, como já destacado por Ughetto (2016)Ughetto, E. (2016). Growth of born globals: The role of the entrepreneur’s personal factors and venture capital. The International Entrepreneurship and Management Journal, 12(3), 839-857. http://dx.doi.org/10.1007/s11365-015-0368-1.
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, e as características do ambiente influenciam a propensão à internacionalização, mas não a avaliação dos riscos envolvidos.

5 Discussão

As evidências mostram que a propensão à internacionalização tem ligação com as características do empreendedor relacionadas às suas habilidades e histórico internacional, como destacado por Ughetto (2016)Ughetto, E. (2016). Growth of born globals: The role of the entrepreneur’s personal factors and venture capital. The International Entrepreneurship and Management Journal, 12(3), 839-857. http://dx.doi.org/10.1007/s11365-015-0368-1.
http://dx.doi.org/10.1007/s11365-015-036...
, e ao nível de ambição dos fundadores das cervejarias, que buscam estar na vanguarda do negócio. Esse padrão entre os empreendedores já é perceptível na literatura, como destacado nos estudos recentes de Freixanet e Churakova (2018)Freixanet, J., & Churakova, I. (2018). Exploring the relationship between Internationalization stage, innovation, and performance: The case of spanish companies. International Journal of Business, 23(2), 131-150. https://ijb.cyut.edu.tw/var/file/10/1010/img/864/V232-2.pdf
https://ijb.cyut.edu.tw/var/file/10/1010...
a respeito da influência da orientação global dos gestores no processo de internacionalização das empresas.

A importância dada à experiência internacional e ao networking internacional reflete as estratégias adotadas para iniciar o processo de internacionalização dessas cervejarias globais, corroborando as constatações de Jin et al. (2018)Jin, B., Jung, S., & Jeong, S. W. (2018). Dimensional effects of Korean SME’s entrepreneurial orientation on internationalization and performance: The mediating role of marketing capability. The International Entrepreneurship and Management Journal, 14(1), 195-215. http://dx.doi.org/10.1007/s11365-017-0457-4.
http://dx.doi.org/10.1007/s11365-017-045...
e Ribau et al. (2018)Ribau, C. P., Moreira, A. C., & Raposo, M. (2018). Categorising the internationalization of SMEs with social network analysis. International Journal of Entrepreneurship and Small Business, 35(1), 57-80. http://dx.doi.org/10.1504/IJESB.2018.094264.
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. Esses autores argumentam que as redes sociais desempenham um papel essencial no desenvolvimento de empresas born global, o que influencia positivamente a forma como os riscos são percebidos e avaliados pelos empreendedores.

Conforme discutido por Fan e Phan (2018)Fan, T., & Phan, P. (2018). International new ventures: Revisiting the Influences behind the ‘born-global’firm. International Entrepreneurship, 38(7), 131-172. http://dx.doi.org/10.1007/978-3-319-74228-1_5.
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, a decisão de internacionalizar uma empresa é influenciada pelo tamanho do mercado interno da empresa e também por sua capacidade inicial de produção, o que para Knight e Liesch (2016)Knight, G., & Liesch, P. (2016). Internationalization: From incremental to born global. Journal of World Business, 51(1), 93-102. http://dx.doi.org/10.1016/j.jwb.2015.08.011.
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é mais evidente onde os mercados domésticos pequenos e saturados levam a uma maior propensão à internacionalização. No contexto estudado, o tamanho do mercado não é pequeno, considerando a dispersão geográfica do Brasil; no entanto, a saturação do mercado, como destacado na descrição do contexto do negócio cervejeiro, torna-o pequeno e novos empreendimentos buscam entrar em um mercado diferente, inclusive a inserção internacional.

Pode-se concluir também que, como já mencionado por Jin et al. (2018)Jin, B., Jung, S., & Jeong, S. W. (2018). Dimensional effects of Korean SME’s entrepreneurial orientation on internationalization and performance: The mediating role of marketing capability. The International Entrepreneurship and Management Journal, 14(1), 195-215. http://dx.doi.org/10.1007/s11365-017-0457-4.
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, o uso de redes, por meio de relações comerciais formais ou informais, é desenvolvido em novos mercados, com parcerias de produção, participação em festivais internacionais e missões internacionais, e isso representa um aumento na propensão à internacionalização. A presença de redes de negócios também tem impacto na redução da percepção de risco por parte dos empreendedores de empresas born global, corroborando os estudos de Grazzi e Moschella (2018)Grazzi, M., & Moschella, D. (2018). Small, young, and exporters: New evidence on the determinants of firm growth. Journal of Evolutionary Economics, 28(1), 125-152. http://dx.doi.org/10.1007/s00191-017-0523-7.
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, Johanson e Martín Martín (2015)Johanson, M., & Martín Martín, O. (2015). The incremental expansion of Born Internationals: A comparison of new and old Born Internationals. International Business Review, 24(3), 476-496. http://dx.doi.org/10.1016/j.ibusrev.2014.10.006.
http://dx.doi.org/10.1016/j.ibusrev.2014...
, Ribau et al. (2018)Ribau, C. P., Moreira, A. C., & Raposo, M. (2018). Categorising the internationalization of SMEs with social network analysis. International Journal of Entrepreneurship and Small Business, 35(1), 57-80. http://dx.doi.org/10.1504/IJESB.2018.094264.
http://dx.doi.org/10.1504/IJESB.2018.094...
e Stocker e Abib (2019)Stocker, F., & Abib, G. (2019). Risk management in born globals: The case of Brazilian craft breweries. Brazilian Business Review, 16(4), 334-349. http://dx.doi.org/10.15728/bbr.2019.16.4.2.
http://dx.doi.org/10.15728/bbr.2019.16.4...
. Por fim, dizemos também que o fenômeno da internacionalização precoce, que desafia a lógica dominante de aprendizagem baseada no processo gradual e na internacionalização incremental, continua sendo um quebra-cabeça interessante (Paul & Rosado-Serrano, 2019Paul, J., & Rosado-Serrano, A. (2019). Gradual internationalization vs born-global/international new venture models: A review and research agenda. International Marketing Review, 36(6), 830-858. http://dx.doi.org/10.1108/IMR-10-2018-0280.
http://dx.doi.org/10.1108/IMR-10-2018-02...
).

Os resultados deste estudo ressaltam a atenção à propensão e velocidade de internacionalização das cervejarias brasileiras – contextualizadas em um mercado emergente. Em busca de posicionamento no mercado e concorrência equilibrada, essas empresas expandiram o negócio para além da concorrência nacional, liderada por grandes corporações multinacionais, e tiveram que gerenciar o risco nesse processo de empreendedorismo internacional.

Estudos recentes também enfatizam o ambiente único de pesquisa da América Latina (Aguinis et al., 2020Aguinis, H., Villamor, I., Lazzarini, S. G., Vassolo, R. S., Amorós, J. E., & Allen, D. G. (2020). Conducting management research in Latin America: Why and what’s in it for you? Journal of Management, 46(5), 615-636. http://dx.doi.org/10.1177/0149206320901581.
http://dx.doi.org/10.1177/01492063209015...
; Prieto‐Sánchez & Merino, 2022Prieto‐Sánchez, C. J., & Merino, F. (2022). Incidence of cultural, economic, and environmental factors in the emergence of born‐global companies in Latin America. Global Strategy Journal, 12(2), 245-272. http://dx.doi.org/10.1002/gsj.1398.
http://dx.doi.org/10.1002/gsj.1398...
). Por exemplo, há uma forte influência da vulnerabilidade do mercado, do desequilíbrio financeiro e social dos países, fatores que desafiam a forma como os negócios são geridos e permitem aos pesquisadores investigar suposições e testar teorias validadas em outros contextos (Ronda-Pupo, 2016Ronda-Pupo, G. A. (2016). Knowledge map of Latin American research on management: Trends and future advancement. Social Sciences Information. Information Sur les Sciences Sociales, 55(1), 3-27. http://dx.doi.org/10.1177/0539018415610225.
http://dx.doi.org/10.1177/05390184156102...
).

6 Contribuições e implicações

Nosso estudo traz várias contribuições para a literatura. Primeiramente, com base na análise dos resultados da modelagem, esta pesquisa propõe um modelo estrutural. Testa empiricamente os construtos de propensão e velocidade de internacionalização e o impacto da avaliação e percepção de risco nas born globals. Este estudo também expande a literatura sobre empreendedorismo internacional ao integrar contribuições à literatura sobre empreendedorismo internacional de diferentes maneiras. Primeiramente, o estudo enriquece a literatura sobre empreendedorismo internacional ao oferecer integração entre os construtos de internacionalização (características, velocidade e propensão à internacionalização) e os construtos de avaliação e percepção de risco (do ponto de vista dos empreendedores e do contexto da organização), ainda pouco discutidos na literatura e com poucos testes empíricos.

Para avançar na compreensão teórica dos negócios internacionais, particularmente a importante ascensão de empresas de mercados emergentes e países em desenvolvimento, apresentamos e discutimos as características do empreendedorismo e das pequenas empresas. Nesse contexto, as PMEs têm um posicionamento estratégico mais agressivo, aproveitam mais intensamente suas redes de contatos, desenvolvem as suas capacidades organizacionais e estão dispostas a competir em mercados desenvolvidos, ainda que cultural e geograficamente distantes, o que tem despertado o interesse de pesquisadores da área (Urbano et al., 2019Urbano, D., Audretsch, D., Aparicio, S., & Noguera, M. (2019). Does entrepreneurial activity matter for economic growth in developing countries? The role of the institutional environment. The International Entrepreneurship and Management Journal, 16(3), 1065-1099. https://doi.org/10.1007/s11365-019-00621-5.
https://doi.org/10.1007/s11365-019-00621...
). Essa característica contrasta com os pressupostos dominantes da literatura sobre negócios internacionais.

Os resultados também apresentam algumas implicações gerenciais e aplicações práticas. Uma implicação importante para os empreendedores é que a experiência internacional e o nível de ambição têm impacto positivo na propensão à internacionalização e na percepção de risco durante o processo de internacionalização. Assim, gestores e empreendedores visionários internacionais poderiam buscar recursos e desenvolver suas habilidades e capacidades para operacionalizar esses empreendimentos com rápida inserção internacional.

Do ponto de vista gerencial, a constatação é que as redes de relacionamento influenciam nas estratégias de internacionalização e no processo e velocidade de internacionalização das born globals. Além disso, a confiança na percepção e avaliação de risco por parte dos empreendedores destaca a importância estratégica de recorrer a estas estruturas sociais, que muitas vezes podem ser naturais (redes formadas através de laços pessoais e sociais) ou artificiais, viabilizadas por instituições públicas ou iniciativas de integração horizontal, como clusters e outras estruturas de rede de negócios, que indicamos como uma potencial aplicação para a formulação de políticas.

6.1 Limitações e estudos futuros

Estamos cientes das limitações deste estudo e aproveitamos a oportunidade para sugerir direções para ampliar a nossa pesquisa. O modelo estrutural proposto representa uma ilustração da realidade ao considerar os antecedentes e as variáveis presentes no processo de internacionalização. No entanto, trata-se de um modelo simplificado, podendo incluir outras variáveis e diferentes indicadores, tornando-o mais robusto e capaz de representar a realidade desses jovens empreendimentos internacionais. Embora o escopo do estudo seja internacional, o contexto analisado é nacional, representando o ambiente institucional, as características comuns dos empreendedores e a concorrência no mercado brasileiro. Reconhecemos a importância de uma potencial contribuição ao modelo, considerando os mercados local, regional, nacional e internacional, contribuindo assim para um modelo de medição mais generalizável.

Para um estudo futuro, nossa proposição se baseia nos seguintes pontos: a necessidade de estudos sobre a internacionalização de pequenos empreendimentos oriundos de países emergentes em comparação com pequenos empreendimentos oriundos de um país com economia desenvolvida; avaliação dos fatores de risco, das condições socioeconômicas, do ambiente institucional, do nível e tamanho dos mercados domésticos, da influência governamental nas estratégias corporativas; e como todas essas variáveis podem facilitar ou dificultar o rápido processo de internacionalização dos empreendimentos. Outra possibilidade de estudo diz respeito à construção de redes globais de relacionamento em empreendimentos internacionais e como esses relacionamentos influenciam o grau de internacionalização das born globals e a percepção de risco em atividades internacionais.

Apêndice A - Questionário de Pesquisa

Gênero Idade Nível de escolaridade
o Masculino o 21 a 29 o Ensino Médio
o 30 a 39 o Graduação ou ensino técnico Qual é a sua função/cargo?
o Feminino o 40 a 49 o Mestrado e pós-graduação
o Mais de 50 o Doutorado
Tempo de atividade da empresa? Atividades internacionais Receita média
o 0 a 1 ano o desde a fundação o 10.000,00 dólares por ano. Como foi o processo de internacionalização?
o 2 a 4 anos o a partir de 2 anos o 100.000,00 dólares por ano,
o 5 a 10 anos o a partir de 5 anos o 500.000,00 dólares por ano.
o mais de 10 o depois de 10 anos o 1 milhão de dólares por ano.
Perguntas sobre Born Global* Sobre o perfil... Discordo fortemente Discordo Neutro Concordo Concordo fortemente
8 Eu tinha experiência anterior 1 2 3 4 5
9 Tenho um alto nível de ambição. 1 2 3 4 5
10 Tenho uma grande motivação para a internacionalização. 1 2 3 4 5
11 Eu tenho experiência internacional 1 2 3 4 5
12 A empresa possui recursos e capacidades para internacionalização. 1 2 3 4 5
13 A empresa tem uma rotina estruturada. 1 2 3 4 5
14 A empresa tem uma estrutura de governança definida. 1 2 3 4 5
15 A empresa tem alto nível tecnológico 1 2 3 4 5
16 A empresa é especializada no que faz 1 2 3 4 5
  • *
    Madsen e Servais (1997) Modelo de Born Globals
  • Questão de internacionalização ** Sobre a internacionalização... Discordo fortemente Discordo Neutro Concordo Concordo fortemente
    17 Temos uma estratégia para aumentar a capacidade de competição 1 2 3 4 5
    18 Temos uma estratégia para expandir e diversificar internacionalmente 1 2 3 4 5
    19 Temos uma estratégia para nos posicionarmos 1 2 3 4 5
    20 Temos uma estratégia para aumentar os ganhos comerciais e financeiros 1 2 3 4 5
    21 Temos uma estratégia para diversificar o fluxo de caixa 1 2 3 4 5
    22 Temos uma estratégia para acessar recursos escassos e reduzir custos 1 2 3 4 5
    23 Usamos redes e parcerias para compartilhar riscos e custos 1 2 3 4 5
    24 Usamos redes e parcerias para ter mais força internacionalmente 1 2 3 4 5
    25 Usamos redes e parcerias para aumentar o conhecimento do mercado 1 2 3 4 5
    26 Temos uma estratégia para aumentar a exposição ao mercado 1 2 3 4 5
    27 Temos uma estratégia para alcançar um número maior de países 1 2 3 4 5
    28 Temos uma estratégia para melhorar nossa eficiência e ganhos em escala 1 2 3 4 5
  • **
    Modelo de internacionalização de born global apresentado por Oviatt et al., (2004)
  • Perguntas de risco* Sobre a percepção de risco... Discordo fortemente Discordo Neutro Concordo Concordo fortemente
    29 Temos uma baixa percepção dos riscos comerciais 1 2 3 4 5
    30 Temos uma baixa percepção dos riscos interculturais 1 2 3 4 5
    31 Temos uma baixa percepção dos riscos monetários 1 2 3 4 5
    32 Temos uma baixa percepção do risco-país 1 2 3 4 5
  • Riscos em negócios internacionais da Cavusgil et al., (2014)
    • Processo de avaliação:

      Double Blind Review
    • Esse artigo possui dados abertos
    • Como citar: Stocker, F., Mascena, K. M. C., Abib, G., & Irigaray, H. A. R. (2022). Percepção de risco e internacionalização de empresas born global em mercados emergentes. Revista Brasileira de Gestão de Negócios, 24(2), p. 332-350. https://doi.org/10.7819/rbgn.v24i2.4171
    • Agências de fomento:

      Não há agências de financiamento a serem informadas.
    • Ciência Aberta:

      Divulgação de dados Os dados e o questionário utilizados nesta pesquisa estão disponíveis publicamente, em consonância com as políticas de ciência aberta da RBGN em: Stocker, Fabricio; Mascena, Keysa Manuela Cunha de; Abib, Gustavo, 2022, "Supplementary Data - Born global's Risk Perception and Internationalization in Emerging Markets", https://doi.org/10.7910/DVN/U1QGJ4, Harvard Dataverse, V1
    • Análise de plágio:

      A RBGN realiza análise de plágio em todos os seus artigos no momento da submissão e após a aprovação do manuscrito por meio da ferramenta iThenticate.

    References

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    Editora responsável:

    Profa. Dra. Christiane Molina

    Revisores:

    Francisco Valderry; Um dos revisores decidiu não divulgar sua identidade

    Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      22 Jul 2022
    • Data do Fascículo
      Apr-Jun 2022

    Histórico

    • Recebido
      18 Mar 2021
    • Aceito
      17 Fev 2022
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