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Fratura de stent como causa de reestenose em stent farmacológico

Stent fracture and restenosis of drug-eluting-stents

Resumos

Os stents coronários são usados em mais de 90% das intervenções coronárias percutâneas. Entretanto, sua eficácia está limitada pela ocorrência de reestenose, variando de 15% a 50% dos casos, dependendo da morfologia da lesão e da presença de co-morbidades (como, por exemplo, diabetes melito e insuficiência renal). Nos últimos anos, os stents farmacológicos provaram ser eficazes em suprimir a hiperplasia neo-intimal, reduzindo a taxa de reestenose para um dígito. Neste artigo, os autores descrevem um caso de reestenose em stent com eluição de sirolimus relacionada à fratura do stent.

Contenedores, efeitos adversos; Reestenose coronária; Sirolimus; Falha de equipamento


The latest great revolution in the management of restenosis has been the introduction of the drug-eluting-stents (DES). They have been proven very effective in suppressing neointimal proliferation and reduces restenosis rates to single digit numbers. A case of DES strut fracture-induced restenosis is described.

Stents, adverse effects; Coronary restenosis; Sirolimus; Equipment failure


RELATO DE CASO

Fratura de stent como causa de reestenose em stent farmacológico

Stent fracture and restenosis of drug-eluting-stents

Júlio César Machado Andréa; José Ary Boechat e Salles; Filipe Goldberg; Leandro Cortes; Hélio Roque Figueira

Hospital CardioTrauma Ipanema - Rio de Janeiro, RJ

Correspondência Correspondência: Júlio Andréa Av. Sernambetiba, 3300 - Bl. 2/1301 - Barra da Tijuca Rio de Janeiro, RJ - CEP 22630-010 E-mail: julioandrea@cardiol.br

RESUMO

Os stents coronários são usados em mais de 90% das intervenções coronárias percutâneas. Entretanto, sua eficácia está limitada pela ocorrência de reestenose, variando de 15% a 50% dos casos, dependendo da morfologia da lesão e da presença de co-morbidades (como, por exemplo, diabetes melito e insuficiência renal). Nos últimos anos, os stents farmacológicos provaram ser eficazes em suprimir a hiperplasia neo-intimal, reduzindo a taxa de reestenose para um dígito. Neste artigo, os autores descrevem um caso de reestenose em stent com eluição de sirolimus relacionada à fratura do stent.

Descritores: Contenedores, efeitos adversos. Reestenose coronária. Sirolimus. Falha de equipamento.

SUMMARY

The latest great revolution in the management of restenosis has been the introduction of the drug-eluting-stents (DES). They have been proven very effective in suppressing neointimal proliferation and reduces restenosis rates to single digit numbers. A case of DES strut fracture-induced restenosis is described.

Descriptors: Stents, adverse effects. Coronary restenosis. Sirolimus. Equipment failure.

Nos últimos anos, os stents farmacológicos (SF) provaram ser eficazes em suprimir a hiperplasia neo-intimal, reduzindo a reestenose intra-stent entre 60% e 75%, dependente da morfologia da lesão e da associação de co-morbidades (como, por exemplo, diabetes melito e insuficiência renal).

A reestenose dos SF relaciona-se à injúria nas bordas provocada pelo balão (pré e pós-dilatação), à não cobertura total da lesão abordada (geographic miss), à assimetria das hastes, à ruptura do polímero, à resistência e/ou à fratura do stent. Descrevemos um caso de reestenose em stent com eluição de sirolimus (SES) relacionada à fratura do stent.

RELATO DO CASO

Homem de 61 anos, com hipertensão arterial e dislipidemia, em angina estável classe funcional II-III, de acordo com a Canadian Cardiovascular Society (CCS). Em março de 1999, o paciente foi submetido a cirurgia de revascularização miocárdica (enxertos de artéria torácica interna esquerda-descendente anterior e venosos para primeira diagonal e primeira marginal esquerda).

Em março de 2006, o paciente apresentou episódio de angina instável progressiva e foi submetido a angiografia coronária, que demonstrou enxertos arteriais pérvios e venosos ocluídos, oclusão da artéria descendente anterior, artéria coronária direita pérvia, estenose segmentar suboclusiva da artéria circunflexa e função ventricular esquerda preservada. Optou-se por reconstrução endoluminal da artéria circunflexa, com implante de dois SES 3,0 x 18 mm e 2,5 x 33 mm em overlapping e impactação com balão 3,0 x 20 mm a 14 atm, com excelente resultado angiográfico (Figura 1).


Após nove meses, o paciente desenvolveu quadro de angina aos esforços. O estudo funcional com cintilografia miocárdica demonstrou isquemia de parede lateral. A angiografia revelou reestenose focal de 90% na porção distal do stent 2,5 x 33 mm, exatamente no local da anastomose distal do enxerto venoso aortaprimeira marginal esquerda, com movimento de torção do vaso nesse ponto (Figura 2). A análise com ultrasom intracoronário (USIC) demonstrou marcada hiperplasia neo-intimal, hipoexpansão, ausência das hastes do stent correspondendo à fratura do stent e ateroma distal ao stent (Figura 3).



Com base nesses achados ultra-sonográficos, a reestenose foi tratada com implante primário de stent com eluição de paclitaxel (PES) (Taxus®) 3,0 x 20 mm, impactado a 16 atm, com excelente resultado angiográfico e ultra-sonográfico (Figura 4).


DISCUSSÃO

O uso de SES e/ou de PES reduziu, acentuadamente, as taxas de reestenose, quando comparados aos stents convencionais (SC)1,2.

A reestenose angiográfica dos SF está abaixo dos 10% e habitualmente está relacionada à injúria nas bordas provocada pelo balão (pré e pós-dilatação), à não cobertura total da lesão abordada (geographic miss)3, à assimetria das hastes, à hipoexpansão, à ruptura do polímero, à resistência à droga, à hipersensibilidade à droga e/ou polímero e à fratura do stent4,5.

A fratura de stent, definida no USIC como diminuição do número de hastes durante o seguimento em relação ao momento do implante, favoreceria a distribuição não-uniforme da droga, podendo contribuir para o desenvolvimento da reestenose6. No presente caso, não dispúnhamos da avaliação ultra-sonográfica do implante do SES; entretanto, no seguimento, observamos nítida redução das hastes associada à hipoexpansão da endoprótese, que podem ter contribuído para hiperplasia neo-intimal localizada.

A fratura é relativamente incomum, sendo o mecanismo potencial a fadiga mecânica do material dos stents implantados em regiões de grande curvatura7, onde o ciclo cardíaco exerce grande estresse, tornandoos mais vulneráveis, especialmente os mais longos.

Em conclusão, a reestenose do SF decorrente de fratura do stent envolve a estimulação mecânica local pelas hastes "quebradas" da parede do vaso, resultando em inflamação e conseqüente hiperplasia neo-intimal. Além disso, a fratura acarreta a destruição da arquitetura do stent, ocasionando a distribuição não-uniforme da droga8-10, o que contribui para reestenose intensamente localizada, como a demonstrada no caso relatado. Estudos com USIC ajudarão a quantificar a importância da fratura do stent nesse cenário3.

Recebido em: 22/5/2007

Aceito em: 27/11/2007

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  • 3. Brilakis ES, Maniu C, Wahl M, Barsness G. Unstable angina due to stent fracture. J Invasive Cardiol. 2004;16(9):545.
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  • 8. Chowdhury PS, Ramos RG. Images in clinical medicine. Coronary-stent fracture. N Engl J Med. 2002;347(8):581.
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  • Correspondência:

    Júlio Andréa
    Av. Sernambetiba, 3300 - Bl. 2/1301 - Barra da Tijuca
    Rio de Janeiro, RJ - CEP 22630-010
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      15 Ago 2012
    • Data do Fascículo
      2008

    Histórico

    • Aceito
      27 Nov 2007
    • Recebido
      22 Maio 2007
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