Resumo
Para verter o dístico elegíaco latino, algumas traduções poéticas metrificadas de obras ovidianas em língua portuguesa têm demonstrado certa preferência pelo dístico vernáculo, engendrado por Péricles Eugênio da Silva Ramos (1964), composto por verso alexandrino sucedido de decassílabo. Seguindo este modelo, apresentamos nossa proposta de transposição criativa para a carta de Fílis a Demofonte (Ep. 2), elaborada com base nas considerações de alguns tradutores-poetas que se serviram deste mesmo arranjo e nos pressupostos teórico-metodológicos norteadores da prática da tradução poética, segundo Roman Jakobson (1969), Samuel Levin (1978) e José Paulo Paes (2008).
Palavras-chave
Ovídio; Heroides; Dístico Elegíaco Latino; Tradução Poética
Abstract
To translate the Latin elegiac couplet, some metrified poetic translations of Ovidian works into Portuguese have shown a preference for the vernacular couplet created by Péricles Eugênio da Silva Ramos (1964). This couplet is formed by combining one Alexandrine verse followed by a decasyllable. Following this model, we present our proposal of a creative transposto of the letter of Phyllis to Demophoon (Ep. 2), based on the considerations of some poet translators that used the same arrangement and on the theoretical and methodological basis of the practice of poetic translation according to Roman Jakobson (1969), Samuel Levin (1978) and José Paulo Paes (2008).
Keywords
Ovid; Heroides; Latin Elegiac Couplet; Poetic Translation
Introdução
Desde o início deste século, dentre as dez obras que configuram o corpus tradicional ovidiano2 2 Para citarmos apenas dois críticos, Gian Biagio Conte (1999) e Peter Knox (2009) reconhecem como autênticas as seguintes obras: Heroides, Amores, Ars amatoria, Medicamina faciei femineae, Remedia amoris, Metamorphoses, Fasti, Tristia, Epistulae ex Ponto e Ibis. , pelo menos cinco já foram traduzidas para o português em versão poética3 3 Os cinco primeiros livros das Metamorphoses (Carvalho, 2010); Medicamina faciei femineae (Fernandes, 2012); Amores (Duque, 2015), Fasti (Gouvêa Júnior), Ibis (Melo, 2019), além de Nux e Halieutica, considerados espúrios ou duvidosos conforme o estudo de Peter Knox (212). . As Heroides, contudo, ainda aguardam o seu momento.4 4 Até onde sabemos, há quatro traduções completas, em prosa: Walter Vergna (1975), Simone Ligabo Gonçalves (1998), Dunia Marinho Silva (2003), Carlos Ascenso André (2015).
Constituída por vinte e uma epístolas, forjadas em dísticos elegíacos, que perfazem dois grandes blocos – um com quinze cartas de personagens mitológicas que escrevem aos seus amados, reclamando de sua ausência, e outro com mais seis5 5 Sendo três delas escritas por homens (Páris, Leandro e Acôncio), seguidas das respostas de Helena, Hero, e Cídipe (Her. 16, 17, 18, 19, 20 e 21, respectivamente). –, a obra Heroides é a terceira maior de Ovídio, em termos de quantidade de versos6 6 Metamorphoses, 11.956 versos; Fasti, 4.972; Heroides, 3.980. , ficando atrás somente das Metamorphoses e dos Fasti.
Embora não exista um manual que prescreva regras específicas para a tradução dos versos latinos, acreditamos que uma versão poética das Heroides poderia coadunar-se aos modelos com que o dístico elegíaco vem sendo explorado a contento em língua portuguesa por vários tradutores. Quanto a isso, João Angelo Oliva Neto sugere um paradigma, criado em 1964 por Péricles Eugênio da Silva Ramos, com o qual o tradutor paulista verteu a Elegia 2.27 de Propércio.
Silva Ramos elaborou um rigoroso dístico vernáculo, composto de alexandrino perfeito7 7 Para ser considerado alexandrino perfeito, (ou clássico), o dodecassílabo precisa atender a três prescrições: 1) quando a última palavra do primeiro hemistíquio de seis sílabas é grave (paroxítona), a primeira palavra do segundo deve começar por uma vogal ou por ‘h’; 2) a última palavra do primeiro hemistíquio nunca pode ser esdrúxula (proparoxítona); 3) se for aguda (oxítona) a última palavra do primeiro hemistíquio, a primeira do segundo pode começar por qualquer letra, vogal ou consoante (Bilac; Passos 68). e decassílabo heroico8 8 Com apoio rítmico na 6ª e 10ª sílabas. . De acordo com Oliva Neto, esse modelo tem o “poder de reproduzir a katálexis, isto é, a supressão de sílabas do pentâmetro datílico em relação ao hexâmetro datílico” (Oliva Neto (a) 151Oliva Neto, João Angelo. “À guisa de introdução: tendências recentes na tradução de poesia grega e latina no Brasil”. Cadernos de literatura em tradução, São Paulo. Org. João Angelo Oliva Neto. FFLCH, 2015(a).). Segundo o estudioso:
Embora o decassílabo heroico e o sáfico não sejam variação de alexandrino, digamos provisoriamente que o emparelhamento destes versos desiguais contém alguma semelhança rítmica com o dístico antigo, que não deixa de ser formado de verso longo seguido de um mais breve do que ele
(idem, 152).
Seguindo esse modelo, Marcelo Vieira Fernandes (2012)Fernandes, Marcelo Vieira. “A poesia didática elegíaca e a poesia elegíaca didática dos Medicamina de Ovídio, e Ovídio, Produtos para a beleza feminina: tradução poética”. In: Garraffoni, Renata Senna (ed.). Classica, revista brasileira de estudos clássicos. Vol. 25. n. 1/2. São Paulo: Annablume, 2012, p. 251-267. traduziu os 50 dísticos do poema Medicamina faciei feminae, cujo título em português foi Produtos para a beleza feminina9 9 Anexa ao artigo “A poesia didática elegíaca e a poesia elegíaca didática dos Medicamina de Ovídio”, publicado na revista brasileira Classica de estudos literários. . Apesar de o tradutor não ter feito qualquer comentário a respeito de sua versão poética, a desenvoltura com que manuseou alexandrinos clássicos e decassílabos heroicos10 10 Dentre os 50 dodecassílabos, somente 11 não são alexandrinos perfeitos (v. 5, 11, 13, 17, 25, 27, 33, 43, 63, 77 e 81). Quanto aos 50 decassílabos, todos são heroicos (exceto o v. 12, que é sáfico, isto é, tem apoio rítmico na quarta oitava e décima sílaba). pode ser exemplificada com esta passagem dos Medicamina (47-56):
Et ueniet rugis altera causa dolor.
Sufficit et longum probitas perdurat in aeuum,
Perque suos annos hinc bene pendet amor.
Disce age, cum teneros somnus dimiserit artus,
Candida quo possint ora nitere modo.
Hordea, quae Libyci ratibus misere coloni,
Exue de palea tegminibusque suis.
Par erui mensura decem madefiat ab ouis:
Sed cumulent libras hordea nuda duas.
outra razão de rugas essa pena.
A virtude é bastante e dura longo tempo,
e, enquanto dura, dela o amor depende.
Vê como, o sono assim que deixa o tenro corpo,
pode raiar nas faces a brancura.
Pega a cevada que por mar os líbios mandam,
tira-lhe toda a palha e mais a casca.
Tanto igual de ervilhaca ovos dez umedeçam,
tendo a cevada nua duas libras.
Na mesma esteira, Márcio Meirelles Gouvêa Júnior (2015)Gouvêa Júnior, Márcio Meirelles. “Fastos de Ovídio: uma introdução”. In: Ovídio. Fastos. Tradução de Márcio Meirelles Gouvêa Júnior; revisão da tradução Júlia Batista Castilho de Avellar. 1. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2015. procurou traduzir a parelha elegíaca, em sua versão bilíngue integral dos Fasti, fazendo com que algo da proporção do modelo rítmico original, composto pela repetição dos seis e cinco pés métricos latinos, ressoasse na sequência das doze e dez sílabas, sem pretender, ao contrário de Silva Ramos, que todos os ictos11 11 Dá-se o nome icto (apoio rítmico) às tônicas predominantes ou mais intensas de um verso (Tavares, 1996, p. 168). de seus versos correspondessem aos do alexandrino clássico e decassílabo heroico. Justificando sua escolha, ele diz o seguinte:
A opção preferencial pelos dodecassílabos e decassílabos com cesura marcada nas sextas sílabas, ou na quarta, oitava e décima segunda sílaba, propõe a fluidez da leitura, de modo que os dísticos recompostos na tradução compõem-se da sucessão de três blocos de seis sílabas seguidas por um de quatro, encerrando ritmicamente a ideia normalmente encapsulada na forma métrica da elegia
(Gouvêa Júnior 25Gouvêa Júnior, Márcio Meirelles. “Fastos de Ovídio: uma introdução”. In: Ovídio. Fastos. Tradução de Márcio Meirelles Gouvêa Júnior; revisão da tradução Júlia Batista Castilho de Avellar. 1. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2015.).
Para ilustrar a tradução de Gouvêa Júnior, selecionamos o excerto abaixo (Fast. 3.839-848) em que Ovídio tece elucubrações etimológicas acerca do nome do templo de Minerua Capta, situado em Roma, próximo ao monte Célio. Os grifos no texto latino são nossos, mas os da versão portuguesa são do próprio tradutor:
ingenium sollers: ingeniosa dea est.
An quia de capitis fertur sine matre paterni
uertice cum clipeo prosiluisse suo?
An quia perdomitis ad nos captiua Faliscis
uenit? Et hoc signo littera prisca docet.
An quod habet legem, capitis quae pendere poenas
ex illo iubeat furta recepta loco?
A quacumque trahis ratione uocabula, Pallas,
pro ducibus nostris aegida semper habe.
e engenhosa dizemos que é a deusa;
ou por sair sem mãe da cabeça do pai,
quando do alto surgiu com seu escudo;
ou porque nos chegou captiva co’os faliscos,
como antiga inscrição assim ensina;
ou porque existe a lei com pena capital
que castiga quem furta aquele templo?
Qualquer que seja a razão da palavra, ó Palas,
protege sempre os nossos capitães.
O trecho acima atende quase que inteiramente à formatação rítmica do dístico vernáculo elaborado por Silva Ramos, excetuando-se apenas o penúltimo verso, que tem o apoio rítmico 4-7-12.
É também de 2015 a tradução poética integral dos Amores, de Guilherme Horst Duque, que, em dissertação de mestrado, engrossou as fileiras daqueles que optaram pela sequência de dodecassílabos e decassílabos portugueses para a transposição dos dísticos elegíacos latinos. Cônscio de que seu trabalho se insere numa prolífica linhagem, Duque ressalta que:
Foi este o esquema métrico empregado por Oliva Neto (1996)Oliva Neto, João Angelo. “À guisa de introdução: tendências recentes na tradução de poesia grega e latina no Brasil”. Cadernos de literatura em tradução, São Paulo. Org. João Angelo Oliva Neto. FFLCH, 2015(a). na tradução dos poemas de Catulo escritos em versos elegíacos, assim como por Guilherme Gontijo Flores (2014)Duque, Guilherme Horst. Do pé à letra: os Amores de Ovídio em tradução poética. Dissertação de mestrado – UFES, 2007. na tradução das elegias de Propércio e por João Paulo Matedi na recentemente concluída e ainda inédita tradução das elegias de Tibulo12 12 Em listagem semelhante, Oliva Neto ((b) 158) menciona mais quatro tradutores: Robson Tadeu Cesila (2008), Fábio Paifer Cairolli (2009) e Alexandre Agnolon (2014) ao traduzirem Marcial (2009), e Daniel de Melo Serrano (2013) ao traduzir Tibulo. . Se pensarmos ainda nos tradutores que empregaram o dodecassílabo na transposição dos hexâmetros datílicos, a tradução dos Amores que ora apresento se insere em uma tradição mais ou menos estabelecida, e, ao fazê-lo, se difere fundamentalmente das traduções integrais já existentes em língua portuguesa. Quanto aos acentos dos dodecassílabos, o único critério que usei foi evitar a quinta e sétima sílabas. Os decassílabos, por outro lado, são todos ou heroicos ou sáficos
(Duque 26Duque, Guilherme Horst. Do pé à letra: os Amores de Ovídio em tradução poética. Dissertação de mestrado – UFES, 2007.).
Uma sucinta parcela de seu esmerado trabalho pode ser notada no seguinte trecho dos Amores, 2.1.1-10:
ille ego nequitiae Naso poeta meae.
hoc quoque iussit Amor procul hinc, procul este, seuerae!
non estis teneris apta theatra modis.
me legat in sponsi facie non frigida uirgo,
et rudis ignoto tactus amore puer;
atque aliquis iuuenum quo nunc ego saucius arcu
agnoscat flammae conscia signa suae,
miratusque diu ‘quo’ dicat ‘ab indice doctus
conposuit casus iste poeta meos?’
eu, o Nasão, poeta das malícias;
também este ordenou-me Amor; fora, severas!
Não sois plateia apta a versos leves.
Leia-me a virgem diante do noivo não frígida,
o moço simples por novo Amor tocado;
que algum jovem, ferido pelo mesmo arco,
reconheça os sinais da sua chama
e diga admirado: “quais indícios ensinaram
tal poeta a compor meus infortúnios?”
Apesar de Jakobson ter lançado alguma luz sobre a possibilidade de tradução de poesia com o conceito de “transposição criativa”, que seria uma “transposição interlingual de uma forma poética a outra” (Jakobson 72Jakobson, Roman. Linguística e comunicação. Tradução de Blikstein e José Paulo Paes. São Paulo: Cultrix, 1969.), o linguista não explicou em maior detalhe essa fórmula com a qual estaria resolvido o paradoxo da versão poética. No entanto, José Paulo Paes retomou e desdobrou o conceito, preceituando que, mesmo estando sempre limitado pelos parâmetros do texto com que se avém, a transposição criativa, ou recriação, “possibilita ao tradutor dispor de um espaço de manobra onde possa criativamente desenvolver a sua busca por equivalentes ou aproximações” (Paes, 2008Paes, José Paulo. Tradução, a ponte necessária: aspectos e problemas da arte de traduzir. São Paulo: Ática, 2008., p. 36).
Argumentando que a poesia seja uma espécie de antiprosa por excelência, o referido autor, baseado na obra de Jean Cohen (1978)Cohen, Jean. Estruturas da linguagem poética. Tradução de A. Lorencini e A. Arnichand. São Paulo: Cultrix, 1978., diz que tal caráter antitético lhe é conferido pela presença de “operadores poéticos”, como o duplo sentido, o metro, a rima, a anáfora, a inversão, a metáfora etc. A função primordial desses operadores é perturbar a estruturação lógica do discurso, ou seja, o encadeamento linear de suas ideias, “obrigando-o a voltar-se sobre si mesmo, num processo circular de perda e recuperação de significado” (Paes 37Paes, José Paulo. Tradução, a ponte necessária: aspectos e problemas da arte de traduzir. São Paulo: Ática, 2008.).
Em se tratando da tradução poética, mais do que transpor o significado conceitual do texto fonte, é necessário observar e tentar reproduzir as perturbações da linearidade de seus significados, gerada pela ação dos operadores poéticos nele presentes. É daí que advém a noção de “acoplamento”, postulada por Samuel Levin (38)Levin, Samuel. Estruturas linguísticas em poesia. Tradução de J. P. Paes. São Paulo: Cultrix, 1978. e entendida como “as formas verbais equivalentes pelo significado ou sonoridade que ocorram nas mesmas posições em versos diferentes de um poema”.
Antes de apresentarmos nossa proposta de transposição criativa, à guisa de exemplo, citaremos alguns acoplamentos que conseguimos efetuar mais ostensivamente na tradução da carta de Fílis a Demofonte.
Ao criticar a má conduta do amante, que não retornou dentro do prazo prometido, Fílis reproduz uma assonância13 13 Figura de harmonia que ocorre por meio de uma sequência de vozes e sílabas semelhantes (Tavares 217). da sílaba “ue” que envolve todo o dístico 25-26, conforme abaixo:
Vela queror reditu, uerba carere fide.
estas não voltam e aquele não tem crédito.
Na tradução, manteve-se o vocativo em posição inicial de verso, mas apenas três das cinco repetições de “ve”. Em contrapartida, as palavras “estas” e “aquele” retomam os vocábulos uela e uerba, garantindo a manutenção da espécie de epánodo14 14 Consiste no desagregar e repetir em separado qualquer expressão ou ideia anteriormente expressa, desenvolvendo-lhe o sentido (Tavares 333). subjacente a essa figura de harmonia.
Mais adiante, Fílis relembra o quanto ela e Demofonte choraram no momento em que este ia partir, quando o tempo estava favorável à viagem marítima. A plasticidade verbal com que a heroína descreve as reações físicas do pranto é patenteada pela epizeuxe15 15 Conhecida também como “reduplicação”, é a repetição seguida de um mesmo vocábulo (Tavares 334). da palavra lacrima, como se segue:
Quodque foret uelis aura secunda queri
porque propícia estava a brisa às velas.
Finalizando, vale mencionar o último dístico do poema (147-148), no qual, por meio de um epánodo, Fílis concebe um tipo de epílogo patético16 16 A função principal do epílogo é a apelação aos sentimentos de compaixão, que pode ser brando e reflexivo, como ocorre no epílogo ético, ou afetado e comovente, como no epílogo patético (Carmona 106-107). , do seguinte modo:
Ille necis causam praebuit, ipsa manum”.
ela deu-lhe a mão; ele a causa mortis”
Além de conservar os dois nomes próprios na primeira metade do verso, manteve-se também o epánodo, já que os vocábulos “Fílis” e “Demofonte” são tomados juntos e, no verso seguinte, desdobram-se individualmente pelos anafóricos. Optamos pelo sintagma causa mortis para transpor necis causam praebuit, tanto por nos parecer que esta é uma expressão de uso comum como pelo tom lapidar dela emanado, o que contribui para o desfecho solene e fúnebre com que o epitáfio encerra a epístola.
Passemos então à tradução integral da carta, feita a partir da edição do texto latino estabelecido por Henri Bornecque (1928).
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A tradução para o inglês deste resumo é contribuição de Matthew Wayne Farr e Leni Ribeiro Leite, a quem cumpre registrar os nossos sinceros agradecimentos.
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Para citarmos apenas dois críticos, Gian Biagio Conte (1999) e Peter Knox (2009)Knox, Peter E. A companion to Ovid. Blackwell, 2009. reconhecem como autênticas as seguintes obras: Heroides, Amores, Ars amatoria, Medicamina faciei femineae, Remedia amoris, Metamorphoses, Fasti, Tristia, Epistulae ex Ponto e Ibis.
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Os cinco primeiros livros das Metamorphoses (Carvalho, 2010); Medicamina faciei femineae (Fernandes, 2012Fernandes, Marcelo Vieira. “A poesia didática elegíaca e a poesia elegíaca didática dos Medicamina de Ovídio, e Ovídio, Produtos para a beleza feminina: tradução poética”. In: Garraffoni, Renata Senna (ed.). Classica, revista brasileira de estudos clássicos. Vol. 25. n. 1/2. São Paulo: Annablume, 2012, p. 251-267.); Amores (Duque, 2015Duque, Guilherme Horst. Do pé à letra: os Amores de Ovídio em tradução poética. Dissertação de mestrado – UFES, 2007.), Fasti (Gouvêa Júnior), Ibis (Melo, 2019Melo, João Victor Leite. Tradução poética de Ibis, Nux e Halieutica: três poemas de uma suposta quarta fase ovidiana. Dissertação de mestrado em Letras – Estudos Literários. UFJF, 2019.), além de Nux e Halieutica, considerados espúrios ou duvidosos conforme o estudo de Peter Knox (212)Knox, Peter E. A companion to Ovid. Blackwell, 2009..
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Até onde sabemos, há quatro traduções completas, em prosa: Walter Vergna (1975)Vergna, Walter. Heroides: a concepção do amor em Roma através da obra de Ovídio. Rio de Janeiro: Museu de Armas Ferreira da Cunha, 1975., Simone Ligabo Gonçalves (1998)Gonçalves, Simone Ligabo. As Heroides de Ovídio: uma tradução integral. Dissertação de mestrado em Letras Clássicas – USP, 1998., Dunia Marinho Silva (2003)Ovídio. Cartas de amor: as Heroides. Tradução de Dunia Marinho Silva. Prefácio e notas de Jean-Pierre Néraudau. São Paulo: Landy, 2003., Carlos Ascenso André (2015)Ovídio. Heróides. Tradução de Carlos Ascenso André. Lisboa: Livros Cotovia, 2015..
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Sendo três delas escritas por homens (Páris, Leandro e Acôncio), seguidas das respostas de Helena, Hero, e Cídipe (Her. 16, 17, 18, 19, 20 e 21, respectivamente).
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Metamorphoses, 11.956 versos; Fasti, 4.972; Heroides, 3.980.
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Para ser considerado alexandrino perfeito, (ou clássico), o dodecassílabo precisa atender a três prescrições: 1) quando a última palavra do primeiro hemistíquio de seis sílabas é grave (paroxítona), a primeira palavra do segundo deve começar por uma vogal ou por ‘h’; 2) a última palavra do primeiro hemistíquio nunca pode ser esdrúxula (proparoxítona); 3) se for aguda (oxítona) a última palavra do primeiro hemistíquio, a primeira do segundo pode começar por qualquer letra, vogal ou consoante (Bilac; Passos 68Bilac, Olavo; Passos, Guimaraens. Tratado de Versificação. 3 ed. Rio de Janeiro: Editora Francisco Alves, 1918.).
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Com apoio rítmico na 6ª e 10ª sílabas.
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9
Anexa ao artigo “A poesia didática elegíaca e a poesia elegíaca didática dos Medicamina de Ovídio”, publicado na revista brasileira Classica de estudos literários.
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10
Dentre os 50 dodecassílabos, somente 11 não são alexandrinos perfeitos (v. 5, 11, 13, 17, 25, 27, 33, 43, 63, 77 e 81). Quanto aos 50 decassílabos, todos são heroicos (exceto o v. 12, que é sáfico, isto é, tem apoio rítmico na quarta oitava e décima sílaba).
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Dá-se o nome icto (apoio rítmico) às tônicas predominantes ou mais intensas de um verso (Tavares, 1996Tavares, Hênio. Teoria Literária. Belo Horizonte: Villa Rica, 1996., p. 168).
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12
Em listagem semelhante, Oliva Neto ((b) 158Oliva Neto, João Angelo. “11 poemas de Propércio (I, 1-11) traduzidos com o verdadeiro dístico elegíaco de Péricles Eugênio da Silva Ramos”. Cadernos de literatura em tradução, São Paulo. Org. João Angelo Oliva Neto. FFLCH, 2015(b).) menciona mais quatro tradutores: Robson Tadeu Cesila (2008), Fábio Paifer Cairolli (2009) e Alexandre Agnolon (2014) ao traduzirem Marcial (2009), e Daniel de Melo Serrano (2013) ao traduzir Tibulo.
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Figura de harmonia que ocorre por meio de uma sequência de vozes e sílabas semelhantes (Tavares 217Tavares, Hênio. Teoria Literária. Belo Horizonte: Villa Rica, 1996.).
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14
Consiste no desagregar e repetir em separado qualquer expressão ou ideia anteriormente expressa, desenvolvendo-lhe o sentido (Tavares 333Tavares, Hênio. Teoria Literária. Belo Horizonte: Villa Rica, 1996.).
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Conhecida também como “reduplicação”, é a repetição seguida de um mesmo vocábulo (Tavares 334Tavares, Hênio. Teoria Literária. Belo Horizonte: Villa Rica, 1996.).
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A função principal do epílogo é a apelação aos sentimentos de compaixão, que pode ser brando e reflexivo, como ocorre no epílogo ético, ou afetado e comovente, como no epílogo patético (Carmona 106-107Carmona, Alfonso Ortega. Oratória: a arte de falar em público. Tradução de Cláudio Aguiar. Rio de Janeiro: Calibán, 2003.).
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Demofonte é o filho de Teseu que, ao retornar do cerco de Troia, teve sua frota desviada por uma tempestade e aportou na Trácia, onde pôde gozar a hospitalidade que Fílis, filha do rei local, Licurgo, ofereceu-lhe. Aproveitando-se da ingenuidade da princesa, Demofonte tira-lhe a virgindade, prometendo casar-se com ela assim que retornasse de Atenas. Porém, findo o prazo combinado para o regresso à Trácia, ele não retorna e a heroína suicida-se (Higino, Fab. 49Higino. Fábulas. Introducción y traducción de Javier del Hoyo e José Miguel García Ruiz. Madrid: Gredos, 2009.). Com esta carta, Ovídio imagina Fílis escrevendo-lhe já certa de que não se cumprirão as promessas feitas.
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18
“Ródope” é uma cordilheira da Trácia, localizada ao norte da Grécia, que serve aqui como uma sinédoque para toda a região.
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19
“Sitônia” é outro nome para designar a Trácia, e “barcos áticos” refere-se às embarcações atenienses, nas quais Demofonte retornaria.
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20
Teseu é rei de Atenas e pai de Demofonte.
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21
Rio da Trácia.
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22
O avô de Demofonte é Netuno.
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23
Egeu é pai de Teseu.
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24
Todos esses personagens foram mortos por Teseu.
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25
Alusão à batalha entre lápitas e centauros, na qual participou Teseu (Met. 12.210-458).
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26
Outra alusão a um episódio protagonizado por Teseu, qual seja, sua descida ao Hades, com Pirítoo, para resgatar Perséfone.
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27
Trata-se de Ariadne, filha de Minos, rei de Creta, que foi raptada por Teseu e, depois, abandonada por ele na ilha de Naxos (Met. 8.174-175).
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28
“Aquela” retoma Ariadne, mencionada no verso 76. Após ter sido abandonada por Teseu, ela foi seduzida por Baco, cujo carro puxado por tigres é um de seus atributos (Met. 8.176-179).
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29
“Bistônia” equivale à própria Trácia. Os povos bistônios habitavam o sul do Ródope (Gonçalves 69 – nota 25Gonçalves, Simone Ligabo. As Heroides de Ovídio: uma tradução integral. Dissertação de mestrado em Letras Clássicas – USP, 1998.).
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30
Ródope e seu marido, Hemo, foram transformados em montanhas da Trácia, como punição pelo fato de usurparem o nome de Zeus e Hera (Met. 6.87-89).
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31
Os versos entre colchetes são considerados interpolados pelo editor do texto latino, Henri Bornecque (1928).
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32
Tisífone é uma das Erínias (Fúrias), assim como Aleto, que será citada no verso 119.
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33
Provavelmente, Fílis se refere à imagem dos deuses protetores da embarcação, que costumava ser pintada na popa dos navios, como será dito por Páris em sua carta a Helena (Ep. 16.113-114).
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34
Embora Fílis tenha aventado cinco possibilidades de suicídio – pular de um penhasco (131-133); afogar-se (135-136); tomar veneno (139); cravar uma espada em si mesma (140) e, finalmente, enforcar-se (141-142) – o modo pelo qual ela se matou não é revelado nesta carta, tampouco em outras obras ovidianas que também a mencionam, como os Remedia amoris (591-608) e a Ars amatoria (2.353-354; 3.37-40).
Referências
- Bilac, Olavo; Passos, Guimaraens. Tratado de Versificação 3 ed. Rio de Janeiro: Editora Francisco Alves, 1918.
- Carmona, Alfonso Ortega. Oratória: a arte de falar em público. Tradução de Cláudio Aguiar. Rio de Janeiro: Calibán, 2003.
- Cohen, Jean. Estruturas da linguagem poética Tradução de A. Lorencini e A. Arnichand. São Paulo: Cultrix, 1978.
- Duque, Guilherme Horst. Do pé à letra: os Amores de Ovídio em tradução poética Dissertação de mestrado – UFES, 2007.
- Fernandes, Marcelo Vieira. “A poesia didática elegíaca e a poesia elegíaca didática dos Medicamina de Ovídio, e Ovídio, Produtos para a beleza feminina: tradução poética”. In: Garraffoni, Renata Senna (ed.). Classica, revista brasileira de estudos clássicos Vol. 25. n. 1/2. São Paulo: Annablume, 2012, p. 251-267.
- Gonçalves, Simone Ligabo. As Heroides de Ovídio: uma tradução integral Dissertação de mestrado em Letras Clássicas – USP, 1998.
- Gouvêa Júnior, Márcio Meirelles. “Fastos de Ovídio: uma introdução”. In: Ovídio. Fastos Tradução de Márcio Meirelles Gouvêa Júnior; revisão da tradução Júlia Batista Castilho de Avellar. 1. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2015.
- Higino. Fábulas Introducción y traducción de Javier del Hoyo e José Miguel García Ruiz. Madrid: Gredos, 2009.
- Jakobson, Roman. Linguística e comunicação Tradução de Blikstein e José Paulo Paes. São Paulo: Cultrix, 1969.
- Knox, Peter E. A companion to Ovid Blackwell, 2009.
- Lausberg, Heinrich. Elementos de Retórica Literária Tradução de R. M. Rosado Fernandes. 6ª edição. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2011.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
08 Jun 2020 -
Data do Fascículo
Jan-Apr 2020
Histórico
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Recebido
13 Ago 2019 -
Aceito
17 Nov 2019 -
Publicado
Jan 2020