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EDITORIAL EDITORIAL

EDITORIAL EDITORIAL

A ampliação do conceito de saúde requer o questionamento sobre as formas de abordar o cuidado e as práticas que se tornaram hegemônicas. Isto implica um diálogo sobre os estatutos de cientificidade produzidos na modernidade e o caráter excludente de saberes do campo das práticas integrativas, como a acupuntura e a homeopatia. Desenvolvendo a discussão sobre o ensino e a política nacional de práticas integrativas, Elaine de Azevedo e Maria Cecília Pelicioni produzem o ensaio Práticas integrativas e complementares de desafios para a educação, texto que abre o volume 9, número 3 de Trabalho, Educação e Saúde.

O movimento social no campo explicita de forma ímpar as relações entre condições de vida e saúde. Em parte, isto ocorre porque nos assentamentos, como aquele em que se realiza a pesquisa empírica que deu origem ao artigo Relações de saúde e trabalho em assentamento rural do MST na região de fronteira Brasil-Paraguai, de Eduardo Espíndola et al., vivencia-se a indissociabilidade entre a luta política, o trabalho e a vida cotidiana. Desse modo, este artigo permite pensar sobre as singularidades dessa população e destaca a relevância que o uso de agrotóxicos assume como elemento de risco à saúde.

O conceito de risco, como utilizado anteriormente, está associado à concepção de dano, prejuízo à saúde. Todavia, esta é somente uma das leituras possíveis sobre risco e este é o tema do qual trata o artigo de Thiago Drumond Moraes, Positividade do risco e saúde: contribuições de estudos sobre trabalho para a saúde pública. Moraes argumenta que a potência de vida contida nas vivências classificadas pela saúde pública como de risco merece ser objeto de cuidadosa reflexão, sob pena de adotarmos uma visão reduzida da complexidade das ações de atenção à saúde.

A dinâmica de trabalhadores no setor saúde é discutida no artigo Rotatividade na força de trabalho da rede municipal de saúde de Belo Horizonte, Minas Gerais: um estudo de caso, de Leyla Gomes Sancho et al. A rotatividade de 17 categorias de nível auxiliar, técnico e superior é examinada frente a um conjunto de variáveis definidas na pesquisa. Para produzir informações objetivas que subsidiem a análise proposta, os autores formularam um parâmetro para o contexto ambulatorial. Entre as conclusões, situa-se o potencial que as políticas de gestão municipal têm de interferir no sentido de promover a fixação de profissionais.

A atuação de enfermeiros na gestão de unidades de saúde tem sido um tema de pesquisa crescentemente incorporado aos estudos da saúde coletiva. Entretanto, seu desenvolvimento ainda é desproporcional à presença histórica desses trabalhadores em atividades de gerência. No artigo Trabalho das enfermeiras-gerentes e a sua formação profissional, de Ludmila Xavier-Gomes e Thiago Luiz Barbosa, é posta em curso uma pesquisa qualitativa para investigar, junto a enfermeirasgerentes, a compreensão sobre as relações entre o trabalho de gerência, a identidade do enfermeiro e a formação acadêmica. O estudo demonstra que esta formação permite uma aproximação da área de gestão, mas ainda não se desenvolveu de modo a qualificar o enfermeiro para esta atuação.

O reconhecimento do trabalhador é uma das questões de base na discussão sobre a valorização do trabalho do profissional de nível médio na saúde. No artigo de Elaine da Costa e Danyege Ferreira, intitulado Percepções e motivações de agentes comunitários de saúde sobre o processo de trabalho em Teresina, Piauí, esse tema é retomado para refletir sobre a inserção de agentes comunitários. Fica demonstrado que a falta de reconhecimento é identificada tanto no espaço da comunidade e dos serviços quanto nos níveis institucionais de gestão, produzindo nestes trabalhadores a percepção de falta de apoio da gestão, o que contraria o discurso oficial no SUS que os apresenta como estratégicos para a mudança de modelo de atenção.

Por ser um trabalho que se concretiza no espaço de encontro entre pelo menos dois sujeitos - o usuário e o profissional -, o trabalho em saúde só pode ser transformado e qualificado se os elementos que atravessam este espaço forem também reconhecidos e problematizados. Este é o propósito do artigo Relações entre profissionais de saúde e usuários durante as práticas em saúde, de Maria Denise Schimith et al., que assume a análise bibliográfica como modo de organizar e sintetizar conhecimento sobre o tema, possibilitando ao leitor acompanhar, nos diversos estudos, os movimentos contraditórios deste campo que apontam para a transformação destas relações a fim de torná-las mais emancipatórias, ao mesmo tempo em que conservam uma visão biologicista do cuidado.

Tal como o artigo anterior, o texto Educação permanente nos serviços de saúde: um estudo sobre as experiências realizadas no Brasil, de Karina Stroschein e Denise Zocche, apropria-se do método de revisão integrativa para analisar experiências de educação permanente em saúde realizadas sob financiamento da política nacional para a área e que originaram publicações entre 2004 e 2010. Por meio da discussão das autoras, observa-se uma adesão à concepção de que qualificação extrapola o domínio técnico para alcançar os espaços das relações que perpassam o trabalho em saúde, tal como estabelece o conceito de quadrilátero da formação, em que se articulam o ensino, a gestão, a atenção e o controle social.

Este número conta ainda com o relato O agente comunitário de saúde em Angola: desafios para sua atuação e formação profissional, no qual Ana Lucia Pontes, Vera Joana Bornstein e Camila Giugliani nos trazem a reflexão sobre similitudes e diferenças entre as experiências de trabalho e formação de agentes comunitários, indicando limites e possibilidades para a cooperação entre Brasil e Angola na delimitação do perfil desse profissional.

Duas resenhas encerram este número: Renake Bertholdo das Neves tece crítica sobre Estrutura social e formas de consciência II: a dialética da estrutura e da história, última obra de István Mészáros publicada no Brasil; e Marcela Pronko analisa o livro O Banco Mundial como ator político, intelectual e financeiro, de autoria de João Márcio Mendes Pereira

Angélica Ferreira Fonseca

Carla Macedo Martins

Isabel Brasil Pereira

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Dez 2011
  • Data do Fascículo
    Nov 2011
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