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Artigo acadêmico: a construção de significados interpessoais

Academic article: interpersonal meanings construction

Resumos

O presente artigo tem por objetivo central analisar como, na área de Linguística, os(as) autores(as) de exemplares do gênero textual artigo acadêmico constroem significados interpessoais de posicionamento avaliativo ao produzirem seus textos. Como delimitação desse objetivo central, esta pesquisa busca mapear e analisar os adjuntos modais (HALLIDAY, 1994) realizados por advérbios simples que, de forma mais relevante, constroem os significados interpessoais de posicionamento e avaliação do(a) pesquisador (a)-autor(a) na produção de exemplares do gênero artigo acadêmico na área de Linguística e, ainda, verificar comparativamente como esses adjuntos modais se apresentam em exemplares de artigos experimentais, artigos teóricos e artigos de revisão de literatura.

artigos acadêmicos; significados interpessoais; autoria


The present article aims to analyze how the authors of academic textual genre article, in Linguistics field, construct interpersonal meanings of an evaluative positioning to produce their texts. As delimitation of this major goal, this research aims to outline and to analyze the modal adjuncts (HALLIDAY, 1994) performed by simple adverbs that, on a relevant way, build the interpersonal meanings of positioning and evaluation from author researcher on production of academic genre article example, in the Linguistics field. Another aim of this article is to examine relatively how these modal adjuncts appear in some journals of experimental articles, theoretical articles and literature review articles.

academic articles; interpersonal meanings; authorship


ARTIGOS

Artigo acadêmico: a construção de significados interpessoais

Academic article: interpersonal meanings construction

Cibele Gadelha Bernardino

Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza - Ceará / Brasil. cibele.gadelha@hotmail.com

RESUMO

O presente artigo tem por objetivo central analisar como, na área de Linguística, os(as) autores(as) de exemplares do gênero textual artigo acadêmico constroem significados interpessoais de posicionamento avaliativo ao produzirem seus textos. Como delimitação desse objetivo central, esta pesquisa busca mapear e analisar os adjuntos modais (HALLIDAY, 1994) realizados por advérbios simples que, de forma mais relevante, constroem os significados interpessoais de posicionamento e avaliação do(a) pesquisador (a)-autor(a) na produção de exemplares do gênero artigo acadêmico na área de Linguística e, ainda, verificar comparativamente como esses adjuntos modais se apresentam em exemplares de artigos experimentais, artigos teóricos e artigos de revisão de literatura.

Palavras-chave: artigos acadêmicos; significados interpessoais; autoria.

ABSTRACT

The present article aims to analyze how the authors of academic textual genre article, in Linguistics field, construct interpersonal meanings of an evaluative positioning to produce their texts. As delimitation of this major goal, this research aims to outline and to analyze the modal adjuncts (HALLIDAY, 1994) performed by simple adverbs that, on a relevant way, build the interpersonal meanings of positioning and evaluation from author researcher on production of academic genre article example, in the Linguistics field. Another aim of this article is to examine relatively how these modal adjuncts appear in some journals of experimental articles, theoretical articles and literature review articles.

Keywords: academic articles; interpersonal meanings; authorship.

Introdução

Os estudos sobre como pesquisadores(as) constroem posicionamentos e avaliações quando da produção de textos acadêmicos têm crescido consideravelmente. Alguns(mas) pesquisadores(as) já envidaram esforços para investigar essa questão, olhando-a a partir de pressupostos teóricos e metodológicos distintos. No cenário internacional cito, sobretudo, na vertente anglo-americana de estudos, os trabalhos de Crompton (1997), sobre o uso de hedges em escrita acadêmica; de Hyland (1998, 2000), a respeito do uso de hedges e boosters como mecanismos de negociação entre membros de uma área disciplinar; de Varttala (1999), acerca do uso de hedges em artigos de divulgação cientifica; de Myers (1999), sobre a pragmática da polidez em textos acadêmicos, de White (2003), sobre marcadores dialógicos no texto acadêmico, entre outros.

Quanto ao cenário brasileiro, contemplando vertentes distintas, chamo a atenção para os trabalhos de Coracini (1991), que busca analisar marcas textuais indicadoras da subjetividade da autoria a partir dos pressupostos teóricos da Linguística da Enunciação; de Figueiredo-Silva (2001), sobre o ensino do uso de atenuadores em escrita acadêmica; de Balocco (2002), acerca do uso de enunciados em primeira pessoa no texto acadêmico; de Araújo (2003), sobre indicadores textuais da subjetividade da autoria em artigos acadêmicos em língua portuguesa e em língua inglesa e de Bernardino (2006) sobre a construção de posicionamentos e negociações em artigos acadêmicos.

Contribuindo para esse campo de investigação, a proposta deste trabalho tem como objetivo central analisar como, na área de Linguística, os(as) autores(as) de exemplares do gênero textual artigo acadêmico constroem significados interpessoais de posicionamento avaliativo ao produzirem seus textos. Esta questão parte da consideração de que diferentes padrões de avaliação podem exercer papéis específicos em gêneros específicos, portanto, cabe levantar tais padrões nos termos de suas ocorrências e de seus funcionamentos, articulando-os com os valores e propósitos dos grupos sociais que utilizam tais gêneros.

Como delimitação desse objetivo central, esta pesquisa busca mapear e analisar os adjuntos modais (HALLIDAY, 1994) realizados por advérbios simples que, de forma mais relevante, constroem os significados interpessoais de posicionamento e avaliação do(a) pesquisador(a)-autor(a) na produção de exemplares do gênero artigo acadêmico na área de Linguística e verificar, comparativamente, como esses adjuntos modais se apresentam em exemplares de artigos experimentais, artigos teóricos e artigos de revisão de literatura.

Para tanto, trabalho com a articulação entre duas teorias de base: a análise de gêneros textuais, com foco na produção teórica de John Swales (2004), e a Gramática Sistêmico-Funcional de M. A. K. Halliday (1994; HALLIDAY e MATTHIESSEN, 2004), particularmente no tratamento da construção dos significados interpessoais da/na linguagem.

Referencial teórico

Em primeiro lugar, quero justificar que, em meio a variadas perspectivas para a abordagem de gêneros, optei pela perspectiva da vertente anglo-americana de John Swales porque a produção desse autor é reconhecidamente voltada para aplicações em análise de gêneros em contextos acadêmicos e profissionais. Além disso, Swales (1990; 2004) estabelece conceitos fundamentais para o exame de gêneros textuais, propondo a análise textual como caminho para iluminar questões sobre a caracterização dos gêneros e a relação com suas práticas sociais subjacentes.

Segundo Hemais e Biasi-Rodrigues (2003), Swales, em trabalho publicado em 2000, recomenda aos usuários, estudiosos e analistas de gêneros que além do olhar detido sobre os propósitos, os valores e as crenças da comunidade discursiva e sobre a organização retórica do gênero, é importante a realização de uma microanálise da linguagem, ou seja, uma análise mais cuidadosa dos elementos linguísticos que funcionam para a caracterização genérica. É este o ponto que considero central para a articulação entre as teorias de Swales e Halliday, uma vez que a Gramática Sistêmico-Funcional (doravante GSF) oferece um referencial teórico para analisar as diferentes ordens (oração, sintagma etc.).

Quero justificar, ainda, que, no texto deste artigo, alternarei intencionalmente o uso da pessoa do discurso. Ora escreverei em primeira pessoa do singular para marcar claramente minha autoria e minha responsabilidade sobre o "dito"; ora utilizarei a primeira pessoa do plural para incluir o(a) leitor(a) na construção da argumentação, angariando, assim, sua participação ativa em minhas reflexões. A não homogeneidade no uso da pessoa do discurso neste artigo deve ser entendida, portanto, como um recurso de construção do Metadiscurso Interpessoal (HYLAND, 2000).

Como já foi afirmado, os objetivos que norteiam esta pesquisa partem da consideração sobre evidências de que diferentes padrões de avaliação e posicionamento podem exercer papéis específicos em gêneros específicos. Essa relação, contudo, exige observar em que aspectos linguísticos a avaliação está localizada. Para Thompson (2002), a avaliação modal é mais facilmente reconhecida em termos gramaticais, situando-se em torno de elementos como os verbos e os adjuntos modais, por exemplo. A avaliação de valor, por outro lado, tende a funcionar em torno do léxico, particularmente dos adjetivos e substantivos. Isso talvez aconteça porque a avaliação modal tende a ser exercida sobre proposições e a avaliação de valor, sobre entidades.

Hunston e Thompson (2000) nos dizem, ainda, que há certos gêneros que priorizam avaliações que expressam graus de certeza sobre as proposições e há outros que enfatizam avaliações que constroem julgamento de valor entre o que é bom e o que não é bom. Os gêneros da comunidade acadêmica, por exemplo, seriam caracterizados pelo primeiro tipo de padrão avaliativo, a partir do qual o(a) pesquisador(a)-autor(a) expressaria seu ponto de vista sobre o status da proposição ou da entidade em questão.

Uma vez que meu objeto de análise é o artigo acadêmico, presumivelmente mais marcado pela avaliação modal, fui buscar na GSF de Halliday (1994/2004) e em outros autores como Eggins (1994), Martin et al. (1997) e Thompson (2002) a descrição dos adjuntos modais que se prestam à construção dos significados interpessoais de posicionamento e avaliação. Assim, a teoria sistêmico-funcional pode favorecer esse tipo de investigação porque toma como princípio básico a percepção de que o uso da linguagem é funcional, que esse uso funcional constrói significados motivados pelos contextos social e cultural e que o processo de uso da linguagem é semiótico, ou seja, um processo de construção de significados por meio de escolhas realizadas entre as possibilidades do sistema linguístico. Desta forma, a abordagem sistêmico-funcional se ocupa em descrever a relação entre as possíveis escolhas que os falantes realizam ao utilizarem o sistema linguístico e a função da escolha feita. Estabelecendo essa relação, a abordagem sistêmico-funcional lança a questão sobre como a linguagem é usada em diferentes contextos para alcançar diferentes objetivos.

Considerando que meu interesse está centrado no posicionamento avaliativo do(a) pesquisador(a)-autor(a) ao produzir exemplares do gênero artigo acadêmico, para o presente artigo interessa, particularmente, o detalhamento da função interpessoal da linguagem apontada por Halliday (1994), uma vez que é, principalmente, por meio dos significados interpessoais que os falantes se posicionam e posicionam seus interlocutores no ato da interação. Para esse autor, a construção dos significados interpessoais se faz, predominantemente, por meio dos sistemas de modo e modalidade da língua.

Para Halliday (1994), o principio básico da função interpessoal é que os falantes, no ato da interação, adotam para si um papel discursivo e sinalizam um papel complementar para seus interlocutores. Assim, ao realizar uma ordem, o falante se posiciona como alguém autorizado a ordenar e posiciona seu interlocutor como aquele que pode e deve efetivar o que foi ordenado. Desta forma, a função interpessoal da linguagem está relacionada com os papéis e com as relações que os interlocutores constroem no ato das trocas interativas.

Halliday (1994) aponta dois tipos básicos de trocas que permeiam as interações: as trocas de bens e serviços e as trocas de informações. Se o falante realiza um ato de fala com o propósito de induzir o interlocutor a fazer algo, estaremos lidando com a troca de bens e serviços e tomaremos como unidade de análise, as propostas. Por outro lado, se o falante pretende obter uma resposta verbal do interlocutor, estaremos tratando de uma troca de informações e teremos as proposições como unidade de análise.

Como já salientei, procederei à análise da função interpessoal em artigos acadêmicos e por isso me deterei apenas à gramática da oração como troca de informação, ou seja, meu olhar estará voltado para a troca de proposições.

A primeira questão a ser respondida para discutir a relação entre a função interpessoal e os significados interpessoais construídos na interação é que estruturas do sistema linguístico são preferencialmente utilizadas pelos falantes para a construção dessa relação.

Como Martin et al. (1997) apontam, é na estrutura dos elementos do MODO da gramática que o viés negociável da interação se revela com maior nitidez. Entendamos aqui MODO como a análise de três funções, a saber: Sujeito, Finito e Adjuntos Modais. A essa pesquisa interessou, particularmente, o uso dos adjuntos modais.

Para Halliday e Matthiessen (2004), o adjunto é o elemento que não tem o potencial de ser sujeito, ou seja, é o elemento que não pode ser elevado ao status interpessoal de responsabilidade modal e que é, tipicamente, realizado por um grupo adverbial ou por uma frase preposicional. Halliday (1994) apresenta três classes de adjuntos: os adjuntos modais, os circunstanciais e os adjuntos textuais.

Os adjuntos modais, propriamente ditos, são aqueles mais intimamente associados ao sistema de modo, imprimindo significados de polaridade, modalidade, temporalidade e intensidade (HALLIDAY, 1994). Como nos informa Eggins (1994), esses adjuntos adicionam significado interpessoal à oração por estarem relacionados à geração e manutenção do diálogo.

Na segunda edição da GSF, Halliday (1994, p. 82) aponta três tipos de adjuntos modais, a saber: os adjuntos de polaridade e modalidade, os adjuntos de temporalidade e os adjuntos de modo. Vejamos nos quadros abaixo, traduzidos para o português brasileiro, os principais significados realizados por esses adjuntos:




Cabe ainda focalizarmos os chamados adjuntos de comentário. Para Halliday (1994) a diferença entre o adjunto de comentário e o adjunto de modo propriamente dito é que o primeiro expressa a atitude do falante em relação à proposição como um todo e não apenas aos elementos do MODO. Assim, os adjuntos de comentário são menos integrados à estrutura do modo e ocorrem em pontos da oração que são significativos para a organização textual, sendo, fortemente, associados às fronteiras entre as unidades de informação do texto. Os adjuntos de comentário ocorrem, principalmente, em posição inicial (como tema), mas podem ocorrer também no rema, entre o modo e o resíduo ou ainda em posição final (HALLIDAY, 1994:83). Apesar de não incidirem diretamente sobre a estrutura do modo da língua, os adjuntos de comentário são considerados, tanto por Halliday (1994) quanto por Thompson (2002), como uma categoria dos adjuntos modais uma vez que agregam expressões de atitude e avaliação ao significado da proposição.

Para Bloor e Bloor (1995, p. 55), os adjuntos de comentário são aqueles que constroem significados interpessoais de avaliação (julgamento, posicionamento, construção de atitude), tais como os realizados pelos advérbios francamente, felizmente, lamentavelmente. Diferentemente, os adjuntos modais propriamente ditos nos informam sobre significados modais de probabilidade, frequência e generalidade.

Vejamos, no quadro proposto por Halliday (1994, p. 49, tradução minha), os tipos de significados realizados por esses adjuntos.


Como podemos perceber, ao utilizarmos a linguagem para interagir, nós realizamos uma série de escolhas que estão vinculadas intimamente ao Sistema de Modo da língua. Dessa forma, o sistema de modo constrói um terreno de trocas e negociações entre papéis e identidades e institui dimensões interpessoais que revelam níveis de poder, solidariedade, intimidade, julgamentos e atitudes dos falantes em relação ao dito e em relação a seus pares na interação.

Metodologia

Em primeiro lugar, é importante esclarecer que os procedimentos de análise dos corpora foram realizados a partir de dois suportes teóricos centrais: a Linguística Sistêmico-Funcional e a Análise de Gêneros Textuais anglo-americana. A linguística sistêmica contribuiu, particularmente, para o reconhecimento, mapeamento e categorização dos adjuntos modais nos textos; e a análise de gêneros, para a caracterização do gênero textual artigo acadêmico e suas derivações (artigo experimental, artigo teórico e artigo de revisão), (SWALES, 2004).

Adicionalmente, tomei como instrumento de análise os recursos do programa WordSmith Tools para o tratamento quantitativo dos dados.

O objeto de estudo

Como já citei, o objetivo aqui proposto é, principalmente, analisar como os(as) autores(as) constroem significados interpessoais de posicionamento e avaliação em exemplares do gênero artigo acadêmico em língua portuguesa do Brasil. Para tanto, realizei um recorte teórico-metodológico ao analisar tal construção por meio da realização da função de adjunto modal, materializada através dos advérbios simples utilizados nos exemplares do gênero.

Tal recorte ampara-se, sobremaneira, nas constatações de que a avaliação modal é, mais comumente, reconhecida em termos gramaticais, situando-se em torno de elementos como os verbos e os adjuntos modais (THOMPSON, 2000) e de que a função de adjunto modal é tipicamente realizada por uma frase proposicional ou por um grupo adverbial (HALLIDAY, 1994).

Assim, tomada esta decisão inicial, passarei à constituição dos corpora de análise. Passo que será descrito a seguir.

Descrição dos corpora de análise

Tendo em vista que trabalharia os dados no ambiente do programa WordSmith Tools, constituí, inicialmente, um corpus formado por quarenta artigos da área de Linguística, compilados a partir da revista D.E.L.T.A. no site http://www.scielo.br, e publicados no período compreendido entre os anos de 1999 e 2004. Como é previsível, os artigos são de autorias diversas e afiliados a diferentes campos teóricos da Linguística.

Inicialmente, extraí, de forma aleatória, dez exemplares para a realização de uma análise piloto a partir da qual percebi que havia uma considerável diversidade quanto aos tipos de artigos, uma vez que dos dez exemplares, dois objetivavam discutir questões estritamente teóricas; cinco preocupavam-se em traçar panoramas do percurso histórico ou de controvérsias teórico-metodológicas da área e três apresentavam resultados de pesquisa e análise de dados.

A partir dessa constatação, passei, então, à constituição dos corpora de análise:

Corpus 1 - dez exemplares de artigos experimentais propriamente ditos.

Corpus 2 - dez exemplares de artigos teóricos.

Corpus 3 - dez exemplares de artigos de revisão.

Feita a delimitação dos corpora, iniciei, então, o processo de reconhecimento e mapeamento dos advérbios que funcionavam como adjuntos modais.

Os procedimentos de análise

Etapa 1 - Compilação e formatação dos corpora para adequação à análise no ambiente do programa WordSmith Tools.

Etapa 2 - Marcação dos corpora, ou seja, a anotação relativa à autoria e à fonte do texto. (BEBER SARDINHA, 1999).

Etapa 3 - Aplicação da ferramenta WordList 2 2 Ferramenta do programa WordSmith Tools. O programa WordSmith Tools foi desenvolvido por Mike Scoot e publicado pela Oxford University Press. O programa coloca à disposição do analista uma série de recursos úteis para análise da linguagem. As principais ferramentas são WordList; KeyWords e Concord. As funções principais das ferramentas são: 1) Lematização - agrupamento de duas ou mais formas diferentes em um mesmo item; 2) Classificação - ordenação de listas e concordâncias por ordem alfabética, frequencial e de posição; 3) Delimitação - escolha de que partes do corpus serão lidas pelo programa. para o mapeamento dos advérbios realizadores da função interpessoal de adjuntos modais.

Etapa 4 - Categorização de cada um dos advérbios de acordo com a tipologia de adjuntos modais apontada por Halliday (1994). Esse momento da análise foi realizado por meio da análise das linhas de concordância de cada uma das ocorrências dos advérbios mapeados.

Etapa 5 - Etiquetamento dos corpora a partir da etiqueta <ADM> para identificação dos advérbios que funcionavam como adjuntos modais e de etiquetas particulares para cada tipo de adjunto identificado nos corpora. Vejamos, abaixo, alguns exemplos desse etiquetamento:

a) Adjunto modal de polaridade - <ADMPOL>

Ex1.:

Galves (1989), entretanto, demonstra que os efeitos de ilha apontados por Raposo não <ADM> <ADMPOL> se aplicam ao português brasileiro. (Corpus 1 - Art. 2)

b) Adjunto modal de probabilidade <ADMPRO>

Ex2.:

Este afastamento do cognitivismo deve-se, provavelmente <ADM> <ADMPRO>, ao fato de o tipo de texto (ou gênero textual) trazer impressa a marca do contexto social em que se formou, o que atrai o estudioso para uma perspectiva extramental. (Corpus 2 - Art. 12)

c) Adjunto modal de intensidade (significado de intensificação) <ADMINT>

Ex3.:

Um exemplo que me parece bastante <ADM> <ADMINT> elucidativo da idéia de que a nasalidade pode estar organizada de forma diferente nas línguas é o do Islandês, língua que contrasta consoantes nasais surdas e sonoras. (PÉTURSSON, 1973; 1994)

d) Adjunto modal de intensidade (significado de grau de restrição) <ADMINT>

Ex4.:

A identidade de referência textual é clara, mas, como em todos os casos de sinonímia (mesmo nos da denotativa ou descritiva), fatores estilísticos e pragmáticos, ou funcionais, fazem com que as diferentes escolhas referenciais não <ADMPOL> <ADM> sejam totalmente <ADM> <ADMINT> substituíveis umas pelas outras. (Corpus 2 - Art. 11)

e) Adjunto modal de intensidade (significado de preenchimento de expectativa) <ADMINT>

Ex5.:

Tal assimilação (ou aprendizagem) por parte do professor é vista enquanto processo meramente <ADM> <ADMINT> (ou sobretudo) cognitivo (mental), concepção que, como já dissemos, tem por base a crença no sujeito ideal, consciente e uno. (Corpus 1 - Art. 1)

f) Adjunto modal de usualidade <ADMUSU>

Ex6.:

Por isso, é preciso afastar, abafar, apagar da nossa consciência esses momentos que são freqüentemente <ADM> <ADMUSU> vistos e analisados negativamente como deslizes, lapsos, manifestações do não <ADM> <ADMPOL> controle da situação, de si e dos outros. (Corpus 1 - Art. 1)

g) Adjunto modal de obviedade <ADMOBV>

Ex7.:

Evidentemente <ADMOBV> <ADM>, alguns poderiam pensar que, em compensação, aumenta-se um componente na teoria gramatical. (Corpus 2 - Art. 13)

h) Adjunto modal de validade <ADMVAL>

Ex8.:

Na cultura ocidental, particularmente <ADM> <ADMVAL> na norte-americana, que é a referência dos autores em questão, o conceito down, é associado a situações negativas, em contraposição ao conceito up, associado a situações positivas. (Corpus 1 - Art. 4)

i) Adjunto modal de tempo <ADMTEM>

Ex9.:

A maioria dos teóricos não <ADM> <ADMPOL> deixa de fazer referência à retórica clássica e aí o problema já <ADM> <ADMTEM> se colocava, uma vez que Aristóteles fala em metáfora tanto na Arte Retórica quanto na Arte Poética e, desse modo, o conceito de metáfora apresenta-se amplo, justificando a diversidade de enunciados de diferentes tipos que são ditos metafóricos. (Corpus 1 - Art. 3)

j) Adjunto modal de tipicidade <ADMTIP>

Ex10.:

A nova forma tipicamente <ADM> <ADMTIP> começa como uma variante usada esporadicamente, sua freqüência aumenta à medida que o tempo passa e, finalmente, ela pode vir a substituir a forma antiga. (Corpus 2 - Art. 19)

k) Adjunto modal de predição <ADMPRED>

Ex11.:

Em virtude de a transposição com modulação apresentar, na sua essência, características bastante <ADM> <ADMINT> similares às da modulação, podem estender-se as mesmas considerações feitas acima para tradução literária em relação à tradução técnica, que apresenta 3,4% de ocorrências no respectivo corpus, e também em relação à tradução jornalística, que registra, contrariamente <ADM> <ADMPRED> ao que se supunha para esse corpus, apenas <ADM> 2,7% de freqüência. (Corpus 1 - Art. 8)

l) Adjunto modal de desejo <ADMDES>

Ex12.:

As respostas, feliz <ADM> <ADMDES> ou infelizmente <ADM> <ADMDES>, serão obtidas na nossa prática diária e surgirão com a evolução natural tanto de nossa prática pedagógica quanto de pesquisas. (Corpus 2 - Art. 12)

m) Adjunto modal de persuasão <ADMPERS>

Ex13.:

De fato, existe uma certa aceitação geral de que a parte que diz respeito à "fonêmica" da língua portuguesa está seguramente <ADM> <ADMPERS> bem definida. (Corpus 1 - Art. 3)

Após o etiquetamento dos tipos de adjuntos modais nos corpora, passei às seguintes etapas de análise:

Etapa 6 - Levantamento quantitativo das etiquetas através da ferramenta WordList.

Etapa 7 - Realização do cálculo percentual dos adjuntos modais e suas ocorrências em relação ao total de palavras e ao total de palavras não repetidas do corpus 1.

Etapa 8 - Realização do cálculo percentual dos tipos de adjuntos em relação ao total de adjuntos do corpus 1.

Etapa 9 - Realização da lista de Consistência Detalhada, do corpus 1, que permite visualizar a distribuição dos adjuntos modais e seus tipos em cada artigo separadamente. Esta lista é realizada dentro do ambiente da ferramenta WordList.

Etapa 10 - Realização do cálculo percentual dos adjuntos modais e suas ocorrências em relação ao total de palavras e ao total de palavras não repetidas do corpus 2.

Etapa 11 - Realização do cálculo percentual dos tipos de adjuntos em relação ao total de adjuntos do corpus 2.

Etapa 12 - Realização da lista de Consistência Detalhada, do corpus 2, que permite visualizar a distribuição dos adjuntos modais e seus tipos em cada artigo separadamente. Esta lista é realizada dentro do ambiente da ferramenta WordList.

Etapa 13 - Realização do cálculo percentual dos adjuntos modais e suas ocorrências em relação ao total de palavras e ao total de palavras não repetidas do corpus 3.

Etapa 14 - Realização da lista de Consistência Detalhada, do corpus 3, que permite visualizar a distribuição dos adjuntos modais e seus tipos em cada artigo separadamente. Esta lista é realizada dentro do ambiente da ferramenta WordList.

Etapa 15 - Construção de um quadro comparativo dos dados referentes aos corpora 1; 2 e 3.

Observando os dados

Antes de iniciarmos a análise propriamente dita, é importante lembrar o objetivo que guiou essa investigação: mapear e analisar os adjuntos modais realizados por advérbios simples que, de forma mais relevante, constroem significados interpessoais de posicionamento e avaliação da autoria em exemplares de artigos experimentais, teóricos e de artigos de revisão de literatura.

Assim, com base em Swales (2004), constituí três corpora de análise, a saber: corpus 1, constituído por dez exemplares de artigos experimentais (AE); corpus 2, constituído por dez exemplares de artigos teóricos (AT) e corpus 3, composto por dez exemplares de artigos de revisão de literatura (AR). Nesse momento de análise, tomei como base para a categorização dos exemplares dois critérios centrais: os diferentes propósitos realizados pelos artigos e a diferente distribuição de suas unidades de informação.

Chamei aqui de artigo experimental (AE), com base em Swales (2004), aqueles que apresentaram como objetivo central a análise de dados de qualquer natureza e, portanto, construíram necessariamente a unidade retórica de Análise e Discussão dos Dados. Vejamos como se caracterizaram os dez artigos experimentais analisados quanto à distribuição de suas unidades retóricas:


Como é possível perceber por meio do Quadro 1, todos os exemplares do corpus 1 apresentaram unidades destacadas para análise de dados. Os artigos AE5, AE7 e AE9 não apresentaram uma unidade destacada para Revisão de Literatura, uma vez que os pressupostos teóricos estão ou na unidade de Introdução e/ou inseridos na unidade retórica de Resultados e Discussão dos Dados. Os artigos AE1, AE2, AE3, AE7 e AE9 não apresentaram tópico destacado para Metodologia, uma vez que informações metodológicas foram apresentadas na unidade retórica Introdução.

O corpus 2, por sua vez, foi aquele constituído por artigos cujo objetivo central consistiu em realizar uma discussão prioritariamente teórica, sem, necessariamente, recorrer à análise de dados. Isto pode ser mais facilmente percebido através dos trechos retirados das Introduções de exemplares do corpus:


Com exceção do AT11, que apresenta um tópico destacado no qual o autor faz uma análise de um texto a título de exemplificação da discussão teórica, nos demais exemplares analisados não houve uma unidade de Análise e Discussão de Dados destacada. Não considerei o AT11 como artigo experimental porque o objetivo central do artigo não consistia na análise de dados, não havia corpus constituído. O texto analisado nesse artigo foi utilizado somente para exemplificar os elementos da discussão teórica proposta, não havendo, pois, um objetivo de investigação de dados propriamente ditos. Vejamos, então, a distribuição das unidades retóricas dos exemplares que compuseram o corpus 2:


É importante salientar, ainda, que a unidade retórica, geralmente identificada como Revisão de Literatura, na verdade cumpriu objetivos distintos nos exemplares do corpus 2 aqui analisados, uma vez que, em alguns exemplares, discutiu a adequação de conceitos; em outros, controvérsias entre campos teóricos, ou, ainda, o repensar de determinadas concepções teóricas. Por este motivo, substituí a expressão Revisão de Literatura por Discussão Teórica.

Vale ressaltar, ainda, que em dois dos exemplares (AT13 e AT19), os autores se valeram de exemplos para ilustrar a discussão teórica, sem, no entanto, destacá-los em uma unidade retórica dirigida somente à análise. Os exemplos são discutidos à medida que a discussão teórica se desenrola. Outra observação relevante diz respeito ao fato de que tais exemplos não constituem um corpus de análise. São, na verdade, exemplos avulsos.

Por fim, vejamos os objetivos e o comportamento retórico dos Artigos de Revisão (corpus 3), conforme denominação de Swales (2004). O corpus 3 de análise foi constituído por exemplares de artigos cujo objetivo central consistiu em apresentar um panorama histórico de uma determinada área de estudo, como podemos perceber por meio dos excertos que seguem:


Vejamos como estão distribuídas as informações nos exemplares do corpus 3:


É interessante observar que alguns desses exemplares não apresentaram o tópico de Introdução, iniciando diretamente pelo levantamento histórico. São os casos dos artigos AR24, AR26 e AR28. Outra observação interessante diz respeito à finalização dos exemplares. Nos exemplares dos artigos experimentais (corpus 1) e teóricos (corpus 2), a última unidade retórica sempre recebeu a denominação ou de Considerações Finais ou de Conclusão, mas nos artigos de revisão, essa unidade retórica recebeu denominações bastante diversas, tais como: Um balanço final; Avaliação/Perspectivas; Proliferação de teorias: crise na semântica?, Encerrando, etc.

Observando os quadros 1, 2 e 3, podemos perceber alguns indicadores:

• O artigo experimental parece caracterizar-se, principalmente, por: objetivar a análise e discussão de dados, constituídos para fins de investigação; por apresentar, necessariamente, a seção de Resultados e Discussão na organização retórica de seus exemplares; e por apresentar, também necessariamente, informações metodológicas que podem ou não vir em uma unidade retórica destacada.

• Os artigos teóricos e os artigos de revisão parecem apresentar distribuição retórica bastante similar, uma vez que, diferentemente dos artigos experimentais, não apresentam as unidades retóricas de Metodologia e Resultados e Discussão dos Dados. Por outro lado, são distintos quanto aos objetivos que movem a produção de seus exemplares.

É certo que tais afirmações são hipóteses lançadas a partir de um número de exemplares ainda bastante restrito e carecem, necessariamente, de uma observação a partir de um corpus bem mais amplo. No entanto, este não é o objetivo desta pesquisa.

Assim, tendo verificado que há diferenças retóricas entre os tipos de artigos, cabe inquirir se a forma como os(as) autores(as) constroem recursos interpessoais de posicionamento e avaliação também é ou não distinta. Assim, para tentar responder a essa questão, passemos ao mapeamento dos adjuntos modais nos corpora 1, 2 e 3.

Iniciarei a apresentação desse mapeamento a partir dos advérbios que realizaram a função de adjuntos modais e suas respectivas classificações nos corpora 1, 2 e 3.


O quadro anterior nos mostra que os adjuntos de validade e intensidade foram os que apresentaram maior diversidade quanto aos advérbios utilizados para realizá-los, sendo que a função de adjunto de validade foi realizada por 48 advérbios distintos e a de adjunto modal de intensidade por 33 advérbios distintos. Os adjuntos de polaridade, apesar de terem sido os mais relevantes em termos de ocorrência, foram realizados por apenas três advérbios distintos, o que era esperado, pois os recursos de polaridade são limitados nas línguas.

A importância deste quadro demonstrativo diz respeito, principalmente, ao mapeamento dos advérbios que em português brasileiro podem realizar a função de adjunto modal com suas respectivas classificações. É certo, porém, que tal realização irá depender, sobremaneira, dos contextos nos quais esses advérbios figurarem.

Passemos, agora, aos resultados sobre a frequência e a distribuição dos adjuntos modais em cada um dos corpora para depois realizarmos a comparação entre tais resultados. Comecemos pelas tabelas 1, 2 e 3 que nos mostram os resultados referentes ao corpus 1 (Dez Artigos Experimentais completos).

Como observamos na Tabela 1, os advérbios que funcionam como adjuntos modais nos exemplares dos artigos experimentais correspondem a 11.78% do total de palavras não repetidas desse corpus. O percentual bastante significativo se deve, principalmente, à utilização, por parte dos(as) autores(as), dos adjuntos modais de polaridade, de intensidade, de validade, de usualidade e de probabilidade, respectivamente (Ver Tabela 2). Isto significa que os(as) autores(as) constroem os significados interpessoais de avaliação e posicionamento utilizando adjuntos modais por meio de advérbios, prioritariamente, ao construírem negações, ao indicarem o grau de intensidade com que proferem suas proposições, ao delimitarem o campo de validade a partir do qual o conteúdo proposicional é válido, ao indicarem a frequência ou regularidade a partir da qual o(a) leitor(a) deve considerar o conteúdo da proposição e ao indicarem o grau de certeza ou dúvida a partir do qual o conteúdo proposicional é apresentado.

Ao visualizarmos a Tabela 3 abaixo, percebemos que os adjuntos de polaridade, intensidade, validade, usualidade foram utilizados por todos os(as) autores(as) dos artigos; os adjuntos de probabilidade, suposição e obviedade foram utilizados por mais da metade dos(as) autores(as); os adjuntos de avaliação, persuasão e tempo foram utilizados por metade dos(as) autores(as) e, por fim, os adjuntos de predição, desejo e tipicidade, por menos da metade dos(as) autores(as).

As tabelas 4, 5 e 6 que vêm a seguir revelam tais resultados em relação aos exemplares dos artigos teóricos (corpus 2). Vejamos.

A Tabela 4 nos mostra que os adjuntos modais correspondem a 11.74% do total de palavras não repetidas dos exemplares de artigos teóricos (corpus 2) e que esse percentual deve-se, prioritariamente, ao uso dos adjuntos modais de polaridade, intensidade, validade, tempo e usualidade. (Ver Tabela 5)

Ao observarmos a Tabela 6, percebemos, ainda, que esses adjuntos foram recursos utilizados em todos os exemplares dos artigos, mas também o foram os adjuntos de probabilidade. Quanto à distribuição entre os exemplares dos artigos, também merecem atenção os adjuntos de suposição e obviedade que figuraram, respectivamente, em oito e cinco exemplares do corpus 2.

Quanto ao corpus 3 (Artigos de Revisão), observemos as tabelas 7, 8 e 9, apresentadas abaixo.

Na Tabela 7, verificamos que o percentual de adjuntos modais corresponde a 9.61% do total de palavras não repetidas do corpus e que este percentual deve-se, particularmente, aos adjuntos de polaridade, intensidade, tempo e validade, respectivamente.

Observando a Tabela 9, percebemos, ainda, que tais adjuntos figuraram em 100% dos exemplares, assim como também os adjuntos de usualidade, que, apesar da baixa frequência, foram utilizados como recurso interpessoal em todos os exemplares do corpus 3. Vale, ainda, salientar que os adjuntos de probabilidade e suposição foram utilizados em mais da metade dos artigos e que o adjunto de avaliação foi utilizado em, exatamente, metade dos artigos.

Com esses resultados em mãos, verifiquemos comparativamente, a partir da Tabela 10, a utilização dos adjuntos modais nos três corpora analisados.

Como podemos visualizar, os artigos experimentais e teóricos apresentaram, praticamente, o mesmo percentual de adjuntos modais em contraste com o percentual apresentado pelos artigos de revisão, que apesar de, significativamente, maiores em extensão, utilizaram em menor escala os adjuntos modais realizados por advérbios simples como recurso interpessoal de posicionamento.

Outra observação interessante diz respeito aos tipos de adjuntos que foram mais recorrentes em cada um dos corpora, uma vez que nos artigos experimentais e teóricos, os três adjuntos mais relevantes quanto ao quesito frequência foram os de polaridade, intensidade e validade, respectivamente. Por outro lado, os adjuntos mais recorrentes nos artigos de revisão foram os adjuntos de polaridade, intensidade e tempo. Também chama a atenção o fato de que os adjuntos de probabilidade somente figuraram, como relevantes em termos de sua frequência, entre os artigos experimentais. Talvez isto tenha relação com a concentração desse tipo de adjunto na seção de Resultados e Discussão dos Dados, própria desses artigos.

Considerações finais

Os dados encontrados parecem sugerir que os artigos experimentais e teóricos assemelham-se em relação ao uso de adjuntos modais como recurso de construção do posicionamento da autoria, tanto no que diz respeito ao percentual de utilização dos adjuntos modais de uma forma geral, quanto no que diz respeito aos tipos de adjuntos que foram mais utilizados pelos(as) autores(as). Os artigos de revisão, apesar de maiores em extensão, utilizam em menor proporção do que os artigos experimentais e teóricos os adjuntos modais realizados por advérbios simples. Isto pode indicar que os artigos de revisão permitem em menor grau a construção de significados de posicionamento e avaliação da autoria, uma vez que têm como objetivo central apresentar o percurso histórico de um campo teórico, sem exigir o uso recorrente de estratégias interpessoais de posicionamento da autoria em prol do convencimento do público-alvo. Os artigos experimentais e teóricos, por outro lado, têm como objetivos centrais convencer o(a) leitor(a) acerca do acerto e da validade das hipóteses apresentadas pelos(as) autores(as) e dos argumentos que as sustentam, requisitando, pois, com maior relevância o uso de estratégias para construção de significados interpessoais e dos adjuntos modais por consequência.

Quanto aos tipos de adjuntos que mais foram utilizados pelos(as) autores(as) dos artigos, podemos sugerir que, de uma forma geral, os(as) autores(as) dos artigos experimentais, teóricos e de revisão utilizaram o recurso da negação e do grau de intensificação sobre o conteúdo proposicional como as duas estratégias mais recorrentes para a construção do posicionamento da autoria por meio do uso de adjuntos modais. Por outro lado, os artigos experimentais e teóricos também apresentaram com bastante recorrência o uso dos adjuntos de validade que circunscrevem o campo de validação do conteúdo proposicional. Os artigos de revisão, por sua vez, apresentaram os adjuntos modais de tempo como o terceiro tipo de adjunto mais significativamente utilizado pelos(as) autores(as). É válido, ainda, ressaltar que somente os artigos experimentais apresentaram um percentual significativo de adjuntos modais de probabilidade, e apenas os artigos teóricos apresentaram um percentual significativo de adjuntos modais de suposição.

Apesar de os artigos teóricos e de revisão de literatura se assemelharem no que diz respeito à sua organização retórica, uma vez que apresentam as unidades retóricas Introdução, Revisão de Literatura e Considerações finais, mas não apresentam as unidades retóricas de Metodologia e Resultados e Discussão dos Dados, como o fazem os artigos experimentais, estes artigos parecem diferenciar-se no que diz respeito ao uso de recursos interpessoais de construção de posicionamento e avaliação da autoria. Quanto a esse quesito, os artigos teóricos se aproximam, sobremaneira, dos artigos experimentais. Assim, podemos inferir que os artigos experimentais e teóricos permitem e, diríamos, requisitam maior utilização de significados interpessoais de posicionamento da autoria do que os artigos de revisão de literatura.

Desta maneira, os resultados sugerem a confirmação de que os artigos experimentais, teóricos e de revisão diferem não somente quanto aos seus objetivos e organização retórica, mas também quanto aos recursos utilizados pelos(as) autores(as) para construir significados interpessoais.

De uma forma geral, os percentuais de frequência dos adjuntos modais nos corpora referendam a ideia de que o discurso científico não se constitui simplesmente em um espaço para apresentação de informações. Esse discurso é, antes de tudo, um espaço de construção e negociação de significados, de alianças e disputas entre pares de uma cultura disciplinar.

Recebido em 20/3/2012

Aprovado em 1/6/2012

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  • 1
    Tradução de minha responsabilidade.
  • 2
    Ferramenta do programa
    WordSmith Tools. O programa
    WordSmith Tools foi desenvolvido por Mike Scoot e publicado pela Oxford University Press. O programa coloca à disposição do analista uma série de recursos úteis para análise da linguagem. As principais ferramentas são
    WordList;
    KeyWords e
    Concord. As funções principais das ferramentas são: 1) Lematização - agrupamento de duas ou mais formas diferentes em um mesmo item; 2) Classificação - ordenação de listas e concordâncias por ordem alfabética, frequencial e de posição; 3) Delimitação - escolha de que partes do
    corpus serão lidas pelo programa.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      24 Ago 2012
    • Data do Fascículo
      Set 2012

    Histórico

    • Recebido
      20 Mar 2012
    • Aceito
      01 Jun 2012
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