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Editorial

Chegar ao terceiro número anual de um periódico bilíngue é sempre uma grande alegria, uma enorme satisfação acadêmica, considerando-se, de maneira muito enfática, o desafio representado para os editores, tanto de língua portuguesa como inglesa, e para todas as pessoas nele envolvidas: autores e pareceristas, do Brasil e do Exterior, revisores, resenhistas, tradutores, diagramadores, especialistas no sistema de submissão e tramitação dos textos. E este v.12, n.3 (2017) não é diferente. No difícil momento vivido pelo país, além do empenho de todas as pessoas, seria impossível chegar à publicação do número sem o auxílio do MCTI/CNPq/MEC/CAPES e da PUC-SP, por meio do Plano de Incentivo à Pesquisa (PIPEq) / Publicação de Periódicos (PubPer-PUCSP) - 2016. Mais uma vez, uma alta quantidade de submissões, assim como sua rigorosa seleção, permitiu chegar a um excelente conjunto, como o leitor poderá constatar.

Inicialmente, seis artigos estão assinados por pesquisadores de sete universidades (UFSC, UNICAMP, UFRGS, UNIP, USP, UFES, PUC-SP). Neles, o leitor encontrará uma diversidade de temas de grande interesse para os estudos do discurso, aí incluída a literatura e outras artes, a cultura popular e, também, a relação de um dos membros do Círculo com a perspectiva freudiana. Quatro dos seis artigos envolvem, de alguma maneira, a literatura. Esse é o caso de Dura geografia, sugestivo título do segundo artigo, assinado por Benhur Bortolotto/UFRGS, que versa sobre a sociedade cabo-verdiana pós-independência, surpreendida por meio do romance O meu poeta, do grande escritor cabo-verdiano Germano Almeida: um convite ao leitor brasileiro para conhecer um significativo escritor de língua portuguesa e sua obra. Junta-se a ele o terceiro artigo, Ensaio sobre o diálogo: as relações intertextuais entre José Saramago, Pieter Bruegel e Van Gogh, de autoria de Murilo de Assis Macedo Gomes/UNIP, que se fundamenta na teoria bakhtiniana para, uma vez mais, tentar compreender as relações interdiscursivas existentes entre literatura e pintura, observadas por meio de três grandes artistas: José Saramago, Pieter Bruegel e Van Gogh. Sem dúvida, de grande interesse para os estudos comparados. Também o quinto artigo, Sobre Bakhtin, quilombos e a cultura popular, de autoria de Michele Freire Schiffler/UFES, encontra-se nesse conjunto. Nele, a autora focaliza a atualidade dos estudos bakhtinianos sobre a cultura popular, dialogando com teorias da performance e dos estudos culturais e tendo como foco produções culturais de comunidades quilombolas do Estado do Espírito Santo. Com certeza uma pesquisa original e importante no que diz respeito à perspectiva teórica escolhida para a compreensão do objeto focalizado. O sexto texto, Marcas de oralidade e memória no Livro das mil e uma noites, de Mariza Martins Furquim Werneck/PUC/SP, completa a temática literária, perseguindo a presença de marcas de oralidade e de técnicas de memória em algumas versões do Livro das mil e uma noites. A autora apresenta reflexões sobre tais técnicas, utilizadas na cultura árabe e herdadas da mnemotécnica grega, analisando suas marcas sob perspectivas que implicam sortilégio, ritmo e cadência nos contos e, ainda, a arquitetura da memória. São aspectos, como o leitor verá, de fundamental importância para o conhecimento dessa obra clássica da literatura universal.

Os dois outros textos inéditos voltam-se para temáticas de grande interesse para o público leitor de Bakhtiniana. O primeiro artigo deste número, intitulado O espaço público da escola - um mundo significado nas relações eu-outro, assinado pelas pesquisadoras Nelita Bortolotto/ UFSC e Raquel Salek Fiad/ UNICAMP, discute, sob a perspectiva dialógica, a cultura no espaço público da escola, com base em ensaios de alunos de licenciatura em Letras-Português, demonstrando suas representações sobre a relação eu-outro no ato da docência em estágio supervisionado e permitindo o aprofundamento de debates sobre a esfera escolar atual. Marxismo, psicanálise e método sociológico: o diálogo de Volóchinov, marxistas soviéticos e europeus com Freud, quarto artigo do número, é assinado pela grande pesquisadora e importante tradutora de obras do Círculo de Bakhtin no Brasil, Sheila Grillo/USP, que neste trabalho apresenta duas importantes reflexões, fruto de suas pesquisas recentes: as relações dialógicas existentes entre os textos de V. Volóchinov, do Círculo de Bakhtin, e a teoria de Sigmund Freud, e a recepção do freudismo entre marxistas soviéticos da primeira metade dos anos 1920 e marxistas europeus. Trata-se de uma pesquisa que acrescenta aspectos fundamentais à compreensão do Círculo e das obras que produziram.

Duas traduções acrescentam qualidade ao periódico: a primeira é de um texto, What would Bakhtin Do? [O que faria Bakhtin?], originalmente apresentado como conferência, do grande eslavista e estudioso de Mikhail Bakhtin, Prof. J. Michael Holquist /Yale University, falecido em 2016. A outra é a tradução de um importante artigo de Claire Kramsch/ University of California/ Berkeley, que discute o papel da cultura no ensino de língua estrangeira, Culture in Foreign Language Teaching [Cultura no ensino de língua estrangeira].

O número traz, ainda, três resenhas de obras recentes, duas realizadas a partir do original inglês e uma de tradução para o português. Mikhail Bakhtin. Rhetoric, Poetics, Dialogics, Rhetoricality, coletânea de artigos do pesquisador americano Don Bialostosky/ University of Pittsburgh, é apresentada por Maria Helena Cruz Pistori, editora-associada de Bakhtinana; Guia de escrita, de Steven Pinker, recebe uma resenha leve de Sírio Possenti (UNICAMP); e Clive Thomson (University of Guelph, Canada) nos oferece uma leitura de Language, Ideology, and the Human, livro que reúne texto de diferentes pesquisadores em torno do tema-título, organizado por Sanja Bahun (University of Essex, Inglaterra) e Dusan Radunivic (Durham University, Inglaterra). Para finalizar este número rico e variado, um texto em homenagem ao grande crítico e pensador brasileiro Antonio Candido, falecido no dia 12 de maio de 2017, O mestre e o discípulo, redigido por Glória Carneiro do Amaral (UPM).

Trata-se, portanto, de mais um número em que este periódico reitera seus compromissos com a pesquisa, nacional e internacional, ligada aos estudos da linguagem e suas relações com a ética, a estética, a cultura e o humano. Na certeza da produtividade acadêmica e científica da leitura deste número v.12, n.3 (2017) do periódico Bakhtiniana. Revista de Estudos do Discurso, reiteramos nossos agradecimentos a todos os colaboradores e ao auxílio recebido para a edição deste número, vindos do MCTI/CNPq/MEC/CAPES e da PUC-SP, por meio do Plano de Incentivo à Pesquisa (PIPEq) / Publicação de Periódicos (PubPer-PUCSP).

Beth Brait *Maria Helena Cruz Pistori**Bruna Lopes-Dugnani***Orison Marden Bandeira de Melo Júnior ****

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Sep-Dec 2017
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