Acessibilidade / Reportar erro

A Independência e uma cultura de história no Brasil1 1 Versões iniciais desta pesquisa foram apresentadas no Instituto de História da PUC-Chile (junho de 2013), no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (julho de 2013), no Fórum da revista Almanack, na Universidade Federal de São Paulo (maio de 2014), e na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (outubro de 2014), ocasiões em que seus autores puderam aproveitarse enormemente de críticas e sugestões realizadas por Fernando Purcell, Rafael Sagredo, Ana Maria Stuven, Patricio Bernedo, Felipe Del Solar, Barbara Silva, Javiera Müller, Nuno Gonçalo Monteiro, José Luís Cardoso, Roberta Stumpf, Andréa Slemian, Marcelo Vieira Magalhães, Miguel da Cruz, Wilma Peres Costa, André Roberto Machado, Marcelo de Souza Magalhães, Helenice Rocha, Eunícia Barcelos Fernandes, Cristiani Bereta da Silva e Juçara Barbosa de Mello. Nas duas últimas ocasiões, Rebeca Gontijo, Iara Lis Schiavinatto e Ângela de Castro Gomes ofereceram amplas e circunstanciadas resenhas críticas do texto. Sérgio Campos Mattos, Fábio Franzini e Elaine Lourenço se interessaram pelo trabalho desde o início, com ele colaborando de diversas formas. E Jaqueline Lourenço e a direção do Colégio Dante Alighieri (São Paulo) viabilizaram etapas importantes de sua realização. A todos eles, nossos profundos agradecimentos.

The Independence of Brazil and a Culture of History

Resumo

O objetivo deste artigo é propor uma análise preliminar de atitudes e valores que os brasileiros da atualidade nutrem diante de um fato histórico específico - a Independência do Brasil - bem como refletir acerca das relações de tais valores e atitudes com condições acadêmicas de formulação intelectual em torno do fato histórico. A investigação está baseada em livros didáticos, best-sellers, vídeos, filmes e magazines de história, bem como em uma pesquisa de opinião pública. Por fim, o artigo discute a noção de "cultura de história", e como a mesma pode eventualmente pautar valores sociais dos brasileiros em relação ao passado.

Palavras-chave:
Independência; cultura de história; história pública; ensino de história; historiografia

Abstract

The aim of this article is to propose a preliminary analysis of attitudes and values that Brazilians have nowadays about a specific historical event - the Independence of Brazil - as well as reflecting on the relationship of such values and attitudes towards academic conditions of intellectual formulation around a historical fact. The research is based on textbooks, bestsellers, videos, movies and History magazines as well as on a public opinion pool. Finally, the article discusses the notion of "culture of history", and how it can possibly guide Brazilian social values about the past.

Keywords:
Independence; culture of history; public history; history teaching; historiography

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

  • 1
    Versões iniciais desta pesquisa foram apresentadas no Instituto de História da PUC-Chile (junho de 2013), no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (julho de 2013), no Fórum da revista Almanack, na Universidade Federal de São Paulo (maio de 2014), e na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (outubro de 2014), ocasiões em que seus autores puderam aproveitarse enormemente de críticas e sugestões realizadas por Fernando Purcell, Rafael Sagredo, Ana Maria Stuven, Patricio Bernedo, Felipe Del Solar, Barbara Silva, Javiera Müller, Nuno Gonçalo Monteiro, José Luís Cardoso, Roberta Stumpf, Andréa Slemian, Marcelo Vieira Magalhães, Miguel da Cruz, Wilma Peres Costa, André Roberto Machado, Marcelo de Souza Magalhães, Helenice Rocha, Eunícia Barcelos Fernandes, Cristiani Bereta da Silva e Juçara Barbosa de Mello. Nas duas últimas ocasiões, Rebeca Gontijo, Iara Lis Schiavinatto e Ângela de Castro Gomes ofereceram amplas e circunstanciadas resenhas críticas do texto. Sérgio Campos Mattos, Fábio Franzini e Elaine Lourenço se interessaram pelo trabalho desde o início, com ele colaborando de diversas formas. E Jaqueline Lourenço e a direção do Colégio Dante Alighieri (São Paulo) viabilizaram etapas importantes de sua realização. A todos eles, nossos profundos agradecimentos.
  • 2
    João Paulo Pimenta é professor Livre-Docente no Departamento de História da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP), e-mail: jgarrido@usp.br; César Augusto Atti é graduado em História pela Universidade de São Paulo (FFLCH/USP) e professor da rede pública de ensino do Estado de São Paulo, e-mail: cesar.atti@yahoo.com; Sheila Virgínia Castro é graduanda em História pela Universidade de São Paulo (FFLCH/USP), e-mail: svcastro83@gmail.com; Nadiesda Dimambro é graduada em História pela Universidade de São Paulo (FFLCH/USP), e-mail: nanadimambro@gmail.com; Beatriz Duarte Lanna é graduanda em História pela Universidade de São Paulo (FFLCH/USP), e-mail: bduartelanna@gmail. com; Marina Pupo é pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), e-mail: marinapupo@gmail.com; Luís Otávio Vieira é graduando em História pela Universidade de São Paulo (FFLCH/USP) e bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), e-mail: luis.otavio.vieira@usp.br
  • 3
    DEVOTO, Fernando. Introducción. In: _________ (Dir.). Historiadores, ensayistas y gran público: la historiografía argentina, 1990-2010. Buenos Aires: Biblos, 2010, p. 10 (evocando uma ideia de Krzysztof Pomian).
  • 4
    Reconhecemos que tal proposta estaria melhor enquadrada com a devida apreciação de outras certamente muito próximas a ela, relativas a "cultura histórica", "cultura política" e "enquadramentos de memória", mas que aqui não puderam ser consideradas a tempo: LE GOFF, Jacques. História. História e memória. Campinas: EDUNICAMP, 1990, p.47-48; GOMES, Ângela de Castro. Cultura Política e cultura histórica no Estado Novo. In: ABREU, Martha; SOIHET, Rachel; GONTIJO, Rebeca (Org.). Cultura Política e leituras do passado: historiografia e ensino de história. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007, p.43-63; e GOMES, Ângela de Castro. Historia, historiografía y cultura política en Brasil: algunas reflexiones. Ayer v. 2, 2008, p.115-139.
  • 5
    MATOS, Sérgio Campos. Consciência histórica e nacionalismo: Portugal, séculos XIX e XX. Lisboa: Horizonte, 2008.
  • 6
    Para o quê, vale a distinção entre operações de memória individual e de memória coletiva estabelecidas por Paul Ricoeur. RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Campinas: Editora Unicamp, 2007, parte 1.
  • 7
    Nos anos de 1950, José Honório Rodrigues concebia uma nociva crise na sociedade brasileira, relativa a um "declínio de consciência histórica", na qual o passado se confinaria a cultos nostálgicos, e diante da qual o historiador - ele, em particular - deveria elaborar estratégias de atuação. RODRIGUES, José Honório. A pesquisa histórica no Brasil: sua evolução e problemas atuais. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional/ INL, 1952. Citado em: FREIXO, André de Lemos. Ousadia e redenção: o Instituto de Pesquisa Histórica de José Honório Rodrigues. História da historiografia, n.11, abril de 2013, p.155.
  • 8
    Nas palavras de um historiador dedicado ao estudo da identidade nacional portuguesa, "esse tipo de caracterizações genéricas, de lugarescomuns sem fundamento, ou que constituem generalizações abusivas a partir de fatos pontuais, são, no entanto, importantes, porque assinalam diferenças que se julga existirem entre as nações. São um testemunho da existência destas, pois todos os grupos nacionais possuem estereótipos sobre si próprios e sobre os outros, que são inerentes à própria construção de uma identidade". SOBRAL, José Manuel. Portugal, portugueses: uma identidade nacional. Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2012, p.17. Também CARDOSO, Patrícia da Silva. D. João VI, um imaginário revisitado. In: OLIVEIRA, Paulo da Motta (org.). Travessias: D. João VI e o mundo lusófono. Cotia: Ateliê, 2013, p.38.
  • 9
    RUSEN, Jorn. História Viva. Teoria da História III: formas e funções do conhecimento histórico. Brasília: Ed. da UNB, 2007.
  • 10
    Escapa ao escopo desta pesquisa, por exemplo, uma perquirição mais ampla a respeito de como a sociedade brasileira vê noções advindas de um pensamento que poderíamos chamar de "histórico", como ideias de temporalidade (futuro, passado, presente, instante, progresso, desenvolvimento, etc.). Tal empreendimento, de momento apenas sugerido pelo confinamento dos objetivos aqui expostos a uma análise das formas sociais de relacionamento com um passado coletivo ("história"), pareceria estar em sintonia com a proposta de Rüsen. Para uma proposta acerca de "cultura histórica" socialmente mais restritiva do que a nossa, aplicada ao mundo medieval, vide a importante obra de Guenée. GUENÉE, Bernard. Histoire et culture historique dans l'Occident medieval. Paris: AubierMontaigne, 1980, em especial o cap.7, "La culture historique".
  • 11
    NORA, Pierre. Entre memoria e historia. La problemática de los lugares. In: Pierre Nora en Les lieux de mémoire. Santiago: LOM/Trilce, 2009, p.5-47. Também DIEHL, Antonio Astor. Cultura historiográfica: memória, identidade e representação. Bauru: Edusc, 2002.
  • 12
    THOMPSON, Edward Palmer. Costumes em comum: estudos sobre a cultura popular tradicional. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, em especial p.13-15 e p.86. Há que se notar que o autor evita a manipulação de definições claras e apriorísticas, preferindo a construção das mesmas com base no desenvolvimento de suas pesquisas empíricas.
  • 13
    O que não significa que os atributos de uma cultura histórica não possam ser apropriados e manipulados politicamente, ou constituírem-se em subsídios para projetos de futuro; a ausência se refere a uma distribuição e tendencial confinamento por classes de tais atributos.
  • 14
    RUSEN, Jorn. Tradition: a principle of historical sense-generation and its logic and effect in historical culture. History and Theory, Theme Issue 51, dez/2012. Também FREIXO, André de Lemos. Ousadia e redenção. Op. Cit., p.157.
  • 15
    LYRA, Maria de Lourdes Vianna. Memória da Independência: marcos e representações simbólicas. Revista Brasileira de História, n.29, 1995, p.173-206; OLIVEIRA, Cecília Helena de Salles. O Espetáculo do Ipiranga: reflexões preliminares sobre o imaginário da Independência. Anais do Museu Paulista, São Paulo, v.3, 1995, p.195-208; OLIVEIRA, Cecília Helena de Salles e MATTOS, Cláudia Valladão (org.). O Brado do Ipiranga. São Paulo: EDUSP, 1999; WEHLING, Arno. Estado, História, Memória. Varnhagen e a construção da identidade nacional. Rio de Janeiro: Nova Fronteira/UNIRIO, 1999; ENDERS, Armelle. Os vultos da nação: fábrica de heróis e formação dos brasileiros. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2014.
  • 16
    Em referência, novamente, a NORA, Pierre. Entre memoria e historia. Op. Cit.
  • 17
    Um dado contundente: segundo a inovadora pesquisa realizada pela educadora Ana Teresa da Purificação, de um grupo de 97 crianças entre 9 e 13 anos e que jamais tinham sido introduzidas formalmente ao tema da Independência do Brasil, 82 foram capazes de representá-la de alguma maneira (desenhos, frases), geralmente em forte conexão com representações sociais mais amplas (D. Pedro, o Grito, o Sete de Setembro, a bandeira nacional, uma luta dicotômica entre bem e mal, etc.). PURIFICAÇÃO, Ana Teresa da. (Re)criando interpretações sobre a Independência do Brasil: um estudo das mediações entre memória e história nos livros didáticos. 2002. Dissertação (Mestrado em História). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002.
  • 18
    Exemplo interessante é o livro de Luís Fernando Cerri, com ênfase em uma consciência histórica focada na história da ditadura brasileira de 1964 a 1985, e com aproximações com outros países do cone sul. Cfr. CERRI, Luís Fernando. Ensino de história e consciência histórica: implicações didáticas de uma discussão contemporânea. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2011.
  • 19
    CHARLE, Christophe. Homo historicus: réflexions sur l'histoire, les historiens et les sciences sociales. Paris: Armand Colin, 2013.
  • 20
    SOBRAL, José Manuel. Op. Cit.; SMITH, Anthony D. Myths and Memories of the Nation. New York: Oxford University Press, 1999; ANDERSON, Benedict. Nação e consciência nacional. São Paulo: Ática, 1989; HOBSBAWM, Eric J. Nações e nacionalismo desde 1780: programa, mito, realidade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990; JANCSÓ, István. Brasil e brasileiros: notas sobre modelagem de significados políticos na crise do Antigo Regime português na América. Estudos Avançados, v.22, p.257-274, 2008. Mesmo suportes midiáticos eminentemente transnacionais, ou até mesmo supranacionais, típicos do mundo digital, não apenas se mostram incapazes de romper com a dimensão nacional do fenômeno, como em muitos casos até contribuem para reforçá-la.
  • 21
    Embora, como logo se verá, a ela tenha-se procurado dar, em parte, um perfil nacional brasileiro.
  • 22
    Os critérios exatos dessa sondagem, bem como os detalhes relativos às outras fontes utilizadas, encontram-se descritos nos próximos itens.
  • 23
    Sendo a população total 190.732.694, de acordo com o Censo Demográfico 2010 do IBGE. Disponível em ibge.gov.br/home/estatistica/ populacao/censo2010/default.shtm. Acesso em 01/04/2014.
  • 24
    A realização da mesma, assim como a interpretação de seus dados, teve em conta premissas metodológicas gerais estabelecidas por Patrick Champagne. CHAMPAGNE, Patrick. Formar a opinião: o novo jogo político. Petrópolis: Vozes, 1998; ZALLER, John R. The Nature and Origins of Mass Opnion. Cambridge: Cambridge University Press, 1992; WILHOIT, Cleveland e WEAVER, David H. Neswroom Guide to Polls & Surveys. Bloomington and Indianapolis: Indiana University Press, 1990; e MONZÓN ARRIBAS, Cándido. La opinión pública: teorías, conceptos y métodos. Madri: Tecnos, 1987.
  • 25
    COSSE, Isabela e MARKARIAN, Vania. Memorias de la historia: una aproximación al estudio de la consciencia histórica nacional. Montevidéu: Trilce, 1994; PAIS, José Machado. Consciência histórica e identidade: os jovens portugueses num contexto europeu. Oeiras: Celta/Secretaria de Estado da Juventude, 1999. Este último inclui vários dos resultados obtidos pelo inquérito geral europeu realizado com jovens e professores de História de 26 países do continente, mais Israel, "Israel Árabe" e "Palestina".
  • 26
    Seria importante considerar, ainda, atitudes de pessoas em relação a lugares de memória especificamente ligados à Independência do Brasil dentro das cidades, existentes, aliás, em praticamente todo e qualquer centro urbano do país. No caso de São Paulo, tal desafio pode encontrar estimulante ponto de partida em duas pesquisas: OLIVEIRA, Cecilia Helena de Salles. Museu Paulista: espaço de evocação do passado e reflexão sobre a história. Anais do Museu Paulista, São Paulo, Nova Série v.10/11, 2002/2003, p.105126; e ALMEIDA, Adriana Mortara. Os visitantes do Museu Paulista: um estudo comparativo com os visitantes da Pinacoteca do Estado e do Museu de Zoologia. Anais do Museu Paulista, São Paulo, Nova Série, v.12, 2004, p.269-306.
  • 27
    O PNLD tem como objetivo central "subsidiar o trabalho pedagógico dos professores por meio da distribuição de coleções de livros didáticos aos alunos da educação básica. Após a avaliação das obras, o Ministério da Educação (MEC) publica o Guia de Livros Didáticos com resenhas das coleções consideradas aprovadas. O guia é encaminhado às escolas, que escolhem, entre os títulos disponíveis, aqueles que melhor atendem ao seu projeto político pedagógico" (portal.mec.gov.br/ index.php?Itemid=668id=12391option=com_ contentview=article). A avaliação e seleção dos títulos aprovados pelo programa coube à Secretaria de Educação Básica (SEB) do Ministério da Educação, sendo a equipe avaliadora formada por professores de várias universidades públicas. Guia de livros didáticos: PNLD 2012: História. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2011.
  • 28
    PURIFICAÇÃO, Ana Teresa da. Op. Cit.
  • 29
    Tal tipo de fonte é o que melhor permite uma análise de mais largo escopo temporal do que o aqui contemplado. Uma excelente reunião preliminar de material encontra-se em CALMON, Pedro. História do Brasil na poesia do povo. Nova edição aumentada. Rio de Janeiro: Bloch, 1973. Para noções, concepções e representações da Independência na literatura e na dramaturgia portuguesa, vários apontamentos em: OLIVEIRA, Paulo da Motta. (org.) Op. Cit.
  • 30
    Muitas já vêm sendo analisadas separadamente, de acordo com uma tendência apontada acima. Para os livros didáticos, a produção é imensa, e inclui trabalhos importantes como os de BITTENCOURT, Circe Fernandes. Livro didático e conhecimento histórico: uma história do saber escolar. 1993. Tese. (Doutorado em História Social). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1993; MUNAKATA, Kazumi. Produzindo livros didáticos e paradidáticos. Tese. 1997. (Doutorado em História e Filosofia da Educação). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 1997; DIEHL, Astor Antônio (org.). O livro didático e o currículo de história em transição. Passo Fundo: EDIUPF, 1999; e CARDOSO, Oldimar Pontes. A didática da história e o slogan da formação de cidadãos. 2007. Tese. (Doutorado em Educação). Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007. Sobre cinema e história, dentre outros: FONSECA, Vitória Azevedo da. História imaginada no cinema: análise de Carlota Joaquina, princesa do Brazil e Independência ou morte. 2002. Dissertação (Mestrado em História Cultural), Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2002.
  • 31
    Esse é o perfil mostrado pelo censo do IBGE de 2010, com algumas poucas exceções; no caso da amostragem, a única importante se observa com a faixa etária de 25 a 29 anos (14%), mais numerosa do que a anterior, entre 20 e 24 anos (8%), sendo que a porcentagem da população brasileira em tais faixas etárias é praticamente a mesma (respectivamente 8% e 9%). De resto, foi possível estabelecer, nesse quesito, uma satisfatória correlação com o perfil brasileiro: a amostragem abordou indivíduos a partir de 15 anos, sendo que dos 14 grupos de cinco anos obtidos (o último corresponde a 80 anos ou mais), quatro apresentaram perfeita correspondência percentual com os dados nacionais, oito uma diferença de no máximo 2 %, e apenas dois, forte discrepância.
  • 32
    Para se atingir perfis ocupacionais desejados, algumas entrevistas foram realizadas na região do Grande ABC e no interior do estado de São Paulo.
  • 33
    Dados do último Censo do IBGE (2010), disponível em censo2010.ibge.gov.br/amostra/. Acesso em 01/04/2014.
  • 34
    O censo do IBGE de 2010 indicou a porcentagem de 7,6% para desocupados considerando o total da população maior de 10 anos. Para o estado de São Paulo a porcentagem é também de 7,6%. Disponível em: censo2010.ibge.gov.br/amostra/. Acesso em 01/04/2014.
  • 35
    Há aqui algumas discrepâncias em relação as categorias do IBGE que devem ser explicitadas: no que se refere aos critérios de renda estão ausentes do questionário "mais de 2 a 3 salários mínimos"; além disto a renda calculada pelo questionário tem como base a unidade familiar enquanto os dados do IBGE aqui contrastados referem-se à renda de indivíduos.
  • 36
    Dos 161.981.299 indivíduos totais "a partir de 10 anos", subtraiu-se 17.166.761 indivíduos entre 10 e 14 anos, de modo a limitar a estatística nacional aos jovens contemplados pela amostragem. Uma distorção, contudo, permanece na cifra dos indivíduos "sem instrução e fundamental completo" da tabela 1.5.4., pois crianças entre 10 e 14 anos podem perfeitamente ser "sem instrução", embora o sejam em pequena minoria "fundamental completo"; para todos os efeitos, as porcentagens das demais rubricas da mesma tabela foram assim corrigidas, já que crianças de 14 anos estarão necessariamente ausentes da rubrica seguinte, "médio completo" (tabelas 1.5.4 e 1.12, respectivamente).
  • 37
    Nos dados do IBGE, a maioria da população (59%) encontra-se na rubrica "não frequentavam, mas já frequentaram". Dentre os que "frequentavam", 78% o faziam em estabelecimentos públicos, e 22% em privados; na amostragem, esses percentuais, que incidem sobre frequência em curso/já realizada, foram, respectivamente, 63% e 27%, sendo que 11% se enquadravam em ambos.
  • 38
    Também nessa segunda parte, o questionário se afastou progressivamente da possibilidade de estabelecimento de equivalências estatísticas com a totalidade da população brasileira. Isso se deu por um motivo principal: o censo do IBGE não chega ao grau de detalhamento dos dados aqui obtidos (seus objetivos e natureza são outros) e, embora existam sondagens de opinião focadas em perfis culturais do brasileiro (como a edição de 2011 de Retratos da leitura no Brasil, do Instituto Pró-Livro, aqui utilizada como se verá mais adiante), a busca por tais equivalências implicaria o sério risco de um engessamento na obtenção de dados qualitativos. Tendo em vista os objetivos centrais dessa pesquisa - esboçar a caracterização de uma cultura de história no Brasil por meio da Independência, assim como refletir em torno de implicações do tratamento acadêmico do tema a partir de sua inserção nessa mesma cultura - o estabelecimento preliminar completo do perfil dos entrevistados não garantiria a validade do material a ser extraído e analisado. Trata-se justamente do contrário: submeter os resultados finais da pesquisa aos parâmetros dados pelas condições de sua própria realização.
  • 39
    Há pelo menos dois exemplos de como rankings se fazem presentes no pensar a História nesse escopo. Um primeiro, de grande participação popular, é o programa de tevê O maior brasileiro de todos os tempos, exibido entre 11/07 e 03/10/2012, pelo SBT. Conforme a sinopse da emissora, "baseado no formato criado pela BBC, The Greats, o programa elege{u} aquele que fez mais pela nação, que se destacou pelo seu legado à sociedade. Diversos países já apontaram os seus maiores representantes. Na Inglaterra, Winston Churchill saiu vencedor. Os italianos elegeram Leonardo da Vinci" (sbt.com.br/omaiorbrasileiro/ programa. Acesso em 21/03/2014). A escolha dos candidatos e a definição de seus confrontos - os personagens iam se enfrentando programa a programa, em caráter eliminatório - foi feita pelo telespectador, sendo o "campeão" Chico Xavier, seguido por Santos Dummont e pela princesa Isabel. Semelhante, mas de menor alcance, foi a pesquisa realizada pela Revista de História da Biblioteca Nacional, divulgada em abril de 2008, que convocou "para a tarefa de eleger os 'heróis' e os 'vilões' do Brasil uma distinta seleção de historiadores, professores, jornalistas, economistas, políticos e artistas, protegidos pelo anonimato para louvar e condenar quem bem entendessem". Entre os mais bem avaliados estavam Rui Barbosa, Machado de Assis e D. Pedro II; no polo oposto, Médici e Costa e Silva (revistadehistoria.com.br/secao/reportagem/ ranking-dos-brasileiros. Acesso em 21/03/2014).
  • 40
    As palavras são: acordo, comédia, continuação, democracia, ditadura, drama, elites/poderosos, escravidão, Estados Unidos, exército, guerra, heroísmo, Inglaterra, invenção, João VI, José Bonifácio, liberdade, mudança, nação, nascimento, negociação, paz, Pedro I, Portugal, povo, revolução, Tiradentes, tirania. O entrevistado poderia incluir outra palavra qualquer que desejasse.
  • 41
    O questionário encerrava-se com a possibilidade do entrevistado acrescentar livremente algo, bem como a opção de identificação nominal. Um proveitoso desdobramento da pesquisa poderia resultar de uma análise de nuances e matizes de interessantes jogos discursivos presentes em muitas das respostas obtidas, sobretudo no caso de uma expansão numérica da amostragem.
  • 42
    Quando, em fevereiro de 2013, foram amplamente divulgados resultados de pesquisas biomédicas (com tentativas de conclusões também históricas) realizadas com os restos mortais de Pedro I, Leopoldina e Amélia, realizadas por Valdirene Ambiel. Cfr. AMBIEL, Valdirene do Carmo. Estudos de arqueologia forense aplicados aos remanescentes humanos dos primeiros imperadores do Brasil depositados no monumento à Independência. 2013. Dissertação. (Mestrado em Arqueologia). Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013. Além de procurar esclarecer se tais restos se encontravam depositados no Monumento à Independência, em São Paulo, e diagnosticar o estado de conservação dos mesmos, Ambiel procurou chamar a atenção para as possíveis causas da morte dos monarcas e sobre os procedimentos funerários com eles então utilizados. Tais resultados foram divulgados pela imprensa nacional como "verdades" sobre a família imperial brasileira supostamente ausentes dos livros de história, "segredos" agora "revelados". Por exemplo: Pedro I tinha quatro costelas quebradas quando morreu, era mais baixo do que se supunha, não foi cremado, mas enterrado, acompanhado de porções de terra de Portugal e com roupas de general com insígnias portuguesas, e não brasileiras. Leopoldina não teve o fêmur quebrado antes de morrer como acreditava-se até então, foi enterrada com a mesma roupa com que foi coroada imperatriz e seus brincos não eram de ouro, mas bijuterias de resina. Já Amélia, quando morreu, tinha escoliose e osteoporose, foi enterrada de preto e mumificada. Na internet, tais "revelações" foram, no total, comentadas milhares de vezes, "recomendadas" e, em geral, bem-recebidas (fotos.estadao.com.br/mudanca-na-historiadez-verdades-sobre-a-familia-imperialque-nao-estao-nos-livros-de-historia,galer ia,7048,194910,,,0.htm?pPosicaoFoto=1#carousel, acesso em 27/03/2014; folha.uol.com.br/fsp/ cienciasaude/94655-corpos-da-familia-imperialsao-exumados.shtml, acesso em 02/04/2014; folha.uol.com.br/fsp/cienciasaude/94656descoberta-mostra-abandono-de-d-leopoldinadiz-historiadora.shtml, acesso em 02/04/2014; estadao.com.br/noticias/cidades,sob-sigilodom-pedro-i-e-suas-duas-mulheres-saoexumados-pela-primeira-vez,998367,0.htm, acesso em 02/04/2014; veja.abril.com.br/ blog/ricardo-setti/tema-livre/abertura-paraestudos-dos-sarcofagos-de-d-pedro-i-e-desuas-duas-esposas-e-fato-extraordinarioparabens-ao-estadao-por-divulgar-tudo/, acesso em 02/04/2014; br.noticias.yahoo. com/exuma%C3%A7%C3%A3o-d-pedro-imulheres-reconta-hist%C3%B3ria-115400981. html>, acesso em 02/04/2014; g1.globo.com/ ciencia-e-saude/noticia/2013/02/cientistasbrasileiros-exumam-restos-mortais-de-d-pedroi-e-suas-mulheres.html, acesso em 02/04/2014; youtube.com/watch?v=y8jcdXyx3hA>, acesso em 02/04/2014; vestibular.uol.com.br/resumodas-disciplinas/atualidades/historia-do-brasilexumacao-traz-novidades-sobre-d-pedro-i.htm, acesso em 02/04/2014; <google.com.br/search?q= exuma%C3%A7%C3%A3o+de+dom+pedro&oq= exuma%C3%A7%C3%A3o+&aqs= chrome.4.69i57j0l5.5749j0j8&sourceid= chrome&espv=210&es_sm=93&ie=UTF-8>, acesso em 02/04/2014; noticias.seuhistory. com/exumacao-revela-detalhessurpreendentes-da-vida-e-morte-de-dpedro-i-e-suas-mulheres>, acesso em 02/04/2014; istoe.com.br/reportagens/277892_ A+VOLTA+DE+DOM+PEDRO+I, acesso em 02/04/2014; bahiaatual.com/noticias/ exumacao-de-corpos-de-d-pedro-i-reveladetalhes-da-famiila-real/, acesso em 02/04/2014; Site Último Segundo "Exumação de D. Pedro I e suas mulheres reconta a História", disponível em ultimosegundo.ig.com.br/ ciencia/2013-02-19/exumacao-de-dpedro-i-esuas-mulheres-reconta-a-historia.html, acesso em 02/04/2014; diariodepernambuco.com. br/app/noticia/ciencia-e-saude/2013/02/19/ internas_cienciaesaude,424273/restos-mortaisde-d-pedro-i-sao-exumados-para-realizacaode-pesquisa.shtml, acesso em 02/04/2014; http://opiniaoenoticia.com.br/brasil/restosmortais-de-dom-pedro-i-sao-exumados/>, acesso em 02/04/2014; noticias.band.uol.com.br/ jornaldaband/conteudo.asp?id=100000576688, acesso em 02/04/2014.
  • 43
    Não parece ser o caso da cultura histórica portuguesa, de acordo com trabalhos recentes como os de PAIS, José Machado. Op. Cit.; SOBRAL, José Manuel. Op. Cit.; e MATOS, Sérgio Campos. Consciência histórica e nacionalismo: Portugal, séculos XIX e XX. Lisboa: Horizonte, 2008.
  • 44
    A ausência de menções a outros tipos de suporte de informações sobre a Independência reforça a escolha das fontes secundárias da pesquisa, analisadas no próximo item.
  • 45
    Embora seja muito frequente a consideração de que o principal marco fundacional da história brasileira tenha sido o "descobrimento" (isto é, a chegada dos portugueses à América em 1500), e não a ruptura política entre Brasil e Portugal. Muito provavelmente, isso se conecta com uma também muito frequente concepção da Independência como "não-ruptura", como processo negociado, amigável e sem grandes solavancos. Retornaremos à questão.
  • 46
    Todas as 28 palavras oferecidas aos entrevistados receberam no mínimo quatro menções, sendo que 22 tiveram mais de uma dezena de menções, a mesclarem termos que remetem a características atribuídas à Independência, que ensejam relações diretas ou indiretas com ela, ou que se referem a simples informações.
  • 47
    Foram feitas 310 menções de termos positivos em relação à Independência (liberdade, democracia, revolução, heroísmo, mudança, drama), contra 210 dos mesmos como não combinando com ela; essa tendência é reforçada por 190 menções a termos negativos que combinariam com ela (acordo, escravidão, negociação, continuação, ditadura, comédia, invenção, tirania), sendo que os mesmos foram mencionados 391 vezes como não combinando. Esclarecer o caso de escravidão: pode ser referência a uma realidade (em geral, negativa), mas também como metáfora política. Para todos os efeitos, como mencionar o termo de outras maneiras?
  • 48
    148 escolhas incidiram sobre termos conflitivos que com ela combinariam (guerra, revolução, mudança), contra 101 menções a tais termos como não combinando; porém, tal tendência se inverte nas 119 escolhas de termos pacíficos que com ela combinariam (paz, acordo, negociação), contra 70 menções aos mesmos como não combinando.
  • 49
    Foram feitas 27 escolhas de povo como combinando, contra 22 do mesmo termo como não combinando, e 35 a elite/poderosos como combinando, contra 14 em termos opostos, o que indica certo equilíbrio tendente à segunda possibilidade.
  • 50
    Não se pode deixar de mencionar algumas outras palavras que não se encontravam na lista, mas foram acrescidas pelos entrevistados, sendo, portanto, de menção espontânea. As mais recorrentes, combinando num sentido depreciativo foram "interesse" e "corrupção" Outras palavras, tais quais, "unificação", "morte" (em alusão ao Grito) e "progresso", enriqueceram a fileira dos termos valorativos.
  • 51
    Essa percepção é reforçada por alguns dos dados obtidos por Purificação. Em meio a representações da Independência produzidas por crianças entre 09 e 13 anos, encontram-se frases como "Quando D. Pedro viu terra, gritou: Independência ou Morte!", e "Pouco depois de descobrirem o Brasil, gritaram a independência". PURIFICAÇÃO, Ana Teresa da. Op. Cit., p.40-41. Cabe lembrar que tais crianças não haviam tido ainda contato formal (na escola) com o tema da Independência, "apenas" por meio de uma cultura de história a envolverem-nas.
  • 52
    O que parece impor uma urgente reflexão em torno dos efeitos do violento desprestígio das referências factuais que o sistema escolar impôs ao ensino de História no Brasil das últimas décadas. O quê, ademais, não parece uma situação exclusivamente brasileira, de acordo com a sugestão que nos foi dada por Nuno Gonçalo Monteiro, a ver aqui paralelismo com o ensino de História em Portugal.
  • 53
    Outras duas possibilidades promissoras seriam analisar respostas a questões de vestibulares relativas à Independência, e entrevistas com professores e coordenadores pedagógicos que, de alguma forma, lidem com o tema no cotidiano escolar.
  • 54
    MORENO, Jean Carlos. Limites, escolhas e expectativas: horizontes metodológicos para análise dos livros didáticos de história. Antíteses, Londrina, v.5, n.10, p.729, jul./dez.2012.
  • 55
    O que é atestado, por exemplo, pela recente consolidação da presença, nos livros didáticos, de tópicos relativos à História do continente africano.
  • 56
    Dos 49 autores de livros didáticos aqui considerados, 36 são identificados pelos termos "mestre", "doutor" ou "professor universitário". O que não significa, como é bem sabido, que tais autores sejam integralmente responsáveis pelo conteúdo de suas obras.
  • 57
    MORENO, Jean Carlos. Op. Cit., p.724.
  • 58
    58 Segundo dados oficiais, somente no ano de 2012, esse governo comprou cerca de 40,8 milhões de livros didáticos para os anos do Ensino Médio (Assessoria de Comunicação Social do FNDE, 24 de agosto de 2012).
  • 59
    Sua produção, no entanto, é regionalmente concentrada: na seleção das coleções de didáticos feita pelo MEC em 2010, oito editoras de São Paulo responderam por 84,2% da produção aprovada, enquanto três de Curitiba ficaram com os 15,8% restantes.
  • 60
    DIAS, Adriana M., GRINBERG, Keila e PELLEGRINI, Marco. Novo Olhar. História. v.2. São Paulo: FTD, 2010; ALVES, Alexandre e OLIVEIRA, Letícia F. de. Conexões com a História. v.2. São Paulo: Moderna, 2010; PEDRO, Antônio e LIMA, Lizânias de Souza. História sempre presente. v.2. São Paulo: FTD, 2010; VICENTINO, Cláudio R. e DORIGO, Gianpaolo F. História Geral e do Brasil. v.2. São Paulo: Scipione, 2011; FIGUEIRA, Divalte G. História em foco. v.2. São Paulo: Ática, 2011; NOGUEIRA, Fausto G. e CAPELLARI, Marcos. Ser protagonista. História. 2º ano do Ensino Médio. São Paulo: Edições SM, 2010; BURITTI, Flávio. Caminhos do Homem. v.2 Curitiba: Base Editorial, 2010; CAMPOS, Flávio de; CLARO, Regina. A escrita da História. v.2, São Paulo: Escala Educacional, 2010; COTRIM, Gilberto. História Global: Brasil e Geral. v.2. São Paulo: Saraiva, 2010; AZEVEDO, Gislane C. e SERIACOPI, Reinaldo. História em movimento. v.2. São Paulo: Ática, 2010; MORENO, Jean Carlos e GOMES, Sandro V. História: cultura e sociedade. v.3. Curitiba: Positivo, 2010; FERREIRA, João Paulo e FERNANDES, Luiz Estevam. Nova História integrada. v.2. 2a. ed. Curitiba: Módulo, 2010; MORAES, José Geraldo Vieira de. História Geral e Brasil. v.2. São Paulo: Saraiva, 2010; BRAICK, Patrícia e MOTA, Myriam B. História. Das cavernas ao terceiro milênio. v.2. 2a. ed. São Paulo: Moderna; SANTIAGO, Pedro, CERQUEIRA, Célia e PONTES, Maria Aparecida. Por dentro da História. v.2. São Paulo: Escala Educacional, 2010; MOCELLIN, Renato e CAMARGO, Rosiane. História em debate. v.2. São Paulo: Editora do Brasil, 2010; CATELLI Jr., Roberto; GANDINI, María Soledad M. e ASPIS, Renata L. História texto e contexto. v.2. São Paulo: Scipione, 2011; FARIA, Ricardo de M.; MIRANDA, Mônica Liz e CAMPOS, Helena. Estudos de História. v.2. São Paulo: FTD, 2010; VAINFAS, Ronaldo; FARIA, Sheila de Castro; FERREIRA, Jorge Luís; SANTOS, Georgina dos. História. v.2. São Paulo: Saraiva, 2010.
  • 61
    PURIFICAÇÃO, Ana Teresa da. Op. Cit.
  • 62
    Conforme observou o Guia de livros didáticos: PNLD 2012: História, 17 das coleções aprovadas adotaram a perspectiva da História Integrada, na qual se expõe o conteúdo histórico a partir da "sequência cronológica de base europeia", havendo o predomínio da "História Geral eurocêntrica" linear. Os assuntos sobre a História da América e do Brasil estão intercalados nesta grande História Geral. As outras duas coleções optaram pelo formato temático, organizando os assuntos "em torno de múltiplos espaços e temporalidades", mas guiados por um eixo cronológico. Guia de livros didáticos: PNLD 2012: História. Op. Cit., p. 18-19.
  • 63
    Uma afirmação típica: "O nascimento do Brasil como país independente encontra-se dentro do contexto de crise do Antigo Regime e do sistema colonial mercantilista." VAINFAS, Ronaldo; FARIA, Sheila de Castro; FERREIRA, Jorge Luís; SANTOS, Georgina dos. Op. Cit., p.89. Os paradigmas historiográficos a que tal tipo de afirmação remete são, evidentemente, as obras de Caio Prado Júnior e Fernando Novais, já amplamente presentes também nos livros de Ensino Fundamental. PURIFICAÇÃO, Ana Teresa da. Op. Cit., cap.3.
  • 64
    Exemplo é a afirmação de que "em reconhecimento à importância da Batalha do Jenipapo como um episódio fundamental no processo de independência e de consolidação do território, a data de 13 de março de 1823 foi estampada na bandeira do estado do Piauí". DIAS, Adriana; GRINBERG, Keila e PELLEGRINI, Marco. Op. Cit. p.240.
  • 65
    Excelente demonstração é dada por uma proposta pedagógica de um jogo didático elaborado pelo Laboratório de Ensino de História da Universidade Federal de Pelotas, descrita em: GASPAROTTO, Alessandra; ESPÍRITO SANTO, Marco Vinício do; SILVA, Eduarda Borges da. Jogo didático vira-vira: a metrópole vira colônia, a colônia vira-metrópole. Revista Latino-Americana de História, v.2, n.6, agosto de 2013 (Edição Especial), p.648-661.
  • 66
    Os preferidos são D. João, Carlota Joaquina, José Bonifácio e D. Pedro.
  • 67
    Um exemplo: após afirmar que "durante anos, a historiografia oficial tentou idealizar o processo de independência e seus autores, explicado como um ato de heroísmo contra a tirania e em defesa da liberdade", uma das obras afirma, em tom de contraposição: "Mas, nas últimas décadas, novos estudos permitiram lançar um novo olhar sobre esse período. Expressões dessa mudança são algumas produções culturais recentes que tratam desse momento com uma visão crítica e até mesmo sarcástica, como, por exemplo, o romance O Chalaça (1999), de José Roberto Torero". Por fim, propõe como "Sugestão de atividade", supostamente para aguçar o senso crítico do aluno, "comparar o romance de Torero citado acima com a visão oficial dos eventos fornecida pela célebre pintura Independência ou morte (O Grito do Ipiranga), de Pedro Américo, ou pelo filme Independência ou morte (1972), de Carlos Coimbra" (BRAICK, Patrícia e MOTA, Myriam. Op. Cit., p.80-81). Além de ignorar os momentos, objetivos e naturezas distintos das obras recomendadas, tal atividade sugere a ultrapassagem de uma visão "tradicional" da Independência por outra, "crítica" - logo mais aceitável. Assim, o aluno é encorajado a conceber a história por meio de sua livre-interpretação, mas sendo impelido a endossar a de um romance satírico (logo voltaremos a ele).
  • 68
    Em um livro para o Ensino Fundamental, de 1996, lia-se que "para a realização do nosso trabalho foi importante a participação de Mariana Massarani, artista que desenhou, com alegria e bom humor, os acontecimentos estudados" (AQUINO, Rubim de; LOPES, Oscar P. Campo; PIRES, Maria Emília B. Do mundo indígena ao período regencial no Brasil. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1994, p.1; citado por PURIFICAÇÃO, Ana Teresa da. Op. Cit., p.79). Essa é uma tendência antiga, como nos mostra o poema de Murilo Mendes, "A pescaria" (publicado em História do Brasil, de 1932), evocativo da tão célebre quanto historicamente irrelevante disenteria de D. Pedro em 7 de setembro de 1822, e transcrito em outro didático: "Foi nas margens do Ipiranga/Em meio a uma pescaria,/Sentindo-se mal, D. Pedro/Comera demais cuscuz./Desaperta a braguilha/E grita, roxo de raiva:/Ou me livro desta cólica/Ou morro logo de uma vez!/O príncipe se aliviou,/Sai no caminho cantando:/Já me sinto independente./Safa! Vou de perto a morte!/ Vamos cair no fadinho/Pra celebrar o sucesso". MACEDO, José Rivair. Brasil - uma história em construção. São Paulo: Brasil, 1996, p.166. Cit. por PURIFICAÇÃO, Ana Teresa da. Op. Cit., p.101.
  • 69
    Tomemos por exemplo esta afirmação: "De acordo com alguns historiadores, as raízes da independência brasileira estão na segunda metade do século XVIII, quando se multiplicaram atividades produtivas e comerciais na colônia, sobretudo na região Centro-Sul." (MORAES, José Geraldo Vieira de. Op. Cit., p.113). Nela, é possível reconhecer a presença de influente e importante interpretação acadêmica acerca da Independência do Brasil (DIAS, Maria Odila. A interiorização da metrópole (1808-1853). In: MOTA, Carlos Guilherme. 1822: dimensões. São Paulo: Perspectiva, 1972. p.160-184.); no entanto, não é apresentada qualquer contraposição (se esta posição é da parte de "alguns historiadores", outra divergente deve ser da parte de outros). Mais adiante, lê-se que "o fato relevante foi que a transferência da corte para o Brasil provocou uma inversão histórica de modo significativo e irreversível nas relações entre a metrópole portuguesa e a colônia brasileira." (Idem, p.114). Ora, o que seria uma inversão irreversível dessas relações? Portugal teria se tornado para sempre colônia do Brasil?
  • 70
    Nos livros didáticos de Ensino Fundamental analisados por Purificação já eram abundantes as transcrições de trechos de textos de historiadores profissionais, sem que deles resultasse qualquer ensejo de pluralidade de pensamento ou de estímulo à interpretação.
  • 71
    VAINFAS, Ronaldo; FARIA, Sheila de Castro: FERREIRA, Jorge Luís; SANTOS, Georgina dos. Op. Cit., p. 103.
  • 72
    O capítulo 14 de uma das obras, intitulado "O processo de independência da América portuguesa", inicia-se com um excerto do Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles, também indutor a essa interpretação: "Através de grossas portas / sentem-se luzes acesas / e há indagações minuciosas / dentro das casas fronteiras / Que estão fazendo, tão tarde? / Que escrevem, conversam, pensam? / Mostram livros proibidos? / Leem notícias nas Gazetas?/ Terão recebido cartas/de potências estrangeiras? {...} / Ó vitórias, festas, flores / das lutas da Independência! / Liberdade - essa palavra / que o sonho humano alimenta: / que não há ninguém que explique, / e ninguém que não entenda!" (BRAICK, Patrícia e MOTA, Myriam. Op. Cit., p. 202). Já nas "sugestões de leitura e consulta para o professor" de outra, encontra-se indicação de uma obra de J. J. Chiavenato - Inconfidência mineira: as várias faces. São Paulo: Global, 2000 - com este comentário: "o autor mostra o movimento que buscava a emancipação política do Brasil. Adotando uma abordagem que parte da realidade socioeconômica do período, este livro releva diferentes aspectos desse momento singular da história brasileira" (NOGUEIRA, Fausto e CAPELLARI, Marcos. Op. Cit., p.71). Em uma terceira obra, logo na abertura de um capítulo intitulado "A independência política do Brasil", lê-se que "os dias 21 de abril e 7 de setembro, feriados nacionais, nos fazem lembrar de dois momentos do processo histórico que levou a independência política do Brasil". (COTRIM, Gilberto. Op. Cit., p.223). A associação direta entre Inconfidência Mineira e a Independência era mais comumente feita em livros didáticos de décadas atrás. Um de Ensino Fundamental caracterizava a Revolta de Beckman, a Guerra dos Emboabas, a Revolta de Felipe dos Santos, a Guerra dos Mascates e as conjurações Mineira e Baiana como movimentos nos quais "os revoltosos se opuseram à metrópole, sonhando e lutando pela autonomia do país". ALVES, Kátia Corrêa Peixoto e GOMIDE, Regina Célia de Moura Belisário. Nas trilhas da história, Ensino Fundamental, Belo Horizonte, Dimensão, 1999, v.4). Citado por PURIFICAÇÃO, Ana Teresa da. Op. Cit., p.108.
  • 73
    FIGUEIRA, Divalte G. Op. Cit., p.191. Nos de Ensino Fundamental: AQUINO, Rubim de; LOPES, Oscar P. Campo; PIRES, Maria Emília B. Op. Cit., p.100; CARMO, Sônia S. do; COUTO, Eliane F. B. A. A consolidação do capitalismo e o Brasil império. São Paulo: Atual, 1997 (História Passado Presente, 3), p.105; FERREIRA, José Roberto. História Edição Reformulada. São Paulo: FTD, 1997 (7ª série), p.65; ALVES, Kátia Correia Peixoto e GOMIDE, Regina Célia de Moura Belisário. Op. Cit., p. 128. Citados por PURIFICAÇÃO, Ana Teresa da. Op. Cit., p.78, 84-85, 96 e 111.
  • 74
    Debret, Rugendas, Moreaux, Félix Taunay, Constantino Fontes, Pollière, Parreiras, Benedito Calixto, Delerive, Martins Viana, Oscar Pereira da Silva, Georgina de Albuquerque e Aldemir Martins, entre outros.
  • 75
    Isso já era frequente há uma década com livros de Ensino Fundamental, como por exemplo: ALVES, Kátia Corrêa Peixoto e GOMIDE, Regina Célia de Moura Belisário. Op. Cit., p.126; e COTRIM, Geraldo. Op. Cit., p. 112; conforme análise de PURIFICAÇÃO, Ana Teresa da. Op. Cit. p.113 e 123. Há que se dizer que livros didáticos não são meio exclusivo para esse esvaziamento do valor documental da iconografia, havendo na própria publicação acadêmica problema semelhante, como demonstra CAVENAGHI, Airton José. O atlas do império do Brazil e as representações presentes no livro. Projeto História, v. 41, 2010, p. 383-403.
  • 76
    Constatação semelhante à de PURIFICAÇÃO, Ana Teresa da. Op. Cit., para os didáticos de Ensino Fundamental.
  • 77
    NOGUEIRA, Fausto e CAPELLARI, Marcos. Op. Cit., p.255.
  • 78
    Para um deles, "o pintor Pedro Américo imaginou a cena ocorrida às margens do riacho do Ipiranga" (AQUINO, Rubim de; LOPES, Oscar P. Campo; PIRES, Maria Emília B. Op. Cit., p.100; para outro, um célebre quadro mostraria uma "cena de uma sessão das cortes de Lisboa, reconstituída pelo pintor Oscar Pereira da Silva". Cfr. CARMO, Sônia do; COUTO, Eliane F. B. A. Op. Cit., p. 73; um terceiro propunha ao aluno a seguinte atividade: "observe cuidadosamente as gravuras de Debret que aparecem no texto. Descreva cada uma delas e compare as cenas nelas retratadas com as cenas de nossas ruas de hoje. Há diferença? Em que sentido?". Cfr. GARCIA, Leônidas F. Estudos de história: sociedades contemporâneas. 2. ed. rev. Goiânia: Editora da UFG, 1996, Manual do Professor, p. 111. Todas as informações foram retiradas de PURIFICAÇÃO, Ana Teresa da. Op. Cit. p.81, 88 e 137.
  • 79
    Conforme bem mostrado por Elias Saliba. Cfr. SALIBA, Elias, Experiências e representações sociais: reflexões sobre o uso e o consumo das imagens. Anais do II Encontro Perspectivas do Ensino de História. São Paulo: FEUSP, 1996; citado por PURIFICAÇÃO, Ana Teresa da. Op. Cit., p.119.
  • 80
    Produzida pela Secretaria de Ensino à Distância do Ministério da Educação, em parceria com a TV Escola e a Fundação Joaquim Nabuco, com a companhia teatral Mão Molenga. Parte 1 disponível em youtube.com/ watch?v=Z60eHBJ1xjY, 18.082 visualizações e 15 comentários; parte 2 disponível em youtube.com/ watch?v=2QLkP2NDhMg, 30.100 visualizações, 8 comentários (parte desse episódio também disponível em youtube.com/watch?v=bAPUjP7l-lI, 18.398 visualizações e 16 comentários, acesso em 13/02/2014.
  • 81
    Como Clemente Pereira, Gonçalves Ledo, Cipriano Barata, Paes de Andrade e frei Caneca. O fato de se tratar de uma produção pernambucana contribui para tanto.
  • 82
    Semelhante observação pode ser feita a respeito dos doze curtos episódios da série D. João no Brasil, inspirada em uma narrativa em quadrinhos da chegada da Corte ao Brasil, série de animação produzida pelo Canal Futura, baseada no livro de história em quadrinhos D. João Carioca: a corte portuguesa chega ao Brasil (1808 - 1821), escrito pela historiadora Lilia Schwarcz e pelo desenhista Spacca (São Paulo: Companhia das Letras, 2007). Novamente, tem-se um material convincente, afinado em muitos sentidos com um conhecimento acadêmico mas que, ao recorrer à sátira, também evoca estereótipos convencionais como, por exemplo, os mesmos acima mencionados em referência a príncipe e princesa Poder-se-ia atribuir tal convencionalismo, dentre outros fatores, ao de que a primazia da linguagem visual aqui opera duplamente; isto é, com os quadrinhos e também com o programa televisivo criado a partir deles, amplificando assim os efeitos decorrentes da saturação visual da sociedade que dá origem e significado a esse material. Para todos os efeitos, a imposição de tais convenções é forte até mesmo, conforme já visto, em materiais menos visuais que este. Episódio 01: youtube.com/watch?v= 9f5RB1zcD5E&list=PLyP1ks9vaqhj2y6MmckU DyuXtWmHgPLe5&index=1, 331 visualizações, nenhum comentário; episódio 02: youtube.com/watch?v= w-BLqvhYPGk&list=PL5837763F26AB1B87, 16.566 visualizações, 6 comentários; episódio 03: youtube.com/watch?v=QvWSE-sF-w4&list =PL5837763F26AB1B87, 18406 visualizações, 8 comentários; episódio 04: youtube.com/watch?v= 2N5wBvpgyXE&list=PL5837763F26AB1B87, 12.808 visualizações, 5 comentários; episódio 05: youtube.com/watch?v=VaHrSAFBf1U&list =PL5837763F26AB1B87, 14.615 visualizações, 5 comentários; episódio 06: youtube.com/watch?v= 8RrCMbOZTsA&list=PL5837763F26AB1B87, 12649 visualizações, 10 comentários; episódio 07: youtube.com/watch?v=I4cgWo_GHaQ, 601 visualizações, 01 comentário; episódio 08: youtube.com/watch?v=rI71YNrLo7o, 12299 visualizações, 01 comentário; episódio 09: youtube.com/watch?v=huv2ngnqUd4, 367 visualizações, 02 comentários; episódio 10: youtube.com/watch?v=F2MaLs_kj-w, 10842 visualizações, 03 comentários; episódio 11: youtube.com/watch?v=8zK3D01dXc0, 9388 visualizações, 05 comentários; episódio 12: youtube.com/watch?v=R76BHD-vB8&list=PL5837763F26AB1B87, 12108 visualizações, 9 comentários; acessos em 03/04/2014.
  • 83
    NAPOLITANO, Marcos, A História depois do papel. In: Carla Pinsky (org.) Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, 2005, p.250-252. Napolitano afirma, com base em Umberto Eco, que a televisão introduziu uma mudança de ritmo de vida familiar e cotidiana, bem como o que se pode chamar de hipertrofia sensorial em detrimento da assimilação conceitual. Destaca, ainda, que é preciso pensar a televisão como uma nova experiência social do tempo histórico na medida em que ela faz coincidir o verdadeiro, o imaginário e o real no ponto indivisível do presente.
  • 84
    Produzida pela rede de emissoras públicas TV Brasil. Sobre a Revolta dos Alfaiates, parte 1: youtube.com/watch?v=vhiykcX3IKo, 767 visualizações, nenhum comentário; parte 2: youtube.com/watch?v=dj04LJJM8bk, 2592 visualizações, nenhum comentário. Sobre a Batalha do Jenipapo: parte 1: youtube.com/ watch?v=zlgsZcj-V3o, 2426 visualizações, 02 comentários, acesso em 24/03/2013; parte 2: youtube.com/watch?v=rAS3dHAvWPQ, 1283 visualizações, 01 comentário. Sobre Tiradentes: youtube.com/watch?v=z5QkhMDrTTI, 408 visualizações, nenhum comentário (acessos em 24/03/2013).
  • 85
    Marco Morel e Luís Henrique Dias Tavares.
  • 86
    Programa De lá pra cá, Revolta dos Alfaiates, parte 1: youtube.com/watch?v=vhiykcX3IKo
  • 87
    Exceção são as entrevistas realizadas por Mônica Teixeira, na UnivespTV, que estabelecem comunicação bastante profícua entre a entrevistadora e os acadêmicos entrevistados (youtube.com/watch?v=syXf3WHQRPM, 4450 visualizações, 06 comentários; youtube.com/watch?v=pZk5pFlboqw, 3303 visualizações, 01 comentário;youtube.com/ watch?v=5pUDP2KUYCY, 4128 visualizações, 04 comentários; A luta pela independência do Brasil foi escrita nas páginas memoráveis da nossa história, com o sangue de um punhado de brasileiros. O mais celebrado foi Tiradentes. Mas, sete anos depois do martírio de Tiradentes, quatro brasileiros, pretos, pobres, pelos mesmos ideais, foram enforcados e sentenciados em Salvador.86 youtube.com/watch?v=0ZVgCwkt1ms, 1384 visualizações, 03 comentários; youtube.com/ watch?v=Va1Ern6GTsc, 1016 visualizações, 01 comentário;youtube.com/watch?v=Va1Ern6GTsc, 1227 visualizações, 03 comentários; youtube.com/watch?v=ANSHAFLau04, 1175 visualizações, 04 comentários). Acessos em 21/04/2014.
  • 88
    José Murilo de Carvalho, Lúcia Pereira das Neves e Marcello Basile.
  • 89
    A apresentadora: "Vocês sabem o que significa corcunda?" Um professor de colégio: "Deve ser alguma coisa que está surgindo aí no mundo um pouco mais cibernético porque eu nem na faculdade ouvi falar dos corcundas." Marcos Tomazzeti, produtor multimídia: "Na minha cabeça vem algo de monarquia, de rei, algo meio político." Simone Granda, bancária: "Dicionário de corcundice? Não sei!" Marilu Guimarães, dona de casa: "Puxa, tem tanta coisa importante pra ter dicionário, vai ter justo do corcundista?" Caminhos da Independência: youtube.com/ watch?v=37XH5UEpjlI, acesso em 24/03/2013.
  • 90
    Em perspectiva oposta, mas complementar, à da sondagem de opinião aqui utilizada.
  • 91
    E que, portanto, muito provavelmente ainda não tinha tido contato formal (escolar) com o tema.
  • 92
    O programa prossegue, então, com uma entrevista com o professor Ian Rari, que trata de uma História da Independência processual, não centrada em uma única data ou fato, crítica, etc. Mais um momento onde as várias vozes contempladas pelo programa não dialogam entre si (youtube.com/ watch?v=xv1LOlwUfFQ, 289 visualizações, nenhum comentário). Outro exemplo significativo é dado pelo programa Conexão Jovem, exibido em 06 de setembro de 2012, no qual dois entrevistados - Prof. Bira, professor de História e Marcos Eduardo, sociólogo - utilizam com competência o pouco tempo a eles destinado, discorrendo de modo crítico sobre a Independência, e em linguagem adequada ao público jovem ao qual o programa se destina (produção da TV Novo Tempo, adventista: parte 1: youtube. com/watch?v=1IvYOYtju9s>, 74 visualizações, nenhum comentário; parte 2: youtube.com/ watch?v=Ofv7QWOJpHo, 47 visualizações, nenhum comentário (acessos em 24/03/2013). Logo, o programa traz uma abordagem feita na rua, na qual a entrevistadora pergunta a uma jovem: "Quem falou 'independência ou morte' às margens do riacho do Ipiranga?" Diante da correta resposta, a entrevistadora tenta induzir um erro: "15 de novembro, ou 7 de setembro?" Aliás, a expectativa do programa parece revelada pela entrevistadora logo na primeira pergunta feita a um dos convidados: "será que os jovens se interessam pela história de seu país?". E embora o material recolhido pelo próprio programa permita resposta afirmativa, mantém-se a postura negativa, pré-concebida.
  • 93
    Daí a relevância de um vídeo com fotografias e um áudio (youtube.com/watch?v=UdQ_aAAl3DE) da então prefeita de Ribeirão Preto (São Paulo), Darcy Vera, que afirma, durante um desfile de 7 de Setembro, dentre vários desvarios, que "Tiradentes gritou 'Independência ou morte'". Com 169.919 acessos e 149 comentários (em geral críticos, bem humorados e depreciativos) até 20/08/2014, condensa a possibilidade de amplificação do estigma do não domínio de referências convencionais à Independência, mas sem fomentar nenhum conhecimento da mesma.
  • 94
    Novamente, surge a questão: não terão as renovações curriculares promovidas no ensino de História (no Brasil e alhures) das últimas décadas exagerado nessa incompatibilidade? Terão elas sido capazes de mensurar seus efeitos deletérios diante de sociedades já bastante refratárias a uma história cronológica?
  • 95
    "Pouco importa que sua figura tenha sido mitificada pela propaganda republicana. O que importa é que ele foi um herói. Ele deu sua vida pela pátria e pela liberdade" (Programa De lá pra cá: youtube.com/watch?v=z5QkhMDrTTI, 360 visualizações, nenhum comentário, acesso em 26/03/2013). Essa exaltação da figura de Tiradentes associada à Independência conduz o discurso da propaganda eleitoral de um candidato à prefeitura de Ouro Preto em 2012 (youtube.com/watch?v=eGefgLoRhec, 360 visualizações, nenhum comentário, acesso em 26/03/2014). Em entrevista ao programa Roda Viva da TV Cultura de São Paulo, no dia 09 de setembro de 2013, após se autocaracterizar como realizador de uma "história de carne e osso" em contraposição a produções "contaminadas pela análise marxista" que retirariam os personagens da História, o jornalista Laurentino Gomes afirma: "No 1822 faço uma comparação, e digo que o único problema do José Bonifácio foi nascer no Brasil, pois se ele tivesse nascido nos Estados Unidos teria sido maior que o Thomas Jefferson. Porque aparentemente ele era mais preparado, mais lúcido que o Thomas Jefferson" (parte 1: youtube.com/watch?v=uGibbLxsZK0, 4501 visualizações e 5 comentários; parte 2: youtube. com/watch?v=2LQcEcb5kLU, 2302 visualizações, 6 comentários, acesso em 26/03/2014. Logo voltaremos à obra e às ideias de L. Gomes.
  • 96
    Um exemplo advém do vídeo "A verdadeira independência do Brasil", em que um pastor evangélico, em meio a uma cerimônia religiosa, "desconstrói" o quadro de Pedro Américo, acusando-o de pouco verossímil, e aponta os desvios morais de D. Pedro I de modo a inviabilizá-lo como figura histórica digna de memória (youtube.com/watch?v=RsKQr6bgzLA, 178 visualizações e 2 comentários, acesso em 24/03/2014). A suposta irrelevância dos personagens envolvidos no processo da independência é notável na fala de um professor de Ensino Médio (youtube.com/ watch?v=gvWVF9j2KEU, 597 visualizações e nenhum comentário, acesso em 24/03/2014) e de um apresentador de temas religiosos, que relativizam a importância do tema ao afirmarem a atual "dependência econômica" do Brasil (youtube.com/watch?v=EXyUBY7StF4, 383 visualizações e nenhum comentário, acesso em 24/03/2014). Também retornaremos a esse tema.
  • 97
    Exemplo encontra-se no vídeo "Away Nilzer - Independência do Brasil", com grande número de visualizações (130.677) e de comentários (1016), que minimiza e ridiculariza não apenas o processo da independência, como quaisquer fatos históricos brasileiros de maneira geral (youtube.com/watch?v=Vd_kloNeQV0). O Brasil atual, como vítima de uma exploração econômica mais intensa do que nos tempos coloniais e, portanto, não-independente, aparece na fala de outro professor (youtube. com/watch?v=cFHySuce9Tw&playnext=1&list= PL60A27756B33DE105&feature=results_main, 2806 visualizações, 8 comentários) e nos comentários de um boneco marionete de um programa infantil (youtube.com/ watch?v=9mh3Tu6c4_w, 173 visualizações, nenhum comentário (acessos em 24/03/2014).
  • 98
    Exemplo desse processo de "devolução" pode ser comprovado no vídeo "Independência ou morte" (youtube.com/watch?v=QUvnz1no1m8, 934 visualizações e nenhum comentário, acesso em 24/03/2014). Outros dois exemplos pertinentes são a insistência nas ideias de que as Cortes de Lisboa queriam recolonizar o Brasil, e que a Independência foi uma luta entre brasileiros e portugueses.
  • 99
    Em entrevista a uma rede local de televisão, ouvimos do professor de história do Ensino Médio Wander Pugliesi: "Se nós formos trabalhar com sinceridade o Brasil ainda não é independente. Na verdade somos muito mais explorados do que quando éramos colônia de Portugal" (youtube. com/watch?v=cFHySuce9Tw&playnext=1&list= PL60A27756B33DE105&feature=results_main, 2815 visualizações, 8 comentários). A mesma relativização do processo de independência aparece na fala do candidato à presidência em 2010 pelo PSTU, Zé Maria: "hoje, infelizmente, não podemos comemorar uma verdadeira independência do país. É preciso dizer a verdade: as multinacionais controlam a economia brasileira. As decisões fundamentais são tomadas por elas fora do país" (youtube.com/ watch?v=ht9Yt0PlGnU, 1803 visualizações, um comentário). Acessos em 26/03/2013.
  • 100
    Direção de Carlos Henrique Schroder, 2008. Produção de 16 episódios de cerca de 20 minutos cada para o canal da TV fechada GloboNews. A série foi comercializada em DVD e pode ser vista também no canal Globosat no Youtube (youtube. com/watch?feature= player_detailpage&v= OUX-zSyaMIc e vídeos relacionados. Acesso em 27/03/2014).
  • 101
    Direção de Wolf Maya e Alexandre Avancini, e criação de Carlos Lombardi, 2002. Produção de 48 episódios com cerca de 40 minutos cada para o canal da TV aberta Rede Globo de Televisão. A minissérie também foi comercializada em DVD e vem sendo (desde janeiro de 2014) reprisada no Canal Viva (rede fechada de televisão, filiada Globosat); uma reprise anterior ocorreu de agosto a novembro de 2011, sempre por volta das 23h.
  • 102
    Direção de João Carrascosa e Pedro Bial, 2007. Produção de 9 capítulos de cerca de 15 minutos cada, dentro do programa dominical Fantástico da Rede Globo de Televisão. A série foi baseada no livro Brasil: uma História de Eduardo Bueno, jornalista que também atua na série (youtube. com/watch?v=3LzGKt9Pd0M, acesso em 27/03/2014).
  • 103
    SETÚBAL, Paulo. As Maluquices do Imperador. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1927; CALADO, Ivanir. A Imperatriz no Fim do Mundo: memórias dúbias de Amélia de Leichtenberg. Rio de Janeiro: Rio Fundo Editora, 1992; e TORERO, José Roberto. Galantes memórias e admiráveis aventuras do virtuoso conselheiro Gomes, o Chalaça. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.
  • 104
    A trama e a narrativa do Quinto dos Infernos recusam explicitamente a inserção de quaisquer componentes que não os da ordem privada de seus convencionais personagens: assim, questões políticas são sempre menores do que o apetite sexual de Carlota Joaquina, as perversões de D. Miguel ou a fogosidade de Domitila; a economia só surge em pontuais pretextos cômicos, enquanto a escravidão é referida exclusivamente por meio de alegres e libidinosas criadas (negras) permanentemente dispostas a servirem aos desejos do herói da história, D. Pedro.
  • 105
    A análise poderia se completar com a minissérie A Marquesa de Santos, dirigida por Ary Coslov e exibida pela extinta Rede Manchete de televisão em 1984, à qual, infelizmente, não se obteve acesso satisfatório.
  • 106
    Tal predileção pode ser entendida como mais um fator característico de um momento em que a articulação entre aquilo que Guy Debord chamaria de "sociedade do espetáculo", e Adorno e Horkheimer (dentre muitos outros) de "indústria cultural" torna sintomático a saliência do indivíduo e o esvaziamento da esfera pública.
  • 107
    A comprovação do encontro concorrente entre dois caminhos vem do depoimento de alguns dos próprios envolvidos com a produção do Quinto dos Infernos, como o diretor Carlos Lombardi, que a ele se refere como "um painel dos personagens importantes do período". Para o produtor Wolf Maia, seu objetivo foi "recontar, com humor, uma velha história". O ator Humberto Martins viu a série "contar um pedaço da nossa história, da história do Brasil, do nosso povo, das nossas raízes, patética e engraçada tal como ela se mostra dentro desse produto, porém, claro, mesclada com uma boa dose de humor", enquanto o protagonista Marcos Pasquim afirmou que "{ao fazê-la} aprendi muita coisa que não aprendi na escola, eu vim aprender agora fazendo a pesquisa para fazer esse personagem". Finalmente, para a também atriz Bruna Lombardi, "O 'Quinto' contou, assim, a história que a História não conta, sabe como é, as fraquezas da história". Em "Dia de Fúria", Pedro Bial e Eduardo Bueno reforçam seu discurso satírico por meio de um verniz de verdade trazido pela citação de documentos oficiais, como o relato do Padre Belchior sobre o grito do Ipiranga. Além disso, seu discurso é elaborado sob o nome de tese; logo, bem se vê como seus propaladores (Bial/Bueno) manipulam símbolos de autoridade que não estão confinados à sátira (embora a dupla, na última cena do episódio, afirme que cada um conta uma história).
  • 108
    NAPOLITANO, Marcos. Op. Cit., p.236 e 237.
  • 109
    Independência ou Morte (1972), direção de Carlos Coimbra; Os Inconfidentes (1972), direção de Joaquim Pedro de Andrade; Tiradentes, o mártir da independência (1977), direção de Geraldo Vietri; Carlota Joaquina princesa do Brasil (1995), direção de Carla Camurati; e Tiradentes (1999) direção de Oswaldo Caldeira. Infelizmente, o tardio acesso ao curta-metragem O corneteiro Lopes (direção de Lázaro Faria, 2009), não permitiu sua incorporação nessa análise.
  • 110
    Continuam a sê-lo, disponíveis em locadoras, em pacotes de filmes de TV a cabo, e em sítios da internet como o YouTube.
  • 111
    Exceção à sua primeira cena, que representa a dramaticidade da Abdicação: de início, vê-se as botas de um Imperador caminhante, solene e pensativo, cuja tomada de decisão logo conduz o espectador a uma narrativa retrospectiva, a durar todo o restante do filme.
  • 112
    Note-se quão pouco originais são os personagens de O Quinto dos Infernos, a despeito da impressão contrária que seu estilo cômico pode criar (na mesma direção poder-se-ia evocar a histérica Carlota Joaquina, que odeia o Brasil, ou o sério José Bonifácio ao qual D. Pedro pouco dá ouvidos). Já uma discrepância absoluta se dá em relação a Leopoldina: mulher bonita, forte e politicamente consciente no filme; feiosa, ingênua e descartável na minissérie.
  • 113
    No qual se lê: "D. Pedro I tinha, então, nove anos. O seu testemunho de tão tumultuados acontecimentos, somado à carência de educação palaciana, por certo, marcaram o seu temperamento de homem de reações imprevisíveis. Daí a aceleração do processo da independência do Brasil, que teve suas raízes na Inconfidência Mineira". Além dessa clara associação entre a Inconfidência Mineira e a Independência, durante o filme Os Inconfidentes são dados elementos sutis que corroboram com a mesma posição, inclusive a fim de associar os inconfidentes "libertadores do Brasil" à resistência de esquerda, também imbuída da intenção de libertar o Brasil da ditadura militar. Cinco anos depois, Tiradentes, o mártir da independência, traria essa associação explícita no título, em favor da construção de um herói nacional perfeito, por meio de um enredo melodramático.
  • 114
    A Carlota ninfomaníaca, feia, ardilosa e má; a dúvida sobre Pedro - um amante irascível - ser filho do medroso e comedor de frangos João, etc. Há que se lembrar que Carlota Joaquina é anterior ao Quinto dos infernos, sendo então o vetor de oferta e acúmulo de clichês daquele para este, e não o contrário. Sobre o filme, a ótima contribuição de Patrícia Cardoso. CARDOSO, Patrícia da Silva. Op. Cit., p.35-44.
  • 115
    O sentido de tal afirmação parece propositadamente ambíguo: indica uma concepção de que a História está em permanente construção e é aberta, ou de que a História vem sendo contada de modo equivocado e que ela agora será devidamente relevada? Ambas as coisas?
  • 116
    Tiradentes, de 1999, não traz referências à Independência.
  • 117
    Vimos anteriormente como livros didáticos se voltam a filmes como Independência ou Morte! Os Inconfidentes e Carlota Joaquina. Também programas televisivos variados contém cenas de tais filmes que, por seu turno, amparam-se em pesquisas históricas que fatalmente os leva em direção a tais suportes, nos quais as elaborações acadêmicas nunca estiveram ausentes.
  • 118
    Poder-se-ia aumentar tal relação, pelo menos, com a inclusão do livro de Ruy Castro aqui não contemplado, mas analisado preliminarmente por Jorge F. Silveira. CASTRO, Ruy. Era no tempo do rei: um romance da chegada da Corte. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007; SILVEIRA, Jorge Fernandes da. Retratos da Família Imperial no Brasil. In: OLIVEIRA, Paulo da Mota (Org.). Op. Cit., p.17-24. Provavelmente, a primeira obra literária significativa a ter a transferência da Corte para o Brasil como pano de fundo foi a de Manuel Antonio de Almeida. Memórias de um sargento de milícias, editada em folhetins entre 1852 e 1853.
  • 119
    Optamos por trabalhar com a segunda e ampliada edição, por trazer novos textos e novos personagens em relação à versão anterior, publicada em 2009. Os conteúdos mais diretamente ligados à Independência, por exemplo, e dessa maneira, fundamentais para este trabalho, se encontram nesta segunda edição. NARLOCH, Leandro. Guia politicamente incorreto da História do Brasil. 2a. ed. Rio de Janeiro: Leya, 2011.
  • 120
    O secretário pessoal de D. Pedro viraria personagem de uma história em quadrinhos poucos anos depois: DINIZ, André e EDER, Antonio. Chalaça, o amigo do imperador. São Paulo: Conrad, 2005.
  • 121
    A máxima extensão permitida a esse círculo é em direção a outros personagens da Corte, como Francisco Rufino Lobato, que segundo Laurentino Gomes pode ter sido, ao mesmo tempo, amante da esposa de D. João, amante gay deste, e pai biológico de D. Pedro. GOMES, Laurentino. 1822: como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês louco por dinheiro ajudaram D. Pedro a criar o Brasil - um país que tinha tudo para dar errado. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010, p.121.
  • 122
    SETÚBAL, Paulo. Op. Cit.; ________. A marquesa de Santos. São Paulo: Companhia GráficoEditora Monteiro Lobato, 1925. Acrescentar, em perspectiva muito diferente, Otávio Tarquínio de Souza e, antes dele, várias biografias de Pedro I e de outros personagens da Corte.
  • 123
    "Orelha" de SETÚBAL, Paulo. Op. Cit..
  • 124
    Trata-se de pastiche da célebre assertiva de Karl Marx, cuja menção explícita por parte do autor de 1808 ou pressuporia uma informação que ele não possui, ou implicaria um componente inadequado dada a estratégia de marketing que sustentou a produção e circulação dessa obra. Em casos semelhantes, é recomendável que a obra apareça a seus leitores como a mais isenta e objetiva possível, ou de orientação condizente com aquele que se espera seja o público preferencialmente consumidor dela.
  • 125
    "Resgatar a história da corte portuguesa no Brasil do relativo esquecimento a que foi confinada e tentar devolver seus protagonistas à dimensão mais correta possível dos papéis que desempenharam...". GOMES, Laurentino. 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil. São Paulo: Planeta, 2007, p.21. O que esta pesquisa tem até aqui mostrado não encoraja tal noção de esquecimento, sequer a de um relativo.
  • 126
    Note-se a concepção de que o Brasil é obra de um indivíduo, ajudado por outros indivíduos. O argumento central de 1822 é o de que o Brasil "deu certo", isto é, "conseguiu manter a integridade do seu território e se firmar como nação independente" por uma mescla de "sorte, acaso, improvisação, e também de sabedoria de algumas lideranças". GOMES, Laurentino. 1822. Op. Cit., p.18
  • 127
    Gomes considera a Wikipédia exemplo de fontes de pesquisa "de extrema utilidade" e "não convencionais, ainda não reconhecidas pela historiografia oficial"; no entanto, acredita que "ao contrário dos livros e das fontes impressas tradicionais, essas fontes precisam ser consultadas com cautela". Idem, p.25. Nessa ideia que as fontes "tradicionais" dispensariam cautela reside uma característica desse livro, cujo autor parece crer em praticamente tudo o que lê, principalmente o que os historiadores chamariam de fontes primárias, no que se alinha com Priore, que em A carne e o sangue também evita qualquer tipo de crítica de fontes.
  • 128
    É notável como os dois capítulos de 1808 dedicados aos perfis individuais, respectivamente, de D. João e D. Carlota, não obstante realizarem um inventário de imagens depreciativas e caricatas construídas a respeito de ambos, não são capazes de superá-las, terminando simplesmente por reafirmá-las. GOMES, Laurentino. 1822. Op. Cit., cap.13 e 14.
  • 129
    Com o que reiteramos o diagnóstico de CARDOSO, Patrícia da Silva. Op. Cit., p.42.
  • 130
    NARLOCH, Leandro. Op. Cit., p.25 e p.178-179. Um leitor atento poderia se perguntar por que nem todo presidente vaidoso, cruel, louco e equivocado conduziu seu país a uma guerra.
  • 131
    No que se releva o mesmo tipo de componente mercadológico que atende ao interesse do leitor pela vida privada das pessoas, quaisquer que elas sejam, em detrimento de visões complexas e matizadas de processos históricos. O mercado, contudo, não é isento, objetivo ou despolitizado. Daí o componente ideológico da afirmação de Narloch, a despeito de sua aparência contrária, de que "meu livro não é um estudo acadêmico. Ele é tão parcial quanto os estudos que eu critico. É um contraponto" (Entrevista a Monica Waldvogel... vídeo n.11). Ora, se todos os pontos de vista se equivalem, nenhuma crítica é possível, inclusive ao próprio Guia que, por seu turno, distribui fartamente suas críticas a quem (note-se bem: a quem, e a não a quê) seu autor bem entende.
  • 132
    PRIORE, Mary Del. A carne e o sangue. A Imperatriz D. Leopoldina, D. Pedro I e Domitila, a Marquesa de Santos. São Paulo: Editora Rocco, 2012. p.18 e 20. A exemplo de Priore (pp.17, 43, 152, 205, 208, 228 e 234) e de tantos outros antes deles, Narloch também está interessado nas virtudes e vicissitudes do órgão sexual de D. Pedro, a ponto de a ele dedicar uma destacada página de seu livro. NARLOCH, Leandro. Op. Cit., p.280.
  • 133
    PRIORE, Mary Del. A carne e o sangue. Op. Cit., p.152.
  • 134
    TORERO, José Roberto. Op. Cit., p.108.
  • 135
    Idem, p.126-127. Essa versão relativamente livre do tema (dizemos relativamente, pois já se vê que quase nenhuma das versões aqui mencionadas é inteiramente original) encontraria eco, anos depois, na obra de um historiador profissional: VILLA, Marco Antonio. A história das constituições brasileiras: 200 anos de luta contra o arbítrio. São Paulo: Leya, 2011. Este autor, a exemplo de Torero, pretendeu depreciar a Constituição de 1824 por ser ela, supostamente, uma "colagem" de outras constituições da época; o que, de um ponto de vista minimamente sério da questão, não encontra nenhum fundamento (a resenha crítica de W. Steinmetz. O constitucionalismo brasileiro: narrativa da história do conflito entre liberdade e autoritarismo. Direitos Fundamentais & Justiça, v. 6, p. 279-283, 2012, parece encerrar a questão). Teria Villa acreditado literalmente em livros como O Chalaça, ou sua postura apenas revela, mais uma vez, que nem profissionais da História estão isentos de influências (por mais amadoras que sejam) advindas de formulações não profissionais?
  • 136
    É possível, então, que certas ênfases de uma das obras de Gomes (como a que atribui a D. Pedro uma "espantosa capacidade reprodutiva" por, sendo um homem de vinte e poucos anos, ter tido "três filhos em menos de um ano", "todos com mulheres diferentes", causem à maioria de seus leitores menos constrangimento do que o fazem a uma minoria deles. GOMES, Laurentino. 1822. Op. Cit., p.122.
  • 137
    TORERO, José Roberto. Op. Cit., p.111.
  • 138
    Nesse ponto, poucos anos depois as versões de história de Torero e Gomes ganhariam o reforço da de Narloch, (NARLOCH, Leandro. Op. Cit., p.284).
  • 139
    Maria Odila Dias, já mencionada anteriormente.
  • 140
    "Uma narrativa sensível e abrangente da história brasileira", segundo Elias Thomé Saliba; e "uma perspectiva ampla do período, sem deboche ou caricatura", de acordo com Jean Marcel Carvalho França. GOMES, Laurentino. 1822. Op. Cit., "orelha".
  • 141
    Trata-se de Lilia Moritz Schwarcz. Em 1808, o leitor não terá a informação de quantos ou quais outros livros já foram escritos sobre o assunto.
  • 142
    Um exemplo, dentre muitos: embora destaque "a contribuição decisiva de historiadores como Mary Karasch, Leila Mezan Algranti, Manolo Garcia Florentino e João Luís Ribeiro Fragoso", citando os em vários momentos ao longo do livro, Gomes refere-se a "uma etapa na história europeia, conhecida como Velho Regime {sic}, em que reis dominaram seus países com mão de ferro e poder absoluto", a "brasileiros, habituados até então a ser tratados como simples colônia extrativista de Portugal", chama a "colônia" de "territórios dominados pelos portugueses" e afirma que em 1808 "o Brasil libertava-se de três séculos de monopólio português e se integrava ao sistema internacional de produção e comércio como uma nação autônoma" (GOMES, Laurentino. 1808. Op. Cit., p.24, 32, 40, 102, 193, respectivamente). Tais afirmações são em muitos sentidos negadas por alguns dos mesmos historiadores mencionados.
  • 143
    1808 traz 690 citações ao fim dos capítulos, sendo 20% (142 vezes) de autores como Pedro Calmon (18 vezes), Tobias Monteiro (38 vezes), Manuel de Oliveira Lima (45 vezes), Alexandre José de Melo Moraes (12 vezes), Joaquim Pedro de Oliveira Martins (18 vezes) e Francisco Adolfo de Varnhagen (11 vezes). Embora Gomes pretenda fazer uso de interpretações mais atualizadas sobre o tema, essa quantificação indica característica marcante de 1808: a reedição de versões fortemente convencionais da história.
  • 144
    Palavras de Alberto Mussa (A carne e o sangue..., cit., "orelha"). Na década de 1940, Sérgio Buarque de Holanda já atacava a pretensão de hibridismo de biografias históricas romanceadas, nas quais "as qualidades próprias do romance e da biografia eram abolidas, em proveito de uma unidade superficial e suspeita", e procurava explicar seu consumo ampliado pela mediocridade de uma época marcada pela "ansiedade de encontrar refúgio e libertação em outras existências mais excitantes" (citado por GONÇALVES, Márcia de Almeida. Em terreno movediço: biografia e história na obra de Octávio Tarquínio de Sousa. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2009, p.149-150).
  • 145
    Uma versão argentina da teoria do "complô historiográfico" encontra-se em obra bastante semelhante às até aqui analisadas: PIGNA, Felipe. Los mitos de la historia argentina. Buenos Aires: 2004. A ese respeito: RODRÍGUEZ, Martha. Los relatos exitosos sobre el pasado y su controversia. Ensayistas, historiadores y gran público, 20012006. In: DEVOTO, Fernando. (dir.). Op. Cit., p.117-137.
  • 146
    Narloch: "enquanto revolucionários e libertadores de boa parte do mundo travaram batalhas heroicas e conseguiam se livrar das garras das elites e dos países colonialistas, por aqui não aconteceu nada, nada: ficamos sempre no quase". NARLOCH, Leandro. Op. Cit.,p. 271-272 - aqui, o autor opta por, ao invés de tentar desmontar tal versão - e seguir o mesmo procedimento de quase todo o resto do livro - concluir que foi bom que as coisas tenham supostamente sido desse modo; saída pragmática face o desconhecimento que o autor tem da historiografia). Gomes: "o que se viu em 1822 foi, portanto, uma ruptura sob controle, ameaçada pelas divergências internas e pelo oceano de pobreza e marginalização criado por três séculos de escravidão e exploração colonial. Ao contrário dos Estados Unidos, onde a independência teve como motor a república e a luta pelos direitos civis e pela participação popular, no Brasil o sonho republicano estava restrito a algumas parcelas minoritárias da população" (GOMES, Laurentino. 1808. Op. Cit., p.334 - aqui o leitor fica confuso em relação ao que se quis dizer, já que a escravidão negra foi mantida em boa parte dos Estados Unidos até 1865).
  • 147
    Enquanto Gomes tenta dialogar, Narloch quer apenas selecionar. A tônica política do Guia novamente se revela: sua prioridade não é aquilo de que o livro trata, mas algo a que é possível se chegar a partir disso.
  • 148
    Parte dos quais resulta de verdadeira obsessão por uma linguagem "simples". O mesmo ocorre, no contexto argentino, com PIGNA, Felipe. Op. Cit.; e LANATA, Jorge. Argentinos: desde Pedro de Mendoza hasta la Argentina del Centenario. Buenos Aires: Ediciones B, 2002 (cf. a análise de RODRÍGUEZ, Martha. Op. Cit.).
  • 149
    Idêntica estratégia discursivo-mercadológica é utilizada, na Argentina, por Jorge Lanata. Cf. RODRÍGUEZ, Martha, Op. Cit.
  • 150
    Como vimos, fragmentação narrativa e imagens decorativas são recursos mercadológicos bastante utilizados também em livros didáticos e programas de televisão.
  • 151
    Como o das p. 86-87, onde se lê que "o mapa do Brasil mostra as fronteiras e divisas da época", não obstante apresentar delimitações então inexistentes, como as atuais dos estados do Maranhão, Piauí, Ceará e Rio Grande do Sul. Exemplos das tabelas: em 1816, "A Argentina declara sua independência da Espanha"; dois anos antes (em 1814?), "O México torna-se independente da Espanha" (GOMES, Laurentino. 1822. Op. Cit., p.8).
  • 152
    GOMES, Laurentino. 1808. Op. Cit., p.32-33.
  • 153
    Ibidem, p.37-38.
  • 154
    Aliás, D. Maria I foi considerada impedida e o governo passou a D. João em 1792, e não em 1799, como afirma o livro.
  • 155
    GOMES, Laurentino. 1808. Op. Cit., p.39.
  • 156
    Ibidem, p.48. Teria sido intenção do autor falar de quase dois séculos ao invés de três? Mesmo assim, teria sido tal decisão tomada desde o século XVII?
  • 157
    Ibidem, p.55. "Soberano" em começos do século XVII, quando seu império estava incorporado à monarquia espanhola? Teria sido intenção do autor falar em três séculos antes? Mesmo assim, alguém poderia sustentar seriamente tal ideia?
  • 158
    Ibidem, p.89. Outros exemplos: a afirmação de que, em 1807, "o imperador francês era o senhor absoluto da Europa", não obstante não ter conquistado Portugal, Grã-Bretanha e Rússia, sendo que mais adiante, em 1801, estaria toda "Europa ocupada por Napoleão Bonaparte" (p.34 e 47); a presunção de estímulos às guerras napoleônicas na capacidade transformadora de uma Revolução Industrial (p.43), mas que antes das guerras mal tinha começado na Inglaterra (menos ainda alhures); a concepção de um Portugal que "no começo do século XIX {...} tinha uma total dependência em relação Brasil" (p.46), sendo que "o ouro, o fumo e a cana de açúcar produzidos na colônia constituíam o eixo de suas relações comerciais", embora se saiba que Portugal não era totalmente dependente do Brasil, menos ainda de um ouro cuja produção há muito já entrara em decadência; a afirmação de que "a dependência {de Portugal em relação ao Brasil} tinha crescido gradativamente desde que Vasco da Gama havia aberto o caminho para as Índias e Pedro Álvares Cabral aportado com sua esquadra na Bahia" (p.46), como se Portugal sempre tivesse dependido do Brasil desde então; ou, finalmente, as afirmações de que o reformismo português acabou em 1777, com a queda de Pombal, (p.61), e de que o Correio Braziliense virou "o primeiro jornal brasileiro criado pelo jornalista gaúcho Hipólito José da Costa" (p.71).
  • 159
    PRIORE, Mary Del. O ano que definiu o Brasil. Veja, 12/09/2007. Cit. por CARDOSO, Patrícia da Silva. Op. Cit., p. 42-43.
  • 160
    Gomes a enxerga já no século XVIII. GOMES, Laurentino. 1808. Op. Cit., p.47.
  • 161
    NARLOCH, Leandro. Op. Cit., p.272.
  • 162
    "Desse ponto de vista, a monarquia teve para o século XIX o mesmo papel da ditadura militar no século XX: evitar que baixarias ideológicas instaurassem o caos entre os cidadãos". Idem, p.274. Anacronismo comparável às afirmações, do mesmo autor, de que as populações indígenas da América, como segundo ele detestariam viver na mata cheia de mosquitos, teriam passado a derrubá-la com gosto quando os primeiros portugueses quiseram pau-brasil; ou a de que aos mesmos nativos os leitores do Guia deveriam agradecer pelo hábito contemporâneo de fumar "ervas deliciosas". Idem, p. 28 e segs.
  • 163
    Ibidem, p. 281.
  • 164
    Ibidem, p. 275.
  • 165
    Afirma que "o Brasil foi o penúltimo país da América a abolir a escravidão"; mas logo em seguida, que "pouco depois de Cuba, foi o último país da América a libertar os escravos". Ibidem, p. 285.
  • 166
    Ibidem, p. 22. Se toda a bibliografia a que ele se refere fosse assim, não poderíamos prosseguir na análise de nossas fontes.
  • 167
    CALDEIRA, Jorge. Viagem pela história do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. Acompanhado de um CD-Rom. Quando de seu lançamento, contou com amplo suporte midiático a conferir-lhe um destaque via de regra positivo; pouco depois, no programa Roda Viva, da TV Cultura de São Paulo, seu autor recebeu duras críticas dos historiadores profissionais John Manuel Monteiro e José Jobson Arruda.
  • 168
    BUENO, Eduardo. Brasil: uma história. São Paulo: Leya, 2010 (mesma editora do Guia politicamente incorreto e do livro de M. A. Villa acima mencionado, História das constituições brasileiras). A obra é uma reedição atualizada de Brasil: uma História: a incrível saga de um país (São Paulo: Ática, 2003).
  • 169
    Segundo Caldeira, "nas Minas Gerais, apesar das proibições, havia algum tempo circulavam os livros que Portugal tentava proibir. Muitos membros da elite local procuravam interpretar o momento segundo as novas ideias de liberdade. E, em vez de protestar contra Portugal, passaram a pensar na independência do Brasil"; assim, "a semente estava lançada: a ruptura com Portugal tornou-se a ideia central de muitos brasileiros" (CALDEIRA, Jorge. Op. Cit., p.112 e segs.). Bueno, por seu turno, afirma: "embora a historiografia oficial considere a Conjuração uma luta pela liberdade no Brasil, para o historiador norte-americano Kenneth Maxwell, autor de a devassa da devassa, o melhor livro, sobre o tema, 'a conspiração dos mineiros era, basicamente um movimento de oligarcas, no interesse da oligarquia, sendo o nome do povo invocado apenas como justificativa'". (BUENO, Eduardo. Op. Cit., p.141). Embora logo atrás tenha dito que "José de Maia e Barbalho, entrou em contato com Thomas Jefferson, então embaixador dos EUA na França, sondando-o sobre um possível apoio à independência do Brasil" (Idem, p. 141 e 138). Caldeira vê ainda as Cortes de Lisboa e a Independência segundo os clássicos vieses, respectivamente, de "recolonizadoras" e de conflito entre "brasileiros" e "portugueses" (CALDEIRA, Jorge. Op. Cit., p.142).
  • 170
    Como os efeitos da disenteria de D. Pedro, que pouco depois o mesmo Bueno reexaminaria em sua série televisiva É muita história, já aqui analisada. Curioso como Bueno evoca, constantemente, uma "história tradicional" da qual não apenas não se vê como representante, mas como dela combatente (estilo argumentativo que, como vimos, pouco depois seria reeditado, agora por Narloch e seu Guia). De acordo com as precisas palavras de José Cândido de Oliveira Martins, a partir de uma ideia de E. Wesseling, "o alvo principal do discurso irônico é a história canônica, o repositório de fatos estabelecidos e as interpretações daqueles fatos, mas também os textos do passado da memória cultural, maltratados por um uso contrário ao tradicional". Cf. MARTINS, J. C. de Oliveira. Portugal e Brasil de D. João VI na meta-ficção historiográfica de autores portugueses contemporâneos. In: OLIVEIRA, P. M. (Org.) Op. Cit., p.104.
  • 171
    PRIORE, Mary Del. Prefácio. In: BUENO, Eduardo. Op. Cit., p.5.
  • 172
    PRIORE, Mary Del; VENÂNCIO, Renato Pinto. Uma breve história do Brasil. São Paulo: Planeta do Brasil, 2010. Este livro é uma edição revisada e atualizada de O livro de ouro da História do Brasil dos mesmos autores, publicado no Rio de Janeiro pela Ediouro em 2001. O texto sofreu pequenos ajustes de uma edição à outra.
  • 173
    Agora desautorizando (dentre outros) Bueno, afirmam os autores a respeito de D. João: "Com justiça, nada se encontrava de burlesco neste personagem" (Uma breve história..., op. cit., p.159-160). Tal postura, algo esquizofrênica, tem antecedentes ilustres em outras historiografias. Na década de 1950, Oliveira Martins, por exemplo, caracterizaria criticamente o "povo português" como "caso, talvez único na Europa", por não possuir "alma social" e supostamente se comprazer "em escarnecer de si próprio, com os nomes mais ridículos e o desdém mais burlesco"; e isso não obstante o próprio autor ter tratado de D. João como uma "sombra espessa de uma série de reis doidos ou ineptamente maus", "velho, pesado, sujo, gorduroso, feio e obeso" (MARTINS, Oliveira. História de Portugal. Lisboa: Guimarães, 1951, t.2, p.325 e 286-287, respectivamente; Cit. por CARDOSO, Patrícia da Silva. Op. Cit., p. 39.
  • 174
    Dentre outros: ALGRANTI, Leila Mezan. D. João VI e os bastidores da independência. São Paulo: Ática, 1986; MATTOS, Ilmar Rohloff de; ALBUQUERQUE, Luis Affonso S. de. Independência ou morte: a emancipação política do Brasil. São Paulo: Atual, 1991; OLIVEIRA, Cecília Helena. A independência e a construção do Império 1750-1824. 2a ed. São Paulo: Atual, 1995; BERBEL, Márcia. A independência do Brasil (18081828). São Paulo: Saraiva, 1999; LYRA, Maria de Lourdes Vianna. O império em construção: Primeiro Reinado e Regências. São Paulo: Atual, 2000; SLEMIAN, Andréa; PIMENTA, João Paulo. O nascimento político do Brasil. Rio de Janeiro: DP&A, 2003; OLIVEIRA, Cecília Helena. 7 de setembro de 1822: a independência do Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2005; SLEMIAN, Andréa; PIMENTA, João Paulo. A Corte e o Mundo: uma história do ano em que a família real chegou. São Paulo: Alameda, 2008.
  • 175
    De um lado, livros como: BAGNO, Marcos. O processo de independência do Brasil: adaptado do livro "Diário de uma viagem ao Brasil", de Maria Graham. São Paulo: Ática, 2003 (consultoria histórica: Tania Regina de Lucca); PEREIRA, André. A independência do Brasil: documentos e atividades. Ao Livro Técnico, 1999 (Ilustrações: Tibúrcio); e o mais afinado com a academia: LUSTOSA, Isabel. A história do Brasil explicada aos meus filhos. Agir, 2007. De outro, as adaptações de GOMES, Laurentino; ORTIZ, Denise. 1808 - edição juvenil. São Paulo: Planeta, 2008 (ilustrações Rita B. Brugger); e GOMES, Laurentino. 1822 - edição juvenil. São Paulo: Nova Fronteira, 2011 (ilustrações Rita B. Brugger).
  • 176
    Foram analisados 185 artigos. De 226 menções a 20 temas relativos à Independência identificados, 74 dizem respeito a oito temas correspondentes a personagens convencionais, como D. Pedro, D. João, Carlota, Bonifácio, Leopoldina, Domitila, Amélia e Tiradentes. Em termos de chamadas e conteúdos, por exemplo, a Aventuras na História n. 37 traz na capa a chamada "A nova face de D Pedro I. Tudo o que a escola não contou sobre o herói da independência que se tornou símbolo de liberdade na Europa do século XIX" (guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/ independencia-ou-nada-434846.shtml, acesso em 02/04/2014). Outros artigos pretendem revisar até mesmo de interpretações recorrentes na academia (revistadehistoria.com.br/secao/livros/ a-independencia-brasileira-novas-dimensoes, acesso em 02/04/2014). Já a Nossa História n.11 explicita esse interesse das revistas em identificar e criticar imaginários acerca da Independência.
  • 177
    O que não significa que historiadores e demais cientistas sociais sejam constante e plenamente avaliados. Como bem se sabe, tais profissionais são avaliados apenas em alguns quesitos de sua atuação, jamais em todos.
  • 178
    Interessantes propostas a respeito encontramse em: MEGLIO, Gabriel Di. Wolf, el lobo. Observaciones y propuestas sobre la relación entre producción académica y divulgación histórica. Nuevo Topo. Revista de historia y pensamiento crítico, n. 8, 2011, p.107-120. Infelizmente, não pudemos dialogar com as propostas de outro autor, publicadas quando nosso próprio artigo estava praticamente concluído: MALERBA, Jurandir. Acadêmicos na berlinda ou como cada um escreve a História? uma reflexão sobre o embate entre historiadores acadêmicos e não acadêmicos no Brasil à luz dos debates sobre 'Public History'. História da historiografia n. 15, ago./2014, p.27-50.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Dez 2014

Histórico

  • Recebido
    Ago 2014
  • Aceito
    Set 2014
Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP Estrada do Caminho Velho, 333 - Jardim Nova Cidade , CEP. 07252-312 - Guarulhos - SP - Brazil
E-mail: revista.almanack@gmail.com