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Fundando a nação: a representação de um Brasil barroco, moderno e civilizado

Resumos

O artigo aborda as concepções que fundamentaram as práticas brasileiras de preservação cultural, especialmente relacionadas ao pertencimento à civilização ocidental, consagrado pela associação inédita entre as formas e princípios renovadores do barroco e a produção arquitetônica moderna. Essa associação será fundamentada pela noção de universalidade da arte e da cultura brasileiras, partilhada por modernistas como Rodrigo Melo Franco de Andrade, Carlos Drummond de Andrade e Lucio Costa, como funcionários do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

arquitetura moderna; barroco; identidade nacional; Lucio Costa; modernismo; patrimônio cultural.


This article analyzes the main practices of cultural preservation in Brazil, specially those that concern the Western civilization, consecrated by the association of forms and principles of the baroque and the modern artistic production. This association is based on the notion of universality of the brazilian art and culture, shared by modernists such as Rodrigo Melo Franco de Andrade, Carlos Drummond de Andrade and Lucio Costa, functionaries of the Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

modern architecture; baroque; national identity; Lucio Costa; modernism; cultural patrimony.


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  • 1
    Ávila, Afonso. "Saudação aos Congressistas". Barroco. nº 12, Belo Horizonte, 1982.
  • 2
    Andrade, Rodrigo Melo Franco de. "Trigésimo aniversário da Semana de Arte Moderna; Rodrigo M. F. de Andrade recorda um manifesto que Sérgio Buarque perdeu." Diário Carioca, em 11/5/1952. In Rodrigo e seus tempos: coletânea de textos sobre artes e letras. Rio de Janeiro: MinC/SPHAN/Pró-Memória. 1986.
  • 3
    Bom exemplo é o artigo de Sérgio Buarque de Holanda publicado na Revista do Patrimônio Histórico e Artístico intitulado "Capelas antigas de São Paulo". Revista do SPHAN nº 5, 1941.
  • 4
    Para um aprofundamento acerca da vertente modernista de Carlos Drummond de Andrade, ver Bomeny, Helena Bousquet. Guardiães da Razão. Modernistas mineiros. Rio de Janeiro: UFRJ/Tempo Brasileiro, 1994.
  • 5
    Andrade, Rodrigo Melo Franco de. "Plínio Salgado; a anta e o curupira". Revista do Brasil, Rio de Janeiro, ano 1, v.9, 15/01/1927. In: Rodrigo e seus tempos: coletânea de textos sobre artes e letras. Rio de Janeiro: Ministério da Cultura, SPHAN, Fundação Nacional PróMemória, 1986, p. 230.
  • 6
    Andrade, Rodrigo Melo Franco de. Op. cit. p.123.
  • 7
    As principais proposições de Mário de Andrade acerca da preservação do patrimônio cultural estão presentes claramente em seu Anteprojeto, que elaborou a pedido de Rodrigo Melo Franco de Andrade, para organização do novo serviço, em 1936. Embora pouco seguido, esse documento foi um interlocutor importante para que Rodrigo Melo Franco elaborasse o texto do Decreto-lei nº 25, de 30 de novembro de 1937, que organizou a proteção ao "patrimônio histórico e artístico nacional", criando o instituto do tombamento, ainda hoje em vigor. Tanto o Anteprojeto de Mário de Andrade quanto o Decreto-lei 25/ 37 encontram-se publicados no livro Proteção e revitalização do patrimônio histórico e artístico no Brasil - um trajetória. Brasília: Fundação Nacional Pró-Memória, 1980.
  • 8
    Bomeny, Helena Bousquet. Op. cit. p. 120/1.
  • 9
    Carta de Rodrigo Melo Franco de Andrade a Lucio Costa, 18/7/1946 (Arquivo Noronha Santos - IPHAN - Pasta de Personalidades - Lucio Costa).
  • 10
    A biblioteca e o arquivo do atual Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional- IPHAN, denominados Noronha Santos, localizam-se no Palácio Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro. A biblioteca reúne acervo especializado sobre história da arte, arquitetura, história, especialmente para o período colonial.
  • 11
    Costa, Lucio. "Razões da Nova Arquitetura" [1934]. In: Lucio Costa: registro de uma vivência. São Paulo: Empresa de Artes, 1996.
  • 12
    Gregori Warchavchik era um arquiteto russo, nascido em 1897, que emigrou para oBrasil em 1923. Em 1925, Warchavchik lançava na imprensa paulistana seu Manifesto Acerca da Arquitetura Moderna. Foi o responsável pela primeira construção modernista no Brasil, sua residência em São Paulo, de 1927, tombada pelo IPHAN em 1986 (Processo de Tombamento nº 1154-T-85, localizado no Arquivo Central do IPHAN). Sobre seu engajamento com o movimento da arquitetura moderna, ver Warchavchik, Gregori. Warchavchik e as origens da Arquitetura Moderna no Brasil. São Paulo: Museu de Arte de São Paulo, 1971.
  • 13
    A respeito do revolucionário Salão de 1931, veja Vieira, Lucia Gouveia. O Salão de 1931. Rio de Janeiro: Funarte, 1984.
  • 14
    Koatz, Eduardo. O processo de Criação da Faculdade Nacional de Arquitetura e de seu Currículo. Rio de Janeiro. Dissertação (Mestrado em Educação) - UFRJ, 1996.
  • 15
    Decreto federal nº 23.569/33, sendo que permanecia a garantia do exercício das funções de arquitetos, arquitetos-construtores e agrimensores aos profissionais não diplomados, mas licenciados pelos Estados e Distrito Federal, se provado o exercício à data da publicação do decreto. Cf. Legislação do Exercício da Engenharia, Arquitetura e Agrimensura. 1947. Conselho Federal da Engenharia e Arquitetura, 1947.
  • 16
    A história desse episódio já foi tratada, com vasta documentação, por Lissovsky, Maurício e Sá, Paulo. Colunas da Educação: a Construção do Ministério da Educação e Saúde. Rio de Janeiro: IPHAN, 1996 e também por Cavalcanti, Lauro. As Preocupações do Belo. Rio de Janeiro: Taurus, 1995.
  • 17
    A Faculdade Nacional de Arquitetura, oriunda da Escola Nacional de Belas Artes, foi criada em 1945; a Faculdade de Arquitetura Mackenzie, separada da Escola de Engenharia Mackenzie, surgiu em 1947; a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, separada da Escola Politécnica, em 1948; a Faculdade de Arquitetura da Universidade do Rio Grande do Sul, oriunda do Instituto de Belas Artes, em 1952; a Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia, originária da Escola de Belas Artes da Bahia, em 1959, juntamente com a Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal de Pernambuco. Sobre o assunto, cf. Sobre a História do Ensino de Arquitetura no Brasil. São Paulo: Associação Brasileira de Escolas de Arquitetura, 1977.
  • 18
    Sobre a constituição de um habitus advindo da formação escolar e a construção de mecanismos de prestígio e promoção através da formulação de discursos e práticas de reconhecimento e pertencimento/exclusão ver BOURDIEU, Pierre. A Economia das Trocas Simbólicas. São Paulo: EDUSP, 1982.
  • 19
    Conforme colocou Ítalo Campofiorito, integrante da equipe de arquitetos construtores de Brasília - "Nova Cap", no artigo "O patrimônio cultural: um balanço crítico". Revista do Brasil - ano 2, nº 4, 1985. Governo do Estado do Rio de Janeiro/Secretaria de Ciência e Cultura, Prefeitura do Rio de Janeiro. Confira também a Apresentação do autor ao livro de Lissovsky, Maurício e Sá, Paulo. Op. cit..
  • 20
    Augusto Carlos da Silva Telles foi arquiteto do IPHAN, desde a década de 1950, e professor da faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ. Foi diretor da Diretoria de Tombamento e Conservação do IPHAN por longos anos. No final da década de 1980 ocupou, por curto período, o cargo de presidente da Fundação Nacional Pró-Memória e de secretário da então Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - SPHAN.
  • 21
    Telles, Augusto Carlos da Silva. Barroco no Brasil: análise de sua bibliografia crítica e colocação de pontos de consenso e de dúvidas. Lisboa: Academia Nacional de Belas Artes, 1979, p. 15.
  • 22
    Telles, Augusto C. da Silva. Op. cit., p. 14.
  • 23
    Telles refere-se aos seguintes artigos: Cardoso, Joaquim. Um tipo de casa rural do Distrito Federal. Revista do SPHAN nº 7, 1943; Saia, Luiz. Notas sobre a arquitetura rural paulista do segundo século. Revista do SPHAN nº 8, 1944; Barreto, Paulo Thedim. Casas de Câmara e Cadeia. Revista do SPHAN nº 10, 1946; e, especialmente o de Costa, Lucio. Arquitetura jesuítica no Brasil. Revista do SPHAN nº 5, 1941, que será tratado em particular.
  • 24
    Seus artigos publicados na Revista do SPHAN foram: "Alguns desenhos de arquitetura existentes no Arquivo Histórico Colonial Português" (nº 4/1940); "O códice de frei Cristóvão de Lisboa"(nº5/1941); "Documentos baianos" (nº 9/1945). Seu último artigo, intitulado "Arquitetura civil do período colonial", saiu no nº 17/1969, teve caráter de síntese, ao contrário dos anteriores, mais monográficos.
  • 25
    Andrade, Rodrigo Melo Franco de. Op. cit.
  • 26
    A Manhã, de 21 de janeiro de 1946, apud Andrade, Rodrigo Melo Franco de. Op. cit., p. 22.
  • 27
    Andrade, Rodrigo Melo Franco de. Programa. Revista do SPHAN, nº 1/1937.
  • 28
    Freyre, Gilberto. Sugestões para o Estudo da Arte Brasileira. Revista do SPHAN nº 1, 1937, p. 41.
  • 29
    Andrade, Mário. A Capela de Santo Antônio. Revista do SPHAN nº 1, 1937, p. 119.
  • 30
    Costa, Lucio. Documentação Necessária. Revista do SPHAN nº 1, p. 34.
  • 31
    Vale registrar, ainda, a presença de Heloísa Alberto Torres, Diretora do Museu Nacional, com o artigo "Contribuição para o estudo da proteção ao material arqueológico e etnográfico no Brasil". Revista do SPHAN, nº 1.
  • 32
    Costa, Lucio. "Arquitetura jesuítica no Brasil". Revista do SPHAN nº 5, 1941, p. 12.
  • 33
    Costa, Lucio. Op. cit..
  • 34
    Ibidem, p. 9.
  • 35
    Ibidem, p. 13.
  • 36
    Ibidem, p. 47.
  • 37
    Ibidem.
  • 38
    Costa, Lucio. Op. cit., 1937.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Dez 2003
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