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Identidade indígena: olhares a partir da Psicologia Social

Indigenous identity: a view from social psychology

Identidad indígena: miradas desde la Psicología Social

Resumo

Este estudo consiste numa revisão integrativa cujo objetivo é identificar como a Psicologia Social tem abordado as questões relativas à identidade indígena. O levantamento foi feito a partir de artigos que tratam das questões indígenas na perspectiva da Psicologia Social nas bases eletrônicas: SciELO, Pepsic, LILACS, BVS- Psi e APA. Os descritores foram: identidade étnica, indígena, índio, identidade social e Psicologia social. Considerando os critérios de inclusão e exclusão, foram compilados 19 estudos nacionais e internacionais referentes à última década, publicados em revistas de psicologia, evidenciando o caráter recente de estudos que aproximem a Psicologia Social de estudos sobre identidade indígena. Por meio do levantamento realizado, verificou-se que as publicações sobreA o tema se organizaram em quatro eixos: (1) compreensão da identidade étnica a partir da Psicologia Social; (2) representações sociais, preconceito e discriminação contra indígenas; (3) efeitos da relação interétnica para indígenas; e (4) os desafios da relação pesquisador e indígenas.

Palavras-chave:
identidade étnica; indígena; Psicologia Social

Abstract

This study consists in a integrative review whose aim is to identify how social psychology has abroached the questions relating to indigenous identity. The survey was done from articles that deal with indigenous questions in the perspective of social psychology in electronic bases: SciELO, Pepsic, LILACS, BVS-Psi e APA. The descriptors were: ethnic identity, indigenous, indian, social identity and social psychology. By considering the inclusion and exclusion criteria, 19 national and internacional studies were compiled, referring to the last decade, published Psychology magazines, by making evident the recent character of studies that may approximate Social Psychology and indigenous identity. By means of accomplished survey, it was found that the publications about the theme were organized in four axes: (1) comprehension of ethnic identity to arise from Social Psychology; (2) Social representations, preconception and discrimination against indigenous; (3) Effects of the interethnic relationship for indigenous and (4) The challenges of the relationship between the researcher and indigenous.

Keywords:
ethnic identity; indigenous; Social Psychology

Resumen

Este estudio consiste en una revisión integradora cuyo objetivo es identificar cómo la Psicología Social ha abordado cuestiones relacionadas con la identidad indígena. El relevamiento se realizó a partir de artículos que abordan la temática indígena desde la perspectiva de la Psicología Social en bases de datos electrónicas: SciELO, Pepsic, LILACS, BVS-Psi y APA. Los descriptores fueron: identidad étnica, indígena, indígena, identidad social y psicología social. Considerando los criterios de inclusión y exclusión, se compilaron 19 estudios nacionales e internacionales referentes a la última década, publicados en revistas de psicología, evidenciando el carácter reciente de los estudios que acercan la Psicología Social a los estudios sobre la identidad indígena. A través de la encuesta realizada, se encontró que las publicaciones sobre el tema estaban organizadas en cuatro ejes: (1) comprensión de la identidad étnica desde la Psicología Social; (2) representaciones sociales, prejuicios y discriminación contra los pueblos indígenas; (3) efectos de la relación interétnica para los pueblos indígenas; y (4) los desafíos de la relación investigador-indígena.

Palabras clave:
identidad étnica; indígena; Psicología Social

1. Introdução

A temática indígena tem sido foco de estudos da ciência psicológica de maneira mais contundente nas duas últimas décadas. No Brasil, esses estudos ganharam força a partir dos anos 2000, período subsequente à constituição de 1988, considerada um marco no reconhecimento dos povos indígenas como pertencentes à sociedade brasileira e na condição de cidadania dessas populações (SOUZA; BARBOSA, 2011SOUZA, Manoel Nascimento de; BARBOSA, Erivaldo Moreira. Direitos indígenas fundamentais e sua tutela na ordem jurídica brasileira. Revista Âmbito Jurídico [online], 1 fevereiro de 2011. Disponível em: Disponível em: https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/direitos-indigenas-fundamentais-e-sua-tutela-na-ordem-juridica-brasileira/ . Acesso em: 20 out. 2017.
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). Essa condição jurídica impulsionou a abertura de uma nova consciência étnica dos povos indígenas no Brasil. Ser índio passou a ser uma condição de orgulho identitário, contribuindo para desdobramentos importantes no que se refere ao campo científico, com estudos desenvolvidos sobre educação, saúde, políticas de identidade e direitos humanos (BANIWA, 2006BANIWA, Gersen dos Santos Luciano. O índio brasileiro: o que você precisa saber sobre os povos indígenas no Brasil de hoje. Brasília: Ministério da Educação, 2006.; FERRAZ; DOMINGUES, 2016FERRAZ, Isabella Tormena; DOMINGUES, Eliane. A psicologia brasileira e os povos indígenas: atualização do estado da arte. Psicologia: Ciência e Profissão [online], Brasília, v. 36, n. 3, p. 682-695, 2016. https://doi.org/10.1590/1982-3703001622014
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; MARTINS; SANTOS; COLOSSO, 2013MARTINS, Edna; SANTOS, Alessandro de Oliveira dos; COLOSSO, Marina. Relações étnico-raciais e Psicologia: publicações em periódicos da SciELO e Lilacs. Psicologia: Teoria e Prática, São Paulo, v. 15, n. 3, p. 118-133, 2013. Disponível em Disponível em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-36872013000300009&lng=pt&nrm=iso . Acesso em: 12 dez. 2020.
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).

Vale ressaltar que os direitos garantidos com a constituição federal foram conquistados a partir de tensionamentos constantes entre estado, sociedade não indígena e povos indígenas, que passaram a demandar reconhecimento identitário. Esses tensionamentos estão relacionados às condições de preconceitos e discriminações a que os indígenas foram submetidos ao longo de sua história, iniciada desde a chegada dos portugueses ao Brasil. Esse primeiro momento foi marcado por epidemias, extermínio e escravização, o que levou à diminuição drástica da população indígena no Brasil (FERRAZ; DOMINGUES, 2016FERRAZ, Isabella Tormena; DOMINGUES, Eliane. A psicologia brasileira e os povos indígenas: atualização do estado da arte. Psicologia: Ciência e Profissão [online], Brasília, v. 36, n. 3, p. 682-695, 2016. https://doi.org/10.1590/1982-3703001622014
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; RIBEIRO, 2013RIBEIRO, Berta. O índio na cultura brasileira. Rio de Janeiro: Fundação Darcy Ribeiro, 2013.). Ainda nos dias atuais, o imaginário social mantém o indígena vinculado a esse passado, aliado a uma concepção equivocada de cultura, compreendida como algo estático, exclusivamente ligada à ancestralidade (BARTH, 1998BARTH, Frederik. Grupos étnicos e suas fronteiras. In: POUTIGNAT, Philippe; STREIFF-FEBART, Jocelyne. Teorias da Etnicidade seguido de grupos étnicos e suas fronteiras de Fredrik Barth. São Paulo: UNESP, 1998. p. 185-227.; LIMA, 2016LIMA, Marcus Eugênio Oliveira; FARO, André; SANTOS, Mayara Rodrigues dos. A desumanização Presente nos Estereótipos de Índios e Ciganos. Psicologia: Teoria e Pesquisa [online], Brasília, v. 32, n. 1, p. 219-228, jan./mar. 2016. https://doi.org/10.1590/0102-37722016012053219228
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). Esses são fatores que interferem e dificultam a mudança de postura da sociedade em relação às populações indígenas, contrariando as conquistas jurídicas alcançadas (CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO, 2016CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO - CIMI. Relatório Violência contra Povos Indígenas no Brasil: dados 2015. Brasília: CIMI, 2016. Disponível em: Disponível em: http://www.cimi.org.br/site/pt-br/?system=news&conteúdo_id=8925&action=read . Acesso em: 30 set. 2016.
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; SOUZA; BARBOSA, 2011SOUZA, Manoel Nascimento de; BARBOSA, Erivaldo Moreira. Direitos indígenas fundamentais e sua tutela na ordem jurídica brasileira. Revista Âmbito Jurídico [online], 1 fevereiro de 2011. Disponível em: Disponível em: https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/direitos-indigenas-fundamentais-e-sua-tutela-na-ordem-juridica-brasileira/ . Acesso em: 20 out. 2017.
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).

De acordo com o Censo de 2010, existem atualmente no território brasileiro mais de 230 povos indígenas, que somam 896.917 pessoas, o que corresponde 0,47% da população total do país. Deste total, aproximadamente 36% vivem em cidades e 64% em áreas rurais (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2010INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Censo 2010: população indígena é de 896,9 mi, tem 305 etnias e fala 274 idiomas. 2010. Disponível em: Disponível em: https://censo2010.ibge.gov.br/noticias-censo?idnoticia=2194&view=noticia . Acesso em: 10 jul. 2017.
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). O aumento populacional desses grupos étnicos evidencia as contradições que vivenciam na relação com a sociedade não indígena e o Estado. Nessa relação, destaca-se o processo de aculturação, que coloca os indígenas em uma situação de desvantagem em relação à cultura dominante, enfraquecendo suas referências culturais, predispondo estes sujeitos a uma condição de vulnerabilidade, no que se refere, por exemplo, à incidência do alcoolismo, ao uso de drogas e ao suicídio (FERRAZ; DOMINGUES, 2016FERRAZ, Isabella Tormena; DOMINGUES, Eliane. A psicologia brasileira e os povos indígenas: atualização do estado da arte. Psicologia: Ciência e Profissão [online], Brasília, v. 36, n. 3, p. 682-695, 2016. https://doi.org/10.1590/1982-3703001622014
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).

O estudo dos processos identitários tem interessado à Psicologia Social, seja para analisar o modo como indivíduos se constituem - identidade pessoal -, seja para estudá-los enquanto membros de grupos ou categorias sociais (DESCHAMPS; MOLINER, 2008DESCHAMPS, Jean Claude; MOLINER, Pascal. A Identidade em Psicologia Social: dos processos identitários às representações sociais. Petrópolis: Vozes, 2008.; PAIVA, 2007PAIVA, Geraldo José de. Identidade psicossocial e pessoal como questão contemporânea. Psico, Porto Alegre, v. 38, n. 1, p. 77-84, 2007.). Embora esse reconhecimento acerca do interesse da Psicologia Social pelo estudo dos processos identitários seja legítimo, parece estar direcionado a grupos sociais específicos em detrimento de outros (MARTINS; SANTOS; COLOSSO, 2013MARTINS, Edna; SANTOS, Alessandro de Oliveira dos; COLOSSO, Marina. Relações étnico-raciais e Psicologia: publicações em periódicos da SciELO e Lilacs. Psicologia: Teoria e Prática, São Paulo, v. 15, n. 3, p. 118-133, 2013. Disponível em Disponível em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-36872013000300009&lng=pt&nrm=iso . Acesso em: 12 dez. 2020.
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). Se tomarmos como parâmetro as incipientes e reduzidas investigações científicas no campo da Psicologia Social que tratam de questões indígenas, podemos situar esses grupos étnicos entre os que têm recebido menos atenção ou despertado menor interesse dos pesquisadores (FERRAZ; DOMINGUES, 2016FERRAZ, Isabella Tormena; DOMINGUES, Eliane. A psicologia brasileira e os povos indígenas: atualização do estado da arte. Psicologia: Ciência e Profissão [online], Brasília, v. 36, n. 3, p. 682-695, 2016. https://doi.org/10.1590/1982-3703001622014
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; LIMA, 2016LIMA, Marcus Eugênio Oliveira; FARO, André; SANTOS, Mayara Rodrigues dos. A desumanização Presente nos Estereótipos de Índios e Ciganos. Psicologia: Teoria e Pesquisa [online], Brasília, v. 32, n. 1, p. 219-228, jan./mar. 2016. https://doi.org/10.1590/0102-37722016012053219228
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).

Por outro lado, nas ciências sociais clássicas - Antropologia, Sociologia e Ciência Política - a categoria Identidade é utilizada, sobretudo, para descrever a noção de pessoa nas etnias indígenas, afrobrasileiras, populações tradicionais e, mais recentemente, para segmentos minoritários e emergentes (LOPES, 2002LOPES, José Rogério. Os caminhos da identidade nas Ciências Sociais e suas metamorfoses na Psicologia Social. Psicologia e Sociedade, Belo Horizonte, v. 14, n. 1, p. 7-27, 2002. Disponível em: Disponível em: https://www.scielo.br/j/psoc/a/Vhq6jph6WrW8RvyzVwWmr5f/?format=pdf⟨=pt . Acesso em: 27 out. 2019.
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). Embora a Identidade seja uma categoria estudada por esses campos, quando abordamos a especificidade da identidade indígena ou identidade étnica, constatamos que os interesses se situam, sobretudo, no campo específico da Antropologia. Esta disciplina, até bem pouco tempo, dedicava-se exclusivamente à análise de sociedades primitivas, mais atualmente adota uma noção de Identidade como elemento de organização social, concedendo-lhe um caráter de dinamicidade (BARTH, 1998BARTH, Frederik. Grupos étnicos e suas fronteiras. In: POUTIGNAT, Philippe; STREIFF-FEBART, Jocelyne. Teorias da Etnicidade seguido de grupos étnicos e suas fronteiras de Fredrik Barth. São Paulo: UNESP, 1998. p. 185-227.).

Na Psicologia Social a identidade tem sido estudada sob diferentes perspectivas, variando de um enfoque psicológico, que pressupõe o indivíduo compreendido a partir de sua participação em grupos sociais, a análises sociológicas, cuja ênfase se dá nas relações intergrupais. Mais que isoladas, a articulação dessas perspectivas tem contribuído de forma significativa para compreensão da identidade (FERREIRA, 2010FERREIRA, Maria Cristina. A Psicologia Social contemporânea: principais tendências nacionais e internacionais. Psicologia: Teoria e Pesquisa [online], Rio de Janeiro, v. 26, n. spe, p. 51-64, 2010. https://doi.org/10.1590/S0102-37722010000500005
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).

No nível das relações intergrupais, a identidade vem sendo estudada, principalmente, pelo modelo de categorização e das investigações que envolvem as relações entre grupos, numa perspectiva de investigação que situa essas análises a partir da teoria da identidade social (TAJFEL, 1981TAJFEL, Henri. Human groups and social categories. New York: Cambridge University Press, 1981.), segundo a qual a identidade social de um indivíduo pressupõe o conhecimento que esse tem de sua pertença a um grupo social, associado ao significado emocional e valorativo dessa pertença. As relações intergrupais são marcadas pelos processos de comparação social, havendo uma tendência de acentuar semelhanças no endogrupo e diferenças no exogrupo, bem como de valorizar o grupo de que o indivíduo faz parte, em detrimento do outro grupo (TAJFEL, 1981TAJFEL, Henri. Human groups and social categories. New York: Cambridge University Press, 1981.; VALENTIM, 2008VALENTIM, Joaquim Pires. Identidade pessoal e social: entre a semelhança e diferença. Psychológica, Coimbra, v. 47, p. 109-123, 2008.).

Para além de estudos acerca da identidade social, ressalta-se também o crescimento que estudos sobre preconceito e racismo têm ganhado no âmbito da Psicologia Social, contribuindo para o entendimento das relações entre grupos sociais distintos numa sociedade e o tratamento desigual que se estabelece entre estes grupos. Compreender conceitualmente e como se constituem fenômenos como preconceito, racismo e discriminação numa sociedade é primordial para entendermos a extensão dessa problemática vivida por populações indígenas no Brasil, dado o colonialismo que marca a história deste país. Por preconceito pode-se entender uma atitude1 1 Atitude, na Psicologia Social, é uma organização de crenças que envolve as dimensões afetiva, cognitiva e comportamental em relação ao um objeto (LIMA, 2020). hostil ou de antipatia contra um indivíduo ou um grupo todo, por considerá-lo socialmente desvalorizado (ALLPORT, 1954ALLPORT, Gordon Willard. The nature of prejudice. 3. ed. Wokingham, UK: Addison-Wesley, 1954.; LIMA, 2020LIMA, Marcus Eugênio Oliveira. Psicologia Social do Preconceito e do Racismo. São Paulo: Blucher Open Access, 2020.). Já o racismo, de acordo com Lima e Vala (2004LIMA, Marcus Eugênio Oliveira; VALA, Jorge. As novas formas de expressão do preconceito e do racismo. Estudos de Psicologia (Natal) [online], v. 9, n. 3, p. 401-411, 2004. https://doi.org/10.1590/S1413-294X2004000300002
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), consiste numa hierarquização e inferiorização de indivíduos ou grupos, decorrente da percepção das diferenças físicas ou culturais, compreendidas como determinantes naturais das habilidades sociais e culturais dos indivíduos ou grupos. (LIMA, 2020LIMA, Marcus Eugênio Oliveira. Psicologia Social do Preconceito e do Racismo. São Paulo: Blucher Open Access, 2020.; CFP, 2022CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA - CFP. Psicologia Brasileira: na luta antirracista. Brasília: CFP, 2022. v. 1.).

É a partir do colonialismo que surgem, no Brasil, as figuras do negro, do indígena e do branco. Até então essa distinção inexistia. Todos eram humanos, cidadãos, europeus e brancos. A ideologia que se constituiu a partir dessa diferenciação entre grupos étnicos/raciais se deu historicamente, sendo as pessoas negras e de origem indígena vistas como selvagens, agressoras, erradas, causadoras de males, enquanto o homem branco passa a ser visto como ideal de ser humano, “aquele que se almeja ser”.2 2 Expressão que remete ao fenômeno da branquitude. A invenção da “raça” para diferenciar grupos sociais passa a ser o marcador responsável pelas desigualdades que atingem tais grupos, violando os direitos humanos de grupos considerados minoritários (CFP, 2022CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA - CFP. Psicologia Brasileira: na luta antirracista. Brasília: CFP, 2022. v. 1.).

A Psicologia Social se apresenta como uma fonte de conhecimento relevante para compreendermos o fenômeno do racismo em seus aspectos individuais, sociais, históricos e culturais. Os fenômenos do preconceito e racismo são estudados em sua natureza, semelhanças e diferenças com outros fenômenos sociais, além de uma compreensão político-ideológica e o papel da dinâmica da estrutura das relações sociais. É importante olharmos como esses fenômenos se apresentam no contexto brasileiro, como características e expressão, a fim de de combatê-los (LIMA, 2020LIMA, Marcus Eugênio Oliveira. Psicologia Social do Preconceito e do Racismo. São Paulo: Blucher Open Access, 2020.). Nesse sentido, no Brasil, o fenômeno do racismo manifesto contra os povos originários se expressa predominantemente pelo racismo cultural, fruto de uma cultura etnocêntrica, que privilegia um grupo étnico em detrimento de outro, e, de forma mais específica, pelo racismo ambiental, quando a diferença é marcada pela violação de direitos e negação de políticas públicas ambientais aos povos originários (PACHECO; FAUSTINO, 2013PACHECO, Tania; FAUSTINO, Cristiane. A iniludível e desumana prevalência do racismo ambiental nos conflitos do mapa. Injustiça ambiental e saúde no Brasil. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2013. p. 73-114.).

Em estudo sobre a manifestação de racismo contra povos indígenas no Brasil, Ribeiro (2022RIBEIRO, Rodrigo Barbosa. O racismo contra os povos indígenas: panorama dos casos nas cidades brasileiras entre 2003 e 2019. Mana [online], v. 28, n. 2, e282204, 2022. https://doi.org/10.1590/1678-49442022v28n2a204
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) apresenta um panorama dos casos ocorridos em cidades brasileiras, a partir de um levantamento feito no período entre 2003 e 2019. O estudo feito a partir da sistematização e análise das publicações do Conselho Indigenista Missionário - CIMI sobre violências contra povos indígenas revela diferentes manifestações de racismo, tendo como decorrência comum a exclusão dos indígenas nas cidades brasileiras.

À Psicologia Social interessa, ainda, compreender como as atitudes e comportamentos sociais desenvolvidos contribuem para a construção dos processos de identificação individual e coletiva. A depender do indivíduo e do grupo ao qual pertença, essa identificação pode ser comprometida, podendo levar a uma negação de uma identidade originária e, ainda, a um preconceito com seu próprio grupo de origem (CARONE; BENTO, 2017CARONE, Iray; BENTO, Maria Aparecida Silva (Org.). Psicologia social do racismo: estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil. Petrópolis: Vozes, 2017.).

Partindo dessas considerações e de uma revisão integrativa de literatura, neste trabalho busca-se identificar as contribuições da Psicologia Social para as questões relativas à identidade indígena, assumindo uma perspectiva crítica e apontando os avanços e limites das pesquisas sobre a temática. Em uma perspectiva mais ampla, abordar essa problemática pode contribuir para fomentar diálogos e definir formas de atuação que busquem a superação de preconceitos e favoreçam a inclusão social desses grupos étnicos (FERRAZ; DOMINGUES, 2016FERRAZ, Isabella Tormena; DOMINGUES, Eliane. A psicologia brasileira e os povos indígenas: atualização do estado da arte. Psicologia: Ciência e Profissão [online], Brasília, v. 36, n. 3, p. 682-695, 2016. https://doi.org/10.1590/1982-3703001622014
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).

2. Método

O presente estudo configura-se como uma revisão integrativa que reúne e resume o conhecimento científico produzido sobre o tema investigado, produzido em um determinado período de tempo, permitindo avaliar e sintetizar as evidências disponíveis, contribuindo para ampliar o conhecimento sobre o tema. A revisão integrativa consiste no tipo de método mais amplo de pesquisa de revisão por permitir incluir estudos experimentais e não experimentais, reunir estudos teóricos e empíricos, com a finalidade de compreender, da melhor forma possível, um fenômeno preocupante (WHITTEMORE; KNAFL, 2005WHITTEMORE, Robin; KNAFL, Kathleen. A revisão integrativa: metodologia atualizada. Jornal de enfermagem avançada, v. 52, n. 5, pág. 546-553, 2005.).

Partindo da questão norteadora “Como a Psicologia Social tem abordado a questão da identidade étnica indígena?”, a pesquisa foi realizada com base em produções científicas selecionadas nas seguintes bases de dados: Scielo, Pepsic, Lilacs, BVS- Psi e APA. Os descritores utilizados em português para a busca foram: identidade étnica, indígena, índio, identidade social e Psicologia Social, com a utilização de operadores boleanos “and” na combinação dos descritores e “or”, para a alternância entre o descritor “índio” e “indígena”. A busca foi feita em três idiomas: espanhol, inglês e português, no período de agosto e setembro de 2018. Por se tratar de tema não muito explorado na ciência psicológica, não se delimitou o período das publicações.

Os critérios de inclusão utilizados foram os seguintes: publicações que abordem estudos na área da Psicologia Social; estudos que abordem a questão da identidade étnica indígena; estudos publicados em revistas de psicologia, podendo ser estudos teóricos e/ou empíricos. Como critérios de exclusão, foram definidos: trabalhos de conclusão de curso, dissertações e teses, publicações que não abordam como questão central a identidade indígena e artigos cujo foco não correspondam à questão da pesquisa.

A seleção dos trabalhos, considerando os critérios de inclusão e de exclusão, foi realizada a partir da leitura dos resumos. Após a verificação do atendimento aos critérios estabelecidos, os trabalhos foram lidos na íntegra. Salienta-se que as publicações duplicadas foram contabilizadas uma única vez.

Com relação ao referencial teórico, embora alguns artigos não tenham explicitado as fontes utilizadas, foram excluídos artigos que apresentaram teorias que se distanciam da Psicologia Social, no sentido de compreender as relações interétnicas, os efeitos dessas relações e, ainda, o próprio esforço da psicologia, enquanto ciência que busca compreender e lidar com grupos populacionais distintos culturalmente da sociedade em geral.

3. Resultados

A partir do levantamento realizado nas bases de dados Scielo, Pepsic, BVS- Psi, foram encontrados 32 artigos. Após a leitura dos resumos verificou-se que apenas nove artigos atenderam aos critérios de inclusão adotados. Na base de dados ApaPycnet, da American Psychological Association, foram encontrados 39 artigos. Após a leitura dos resumos, verificou-se que apenas dez artigos atendiam aos critérios estabelecidos. Desse modo, serão apresentados e discutidos um total de 19 artigos.

Desses 19 artigos, seis foram publicados em revistas brasileiras, dois em colombianas, um em costarriquense e 10 em periódicos científicos americanos, publicados pela APA. Todos os artigos selecionados foram publicados na última década, o que revela o caráter recente das produções científicas em Psicologia Social sobre populações indígenas. Desse total, apenas duas publicações consistiam em artigos teóricos. Os 17 estudos empíricos encontrados foram predominantemente quantitativos (9) e utilizaram diferentes métodos de investigação. Foram encontrados também estudos etnográficos (3), estudos qualitativos (3) e estudos mistos de caráter quantitativo-qualitativo (2).

Após a leitura na íntegra dos artigos selecionados, foi possível organizá-los em quatro categorias temáticas: (1) compreensão da identidade étnica a partir da Psicologia Social; (2) representações sociais, preconceito e discriminação contra indígenas; (3) efeitos da relação interétnica para indígenas: e (4) aspectos da pesquisa com grupos étnicos. Desse modo, as publicações serão apresentadas e discutidas conforme as categorias indicadas na tabela 1.

Tabela 1
Periódicos distribuídos de acordo com a temática

3.1 Compreensão da identidade étnica a partir da Psicologia Social

Nesta categoria foram incluídas sete publicações (36,8%), estando estas caracterizadas por uma intencionalidade em compreender o fenômeno da identidade étnica, seus elementos constituintes, como se forma, o que a fortalece, bem como aproximar a compreensão desta categoria de conceitos como etnicidade e cultura.

Numa perspectiva de categorização, comparação e sentimento de pertença que envolve as relações intergrupais, destacam-se os estudos de identidade étnica que elencam e testam elementos/categorias considerados como significativos para a constituição e que, consequentemente, permitem a compreensão da identidade étnica de grupos indígenas.

Kulis et al. (2016KULIS, Stephen et al. A latent class analysis of urban American Indian youth identities. Cultural Diversity and Ethnic Minority Psychology, Washington, v. 22, n. 2, p. 215-228, 2016.) realizaram estudo com jovens estudantes indígenas americanos, com o objetivo de identificar fontes de sua identidade indígena. Para tanto os autores utilizaram um questionário autoaplicado em que três dimensões relacionadas com a identidade étnica foram analisadas: identificação (tribal), conexão (laços familiares) e envolvimento com a cultura e a espiritualidade tradicionais. Os autores verificaram a presença de indicadores das três dimensões da identidade: herança dos pais nativos, envolvimento com práticas culturais, linguagem e espiritualidade tribais (KULIS et al., 2016KULIS, Stephen et al. A latent class analysis of urban American Indian youth identities. Cultural Diversity and Ethnic Minority Psychology, Washington, v. 22, n. 2, p. 215-228, 2016.).

A identidade étnica de povos indígenas da Nova Zelândia pôde ser medida por instrumento - Modelo Multidimensional da Identidade e Engajamento Cultural Maori (MMM- ICE), desenvolvido para avaliar aspectos da identidade e engajamento cultural do povo Maori. Esse instrumento é composto por seis fatores: avaliação de membros do grupo, consciência sociopolítica, eficácia cultural e engajamento ativo de identidade, espiritualidade, autoconceito interdependente e crenças de autenticidade. O instrumento foi aplicado numa amostra de 492 pessoas do povo Maori. Essa escala apresentou alto grau de confiabilidade e precisão para análise da identidade étnica desse povo (SIBLEY; HOUKAMAU, 2013SIBLEY, Chris; HOUKAMAU, Carla. The Multi-Dimensional Model of Ma’ori Identity and Cultural Engagement: Item Response Theory Analysis of Scale Properties. Cultural Diversity and Ethnic Minority Psychology, Washington, v. 19, n. 1, p. 97-110, 2013.).

Em outro estudo realizado com povo Maori, a partir de uma amostra probabilística nacional de maori (N= 663), o uso da escala MMM-ICE permitiu identificar as facetas da identidade étnica que predizem a mobilização política dos povos indígenas. Os autores identificaram que a forte correlação entre identidade e consciência sociopolítica demonstra a importância da identidade étnica enquanto um elemento preditor do comportamento político dos povos indígenas (GREAVES et al., 2018GREAVES, Lara et al. Maori, a Politicized Identity: Indigenous Identity, Voter Turnout, Protest, and Political Party Support in Aotearoa New Zealand. International Perspectives in Psychology: Research, Practice, Consultation, North Shore, v. 7, n. 3, p. 155-173, 2018.).

Um estudo qualitativo com indígenas australianos, utilizando entrevistas e grupo focal como instrumentos, permitiu identificar as cinco principais dimensões inter-relacionadas do termo “Racial-Étnico- Cultural- REC”, que tem como dimensão central o sentido de pertencer. As dimensões inter-relacionadas do REC são: história/memória, senso comunitário, aceitação e orgulho, linguagem e cultura compartilhada e interconexões. Além das dimensões, o estudo permitiu a identificação das principais barreiras que atrapalham o senso de pertença, como o fenótipo, o pertencimento a outras identidades sociais e o processo de colonização (NEVILLE et al., 2014NEVILLE, Helen et al. Dimensions of Belonging as an Aspect of Racial-Ethnic-Cultural Identity: An Exploration of Indigenous Australians. Journal of Counseling Psychology, Washington, v. 61, n. 3, p. 414-426, 2014.).

Em relação à compreensão de etnicidade, esta se apresenta na Psicologia Social, a partir de uma flexibilidade situacional das identidades sociais, na atribuição de identidade que os sujeitos fazem em sua vida cotidiana, em que há uma ênfase no contexto intergrupal que permite a percepção do grupo como entidade significativa e como propriedade, não do grupo em si, mas dependente das relações com outros grupos (RIAL; HAYE, 2015RIAL, Ramiro Gonzalez; HAYE, Andrés. Alteracion del concepto de etnicidad desde la experiência de las tejedoras mapuche del sur de Chile. Psicologia USP [online], São Paulo, v. 26, n. 3, p. 441-452, 2015. https://doi.org/10.1590/0103-656420140065
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; TAJFEL, 1981TAJFEL, Henri. Human groups and social categories. New York: Cambridge University Press, 1981.). Trazendo a concepção de identidade marcada pelos aspectos culturais, que marcam a diferença de um grupo frente a outro, nos deparamos com duas concepções distintas ao pensar a definição de grupos étnicos. Tradicionalmente, a identidade étnica de um grupo é concebida pela ideia de se fazer parte de um grupo humano que tem uma identidade comum, aspectos grupais essenciais ao grupo e um passado comum (RIAL; HAYE, 2015RIAL, Ramiro Gonzalez; HAYE, Andrés. Alteracion del concepto de etnicidad desde la experiência de las tejedoras mapuche del sur de Chile. Psicologia USP [online], São Paulo, v. 26, n. 3, p. 441-452, 2015. https://doi.org/10.1590/0103-656420140065
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). Em uma outra perspectiva, a etnicidade é compreendida de forma dinâmica e pluralista, dando conta do agrupamento entre diferentes grupos, formando sociedades multiétnicas. A perspectiva essencialista vem sendo abandonada para dar lugar a processos dinâmicos de construção de identidades e fabricação de etnicidades (RIAL; HAYE, 2015RIAL, Ramiro Gonzalez; HAYE, Andrés. Alteracion del concepto de etnicidad desde la experiência de las tejedoras mapuche del sur de Chile. Psicologia USP [online], São Paulo, v. 26, n. 3, p. 441-452, 2015. https://doi.org/10.1590/0103-656420140065
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).

Um estudo etnográfico com grupo de tecelãs da etnia Mapuche, no Chile, traz uma discussão sobre o conceito de etnicidade, saindo de uma perspectiva essencialista para uma visão dinâmica e pluralista da identidade étnica. O que se constata nesse estudo etnográfico é a presença de uma heterogeneidade de identidades étnicas, ou seja, uma diversidade de identidades Mapuche (RIAL; HAYE, 2015RIAL, Ramiro Gonzalez; HAYE, Andrés. Alteracion del concepto de etnicidad desde la experiência de las tejedoras mapuche del sur de Chile. Psicologia USP [online], São Paulo, v. 26, n. 3, p. 441-452, 2015. https://doi.org/10.1590/0103-656420140065
https://doi.org/10.1590/0103-65642014006...
).

Estudo teórico desenvolvido por Noriega, Carvajal e Grubits (2009NORIEGA, José Ángel Vera; CARVAJAL, Claudia Karina Rodríguez; GRUBITS, Sonia. La Psicología Social y el concepto de cultura. Psicologia & Sociedade [online], Belo Horizonte, v. 21, n. 1, p. 100-107, 2009. https://doi.org/10.1590/S0102-71822009000100012
https://doi.org/10.1590/S0102-7182200900...
), realizou uma revisão das teorias contemporâneas da Psicologia Social, avaliando e teorizando sobre o uso que fazem do conceito de cultura. Em relação à perspectiva cultural, considerando a teoria da identidade social de Tajfel (1981TAJFEL, Henri. Human groups and social categories. New York: Cambridge University Press, 1981.), podemos compreender que os conceitos de identidade e cultura se fundem numa perspectiva de limites de inclusão e exclusão, sendo a cultura entendida como processo de socialização entre e dentro de um coletivo (NORIEGA; CARVAJAL; GRUBITS, 2009NORIEGA, José Ángel Vera; CARVAJAL, Claudia Karina Rodríguez; GRUBITS, Sonia. La Psicología Social y el concepto de cultura. Psicologia & Sociedade [online], Belo Horizonte, v. 21, n. 1, p. 100-107, 2009. https://doi.org/10.1590/S0102-71822009000100012
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).

3.2 Representações sociais, preconceito e discriminação contra povos indígenas

Estudos da Psicologia Social sobre povos indígenas dão destaque ao preconceito e discriminação que marcam a relação entre esses grupos étnicos e a sociedade não indígena. Estudos sobre relações intergrupais, teoria da identidade social de Tajfel (1981TAJFEL, Henri. Human groups and social categories. New York: Cambridge University Press, 1981.), teoria das representações sociais de Moscovici (2010MOSCOVICI, Serge. Representações Sociais: investigações em Psicologia Social. 7. ed. Petrópolis: Vozes, 2010.) aparecem como possibilidades de discussão teórica a respeito destes fenômenos sociais que perpassam as relações entre grupos distintos (SALAS, 2011SALAS, Marjorie Moreno. Percepción de Discriminación Social em um Grupo Indígena Costarricense: Los Huetares de Quitirrisi. Actualidades em Psicologia, Costa Rica, v. 25, p. 137-134, 2011.).

Sob este tema foram agrupadas publicações que trazem desde estudos sobre a constituição de representações sociais a respeito de indígenas até estudos que indicam percepções estereotipadas a respeitos desses grupos étnicos, passando ainda por estudos que apontam o efeito da percepção da discriminação pelos próprios grupos indígenas. Foram seis publicações, que correspondem a um percentual de 31% dos estudos compilados nesta revisão.

Apenas dois estudos nesta categoria são brasileiros: o estudo de Lima, Faro e Santos (2016LIMA, Marcus Eugênio Oliveira; FARO, André; SANTOS, Mayara Rodrigues dos. A desumanização Presente nos Estereótipos de Índios e Ciganos. Psicologia: Teoria e Pesquisa [online], Brasília, v. 32, n. 1, p. 219-228, jan./mar. 2016. https://doi.org/10.1590/0102-37722016012053219228
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), que se propôs a discutir o processo de desumanização de índios e ciganos nos estados de Alagoas e Sergipe, e o estudo de Braga e Campos (2012BRAGA, Claudomilson Fernandes; CAMPOS, Pedro Humberto Faria. Invisíveis e subalternos: as representações sociais do indígena. Psicologia & Sociedade [online], Belo Horizonte, v. 24, n. 3, p. 499-506, 2012. https://doi.org/10.1590/S0102-71822012000300003
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), que se propôs a investigar o efeito da mídia de massa na estruturação de um discurso de autoridade, constituindo uma realidade particular. No primeiro estudo, a amostra foi de 378 moradores de cinco cidades de Sergipe e uma de Alagoas. Os dados foram avaliados pelos programas EVOC e SPSS. As variáveis proximidade e distância entre moradores e grupos indígenas foram consideradas, a fim de verificar se interferiam na construção da imagem a respeito dos grupos étnicos analisados. Os resultados apontaram para uma imagem do índio exótico, diferente em suas práticas e hábitos, considerados distantes e diferentes. Foi constatado que houve o predomínio da exclusão moral no processo de desumanização dos índios (LIMA; FARO; SANTOS, 2016LIMA, Marcus Eugênio Oliveira; FARO, André; SANTOS, Mayara Rodrigues dos. A desumanização Presente nos Estereótipos de Índios e Ciganos. Psicologia: Teoria e Pesquisa [online], Brasília, v. 32, n. 1, p. 219-228, jan./mar. 2016. https://doi.org/10.1590/0102-37722016012053219228
https://doi.org/10.1590/0102-37722016012...
). No estudo sobre representações sociais, o método utilizado foi documental, sendo utilizadas matérias sobre processo demarcatório de reserva indígena, publicadas em jornal de grande circulação nacional. A análise foi feita a partir da teoria do núcleo central, em um corpus de 266 notícias, com o auxílio do software Analyse Lexicale par Contexte d’um Ensemble de Segments de Texte - Alceste (BRAGA; CAMPOS, 2012BRAGA, Claudomilson Fernandes; CAMPOS, Pedro Humberto Faria. Invisíveis e subalternos: as representações sociais do indígena. Psicologia & Sociedade [online], Belo Horizonte, v. 24, n. 3, p. 499-506, 2012. https://doi.org/10.1590/S0102-71822012000300003
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).

A percepção da discriminação social é um fenômeno amplamente estudado na Psicologia Social. Os estudos sobre teoria do campo de Kurt Lewin (1939LEWIN, Kurt. Teoria del campo y experimentación em Psicologia Social. Cuaderno nº 10, Instituto de Sociología de la Facultad de Filosofía de la UBA, 1939.), as contribuições de Allport (1954ALLPORT, Gordon Willard. The nature of prejudice. 3. ed. Wokingham, UK: Addison-Wesley, 1954.) sobre preconceitos e estereótipos, a teoria da identidade social de Tajfel (1981TAJFEL, Henri. Human groups and social categories. New York: Cambridge University Press, 1981.), dão uma contribuição significativa para a compreensão da temática e perspectivas das relações intergrupais. Estudo exploratório e descritivo com indígenas da reserva de Quitirrisí, com o objetivo de conhecer a percepção da discriminação individual e grupal, bem como os eventos sociais percebidos como discriminatórios, foi desenvolvido por meio um questionário aplicado a 90 indígenas. Entre os resultados foram identificados altos níveis de percepção de discriminação contra o grupo étnico, confirmando o reconhecimento da discriminação sofrida por grupos minoritários, que se utilizam de uma identidade social positiva como forma de proteção das desigualdades (SALAS, 2011SALAS, Marjorie Moreno. Percepción de Discriminación Social em um Grupo Indígena Costarricense: Los Huetares de Quitirrisi. Actualidades em Psicologia, Costa Rica, v. 25, p. 137-134, 2011.).

Estudo feito em Bangladesh examinou pensamentos e percepções estereotipados de membros de Chakma, maior comunidade indígena, e de bengalis, colonos que vivem nos Chittagong Hill Tracts (CHT), no sudeste do país. O método foi qualitativo, tendo como instrumento de coleta uma entrevista em profundidade com 26 participantes de uma amostragem intencional, sendo 12 indígenas e 14 colonos, predominantemente agricultores, professores de escola, estudantes e pequenos empresários. Os resultados apontam para a identificação de pensamentos e percepções equivocados por parte de quem manifestou alto preconceito. Os autores propõem rever estratégias de redução do preconceito a partir do aumento do contato entre os grupos (MOZUMDER; HAQUE, 2015MOZUMDER, Muhammad Kamruzzaman; HAQUE, Shamsul. Stereotypical Thoughts and Perceptions Among Chakma and Settler Bengalis in Southeastern Bangladesh. Peace and Conflict: Journal of Peace Psychology, v. 21, n. 2, p. 285-288, 2015.).

Estudo comparativo, com 114 jovens adultos indígenas americanos a respeito de experiências de microagressões raciais, utilizou como instrumentos a Escala de Microagressões Racial Diária, forma reduzida (DRM), Medida de Identidade Étnica para Multigrupos (MEIM) e Escala de Identificação Ortogonal Cultural (OCIS). Entre os resultados, observou-se forte correlação entre identidade étnica e relatos de microagressões. Os autores concluíram que experiências de discriminação funcionam como catalisador potencial para a exploração da identidade étnica (JONES; GALLIHER, 2015JONES, Merrill; GALLIHER, Renée. Daily Racial Microaggressions and Ethnic Identification Among Native American Young Adults. Cultural Diversity and Ethnic Minority Psychology, Washington, v. 21, n. 1, p. 1-9, 2015.).

Investigando a percepção da discriminação contra o povo Maori da Nova Zelândia, foram realizados estudos com métodos transversal (estudo 1) e longitudinal (estudo 2). As hipóteses foram testadas em dois estudos, utilizando dados de uma amostra nacional do povo Maori, totalizando 1981 (estudo 1) e 1373 (estudo 2) pessoas. Os resultados indicaram que a discriminação percebida tinha relação direta com a diminuição da satisfação com a vida, e relação indireta com o aumento da satisfação com a vida a partir de níveis elevados de identificação étnica. Outro resultado identificou relação direta entre discriminação percebida e aumento de apoio aos direitos maori, e relação indireta com o aumento de apoio aos direitos Maori, partindo de níveis mais altos de identificação étnica (STRONGE et al., 2016STRONGE, Samantha et al. Perceived Discrimination Predicts Increased Support for Political Rights and Life Satisfaction Mediated by Ethnic Identity: A Longitudinal Analysis. Cultural Diversity and Ethnic Minority Psychology, Washington, v. 22, n. 3, p. 359-368, jul. 2016.).

3.3 efeitos da relação interétnica para indígenas

Nesta categoria foram incluídas quatro publicações, que reúnem estudos sobre os efeitos da relação interétnica para grupos indígenas, predominantemente caracterizada por situações de discriminação contra esses povos, por se tratarem de minorias étnicas. A identidade étnica, enquanto identidade social, se caracteriza pelo autoconceito positivo que o indivíduo desenvolve em relação a si por se sentir pertencente a um determinado grupo, seja ele nacional, linguístico, religioso ou étnico (GUITART; DAMIAN; DANIEL, 2011GUITART, Moisés Esteban; DAMIAN, María Jane Rivas; DANIEL, Myriam Rebeca Pérez. Identidad Étnica y Autoestima em Jóvenes Indígenas y Mestizos de San Cristóbal de las Casas (Chiapas, México). Acta Colombiana de Psicologia, Colombia, v. 14, n. 1, p. 99-108, 2011.; PHINNEY; ONG, 2007PHINNEY, Jean; ONG, Anthony. Conceptualization and Measurement of Ethnic Identity: Current Status and Future Directions. Journal of Counseling Psychology, United States, v. 54, n. 3, p. 271-281, 2007.; TAJFEL, 1981TAJFEL, Henri. Human groups and social categories. New York: Cambridge University Press, 1981.).

Em estudo realizado com jovens universitários mestiços e indígenas em Chiapas, no México, examinou-se o relacionamento entre identidade étnica e autoestima, por meio de uma amostra de 517 estudantes (256 mestiços e 261 indígenas), que responderam os seguintes instrumentos: Escala de Identidade Étnica Multigrupo Revisada - EIEM-R (PHINNEY; ONG, 2007PHINNEY, Jean; ONG, Anthony. Conceptualization and Measurement of Ethnic Identity: Current Status and Future Directions. Journal of Counseling Psychology, United States, v. 54, n. 3, p. 271-281, 2007.) e Escala de Autoestima de Rosemberg. Os resultados indicaram uma maior pontuação dos índios em relação à identidade étnica, frente aos mestiços. No que se refere à correlação de variáveis, observou-se uma correlação positiva entre identidade étnica e autoestima para os índios, mas não para os mestiços. Esse resultado confirma a hipótese inicial de que grupos minoritários buscam estratégias de valorização de seu grupo étnico com o intuito de valorização de sua identidade diante de outros grupos sociais (GUITART; DAMIAN; DANIEL, 2011GUITART, Moisés Esteban; DAMIAN, María Jane Rivas; DANIEL, Myriam Rebeca Pérez. Identidad Étnica y Autoestima em Jóvenes Indígenas y Mestizos de San Cristóbal de las Casas (Chiapas, México). Acta Colombiana de Psicologia, Colombia, v. 14, n. 1, p. 99-108, 2011.).

Em uma perspectiva semelhante, estudo feito com 124 jovens indígenas em universidade indígena do Kansas, EUA, investigou se o engajamento com a identidade indígena, avaliado em três dimensões: grau de identificação, tribo e contexto (reserva ou não-reserva), pode servir como recurso psicológico para o bem-estar e libertação da opressão. Para avaliar essa hipótese, foram utilizadas medidas de autoestima, eficácia comunitária, identificação étnica e percepções de racismo. Os resultados indicaram a consistência da hipótese, correlacionando positivamente identificação com eficácia da comunidade e percepção do racismo (ADAMS et al., 2006ADAMS, Glenn et al. The psychology of engagement with indigenous identities: a cultural perspective. Cultural Diversity and Ethnic Minority Psychology, Washington, v. 12, n. 3, p. 493-508, 2006.).

Pesquisas recentes indicaram a relação entre perda histórica e o surgimento de sintomas depressivos em indígenas americanos nativos do Alasca. O estudo investigou como os aspectos da experiência da minoria étnica se relacionam com a incidência de perdas históricas e sintomas de depressão em índios americanos. A pesquisa se deu através do uso da Escala de Perda Histórica de Adolescente (AHLS), a Escala de Experiências Étnicas (SEE) e Escala de Depressão (CES-D) aplicadas em uma amostra de 123 estudantes americanos indígenas autoidentificados. Os resultados indicaram uma associação entre uma forte identificação étnica e percepção de discriminação e aumento do pensamento histórico de perdas. E, ainda, que a percepção da discriminação estava diretamente relacionada aos sintomas de depressão (TUCKER; WINGATE; O’KEEFE, 2016TUCKER, Raymond; WINGATE, LaRicka; O’KEEFE, Victoria. Historical loss thinking and symptoms of depression are influenced by ethnic experience in American Indian college students. Cultural Diversity and Ethnic Minority Psychology, Washington, v. 22, n. 3, p. 350-358, 2016.).

Embora sejam muitos os estudos feitos sobre a importância de uma identidade étnica fortalecida como suporte para o enfrentamento de situações adversas para minorias étnicas, poucos estudos analisam o efeito da idade, ou seja, levam em consideração a identidade ainda em desenvolvimento. Em um estudo longitudinal, por um período de 14 meses, com 114 adolescentes indígenas americanos, moradores de uma reserva indígena, foi possível investigar as associações entre identificação étnica com sentimentos de desesperança. Não foi identificada correlação positiva entre a identificação cultural com sentimentos de desesperança, em nenhum tempo, dentro do período avaliado (ALBRIGHT; LAFROMBOISE, 2010ALBRIGHT, Karen; LAFROMBOISE, Teresa D. Hopelessness among white - and indian-identified American Indian adolescents. Cultural Diversity and Ethnic Minority Psychology, Washington, v. 16, n. 3, p. 437-442, 2010.).

3.4 aspectos da pesquisa com grupos étnicos

Nesta categoria foram contemplados dois estudos que tratam da relação entre pesquisador e grupos étnicos indígenas. O que há de comum nos estudos é a análise feita a respeito do papel do pesquisador frente a pesquisas com populações indígenas, caracterizadas como etnicamente distintas.

Grubits e Sordi (2017GRUBITS, Sonia; SORDI, Ariana. Pesquisas nas comunidades indígenas: relações de justiça e igualdade. Boletim Academia Paulista de Psicologia, São Paulo, v. 37, n. 92, p. 11-23, 2017. Disponível em: Disponível em: https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=94651818003 . Acesso em: 25 fev. 2020.
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) propuseram fazer uma análise teórica, tendo como referencial a Psicologia Social, sobre a relação pesquisador e populações indígenas, levando em consideração seus conflitos, a partir da experiência de pesquisas realizadas com etnias Guarani/Kaiowá, Terena e Kadiwéo do Mato Grosso do Sul e Bororo no Estado do Mato Grosso, no Brasil. A discussão trazida neste estudo leva em conta questões éticas, princípios de justiça e igualdade e respeito à diferença, permitindo a vida do indígena dentro de seus pilares culturais.

O estudo de Petit (2013PETIT, Lucrecia. Identidad y pertenencia: la acción de los adolescentes como promotores de derecho indígena en la comunidad mapuche Mariano Epulef. CS, Cali, Colombia, n. 11, p. 143-176, enero/jun. 2013.), realizado numa comunidade Mapuche, da Argentina, se utiliza do referencial teórico da Psicologia Social Comunitária, seguindo uma perspectiva etnográfica para analisar a intervenção comunitária numa comunidade indígena. Foram realizadas entrevistas individuais, grupais e institucionais, além de uma convivência comunitária que permitiu compartilhar a vida cotidiana dos moradores. A discussão trazida pelo estudo reflete o papel do psicólogo social numa perspectiva de fortalecimento da comunidade pesquisada, trabalhando a construção identitária e a de pertença a esse grupo.

4. Considerações finais

O interesse da Psicologia Social pelos grupos étnicos indígenas vem aumentando de forma gradativa nos últimos anos. De forma geral, estudos sobre grupos étnicos eram o foco de estudo e interesse de outras áreas científicas, predominantemente da Antropologia, visto que esta ciência se ocupava de estudos voltados a povos originários. Mas foi preciso ampliar essa discussão, contextualizando no presente implicações do que é ter uma identidade de povo originário e viver na contemporaneidade.

Nas últimas décadas, no Brasil e América Latina, os estudiosos da ciência psicológica têm aprofundado discussões sobre contribuições da psicologia para a atuação junto a grupos indígenas. Este estudo permitiu visualizar que as contribuições podem se dar em nível teórico, repensando o conceito de identidade a partir de elementos como cultura e etnicidade, e em níveis empíricos, a partir de identificação de formas de legitimação do preconceito e discriminação que acabam por repercutir em problemas que se tornam comuns e são frutos da relação entre sociedade indígena, enquanto minoria, e sociedade não indígena.

Destaca-se a importância de a psicologia se aproximar de outras ciências para compreender e rediscutir os conceitos de cultura e identidade étnica. A Psicologia Social tem oferecido tanto perspectivas que nos permitem pensar a essencialidade relacional, que consideram a flexibilidade situacional das identidades, quanto as condições de emergência do essencialismo na atribuição da identidade pelos sujeitos em suas vidas diárias (RIAL; HAYE, 2015RIAL, Ramiro Gonzalez; HAYE, Andrés. Alteracion del concepto de etnicidad desde la experiência de las tejedoras mapuche del sur de Chile. Psicologia USP [online], São Paulo, v. 26, n. 3, p. 441-452, 2015. https://doi.org/10.1590/0103-656420140065
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).

A atuação da psicologia com populações indígenas tem sua relevância pela possibilidade de abordar problemas psicológicos advindos da relação interétnica entre grupos indígenas e sociedade não indígena. A incidência de casos de depressão, suicídios e demais transtornos que acometem povos indígenas pode estar associada a processos de exclusão social a que estão submetidas essas populações. Fica evidente, a partir da análise dos estudos aqui abordados, que o fortalecimento da identidade étnica é condição de enfrentamento de conflitos internos (autoestima) e externos (relações intergrupais).

Ao se aproximar dos povos indígenas, a Psicologia Social tem a possibilidade de conhecer a realidade desses povos e repensar as relações intergrupais que vêm se estabelecendo entre “índios” e “não índios”. Compreender a constituição da identidade étnica, como identidade social, as representações acerca desses grupos étnicos e, ainda, os efeitos da discriminação, coloca a psicologia numa perspectiva de maior contribuição, tanto no que se refere a estudos teóricos quanto à possibilidade de intervenção, no sentido de minimizar a distância entre os grupos sociais, contribuindo, como consequência, para a diminuição dos fatores de exclusão social a que estão submetidos esses grupos.

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  • 2
    Expressão que remete ao fenômeno da branquitude.

Editado por

Editora responsável pelo processo de avaliação: Ana Claudia Lima Monteiro.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Abr 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    21 Nov 2017
  • Revisado
    28 Maio 2022
  • Revisado
    21 Nov 2022
  • Aceito
    04 Jan 2023
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