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Potencial analítico dos gêneros do discurso para os estudos variacionistas

RESUMO

Este texto objetiva refletir sobre por que os gêneros do discurso são relevantes para os estudos variacionistas, especialmente para os de terceira onda, que têm como questão central a noção de estilo. Por meio de pesquisa bibliográfica, examinam-se parte da literatura da terceira onda variacionista e parte da literatura da abordagem bakhtiniana, com foco na noção de estilo, para (i) indicar alguns pontos de contato entre essas abordagens e (ii) articulá-las, em alguns outros pontos. Os resultados dessa reflexão indicam que os gêneros do discurso são relevantes para os interesses dos estudos de terceira onda porque (i) o estilo linguístico é uma propriedade dos gêneros do discurso, atualizáveis pelo acabamento estético que recebem; e (ii) uma compreensão do estilo requer uma compreensão da constituição (social e formal) dos gêneros, estando neles indiciadas categorias de análise que são caras à terceira onda variacionista.

PALAVRAS-CHAVE:
Terceira onda variacionista; Estilo; Gêneros do discurso; Acabamento estético

ABSTRACT

This text aims to reflect on why speech genres are relevant to variation studies, especially for third wave studies, whose central issue is the notion of style. Through bibliographic research, we examine part of the literature of the third wave of variation studies and part of the literature of the Bakhtinian approach, focusing on the notion of style, to (i) highlight some connections between these approaches and to (ii) articulate them, in some other points. The results of this reflection indicate that speech genres are relevant to the interests of third wave studies because (i) linguistic style is a property of speech genres, upgradeable due to the aesthetic finalizations they receive; and (ii) an understanding of style requires an understanding of the (social and formal) constitution of the genres, in which categories of analysis that are of interest to the third wave of variation studies are indicated.

KEYWORDS:
Third variation wave; Style; Discourse genres; Aesthetic finalization

Considerações iniciais

Há muito que os estudos variacionistas vêm flertando com teorias de gêneros do discurso e/ou com teorias de gêneros textuais, nem sempre fazendo diferença entre uma coisa e outra, com o objetivo de investigar o modo como diferentes tipos de textos (e seus aspectos constitutivos) podem condicionar os processos de variação/mudança1 1 Uma primeira versão deste texto, produzida pelas duas primeiras autoras, foi aprovada para publicação pela Revista Alfa [ISSN Impresso: 0002-5216 ISSN Eletrônico: 1981-5794] em agosto de 2020. Em novembro de 2022, recebemos notificação de reprovação da versão em inglês, de modo que o texto não foi publicado. A partir dessa data, com discussões mediadas pela terceira autora, atualizamos algumas considerações teóricas, ensejando esta nova versão. A primeira versão mencionada está disponibilizada no Repositório Scielo Preprints: https://preprints.scielo.org/index.php/scielo/preprint/view/5030/version/5332. . Assim, muitos trabalhos, inegavelmente, têm mostrado que os gêneros são um importante elemento para a explicação de usos variáveis, embora haja muita divergência sobre como abordá-los na pesquisa variacionista2 2 Um incompleto levantamento desses trabalhos nos faz ver que os gêneros: ora são tomados como variável independente (VIEIRA, 2014; TAVARES, 2020); ora como elemento organizador de amostras (OLIVEIRA, 2006; BRAGANÇA, 2008); ora como instância para estudo da variação (LOBATO, 2009); ora são reduzidos à tipologia textual (SILVA, 1997; FONSECA, 2010); ora são tomados, genericamente, como indicativos de modalidade (gêneros orais e gêneros escritos) (MALVAR; POPLACK, 2008; STROGENSKI, 2010); ora são acionados para discussões teórico-metodológicas (GÖRSKI; VALLE, 2014; BERLINCK; BIAZOLLI; BALSALOBRE; 2014; BRAGANÇA, 2017; BIAZOLLI; BERLINCK, 2021). .

Ademais, parte da literatura associada à terceira onda variacionista3 3 Essa literatura, também conhecida como abordagens Speaker Design, organiza-se não em torno de uma teoria muito bem delimitada, mas em torno de temas de trabalho. Daí ser anunciada no plural (abordagens). , fortemente dedicada a um redimensionamento da variação linguística, vem fazendo referência, direta ou indiretamente, a uma abordagem específica de análise de gêneros (cf. COUPLAND, 2001COUPLAND, N. Language, Situation, and the Relational Self: Theorizing Dialectstyle in Sociolinguistics. In: ECKERT, P.; RICKFORD, J. R. (ed.). Style and Sociolinguistic Variation. Cambridge: Cambridge University Press, 2001. p.185-210.; IRVINE, 2001IRVINE, J. “Style” as Distinctiveness: The Culture and Ideology of Linguistic Differentiation. In: ECKERT, P.; RICKFORD, J. R. (ed.). Style and Sociolinguistic Variation. Cambridge: Cambridge University Press, 2001. p.21-43.; BAUMAN, 2001BAUMAN, R. The Ethnography of Genre in a Mexican Market: Form, Function, Variation. In: ECKERT, P.; RICKFORD, J. R. (ed.). Style and Sociolinguistic Variation. Cambridge: Cambridge University Press, 2001. p.57-77., dentre outros), a saber, aos escritos do Círculo de Bakhtin, sendo, inclusive, esse filósofo russo apontado como “um arauto da sociolinguística moderna” (BELL, 2001BELL, A. Back in Style: Reworking Audience Design. In: ECKERT, P.; RICKFORD, J. R. (ed.). Style and Sociolinguistic Variation. Cambridge: Cambridge University Press, 2001. p.139-169., p.143)4 4 Todas as traduções dos textos citados são de responsabilidade das autoras. No original: “(...) a herald of modern sociolinguistics”. . Nos termos de Coupland (2001COUPLAND, N. Language, Situation, and the Relational Self: Theorizing Dialectstyle in Sociolinguistics. In: ECKERT, P.; RICKFORD, J. R. (ed.). Style and Sociolinguistic Variation. Cambridge: Cambridge University Press, 2001. p.185-210.), é uma orientação para o discurso que tem levado o campo variacionista “a uma reconsideração dos escritos teóricos de Bakhtin/Voloshinov” (COUPLAND, 2001, p.195)5 5 “(...) has led over the last decade to a reconsideration of Bakhtin/Volosinov’s theoretical writings”. . Nesse contexto, interessado nos estudos de terceira onda (doravante ETO), este texto objetiva responder à seguinte questão: por que, afinal, os gêneros do discurso são relevantes para os estudos variacionistas, particularmente para os de terceira onda? Em nossa compreensão, esse tópico ainda não está claramente posto na literatura dos estudos variacionistas, de modo que, talvez, esses estudos possam estar apenas tangenciando o potencial analítico que os gêneros do discurso facultam.

Para atingir o objetivo acima especificado, este texto assim se organiza da seguinte forma: na primeira seção, apresentam-se alguns conceitos e pressupostos dos ETO; na segunda, resgata-se a concepção de estilo assumida pelos estudos do Círculo de Bakhtin (doravante ECB); na terceira, indicam-se pontos de contato entre as abordagens em tela, bem como efetua-se uma articulação entre elas, em um ponto específico, com o propósito de responder à questão que norteia este texto; por último, tecem-se algumas considerações finais6 6 Na exposição a seguir, utilizamos com frequência o recurso tipográfico itálico para dar ênfase a excertos que consideramos importantes para o desenvolvimento da argumentação apresentada. .

1 A terceira onda dos estudos variacionistas

Nesta seção, apresentamos uma breve visão panorâmica acerca dos principais conceitos que permeiam os ETO, que se caracterizam por uma convergência clara entre alguns pressupostos sociolinguísticos e antropológicos e por uma aproximação mais sutil com noções do campo discursivo.

De modo geral, a Sociolinguística Variacionista tem sua base teórico-metodológica ancorada em três dimensões que funcionam articuladamente: a linguística, a social e a estilística7 7 A dimensão estilística dos estudos variacionistas de primeira onda, ocupando lugar secundário nas discussões, está atrelada ao domínio cognitivo de graus de atenção à fala, que se refletem em diferentes níveis de formalidade de uso. Essa perspectiva é bem diferente da praticada nos estudos de terceira onda, conforme se apresenta neste texto. . Ao longo dos estudos variacionistas, essas dimensões vêm se reposicionando em termos de centralidade no campo e se ressignificando, sustentadas em concepções um tanto distintas de língua, indivíduo e sociedade, que ensejam diferentes olhares para a variação. Essa reconfiguração, tomando como eixo o significado social, é sistematizada no que se tem chamado de as três ondas da sociolinguística variacionista (ECKERT, 2016ECKERT, P. Third Wave Variationism. Penelope Eckert Subject: Linguistics, Language and Cognition, Sociolinguistics Online Publication Date: Feb 2016. Disponível em: https://academic.oup.com/edited-volume/42051/chapter/355823612. Acesso em: 20 nov. 2019.
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; 2018; 2022), entendidas como fases que, embora não sejam excludentes nem categoricamente lineares, seguem uma certa cronologia8 8 Para uma revisão sobre os estudos de primeira e de segunda onda, cf., por exemplo, Eckert (2016; 2018; 2022). .

Nos ETO, há uma forte aproximação entre sociolinguistas e antropólogos linguistas, como Eckert, Coupland, Irvine, Rickford, Zhang, entre outros, considerados “o coração da terceira onda” (ECKERT, 2018ECKERT, P. Meaning and Linguistic Variation: The Third Wave in Sociolinguistics. Cambridge: Cambridge University Press. 2018. Disponível em https://librarylinguistics.files.wordpress.com/2019/04/meaning_and_linguistic_variation.pdf. Acesso em: 10 março 2020.
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, p.125)9 9 “(…) the heart of the Third Wave”. , no âmbito da qual acionam-se, entre outras, as seguintes noções: sistema semiótico, sujeito agentivo, prática estilística, identidade/persona, postura (stance), indexicalidade, distintividade e ideologia.

Nessa fase variacionista, identificada por Eckert (2005ECKERT, P. Variation, Convention and Social Meaning, Paper Presented at the Annual Meeting of the Linguistic Society of America. Oakland CA, Jan. 2005.) como a perspectiva estilística: (i) a língua integra um “sistema semiótico social dinâmico” (ECKERT, 2016ECKERT, P. Third Wave Variationism. Penelope Eckert Subject: Linguistics, Language and Cognition, Sociolinguistics Online Publication Date: Feb 2016. Disponível em: https://academic.oup.com/edited-volume/42051/chapter/355823612. Acesso em: 20 nov. 2019.
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, p.13)10 10 “Once we view language as a dynamic social semiotic system, stability becomes a problematic concept”. , no sentido de que, além de estrutura, a língua é prática social, não devendo ser vista separadamente da sociedade; (ii) o falante, visto como sujeito agentivo e criativo, ganha protagonismo no cenário social, constituído por sistemas ideológicos e culturais que se entrecruzam11 11 Por esse motivo, acionamos, neste texto, o termo cultura e seus derivados, compreendendo que, em sua acepção, questões ideológicas estão sempre implicadas. ; (iii) o estilo é uma prática, sendo concebido como movimento estilístico, portanto não é algo fixo (ECKERT, 2005; 2016; 2022); origina-se no conteúdo e não na forma de manifestação, uma vez que “o social é eminentemente sobre a vida das pessoas”, de modo que “diferentes maneiras de dizer sinalizam diferentes maneiras de ser” (ECKERT, 2018, p.146)12 12 “(…) the social is eminently about the content of people’s lives. Different ways of saying things are intended to signal different ways of being”. ; (iv) a ideia de sistema semiótico remete à noção de um estilo mais geral que inclui, além da língua, gestos, posturas, vestuário, interesse por certos bens de consumo, certas atividades de lazer, certos tópicos discursivos, entre outros elementos, que funcionam nas práticas estilísticas como padrões de estilos co-ocorrentes indexicalizando significados sociais; (v) é nas práticas estilísticas, que são mediadas pela ideologia, que os falantes constroem e projetam personas/identidades (ECKERT, 2008, 2018); (vi) a variação linguística - assumida como variação estilística - não reflete significado social, mas (re)constrói significado social, sendo considerada como “parte de um sistema social semiótico capaz de expressar toda a extensão dos interesses sociais de uma comunidade” (ECKERT, 2022, p.279) 13 13 “Variation constitutes a social semiotic system capable of expressing the full range of a community’s social concerns”. ; (vii) os significados sociais das variáveis, acompanhando a dinâmica dos interesses sociais, são constantemente reinterpretados nas práticas estilísticas, quando, num processo de bricolagem, “um agente estilístico se apropria de recursos de um cenário sociolinguístico amplo e recombina-os para criar um estilo distintivo” (ECKERT, 2018, p.118) 14 14 “(…) a stylistic agent appropriates resources from a broad sociolinguistic landscape, recombining them to make a distinctive style”. , de modo que o componente de identificação individual do novo estilo tem sua origem num cenário mais vasto de significados.

Reforçando e expandindo os pontos acima elencados, podemos dizer que a variação estilística - motivada especialmente pelo ponto de vista do falante sobre seu lugar no mundo e sobre sua relação com outras pessoas (SCHILLING, 2013SCHILLING, N. Investigating Stylistic Variation. In: CHAMBERS, J. K.; TRUDGILL, P.; SCHILLING, N. (ed.). The Handbook of Language Variation and Change. 2 ed. Cambridge: Blackwell, 2013. p.327-349.), isto é, pelo “senso de lugar no mundo social” (ECKERT, 2005ECKERT, P. Variation, Convention and Social Meaning, Paper Presented at the Annual Meeting of the Linguistic Society of America. Oakland CA, Jan. 2005., p.17)15 15 “(...) sense of place in the social world”. - é usada tanto para reinterpretar significados sociais como para (re)construir e projetar as identidades/personas (tipos sociais) dos falantes, seja enquanto indivíduos, seja enquanto membros de grupos sociais (COUPLAND, 2007COUPLAND, N. Style: Language Variation and Identity. Cambridge: Cambridge University Press, 2007.; KIESLING, 2013KIESLING, S. F. Constructing Identity. In: CHAMBERS, J. K.; TRUDGILL, P.; SCHILLING, N. (ed.). The Handbook of Language Variation and Change. 2. ed. Cambridge: Blackwell, 2013. p.448-467.).

A (re)construção de identidades “representa uma negociação dos significados intersubjetivos de práticas sociais [de modo que] identidade é como os indivíduos se definem, se criam ou pensam sobre si mesmos em termos de suas relações com outros indivíduos e grupos (reais ou imaginados)” (KIESLING, 2013KIESLING, S. F. Constructing Identity. In: CHAMBERS, J. K.; TRUDGILL, P.; SCHILLING, N. (ed.). The Handbook of Language Variation and Change. 2. ed. Cambridge: Blackwell, 2013. p.448-467., p.449-450; grifo no original)16 16 “(…) represents a negotiation of the intersubjective meanings of social practices (...) identity is how individuals define, create, or think of themselves in terms of their relationships with other individuals and groups, whether these others are real or imagined”. . Tal definição, além de deslocar o foco de indivíduos estáticos para o processo de como os falantes usam a língua para criar relações, também capta a natureza individual e social da identidade. As identidades, segundo o autor, são conectadas em três dimensões contextualmente dependentes, que funcionam como multicamadas que se interligam através da variação: (i) grandes grupos de censos (classe socioeconômica, sexo/gênero, idade e raça/etnia) e lugar/região; (ii) papéis institucionais e profissionais (mãe, professor etc.); e (iii) posturas na interação (ser amigável, autoritário, fraco etc.). Essas dimensões da identidade se articulam por meio de alinhamentos semióticos de natureza ideológica, de modo que “variáveis sociolinguísticas são indexicalizadas não somente à identidade, mas também a ideologias e estereótipos em torno daquela identidade numa ideologia semiótica mais ampla” (KIESLING, 2013, p.463)17 17 “(…) sociolinguistic variables get indexed not just to the identity but also to the ideologies and stereotypes surrounding that identity in a larger semiotic ideology”. . É desse quadro conceitual que se pode depreender que, no âmbito dos ETO, a noção de discurso - conteúdo ideológico que orienta a vida das pessoas ou posições/posturas ideológicas que se assume/evoca interacionalmente - está presente e é central, embora nem sempre o termo seja evocado explicitamente.

Especificamente, as variáveis linguísticas constituem estilos que são vistos como signos indexicais e é no nível do estilo que a variação se conecta significativamente com o social, tornando-se verdadeiramente indexical, o que reforça a crença de que linguagem e sociedade não devem ser vistas como separadas (ECKERT, 2016ECKERT, P. Third Wave Variationism. Penelope Eckert Subject: Linguistics, Language and Cognition, Sociolinguistics Online Publication Date: Feb 2016. Disponível em: https://academic.oup.com/edited-volume/42051/chapter/355823612. Acesso em: 20 nov. 2019.
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). As variáveis indexicalizam identidades/personas, características/posturas e ideologias, sem, no entanto, se descolarem das categorias macrossociológicas. É mediante movimentos semióticos feitos nas práticas estilísticas que as variáveis são (re)combinadas e (re)interpretadas, de modo que “a propriedade central de uma variável deve ser a mutabilidade indexical” (ECKERT, 2022, p.279)18 18 “(...) their central property must be indexical mutability”. .

Tal mutabilidade é explicada de acordo com a noção antropológica de ordem indexical (SILVERSTEIN, 2003SILVERSTEIN, Michael. Indexical Order and Dialectics of Sociolinguistic Life. Language & Communication, University of Chicago, 23, p.193-229, 2003. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0271530903000132. Acesso em: 11 ago. 2022.
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): em algum momento, um dado grupo social se destaca e um traço de sua fala, por exemplo, se distingue e chama a atenção, podendo vir a indexicalizar pertencimento àquele grupo. Nesse caso, o traço pode ser evocado para sinalizar posturas ideológicas, estereótipos associados ao grupo etc. Eckert (2018ECKERT, P. Meaning and Linguistic Variation: The Third Wave in Sociolinguistics. Cambridge: Cambridge University Press. 2018. Disponível em https://librarylinguistics.files.wordpress.com/2019/04/meaning_and_linguistic_variation.pdf. Acesso em: 10 março 2020.
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) pontua que a ocorrência desse traço em um novo estilo altera não só o significado original do traço, mas também o cenário semiótico. Atos repetidos de indexicalização acabam convencionalizando o novo signo, que fica disponível para outros movimentos indexicais, e assim sucessivamente. A ordem indexical não é linear, podendo se dar simultaneamente em múltiplas direções, estabelecendo um “campo indexical”, definido como “uma constelação de significados ideologicamente relacionados” (ECKERT, 2008ECKERT, P. Variation and the Indexical Field. Journal of Sociolinguistics 12/4, p.453-476. Oxford: Blackwell, 2008., p.453)19 19 “(…) indexical field (...) a constellation of ideologically related meanings”. . Nesse sentido, uma variável linguística não tem um significado estático, mas um significado geral que é especificado em cada contexto de ocorrência, por isso uma única variável pode ter um número de significados potenciais em vários níveis, que são ativados no uso, sendo capazes de provocar rearranjos no campo por meio de novas conexões ideológicas. Assim entendida, “a variação constitui um sistema indexical que encaixa a ideologia na língua e que, por sua vez, é parte integrante da construção da ideologia” (ECKERT, 2008, p.453; grifos nossos)20 20 “Thus variation constitutes an indexical system that embeds ideology in language and that is in turn part and parcel of the construction of ideology”. .

Segundo Irvine (2001IRVINE, J. “Style” as Distinctiveness: The Culture and Ideology of Linguistic Differentiation. In: ECKERT, P.; RICKFORD, J. R. (ed.). Style and Sociolinguistic Variation. Cambridge: Cambridge University Press, 2001. p.21-43., p.23-24), “estilos de fala envolvem os modos pelos quais os falantes, como agentes no espaço social (e sociolinguístico), negociam suas posições e objetivos em um sistema de distinções e possibilidades”21 21 “(…) styles in speaking involve the ways speakers, as agents in social (and sociolinguistic) space, negotiate their positions and goals within a system of distinctions and possibilities”. . A percepção das distinções se dá através da lente da ideologia que vincula o linguístico e o social, entrando em jogo, nesse processo, as experiências prévias dos sujeitos (ECKERT, 2018ECKERT, P. Meaning and Linguistic Variation: The Third Wave in Sociolinguistics. Cambridge: Cambridge University Press. 2018. Disponível em https://librarylinguistics.files.wordpress.com/2019/04/meaning_and_linguistic_variation.pdf. Acesso em: 10 março 2020.
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). Como já mencionado, o significado de uma variável linguística só se torna especificado no contexto de práticas estilísticas, associada a padrões de estilo co-ocorrentes, e é o conjunto de recursos estilísticos co-ocorrentes que cria o que Irvine (2001) denomina “distintividade social”, sinalizando contrastes entre estilos (ECKERT, 2016). Irvine, no entanto, relacionando a noção de estilo à de estética, associa a estética estilística “não só à distintividade, mas também à consistência dos traços linguísticos que constituem um estilo” (IRVINE, 2001IRVINE, J. “Style” as Distinctiveness: The Culture and Ideology of Linguistic Differentiation. In: ECKERT, P.; RICKFORD, J. R. (ed.). Style and Sociolinguistic Variation. Cambridge: Cambridge University Press, 2001. p.21-43., p.22; grifos nossos)22 22 “I interpret stylistic aesthetics as concerning (among other things) not only distinctiveness, but also the consistency of the linguistic features constituting a style”. , embora admita que os sistemas estéticos também sejam culturalmente variáveis.

Em convergência com essas premissas dos ETO, Coupland (2007COUPLAND, N. Style: Language Variation and Identity. Cambridge: Cambridge University Press, 2007.) sugere que a abordagem variacionista deve se engajar em um quadro teórico discursivo, a fim de explicar a qualidade da interação social. Segundo o autor, “a maioria das situações sociais terá uma arquitetura social pré-existente e uma estrutura de gênero dentro da qual os significados sociais podem ser negociados” (COUPLAND, 2007COUPLAND, N. Style: Language Variation and Identity. Cambridge: Cambridge University Press, 2007., p.26; grifos nossos)23 23 “(…) most social situations will have a pre-existing social architecture and a genre structure within which social meanings can be negotiated”. , de modo que, numa análise estilística, o analista deve entender o funcionamento desses contextos sociais. A título de exemplificação dessa proposta, Bauman (2001BAUMAN, R. The Ethnography of Genre in a Mexican Market: Form, Function, Variation. In: ECKERT, P.; RICKFORD, J. R. (ed.). Style and Sociolinguistic Variation. Cambridge: Cambridge University Press, 2001. p.57-77.) investiga a relação entre formas, funções e variação com base no exame de gêneros do discurso típicos de um mercado público mexicano, e preconiza que os gêneros do discurso são o quadro para a compreensão da prática estilística.

A partir de uma abordagem de terceira onda, considera-se que: (i) o “estilo é um fenômeno multidimensional complexo que não pode ser modelado em uma única teoria unidimensional” (HERNÁNDEZ-CAMPOY, 2019HERNÁNDEZ-CAMPOY, J. M. Stylistic Models in Sociolinguistics and Social Philosophy. In: Language Variation: Research, Models, and Perspectives. n.7, 2019. Disponível em: https://lipp.ub.uni-muenchen.de/lipp/article/view/4874. Acesso em: 13 abril 2020.
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, p.12)24 24 “(…) style is a complex multidimensional phenomenon that cannot be modelled in a single unidimensional theory”. ; (ii) encontrar correlações estatísticas é somente o primeiro passo para estabelecer padrões sociolinguísticos e entender o seu funcionamento - o passo seguinte é “olhar de perto para o pano de fundo histórico e cultural de identidades e de ideologias semióticas mais gerais nas quais aquelas estão envolvidas” e, além disso, “olhar atentamente para o uso de variantes nas interações que se baseiam em e se acomodam nesses padrões mais amplos” (KIESLING, 2013KIESLING, S. F. Constructing Identity. In: CHAMBERS, J. K.; TRUDGILL, P.; SCHILLING, N. (ed.). The Handbook of Language Variation and Change. 2. ed. Cambridge: Blackwell, 2013. p.448-467., p.465; grifos nossos)25 25 “(…) to look closely at the historical and cultural backdrop of identities and the more general semiotic ideologies in which they are involved, and to look intently at the moment-to-moment use of variants in interactions that both draw from and accrete into these larger patterns”. ; (iii) a contínua modificação e emergência de novas identidades/personas têm reflexos na variação linguística, e essa, além de refletir o mundo social, também desempenha um papel central na contínua mudança do mundo, mediante a construção de tipos sociais (ECKERT, 2016ECKERT, P. Third Wave Variationism. Penelope Eckert Subject: Linguistics, Language and Cognition, Sociolinguistics Online Publication Date: Feb 2016. Disponível em: https://academic.oup.com/edited-volume/42051/chapter/355823612. Acesso em: 20 nov. 2019.
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). Nesse sentido, a terceira onda, “que começa com a simples questão de o que as variáveis significam, ao final coloca questões fundamentais sobre a natureza da linguagem” (ECKERT, 2016, p.14; grifos nossos)26 26 “The Third Wave (…) which began with the simple question of what variables mean, in the end raises fundamental questions about the nature of language”. .

Esse parece ser, em termos gerais, o mosaico conceitual que sustenta os ETO.

2 A questão do estilo numa perspectiva bakhtiniana

O objetivo desta seção é retomar alguns aspectos teórico-metodológicos constitutivos dos ECB, para lançar luz sobre a noção de estilo praticada neles. Embora estilo seja definido como a “seleção dos recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais da língua” (BAKHTIN, 2011aBAKHTIN, M. M. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, M. M. Estética da criação verbal. Introdução e tradução do russo de Paulo Bezerra. 6 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2011a. p.261-306., p.261), assume-se que a visão bakhtiniana sobre esse recurso envolve muito mais elementos do que, exclusivamente, os recursos linguísticos.

Por questões de espaço, vamos nos ater a alguns aspectos que constituiriam uma estética filosófica geral para o estudo de objetos estéticos, uma vez que, em nossa compreensão, é por essa via que essa perspectiva de análise de gêneros entra em direto diálogo com os interesses de pesquisa dos ETO, especialmente porque um dos problemas mais importantes da estética é a correta colocação do problema do estilo (BAKHTIN, 2014aBAKHTIN, M. M. O problema do conteúdo, do material e da forma na criação literária. In: BAKHTIN, M. M. Questões de literatura e de estética: a teoria do romance. Tradução do russo de Aurora Fornoni Bernardini et al. 7 ed. São Paulo: UNESP; Hucitec, 2014a. p.13-70.). Ao falar sobre esse tópico, contemplam-se também (i) a concepção de língua da abordagem bakhtiniana; (ii) a noção de enunciado/enunciação27 27 Enunciado e enunciação são termos alternativos, nos textos bakhtinianos, para designar a unidade concreta e real da comunicação. e de gêneros do discurso; e (iii) especificamente, a concepção de estilo da abordagem.

O ponto de vista filosófico dos ECB, fortemente dedicado à reflexão da atividade estética28 28 Recupere-se que a concepção dos ECB sobre estética e objeto estético afasta-se da concepção formalista sobre esses aspectos. , promoveu inúmeras contribuições para o campo da linguagem, ao também tomá-la como uma atividade estética. Dentre elas, e a que mais diretamente nos interessa, está a compreensão de que a forma de um objeto estético (OE) não pode ser definida pela forma do material pelo qual se constitui, pois não é a ele (ao material) que está dirigida a atividade estética; antes, a forma criada é uma forma significativa do/para o homem29 29 A rejeição dos textos bakhtinianos a concepções empiristas faz ver que “homem”, nessas considerações, “não pode ser definido como pessoa” (BAKHTIN, 2011c, p.191), mas como ponto de vista que se assume. e do/para seu corpo; é a capacidade do homem de exprimir uma relação axiológica30 30 Usam-se, neste texto, os termos axiologia e ideologia alternadamente, para fazer referência ao universo de valores sociais que constituem os sujeitos - cf. Faraco (2009) e Acosta-Pereira e Rodrigues (2014). , emocional e volitiva, para algo, portanto, além do material.

Sendo o momento axiológico determinante da forma do material, a forma de um OE é a forma da intenção da criação - a relação do esteta com um mármore ou com elementos linguísticos, por exemplo, é secundária, pois não é a eles que a atividade se dirige31 31 Exceção seja feita ao trabalho artístico sobre a/por meio da linguagem. . A análise de um OE, portanto, fora do campo das intenções, torna-o, por conseguinte, um objeto isolado e extracultural, e é justamente contra isso que os ECB se insurgem, uma vez que seus autores não podiam concordar com a ideia de que nem o mais específico da arte, o estético-formal, exclui necessariamente o social, o histórico, o cultural (FARACO, 2011FARACO, C. A. Aspectos do pensamento estético de Bakhtin e seus pares. Letras de Hoje, Porto Alegre, v. 46, n. 1, p.21-26, jan./mar. 2011. Disponível em: https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fale/article/view/9217. Acesso em 10 fev. 2019.
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). Por essa via, os russos convocaram justamente uma base histórico-cultural a partir da qual a própria linguagem é repensada - e recolocada na “grande estrada da cultura humana una” (BAKHTIN, 2014aBAKHTIN, M. M. O problema do conteúdo, do material e da forma na criação literária. In: BAKHTIN, M. M. Questões de literatura e de estética: a teoria do romance. Tradução do russo de Aurora Fornoni Bernardini et al. 7 ed. São Paulo: UNESP; Hucitec, 2014a. p.13-70., p.17).

A partir dessas reflexões, a linguagem, em seu uso efetivo, passa, então, a ser vista, pelos ECB, como um OE, sob a forma de enunciação: (i) a real e concreta unidade da comunicação; (ii) produto da interação entre sujeitos socioculturalmente organizados - por isso, um produto cultural - e que, estando impregnada de valores32 32 Porque nenhum ato cultural é indiferente a valores (BAKHTIN, 2014a). , (iii) só pode ser compreendida na unidade sistemática da cultura, ou seja, em correlação com o mundo em que se realiza.

Como tal, a enunciação não pode ser compreendida ou definida apenas por sua estrutura linguística (material), porque (lembre-se:) a forma é, na verdade, a forma de um conteúdo, ao que os ECB denominam discurso: um projeto ou vontade/intenção de dizer, ou seja, uma posição assumida pelo sujeito ao tomar a palavra33 33 Esta é a relação entre discurso e enunciado: como “o discurso só pode existir de fato na forma de enunciações concretas de determinados falantes [ele] sempre está fundido em forma de enunciado” (BAKHTIN, 2011a, p.274). , aspecto que aponta para o fato de que o elemento que organiza toda a comunicação é a orientação axiológica/ideológica dos sujeitos34 34 Rodrigues (2001) denomina essa orientação de horizonte axiológico. (MEDVIÉDEV, 2012MEDVIÉDEV, P.N. O método formal nos estudos literários: introdução crítica a uma poética sociológica. São Paulo: Contexto, 2012.), uma vez que falar sobre qualquer objeto de enunciação implica assumir uma atitude avaliativa, uma atitude de não indiferença em relação:

  • (i) ao objeto do enunciado, porque a própria atitude de não indiferença já resulta do fato de os objetos de enunciação se relacionarem, de algum modo, com as condições de existência de um grupo social, tendo, por isso, adquirido alguma relevância, porque “só vemos e compreendemos aquilo que, de uma maneira ou outra, toca-nos, interessa-nos” (MEDVIÉDEV, 2012MEDVIÉDEV, P.N. O método formal nos estudos literários: introdução crítica a uma poética sociológica. São Paulo: Contexto, 2012., p.191);

  • (ii) a outros enunciados, porque toda enunciação só ocorre em resposta a outras enunciações35 35 Este é o princípio do dialogismo dos ECB. , uma vez que “a nossa própria ideia - seja filosófica, científica, artística - nasce e se forma no processo de interação e luta com o pensamento do outro” (BAKHTIN, 2011aBAKHTIN, M. M. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, M. M. Estética da criação verbal. Introdução e tradução do russo de Paulo Bezerra. 6 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2011a. p.261-306., p.298); por isso, a noção bakhtiniana de que todo falante é um respondente ativo, uma vez que não é o primeiro a ter violado o eterno silêncio do universo” (BAKHTIN, 2011a, p.272) e de que todo enunciado é “uma resposta a alguma coisa e (...) construída como tal” (BAKHTIN, 2014b, p.101);

  • (iii) aos interlocutores, porque, para a construção da enunciação enquanto resposta a outros enunciados (ditos ou previstos), os sujeitos avaliam a própria relação (socio-hierárquica) que mantêm com o auditório - com, na verdade, a imagem (valorativa) que mantêm do auditório. Segundo Volochínov (2013cVOLOCHÍNOV, V. A construção da enunciação. In: VOLOCHÍNOV, V. A Construção da enunciação e outros ensaios. Organização, tradução e notas de João Wanderley Geraldi. São Carlos: Pedro & João Editores, 2013c. p.157-188., p.168; grifos no original), “[e]ssa orientação a um outro (...) pressupõe inevitavelmente que se tenha em conta a correlação socio-hierárquica entre ambos os interlocutores (...) [porque] a forma da enunciação muda segundo a posição social do falante e do ouvinte, e segundo toda a situação social em que tal enunciação se realiza”.

Os sujeitos, então, centrados no objeto a que se reportam na enunciação, a partir dos sentidos que desejam construir, delimitam tanto o aspecto semântico da enunciação, quanto o seu acabamento estilístico-composicional, de maneira que a “unidade da forma [da enunciação] é a unidade da posição axiológica ativa” (BAKHTIN, 2014aBAKHTIN, M. M. O problema do conteúdo, do material e da forma na criação literária. In: BAKHTIN, M. M. Questões de literatura e de estética: a teoria do romance. Tradução do russo de Aurora Fornoni Bernardini et al. 7 ed. São Paulo: UNESP; Hucitec, 2014a. p.13-70., p.67) do sujeito.

Note que essa compreensão culmina por recolocar também a questão da relação entre o linguístico e a exterioridade: a situação social que engendra uma enunciação não pode ser vista como um contorno a que se pode ou não fazer referência, mas como constitutiva da enunciação, uma vez que, tal como a vida não se encontra só fora da arte, mas também nela, no seu interior, o uso efetivo da língua se constitui “de duas partes: uma verbal e outra não verbal” (VOLOCHÍNOV, 2013cVOLOCHÍNOV, V. A construção da enunciação. In: VOLOCHÍNOV, V. A Construção da enunciação e outros ensaios. Organização, tradução e notas de João Wanderley Geraldi. São Carlos: Pedro & João Editores, 2013c. p.157-188., p.171), que “penetram o enunciado também por dentro” (BAKHTIN, 2011bBAKHTIN, M. M. O problema do texto na linguística, na filologia e em outras ciências humanas. In: BAKHTIN, M. M. Estética da criação verbal. Introdução e tradução do russo de Paulo Bezerra. 6 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2011b. p.307-335., p.313). Daí a máxima bakhtiniana de que a língua em seu uso efetivo indicia as condições específicas (pragmáticas e histórico-culturais)36 36 O enunciado “nasce de uma situação pragmática e mantém conexão mais próxima possível com esta situação” (VOLOCHÍNOV, 2013b, p.77; grifos nossos) e também reflete “todas as causas e condições gerais mais remotas daquele intercâmbio comunicativo verbal específico” (VOLOCHÍNOV, 2013c, p.171). e as finalidades de cada campo cultural a que se vincula, mantendo “conexão mais próxima possível com esta situação” (VOLOCHÍNOV, 2013b, p.77).

Como cada domínio cultural significa e representa a experiência de uma dada maneira, “organiza, constrói e completa, à sua maneira, a forma gramatical e estilística da enunciação, [ou seja] sua estrutura tipo” (VOLOCHÍNOV, 2013cVOLOCHÍNOV, V. A construção da enunciação. In: VOLOCHÍNOV, V. A Construção da enunciação e outros ensaios. Organização, tradução e notas de João Wanderley Geraldi. São Carlos: Pedro & João Editores, 2013c. p.157-188., p.159; grifos no original). Eis o que são os gêneros do discurso: “formas relativamente estáveis e típicas de construção do todo [do enunciado]” (BAKHTIN, 2011aBAKHTIN, M. M. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, M. M. Estética da criação verbal. Introdução e tradução do russo de Paulo Bezerra. 6 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2011a. p.261-306., p.282), próprias de domínios culturais específicos ou “um tipo específico de atividade (...) que incorpora uma percepção específica da experiência” (MORSON; EMERSON, 2008MORSON, G. S.; EMERSON, C. Mikhail Bakhtin: criação de uma prosaística. Tradução de Antonio de Pádua Danesi. São Paulo: Edusp, 2008., p.299). Tudo isso parece apontar para duas questões.

A primeira delas é que a construção da enunciação não é feita livremente nem é criada pelos sujeitos (mas dada a eles), porque se orienta por “procedimentos de enformação37 37 A noção de enformação (e de acabamento) da enunciação refere-se ao fato de ela ter certos limites e de haver formas típicas de estruturação do enunciado (os gêneros do discurso), que possibilitam a reação-resposta do interlocutor. e acabamento” (BAKHTIN, 2011cBAKHTIN, M. M. O problema do autor. In: BAKHTIN, M. M. Estética da criação verbal. Introdução e tradução do russo de Paulo Bezerra. 6 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2011c. p.173-192., p.186) que são oferecidos historicamente a eles (tal como o sistema da língua). Toda intenção enunciativa deve ser, portanto, adaptada a uma forma de gênero, uma vez que “falamos apenas através de determinados gêneros do discurso, isto é, todos os nossos enunciados possuem formas relativamente estáveis e típicas de construção do todo” (BAKHTIN, 2011a, p.282). Em outros termos,

[n]ós aprendemos a moldar o nosso discurso em forma de gênero e, quando ouvimos o discurso alheio, já adivinhamos o seu gênero pelas primeiras palavras, adivinhamos um determinado volume (isto é, uma extensão aproximada do conjunto do discurso), uma determinada construção composicional, prevemos o fim, isto é, desde o início temos a sensação do conjunto do discurso (...) (BAKHTIN, 2011aBAKHTIN, M. M. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, M. M. Estética da criação verbal. Introdução e tradução do russo de Paulo Bezerra. 6 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2011a. p.261-306., p.283).

A segunda é que, como os gêneros do discurso evocam os mesmos elementos constitutivos da enunciação, só podem ser vistos como flexíveis, livres e plásticos (BAKHTIN, 2011aBAKHTIN, M. M. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, M. M. Estética da criação verbal. Introdução e tradução do russo de Paulo Bezerra. 6 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2011a. p.261-306.), considerando que “a realidade do gênero é a realidade social de sua realização no processo de comunicação social” (MEDVIÉDEV, 2012MEDVIÉDEV, P.N. O método formal nos estudos literários: introdução crítica a uma poética sociológica. São Paulo: Contexto, 2012.b, p.200).

Os gêneros, assim, comportam regularidades e singularidades, usos sociais e históricos, que servem de baliza para o dizer social, mas também usos evênticos38 38 A noção de eventicidade, nos textos bakhtinianos, pretende resgatar a noção de existência em evento, daí a recorrência de expressões, nessa literatura, como “ser-evento”, “ser-como-evento” ou “evento-em-devir-do-ser”. , novidades, devido tanto a particularidades de cada uma das interações sociais, quanto à agentividade dos sujeitos, ao assumirem uma posição, quando tomam a palavra; e, desse modo, a noção de que os gêneros são formas típicas e normativas não contradiz a noção de que toda enunciação é singular, única e irrepetível, uma vez que a relativa estabilidade dos gêneros é conquistada (e não dada abstratamente) a cada uso particular.

Considerando que os gêneros se organizam e se regularizam relativamente em torno de três dimensões - quais sejam, o conteúdo temático, o estilo verbal e a composição39 39 Sobre conteúdo temático e composição, não tratamos neste texto. -, há que se ter em mente a relação que os ECB estabelecem entre o todo da enunciação (as formas arquitetônicas) e as partes que a constituem (as formas composicionais), porque isso não se pode confundir: as primeiras são “as formas dos valores morais e físicos do homem estético (...); as formas da existência estética na sua singularidade” (BAKHTIN, 2014aBAKHTIN, M. M. O problema do conteúdo, do material e da forma na criação literária. In: BAKHTIN, M. M. Questões de literatura e de estética: a teoria do romance. Tradução do russo de Aurora Fornoni Bernardini et al. 7 ed. São Paulo: UNESP; Hucitec, 2014a. p.13-70., p.25); e as segundas, a “entidade teleológica composicional, onde cada momento e todo o conjunto estão voltados para um fim, realizam algo, servem a algo” (BAKHTIN, 2014a, p.24), podendo apenas essas últimas, por exemplo, serem analisadas a partir de uma perspectiva puramente técnica (linguística, por exemplo).

Uma correta compreensão desses aspectos, portanto, faz ver, segundo Bakhtin, que são as formas arquitetônicas que determinam a escolha da forma composicional, realizando-se aquelas por essas40 40 Os ECB advertem que não se pode pensar, contudo, que a forma arquitetônica exista em algum lugar (abstrato?) fora da estrutura composicional. . E aqui temos uma consideração bakhtiniana muito importante para os fins deste texto: “[a] correta colocação do problema do estilo, um dos problemas mais importantes da estética, é impossível sem uma rigorosa distinção entre formas arquitetônicas e composicionais” (BAKHTIN, 2014 a, p.26), do que se depreende que os recursos linguísticos, enquanto recurso material, não podem ser analisados fora da função que exercem na enunciação, qual seja: a de ser aparato técnico para a realização de um discurso. Nesse sentido, o estilo é um recurso da composição da enunciação e, como tal, só pode ser compreendido adequadamente se não se perde de vista a inteireza da enunciação, que aponta sempre para um posicionamento.

Vendo assim a questão, ainda que um analista se debruçasse sobre os aspectos atinentes ao estilo e à composição dos gêneros, tidos como “procedimentos de enformação e acabamento” (BAKHTIN, 2011cBAKHTIN, M. M. O problema do autor. In: BAKHTIN, M. M. Estética da criação verbal. Introdução e tradução do russo de Paulo Bezerra. 6 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2011c. p.173-192., p.186) dos objetos de discurso, já não teria uma análise reduzida a aspectos exclusivamente linguísticos, porque estilo, nos ECB, ultrapassa esse nível, uma vez que ele é, em primeiro lugar, “visão de mundo e só depois é o estilo da elaboração do material” (BAKHTIN, 2011c, p.187). Brait (2010BRAIT, B. Estilo. In: BRAIT, B. (org.). Bakhtin: conceitos-chave. 4. ed., 4ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2010. p.79-102., p.87, grifos no original) afirma que isso significa que estilo “não trabalha com palavras, mas com os componentes do mundo, com os valores do mundo e da vida (...)”, sendo, pois, “unidade de procedimento de enformação e acabamento” do próprio homem e de seu mundo.

Além disso, embora os ECB reconheçam, por um lado, que pode haver estilo individual - em decorrência da própria finalidade dos gêneros (como os da esfera literária), apesar de que, na “imensa maioria dos gêneros discursivos, o estilo individual não faz parte do plano do enunciado” (BAKHTIN, 2011aBAKHTIN, M. M. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, M. M. Estética da criação verbal. Introdução e tradução do russo de Paulo Bezerra. 6 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2011a. p.261-306., p.265-266) -, também destacam, por outro lado, que “o estilo são pelo menos dois homens, ou mais exatamente, é o homem e seu grupo social na pessoa de seu representante ativo - o ouvinte, que é o participante permanente do discurso interno e externo do homem” (VOLOCHÍNOV, 2013bVOLOCHÍNOV, V. Palavra na vida e a palavra na poesia: introdução ao problema da poética sociológica. In: VOLOCHÍNOV, V. A Construção da enunciação e outros ensaios. Organização, tradução e notas de João Wanderley Geraldi. São Carlos: Pedro & João Editores, 2013b. p.71-100., p.97; grifos nossos).

De todo modo, o destaque aqui é para o fato de que o estilo é visto como um elemento do próprio gênero, porque está inscrito nos usos historicamente situados (BRAIT, 2010BRAIT, B. Estilo. In: BRAIT, B. (org.). Bakhtin: conceitos-chave. 4. ed., 4ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2010. p.79-102.), de maneira que “[o] estudo dos estilos só pode ser feito em relação direta com o estudo dos gêneros” (AMORIM, 2004AMORIM, M. O pesquisador e seu outro: Bakhtin nas ciências humanas. São Paulo: Musa Editora, 2004., p.111; grifos nossos), já que “onde há estilo, há gênero” (BAKHTIN, 2011aBAKHTIN, M. M. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, M. M. Estética da criação verbal. Introdução e tradução do russo de Paulo Bezerra. 6 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2011a. p.261-306., p.268; grifos nossos). E isso ocorre porque, nos termos de Bakhtin (2011aBAKHTIN, M. M. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, M. M. Estética da criação verbal. Introdução e tradução do russo de Paulo Bezerra. 6 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2011a. p.261-306., p.291; grifos nossos), “[q]uando escolhemos as palavras, partimos do conjunto projetado do enunciado”, de maneira que é o próprio gênero, enquanto unidade relativamente estável de realização de uma enunciação, que autoriza certos usos linguísticos (e não outros) para representar uma dada realidade. Com isso, é possível compreender por que os elementos da língua “adquirem o perfume específico dos gêneros dados: eles se adéquam aos pontos de vista específicos, às atitudes, às formas de pensamento, às nuanças e às entonações [dos] gêneros” (BAKHTIN, 2014c, p.96).

Bragança (2017, p.445-447), sistematizando aspectos que caracterizam a configuração estilístico-composicional de uma enunciação, segundos os ECB, aponta para os seguintes aspectos: (i) as esferas sociais e suas condições típicas de enunciação; (ii) o aspecto temático típico de cada gênero; (iii) o auditório típico de cada gênero; (iv) os enunciados (sobre o mesmo objeto de discurso ou não) com quais se entra em relação dialógica; (v) o aspecto expressivo de cada gênero, pressupondo uma atitude valorativa do indivíduo quanto (a) ao objeto de discurso, (b) ao auditório, (c) aos enunciados precedentes sobre o mesmo objeto, (d) às respostas que projeta receber dos destinatários.

Dada a própria concepção discursiva da abordagem, os ECB praticam, portanto, uma estilística discursiva, com foco na “eficácia representacional e expressiva” (BAKHTIN, 2013BAKHTIN, M. M. Questões de estilística no ensino da língua. Tradução, notas e posfácio de Sheila Grillo e Ekaterina V. Américo. 1 ed. São Paulo: Editora 34, 2013. p.23-43., p.25; grifos nossos) dos recursos linguísticos, de maneira que estilística e gramática se fundem, uma vez que “[é] metodologicamente improdutivo e, de fato, impossível traçar uma clara linha de demarcação entre gramática e estilística (...) limite (...) incerto e instável na própria vida da língua” (VOLOSHINOV, 2011VOLOSHINOV, V. Palavra própria e palavra outra na sintaxe da enunciação. In: BAKHTIN, M. M. Palavra própria e palavra outra na sintaxe da enunciação: a palavra na vida e na poesia - introdução ao problema da poética sociológica. Org. e equipe de tradução do italiano Valdemir Miotello. São Carlos: Pedro & João, 2011. p.59-143., p.86).

3 ETO e ECB: juntando as pontas

Considerando as discussões anteriores, nesta seção vamos indicar alguns pontos convergentes entre os ETO e os ECB e propor uma articulação entre alguns outros para, ao final, oferecer uma resposta à pergunta que motiva este texto. Ressalte-se que, para as proposições desta seção, está em questão uma perspectiva sobre as abordagens mencionadas, tratando-se, portanto, da compreensão que, neste texto, estamos tendo delas. O fio condutor das reflexões aqui é o seguinte: por um lado, os ETO são caracterizados como uma perspectiva estilística, o que deixa ver que a questão do estilo é central para essa fase variacionista; por outro lado, os ECB, com os quais os ETO entram em diálogo (ora implícita, ora explicitamente), asseguram que o estilo é dos gêneros do discurso; se, em alguma medida, há aproximações epistemológicas entre os ETO e os ECB, como se pretende apontar a seguir, então podemos inferir que os gêneros do discurso são também centrais para os ETO, porque são, conformeBauman (2001BAUMAN, R. The Ethnography of Genre in a Mexican Market: Form, Function, Variation. In: ECKERT, P.; RICKFORD, J. R. (ed.). Style and Sociolinguistic Variation. Cambridge: Cambridge University Press, 2001. p.57-77.), o quadro para a compreensão da prática estilística.

Nesse sentido, cabe destacar que parece ser a guinada antropológico-discursiva dos ETO, sinalizada tanto pelos autores considerados o coração dessa fase, quanto por suas preocupações teóricas mais proeminentes (teoria e estilo social) (ECKERT, 2018ECKERT, P. Meaning and Linguistic Variation: The Third Wave in Sociolinguistics. Cambridge: Cambridge University Press. 2018. Disponível em https://librarylinguistics.files.wordpress.com/2019/04/meaning_and_linguistic_variation.pdf. Acesso em: 10 março 2020.
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), a via para o diálogo com os ECB, já que alguns ETO passaram a também considerar, para a análise sociolinguística, a variação no seu “ecossistema de significados discursivos” (COUPLAND, 2007COUPLAND, N. Style: Language Variation and Identity. Cambridge: Cambridge University Press, 2007., p.9)41 41 “(...) ecosystem of discursive meaning”. , o que traz uma série de consequências para a compreensão da própria natureza da linguagem (ECKERT, 2016), no âmbito dos estudos variacionistas.

Alguns pontos de contato mais evidentes entre as abordagens parecem ser, por exemplo: (i) a visão de que língua é um fenômeno: (a) distintivo, porque só se constitui no âmbito de um quadro de referência social, no qual diferentes usos estão em relação, uma relação que é de valor, ou seja, é ideológica e se correlaciona com outros aspectos do comportamento social; e (b) estético, porque é culturalmente variável, organizado em torno de princípios que são localmente relevantes e que motivam certa consistência, na medida em que participam da própria compreensão dos falantes acerca do mundo social, e essa só pode ser relativa, uma vez que é sempre feita a partir de uma determinada posição social e de um determinado ponto de vista; por isso, a língua sempre evocaria o posicionamento dos sujeitos frente a um quadro social, sendo, então, um trabalho de representação, culturalmente situada, da realidade; (ii) a perspectiva de sujeito agentivo, porque, dentro de um sistema de possibilidades distintivas, os sujeitos precisam assumir/negociar suas posições; (iii) a não separação entre o linguístico e sua exterioridade, uma vez que a dimensão social da interação é vista como não só motivadora, mas também constitutiva dos usos linguísticos.

Esses pontos compartilhados já trazem importantes mudanças para o estudo de fenômenos em variação. A primeira delas deriva da compreensão de que os recursos linguísticos estão a serviço de um discurso/posicionamento e, por isso, são agenciados de uma dada maneira, e não de outra. Mudando o discurso, o agenciamento muda também, e toda a relação forma/função/significado social, tão cara aos estudos variacionistas, pode ser redesenhada. Em outras palavras, a força motriz para a variação estilística seria o discurso, que sempre se constitui em relação a outro. Por isso, a prática de análises contrastivas/comparadas parece ser tão produtiva para os ETO42 42 Vale a pena destacar, nesse ponto, que análises contrastivas também são praticadas no âmbito da primeira e da segunda ondas variacionistas, embora sejam facultativas ao analista. No âmbito dos ETO, contudo, esse tipo de análise parece ser muito significativo: (i) as diferentes castas entre os falantes de Wolof (IRVINE, 2001); (ii) os gêneros do discurso “call” e “spiel” (BAUMAN, 2001); (iii) os profissionais de empresas estrangeiras e os profissionais de empresas estatais (ZHANG, 2005). .

Assim, o conjunto projetado de um posicionamento trata de agenciar criativamente itens potencialmente coocorrentes, cenário em que eles ganham especificidade. Nos termos de Coupland (2001COUPLAND, N. Language, Situation, and the Relational Self: Theorizing Dialectstyle in Sociolinguistics. In: ECKERT, P.; RICKFORD, J. R. (ed.). Style and Sociolinguistic Variation. Cambridge: Cambridge University Press, 2001. p.185-210.; 2007), esse é o cenário que “sutilmente [ativa] múltiplas dimensões simultâneas do significado potencial” (COUPLAND, 2001COUPLAND, N. Language, Situation, and the Relational Self: Theorizing Dialectstyle in Sociolinguistics. In: ECKERT, P.; RICKFORD, J. R. (ed.). Style and Sociolinguistic Variation. Cambridge: Cambridge University Press, 2001. p.185-210., p.209)43 43 “(...) ways of subtly activating multiple simultaneous dimensions of meaning potential”. dos recursos linguísticos. Daí a importância de os ETO se voltarem para a língua enquanto sistema semiótico dinâmico: das mesmas formas linguísticas, por exemplo, pode-se depreender diferentes índices de valor que organizam a paisagem sociolinguística.

A segunda mudança se refere aos elementos que merecem ser considerados para explicação da variação, independentemente do fenômeno, talvez: sendo um aspecto da dimensão social (qual seja, a postura que se assume ao se tomar a palavra) o elemento organizador dos usos linguísticos, estando ainda esses em conexão (mais próxima possível) com os elementos constitutivos da situação social que os enseja, a dimensão social se converte em fator de análise em primeiro plano, deixando, portanto, de ser alternativa a análises prioritariamente linguísticas, mesmo quando essas últimas são tomadas em sentido amplo. Implícita a essa questão parece estar a visão de que a compreensão da paisagem sociolinguística, nos ETO, demanda engajamento em teorias sociais: e, por isso, a “sociolinguística está cada vez mais bem posicionada para se envolver com debates ideológicos da teoria social” (COUPLAND, 2007COUPLAND, N. Style: Language Variation and Identity. Cambridge: Cambridge University Press, 2007., p.86).44 44 “(...) sociolinguistics is increasingly well positioned to engage with ideological debates in social theory”.

A partir, portanto, de como se compreende língua, nos ETO, parece haver também reconfiguração no design metodológico da abordagem variacionista - em consonância com o que Kiesling (2013KIESLING, S. F. Constructing Identity. In: CHAMBERS, J. K.; TRUDGILL, P.; SCHILLING, N. (ed.). The Handbook of Language Variation and Change. 2. ed. Cambridge: Blackwell, 2013. p.448-467.) considera ser um passo seguinte para entender o funcionamento de padrões sociolinguísticos, para além de correlações estatísticas: investigação do pano de fundo histórico, cultural e pragmático dos usos linguísticos. Para Coupland (2007COUPLAND, N. Style: Language Variation and Identity. Cambridge: Cambridge University Press, 2007.), esse tipo de análise, mais de natureza interpretativa, considerando que a prática social é confusa, complexa e contingente, é a força e a fraqueza dos estudos variacionistas, mas um caminho sem volta para eles, uma vez que, ao se lançar à interação social, terá de lidar com esse nível de complexidade.

É para desenvolver análises sob essa ótica, com foco na qualidade da interação social, que os ETO parecem se beneficiar com um diálogo com o quadro teórico discursivo dos ECB, e aqui entra nossa proposta de articulação, baseada, neste texto (por conta de espaço), em apenas um ponto de aproximação entre as abordagens: os gêneros do discurso, conforme o seguinte raciocínio.

Se os gêneros são um dos centros de discussão dos textos bakhtinianos, em alguns ETO são, explicitamente, apontados como o quadro para a compreensão da prática estilística (/linguística) (BAUNAM, 2001; COUPLAND, 2001COUPLAND, N. Language, Situation, and the Relational Self: Theorizing Dialectstyle in Sociolinguistics. In: ECKERT, P.; RICKFORD, J. R. (ed.). Style and Sociolinguistic Variation. Cambridge: Cambridge University Press, 2001. p.185-210.; 2007), porque são, cada um deles, tipos específicos de atividade de interação, de enquadramento, de adaptação de discursos, construídos histórica e culturalmente, e que indiciam todos os aspectos da dimensão social que engendram seu surgimento. Tudo o que se quiser saber sobre uma dada interação (o campo cultural em que ocorre, os interlocutores previstos e a hierarquia entre eles, a persona projetada, o objeto do enunciado, outros discursos com os quais ela dialoga, a relação de valor que mantém com esses, com os interlocutores etc.), portanto, está indiciado no gênero. Por tudo isso, uma teoria de gêneros do discurso parece ser basilar para alguns dos interesses dos ETO.

É nesse sentido que estamos tomando como fecundo, para os ETO, o reconhecimento teórico de que o estilo é do gênero, isto é, da atividade linguística na qual se inscrevem, concomitantemente: (i) posturas ideológicas, nascidas no âmbito de um quadro cultural de referências ou do diálogo com outras posturas, também indiciadas nos gêneros; (ii) outros enunciados45 45 Cf. Zilles e Faraco (2002), por exemplo, a relevância do discurso reportado para o exame de fenômenos variáveis. ; (iii) os interlocutores; (iv) a situação social (pragmática e histórico-cultural) da interação; (v) modos sociais (e mais estáveis) e modos individuais (e mais evênticos) de dizer.

O leitor, a essa altura, poderia indagar se seriam, então, os gêneros uma “camisa de força” para o dizer social e para a ocorrência de fenômenos variáveis. Conforme estamos compreendendo: seguramente, não. Os gêneros devem ser vistos (reitera-se) como uma baliza para o dizer social, uma consistência de traços (também) linguísticos, nos termos de Irvine (2001IRVINE, J. “Style” as Distinctiveness: The Culture and Ideology of Linguistic Differentiation. In: ECKERT, P.; RICKFORD, J. R. (ed.). Style and Sociolinguistic Variation. Cambridge: Cambridge University Press, 2001. p.21-43.), por conta de uma arquitetura social pré-existente, segundo Coupland (2007COUPLAND, N. Style: Language Variation and Identity. Cambridge: Cambridge University Press, 2007.), que, em termos teóricos, faz ver a relação entre regularidades e singularidades da vida social e dos sujeitos, em suas manifestações verbais.

Essa questão parece estar muito bem-posta, por exemplo, na seguinte explicação de Bauman (2001BAUMAN, R. The Ethnography of Genre in a Mexican Market: Form, Function, Variation. In: ECKERT, P.; RICKFORD, J. R. (ed.). Style and Sociolinguistic Variation. Cambridge: Cambridge University Press, 2001. p.57-77.). O autor considera que todo gênero é um estilo de discurso orientado para produção e percepção de determinados textos46 46 Por texto, o autor entende “[u]m trecho de discurso limitado, formalmente organizado, internamente coeso” (BAUMAN, 2001, p.58). . Mas eles (os gêneros) não gozam de autonomia formal e funcional, porque o ajuste entre um texto específico (particular) e o modelo genérico, por um lado, nunca é perfeito, já que os gêneros não fornecem meios para produção e recepção discursiva de forma acabada, uma vez que elementos contingentes (diferentes conexões com outros discursos, com outros textos, com a interação social em curso, com relações sociais mais amplas, com objetivos estratégicos etc.) participam do processo discursivo, fazendo com que os elementos constitutivos da estrutura genérica sejam “variavelmente mobilizados, abrindo assim, caminho para [sua] reconfiguração” (BAUMAN, 2001BAUMAN, R. The Ethnography of Genre in a Mexican Market: Form, Function, Variation. In: ECKERT, P.; RICKFORD, J. R. (ed.). Style and Sociolinguistic Variation. Cambridge: Cambridge University Press, 2001. p.57-77., p.59).47 47 Neste ponto, cabe uma ressalva: a visão de que há um ajuste entre um texto específico (particular) e o modelo genérico não é típica dos ECB - porque eles não trabalham com a noção de “modelo de gênero” e “texto de gênero”. Para os ECB, a questão é que um gênero, como unidade mínima da comunicação, como unidade interacional, pode receber diferentes acabamentos estéticos, no âmbito do que se justificam diferentes acabamentos linguísticos, por exemplo, o que sinalizaria para a eventicidade, para a singularidade de cada uso. Além disso, diferentemente da concepção de Bauman (2001), os ECB parecem operar com a perspectiva de que os gêneros, embora não sejam fixos, rígidos, fornecem sim meios para produção e recepção. Mesmo com essas diferenças, mantemos a perspectiva de Bauman (2001), neste texto, por se tratar de autor referenciado na literatura dos ETO.

Por outro lado, alguns aspectos da forma estilístico-composicional dos gêneros são mais salientes e, por isso, são mais recorrentemente mobilizados, o que minimiza a possível distância entre texto e gênero, e maximiza a inteligibilidades dos enunciados. É, pois, na interação que a lacuna entre o emergente e o convencional, dos gêneros, pode ser preenchida. E é, pois, no âmbito dos gêneros que os recursos linguísticos têm seus significados especificados.

Assim, ao dizer que o estilo é do gênero, afirma-se que, ao tomar a palavra, tanto o locutor quanto o interlocutor já têm uma expectativa, uma sensação do conjunto do discurso, em termos bakhtinianos, embora também nada impeça rupturas48 48 Note que quebras de expectativas, que podem, por exemplo, fazer parte de uma enunciação para criar algum efeito - como o humor -, só ocorrem porque há expectativas sociais, algumas mais gerais e partilhadas por grandes grupos, e outras mais específicas, partilhadas em pequenos grupos. com as expectativas e sensações projetadas, já que o preenchimento da lacuna entre o regular e o emergente dos gêneros é contingente, é específico de cada atividade interacional, que recebe acabamento estético próprio.

Por essa explicação, podemos inferir que, para os ETO, é a face potencialmente emergente dos gêneros que mais importa, pois é aí que os elementos que lhe são constitutivos - como o estilo - podem receber diferentes acabamentos, por meio da mobilização variável dos recursos linguísticos (aspecto que mais nos interessa nesta reflexão). Isso significa que, tal como um gênero não pode ser visto como sempre idêntico a si mesmo - porque a cada interação ocorre um ajuste singular entre texto e gênero, conforme a visão de Bauman (2001BAUMAN, R. The Ethnography of Genre in a Mexican Market: Form, Function, Variation. In: ECKERT, P.; RICKFORD, J. R. (ed.). Style and Sociolinguistic Variation. Cambridge: Cambridge University Press, 2001. p.57-77.), ou porque a unidade da interação pode receber diferentes acabamentos estéticos, conforme os ECB -, o estilo (considerado, aqui, como a seleção dos recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais da língua, em conexão com todos os aspectos do plano do conteúdo a que fizemos referência, ao longo do texto), embora sendo do gênero, pode receber diferentes acabamentos estéticos, já que depende, para se constituir, também das circunstâncias da interação. O acabamento estético de um gênero pode ser visto, portanto, como expediente para exame daquilo que interessa aos ETO: o estilo linguístico.

Diferenças de acabamento estético, de modo geral, ou diferenças no uso de recursos variáveis, de modo particular, de um mesmo gênero, podem, então, por exemplo, ser indicativas de diferenças ideológicas, identitárias, da qualidade da relação entre os participantes, de quebra de expectativas, de determinados objetivos etc., e o exame de tudo isso pode fazer ver justamente aquilo que é central para os ETO: personas projetadas, a agentividade dos sujeitos na construção de identidades, o significado social de variáveis sendo constituído localmente, a mutabilidade indexical dos recursos linguísticos para projetar diferentes discursos etc.

Tomando, portanto, os gêneros como uma prática discursiva, na qual se inscreve a prática estilística, o estudo do estilo se afasta da preocupação com o exame formal dos recursos linguísticos, para se dedicar à seguinte questão: “como a organização genérica dos aspectos linguísticos funciona como um recurso para a realização de objetivos sociais na condução da vida social?” (BAUMAN, 2001BAUMAN, R. The Ethnography of Genre in a Mexican Market: Form, Function, Variation. In: ECKERT, P.; RICKFORD, J. R. (ed.). Style and Sociolinguistic Variation. Cambridge: Cambridge University Press, 2001. p.57-77., p.59)49 49 “(...) how does the generic organization of linguistic means serve as a resource for the accomplishment of social ends in the conduct of social life?”. . E esse parece ser o interesse de ETO, ao recorrerem aos gêneros do discurso: compreender a dinâmica da vida social, para o que o acabamento estético dos gêneros aponta de modo profícuo.

Especialmente para esse tipo de compreensão é que os gêneros do discurso têm o potencial de se converterem em instância privilegiada para a análise da língua enquanto sistema semiótico dinâmico, enquanto atividade social que, em parte, é estruturada e, em parte, é emergente; em parte responde a padrões preexistentes e em parte constrói novidades, estando, portanto, os recursos linguísticos (e não apenas eles, mas todos os elementos do gênero também), a serviço da dinâmica social.

Muitas dessas considerações parecem já estar indiciadas na literatura brasileira sobre variação estilística, independentemente da fase variacionista a que se alinha o trabalho, conforme se depreende, por exemplo, da coletânea Variação estilística (GÖRSKI; COELHO; NUNES DE SOUZA, 2014GÖRSKI, E. M.; VALLE, C. R. M. Variação estilística em entrevistas sociolinguísticas: uma (re)leitura do modelo laboviano. In: GÖRSKI, E. M.; COELHO, I. L.; NUNES DE SOUZA, C. M. (org.). Variação estilística - reflexões teórico-metodológicas e propostas de análise. Florianópolis: Insular, 2014. p.67-92.), com proposições e resultados de pesquisas diversas e que seguem diferentes quadros teórico-metodológicos50 50 Cf. a sistematização feita por Bragança (2017, p.569-570) acerca de aspectos dessa discussão já indiciados na literatura dos estudos variacionistas. .

O que parece faltar à literatura variacionista é admitir que esses aspectos apontam para os gêneros do discurso, não como um elemento alternativo para a análise, na forma de contorno explicativo ou de variável independente, dentre tantos outros modos de abordagem, mas como eixo central de análise: eles são o todo das partes que estamos vendo aqui e acolá.

Em outras palavras e retomando a pergunta orientadora dessas discussões - afinal, por que os gêneros do discurso são relevantes para os estudos variacionistas, particularmente para os de terceira onda?: porque, a fim de dar conta da explicação sobre como fenômenos variáveis constituem recursos estilísticos, a variação linguística/estilística precisa ser vista como um recurso constitutivo (/parte) da enunciação, já que é para a enunciação que esse recurso de acabamento estético se volta; compreendendo, portanto, o todo da enunciação (e seus tipos relativamente estáveis - os gêneros do discurso, compreende-se também cada uma de suas partes, ou seja, sua estrutura e significado (performáticos).

Considerações finais

O objetivo deste texto foi refletir sobre a potencialidade dos gêneros do discurso para os estudos variacionistas, especialmente para os ETO, tendo em vista que, no âmbito dessa fase, por conta da centralidade da dimensão estilística, um conjunto de novas noções passaram a ser centrais. As mudanças conceituais, mais do que ampliarem o escopo de preocupações da abordagem variacionista, parecem recolocar questões fundamentais sobre a própria natureza da linguagem, e isso é que pode ter conduzido o campo para uma aproximação com os ECB.

Assim, considerando alguns pontos de aproximação entre essas duas abordagens e tecendo algumas articulações entre outros pontos, ponderou-se que, por ambas tomarem a língua, em uso efetivo, como um objeto estético, ambas a tomam também como uma atividade performática/evêntica/constitutiva e estilística, efeito da agentividade de sujeitos que, em parte seguem balizas sociais para serem o que são, para dizerem o que dizem e, em parte, criam novidades, a fim de se projetarem na paisagem sociocultural, indiciando, assim, em cada ato linguístico, as condições histórico-culturais e pragmáticas, a que se vinculam.

Disso tudo, o que mais diretamente interessou às discussões aqui propostas é que se os ETO têm como ponto central a questão do estilo e se parte da literatura dos ETO vai buscar em teorias discursivas, especificamente nos ECB, explicações sobre esse ponto, praticando, assim, uma estilística discursiva, então há indicativos de que o funcionamento da enunciação e de suas formas típicas de construção e de acabamento, os gêneros do discurso, são relevantes para o estudo do estilo. Eis o potencial analítico dos gêneros do discurso para os estudos variacionistas.

Declaração de disponibilidade de conteúdo

Os conteúdos subjacentes ao texto da pesquisa estão contidos no manuscrito.

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    » https://www.cambridge.org/core/journals/language-in-society/article/abs/chinese-yuppie-in-beijing-phonological-variation-and-the-construction-of-a-new-professional-identity/46BFE32E952190BE2FA112D38C8AE601
  • ZILLES, A. M. S.; FARACO, C. A. Considerações sobre o discurso reportado em corpus de língua oral. In.: VANDRESEN, P.(org.). Variação e mudança no português falado da região sul. Pelotas: Educat, 2002, p.15-46.
  • 1
    Uma primeira versão deste texto, produzida pelas duas primeiras autoras, foi aprovada para publicação pela Revista Alfa [ISSN Impresso: 0002-5216 ISSN Eletrônico: 1981-5794] em agosto de 2020. Em novembro de 2022, recebemos notificação de reprovação da versão em inglês, de modo que o texto não foi publicado. A partir dessa data, com discussões mediadas pela terceira autora, atualizamos algumas considerações teóricas, ensejando esta nova versão. A primeira versão mencionada está disponibilizada no Repositório Scielo Preprints: https://preprints.scielo.org/index.php/scielo/preprint/view/5030/version/5332.
  • 2
    Um incompleto levantamento desses trabalhos nos faz ver que os gêneros: ora são tomados como variável independente (VIEIRA, 2014; TAVARES, 2020); ora como elemento organizador de amostras (OLIVEIRA, 2006; BRAGANÇA, 2008); ora como instância para estudo da variação (LOBATO, 2009); ora são reduzidos à tipologia textual (SILVA, 1997; FONSECA, 2010); ora são tomados, genericamente, como indicativos de modalidade (gêneros orais e gêneros escritos) (MALVAR; POPLACK, 2008; STROGENSKI, 2010); ora são acionados para discussões teórico-metodológicas (GÖRSKI; VALLE, 2014; BERLINCK; BIAZOLLI; BALSALOBRE; 2014; BRAGANÇA, 2017; BIAZOLLI; BERLINCK, 2021).
  • 3
    Essa literatura, também conhecida como abordagens Speaker Design, organiza-se não em torno de uma teoria muito bem delimitada, mas em torno de temas de trabalho. Daí ser anunciada no plural (abordagens).
  • 4
    Todas as traduções dos textos citados são de responsabilidade das autoras. No original: “(...) a herald of modern sociolinguistics”.
  • 5
    “(...) has led over the last decade to a reconsideration of Bakhtin/Volosinov’s theoretical writings”.
  • 6
    Na exposição a seguir, utilizamos com frequência o recurso tipográfico itálico para dar ênfase a excertos que consideramos importantes para o desenvolvimento da argumentação apresentada.
  • 7
    A dimensão estilística dos estudos variacionistas de primeira onda, ocupando lugar secundário nas discussões, está atrelada ao domínio cognitivo de graus de atenção à fala, que se refletem em diferentes níveis de formalidade de uso. Essa perspectiva é bem diferente da praticada nos estudos de terceira onda, conforme se apresenta neste texto.
  • 8
    Para uma revisão sobre os estudos de primeira e de segunda onda, cf., por exemplo, Eckert (2016; 2018; 2022).
  • 9
    “(…) the heart of the Third Wave”.
  • 10
    “Once we view language as a dynamic social semiotic system, stability becomes a problematic concept”.
  • 11
    Por esse motivo, acionamos, neste texto, o termo cultura e seus derivados, compreendendo que, em sua acepção, questões ideológicas estão sempre implicadas.
  • 12
    “(…) the social is eminently about the content of people’s lives. Different ways of saying things are intended to signal different ways of being”.
  • 13
    “Variation constitutes a social semiotic system capable of expressing the full range of a community’s social concerns”.
  • 14
    “(…) a stylistic agent appropriates resources from a broad sociolinguistic landscape, recombining them to make a distinctive style”.
  • 15
    “(...) sense of place in the social world”.
  • 16
    “(…) represents a negotiation of the intersubjective meanings of social practices (...) identity is how individuals define, create, or think of themselves in terms of their relationships with other individuals and groups, whether these others are real or imagined”.
  • 17
    “(…) sociolinguistic variables get indexed not just to the identity but also to the ideologies and stereotypes surrounding that identity in a larger semiotic ideology”.
  • 18
    “(...) their central property must be indexical mutability”.
  • 19
    “(…) indexical field (...) a constellation of ideologically related meanings”.
  • 20
    “Thus variation constitutes an indexical system that embeds ideology in language and that is in turn part and parcel of the construction of ideology”.
  • 21
    “(…) styles in speaking involve the ways speakers, as agents in social (and sociolinguistic) space, negotiate their positions and goals within a system of distinctions and possibilities”.
  • 22
    “I interpret stylistic aesthetics as concerning (among other things) not only distinctiveness, but also the consistency of the linguistic features constituting a style”.
  • 23
    “(…) most social situations will have a pre-existing social architecture and a genre structure within which social meanings can be negotiated”.
  • 24
    “(…) style is a complex multidimensional phenomenon that cannot be modelled in a single unidimensional theory”.
  • 25
    “(…) to look closely at the historical and cultural backdrop of identities and the more general semiotic ideologies in which they are involved, and to look intently at the moment-to-moment use of variants in interactions that both draw from and accrete into these larger patterns”.
  • 26
    “The Third Wave (…) which began with the simple question of what variables mean, in the end raises fundamental questions about the nature of language”.
  • 27
    Enunciado e enunciação são termos alternativos, nos textos bakhtinianos, para designar a unidade concreta e real da comunicação.
  • 28
    Recupere-se que a concepção dos ECB sobre estética e objeto estético afasta-se da concepção formalista sobre esses aspectos.
  • 29
    A rejeição dos textos bakhtinianos a concepções empiristas faz ver que “homem”, nessas considerações, “não pode ser definido como pessoa” (BAKHTIN, 2011c, p.191), mas como ponto de vista que se assume.
  • 30
    Usam-se, neste texto, os termos axiologia e ideologia alternadamente, para fazer referência ao universo de valores sociais que constituem os sujeitos - cf. Faraco (2009) e Acosta-Pereira e Rodrigues (2014).
  • 31
    Exceção seja feita ao trabalho artístico sobre a/por meio da linguagem.
  • 32
    Porque nenhum ato cultural é indiferente a valores (BAKHTIN, 2014a).
  • 33
    Esta é a relação entre discurso e enunciado: como “o discurso só pode existir de fato na forma de enunciações concretas de determinados falantes [ele] sempre está fundido em forma de enunciado” (BAKHTIN, 2011a, p.274).
  • 34
    Rodrigues (2001) denomina essa orientação de horizonte axiológico.
  • 35
    Este é o princípio do dialogismo dos ECB.
  • 36
    O enunciado “nasce de uma situação pragmática e mantém conexão mais próxima possível com esta situação” (VOLOCHÍNOV, 2013b, p.77; grifos nossos) e também reflete “todas as causas e condições gerais mais remotas daquele intercâmbio comunicativo verbal específico” (VOLOCHÍNOV, 2013c, p.171).
  • 37
    A noção de enformação (e de acabamento) da enunciação refere-se ao fato de ela ter certos limites e de haver formas típicas de estruturação do enunciado (os gêneros do discurso), que possibilitam a reação-resposta do interlocutor.
  • 38
    A noção de eventicidade, nos textos bakhtinianos, pretende resgatar a noção de existência em evento, daí a recorrência de expressões, nessa literatura, como “ser-evento”, “ser-como-evento” ou “evento-em-devir-do-ser”.
  • 39
    Sobre conteúdo temático e composição, não tratamos neste texto.
  • 40
    Os ECB advertem que não se pode pensar, contudo, que a forma arquitetônica exista em algum lugar (abstrato?) fora da estrutura composicional.
  • 41
    “(...) ecosystem of discursive meaning”.
  • 42
    Vale a pena destacar, nesse ponto, que análises contrastivas também são praticadas no âmbito da primeira e da segunda ondas variacionistas, embora sejam facultativas ao analista. No âmbito dos ETO, contudo, esse tipo de análise parece ser muito significativo: (i) as diferentes castas entre os falantes de Wolof (IRVINE, 2001); (ii) os gêneros do discurso “call” e “spiel” (BAUMAN, 2001); (iii) os profissionais de empresas estrangeiras e os profissionais de empresas estatais (ZHANG, 2005).
  • 43
    “(...) ways of subtly activating multiple simultaneous dimensions of meaning potential”.
  • 44
    “(...) sociolinguistics is increasingly well positioned to engage with ideological debates in social theory”.
  • 45
    Cf. Zilles e Faraco (2002), por exemplo, a relevância do discurso reportado para o exame de fenômenos variáveis.
  • 46
    Por texto, o autor entende “[u]m trecho de discurso limitado, formalmente organizado, internamente coeso” (BAUMAN, 2001, p.58).
  • 47
    Neste ponto, cabe uma ressalva: a visão de que há um ajuste entre um texto específico (particular) e o modelo genérico não é típica dos ECB - porque eles não trabalham com a noção de “modelo de gênero” e “texto de gênero”. Para os ECB, a questão é que um gênero, como unidade mínima da comunicação, como unidade interacional, pode receber diferentes acabamentos estéticos, no âmbito do que se justificam diferentes acabamentos linguísticos, por exemplo, o que sinalizaria para a eventicidade, para a singularidade de cada uso. Além disso, diferentemente da concepção de Bauman (2001), os ECB parecem operar com a perspectiva de que os gêneros, embora não sejam fixos, rígidos, fornecem sim meios para produção e recepção. Mesmo com essas diferenças, mantemos a perspectiva de Bauman (2001), neste texto, por se tratar de autor referenciado na literatura dos ETO.
  • 48
    Note que quebras de expectativas, que podem, por exemplo, fazer parte de uma enunciação para criar algum efeito - como o humor -, só ocorrem porque há expectativas sociais, algumas mais gerais e partilhadas por grandes grupos, e outras mais específicas, partilhadas em pequenos grupos.
  • 49
    “(...) how does the generic organization of linguistic means serve as a resource for the accomplishment of social ends in the conduct of social life?”.
  • 50
    Cf. a sistematização feita por Bragança (2017, p.569-570) acerca de aspectos dessa discussão já indiciados na literatura dos estudos variacionistas.

Parecer I

Sobre o autor do parecer SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS

Parecer I

O artigo propõe uma articulação entre os estudos variacionistas da terceira onda e os estudos do círculo de Bakhtin, em torno do conceito de estilo, considerando o gênero do discurso uma categoria articuladora das duas teorias. A apresentação de cada uma das teorias é feita destacando os aspectos mais relevantes em relação ao estilo e, em seguida, é feita a articulação entre as duas teorias, mostrando as aproximações. A argumentação é bem desenvolvida, proporcionando ao leitor ver como a teoria variacionista da terceira onda se deslocou em direção ao discurso. O texto é bem escrito, bem-organizado em suas seções, adequado a um artigo científico. Considero que o artigo traz contribuições tanto para os estudos variacionistas como para os estudos do círculo de Bakhtin, ao trazer uma leitura de ambos em seus aspectos comuns. APROVADO

  • recomendação: aceitar

Histórico

  • Parecer recebido em
    20 Dez 2022

Parecer II

Sobre o autor do parecer SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS

Parecer II

La reflexión teórica que sobre el variacionismo plantean los autores, basada en las aportaciones de la ETO y ECB, contribuye a un replanteamiento sobre cómo abordar el estilo y género en sociolingüística. Los tres apartados con los que cuenta el texto son adecuados; en los dos primeros, los dos pilares teóricos se abordan con claridad, con fuertes y sólidas argumentaciones; y la descripcion detallada de las aportaciones de ETO y ECB. Por otra parte, el tercer apartado donde queda plasmada la articulación de las teorías, resulta una importante contribución al área, al destacar los autores las convergencias entre la tercer ola de la sociolingüística y el círculo bakhtiano, con ello ofrecen una nueva ejecución para el estudio del fenómeno de la variación. Demostrando que dos visiones, quizá distantes, sobre la lengua pueden ser unidas para proponer una nueva descomposición de las piezas que configuran la variación lingüística. Recomiendo que en al inicio del apartado sobre la tercer ola, ya emplee las siglas ETO, presentadas párrafos arriba: "Nesta seção, apresentamos uma breve visão panorâmica acerca dos principais conceitos que permeiam os estudos de terceira onda". Por otro lado, solo cuidar las cursivas, pues en ocasiones no logré comprender la función de las mismas. APROVADO

  • recomendação: aceitar

Histórico

  • Parecer recebido em
    24 Fev 2023

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Set 2023
  • Data do Fascículo
    Jul-Sep 2023

Histórico

  • Recebido
    08 Dez 2022
  • Aceito
    27 Jun 2023
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