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CULTURAS INFANTIS NAS FOTOGRAFIAS DO PARQUE VIOLETA DÓRIA LINS (DÉCADAS DE 1940 A 1960)

CHILDREN’S CULTURE IN PHOTOGRAPHS OF VIOLETA DÓRIA LINS PLAYGROUND (FROM 1940’S TO 1960’S)

LA CULTURA INFANTIL EN LAS FOTOGRAFÍAS DEL PARQUE VIOLETA DÓRIA LINS (DÉCADAS 1940 A 1960)

Resumo

O Parque Infantil Violeta Dória Lins foi inaugurado em 1940, em Campinas, como parte de um projeto mais amplo que tinha como finalidade educar e cuidar de crianças. Nesses parques, as intenções educativas evidenciavam o papel da arquitetura e da natureza. O objetivo deste trabalho é compreender as culturas infantis nas produções materiais e simbólicas produzidas para as crianças que frequentaram parques infantis entre as décadas de 1940 e 1960 na cidade de Campinas. Para essa investigação, foram selecionadas fotografias do acervo da instituição, bem como do Museu da Imagem e do Som de Campinas. A análise evidenciou que havia dois padrões de fotografias armazenados. Um empenhado na exibição das estruturas edificadas; outro, das práticas educativas que envolviam as crianças. Concluímos que as particularidades do projeto educacional dos Parques Infantis representavam possibilidades profícuas para a produção de culturas infantis, a partir da valorização do contato com a natureza e de um programa pedagógico voltado para atividades artísticas, trabalhos manuais, jogos e brincadeiras.

Palavras-chave:
História da educação; Culturas infantis; Parques Infantis; Educação e Natureza.

Abstract

The Violeta Dória Lins Playground was inaugurated in 1940, in Campinas, as part of a larger project to educate and care for children. In these parks, the educational intentions highlighted the role of architecture and nature. This paper aims to understand children's cultures in the material and symbolic productions produced for the children who frequented playgrounds between the 1940s and 1960s in Campinas. For this investigation, photographs were selected from the institution's collection and the Museum of Image and Sound of Campinas. The analysis showed that there were two patterns of stored photographs, one committed to the display of the built structures, the other to the educational practices involving children. We conclude that the particularities of the educational project of the Playgrounds represented fruitful possibilities for the production of children's cultures, from the appreciation of the contact with nature and a pedagogical program focused on artistic activities, crafts, games, and play.

Keywords:
History of Education; Children’s culture; Playgrounds; Education and Nature.

Resumen

El Parque Infantil Violeta Dória Lins fue inaugurado en 1940, en Campinas, como parte de un proyecto más amplio destinado a la educación y el cuidado de los niños. En estos parques, las intenciones educativas estaban vinculadas a la arquitectura y la naturaleza. El objetivo de este trabajo es comprender las culturas infantiles en las producciones materiales y simbólicas producidas para los niños que asistían a los parques infantiles entre las décadas de 1940 y 1960 en la ciudad de Campinas. Las fotografías fueron seleccionadas de la colección de la institución, así como del Museu da Imagem e do Som. El análisis mostró que había dos corrientes de fotografías, una comprometida con la exhibición de las estructuras construidas y la otra, con las prácticas educativas. Concluimos que las particularidades del proyecto educativo de los Parques Infantiles representaron posibilidades fructíferas para la producción de culturas infantiles, a partir de la valoración del contacto con la naturaleza y en un programa pedagógico centrado en actividades artísticas, trabajos manuales, juegos y actividades lúdicas.

Palabras clave:
Historia de la Educación; Culturas infantiles; Parques infantiles; Educación y Naturaleza.

1 INTRODUÇÃO

As instituições educativas foram interpretadas, por um longo tempo na história, como espaços exclusivamente voltados à transmissão de saberes. Entretanto, estudos contemporâneos afirmam a potencialidade desse espaço na produção de diversas culturas, dentre elas as infantis (GUSMÃO, 2003GUSMÃO, Neusa Maria Mendes de. Diversidade, cultura e educação: olhares cruzados. São Paulo: Biruta, 2003.; NASCIMENTO, 2014NASCIMENTO, Maria Letícia Barros Pedroso. Entre as culturas escolares e as culturas infantis: pequena infância e pesquisa. In: MELO, Benedita Portugal e; DIOGO, Ana Matias; FERREIRA, Manuela; LOPES, João Teixeira; GOMES, Elias Evangelista. Entre crise e euforia: práticas e políticas educativas no Brasil e em Portugal. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2014. p. 285-307.). De acordo com essa perspectiva, as crianças reinterpretam os fatos, criam novas possibilidades e vivências; e atribuem novas funções a lugares que, originalmente, remetem à outra especificidade pedagógica. É importante pensar que esses rearranjos não constituem suas vivências apenas nas escolas contemporâneas. No curso da história, as crianças apresentaram novas interpretações a respeito das instituições educativas, bem como de suas regras, costumes, normas e espaços (JULIA, 2001JULIA, Dominique. A cultura escolar como objeto histórico. Revista Brasileira de História da Educação, n. 1, p. 9-43, 2001.).

Neste trabalho, abordaremos vestígios históricos das culturas infantis no Parque Infantil Violeta Dória Lins, em Campinas-SP. Quando inaugurado, em 1940, a instituição era denominada Parque Infantil do Cambuí. Este foi o primeiro parque infantil da cidade, inspirado por uma política mais abrangente desenvolvida em São Paulo (PIZANI, 2012PIZANI, Rafael Stein. Recreação, lazer e educação física na cidade de Campinas: um olhar acerca dos parques e recantos infantis (1940 - 1960). 2012. 115 f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação Física, Campinas, 2012.; FONSECA; FERREIRA; PRANDI, 2015FONSECA, Sérgio César da; FERREIRA, Débora Menengotti; PRANDI, Maria Beatriz Ribeiro. O Departamento de Educação Física de São Paulo e a interiorização dos parques infantis: o caso de Ribeirão Preto. História e Cultura, v. 4, n. 2, set. 2015. DOI: https://doi.org/10.18223/hiscult.v4i2.1637
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; PIZANI; GÓIS JUNIOR; AMARAL, 2016PIZANI, Rafael Stein; GÓIS JUNIOR, Edivaldo; AMARAL, Silvia Cristina Franco. A educação do corpo nos parques e recantos infantis de Campinas-SP (1940 - 1959). Movimento, v. 22, n. 3, p. 707-722, 2016. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.58774
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; KUHLMANN JR., 2019KUHLMANN JR, Moysés. Parque infantil: a singularidade e seus componentes. Educar em Revista, v. 35, n. 77, p. 223-244, set./out. 2019. DOI: https://doi.org/10.1590/0104-4060.68371
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).

Os parques tinham como finalidade atender e assistir a população infantil, de 4 a 12 anos, filhos e filhas de operários trabalhadores, na cidade de São Paulo (FARIA, 1999FARIA, Ana Lúcia Goulart de. A contribuição dos parques infantis de Mário de Andrade para a construção de uma pedagogia da educação infantil. Educação & Sociedade, v. 20, p. 60-91, 1999. DOI: https://doi.org/10.1590/S0101-73301999000400004
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; NIEMEYER, 2002NIEMEYER, Carlos Augusto da Costa. Parques infantis de São Paulo: lazer como expressão de cidadania. São Paulo: Annablume/Fapesp, 2002.; KUHLMANN JR., 2019KUHLMANN JR, Moysés. Parque infantil: a singularidade e seus componentes. Educar em Revista, v. 35, n. 77, p. 223-244, set./out. 2019. DOI: https://doi.org/10.1590/0104-4060.68371
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). Inúmeros trabalhos abordam a influência que a proposição arquitetônica de um espaço amplo e livre teve na construção de pedagogias renovadoras, distanciando-se de práticas consideradas tradicionais (NIEMEYER, 2002NIEMEYER, Carlos Augusto da Costa. Parques infantis de São Paulo: lazer como expressão de cidadania. São Paulo: Annablume/Fapesp, 2002.; DALBEN, 2009DALBEN, André. Educação do corpo e vida ao ar livre: natureza e Educação Física em São Paulo (1930-1945). 2009. 158 f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) - Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2009.; DALBEN; DANAILOF, 2009DALBEN, André; DANAILOF, Katia. Natureza urbana: parques infantis e escola ao ar livre em São Paulo (1930-1940). Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 31, n. 1, set. 2009. Disponível em: http://www.revista.cbce.org.br/index.php/RBCE/article/view/641. Acesso em: 21 mar. 2023.
http://www.revista.cbce.org.br/index.php...
; DANAILOF, 2013DANAILOF, Kátia. A “Educação Physica” nos parques infantis de São Paulo (1935-1938). Movimento, v. 19, n. 2, p. 167-184, jan. 2013. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.32324
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). Entretanto, interessa saber, neste artigo, quais eram os usos diversos que as crianças faziam naquele que foi o primeiro Parque Infantil de Campinas, considerando que tais usos não necessariamente estariam previstos nos ditames pedagógicos ou teriam sido preconizados pelas diretrizes dos professores.

Desde meados da década de 1990, no Brasil, pesquisadores da área começaram a questionar as pesquisas que envolviam a relação entre escola e sociedade, interrogando sobretudo a legitimidade de certas temáticas sobre outras nesse contexto (FARIA FILHO; GONÇALVES; VIDAL; PAULILO, 2004FARIA FILHO, Luciano Mendes de; GONÇALVES, Irlen Antônio; VIDAL, Diana Gonçalves; PAULILO, André Luiz. A cultura escolar como categoria de análise e como campo de investigação na história da educação brasileira. Educação e Pesquisa, v. 30, n. 1, p. 139-159, abr. 2004. DOI: https://doi.org/10.1590/S1517-97022004000100008
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). Assim, a formação de professores, as disciplinas escolares, os currículos e uma miríade de novas possibilidades se abriu à pesquisa, enfatizando as culturas escolares, as culturas infantis e os parques infantis (FARIA FILHO; GONÇALVES; VIDAL; PAULILO, 2004FARIA FILHO, Luciano Mendes de; GONÇALVES, Irlen Antônio; VIDAL, Diana Gonçalves; PAULILO, André Luiz. A cultura escolar como categoria de análise e como campo de investigação na história da educação brasileira. Educação e Pesquisa, v. 30, n. 1, p. 139-159, abr. 2004. DOI: https://doi.org/10.1590/S1517-97022004000100008
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). A partir de então, considera-se o cotidiano escolar como importante portador de histórias e memórias da educação.

Os estudos supracitados também consideram as culturas infantis como objeto de investigação. Para Julia (2001)JULIA, Dominique. A cultura escolar como objeto histórico. Revista Brasileira de História da Educação, n. 1, p. 9-43, 2001., elas são parte importante dos debates acerca da cultura escolar. É no âmbito das práticas culturais escolares que se insere este artigo. Ao iniciar a pesquisa, os seguintes questionamentos foram realizados: como investigar as culturas infantis e seus rastros na história? Como compreender as culturas infantis construídas e socializadas no parque? Como descobrir vestígios que evidenciam a forma como as crianças reinterpretavam o cotidiano e o espaço escolar? Desse modo, o objetivo do trabalho é compreender as culturas infantis nas produções materiais e simbólicas produzidas para as crianças que frequentaram o parque infantil entre as décadas de 1940 e 1960 na cidade de Campinas, tanto nos momentos dirigidos, quanto naqueles que escapavam aos ditames pedagógicos.

O trabalho considerou a necessidade de selecionar fontes que se adequassem ao objetivo da pesquisa. Portanto, foram escolhidas principalmente as fotografias, documentação mais abundante do acervo da escola, outrora Parque Infantil. Complementarmente, consultamos o Museu da Imagem e do Som (MIS) de Campinas, onde estão disponíveis fotografias mais antigas da instituição. A disponibilidade de fotografias que se encaixassem nas análises aqui empreendidas - voltadas à compreensão das culturas infantis - fez com que o recorte da pesquisa fosse das décadas de 1940 até 1960, parte do período circunscrito ao funcionamento do Parque Infantil na cidade.

Ponderando o objetivo da pesquisa aqui apresentada, o artigo encontra-se organizado em quatro seções. O primeiro discute as fotografias como fontes históricas de pesquisa, observando suas possibilidades e aspectos ligados à metodologia desta investigação. O segundo reúne considerações sobre a arquitetura e a natureza a serviço da educação das crianças. O terceiro tópico agrupa aspectos analíticos a respeito das fotografias que permitiram evidenciar a produção das culturas infantis no período retratado. Por fim, conclui-se, no quarto e último tópico, que as peculiaridades do projeto educacional dos Parques Infantis representam possibilidades profícuas para a produção de culturas infantis em meio a uma arquitetura particular baseada na valorização do contato das crianças com a natureza.

2 AS FOTOGRAFIAS COMO FONTES DE PESQUISA

Compreende-se que as fotografias podem e devem ser alçadas à condição de fontes historiográficas. Para Kossoy (2012)KOSSOY, Boris. Fotografia & História. 4. ed. rev. São Paulo: Ateliê, 2012., é preciso investigar o que as fotografias nos permitem saber sobre o tempo passado e, de forma mais específica, avaliar em que medida esses registros devem ser tomados como fidedignos. Assim, estabelecer uma metodologia de pesquisa é essencial para a interpretação das fontes.

Tomando como ponto de partida a discussão de Le Goff (2013)LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas: EdUnicamp, 2013., é necessário considerar a fotografia simultaneamente como documento e monumento. Mauad e Lopes (2012)MAUAD, Ana Maria; LOPES, Marcos Felipe de Brum. História e Fotografia. In: CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo. Novos domínios da História. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. p. 263-281. apontam que, no primeiro caso, considera-se a fotografia a marca de uma materialidade passada, que transmite informações sobre determinados aspectos desse passado. No segundo caso, a fotografia deve ser compreendida como um símbolo, algo que, no passado, foi estabelecido como a imagem a se perpetuar no futuro.

Nos estudos da história da educação, as fotografias aparecem como fontes bastante recorrentes, já que o hábito de fotografar o ambiente escolar brasileiro data de meados do século XX (VIDAL; ABDALA, 2005VIDAL, Diana Gonçalves; ABDALA, Rachel Duarte. A fotografia como fonte para a História da Educação: questões teórico-metodológicas e de pesquisa. Revista do Centro de Educação (UFSM-RS), v. 30, n. 2, jul./dez. 2005. DOI: http://dx.doi.org/10.5902/19846444
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; ALVES, 2010ALVES, Claudia. Educação, memória e identidade: dimensões imateriais da cultura material escolar. Revista História da Educação, v. 14, n. 30, jan./abr. 2010. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/index.php/asphe/article/view/28914. Acesso em: 21 mar. 2023.
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). A fotografia, em geral, tem o objetivo de configurar-se como uma memória institucional ou uma recordação individual. Contudo, poucas vezes é pensada, dentro do ambiente escolar, como um instrumento da história, e sim como inscrições da memória institucional ou como elementos de recordação (SOUZA, 2001SOUZA, Rosa Fátima de. Fotografias escolares: a leitura de imagens na história da escola primária. Educação em Revista, n. 18, p. 75-101, dez. 2001. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0104-4060.235
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).

As fotografias escolares podem ser categorizadas como fotografias públicas, que são definidas por Mauad (2013) como aquelas imagens produzidas de forma institucionalizada, associadas ao Estado ou ao Capital, produzidas pelas agências estatais para dar visibilidade às suas ações, especialmente voltadas à elaboração de uma opinião pública. Dessa forma, essas fotografias podem ser entendidas como o suporte de uma memória pública que registra e projeta no tempo histórico uma determinada versão dos acontecimentos (MAUAD; LOPES, 2012MAUAD, Ana Maria; LOPES, Marcos Felipe de Brum. História e Fotografia. In: CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo. Novos domínios da História. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. p. 263-281.).

Salientamos ainda que as fotografias, que têm como objetivo retratar o cotidiano escolar, acabam, de forma indireta, colocando-se como signos interpretativos que apresentam uma determinada construção da noção de infância e tornam crianças protagonistas da história (ABRAMOWICZ; SILVEIRA; JOVINO; SIMIÃO, 2011ABRAMOWICZ, Anete; SILVEIRA, Debora de Barros; JOVINO, Ione; SIMIÃO, Lucélio Ferreira. Imagens de crianças e infâncias: a criança na iconografia brasileira dos séculos XIX e XX. Perspectiva, v. 29, n. 1, p. 263-293, jan./jun. 2011. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-795X.2011v29n1p263
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). Ainda que certos autores alertem a idealização de infância que existe na circulação de certas imagens (CHALMEL, 2004CHALMEL, Loic. Imagens de crianças e crianças nas imagens: representações da infância na iconografia pedagógica nos séculos XVII e XVIII. Educação e Sociedade, v. 25, n. 86, p. 57-74, abr. 2004. DOI: https://doi.org/10.1590/S0101-73302004000100005
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), um exame atento desse artefato cultural permite a produção de questionamentos a respeito das representações de infância ou, de forma mais evidente neste artigo, das culturas infantis.

Conforme mencionado, iniciou-se a busca de fontes históricas no próprio acervo da escola. Dentre todos os materiais encontrados, as fotografias estavam presentes em maior número. Foram organizadas 622 imagens retratando diversos momentos da história do Parque Infantil. Preliminarmente, identificou-se que a fotografia mais antiga do acervo da escola data de 1966, mesmo ano em que o parque havia se transferido de sua antiga sede, na Praça Fluminense, para o bairro Vila Rica.

Para saber mais informações sobre a cultura escolar do Parque Infantil, incluindo os seus primeiros anos de funcionamento, recorreu-se ao acervo do MIS de Campinas, onde foram localizadas mais 371 fotografias que registraram os primeiros anos de existência do parque. Assim, foi reunido um total de 1034 fotografias, conjunto significativo para a análise pretendida.

Como já aventado, as fotografias em si não são suficientes para o entendimento das culturas infantis, sendo necessário interrogar tais fontes. Como aponta Bloch (2001)BLOCH, Marc Léopold Benjamim. Apologia da história, ou, o ofício de historiador. Rio de Janeiro: Zahar, 2001., deve-se analisar em detalhes aquilo que é mostrado e, ao mesmo tempo, o que se tenta esconder. Procurou-se, então, examinar as fotografias e confrontá-las com outras fontes de pesquisa, como documentos e orientações diversas, além de outros estudos sobre o tema para entender de que forma se davam os registros das vivências das crianças no parque (BURKE, 2004BURKE, Peter. Testemunha ocular: história e imagem. Bauru: EDUSC, 2004.). Portanto, ao longo do texto, as fotografias foram analisadas junto a outros documentos, na tentativa de compreender o projeto arquitetônico e pedagógico mais amplo, para além das próprias práticas infantis. Essas fontes contemplam: plantas arquitetônicas; obras de autores que versaram sobre a Educação Física na época; planos, legislações e relatórios urbanísticos da cidade de Campinas e decretos sobre a formatação dos Parques Infantis no estado de São Paulo.

Observar as culturas infantis construídas nos espaços educativos implica considerar que as crianças possuem, na realidade, um mundo próprio, constituído por regras estabelecidas a partir de dinâmicas culturais. Ou seja, para além dos costumes e significados compartilhados nas sociedades em que as crianças se inserem, há também aquilo que ultrapassa tais determinações coletivas e é produzido especificamente por elas em seus próprios grupos (CORSARO, 1997CORSARO, William. The sociology of childhood. California: Pine Forge, 1997.; SARMENTO, 2004SARMENTO, Manuel Jacinto. As culturas da infância nas encruzilhadas da 2ª modernidade. In: SARMENTO, Manuel Jacinto; CERISARA, Ana Beatriz. (org.). Crianças e miúdos: perspectivas sociológicas da infância e educação. Porto: Asa Editores, 2004. p. 9-34.).

A fotografia, além de obviamente tratar do que é fotografado, diz muito também sobre a subjetividade de quem fotografa. Assim, há um caráter autoral, que pode aparecer de forma mais ou menos evidente (SONTAG, 2004SONTAG, Susan. Sobre fotografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.). Entretanto, nem as fotografias existentes na escola, nem aquelas que estavam guardadas no MIS incluíam tais informações. No MIS, as fotografias apresentavam uma ficha catalográfica, com espaços não preenchidos com relação à identificação de autoria. Como exceção, a fotografia n. 1 da série do museu, datada de 1940, está identificada. Nela foi enquadrada a fachada do primeiro prédio do parque, tendo sido assinada pela “Nossa Casa Editora”, o que subentende um caráter oficial e até mesmo comercial de difusão do novo empreendimento educacional (Figura 1). Com efeito, as sete primeiras fotografias desta série compartilham a característica de representarem, por diferentes ângulos, o espaço e a arquitetura espacial do parque recém-construído.

Figura 1
Fachada do prédio original do Parque Infantil do Cambuí (1940)

Em seguida, iniciou-se uma seleção das imagens que retratavam as crianças, sobretudo nos momentos em que produziam seus próprios contornos sobre o que era desenvolvido no parque e não apenas em momentos previstos, posados ou de atividades direcionadas. Procurou-se analisar aquilo que foi intencionalmente fotografado, mas também o que se materializa no segundo plano, nos pequenos gestos e na falta de foco ocasionada pelo movimento brusco de uma criança inquieta.

Antes de articular as análises em torno das culturas infantis, serão apresentadas as diretrizes pedagógicas ligadas à formação dos Parques Infantis e as representações fotográficas que corroboram tais diretrizes, aliando a arquitetura e a natureza aos preceitos da boa educação. Levando em conta que as culturas infantis se realizaram no contexto dessas diretrizes pedagógicas, sua consideração se torna mister.

3 ARQUITETURA E NATUREZA A SERVIÇO DA EDUCAÇÃO DAS CRIANÇAS

Os Parques Infantis, com suas bases vinculadas ao Departamento de Cultura de São Paulo, fizeram parte de um projeto voltado à difusão cultural entre 1935 e 1938. Isso significa que havia a intenção de proporcionar às crianças atendidas contato com elementos da cultura brasileira e, ao mesmo tempo, formar e corrigir seus hábitos (FILIZZOLA, 2002FILIZZOLA, Ana Carolina Bonjardim. Na rua, a “troça”, no parque, a “troca”: os parques infantis na cidade de São Paulo, na década de 1930. 2002. 233 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002.; GUEDES, 2006GUEDES, Lizandra. Novas velhas formas de dominação: os parques infantis e o novo projeto de dominação social. 2006. 179 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) - Instituto de psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006.; DANAILOF, 2013DANAILOF, Kátia. A “Educação Physica” nos parques infantis de São Paulo (1935-1938). Movimento, v. 19, n. 2, p. 167-184, jan. 2013. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.32324
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). As bases filosóficas e educacionais dos Parques Infantis foram consolidadas, anteriormente, por uma comissão liderada por Fernando de Azevedo em um documento publicado sob o título Praças de jogos para crianças: ensaio de hygiene social (AZEVEDO, 1930AZEVEDO, Fernando de. A evolução do esporte no Brasil. São Paulo: Cayeiras; Rio de Janeiro: Melhoramentos, 1930.). O referido texto detalha soluções urbanísticas, paisagísticas e arquitetônicas, bem como equipamentos, atividades pedagógicas e seus respectivos objetivos; enfim, era um programa completo para orientar a implantação e funcionamento dos Parques Infantis, consolidando essa iniciativa como parte do movimento de renovação educacional das décadas de 1920 e 1930 no Brasil. Com efeito, essas ideias não se limitaram a São Paulo, tendo se disseminado em diversos outros estados, como Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul (SILVA, 2019SILVA, Giovanna Camila da. Entre playgrounds, praças de jogos e jardins de recreio: o debate sobre a proveitosa ocupação do tempo. Movimento, p. e25099, jan./dez. 2019. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.92967
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).

Para Kuhlmann Jr. (2019KUHLMANN JR, Moysés. Parque infantil: a singularidade e seus componentes. Educar em Revista, v. 35, n. 77, p. 223-244, set./out. 2019. DOI: https://doi.org/10.1590/0104-4060.68371
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), os Parques Infantis foram espaços cuja constituição sofreu diversas influências internacionais e cujas ações abrangeram diversos sentidos e significados. Seus preceitos decorriam de ideias associadas ao higienismo, ao urbanismo, a movimentos pedagógicos como os Kindergarten e o playground movement, além da educação física. Assim, uma amálgama de conhecimentos foi responsável por estabelecer as diretrizes desses espaços idealizados e construídos na cidade de São Paulo, nos anos 1930.

Enfatiza-se que a implementação dos Parques Infantis se inseria em um conjunto mais amplo de preocupações públicas, provocadas pela acelerada urbanização de São Paulo (NIEMEYER, 2002NIEMEYER, Carlos Augusto da Costa. Parques infantis de São Paulo: lazer como expressão de cidadania. São Paulo: Annablume/Fapesp, 2002.; SILVA, 2019SILVA, Giovanna Camila da. Entre playgrounds, praças de jogos e jardins de recreio: o debate sobre a proveitosa ocupação do tempo. Movimento, p. e25099, jan./dez. 2019. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.92967
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; FERREIRA; WIGGERS, 2019FERREIRA, Flávia Martinelli; WIGGERS, Ingrid Dittrich. Infância e urbanidade nos parques infantis de São Paulo. Educação e Pesquisa, v. 45, 2019. DOI: https://doi.org/10.1590/S1678-4634201945194024
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, WIGGERS; SOARES, 2019WIGGERS, Ingrid Dittrich; SOARES, Carmen Lucia. Recreação e vida ao ar livre em parques infantis de São Paulo na coleção de desenhos de Mário de Andrade. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, n. 74, p. 302-322, dez. 2019. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2316-901X.v0i74p302-322
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). Eles seriam, nesse contexto, a substituição adequada do espaço da rua, aliando a essa característica a especificidade de suas intervenções médico-educativas. De acordo com Dalben e Danailof (2009)DALBEN, André; DANAILOF, Katia. Natureza urbana: parques infantis e escola ao ar livre em São Paulo (1930-1940). Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 31, n. 1, set. 2009. Disponível em: http://www.revista.cbce.org.br/index.php/RBCE/article/view/641. Acesso em: 21 mar. 2023.
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, pairava sobre tais espaços educativos a concepção de uma natureza que seria capaz de curar e regenerar os corpos infantis, funcionando como oposição perfeita ao ambiente urbano degradante. As propostas arquitetônicas da instituição favoreceriam a adoção dessa concepção. A simplicidade das estruturas, o espaço amplo e arborizado, bem como o plantio de árvores e a distribuição de pássaros tipicamente brasileiros aguçavam a ideia de que os parques possuíam uma natureza benfazeja e simbolicamente nacional (DALBEN, 2009DALBEN, André. Educação do corpo e vida ao ar livre: natureza e Educação Física em São Paulo (1930-1945). 2009. 158 f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) - Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2009.; DALBEN; DANAILOF, 2009DALBEN, André; DANAILOF, Katia. Natureza urbana: parques infantis e escola ao ar livre em São Paulo (1930-1940). Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 31, n. 1, set. 2009. Disponível em: http://www.revista.cbce.org.br/index.php/RBCE/article/view/641. Acesso em: 21 mar. 2023.
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).

Assim, os parques se qualificavam como espaços reordenados de oposição às ruas, à brutalidade e às condições insalubres propostas pela vida urbana. Sob os auspícios de uma nova perspectiva educacional, eles tinham como objetivo formar, modelar e corrigir hábitos; despertar o gosto por costumes mais saudáveis; além de promover solidariedade, comunicabilidade e cooperação entre as crianças frequentadoras do espaço (DANAILOF, 2013DANAILOF, Kátia. A “Educação Physica” nos parques infantis de São Paulo (1935-1938). Movimento, v. 19, n. 2, p. 167-184, jan. 2013. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.32324
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).

Essas ideias foram amplamente difundidas pelo estado de São Paulo e chegaram a distintas cidades do interior na década de 1940, incluindo-se nessa lista a cidade de Campinas (PIZANI, 2012PIZANI, Rafael Stein. Recreação, lazer e educação física na cidade de Campinas: um olhar acerca dos parques e recantos infantis (1940 - 1960). 2012. 115 f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação Física, Campinas, 2012.; FONSECA; FERREIRA; PRANDI, 2015FONSECA, Sérgio César da; FERREIRA, Débora Menengotti; PRANDI, Maria Beatriz Ribeiro. O Departamento de Educação Física de São Paulo e a interiorização dos parques infantis: o caso de Ribeirão Preto. História e Cultura, v. 4, n. 2, set. 2015. DOI: https://doi.org/10.18223/hiscult.v4i2.1637
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; PIZANI; GÓIS JUNIOR; AMARAL, 2016PIZANI, Rafael Stein; GÓIS JUNIOR, Edivaldo; AMARAL, Silvia Cristina Franco. A educação do corpo nos parques e recantos infantis de Campinas-SP (1940 - 1959). Movimento, v. 22, n. 3, p. 707-722, 2016. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.58774
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; KUHLMANN JR., 2019KUHLMANN JR, Moysés. Parque infantil: a singularidade e seus componentes. Educar em Revista, v. 35, n. 77, p. 223-244, set./out. 2019. DOI: https://doi.org/10.1590/0104-4060.68371
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). A construção de espaços semelhantes havia sido assegurada em 1935 por meio do esboço do Plano de Melhoramentos Urbanos, elaborado pelo engenheiro e urbanista Francisco Prestes Maia (CAMPINAS, 1938CAMPINAS. Prefeitura Municipal de Campinas. Plano de melhoramentos urbanos, 1938.). O plano tinha como objetivo central a remodelação da cidade, apagando suas filiações coloniais e imprimindo a ela ares de modernidade. Assegurava-se, para isso, a implantação de diversas áreas verdes e parques, construídos com a intenção de proporcionar práticas esportivas e lazer ativo à população (RODRIGUES, 2012RODRIGUES, Fabíola. O plano “Prestes Maia” e a ideologia do planejamento urbano em Campinas: o poder e os limites das ideias de um urbanista. URBANA: Revista Eletrônica do Centro Interdisciplinar de Estudos sobre a Cidade, v. 4, n. 1, p. 125-151, 2012. DOI: https://doi.org/10.20396/urbana.v4i1.8635154
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). Inseridos nesse contexto, os Parques Infantis foram instituídos com a clara intenção de ocupar o tempo dos filhos dos operários e, ao mesmo tempo, propiciar lazer sadio e higiênico a essa parcela de crianças, promovendo atividades planejadas dentro de preceitos médicos que contemplassem a saúde, a boa ocupação do tempo e o distanciamento das ruas (PIZANI, 2012PIZANI, Rafael Stein. Recreação, lazer e educação física na cidade de Campinas: um olhar acerca dos parques e recantos infantis (1940 - 1960). 2012. 115 f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação Física, Campinas, 2012.).

O primeiro parque construído na cidade, objeto deste estudo, foi o Parque Infantil do Cambuí, inaugurado oficialmente em 2 de janeiro de 1940, na Praça Imprensa Fluminense, antigo passeio público municipal, localizado no bairro Cambuí (PAULA, 2003PAULA, Roberta Cristina de. Os pequenininhos do parque: a linguagem corporal das crianças pequenas de um parque infantil de Campinas (1942-1952). 2003. 90 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Pedagogia) - Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2003.; PIZANI, 2012PIZANI, Rafael Stein. Recreação, lazer e educação física na cidade de Campinas: um olhar acerca dos parques e recantos infantis (1940 - 1960). 2012. 115 f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação Física, Campinas, 2012.; PIZANI; GÓIS JUNIOR; AMARAL, 2016PIZANI, Rafael Stein; GÓIS JUNIOR, Edivaldo; AMARAL, Silvia Cristina Franco. A educação do corpo nos parques e recantos infantis de Campinas-SP (1940 - 1959). Movimento, v. 22, n. 3, p. 707-722, 2016. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.58774
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). De acordo com Leme (2008)LEME, Fernanda de Lucca. Memórias de um parque infantil em Campinas: vestígios do pensamento de Mário de Andrade. 2008. 94 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas. 2008., o projeto de construção do parque seguiu os mesmos critérios adotados nos parques paulistanos, assemelhando-se a eles, por exemplo, pela planta arquitetônica e pelas diretrizes de construção, além da localização em bairros operários. Para Ferreira (1996)FERREIRA, Anna Angélica Ramos. Um breve histórico das escolas municipais de educação infantil e dos centros municipais de educação infantil do município de Campinas (1940-1990). 139 f. 1996. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Pedagogia) - Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1996. e Pizani (2012)PIZANI, Rafael Stein. Recreação, lazer e educação física na cidade de Campinas: um olhar acerca dos parques e recantos infantis (1940 - 1960). 2012. 115 f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação Física, Campinas, 2012., as atividades realizadas nos Parques Infantis campineiros tinham como referência modelos e orientações emitidos pelo Departamento de Educação Física de São Paulo (DEF-SP), especialmente no que concerne às atividades de jogos, esportes e recreação. Outras atividades de âmbito pedagógico, como a jardinagem, também apresentaram semelhança.

O Parque Infantil do Cambuí ganhou o nome de Parque Infantil Violeta Dória Lins em 1950, por meio da Lei Municipal nº 383 (CAMPINAS, 1950CAMPINAS, Prefeitura Municipal de Campinas. Legislação Municipal de Campinas. Campinas, v. 13, 1950.). Em 1966, suas atividades foram encerradas no bairro Cambuí, e em seu lugar começaram as obras do Centro de Convivência (CAMPINAS, 1974CAMPINAS. Prefeitura Municipal de Campinas. Relatório Municipal (1930-1974), 1974.). O parque foi, então, transportado para o local onde hoje se encontra, na Vila Rica, com a justificativa de que o novo bairro, mais voltado ao operariado, aproveitaria melhor os serviços de assistência à infância (PIZANI, 2012PIZANI, Rafael Stein. Recreação, lazer e educação física na cidade de Campinas: um olhar acerca dos parques e recantos infantis (1940 - 1960). 2012. 115 f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação Física, Campinas, 2012.).

A arquitetura do parque, tanto no prédio antigo, inaugurado em 1940, quanto no novo, datado de 1966, aparece de forma recorrente nas fontes analisadas (Figura 2). As fotografias foram captadas de distintos ângulos, ora tomando como referência a fachada, ora mostrando a grandiosidade do terreno e da natureza abundante. Considera-se que havia intencionalidades marcadas, voltadas à difusão de um projeto novo que chegava à cidade com o rótulo da modernidade, alinhado às novidades pedagógicas difundidas tanto na capital como também no país. O projeto possuía contornos de tradição e modernidade, ao articular a cultura popular, o nacionalismo, a constituição de uma identidade brasileira em espaços de jogo, bem como de áreas verdes e abertas. Além disso, em um país moderno, a educação e a cultura são elementos importantes e determinantes na organização da ampliação do tempo de não-trabalho, seja em práticas relacionadas ao lazer ou à educação das crianças. Portanto, era vital disseminar os benefícios do projeto, especialmente de sua arquitetura inovadora e seus espaços amplos disponíveis.

Figura 2
Prédio novo do Parque Infantil Violeta Dória Lins, recém-construído (1966)

A área destinada ao Parque Infantil - 19.180m2 - por exemplo, sofreu alterações ao longo das décadas, desde a sua inauguração até a sua transformação em uma escola de ensino fundamental. Estas transformações estão também retratadas nas plantas que compõem os 41 artefatos da cultura material arquivados no acervo da escola. Em 1965, a mudança de bairro do Parque Infantil foi planejada e a cópia das plantas complementa nossa compreensão sobre os espaços retratados nas fotografias.

Além disso, essas fotografias são bastante distintas daquelas encontradas por Souza (2001)SOUZA, Rosa Fátima de. Fotografias escolares: a leitura de imagens na história da escola primária. Educação em Revista, n. 18, p. 75-101, dez. 2001. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0104-4060.235
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em sua pesquisa sobre os edifícios escolares da cidade de Campinas, no período compreendido entre 1897 e 1950. Nelas, a pujança estética dos grupos escolares se evidenciava, já que eles se tornaram símbolo do progresso social e cultural da cidade. Havia a intenção de transformá-los em cartões postais da cidade, sinônimos de civilização. Nos Parques Infantis, contudo, é possível perceber intencionalidades distintas, pois as fotografias não são atreladas ao tamanho monumental dos prédios, e sim à riqueza do terreno amplo, arejado e disponível para as crianças.

De acordo com Alves (2010)ALVES, Claudia. Educação, memória e identidade: dimensões imateriais da cultura material escolar. Revista História da Educação, v. 14, n. 30, jan./abr. 2010. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/index.php/asphe/article/view/28914. Acesso em: 21 mar. 2023.
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, há, na história das fotografias escolares, uma diferença notável entre os materiais de caráter público e o que pairava no âmbito privado. As fotografias públicas, a exemplo das fachadas das escolas, ou aquelas tiradas para captar momentos mais formais da vida escolar, tinham objetivos orientados à difusão da forma escolar e da importância das instituições educativas para a comunidade. Não há dúvidas de que as fotografias que tratavam da arquitetura do Parque Infantil ora estudado tinham como objetivo difundir o projeto na cidade e ganhar certa notoriedade com a opinião pública e com a comunidade escolar. Mais do que isso, reafirmavam a aliança entre espaços amplos e arejados e a educação das crianças, pautados em lógicas coadunadas aos novos entendimentos da educação do período (NUNES; CARVALHO, 1993NUNES, Clarice; CARVALHO, Marta Maria Chagas de. Historiografia da educação e fontes. Cadernos Anped, n. 5, p. 7-64,1993., CARVALHO, 1994CARVALHO, Marta Maria Chagas de. Fernando de Azevedo, pioneiro da Educação Nova. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, n. 37, p. 71-79, 1994. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2316-901X.v0i37p71-79
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; VIDAL, 1994VIDAL, Diana Gonçalves. Nacionalismo e tradição na prática discursiva de Fernando de Azevedo. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, n. 37, p. 35-51, 1994. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2316-901X.v0i37p35-51
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; KUHLMANN JR., 2019KUHLMANN JR, Moysés. Parque infantil: a singularidade e seus componentes. Educar em Revista, v. 35, n. 77, p. 223-244, set./out. 2019. DOI: https://doi.org/10.1590/0104-4060.68371
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).

Entretanto, conforme assinalamos anteriormente, o Parque Infantil Violeta Dória Lins não foi fotografado apenas em sua exterioridade. Fotografias encontradas procuraram também reafirmar a eficiência daquilo que ocorria dentro desse espaço educativo. Em menor número, registraram também momentos de divertimento, excitação e espontaneidade das crianças que o frequentavam.

4 AS FOTOGRAFIAS COMO RETRATO DAS CULTURAS INFANTIS

Analisa-se, a partir de agora, o conjunto de fotografias voltado a retratar a prática das crianças, professores e outros funcionários no Parque Infantil. Ressalte-se que, enquanto uma parcela dessas imagens servia como comprovação do trabalho realizado e para divulgação das ações pedagógicas realizadas pelas professoras, outra retratava a utilização dos espaços de forma diversificada por parte das crianças. Desse modo, foi possível identificar e compreender o espaço educativo transformado pelas crianças, que nele estabeleceram suas práticas sociais carregadas de significados, construindo, assim, culturas próprias da infância (CORSARO, 1997CORSARO, William. The sociology of childhood. California: Pine Forge, 1997.; GUSMÃO, 2012GUSMÃO, Neusa Maria Mendes de. Olhar viajante: Antropologia, criança e aprendizagem. Pro-Posições, v. 23, n. 2, p. 161-178, maio/ago. 2012. DOI: https://doi.org/10.1590/S0103-73072012000200011
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; NASCIMENTO, 2014NASCIMENTO, Maria Letícia Barros Pedroso. Entre as culturas escolares e as culturas infantis: pequena infância e pesquisa. In: MELO, Benedita Portugal e; DIOGO, Ana Matias; FERREIRA, Manuela; LOPES, João Teixeira; GOMES, Elias Evangelista. Entre crise e euforia: práticas e políticas educativas no Brasil e em Portugal. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2014. p. 285-307.). Por meio de uma apreciação rigorosa das fontes iconográficas encontradas tanto no acervo escolar como no MIS, confrontadas às fontes supracitadas, identificamos distintas intencionalidades que nos proporcionaram a organização das imagens de acordo com os seguintes temas: festividades, excursões escolares, jardinagem, educação física e brincadeiras nos equipamentos.

O primeiro tema se refere às festividades no parque. Nessas fotos, que em geral marcam apresentações artísticas, as crianças aparecem guiadas pelos professores e professoras, executando a atividade proposta. Normalmente, registravam a assistência de grandes públicos, composto por membros do parque e da comunidade (Figura 3). Muitas dessas imagens representavam também desfiles cívicos, elementos relevantes na produção de sentidos dos Parques Infantis, considerando a importância atribuída ao nacionalismo, especialmente quando se desejava constituir crianças aptas a serem o futuro da nação (DANAILOF, 2013DANAILOF, Kátia. A “Educação Physica” nos parques infantis de São Paulo (1935-1938). Movimento, v. 19, n. 2, p. 167-184, jan. 2013. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.32324
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).

Figura 3
“Com a Rainha é assim”, comédia de Juracy Camargo encenada pelas crianças (1942)

Tais datas festivas representam momentos em que práticas ensaiadas à exaustão eram levadas ao conhecimento do público, em geral à comunidade escolar. Logo, dito de outro modo, havia uma preparação para que o momento fotografado existisse. Então, ainda que os eventos fizessem parte da organização anual do Parque Infantil, eles não refletiam, de forma espontânea, o cotidiano escolar.

Os Parques Infantis também foram palco de apresentações públicas de exercícios ginásticos que ocorriam em dias comemorativos e em festividades patrióticas (DALBEN, 2009DALBEN, André. Educação do corpo e vida ao ar livre: natureza e Educação Física em São Paulo (1930-1945). 2009. 158 f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) - Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2009.; PIZANI; GÓIS JR; AMARAL, 2016). A ginástica, como componente das aulas de educação física nos parques, atuava na criação de hábitos e na educação cívica das crianças e será melhor indagada adiante.

Tratando-se, ainda, de eventos, foram encontrados registros de excursões escolares organizadas pela instituição. No Parque Infantil analisado, foi possível perceber que inúmeros passeios tinham como destino o ambiente natural, onde se realizavam, entre outras atividades, exercícios físicos (Figura 4).

Figura 4
Crianças frequentadoras do Parque Infantil em excursão para Santos (1940)

Os discursos ligados à exaltação da vida ao ar livre e a uma educação pela natureza, bastante incentivados nos projetos dos Parques Infantis, tiveram uma ampla difusão no Brasil urbano das primeiras décadas do século XX (DALBEN; DANAILOF, 2009DALBEN, André; DANAILOF, Katia. Natureza urbana: parques infantis e escola ao ar livre em São Paulo (1930-1940). Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 31, n. 1, set. 2009. Disponível em: http://www.revista.cbce.org.br/index.php/RBCE/article/view/641. Acesso em: 21 mar. 2023.
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). Assim, piqueniques, excursões, visitas ao mar ou às serras se instituíram como parte de um ideário de vida ao ar livre que começou a se impor como necessidade para o desenvolvimento dos habitantes das cidades, especialmente das crianças (SOARES, 2016SOARES, Carmen Lúcia. Três notas sobre natureza, educação do corpo e ordem urbana (1900-1940). In: SOARES, Carmen Lúcia (org.). Uma educação pela natureza: a vida ao ar livre, o corpo e a ordem urbana. Campinas: Autores Associados, 2016.).

Embora seja possível afirmar que as excursões também fossem portadoras do ideário construído a respeito da educação nos Parques Infantis, o espaço foi apropriado de forma diferente pelas crianças, permitindo que elas criassem com ele outra relação, menos previsível. Nas fotografias que representam as crianças em espaços não necessariamente construídos sob um viés educacional, as culturas infantis se apresentam de diferentes modos, pautadas na liberdade, na expressividade das crianças e nas brincadeiras não dirigidas, práticas possíveis por meio desse contato com a natureza.

Além das festividades, desfiles e excursões, as atividades pedagógicas cotidianas também foram registradas. Com frequência, cenas retratadas pelas fotografias encontradas nos acervos apresentavam atividades, coordenadas pelas professoras da escola, que faziam parte dos componentes curriculares, com destaque para a horticultura e a jardinagem (Figura 5), bem como para trabalhos manuais - pintura e bordado.

Figura 5
Atividades de jardinagem [1969?]

Com efeito, o ensino da jardinagem foi explorado exaustivamente nas coleções analisadas. De acordo com Dalben e Danailof (2009)DALBEN, André; DANAILOF, Katia. Natureza urbana: parques infantis e escola ao ar livre em São Paulo (1930-1940). Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 31, n. 1, set. 2009. Disponível em: http://www.revista.cbce.org.br/index.php/RBCE/article/view/641. Acesso em: 21 mar. 2023.
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, o contato com a terra fazia parte de uma educação que considerava a natureza benéfica às crianças, e, portanto, tais atividades foram amplamente difundidas nos Parques Infantis. Em Campinas, contava-se ainda com a presença do Clube Agrícola, parceiro do parque no desenvolvimento dessas atividades (PIZANI, 2012PIZANI, Rafael Stein. Recreação, lazer e educação física na cidade de Campinas: um olhar acerca dos parques e recantos infantis (1940 - 1960). 2012. 115 f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação Física, Campinas, 2012.). Assim, lições de horticultura e jardinagem foram desenvolvidas junto às crianças frequentadoras.

Outro grupo de atividades bastante realçado nas fotografias se refere à educação física. Trata-se de um componente que se fez presente tanto em eventos como no cotidiano escolar, sendo que todas as fotografias desse grupo capturaram as crianças e as professoras, que acompanhavam ou organizavam as atividades. Em situações eventuais, a educação física foi identificada, por exemplo, nos exercícios físicos realizados durante as excursões à praia (Figura 4), mas sobretudo em apresentações de ginástica, com grandes formações de alunos (Figura 6), bem como em competições entre as crianças.

Figura 6
Apresentação de ginástica na festa comemorativa da inauguração das novas instalações do Parque Infantil do Cambuí (1940)

Na imagem selecionada, observa-se o amplo espaço arborizado disponível para a realização das atividades no Parque Infantil. Nela, salienta-se o olhar das crianças voltado diretamente à lente da câmera, como se o registro significasse o ápice do número que era naquele momento apresentado. A professora, ao lado, analisava o desempenho das crianças e provavelmente coordenava o espetáculo, com a função de fazer com que nada saísse do planejado. Na fotografia selecionada, identificamos uma administração simbólica da infância, restringindo, de algum modo, os espaços e os tempos da infância sob controle direto ou indireto dos adultos (SARMENTO, 2011SARMENTO, Manuel Jacinto. A reinvenção do ofício de criança e de aluno. Atos de Pesquisa em Educação, v. 6, n. 3, p. 581-602, set./dez. 2011.).

No âmbito do cotidiano, a educação física foi evidenciada em jogos com bola, práticas esportivas ou ainda relacionadas ao uso da piscina. Embora algumas atividades da educação física fossem organizadas estritamente pelas professoras, como as apresentações ginásticas, em outras situações, podemos verificar vivências mais permissivas a construções culturais mediadas pelas próprias crianças. Nessas atividades, ainda que houvesse a presença da professora, as crianças pareciam não posar para a foto, já que estavam envolvidas pela prática que estava sendo desempenhada (Figura 7). Observamos que a maioria das fotografias de jogos esportivos se encontra nessa perspectiva.

Figura 7
Prática esportiva de cestobol

As resoluções presentes no acervo e indicações publicadas pelo Departamento de Educação Física do Estado de São Paulo (DEF-SP) continham recomendações sobre o número de sessões de jogos realizadas, além da eleição de quais poderiam ser feitos; as ressalvas ficavam por conta do futebol, considerado violento e que despertava valores como a vadiagem e a malandragem (SÃO PAULO, 1947SÃO PAULO (Estado), Secretaria de Estado dos Negócios da Educação e Saúde Pública. Departamento de Educação Física do Estado de São Paulo. Educação Física nos Parques Infantis. São Paulo, 1947.; PIZANI, GÓIS JUNIOR, AMARAL, 2016PIZANI, Rafael Stein; GÓIS JUNIOR, Edivaldo; AMARAL, Silvia Cristina Franco. A educação do corpo nos parques e recantos infantis de Campinas-SP (1940 - 1959). Movimento, v. 22, n. 3, p. 707-722, 2016. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.58774
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). O jogo, nos Parques, se caracterizava como uma estratégia de desenvolvimentos de questões morais, de valores e hábitos, além do controle dos mesmos. O programa de educação física - para além da ginástica e dos jogos - apresentava também aulas de dança e de natação, que também seguiam as orientações do DEF-SP (SÃO PAULO, 1947SÃO PAULO (Estado), Secretaria de Estado dos Negócios da Educação e Saúde Pública. Departamento de Educação Física do Estado de São Paulo. Educação Física nos Parques Infantis. São Paulo, 1947.).

Havia também, além da quadra, outro espaço de práticas corporais bastante concorrido pelas crianças. A piscina foi inúmeras vezes fotografada, mostrando o arrebatamento do encontro entre os corpos infantis e a água, ainda que sob vistoria das professoras, que se localizavam nas margens e controlavam sua utilização (Figura 8).

Figura 8
Grupo de crianças praticando natação

Ao longo da história, as relações entre escolas e piscinas sempre foram complexas, pois, apesar de a natação ser considerada uma prática higiênica e indispensável à segurança, ela é dificilmente controlada no ambiente escolar (TERRET, 2004TERRET, Thierry. Educative pools: water, school and space in twentieth-century France. In: VERTINSKY, Patricia; BALE, John. Sites of sport: space, place, experience. Nova York: Routledge, 2004.). Mesmo assim, as piscinas fizeram parte do projeto dos Parques Infantis desde suas primeiras plantas arquitetônicas, tendo sido implementadas na maioria delas. Nesses parques, que funcionavam no contraturno escolar, a presença da piscina se adequava melhor do que em outros ambientes escolares mais rígidos.

Para Danailof (2013)DANAILOF, Kátia. A “Educação Physica” nos parques infantis de São Paulo (1935-1938). Movimento, v. 19, n. 2, p. 167-184, jan. 2013. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.32324
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, os Parques Infantis foram considerados espaços decisivos para o desenvolvimento da educação física como atividade escolar. Ao mesmo tempo, a educação física foi tida como a grande mediadora de conhecimentos relevantes para esses espaços educativos. Nas diretrizes curriculares dos Parques Infantis de Campinas, a educação física era um dos componentes ao lado da educação recreativa e do clube agrícola, sendo responsável pela oferta de exercícios físicos, natação, jogos, competições e danças ou ritmo (FERREIRA, 1996FERREIRA, Anna Angélica Ramos. Um breve histórico das escolas municipais de educação infantil e dos centros municipais de educação infantil do município de Campinas (1940-1990). 139 f. 1996. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Pedagogia) - Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1996.). No Parque Violeta Dória Lins, como vimos, as atividades identificadas pelas fotografias corroboram os estudos de Ferreira (1996)FERREIRA, Anna Angélica Ramos. Um breve histórico das escolas municipais de educação infantil e dos centros municipais de educação infantil do município de Campinas (1940-1990). 139 f. 1996. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Pedagogia) - Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1996., Pizani (2012)PIZANI, Rafael Stein. Recreação, lazer e educação física na cidade de Campinas: um olhar acerca dos parques e recantos infantis (1940 - 1960). 2012. 115 f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação Física, Campinas, 2012. e Danailof (2013)DANAILOF, Kátia. A “Educação Physica” nos parques infantis de São Paulo (1935-1938). Movimento, v. 19, n. 2, p. 167-184, jan. 2013. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.32324
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sobre a centralidade da educação física para o projeto dos parques.

As brincadeiras nos equipamentos do parque também se fizeram presentes no grupo de fotografias analisado (Figura 9). Nesses momentos as crianças faziam suas apropriações do espaço possivelmente com mais liberdade e espontaneidade.

Figura 9
Crianças nas gangorras e tanques de areia

O playground, por exemplo, difundido como elemento primordial da arquitetura, tinha a clara intenção de simular as atividades que supostamente poderiam ser realizadas pelas crianças do campo.

A criança parqueana não escala montanhas, mas sobe nas escadas verticais. Não trepa em árvores [...] mas equilibra-se e caminha nas escadas horizontais, como se passasse de galho a galho nas árvores do campo. Não monta a cavalo, mas balança-se nos aparelhos e gira nos carrosséis (MIRANDA, 1945MIRANDA, Nicanor. A harmonia entre o corpo e o espírito: ensaios de educação física. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1945., p. 49).

Em adição, é possível estabelecer interfaces entre as imagens e aquelas influências indicadas por Kuhlmann Jr. (2019KUHLMANN JR, Moysés. Parque infantil: a singularidade e seus componentes. Educar em Revista, v. 35, n. 77, p. 223-244, set./out. 2019. DOI: https://doi.org/10.1590/0104-4060.68371
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) para a constituição dos Parques Infantis. Observa-se, nesse sentido, a dimensão higienista nas excursões à praia, assim como nas atividades aquáticas. Uma compensação ao urbanismo com ênfase no contato das crianças com a natureza se caracterizava como elemento central dos parques. A horticultura e a jardinagem, bem como a valorização dos jogos e brincadeiras na educação de crianças encontram raízes no movimento pedagógico do Kindergarten. Uma adequada ocupação do tempo livre das crianças, por meio de trabalhos manuais, atividades artísticas e recreação, se coaduna com o Playground Movement. Sobretudo, um programa voltado para os exercícios físicos, esportes e competições apoiou-se na educação física.

Em contraponto, as fotografias das excursões, da educação física, como jogos com bola e atividades na piscina, bem como das brincadeiras nos equipamentos mostram exemplos de como as crianças faziam usos variados dos diversos espaços dispostos no Parque Infantil. Tais imagens apontam uma maior liberdade dos corpos infantis e a construção de uma cultura infantil que ultrapassa as orientações pedagógicas ofertadas pelas professoras. Nesse sentido, é possível perceber que a arquitetura escolar, projetada sob ditames específicos, permitia ainda outros usos não necessariamente previstos pelos edifícios e seu projeto pedagógico.

Embora as fotografias destacadas apresentem as crianças reinterpretando certas atividades, vale sublinhar novamente que essas práticas eram parte de proposições educativas, com orientações voltadas ao correto usufruto do espaço, da natureza e da arquitetura. A própria arquitetura dos Parques Infantis pretendia organizar um programa educacional para além de suas edificações, para que as crianças usufruíssem de um equipamento urbano como espaço de permanência e de uso comunitário (NIEMEYER, 2002NIEMEYER, Carlos Augusto da Costa. Parques infantis de São Paulo: lazer como expressão de cidadania. São Paulo: Annablume/Fapesp, 2002.). Significa dizer que, não por acaso, tais espaços apresentavam uma pedagogia da sociabilidade, da flexibilidade e da mobilidade infantil. Ainda que tais termos não figurassem exatamente em suas diretrizes, seus arquitetos e idealizadores pressupunham o caminhar livre das crianças em meio aos jardins de um parque repleto de atividades para fazer, aprender ou ver (NIEMEYER, 2002NIEMEYER, Carlos Augusto da Costa. Parques infantis de São Paulo: lazer como expressão de cidadania. São Paulo: Annablume/Fapesp, 2002.).

Os estudos de Dalben (2009)DALBEN, André. Educação do corpo e vida ao ar livre: natureza e Educação Física em São Paulo (1930-1945). 2009. 158 f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) - Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2009. indicam que a natureza, o sol, o ar e a água, combinados aos exercícios físicos, como o esporte, e as caminhadas e jogos recreativos, visavam a garantir o desenvolvimento físico dos infantes. Nesse sentido, a natureza pode ser considerada responsável por favorecer a produção das culturas infantis, já que seus espaços amplos permitiam maior liberdade e movimentação por parte das crianças.

Para além de todas as atividades dirigidas, encontradas nas fotografias analisadas até aqui, havia também quem fotografasse as crianças em momentos nos quais elas não estavam acompanhadas dos professores nem realizando alguma atividade relacionada ao conteúdo das disciplinas educativas. Em geral, nessas atividades, foi possível notar como as crianças utilizavam a extensão do parque, seus espaços verdes e amplos, para realizarem suas brincadeiras, apresentando uma construção cultural infantil singular que constituía, de modo mais amplo, a cultura escolar (Figura 10).

Figura 10
Comunhão Pascal (1943)

Nesta fotografia, houve a intenção evidente de retratar um momento festivo no parque, em que os alunos participavam de uma comunhão pascal. É possível interpretar que ela foi alinhada diversas vezes, e os gestos ensaiados pelas professoras, corroborando as investigações sobre fotografia escolar realizadas por Souza (2001)SOUZA, Rosa Fátima de. Fotografias escolares: a leitura de imagens na história da escola primária. Educação em Revista, n. 18, p. 75-101, dez. 2001. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0104-4060.235
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. Até mesmo as roupas foram escolhidas de forma a promover o sentido desejado. Entretanto, na captura da fotografia, o autor, empenhado em coordenar as ações do primeiro plano, não atentou para os acontecimentos do plano de fundo. Misturados com a paisagem e os brinquedos, alunos se inserem como cenário em uma tentativa de burlar as normas da fotografia e transformar o momento de seriedade em uma brincadeira. Esse tipo de imprevisibilidade, ainda que não intencionalmente captado pela maioria das fotografias, aparece de forma recorrente, quer seja nas imagens coordenadas pelos professores, quer seja naquelas em que as crianças estabelecem usos próprios dos espaços. Essa peculiaridade, fruto da presença das crianças nos parques, embora não invariavelmente retratada no material analisado, permitiu a reunião de algumas considerações a partir da pesquisa realizada.

5 CONCLUSÃO

O artigo apresentado teve como objetivo analisar as culturas infantis nas produções materiais e simbólicas produzidas para as crianças que frequentaram parques infantis entre as décadas de 1940 e 1960 na cidade de Campinas. À priori, fontes do período selecionado nos ajudaram a elucidar as concepções educacionais pensadas para os Parques Infantis no estado de São Paulo e, de maneira mais específica, seu papel no novo planejamento urbano da cidade de Campinas. Dessa forma, foi possível notar as relações estabelecidas entre o espaço, a natureza e a educação, questão elucidada também em outros trabalhos sobre o tema (DALBEN, 2009DALBEN, André. Educação do corpo e vida ao ar livre: natureza e Educação Física em São Paulo (1930-1945). 2009. 158 f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) - Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2009.; DALBEN; DANAILOF, 2009DALBEN, André; DANAILOF, Katia. Natureza urbana: parques infantis e escola ao ar livre em São Paulo (1930-1940). Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 31, n. 1, set. 2009. Disponível em: http://www.revista.cbce.org.br/index.php/RBCE/article/view/641. Acesso em: 21 mar. 2023.
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; PIZANI, 2012PIZANI, Rafael Stein. Recreação, lazer e educação física na cidade de Campinas: um olhar acerca dos parques e recantos infantis (1940 - 1960). 2012. 115 f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação Física, Campinas, 2012.; DANAILOF, 2013DANAILOF, Kátia. A “Educação Physica” nos parques infantis de São Paulo (1935-1938). Movimento, v. 19, n. 2, p. 167-184, jan. 2013. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.32324
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; PIZANI; GÓIS JUNIOR, AMARAL, 2016PIZANI, Rafael Stein; GÓIS JUNIOR, Edivaldo; AMARAL, Silvia Cristina Franco. A educação do corpo nos parques e recantos infantis de Campinas-SP (1940 - 1959). Movimento, v. 22, n. 3, p. 707-722, 2016. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.58774
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; FERREIRA; WIGGERS, 2019FERREIRA, Flávia Martinelli; WIGGERS, Ingrid Dittrich. Infância e urbanidade nos parques infantis de São Paulo. Educação e Pesquisa, v. 45, 2019. DOI: https://doi.org/10.1590/S1678-4634201945194024
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). Na sequência, buscando evidenciar os temas aventados no objetivo do artigo, analisaram-se as fotografias do parque entre as décadas de 1940 e 1960. Nessas fotografias, foi possível perceber diferentes formas de retratar as crianças, o espaço, a natureza e a arquitetura. Parte delas tinha como intuito reafirmar o papel da natureza, da arquitetura arejada e dos grandes espaços como elementos importantes de educação. Estes elementos que compõem as instituições escolares não se configuram como dimensões neutras do ensino; logo, essa exaltação dos espaços em meio à natureza nos parques tinha intenções pedagógicas bastante claras que visavam à regeneração das crianças frequentadoras.

Em ambientes educativos, as crianças estão sujeitas a um conjunto de normas concernentes à infância, além de ações centradas no comportamento e na disciplina (SARMENTO, 2004SARMENTO, Manuel Jacinto. As culturas da infância nas encruzilhadas da 2ª modernidade. In: SARMENTO, Manuel Jacinto; CERISARA, Ana Beatriz. (org.). Crianças e miúdos: perspectivas sociológicas da infância e educação. Porto: Asa Editores, 2004. p. 9-34.). Entretanto, esses espaços também são capazes de acolher a construção das culturas infantis, concebidas com base em práticas corporais, de transgressões, de saberes, de gestos e de sentimentos manifestados no cotidiano. Algumas atividades eram guiadas pelos professores, e seguiam normas bastante rígidas de apropriação por parte das crianças. Outras, embora também direcionadas e supervisionadas, mostravam usos diversos das crianças frequentadoras do parque. Havia ainda as fotografias que, sem intencionalidade, mostravam as transgressões realizadas pelos alunos, que reinterpretavam os usos previstos de diversos recintos do parque.

Nas fotos observadas, identificou-se o padrão de produção desses materiais, compelidos na exibição das estruturas edificadas e das práticas educativas sugeridas. Por outro lado, apresentou-se a composição de uma cultura escolar construída com base nas culturas infantis que nem sempre se restringem ao proposto, e que criaram e reinterpretaram as práticas preconizadas no Parque Infantil Violeta Dória Lins. Concluímos que as características específicas do projeto educacional dos Parques Infantis, tais como a arquitetura, a valorização do contato com a natureza e um programa pedagógico voltado para atividades artísticas, trabalhos manuais, jogos e brincadeiras, representam mediações heurísticas para a produção das culturas infantis.

  • COMO REFERENCIAR

    FERREIRA, Flávia Martinelli; MEDEIROS, Daniele Cristina C.; WIGGERS, Ingrid Dittrich. Culturas infantis nas fotografias do parque Violeta Dória Lins (décadas de 1940 a 1960). Movimento, v. 29, p. e29021, jan./dez. 2023. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.122828
  • FINANCIAMENTO
    O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

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Editado por

RESPONSABILIDADE EDITORIAL

Alex Branco Fraga*, Elisandro Schultz Wittizorecki*, Lisandra Oliveira Silva*, Mauro Myskiw*, Raquel da Silveira*
*Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança, Porto Alegre, RS, Brasil.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    25 Ago 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    13 Abr 2022
  • Aceito
    04 Fev 2023
  • Publicado
    29 Maio 2023
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