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Sobre questões de imprevisibilidade na cultura: o legado de Lótman para a compreensão dos mecanismos e trabalhos de semioses culturais

RESUMO

O presente artigoapresenta reflexões sobre o conceito de “imprevisibilidade” advindas a partir do exercício de tradução para a língua portuguesa da obra Os mecanismos culturais imprevisíveis1 1 Durante o período de leitura e tradução da edição em inglês da obra, adotamos a seguinte versão provisória do título em língua portuguesa: “Os trabalhos imprevisíveis da cultura”; mais condizente com o título em língua inglesa. Depois da tradução e leitura comparada da edição em russo, foi mais apropriado adotar a tradução a partir desta língua, concluindo o trabalho com a definição deste título indicado em português: “Os mecanismos culturais imprevisíveis”. , último livro publicado por Iuri Lótman. Mais do que uma explicação completa e definitiva das acepções sobre os trabalhos imprevisíveis da cultura, esboçamos nestes escritos fundamentos de interesse para a constituição de processos semiósicos de nossas particulares preocupações. Dessa forma, apresentam-se para as análises relações imprevisíveis em processos relacionados à ciência e à tecnologia, à arte e à figura do estrangeiro.

PALAVRAS-CHAVE:
Imprevisibilidade; Ciência; Arte; Estrangeiro

ABSTRACT

This article reflects upon for the concept of unpredictability based on the translation into Portuguese of The Unpredictable Workings of Culture, Yuri Lotman’s last published book. More than a complete and definitive explanation of the meanings of the unpredictable works of culture, this article outlines the fundamentals that interest the constitution of semiosic processes that concerns us. Thus, unpredictable relationships in processes related to science and technology, art and the foreign figure are presented for the analysis.

KEYWORDS:
Unpredictability; Science; Art; Foreigner

Introdução

Uma das características inalienáveis dos signos no universo da cultura é a contingência que rege geração de novos signos que, ao longo do tempo, converte a semiose em um mecanismo constituinte do irrefreável desenvolvimento de códigos e linguagens. A própria Semiótica em si não é um sistema estático, encerrado em si mesmo. Em sua constituição sincrônica, o surgimento de novos conceitos, fundamentados nas obras de seus autores, contribuiu com a constituição de um campo sólido de conhecimentos. Como toda ciência, a Semiótica também está em evolução. Convém dizer que a Semiótica também está em semiose; e cabe a sua área de pesquisa estabelecer compromisso e vínculo com o seu avanço. A partir da leitura e tradução da obra Os mecanismos culturais imprevisíveis, de Iuri Lótman, nós, os autores deste artigo, em conjunto com os demais integrantes de nosso grupo de pesquisa2 2 Desde 2013, o Grupo de Pesquisa em Semiótica da Comunicação, Diretório dos Grupos de Pesquisa do CNPq/Escola de Comunicações e Artes-USP, dedica-se à leitura do livro The Unpredictable Workings of Culture [Непредсказуемые механизмы культуры, 2010], um conjunto de textos que reúne as últimas formulações de Iuri Lótman num volume publicado pela Universidade de Tálin, em 2010, em versões em língua russa, estoniana e inglesa. Inicialmente, nossas expectativas eram ampliar noções colocadas em obras anteriores, especialmente: Universe of The Mind (1990) e La cultura e l’esplosione (1993) [com versão em espanhol Cultura y explosión (1998/1999)]. Com a coletânea de 2010, The Unpredictable Workings of Culture facilitou a expansão de nossos debates e, consequentemente, instigou o trabalho de uma tradução comparada entre as versões do inglês e do russo para a língua portuguesa. Nesse sentido, o artigo adotou a versão em língua inglesa como referência para as citações dos trechos vertidos para o português. , nos lançamos à descoberta de novos conceitos e debates deixados pelo autor em sua última obra, um privilégio cujos exercícios iniciais esboçamos neste texto sob alguns aspectos.

Enquanto trabalho de elaboração metalinguística para o acesso, a tradução expande possibilidades de um pensamento autoral original a novos leitores, o que implica a difusão de conhecimento e a ampliação de divulgação das reflexões e bases teóricas presentes na obra de Lótman. Reconhecemos, nesse processo, a necessidade implícita da constituição de um pensamento em outro código, nossa língua materna, de modo a promover um encaminhamento fundamentado de pesquisas para os problemas semióticos investigados pelo grupo. A atividade de tradução, embora busque incorrer em máxima proximidade em relação aos originais de acesso, não desconsidera seus ruídos, com perdas e ganhos inevitáveis na transformação de um determinado escrito em um sistema de códigos linguísticos e culturais em outro, o que não pode ser qualificado como negativo ou positivo, mas se torna condição inerente ao processo.

Diante da aventura e do desafio de realizar a tradução de uma obra como atividade de um grupo de pesquisa com acadêmicos em diferentes estágios de alfabetização semiótica da cultura, adotamos o caminho particular de tradução linguística acompanhada de formação teórico-crítica. Assim, paralelamente ao desenvolvimento da tradução, desenvolviam-se encontros de leitura crítica coletiva, que acabou se encaminhando naturalmente para as pesquisas realizadas individualmente, instigando cada um à formulação de hipóteses particulares a partir dos distintos objetos de pesquisa em investigação. Desse modo, realizamos cruzamentos e observações concretas a partir da tradução, diante de causas empíricas.

A busca pelo esclarecimento das citações em obras, de fragmentos de obras literárias, de conceitos das teorias russas, de análises no campo das artes e do cinema, e das teorias de autores de países do leste europeu foi um outro exercício que levou o trabalho de construção metalinguística para diferentes contextos. Com essas práticas, realizamos um longo e, de nosso ponto de vista, extremamente rico processo de tradução, não apenas no sentido técnico, mas também conceitual, o que acreditamos ser um verdadeiro processo de tradução (inter)semiótico.

As leituras não só mostraram contribuições ao repositório intelectual da semiótica da cultura, seguindo conceitos e terminologias já conhecidos e presentes em nosso campo de pesquisa, como também ampliaram o raio de visão em direção a novas acepções, problemáticas, reflexões e contribuições para essa metodologia semiótica.

Um estudo capaz de realinhar e sistematizar um conjunto tão diversificado de formulações conceituais de modo a atender a demandas de entendimento do funcionamento semiótico da cultura surge num momento significativo, visto que une demanda, entendimento e vivência dos sistemas sígnicos da cultura contemporânea. Com isso, ao dimensionar o legado conceitual de Lótman, revisto à luz da imprevisibilidade da cultura, formulações familiares, como “diálogos entre diferentes linguagens”, “processos explosivos”, “estrutura pensante”, “sistemas modelizantes da arte”, “trabalho da imprevisibilidade”, entre outros, ganham novas tonalidades, explicitando novas propriedades no enfrentamento dos problemas semióticos da cultura. Se, por um lado, buscamos elucidar a diversidade de tais caminhos analíticos nas investigações de objetos específicos de pesquisa, por outro vemos ser possível desenhar o movimento das ideias teóricas tal como foram organizadas no livro de nosso estudo. O que se segue será, pois, um esboço do legado que nos formou no campo da pesquisa em semiótica da cultura e da análise de seus problemas semióticos. Passos fundadores de uma atividade que não se realiza senão pelo exercício da metalinguagem crítico-analítica da investigação.

1 Gradualidade semiótica em intercâmbios imprevisíveis

A propósito do trabalho de tradução como um relevante processo de revisão e legado de bases teóricas para o avanço de diversos trabalhos acadêmicos e científicos que se utilizam da Semiótica como método e referência, contribuindo assim com a evolução de seu campo, remontamos a um passado de práticas tradutórias que proveram aos estudiosos brasileiros um acesso amplo à Semiótica soviética, traçando assim, modestamente, um elo de ligação com uma tradição histórica de exercícios tradutórios. Bóris Schnaiderman, referência fundadora dos estudos russos no Brasil, seja no campo teórico, das artes, da literatura, para citar apenas os centros de sua atuação acadêmica, introduziu nos anos de 1980 alguns dos textos fundamentais dos estudos semióticos. No livro Semiótica russa (1979)LOTMAN, I. Sobre o problema da tipologia da cultura. In: SCHNAIDERMAN, B. (Org.). Semiótica russa. Trad. Lucy Seki. São Paulo: Perspectiva, 1979, p.31-41., para além de uma gramática dessa escola semiótica, um dos primeiros panoramas da produção soviética em torno de teorizações dos signos na cultura, Schnaiderman (1979)SCHNAIDERMAN, B. Semiótica na URSS: uma busca dos “elos perdidos” (à guisa de introdução). In: SCHNAIDERMAN, Bóris (org.). Semiótica russa. 1. ed. Trad. Lucy Seki. São Paulo: Perspectiva, 1979, p. 9-27. refere-se aos ensaios e “teses” de autores como Lótman, Toporóv, Ivanov, Uspênski, entre outros, como aqueles estudiosos que “desenvolveram uma ‘consciência semiótica’”, antes mesmo do aparecimento de seus consagrados semioticistas (SCHNAIDERMAN, 1979SCHNAIDERMAN, B. Semiótica na URSS: uma busca dos “elos perdidos” (à guisa de introdução). In: SCHNAIDERMAN, Bóris (org.). Semiótica russa. 1. ed. Trad. Lucy Seki. São Paulo: Perspectiva, 1979, p. 9-27., p.11). Noção essa originada do contato entre o pensamento sobre os problemas da linguagem e da cultura desenvolvido pelo formalismo russo.

Criando uma base estrutural de crítica e análise literária, expressa em densas conceituações, como a Morfologia do conto maravilhoso, de Propp, ou na Linguística de Jakobson, o formalismo russo acabou perpassando, de um modo e de outro, formulações de vários autores. Mikhail Bakhtin e Iuri Lótman não são exceções a esse convívio de intensos debates. Porém, esse movimento, que se desenvolvia em meio a um rico contexto artístico, a exemplo do construtivismo das artes plásticas e das montagens enigmáticas do cinema, tornou-se para a Semiótica da cultura uma herança em estado de questionamento e tensão.

Em paralelo às relevantes manifestações artísticas, emergem em contexto os preceitos das teorias da informação e de uma nova crítica literária (crítica essa que inseriu na Linguística os conceitos de código e mensagem); tais transformações contribuíram para que o pensamento semiótico soviético ficasse marcado pelo entendimento da tipologia da cultura enquanto dados e registros de informações. “É importante destacar o princípio de acordo com o qual cultura é informação”, alegava Lótman (1979, p.32)LOTMAN, I. Sobre o problema da tipologia da cultura. In: SCHNAIDERMAN, B. (Org.). Semiótica russa. Trad. Lucy Seki. São Paulo: Perspectiva, 1979, p.31-41.. Assim, a preocupação com a estruturalidade mostra-se não apenas como uma herança, mas como um ponto de partida para se pensar questões relacionais da cultura. A hierarquia dos códigos leva à tipologia das culturas (LOTMAN, 1979LOTMAN, I. Sobre o problema da tipologia da cultura. In: SCHNAIDERMAN, B. (Org.). Semiótica russa. Trad. Lucy Seki. São Paulo: Perspectiva, 1979, p.31-41., p.33).

Essa explicação remonta à capacidade de a Semiótica incorrer como ciência apropriada ao tratamento de diferentes objetos culturais. Na obra publicada em 2013, Lótman sustenta que à Semiótica compete ser elo de interligação entre aquilo que pareciam ser campos independentes do conhecimento, baseando-se em um modo de pensar definido como uma ciência da informação e também da natureza, traçando assim uma relação entre a vida dos signos e da comunicação em sua interação.

A ideia de intercâmbio entre mensagens e textos interativos criou uma particularização para o campo e o método semiótico, quando se trata de considerar a cultura por meio dos textos construídos, se não pelos códigos de linguagens constituídas, pelo menos por meio de processos de modelização semiótica. Graças à compreensão de que, do ponto de vista da cultura, todas as manifestações se organizam em sistemas sígnicos - e não necessariamente em torno da língua -, os semioticistas da cultura passam a trabalhar com as mais diferentes modelizações, isto é, com sistemas sígnicos de caráter discreto e também com a ampla manifestação semiótica de sistemas icônicos. Opera assim a semiótica da cultura sob o complexo modelo comparativo das linguagens e sistemas semióticos em transformação e geração de novos textos culturais. São as formas de organização do mundo, desde o fenômeno físico ao cultural, que são desveladas a partir dessa teoria geral das estruturas.

A exemplo desse mecanismo apropriado de compreensão dos textos culturais pelo modo comparativo, Lótman nos oferece, em Os mecanismos culturais imprevisíveis, uma reflexão particularmente oportuna sobre as relações entre ciência e tecnologia, no esforço de explicitar como as transformações culturais tanto decorrem da marcha histórica de eventos como se abrem para o totalmente imprevisível. Daí que, para o autor, ciência e tecnologia não poderiam ser consideradas isoladamente, mas em suas relações mútuas ou, como ele afirma: “mais que isso, elas são combinadas em nossa consciência em uma única frase indivisível” (LOTMAN, 2013LOTMAN, I. The Unpredictable Workings of Culture. Trad. Brian James Baer. Tallinn: TLU Press, 2013., p.88)3 3 Versão em inglês: “Moreover, they are combined in our consciousness into a single indivisible phrase”. . Explica Lótman que, no entanto, ciência e tecnologia estão ligadas não porque sejam sinônimas, mas porque são antitéticas - já que no processo geral da cultura, a ciência e a tecnologia desempenham diferentes funções. Para ele, a tecnologia está ligada a processos graduais: não é surpresa, então, que o progresso tecnológico possa ser previsto. “A ciência, por outro lado, está ligada a processos explosivos. Uma descoberta científica é sempre inesperada” (LOTMAN, 2013LOTMAN, I. The Unpredictable Workings of Culture. Trad. Brian James Baer. Tallinn: TLU Press, 2013., p.88)4 4 Versão em inglês: “Science, on the other hand, is associated with the periods of explosion. A scientific discovery is always unexpected”. .

Gradualidade e explosividade são fenômenos que podem ocorrer em um mesmo espectro da cultura. Processos de mudança na ordem dos signos são capazes de surgir em conformidade com fenômenos de estabilidade. Segundo Lótman (1999, p.19)LOTMAN, I. Cultura y explosión. Trad. Delfina Muschietti. Barcelona: Gedisa, 1999., “todos os processos dinâmicos explosivos [...] se realizam em um complexo dinâmico com os mesmos mecanismos de estabilização”5 5 Versão em espanhol: “Todos los procesos dinámicos explosivos a los que hemos referido en el capítulo anterior, se realizan en un complejo diálogo dinámico con los mecanismos de estabilización”. . Compreendendo que processos explosivos e graduais residem em uma lógica de estática e dinâmica, Lótman observa ainda que nas operações de todo o sistema semiótico estão as relações entre sistema e extrassistema; da mesma forma, revela que as simetrias e assimetrias no sistema estabelecem-se como processos de geração de sentido.

Sendo a assimetria, a dinâmica e as relações na fronteira condições básicas da unidade dos textos culturais, não é de se surpreender que as relações entre ciência e tecnologia estejam intimamente ligadas, mas ao mesmo tempo em condição de oposição. Para Lótman, as invenções técnicas e o desenvolvimento da cultura fluem organicamente por uma única ideia de progresso. “A perfeita evolução do progresso requer uma relação harmoniosa entre ciência e tecnologia” (LOTMAN, 2013LOTMAN, I. The Unpredictable Workings of Culture. Trad. Brian James Baer. Tallinn: TLU Press, 2013., p.95)6 6 Versão em inglês: “The optimal evolution of progress requires a harmonious relationship between science and technology”. , alega o autor. No entanto, Lótman adverte para as relações dissimilares entre essas duas esferas, onde conflitos de interesses podem aparecer, tornando incomuns as relações harmoniosas entre ciência e tecnologia no avanço atual da cultura humana. Dessa forma, as relações entre ciência e tecnologia, muitas vezes, tomam rumos opostos na sociedade:

A mudança da atenção da sociedade para as conquistas da tecnologia, ocorridas no século XX, tem atuado como um freio à ciência, porque apenas os aspectos da ciência que são úteis à tecnologia do ponto de vista da sociedade se destacam (LOTMAN, 2013LOTMAN, I. The Unpredictable Workings of Culture. Trad. Brian James Baer. Tallinn: TLU Press, 2013., p.95)7 7 Versão em inglês: “The shifting of society’s attention onto the achievements of technology, which occurred in the twentieth century, has acted as a brake on science because only those aspects of science that are useful to technology from society’s point of view stand out”. .

A tecnologia, assim, é requerida pelo imediatismo dos avanços graduais necessários às expectativas sociais, enquanto a ciência inovadora avança pelos aspectos da lógica da explosão. Mais que variantes em seus processos de evolução, ciência e tecnologia podem apresentar sinais de desenvolvimento salutares ou perniciosos de acordo com seus usos. Ao se apropriar da maior parte dos recursos práticos, financeiros e governamentais, como hoje se verifica, a tecnologia penetra nos próprios fundamentos da vida e da cultura, transformando-se em um fenômeno perigosamente agressivo. Por essa lógica, numa sociedade permeada por uma rede tecnológica computacional, como aquela em que vivemos, nosso estado de alerta deveria ser sempre presente. No entanto, um fenômeno capaz de gerar processos imprevisíveis e explosivos, tal como a tecnologia computacional, semelhantes àqueles que criaram novos estados de interação e evolução nas transições civilizatórias (a exemplo do alfabeto, da imprensa e outras formas de organização social a partir da comunicação, afinal estamos, sim, diante de uma escrita por novos códigos), torna-se, na atualidade, um artifício tão intrínseco no modo de vida que, devido à sua frequência e presença, muitas vezes cai no nível das banalidades ou mesmo de um estado imperceptível. É a partir da potência altamente transformadora e, ao mesmo tempo, de sua estase no uso comum, que as tecnologias digitais mostram seu caráter de imprevisibilidade. Ao tratar das questões de imprevisibilidade, Lótman reconhece o caráter dual desse conceito, vinculando a imprevisibilidade a um momento explosivo que depende da posição de um observador.

Está claro que em oposição à imprevisibilidade está a previsibilidade. Lótman explica que processos graduais e cíclicos não criam situações imprevisíveis e não podem originar algo fundamentalmente novo:

No sentido usual da palavra, a novidade é o resultado de uma situação essencialmente imprevisível. Uma situação imprevisível não é um evento excluso das relações conhecidas de causa e efeito; a previsibilidade é definida a partir do nível de nossas observações. Aquilo que parece ser fundamentalmente impossível em uma dada situação está claramente excluído da esfera da previsibilidade. Nós vemos como previsível aquele conjunto de eventos prováveis, em que cada um deles possui a mesma probabilidade de ser realizado no futuro. O momento de explosão quebra a cadeia de causa e efeito, fazendo com que toda uma área se eleve e uma coleção de eventos identicamente prováveis seja vista. Seguindo a lógica dos desenvolvimentos precedentes, é essencialmente impossível prever quais desses eventos realmente ocorrerão (LOTMAN, 2013LOTMAN, I. The Unpredictable Workings of Culture. Trad. Brian James Baer. Tallinn: TLU Press, 2013., p.64)8 8 Versão em inglês: “In the usual sense of the word, novelty is the result of an essentially unpredictable situation. An unpredictable situation is not an event that is excluded from known cause-and-effect relationship; predictability is defined by the level of our observations. That which appears in a given situation to be fundamentally impossible is clearly excluded from the sphere of predictability. We view as predictable that bundle of probable events each possessing the same probability of being realized in the future. The moment of explosion breaks the chain of cause and effect, causing an entire area to rise up and a collection of identically probable events to come into view. Following from the logic of the preceding developments, it is essentially impossible to predict which of those events will actually occur”. .

Ao explicar o caráter complexo da imprevisibilidade, Lótman prevê a articulação desse fenômeno junto a um conjunto de “mecanismos culturais”: está na dependência dos arranjos dos sistemas, códigos e linguagens da cultura o futuro gradual ou explosivo dos acontecimentos em suas esferas de realização. A cultura é por excelência esse lugar de potência de intercambialidades em suas fronteiras e de latência de processos imprevisíveis e explosivos. Nessa condição, pensaremos as imprevisibilidades apontadas por Lótman através de seus mecanismos culturais em determinadas expressões, a partir de sistemas e textos culturais cujos alcances apresentam-se em trabalhos individuais de pesquisa, seja nos circuitos das tecnologias computacionais, como agora se esboça; nas artes; ou na mestiçagem de linguagens. Trata-se, em alguns desses casos, da realização da análise de textos culturais a partir da ideia de imprevisibilidade.

2 A imprevisibilidade na arte

O processo de tradução da obra de Lótman proporciona contatos com a atualização de leituras e pensamentos que geram canais de conexões e novos caminhos para se pensar distintas questões da cultura. Por estar na intersecção de duas ou mais linguagens, tal qual propõe Lótman, a tradução funciona como um processo que surge a partir de obstáculos. Todavia, são os entraves que emergem de modo imprevisível aquilo que possibilita o mecanismo da produção de algo novo. Nesse caminho, somos apresentados a um universo cultural em constante transformação - científico, artístico - em um texto que questiona perturbações e tendências, rumo à potência dos aspectos imprevisíveis e explosivos da cultura.

Lótman, contudo, afirma que é a arte o sistema da cultura que se manifesta com toda a potência de um processo explosivo. Ainda que seu domínio analítico tenha sido, prioritariamente, o dos estudos literários, muitas de suas formulações extrapolam limites e se relacionam a outros textos culturais, até mesmo àqueles que ele não chegou a conhecer em todo seu desenvolvimento, caso das artes digitais. Seu principal argumento nesse sentido encontra-se elaborado nas aproximações entre “arte” e “ciência”. Como explicado anteriormente, Lótman distingue a tecnologia da ciência pelo processo constitutivo de cada uma. Enquanto a tecnologia baseia-se em processos graduais, a ciência opera por meio de processos explosivos.

Para Julio Plaza (2003, p.40)PLAZA, J. Arte/ciência: uma consciência. Revista ARS. São Paulo. v.1 n.1. pp.37-47. 2003., tanto a ciência quanto a arte produzem conhecimento, entretanto, seus materiais e métodos são muito distintos, muito embora tanto a arte quanto a ciência operem segundo a atuação da mesma esfera de raciocínio: a abdução. Com esse funcionamento, ambas se aproximam de uma conduta comum baseada na formulação de hipóteses, problemas e imagens. Contudo, o desempenho resulta em atividades distintas que se distanciam, afinal, existem diferentes formas de saber e saber-fazer e não só o inteligível é uma forma de saber como também o sensível. A demonstração na atividade científica nada tem em comum com a apresentação da arte: enquanto o artista busca constituir seu objeto estético explorando novos caminhos e métodos para suas criações, o cientista busca construir novos experimentos para comprovar suas premissas. Ambos trabalham para construir novos saberes (TAVARES, 2016TAVARES, M. Inter-relações entre artes, pesquisa e ciência. In: PRADO et al. Diálogos transdisciplinares: arte e pesquisa.São Paulo, 2016. Escola de Comunicações e Artes., p.73), contudo, aquilo que se apresenta como explosão jamais pode ser fruto de um a priori. Se assim fosse, não haveria nunca a eclosão da imprevisibilidade.

Para Lótman a imprevisibilidade domina a ciência e a arte quando se afastam do mundo empírico imediato para alcançar a “segunda realidade” e integrá-la ao mundo de uma realidade já conhecida. Segundo ele, ao constituir essa outra realidade, “a arte nunca se cansa de encontrar novos modelos de se relacionar com a realidade, da total separação à total fusão” (LOTMAN, 2013LOTMAN, I. The Unpredictable Workings of Culture. Trad. Brian James Baer. Tallinn: TLU Press, 2013., p.199)9 9 Versão em inglês: “Art never tires of finding new modes of relating to reality, from total separation to total merging”. , em distintos graus e com diferentes forças, mas nunca em uma completa fusão ou separação. “No espaço entre esses polos, existe virtualmente uma variedade ilimitada de formas de transição” (LOTMAN, 2013LOTMAN, I. The Unpredictable Workings of Culture. Trad. Brian James Baer. Tallinn: TLU Press, 2013., p.199)10 10 Versão em inglês: “In the space between these poles there is a virtually unlimited variety of transitional forms”. .

O mecanismo de arte não representa a realidade empírica nem a simplifica, pelo contrário, a torna mais complexa, funcionando como modelo e construção humana de uma outra realidade. “A liberdade da modelização artística é garantida pelo fato de que as obras de arte são sempre um avanço para o novo, para uma esfera de linguagem artística que era, até então, inexistente” (LOTMAN, 2013LOTMAN, I. The Unpredictable Workings of Culture. Trad. Brian James Baer. Tallinn: TLU Press, 2013., p.200)11 11 Versão em inglês: “The freedom of artistic modeling is guaranteed by the fact that works of art are always a breakthrough into the new, into a sphere of artistic language that was until that point non-existent”. . O processo artístico é uma construção textual e um processo tradutório, visto que “o entendimento sempre envolve a tradução de um objeto desconhecido em uma linguagem de conceitos passível de ser conhecida” (LOTMAN, 2013LOTMAN, I. The Unpredictable Workings of Culture. Trad. Brian James Baer. Tallinn: TLU Press, 2013., p.200-201)12 12 Versão em inglês: “Understanding always involves the translation of an unknown object into the language of well-known concepts”. . Obras que proporcionam releituras sempre contextuais nos aspectos estéticos e representativos de distintas épocas carregam esse potencial. O que garante a latência explosiva dos textos no decorrer dos anos seria sua complexidade e variedade de interpretações independente de seu tempo, como no exemplo citado por Lótman, Don Quixote de Cervantes. Lidar com a circunstância estética desses novos caminhos produzidos através da arte em suas distintas formas - o traçado da pintura, a escrita literária, a dramaturgia, a composição sonora, o audiovisual - possibilita novas relações não só com o que vem de fora, na arte, mas também com o modo como processamos sensível e cognitivamente essas linguagens.

A realidade cotidiana muitas vezes se mostra habitual demais para a percepção do novo, ainda segundo o pensamento de Lótman e, por sua vez, deixa de ser de alguma forma perceptível e interessante, o que significa a diminuição de sua existência para nossos sentidos e consciência. Esse mundo de realidade exclusivamente imediata, do banal e do cotidiano, teria a oportunidade na arte de ganhar novas perspectivas. A atividade artística transforma o usual em incomum e o incomum em usual e esse processo “revitalizaria nossa consciência, nossa experiência com o mundo, duas vezes, como se recriássemos em nós a curiosidade intelectual e emocional de Adão vendo o mundo pela primeira vez” (LOTMAN, 2013LOTMAN, I. The Unpredictable Workings of Culture. Trad. Brian James Baer. Tallinn: TLU Press, 2013., p.202)13 13 Versão em inglês: “This revives our consciousness, our experience of the world, twice over as if recreating in us the intellectual and emotional curiosity of Adam seeing the world for the first time”. . Esse escape seria salutar para o reconhecimento das nossas condições estéticas, filosóficas e representativas no mundo e na ressignificação do ente.

Lótman encontra numa cena de Anna Karenina, de Liev Tolstói, um exemplo de um momento explosivo no ato da criação artística e, portanto, completamente imprevisível. Trata-se da cena em que um personagem, ao desenhar uma figura de um homem acometido por um ataque de fúria, deixa cair um pouco de estearina - mistura de óleos essenciais - sobre a figura. A partir do que emerge com o borrão o desenhista descobre um novo olhar e novas possibilidades interpretativas em seu próprio traçado. A cena segue reproduzida no trecho que se segue:

A mancha de estearina dava ao homem uma nova atitude. Ao desenhar essa nova atitude, lembrou-se de repente do rosto enérgico, e de queixo proeminente, do comerciante com quem comprava charutos, e desenhou no homem aquele mesmo rosto, aquele mesmo queixo. Soltou uma risada de alegria. De repente, a figura morta e inventada passou a estar viva, e de tal modo que já era impossível modificá-la. A figura vivia, estava definida de modo claro e indubitável. Era possível corrigir o desenho conforme as necessidades da figura, era possível e até necessário dispor as pernas de outro modo, alterar totalmente a posição da mão esquerda, pôr os cabelos para trás. Mas, ao fazer tais reparos, ele não modificava a figura, apenas punha de lado aquilo que a encobria. Como que removia as camadas por trás das quais toda ela se tornava visível; cada novo traço apenas revelava ainda mais a figura inteira, com toda a sua força veemente, tal como surgira para ele, de súbito, por efeito da mancha de estearina (TOLSTÓI, 2005TOLSTÓI, L. Anna Kariênina. Trad: Rubens Figueiredo. Edição ebook. São Paulo: Cosanaify, 2005. Paginação no ebook: 458 e 459., p.458-459).

De um ato banal surge não apenas um processo imprevisível, mas também de grande explosividade, uma vez que provoca no artista uma reação inesperada. Esse processo leva Lótman a inferir que uma “‘explosão’ criativa pode ser expressa igualmente em uma mudança imprevisível, do cotidiano para o fantástico, como acontece em uma variante redobrada, a imprevisibilidade de uma mudança imprevisível” (LOTMAN, 2013LOTMAN, I. The Unpredictable Workings of Culture. Trad. Brian James Baer. Tallinn: TLU Press, 2013., p.208)14 14 Versão em inglês: “… a creative ‘explosion’ can be expressed just as well in an unpredictable shift from the everyday to the fantastic as it can in a redoubled variant: the unpredictability of an unpredictable shift”. .

A arte também é tratada por Lótman como um meio universal para a expressão de outros sistemas e desmembrada como um organismo potente de linguagem e de informação, apresentando as diferenças entre as artes verbais das não-verbais. Enquanto as não-verbais carregam traços da universalização, típico das linguagens icônicas que se manifestam em signos contínuos, caso das belas artes, as artes verbais oscilam entre dois eixos, já que sua natureza de signo discreto e seu caráter de atributo de uma língua nacional tendem para a previsibilidade. Nada disso impede que de sua organização se manifeste um arranjo radicalmente explosivo de natureza icônica.

Em tempos da contemporaneidade, em que existem censuras e protestos a distintas exposições, o medo da imprevisibilidade estética e dos movimentos explosivos da cultura revelam-se como tentativa de imposição de posturas mais conservadoras por parte de grupos sociais encarregados de assegurar uma certa domesticação do sensível, das ações políticas e até religiosas. Acontecimentos recentes envolvendo censura a obras artísticas podem ser encontrados nos atos de protestos e até encerramento de exposições, caso dos episódios com a exposição Queermuseu: cartografias da diferença na arte brasileira15 15 O “Queermuseu: cartografias da diferença na arte brasileira” foi cancelado em Porto Alegre e reaberto em meio à protestos no Parque Lage, no Rio de Janeiro. Folha. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2018/08/exposicao-queermuseu-abre-no-rio-com-protestos-de-movimentos-religiosos.shtml>. Acesso em: 16 ago. 2018. ; a performance La Bête16 16 Disponível em: <https://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/novo-protesto-em-frente-ao-mam-contra-performance-com-homem-nu-tem-agressao-fisica-e-vira-caso-de-policia.ghtml>. Acesso em: 16 ago. 2018. , no Museu de Arte Moderna de São Paulo, e o espetáculo teatral Jesus, a Rainha do Céu17 17 Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/09/1919033-peca-com-transexual-em-papel-de-jesus-e-cancelada-apos-decisao-judicial.shtml>. Acesso em: 16 ago, 2018 - todos ocorridos no ano de 2018. Em uma de suas comparações, Lótman entende a importância da arte para a sociedade tal qual uma injeção prevê imunidade a um organismo - até certo ponto, a injeção pode até ser desconfortável, mas a sua importância para a delimitação de novos caminhos é de suma importância para a sociedade.

Em um ato de nos “pegar pelo braço” e nos propor novas associações e novas linguagens, Lótman nos auxilia a enxergar a vida e o pensamento fora de ambientes limitados pelo cotidiano em um único mundo ou caminho, pelo banal e pelo tédio - mostra possibilidade de potências explosivas que abrem os novos olhares, do estado do movimento, de abertura para o novo e da aproximação com uma realidade secundária repleta de imprevisibilidades chamada arte - cheia de sensibilidade, reavivando nossa percepção, revitalizando nossa consciência e nos mostrando novos caminhos.

3 Previsível e imprevisível no “estrangeiro”

Não há novidade alguma em afirmar que a condição humana se organiza segundo uma existência de natureza dialógica. As trocas acontecem na comunicação direta entre indivíduos, sistemas, espécies, coletivos. Verbalmente, na forma de textos, no gestual, comportamental, no implícito. A capacidade de troca entre seres e sistemas implica, necessariamente, a existência de dois ou mais indivíduos/sistemas, que podem ter maior ou menor níveis de semelhanças entre si. Estes encontros, diálogos, são a razão de ser dos sistemas culturais e sua fonte de evolução, o que leva Lótman a afirmar que no mundo “real” vive-se do permanente confronto com a presença do outro.

No livro Os mecanismos culturais imprevisíveis, o complexo de relações dialógicas assim concebido orienta toda uma compreensão para a própria concepção de “outro” e de “estrangeiro” como agentes fundamentais das interações entre indivíduos e comportamentos que sustentam os mais diversificados encontros culturais nas culturas. O termo “estrangeiro”, em sua acepção mais elementar, indica algo que não pertence àquele meio, ao estranho, ao de fora, o forasteiro. O “outro” é aquele que está lá fora. Fora do indivíduo, do sistema, das crenças, da comunidade, dos afetos. Fora do alcance da vista e da vida. Do ponto de vista semiótico, onde se movimenta o pensamento de Lótman, contudo, o estrangeiro é porta-voz de condição dialógica não apenas porque o “próprio” se dirige para “o outro” mas também porque essas posições são marcadas por visões transversalizadas, isto é, que são mutuamente intercambiáveis.

Para Lótman, estrangeiras são as forças desconhecidas que penetram de forma imprevisível e constante na cultura. A intrusão do não sistêmico em um sistema constitui, neste sentido, uma das fontes mais importantes da transformação cultural. É, em alguma medida, o que torna um sistema dinâmico. Se permanece estático, morrerá. Em Cultura y explosión, Lótman já apontava para o fato de que o funcionamento de uma estrutura mínima deveria sempre contar com duas línguas, por exemplo, e a incapacidade destas línguas de, solitariamente, abarcarem o mundo externo a elas. Para ele, esta incapacidade não era obstáculo, deficiência, mas “condição de existência, dado que precisamente ela impõe a necessidade do outro (outra pessoa, outra língua, outra cultura)” (LOTMAN, 1999LOTMAN, I. Cultura y explosión. Trad. Delfina Muschietti. Barcelona: Gedisa, 1999., p.12-13)18 18 Versão em espanhol: “Tal incapacidad no es una deficiencia, sino condición de existencia, dado que precisamente ella impone la necessidad del otro (de otra persona, de otra lengua, de otra cultura”. .

Sem o “outro” não se poderia consolidar a cultura, pois as pretensas “identidades”, o “próprio”, o “comum” só são apercebidos em face da confrontação com o forasteiro. A ideia de “estrangeiro” é uma criação do próprio sistema. Ao entender-se como alguém que não é o que está “lá fora”. Ao entender como peculiar, singular, aquilo que não lhe é próprio, Lótman observa que não é por coincidência que as primeiras descrições das singularidades dessa ou daquela cultura sejam produzidas por estrangeiros. A posição de “outro” descreve o natural como único, traduzindo um comportamento histórico-cultural que se reporta ao contexto do império romano (LOTMAN, 2013LOTMAN, I. The Unpredictable Workings of Culture. Trad. Brian James Baer. Tallinn: TLU Press, 2013., p.57). Para Roma, tudo e todos que se encontravam para além de suas “fronteiras” eram considerados bárbaros, excluídos do domínio da cultura ou simplesmente “forasteiros”. Contudo, a percepção desta segregação como constituinte identitário só foi possível devido ao caráter expansionista do império ,que submetia o “romano” ao choque com o “outro”, obrigando-o a se deslocar para fora de si de modo a poder alcançar suas próprias especificidades comparadas às estranhezas do outro.

Em um sentido mais amplo, o estrangeiro é entendido também, como um “estado de espírito” predisposto à alteridade e ao deslocamento, até mesmo de si próprio. Ser estrangeiro sob tais condições é se assumir como peregrino, aquele que faz da viagem, do estar em trânsito, uma condição de enriquecimento que, no contexto das culturas, contribui para a construção da memória e das reservas de informação circulante na cultura. Ao que Lótman conclui: sem o encontro entre “próprio” e “estrangeiro” o aumento da informação simplesmente não acontece. Cita como exemplo de reflexão o caso do escritor rebelde Vladímir S. Pecherin (1807-1885) (LOTMAN, 2013LOTMAN, I. The Unpredictable Workings of Culture. Trad. Brian James Baer. Tallinn: TLU Press, 2013., p.59 e segs.).

Tão controversa quanto emblemática figura russa do século XIX, Pecherin personifica a condição de “andarilho” e “viajante” - uma autêntica incorporação do Zeitgeist russo dos anos de 1860-1870. Padre, político, literato, criado segundo ensinamentos da igreja ortodoxa russa, interessou-se pela ideologia moral e religiosa do socialismo utópico. Depois de estudar línguas clássicas na Universidade de Moscou, completa seus estudos no exterior. De volta à Rússia, assume a cadeira de língua grega, que abandona para perseguir ideais de um radicalismo político no exterior, tornando-se um dos primeiros emigrantes políticos na Rússia. Em seu exílio espiritual percorre o árduo caminho que o leva de encontro ao catolicismo, indo morrer na Irlanda apartado de tudo que já fora considerado seu.

O embate de Pecherin - que define igualmente a questão semiótica estudada por Lótman - se concentra no fato de que, ao longo de toda a sua vida, ele foi acometido de desilusões permanentes, caracterizadas pelo desprendimento torturante e, mais importante, pela renúncia de tudo que era dele. Se na infância fora intimamente direcionado para o estrangeiro, na vida adulta foge de tudo que lhe parecia familiar. Vive, assim, uma vida de rupturas e constantes reinvenções. Uma vida de trânsito, uma vida como estrangeiro. No entanto, seu maior contributo não se relaciona à quantidade de aquisições nesta jornada, mas o que ele foi deixando para trás. Quer dizer, se fora capaz de abandonar o próprio, assumindo o estranho, e fazer dele [o estranho] algo que lhe fosse próprio, acaba tornando sua vida um repositório complexo de traduções de distintas semioses. Ao cortar os laços com o “lugar comum”, o indivíduo constrói sua antítese, que passa a vigorar como sua realidade. A mudança constante entre “próprio” e “estrangeiro” e “estrangeiro” e “próprio” é um dos mecanismos mais fundamentais na evolução das culturas (LOTMAN, 2013LOTMAN, I. The Unpredictable Workings of Culture. Trad. Brian James Baer. Tallinn: TLU Press, 2013., p.61). Ainda que esta alternância tenha, de fato, caráter previsível, ela é experimentada por estranhamentos que participam dela como imprevisíveis. Para Lótman tal “intrusão inesperada de forças anteriormente desconhecidas pode ser uma catástrofe, um milagre ou qualquer coisa que não possa ser prevista dentro dos limites de um determinado sistema” (LOTMAN, 2013LOTMAN, I. The Unpredictable Workings of Culture. Trad. Brian James Baer. Tallinn: TLU Press, 2013., p.56)19 19 Versão em inglês: “It may be a catastrophe, the unexpected intrusion of previously unknown forces, a miraculous event, or anything that cannot be predict within the limits of a given system”. . A figura do “estrangeiro” participa na imprevisibilidade de seus encontros, e dos resultados desses encontros, dos movimentos evolutivos da cultura nos dois níveis possíveis, o gradual e o explosivo.

A ocorrência observada por Lótman num evento biográfico pode ser avaliada também na perspectiva da cultura. Nesse sentido, a presença do estrangeiro tanto pode ser explosivamente transformadora quanto pode contribuir para as mudanças culturais por meio de formas graduais de movimentos mais sutis. Os romanos podem ser novamente lembrados, agora situando o sucesso do projeto expansionista que tanto se movimentou graças aos choques explosivos da dominação territorial e marginalização do diferente, quanto à sutil e gradual absorção cultural exercitada pela inevitável convivência entre dominados e conquistadores.

Processo semelhante temos observado em nossa pesquisa ao examinar acontecimentos da colonização e formação sociocultural latino-americana, fruto de violentas explosões colonizadoras, mas espaços sutis em evolução gradual de uma afirmação de identidades plurais e, consequentemente, mestiças.

Sociedades mestiças, diríamos a partir de Lótman, se constituem orientadas em direção ao estrangeiro ,o que garante a formação de locais igualmente mestiços, afeitos à mestiçagem. A noção de estrangeiro, estendida à noção de “mestiço” formulada por autores como Laplantine e Nouss (2002)LAPLANTINE, F.; NOUSS, A. A mestiçagem. 2. ed. Trad. Ana Cristina Leonardo. Lisboa: Piaget, 2002. e Pinheiro (1994)PINHEIRO, A. Aquém da identidade e da oposição: formas na cultura mestiça. Piracicaba: Unimep, 1994., vê reforçada a “condição mestiça” como um estado de viagem, mobilidade, invenção nascida do encontro. Marca, igualmente, o nascimento das “identidades” múltiplas e das identidades possíveis, uma vez que a condição mestiça prescinde de qualquer vestígio de previsibilidade. O resultado de seus encontros não pode ser previamente mensurado. Estar “estrangeiro” na cultura também é assim. É viver no intermediário em que estão todos os possíveis e, portanto, na zona do imprevisível. Lótman (2013)LOTMAN, I. The Unpredictable Workings of Culture. Trad. Brian James Baer. Tallinn: TLU Press, 2013. reflete que o desprender-se do “próprio” continuamente para assumir o outro em um novo “eu” é um exercício torturante. Para Laplantine e Nouss (2002)LAPLANTINE, F.; NOUSS, A. A mestiçagem. 2. ed. Trad. Ana Cristina Leonardo. Lisboa: Piaget, 2002., com muita frequência a condição mestiça é dolorosa. Rompe-se com a lógica triunfalista do “possuir”, do “ser dono”. Para os três, antes de mais nada, “estrangeirar-se”/”mestiçar-se” é experiência da desapropriação, da ausência, da incerteza que pode surgir do encontro. Laplantine e Nouss (2002, p.53)LAPLANTINE, F.; NOUSS, A. A mestiçagem. 2. ed. Trad. Ana Cristina Leonardo. Lisboa: Piaget, 2002. afirmam que “a liberdade de espírito convida à da forma”, como na arte, exercita a forma livre, sendo impelida constantemente ao exercício da transformação por meio da confrontação com “outros”.

Assumir-se viajante, estrangeiro, assumir sua condição mestiça, predispor-se ao constante exercício de desprendimento, reavaliação, aceitação, adaptação, abandono, é imprescindível aos sistemas culturais. O que leva Lótman a acreditar que culturas direcionadas constantemente ao estrangeiro são mais ricas, evoluem mais, movimentam maiores reservas de informação. Culturas mestiças, que se orientam para a multiplicidade de formas possíveis de ser, que afirmam a pluralidade são - igualmente - mais complexas, portanto, são mais livres.

Estar estrangeiro é manter-se no território do trânsito, sempre sensível ao encontro, sempre à mercê do imprevisível, sempre protagonizando doloroso desprendimento do próprio, sempre sendo “eu” no outro e permitindo ao “outro” ser no “eu”. Lótman reafirma em vários momentos de seu texto a necessidade de alimentar a predisposição à alteridade porque há sempre uma multiplicidade de sistemas diferentes ao redor. Alguns relativamente próximos ao que o indivíduo considera seu, comum, ordinário e, portanto, absorvidos mais gradualmente por ele e transformando a cultura a longo prazo. Outros são tão opostos, que o encontro é violento e a transformação catastrófica, imediata. De todas as formas, o mecanismo que dá à cultura seu dinamismo é exatamente a saturação destas possibilidades e a predisposição aos encontros, criando um sistema de enorme variação interna e, consequentemente, de imensas reservas de informação.

Em última análise, ser estrangeiro torna-se condição essencial à gestação abundante de informação, em que todas as relações de causa e efeito, de probabilidade, se tornam (temporariamente) inativas. Ali, onde tudo é possível, nada é previsível, os cruzamentos tornam-se férteis produtores de novas expressões culturais.

Conclusão

Este artigo, que se propôs examinar o legado das formulações lotmanianas para a compreensão das semioses culturais, focalizou o processo da imprevisibilidade como mecanismo fundamental da cultura. Imprevisíveis são as construções culturais emergentes em espaços interativos de diferentes configurações uma vez que, em todas elas, existem cargas explosivas de informações a serem exploradas. Se a arte foi considerada um lugar privilegiado de tais emergências é porque todos os povos, em todas as circunstâncias de suas vivências, experimentam processos criativos que desafiam não apenas o seu entorno vivencial como também seus sentimentos, percepções e o próprio conhecimento. Um desafio que se realiza em todas as experiências de alteridade, sejam aquelas vividas individualmente, mas em coletividades, sejam aquelas que implicam deslocamentos topográficos não meramente geográficos, mas socioculturais, artísticos, estéticos, enfim, sensoriais.

Nesse sentido, as formulações de Lótman sobre a tríade aqui discutida - ciência, arte, estrangeiro - constituem um núcleo fundamental de ideias teóricas, em que movimentos imprevisíveis se constituem no trajeto da mais evidente gradualidade. Compreender o mecanismo de tal relacionamento como uma manifestação das relações dialógicas do contexto sociocultural se colocou para o grupo como a síntese do legado de Lótman, que encaminha muitas reflexões a respeito do funcionamento da cultura em nossa história cultural marcada pela contemporaneidade de relações transversais, deslocamentos e conflitos de toda sorte.

Resta-nos dizer ainda que o estudo do texto pelo viés da tradução linguística nos colocou em contado com ideias a respeito do processo tradutório que até então nunca tinha sido vivenciado como exercício de possibilidades. Evidentemente que aprendemos com Bóris Schnaiderman que a tradução subverte a noção de sua exclusiva possibilidade literal, o que a aproxima das perspectivas de uma tradução intersemiótica. Schnaiderman, de certo modo, executa seu ofício numa esfera de pensamento que se defronta com muitas das formulações de Lótman a respeito da tradução cultural pensada pela perspectiva da tradução linguística. Considerando que Lótman não exerceu o ofício tal qual Schnaiderman - ainda que ambos tenham vivido como estrangeiros no país que os acolheu em circunstâncias de confrontos políticos - foi muito encorajador encontrar no tradutor que assumiu a nacionalidade brasileira, experiências que sustentam os conceitos semióticos entendidos como mecanismos de toda uma dinâmica cultural. Quando Schnaiderman propõe que “o arrojo, a ousadia, os vôos da imaginação, são tão necessários na tradução quanto a fidelidade ao original; ou melhor, a verdadeira fidelidade só se obtém com esta dose de liberdade no trato com os textos” (2015, p.18), vemos um trabalho realizado pleno de desafios não muito distintos daqueles colocados para o artista e o cientista. Como desafio comum, ambos têm um trabalho de operar códigos desconhecidos e textos intraduzíveis.

Dentre suas reflexões sobre o assunto, na obra Tradução, ato desmedido (2015)SCHNAIDERMAN, B. Tradução: ato desmedido. São Paulo: Perspectiva, 2015., em que Schnaiderman interage com leituras de outros pesquisadores e tradutores que compartilham a dinâmica e mutabilidade do processo de tradução, ele nos apresenta um caminho sobre esse trabalho que Lótman denomina metalinguagem. Mais do que buscar correspondências entre termos, o trabalho de tradução lança para um caminho rumo ao desconhecido. Na necessidade de desafiar o próprio código e desvendar textos, o próprio tradutor se torna um investigador de possibilidades e acaba contribuindo de forma teórica para o campo especulativo do ofício quando escreve com o devido aprofundamento e conhecimento de causa sobre os trabalhos do autor a ser traduzido (SCHNAIDERMAN, 2015SCHNAIDERMAN, B. Tradução: ato desmedido. São Paulo: Perspectiva, 2015., p.108).

Como pesquisadores da semiótica da cultura, também nós nos lançamos no exercício da metalinguagem acompanhada de reflexão teórica sobre o ato de traduzir para dele extrair fundamentos teóricos e caminhos analíticos para nossas próprias investigações. Exercitamos um pouco do que Schnaiderman definiu como tradução como exercício livre e “desmedido” na confrontação de palavras, ideias, hipóteses, conceitos, textos e objetos culturais de nossa análise empírica no campo das artes e das comunicações audiovisuais contemporâneas.

Também nós fomos de encontro à “tradição da tradução”, especialmente dos textos russos e do leste europeu, que as obras de Lótman, dos semioticistas da cultura e de Schnaiderman nos oferecem como uma incrível força e um legítimo estímulo para dar incentivo, reconhecimento e espaço aos pensamentos que gravitaram em torno não apenas da tradução da obra Os mecanismos culturais imprevisíveis (LÓTMAN, 2013LOTMAN, I. The Unpredictable Workings of Culture. Trad. Brian James Baer. Tallinn: TLU Press, 2013.), como também no trabalho de pesquisa sobre os objetos que são, antes de mais nada, marcados pela imprevisibilidade da cultura.

Em muitos dos casos apresentados, verificamos, vale colocar, uma unidade em relação ao papel e à função do fenômeno imprevisível: na arte, nas técnicas e na figura do estrangeiro, a imprevisibilidade é um gradiente verificável e de função indispensável. Dotados dessas percepções advindas do conceito de imprevisibilidade, nos colocamos a olhar os sistemas que estudamos e percebemos que em cada sistema há a esperança para os fenômenos imprevisíveis e explosivos que geram o novo, sob o aspecto das potências, das mudanças, das outras possibilidades. Convidamos aos que partilham dos mesmos interesses, que realizem conosco essa leitura.

  • 1
    Durante o período de leitura e tradução da edição em inglês da obra, adotamos a seguinte versão provisória do título em língua portuguesa: “Os trabalhos imprevisíveis da cultura”; mais condizente com o título em língua inglesa. Depois da tradução e leitura comparada da edição em russo, foi mais apropriado adotar a tradução a partir desta língua, concluindo o trabalho com a definição deste título indicado em português: “Os mecanismos culturais imprevisíveis”.
  • 2
    Desde 2013, o Grupo de Pesquisa em Semiótica da Comunicação, Diretório dos Grupos de Pesquisa do CNPq/Escola de Comunicações e Artes-USP, dedica-se à leitura do livro The Unpredictable Workings of Culture [Непредсказуемые механизмы культуры, 2010LOTMAN, I. Непредсказуемые механизмы культуры, 2010. Tallinn: TLU Press, 2010.], um conjunto de textos que reúne as últimas formulações de Iuri Lótman num volume publicado pela Universidade de Tálin, em 2010, em versões em língua russa, estoniana e inglesa. Inicialmente, nossas expectativas eram ampliar noções colocadas em obras anteriores, especialmente: Universe of The Mind (1990)LOTMAN, I. Universe of the Mind: A Semiotic Theory of Culture. Trad. Ann Shukman. Bloomington and Indianapolis: Indiana University Press, 1990. e La cultura e l’esplosione (1993)LOTMAN, I. La cultura e l’esplosione: Prevedibilità e imprevedibilità. Milano: Feltrinelli, 1993. [com versão em espanhol Cultura y explosión (1998/1999)LOTMAN, I. Cultura y explosión. Trad. Delfina Muschietti. Barcelona: Gedisa, 1999.]. Com a coletânea de 2010, The Unpredictable Workings of Culture facilitou a expansão de nossos debates e, consequentemente, instigou o trabalho de uma tradução comparada entre as versões do inglês e do russo para a língua portuguesa. Nesse sentido, o artigo adotou a versão em língua inglesa como referência para as citações dos trechos vertidos para o português.
  • 3
    Versão em inglês: “Moreover, they are combined in our consciousness into a single indivisible phrase”.
  • 4
    Versão em inglês: “Science, on the other hand, is associated with the periods of explosion. A scientific discovery is always unexpected”.
  • 5
    Versão em espanhol: “Todos los procesos dinámicos explosivos a los que hemos referido en el capítulo anterior, se realizan en un complejo diálogo dinámico con los mecanismos de estabilización”.
  • 6
    Versão em inglês: “The optimal evolution of progress requires a harmonious relationship between science and technology”.
  • 7
    Versão em inglês: “The shifting of society’s attention onto the achievements of technology, which occurred in the twentieth century, has acted as a brake on science because only those aspects of science that are useful to technology from society’s point of view stand out”.
  • 8
    Versão em inglês: “In the usual sense of the word, novelty is the result of an essentially unpredictable situation. An unpredictable situation is not an event that is excluded from known cause-and-effect relationship; predictability is defined by the level of our observations. That which appears in a given situation to be fundamentally impossible is clearly excluded from the sphere of predictability. We view as predictable that bundle of probable events each possessing the same probability of being realized in the future. The moment of explosion breaks the chain of cause and effect, causing an entire area to rise up and a collection of identically probable events to come into view. Following from the logic of the preceding developments, it is essentially impossible to predict which of those events will actually occur”.
  • 9
    Versão em inglês: “Art never tires of finding new modes of relating to reality, from total separation to total merging”.
  • 10
    Versão em inglês: “In the space between these poles there is a virtually unlimited variety of transitional forms”.
  • 11
    Versão em inglês: “The freedom of artistic modeling is guaranteed by the fact that works of art are always a breakthrough into the new, into a sphere of artistic language that was until that point non-existent”.
  • 12
    Versão em inglês: “Understanding always involves the translation of an unknown object into the language of well-known concepts”.
  • 13
    Versão em inglês: “This revives our consciousness, our experience of the world, twice over as if recreating in us the intellectual and emotional curiosity of Adam seeing the world for the first time”.
  • 14
    Versão em inglês: “… a creative ‘explosion’ can be expressed just as well in an unpredictable shift from the everyday to the fantastic as it can in a redoubled variant: the unpredictability of an unpredictable shift”.
  • 15
    O “Queermuseu: cartografias da diferença na arte brasileira” foi cancelado em Porto Alegre e reaberto em meio à protestos no Parque Lage, no Rio de Janeiro. Folha. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2018/08/exposicao-queermuseu-abre-no-rio-com-protestos-de-movimentos-religiosos.shtml>. Acesso em: 16 ago. 2018.
  • 16
  • 17
  • 18
    Versão em espanhol: “Tal incapacidad no es una deficiencia, sino condición de existencia, dado que precisamente ella impone la necessidad del otro (de otra persona, de otra lengua, de otra cultura”.
  • 19
    Versão em inglês: “It may be a catastrophe, the unexpected intrusion of previously unknown forces, a miraculous event, or anything that cannot be predict within the limits of a given system”.
  • Declaração de autoria e responsabilidade pelo conteúdo publicado
    Nós, os autores, informamos que tivemos acesso ao corpus de pesquisa, participamos ativamente da discussão dos resultados e procedemos à revisão e aprovação da versão final do trabalho.

REFERÊNCIAS

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    » https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/09/1919033-peca-com-transexual-em-papel-de-jesus-e-cancelada-apos-decisao-judicial.shtml
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Nov 2019
  • Data do Fascículo
    Oct-Dec 2019

Histórico

  • Recebido
    17 Set 2018
  • Aceito
    01 Set 2019
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