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Os mercados de escravos africanos recém-chegados às Américas: padrões de preços, 1673-1865

Resumos

O presente artigo analisa as flutuações dos preços dos escravos recém-desembarcados nas Américas, com ênfase especial para as colônias britânicas do Caribe e para os Estados Unidos. Parte-se do suposto de que os preços podem ajudar a determinar aspectos cruciais da história do tráfico negreiro, tais como a interconexão entre os mercados e as determinações estruturais da oferta e da demanda. Seu material empírico provém de uma base de dados publicada pela Cambridge University Press, em 1999.


This article analyzes the fluctuations of the prices of slaves new arrived in America, specially in the british Caribean colonies and in the United States. The analysis supposes that the study of the prices is helpful in order to determinate main aspects of the black slaves trade history, as well as the connexions between markets and the structural determination of offer and demand. The empirical support of the study comes from a database published by Cambridge University Press, in 1999.


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    Laurence J. Kotlikoff, "Quantitative Description of the New Orleans Slave Market, 1804-1862," in Robert W. Fogel and Stanley L. Engerman (eds.), Without Consent or Contract: Markets and Production, Technical Papers 1: 31-53; Katia M. de Queiróz Mattoso, To Be a Slave in Brazil, 1550-1888, traduzido do francês por Arthur Goldhammer (New Brunswick, 1986), págs. 55-81; Laird W. Bergad, Fe Iglesias García e María del Carmen Barcia, The Cuban Slave Market, 1790-1880 (Cambridge, 1995), 38-78; Laird W. Bergad, Slavery and the Demographic and Economic History of Minas Gerais, Brazil, 1720-1888 (Cambridge, 1999), págs. 163-87. Ver, particularmente, a tabela comparativa na p. 169 deste último.
  • 2
    David Galenson, Traders, Planters and Slaves: Market Behavior in Early English America (Cambridge, 1986)
  • 3
    David Eltis, Stephen D. Behrendt, David Richardson, e Herbert S. Klein, The Transatlantic Slave Trade: A Database on CD-ROM (Cambridge, 1999).
  • 4
    Richard Nelson Bean, The British Trans-Atlantic Slave Trade, 1650-1775 (New York, 1971).
  • 5
    Coletados por Bergad, Iglesías García, and Barcia. Gostaríamos de agradecer a estes autorespor nos terem disponibilizado seus dados.
  • 6
    Preços convertidos para libras esterlinas de acordo com John J. McCusker, Money and Exchange Rates in Europe and America, 1600-1775: A Handbook (Chapel Hill, NC, 1978) e, para o período pós-1790, a séries "BW" na tabela de apêndice 1 de Lawrence H. Officer, "Dollar-Sterling Mint Parity and Exchange Rates, 1791-1834," Journal of Economic History, 43 (1983): 610-12, and Edward J. Perkins, "Foreign Interest Rates in American Financial Markets: A Revised Series of Dollar-Sterling Exchange Rates, 1835-1900," Journal of Economic History, 38 (1978): 410-12
  • 7
    David W. Galenson, Traders, Planters and Slaves: Market Behavior in Early English America (Cambridge, 1986), cap. 3. Curiosamente, a prática normal no Brasil era oposta à vigente no Caribe britânico. Os comerciantes ofereciam os escravos menos desejáveis primeiro (Mattoso, To Be a Slave in Brazil, 55-59).
  • 8
    Algumas informações sobre custos de transporte intercolonial são fornecidas por RichardBean, The British Trans-Atlantic Slave Trade 1650-1775 (New York,1975). Comerciantes coevos estavam cientes dos custos do transporte intercolonial, como o de Liverpool, Robert Bostock; Documentos de Bostock, Escritório de Registro de Liverpool.
  • 9
    O Caribe ocidental era a quintessencial "área proibida". Apesar da grande pirataria terdurado até a década de 1720, uma presença mais forte da marinha, associada com a guerra, reduziu sua incidência na década de 1690, e muito da atividade posterior aconteceu nas costas da África.
  • 10
    Para justificar este procedimento ver David Eltis, "The Prices of Newly Arrived AfricanSlaves in Cuba and Brazil, 1810-1867" (trabalho inédito, 1987).
  • 11
    Isto significa que para os 12 anos a partir de 1763, e para a década depois de 1782, onúmero médio anual de pessoas trazidas através do Atlântico provavelmente não foi ultrapassado até a década de 1880.
  • 12
    A África Central Atlântica parece ser uma exceção a esta regra, mas na realidade fazia parte do padrão geral. Em primeiro lugar, os intervalos da tabela 2 anteriores a 1650 são de 50 anos ou ainda mais longos, ao passo que aqueles posteriores a 1650 são de somente 25 anos. Em segundo lugar, os dados referem-se somente ao comércio transatlântico. Os navios de escravos levaram escravos para portos no Velho Mundo em anos anteriores e mesmo os números sendo muito mais baixos do que viriam a ser durante o tráfico para as Américas, uma grande parte destas partidas provinha da África Central Atlântica.
  • 13
    Considerando a divisão das Guianas entre franceses, holandeses e britânicos.
  • 14
    Robert W. Fogel, Without Consent or Contract: The Rise and Fall of American Slavery (New York, 1989), págs. 18-21.
  • 15
    A série de Schumpeter-Gilboy é usada para períodos anteriores a 1808, e a série de Gayer, Rostow e Schwartz é usada para 1806 a 1850 e ajustada pelo índice de Rousseau de 1851 a 1865. Veja-se B. R. Mitchell, British Historical Statistics (Cambridge, 1988), págs. 719-22.
  • 16
    Uma função cúbica em ambas as figuras. Fig. 2 (a) é P = 1497.5 - 1.41Y + 0.000019Y3 r2=0.66 F stat = 1042 Fig. 2 (b) é P = -485.9 + 0.00009Y3 r2=0.24 F stat = 302.8
  • 17
    Uma simples regressão de quadrados menores do volume de escravos em preços obtidospara antes de 1800 Q =-129,801 + 12,649.3P SE(32,765)(1,167.3) t-stat(10.8)(4.0)r2=0.83 Para o período depois de 1800, a equação era Q =568.9 - 4.246P SE(173.6)(2.179) t-stat(3.3)(1.95)r2=0.19
  • 18
    De £1.7 milhão em 1700 a £7.5 em 1770, e £18.2 milhão em 1850. Para a derivação destas estimativas, veja Eltis, The Slave Economies of the Caribbean: Structure, Performance, Evolution and Significance," in UNESCO General History of the Caribbean, 5 vols. (Kingston, 1997-), 3, Franklin W. Knight (ed.), The Slave Societies of the Caribbean págs. 110-18. Para preços de açúcar e café ver Sheridan para o século dezoito, e Eltis, Economic Growth para o século dezenove. As regressões de séries temporais foram também aplicadas com base em uma variedade de características das viagem. Para tal análise foi possível usar os dados de viagens das base de dados de navios negreiros, em lugar das médias de cinco anos que foram necessárias para examinar os vínculos entre preços, quantidade de escravos e características de produtos. Nos perguntamos, na realidade, se o preço de escravos dependia da duração da viagem, do tamanho do navio - e até que ponto isso era refletido em dados de tonelagem, de número de escravos a bordo e de mortalidade a bordo. Só a tendência temporal foi altamente significativa nestas análises. A mortalidade a bordo era pouco significativa com um coeficiente negativo, sendo a mais provável explicação que aqueles sobreviventes de viagens com altas taxas de mortalidade provavelmente estavam em péssimo estado de saúde e, portanto, vendiam-se por menos. Porém, a inclusão de todas estas variáveis em uma equação gerou problemas de multicolinearidade.
  • 19
    Para velocidade de embarcação em Bonny comparado a outros lugares da África Atlântica, ver Paul E. Lovejoy and David Richardson, "`This horrid hole': Commerce and Credit at Bonny 1690-1840', trabalho inédito.
  • 20
    Embora não demonstrado na tabela 3, uma análise de 123 viagens para a Cuba após1800 (não existia comércio de escravos para a Jamaica e Saint Domingue depois de 1807, e muito pouco originário da Costa de Ouro) não mostra diferenças significativas entre o Golfo de Benin, o Golfo de Biafra, e a África Central Atlântica.
  • 21
    Nossa conclusão é baseada somente em custos de envio e demanda de escravos. Ignoraa influência possível de idéias dos senhores de plantations sobre a qualidade dos escravos recentemente importados e dos preços pagos por eles. Alguns historiadores têm chamado a atenção para a baixa estimativa para escravos vindos de algumas regiões africanas (especialmente do Golfo de Biafra). Os diferenciais de preço por origem africana estão até certo ponto relacionados com as preferências conhecidas dos senhores, mas somos céticos sobre atribuir os diferenciais somente a fatores colaterais de demanda.
  • 22
    Para uma revisão da literatura sobre este tópico e exame do assunto em partes diferentesdas Américas vejam Russell Lohse, "Slave Trade Nomenclature and African Ethnicities in the Americas: Evidence from Early 18th-Century Costa Rica," 2001 (a ser publicado).
  • 23
    Para alguma indicação da escala do movimento intercolonial de escravos veja DavidRichardson, The British Empire and the Atlantic Slave Trade', in P. J. Marshall (ed.), Oxford History of the British Empire: the Eighteenth Century (Oxford, 1998).
  • 24
    David Richardson, 'The British Slave Trade to Colonial South Carolina', Slavery and Abolition, 12 (1991), págs. 133-4; Cornelis Ch. Goslinga, The Dutch in the Caribbean and in the Guianas 1680-1791 (Assen/Maastricht, 1985), págs. 315-16.Os dados de Goslinga também sugerem que a importação de escravos para o Suriname alcançou um pico em 1771 (pág. 423). É claro que um forte crescimento deu-se em ambas as áreas em períodos anteriores, mas somos ainda carentes de dados de preço para estes anos.
  • 25
    David Geggus, "La Traite des esclaves aux Antilles françaises à la fin du 18me siècle: Quelques aspects du marché local," in Silvia Marzagalli and Hubert Bonin, (eds.), Négoce, Ports, et Océans, XVIe-XXe Siècles: Mélanges Offerts à Paul Butel (Bordeaux, 2000), pp. 235-245; idem, "The French Slave Trade: an Overview," William and Mary Quarterly, third series, LVIII (2001), p. 129. Permanece a possibilidade de que a definição empregada neste trabalho para escravos padrão - homens adultos vendidos no primeiro terço de duração do pregão de venda - não padroniza suficientemente o preço de escravos.
  • 26
    Este parágrafo é baseado em David Eltis e David Richardson, "Productivity in theTransatlantic Slave Trade," Explorations in Economic History, 32 (1995): 465-84.
  • 27
    O momento no qual se deu a queda de preços na África variou de acordo com cadaregião, refletindo, entre outras coisas, a intensidade geográfica das atividade de repressão (Paul E. Lovejoy e David Richardson, "British Abolition and Its Impact on Slave Prices Along the Atlantic Coast of Africa, 1783-1850", Journal of Economic History, 55 1995, págs. 98-120.)
  • 28
    Barry Higman, Slave Populations of the British Caribbean, 1807-1834 (Baltimore, 1984), págs. 80-85. Para diferenciais de produtividade e de preços interilhas veja Stanley L. Engerman, "Economic Adjustments to Emancipation in the United States and the British West Indies," Journal of Interdisciplinary History, 13 (1982): 195-200.
  • 29
    Stephen D. Behrendt, "Markets, Transaction Cycles, and Profits: Merchant DecisionMaking in the British Slave Trade," William and Mary Quarterly, 58 (2001): 171-204. Para um excelente microexame do relacionamento entre a oferta de escravos e a guerra na Costa do Ouro do século dezoito, ver Stephanie Ellen Smallwood, "Salt-Water Slaves:African Enslavement, Forced Migration, and Settlement in the Anglo-Atlantic World, 1660-1700," tese de PhD, Duke University, 1999, especialmente o capítulo 2.
  • 30
    30Para as mudanças culturais e sociais associadas com a ascensão da rede Aro e com o surgimento de Bonny, vejam os primeiros capítulos de G Ugo Nwokeji, "The Biafran Frontier: Trade, Slaves, and Aro Society, c. 1750-1905" (Tese de PhD inédita, University of Toronto, 1999). Nwokeji aponta "um olhar sobre fatos sociais tais como o casamento e a proibição de incesto imediatamente revelam como estes estavam fortemente enlaçados com a escravidão. O sistema de crenças e deidades eram baseados e reforçados por processos relacionados à escravidão. O sistema de valores celebrava a propriedade e a proliferação das pessoas, e encorajava a venda de outros para a escravidão no Atlântico. A decisão relativa a quem enviar para o cativeiro no Atlântico e quem reter era central para a economia política Aro..."
  • 31
    "Considerações sobre espanhóis comprando negros da firma inglesa English Ro'llCompany e recebendo 2/3 da compra na Jamaica e 1/3 em Barbados" Jamaica, 2 de fevereiro de 1675, Egerton ms, British Library Add ms, 2395, f 501. Também em CO31/1, ff. 6-7.
  • 32
    Os feitores da Jamaica disseram ao RAC em dezembro, 1690 que a guerra os impediude honrar as condições do contrato de Asiento do ano anterior. (Penhallow e Ruding para RAC, 9 de dezembro de 1690, T70/57, F. 55.) Pouco mais de um ano mais tarde o feitor escreveu que "o Asiento nas mãos de Nicholas Porcio e do Sr James Castell está confirmado por mais cinco anos e Grandes Ofertas de Negros são trazidas para eles pelos holandeses." (Walter Ruding para RAC, 2 de fevereiro de 1692, T70/17, F. 51). Em 1694 o feitor escrevia "Não posso encorajar o envio de negros. O Assentista está morto... e não se sabe o que fazer com os Negros" (idem, 14 de fevereiro de 1694, ibid). No ano seguinte, "A menos que o Assiento seja Estabelecido, pouca Prata ou Ouro pode ser Esperado." (Chas Whittall, 95.08.22. T70/12, p.151). Para os efeitos dos ataques franceses, veja Beeston, Barnard, Whittell para o RAC, 28 de julho de 1693, T70/12, F. 94; 21 de junho de 1694, ibid, F. 96; 12 de dezembro de 1694, ibid.
  • 33
    A seção norte de Saint Domingue, dominada pelo açúcar, era onde preços mais altoseram pagos. Devemos também notar que enquanto os preços de escravos no sul dos EUA excediam os praticados em Cuba desde 1830 até o final da década de 1840, existia também alguma feição de barreira protetora entre estes dois mercados, na forma de uma proibição extremamente efetiva do comércio de escravos africano para os EUA.
  • 34
    Por algumas décadas em meados do século dezesseis uma economia secundária de ex-portação de açúcar florescia nas Antilhas espanholas. Depois disso, com os portugueses concentrando-se no Brasil e os espanhóis no continente, os três lugares-fortes espanhóis nas Antilhas - Cuba, Hispaniola e Porto Rico - se tornaram povoados estratégicos protegendo rotas de comércio, os quais produziam também alguns artigos de exportação que não eram de plantação em grande escala. Para o diferencial de preços de escravo entre Jamaica e Cuba na primeira metade do século dezoito, veja Colin A. Palmer, Human Cargoes: The British Slave Trade to Spanish America, 1700-1739(Urbana, 1981), pp. 123124. O sistema espanhol de posse de terras coloniais foi também muito importante para o retardamento do desenvolvimento. Veja Manuel Moreno Fraginals, The Sugarmill: Socioeconomic Complex of Sugar in Cuba (New York, 1976) págs. 20-25.
  • 35
    Veja E.W. Evans e David Richardson, Hunting for Rents: The Economics of Slaving inPre-Colonial Africa, Economic History Review, 48 (1995), págs. 665-86.
  • 36
    Eltis, Economic Growth. Para o caso do Senegal ver Michael Kielstra, The Politics ofSlave Trade Suppression in Britain and France, 1814-48: Diplomacy, Morality and Economics (Basingstoke, 2000), págs. 93-148.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jun 2003
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