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De papéis a documentos: Monteiro Lobato (1882-1948) e outros modernismos brasileiros

From papers to documents: Monteiro Lobato (1882-1948) and other Brazilian modernisms

RESUMO:

O artigo apresenta em detalhe a gênese do Fundo Monteiro Lobato, no CEDAE/Unicamp, abrangendo desde o projeto inicial até o desenvolvimento do Acervo ao longo dos anos. Algumas seções são mais explicitadas, como cartas (algumas transcritas), fotografias, livros e presença na mídia. Destaca seu papel para o conhecimento mais completo das plateias e bastidores da história literária brasileira dos inícios do século XX, para além dos estereótipos correntes sobre o escritor.

PALAVRAS-CHAVE:
Monteiro Lobato; CEDAE; acervo do escritor, modernismo; história da literatura brasileira

ABSTRACT:

The article presents in detail the genesis of the Monteiro Lobato Fund, at CEDAE/Unicamp, covering from the initial project to the development of the Archive over the years. Some sections are more explicit, such as letters (some transcribed), photographs, books and presence in the media. It highlights its role for a more complete knowledge of the audiences and backstage of Brazilian literary history of the beginning of the 20th century, beyond the current stereotypes about the writer.

KEYWORDS:
Monteiro Lobato; CEDAE; writer’s archive, modernism; history of Brazilian literature

Abrindo o texto

“Monteiro Lobato (1882-1948) e outros modernismos brasileiros” foi o projeto que deu origem ao Fundo Monteiro Lobato. Entre 2003 e 2007, apoiado pela FAPESP (processo 02/08819-4), foi desenvolvido no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp, cujo Centro de Documentação Cultural Alexandre Eulálio (CEDAE) abriga o material que constitui o acervo, indicado em https://cedae.iel.unicamp.br/fundos/MLb_Catalogo.pdf.

Emerson Tin (2019TIN, Emerson. Apontamentos para uma cartografia da correspondência ativa de Monteiro Lobato. Revista Légua & Meia, v. 10, n. 1, p. 11-29, 2019. Disponível em: http://periodicos.uefs.br/index.php/leguaEmeia/article/view/4444 . Acesso em: 18 maio 2022.
http://periodicos.uefs.br/index.php/legu...
)1 1 Fontes que elencam itens da correspondência lobatiana (TIN, 2019) Entre eles, <https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura/bibliotecas/monteiro_ lobato/index.php?p=3825 >.<http://www.fgv.br/CPDOC/BUSCA/arquivo-pessoal/AN/textual/correspondencia-entre-artur-neiva-e-jose-bento-monteiro-lobato-contendo-questoes-editoriais-literarias-e-cientificas-em-particular-a-revista-do-br>.http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/arquivo-pessoal/AT/textual/cartas-entre-jose-bento-monteiro-lobato-e-anisio-teixeira-refletindo-a-grande-amizade-de-ambos-e-discutindo-assuntos-variados-tais-como-o-desenvol>. <http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/arquivo-pessoal/HL/textual/carta-de-jose-bento-monteiro-lobato-a-hermes-lima-sobre-o-envio-de-artigo-a-respeito-de-osvaldo-cruz-a-ser-publicado-no-digest>. <http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/arquivo-pessoal/GV/textual/carta-de-monteiro-lobato-a-getulio-vargas-criticando-a-visao-unilateral-dos-nacionalistas-em-relacao-a-entrada-de-capitais-estrangeiros-no-pais-e-><http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/arquivo-pessoal/GV/textual/carta-de-monteiro-lobato-a-getulio-varga-acusando-fleury-da-rocha-vice-presidente-do-conselho-nacional-do-petroleo-de-sabotar-informacoes-sobre-a->. <http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/arquivo-pessoal/AT/textual/carta-de-jose-bento-monteiro-lobato-a-candido-fontoura-sobre-seu-cotidiano-na-prisao-e-revelando-tranquilidade-quanto-a-seu-julgamento-no-tribunal>. <http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/arquivo-pessoal/AT/textual/carta-de-jose-bento-monteiro-lobato-a-bruno-criticando-as-reformas-ortograficas-s-l>. elenca outros acervos que dispõem de itens da correspondência lobatiana. Em outra perspectiva, o site https://bibliotecadovisconde.com.br disponibiliza imagens e informações relativas às primeiras edições das obras infantis de Monteiro Lobato.

O conjunto de documentos do CEDAE suscita questões instigantes para a história da modernização brasileira. Particularmente no que respeita à literatura, discussões sobre modernização têm sido imantadas, em grande parte, pela Semana de Arte Moderna (SAM) que ocorreu na cidade de São Paulo em fevereiro de 1922. Foi este privilégio conferido à SAM que - de certa maneira - inspirou o título do projeto que deu origem ao Fundo Monteiro Lobato, pretendendo chamar atenção para a pluralidade de manifestações culturais que, já nas primeiras décadas do século passado, rompiam com a tradição novecentista.

Sem desqualificar a importância da paulistana SAM, cartas trocadas entre escritores, como Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Monteiro Lobato - que fazem parte do CEDAE - desdobram outras perspectivas para a história literária. São bastante sugestivas da imensa complexidade do relacionamento de intelectuais num momento decisivo da constituição do campo literário brasileiro (para falar como BOURDIEU, 1992BOURDIEU, Pierre. Les règles de l’art: genèse et structure du champ litteraire. Paris: Seuil, 1992. ), ou de transformação do sistema literário brasileiro, para utilizar da notação de Antonio Cândido (1964CÂNDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira: momentos decisivos. 2. ed. rev. São Paulo: Martins, 1964. 2 v. ).

A pesquisa dos documentos do CEDAE patrocina conhecimento mais completo, mais matizado e menos congelado das plateias e bastidores da história literária brasileira dos inícios do século XX, período até hoje geralmente visto pela historiografia literária oficial (para ficarmos apenas em duas obras canônicas de larga difusão hoje) como uma homogênea, linear e triunfante marcha em direção à produção representada pelos artífices e participantes da SAM realizada em SP em fevereiro de 1922 (COUTINHO, 1986COUTINHO, Afrânio. A literatura no Brasil: era modernista. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio: Universidade Federal Fluminense, 1986. ; BOSI, 1970BOSI, Alfredo. Pré-modernismo e modernismo. In: BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Ed. Cultrix, 1970. p. 339-428. ).

A revisão desta historiografia já se iniciou, através de trabalhos que, resgatando, comentando e analisando produtos culturais - contemporâneos, ou imediatamente anteriores ou posteriores aos anos 20 do século passado - vêm dando visibilidade a matrizes culturais até hoje abafadas ou minimizadas pela oficialização do chamado modernismo paulista, chancelado como vanguarda oficial brasileira (MARTINS, 2016MARTINS, Milena Ribeiro. A prosa literária dos anos 1920. Revista Diálogos Mediterrâneos, n. 11, p. 153-175, dez. 2016. Disponível em: https://www.dialogosmediterranicos.com.br/index.php/RevistaDM/article/view/235 . Acesso em: 18 maio 2022.
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).

Em obras e artigos mais recentes, intelectuais como Flora Süssekind (1987SÜSSEKIND, Flora. Cinematógrafo de letras. São Paulo: Cia. das Letras, 1987.), Mônica Pimenta Velloso (2010VELLOSO, Monica Pimenta. História & modernismo. Belo Horizonte: Autêntica, 2010. 128 p), Nicolau Sevcenko (1992SEVCENKO, Nicolau. Orfeu extático na metrópole: São Paulo sociedade e cultura nos frementes anos 20. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. 390 p.), Márcia Camargos (2001CAMARGOS, Márcia. Vila Kyrial. São Paulo: Ed. Senac , 2001. ), Tania Regina de Luca (2010LUCA, Tania Regina de. Leituras, projetos e (Re)vista(s) do Brasil. São Paulo: Editora Unesp: Fapesp, 2010. ) e, bem mais recentemente (e de forma muito polêmica), Ruy Castro (2022CASTRO, Ruy. Como a Semana de 22 virou vanguarda oficial depois de 50 anos esquecida. Folha de S. Paulo, 5 fev. 2022. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2022/02/como-a-semana-de-22-virou-vanguarda-oficial-depois-de-50-anos-esquecida.shtml . Acesso em: 18 maio 2022.
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), têm levantado discussões que desenvolvem de forma promissora a questão não apenas do Modernismo, mas dos riscos de periodizações congeladas que, por assim dizer, tendem a imobilizar e estereotipar a produção literária de um ou outro período, nos ismos em que a tradição costuma distribuir a produção literária. Discussões voltadas para o Modernismo inspiram e fertilizam tais discussões.

Os documentos do CEDAE permitem vislumbrar, desentranhar e discutir múltiplas e diferentes formas de ruptura com a tradição literária herdada do século XIX através da identificação e do estudo de tendências e forças em ação no campo literário brasileiro nas duas primeiras décadas do século XX.

Tendências literárias renovadoras ao tempo de Lobato manifestam-se pelas transformações do regionalismo, ao lado de modernização do modo de produção da literatura.

O caso Monteiro Lobato

À pluralidade de interesses inscritos na produção lobatiana, soma-se um intenso - e muitas vezes polêmico - exercício de cidadania que o fazia pronunciar-se a propósito de todas as questões candentes de seu tempo.

Desdobram-se nos documentos do CEDAE faces da vida cotidiana e intelectual do escritor, como sua curiosidade por um ou por outro sistema filosófico, a discussão minuciosamente técnica e amplamente política de diferentes aspectos de suas campanhas pelo ferro e pelo petróleo, ao lado de sua interação com leitores - anônimos ou famosos - que lhe escreviam e que recebiam resposta sempre escrupulosa e não poucas vezes muito criativa (DEBUS, 1996DEBUS, Eliane Santana Dias. Entre vozes e leituras: a recepção da literatura infantil e juvenil. 1996. 203 f. Dissertação (Mestrado em Letras) - Curso de Pós-Graduação em Letras, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1996., 2001DEBUS, Eliane Santana Dias. O leitor, esse conhecido: Monteiro Lobato e a formação de leitores. 2001. 267 f. Tese (Doutorado em Letras) - Programa de Pós-Graduação em Letras, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2001.).

A pesquisa da epistolografia lobatiana (TIN, 2007TIN, Emerson. Em busca do “Lobato das cartas”: a construção da imagem de Monteiro Lobato diante de seus destinatários. 2007. 547 f. Tese (Doutorado) - Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2007. Disponível em: https://doi.org/10.47749/T/UNICAMP.2007.403005 . Acesso em: 18 maio 2022.
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) contribui para o conhecimento mais acurado da sociabilidade - tanto pessoal quanto institucional - entre escritores, elemento importante para a identificação e compreensão das comunidades interpretativas vigentes ao tempo de Monteiro Lobato e que, na formulação lapidar de Pierre Bourdieu (1992BOURDIEU, Pierre. Les règles de l’art: genèse et structure du champ litteraire. Paris: Seuil, 1992. ), são parte decisiva da economia de trocas (simbólicas e materiais) que regem a vida literária.

A função de editor, exercida por Lobato, à qual ele acrescentava a de escritor e de crítico literário/jornalista, é fartamente documentada pelo material. Suas iniciativas editoriais o individualizam: contrastam com o perfil comum do intelectual brasileiro de seu tempo. Inscrevem-no nas malhas mais centrais do sistema literário, já que, num sistema literário moderno, cabe ao editor a produção material do objeto - o livro - sobre o qual e em nome do qual (antes que o mundo digital desenvolvesse e-books) se constrói o sistema literário.

Documenta-se ao longo de suas várias iniciativas editoriais, sua preocupação pela popularização do livro e da leitura, ao investir em livros pequenos, com capas vistosas, mancha pequena e ilustração adequada.

Interpretação e cruzamento dos diferentes materiais reunidos no acervo podem produzir compreensão mais aprofundada e rigorosa do conjunto da obra de Monteiro Lobato. Favorecem também levantamento cuidadoso de seus dados biográficos, o que pode iluminar passagens de suas inúmeras - e como sói acontecer com este gênero - incompletas e (às vezes) contraditórias biografias (CAVALHEIRO, 1955CAVALHEIRO, Edgard. Monteiro Lobato: vida e obra. São Paulo: Companhia Nacional, 1955.; AZEVEDO, CAMARGOS, SACCHETTA, 1997AZEVEDO, Carmen Lucia de; CAMARGOS, Marcia Mascarenhas; SACCHETTA, Vladimir. Monteiro Lobato, um furacão na Botucundia. São Paulo: Ed. Senac, 1997. 392 p.).

Sem postular retorno a uma crítica autobiográfica - posição ingênua contra a qual são seminais os trabalhos de Foucault (1992FOUCAULT, Michel. O que é um autor? Tradução Antônio Fernando Cascais e Eduardo Cordeiro. 3. ed. Lisboa: Veja, 1992. ) e de Roland Barthes (2004BARTHES, Roland. A morte do autor. In: BARTHES, Roland. O rumor da língua. Prefácio de Leyla Perrone-Moisés; Tradução Mário Laranjeira. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004. p. 57-75. ) - o conhecimento do cotidiano de um intelectual de facetas tão múltiplas e contraditórias, como Monteiro Lobato é sugestivo: permitirá integrar, numa instância interpretativa mais complexa, sua polêmica presença em frentes intelectuais distintas e polêmicas, como a crítica de arte, a modernização da indústria editorial brasileira, a luta pelo petróleo e pelo ferro, o anticlericalismo, a crítica renhida ao atraso tecnológico e cultural do país, a admiração pelo American way of life.

No polo da recepção da literatura lobatiana, destaca-se a divisão entre obra adulta e obra infantil. Em seus livros, a representação miúda e verista do cotidiano em certas passagens contrasta com paixões violentas e surtos de fantasia presentes em outras. No âmbito político, as contradições multiplicam-se vertiginosamente. Correspondência e obra de Monteiro Lobato parecem registrar percursos que incluem toda a gama de posicionamentos ideológicos disponíveis para um intelectual de seu tempo: alinhamento com os interesses da oligarquia paulista nos anos 30, depois crítica implacável ao Estado Novo de Vargas e ao nazifascismo, alternados encanto e desencanto pelo Comunismo, e entusiasmo pelo peronismo argentino.

Mais recentemente, têm sido levantadas questões extremamente sérias relativas à posição lobatiana face a preconceitos raciais. Mais uma vez, o retorno à sua obra e a documentos familiares - por exemplo, os relativos à sua avó materna, a prof. Anacleta Augusta do Amor Divino - podem trazer dados que enriquecem a discussão, tornando-a mais complexa.

Talvez a maior lacuna de que a documentação (e, consequentemente, os estudos lobatianos) até hoje se ressente seja representada pelas cartas de Godofredo Rangel para Lobato, isto é, a outra ponta da correspondência publicada em A barca de Gleyre. Ao que se sabe, em posse de herdeiros de Rangel, algumas poucas foram publicadas em suplementos literários, mas a grande maioria permanece inacessível. Por outro lado, entre os documentos depositados no CEDAE, encontram-se cartas dos herdeiros de Monteiro Lobato trocadas com seus editores (correspondência posterior à morte do escritor), bem como documentos familiares que remontam às primeiras décadas do século XIX.

Antecedentes

Tendo como epígrafe a reflexão lobatiana “Loucura? Sonho? Tudo é loucura ou sonho no começo. Nada do que o homem fez no mundo teve início de outra maneira -mas já tantos sonhos se realizaram que não temos o direito de duvidar nenhum” (LOBATO, 1956LOBATO, Monteiro. Miscelânea. 7. ed. São Paulo: Brasiliense, 1956. , p. 178), o projeto “Monteiro Lobato (1882-1948) e outros modernismos brasileiros” nasceu como desdobramento do projeto “Memória de Leitura”.

Ao longo do desenvolvimento do projeto, voltado para resgate, elaboração e registro de uma história da leitura enquanto prática social e do livro (sobretudo o brasileiro e o português) enquanto materialidade em torno da qual tal prática se construiu e se desenrolou no Brasil antes do surgimento de livros digitais, a figura de Monteiro Lobato foi se fazendo mais e mais presente.

Foi no desenvolvimento de uma dissertação de mestrado ancorada nele e financiada por bolsa Fapesp (97/05863-2), que a pesquisadora Cilza Carla Bignotto - por um destes acasos (?) felizes do destino - localizou, em Santos (SP), considerável acervo de livros de Monteiro Lobato, revistas e recortes de jornais a ele relacionados, colecionados pelo Sr. Newton Nebel dos Santos. O apoio da FAPESP foi fundamental para a aquisição do material, que hoje integra a Biblioteca Lobatiana.

A incorporação dos títulos deste acervo ao CEDAE foi o passo inicial para formulação, desenvolvimento e consolidação do projeto sobre Monteiro Lobato e os modernismos. Desde sua chegada à Unicamp, e com vistas a viabilizar o mais rapidamente possível seu estudo, interpretação e disponibilização ao público, os documentos integrantes do FML - e os que a ele se foram incorporando - receberam procedimento técnico arquivístico voltado para sua conservação, organização e descrição a cargo da equipe do CEDAE2 2 A equipe do CEDAE que trabalhou com os documentos lobatianos era constituída por Flávia Carneiro Leão (orientação e supervisão), Patrícia Cano Saad (arquivista responsável), Cristiano Diniz (na época, estagiário), Alexandra G. B. Soares (Bolsista FAPESP), Giovani Roberto Klein (Bolsista FAEP), .

Desenvolvimento do Acervo

A presença dos herdeiros de Monteiro Lobato (Sra. Joyce Lobato Campos e Sr. Dr. Jorge Kornbluh) à cerimônia de incorporação destes livros ao CEDAE acabou favorecendo transferência para a UNICAMP de documentação do escritor, material mais que precioso. Os mais de dois mil itens que, inicialmente, configuravam o MLB, já representavam, em seu conjunto, acervo rico e sugestivo, de valor inestimável para uma compreensão mais acurada, tanto da gênese de vários aspectos da obra lobatiana, quanto do clima cultural e literário brasileiro dos mais de quarenta anos ao longo dos quais a figura de Lobato se destaca em diferentes áreas da vida brasileira3 3 Nascido em 1882, desde muito jovem Monteiro Lobato colaborava em jornaizinhos das escolas que frequentava, tendo sido inclusive fundador (em 1900) de uma Arcádia Acadêmica na Faculdade de Direito de São Paulo. É a partir de 1914, através da publicação dos artigos Velha Praga e Urupês no jornal O Estado de São Paulo que ele se torna figura pública (e polêmica) na vida cultural brasileira. Quatro anos depois (em 1818), quando compra a Revista do Brasil, funda a Editora Monteiro Lobato & Cia e publica Urupês sua importância impõe-se no campo editorial e literário brasileiro, o que lhe serve de alavanca para chegar a outros campos. .

Ao lado do acervo inicial entregue pelos herdeiros e do considerável acréscimo de documentos, o material hoje disponível no CEDAE foi se ampliando muito. Abriga, hoje, diferentes conjuntos de documentos que a ele chegaram por caminhos bastante imprevistos e que, a partir daqui, serão apresentados, sem que a sequência da apresentação represente sua maior ou menor importância para estudos literários.

Para além da importância acadêmica e intelectual de acervos documentais, nos contatos com familiares de titulares de alguns dos acervos doados, os pesquisadores foram surpreendidos pela importância que herdeiros atribuíam a ter um antepassado seu contribuído com itens valiosos para o acervo de uma universidade do porte da UNICAMP. A presença de tais documentos no CEDAE como que resgatava de forma quase sempre póstuma - para a família - uma identidade talvez pouco conhecida ou pouco prezada de um familiar falecido.

Os muitos e múltiplos Monteiros Lobatos no Acervo do CEDAE

O elevado número de aquarelas, desenhos e fotografias de autoria de Monteiro Lobato presentes no acervo - ao lado de seu valor como documentos importantes da arte paulista (no contexto que, como com tanto rigor, aponta Tadeu Chiarelli em seu excelente e pioneiro Um Jeca nos vernissages paulistas (CHIARELLI, 1995CHIARELLI, Tadeu. Um Jeca nos vernissages paulistas. São Paulo: Edusp, 1995. 11 v. 264 p. ) representa uma bem-vinda porta de entrada para uma perspectiva mais semiótica - isto é, que integre diferentes códigos - para uma discussão mais acurada dos sentidos e valores da obra de Monteiro Lobato.

O CEDAE conta com considerável número de fotografias tiradas por Lobato que aguardam pesquisas que as interpretem e integrem ao restante da produção lobatiana, bem como à história da fotografia no Brasil. As fotos são, em primeiro lugar, fiança da modernidade dos interesses de Monteiro Lobato, este intelectual de muitas faces. Grande parte das fotos - como as que retratam paisagens - revelam que, por trás das lentes, estava um fotógrafo com uma certa concepção estética do instrumento que estava usando para a figuração da realidade.

Introduzida no Brasil a partir de 1889 e difundindo-se de forma crescente nas décadas seguintes, a máquina fotográfica é - ou foi assim concebida, nos inícios de sua popularização - instrumento eficientíssimo para a captação do real circundante e, nesse sentido, o interesse que Lobato demonstra por ela pode contribuir para a compreensão do que se pode considerar uma representação verista buscada pelos seus textos literários, unanimemente apontada pela crítica como traço característico da sua ficção.

O acervo fotográfico reunido no CEDAE inclui fotos de família (algumas das quais com marcas de diferentes ateliês paulistas), de amigos e colaboradores, de suas viagens pelo Brasil, Estados Unidos e Argentina, e também dos poços de prospecção de petróleo. Dentre elas, grande número parece ser de autoria de Monteiro Lobato.

Do ponto de vista da história da fotografia brasileira, a série reunida no CEDAE conta com exemplos que remontam aos primórdios da fotografia, como o daguerreótipo que retrata antepassados do escritor, passando pelos negativos de vidro, tão representativos dos finais do século XIX, até os então modernos instantâneos de diacetato de celulose característicos dos anos 30 e 40.

Se o conjunto de fotos tiradas por Lobato merece estudo especializado e também uma exposição, as fotos de familiares podem ser ponto de partida para uma eventual fotobiografia do escritor.

Ao lado de seu valor intrínseco de linguagem, as fotos são um bom índice do valor que Lobato atribuía aos diferentes eventos dos quais participou: os registros fotográficos de suas campanhas pelo petróleo e pelo ferro, por exemplo, são essenciais para uma reconstrução mais detalhada dos participantes e locais envolvidos em tais campanhas e, no limite, fonte primária para o traçado da história delas.

O interesse lobatiano pela fotografia desdobra-se em seu interesse pelo cinema: sua cinefilia é fartamente documentada tanto em sua epistolografia, quanto em sua obra, e parece constituir um outro modo de participação de Monteiro Lobato na modernidade.

Cruzado com as obras nas quais Lobato tematiza sua militância pelo petróleo e pelo ferro (nomeadamente Ferro [1931] e O escândalo do Petróleo [1936]) e com a correspondência trocada com Charley Frankie, o acervo de fotos favorece um conhecimento mais efetivo e sólido do desenrolar destas campanhas no Brasil. Ao mesmo tempo, o conhecimento mais factual delas permitirá, talvez, sua articulação com situações narradas na ficção infantil lobatiana, como as presentes em O poço do Visconde (1937).

Monteiro Lobato e seus livros

O conjunto de livros presentes no MLB do CEDAE representa a parte menos numerosa do acervo, mas nem por isso menos interessante ou menos sugestiva. Muitas vezes com anotações do próprio Lobato, os livros documentam seu processo de leitura, nos grifos, anotações à margem e folhas de abertura. Nos volumes recebidos de terceiros, a frequência de dedicatórias e o tom destas são também portas de acesso à sociabilidade vigente entre escritores.

Em outra perspectiva, diferentes edições de seus livros (MARTINS, 2003MARTINS, Milena Ribeiro. Lobato edita Lobato: história das edições dos contos lobatianos. 2003. 429 f. Tese (Doutorado) - Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2003. Disponível em: https://doi.org/10.47749/T/UNICAMP.2003.287116 . Acesso em: 18 maio 2022.
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) - às vezes rasuradas - em conjunto com alguns originais, constituem documento de extremo valor para conhecimento do processo de escrita de Monteiro Lobato, como ensinam as formulações da crítica genética. Peça muito curiosa e interessante desta série é a tradução manuscrita dos livros de Nietzsche O crepúsculo dos ídolos e O Antichristo. São identificados como “tradução da versão francesa de Henri Albert por M.L.” e datados “Fazenda São José, 1906”. Trata-se de um volume encadernado, manuscrito em tinta vermelha (Caixa de arquivo MLb 4 1 00013); talvez, seja projeto que Monteiro Lobato menciona na correspondência a Godofredo Rangel em 1910. Profusamente anotado por Monteiro Lobato, o documento pode esclarecer aspectos bastante significativos da influência do filósofo alemão no escritor brasileiro, ao conferir materialidade à intertextualidade que a obra de Lobato parece manifestar com a obra nietzschiana. E pode ainda fornecer dados do processo tradutório de Monteiro Lobato.

Relativamente à bibliografia lobatiana - mas na contramão dela - são muito interessantes documentos relativos à censura que, antecipando campanhas contemporâneas do cancelamento de seus livros, a obra lobatiana recebeu ora por razões religiosas, ora por razões políticas.

Sem constituir propriamente um livro, o CEDAE recebeu um caderno de receitas da esposa do escritor - Dona Purezinha. Em algumas de suas páginas, Lobato é quem copia/redige a receita, incluindo comentários pouco usuais neste tipo de texto. Uma destas páginas inspirou o postal (Figura 1) que celebrou um evento da Unicamp voltado para Monteiro Lobato.

Figura 1 -
Postal Biscoitinho Manhoso, criado a partir do Livro de Receitas de Dona Purezinha. Fundo Monteiro Lobato / Cedae/ IEL/ UNICAMP.

Monteiro Lobato e seus correspondentes

Dona Therezinha

Um dos conjuntos de cartas do CEDAE é o que Lobato, entre 1946 e 1947, escreveu a Nize Therezinha Martins Antunes, professora gaúcha de Pelotas. Numa época de perseguição política no Brasil, Therezinha, noiva de um militante ameaçado de prisão, foi enviada pela família a Buenos Aires. Leitora entusiástica de Lobato, e sabendo que ele lá se encontrava, procurou-o, encontrou-o e ficaram amigos. Deste encontro nasceu a correspondência.

A chegada deste material ao CEDAE foi completamente inesperada, o que não é absolutamente uma novidade, em se tratando de acervos: um filho de Dona Therezinha - Dr. Ápio Cláudio Martins Antunes -, sabendo da documentação existente no IEL, e do zelo de sua mãe pelos documentos que tinha, procurou a UNICAMP para saber do interesse da universidade em receber o acervo.

A correspondência - embora só conheçamos as cartas de Lobato para D. Therezinha - é fantástica. Assuntos familiares e políticos pontilham as cartas, que chegaram ao CEDAE acrescidas de um álbum de recordações de Dona Therezinha (com texto de Lobato) e de algumas outras cartas, desta vez trocadas entre sua prima Maria Luíza e o escritor.

Estas cartas, de e para Maria Luíza - como quase todas as trocadas com seus leitores mirins - são extremamente sugestivas de expedientes lobatianos que provocam e ampliam a interação do público infantil com suas histórias (SILVA, 2009SILVA, Raquel Afonso da. Entre livros e leituras: um estudo de cartas de leitores. 2009. 277 f. Tese (Doutorado) - Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2009. Disponível em: https://doi.org/10.47749/T/UNICAMP.2009.772102 . Acesso em: 18 maio 2022.
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). O trecho de uma destas cartas (inédita) que abaixo se reproduz é bastante ilustrativo da forma pela qual Lobato lidava com sua correspondência com crianças.

S. Paulo, 4, 3, 936

Maria Luíza:

Só hoje recebi sua cartinha, tão interessante, de 11 deste mês. E também o retrato, que é pena estar tão apagado. Não pude ver direito a carinha da amiguinha pelotense.

Emília, que estava ao meu lado, leu também sua carta e disse: “Sim senhor! Está aqui uma menina que bem merecia morar no sítio de dona Benta e tomar parte nas nossas aventuras. Sabe alemão e tem “personality” (Emília está aprendendo inglês); além disso, é atéia (sic). Gosto muito dos ateus.

O visconde também veio ler a carta e ficou assanhado quando soube que a biblioteca da Maria Luiza tem já 110 volumes - e deu um pulo de alegria quando viu que a Maria Luiza trata a tal Arimetica (sic) da Emilia de Arimetica (sic) do Visconde.

Fragmento de outra carta - agora dirigida a Dona Therezinha - igualmente inédita, oferece dados bastante sugestivos para pesquisas relativas à trajetória político-ideológica do Lobato desta época:

Em 01.007 1947

Na negra tirania militar que nos envolve, a situação das vítimas da estupidez militar é a mesma daqueles mártires que a Santa Madre Igreja feudal condenava ao IN PACE -o horripilante calabouço em que eram enterrados vivos, sob a ironia deste latim gravado na pedra. Lá apodreciam e morriam sem que nem sequer uma sombra de seus gemidos chegasse ao conhecimento dos homens. Assim hoje as vítimas da Estupidez Militar. A Imprensa, algemada que está, recusa-se (não pode, coitada!) a abrir campanha sobre os casos. Emudece.

Charley Frankie

Um conjunto de cartas trocadas entre Monteiro Lobato e Charley Frankie (Karl Werner Frankie), engenheiro suíço, parceiro do escritor na exploração do petróleo (CHIARADIA, 2016CHIARADIA, Kátia Nelsina Pereira. Edição de textos fidedigna e anotada das cartas trocadas entre Monteiro Lobato e Charles Frankie (1934-1937): Edição e estudo da correspondência entre Monteiro Lobato, Charles Frankie e alguns companheiros da Campanha Petrolífera, como Edson de Carvalho. 2016. 642 f. Tese (Doutorado em Teoria e História Literária) - Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2016. ) constitui o fundo Charley Warren Frankie (ChF)4 4 Descrição do Fundo está disponível em: https://cedae.iel.unicamp.br/guia.php?view=details&id=3416a75f4cea9109507cacd8e2f2aefc . Rigorosamente inédita, esta correspondência chegou ao CEDAE também por caminhos inesperados. Um bisneto de Franckie (Gustavo Stolf Jeuken), aluno de uma das pesquisadoras do projeto, percebendo o interesse da professora pelo escritor, surpreendeu-a com a entrega do maço de cartas trocadas entre seu bisavô e Lobato. Posteriormente, a avó de Gustavo - Sra. Laís Frankie Stolf - formalizou a cessão da correspondência à Unicamp.

Discussões sobre o envolvimento de Monteiro Lobato com o petróleo saem extremamente enriquecidas a partir desse conjunto de cartas. As complexas relações entre Getúlio Vargas, empresas petrolíferas norte-americanas e o projeto lobatiano ficam magnificamente iluminadas a partir de propostas e projetos que Frankie e Lobato discutem nas inúmeras cartas que trocam.

Trecho de carta de 1 de junho de 1937, em papel timbrado de companhia de Lobato (Figura 2), é bastante sugestivo das negociações de Lobato com diferentes parceiros para seu projeto.

Figura 2 -
Trecho de carta de 1 de junho de 1937.

Frankie:

Acabo de receber a tua de 30 com a notícia da tua maleita. Somos todos uns estropiados.

O Edson já recebeu a proposta da sonda e achou boa. Diz ele que a dificuldade com o governo de Alagoas é a falta de dinheiro, que é extrema. Além disto, o estado ainda não recebeu os 5000 contos federais votados para a seca. Mas afirma que o Osman continua firme. Diz também que enquanto se discutem as coisas ele vai armando a sondinha velha, porque se tudo falhar irá furando com ela.

Escritores argentinos

No desenvolvimento de uma tese de doutorado, pesquisa parcialmente levada a cabo na Argentina, Thaís Albieri (2009ALBIERI, Thaís de Mattos. São Paulo - Buenos Aires: a trajetória de Monteiro Lobato na Argentina. In: XIV Seminário de Teses em Andamento, v. 3, n. 3, Anais do Seta. São Paulo: Unicamp, 2009. p. 913-923. Disponível em: http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/270113 . Acesso em: 18 mai. 2022.
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) localizou cartas trocadas entre Monteiro Lobato e escritores do país vizinho.

As relações de Lobato com a Argentina são bastante conhecidas, tendo ele, inclusive, residido em Buenos Aires em 1946. No entanto, suas relações com escritores do país vizinho antecedem, de muito, sua residência lá. As cartas ora disponibilizadas no CEDAE dão concretude à parceria estabelecida entre o escritor brasileiro e seus pares portenhos, ainda nos inícios dos anos 20 do século passado. A correspondência (ativa e passiva) registra opiniões críticas dos intelectuais sobre obras uns dos outros, projetos de tradução e planos de visitas.

O trecho abaixo, fragmento de carta de Horacio Quiroga (1878-1937) ao escritor brasileiro - muito anterior à permanência de Lobato na Argentina - ilustra a concretude das preocupações e propostas de intercâmbio de que participou Monteiro Lobato com escritores argentinos do porte de Quiroga:

Buenos Aires - Octubre 1921

Mi estimado Monteiro Lobato. Recebi ultimamente el ejemplar de la revista que me envió. Gracias de nuevo, e igualmente al amigo Feraz - a “Negrinha”, es anterior o posterior a Urupês? Hay alli una historia “El drama de la helada”, que me hace de corazón. Si no fuera acaso molestia para el compañero Garay, traduciria con gusto “Negrinha” para “La Nación” o periódico similar.

Monteiro Lobato na mídia

O conjunto de recortes reunidos no FML foi recolhido e classificado pelos seus organizadores iniciais de forma bastante pessoal e assistemática. O resultado deste modus operandi foi o acúmulo de recortes relativos a certos períodos e quase total ausência de material relativamente a outros. Em seu conjunto, no entanto, a série permite uma leitura bastante sugestiva da presença de Lobato na mídia, quer ao longo de sua vida (de forma crescente em seus últimos anos), quer após sua morte.

A elevada quantidade de notícias sobre a fundação ou inauguração de aparelhos culturais que levam seu nome (notadamente bibliotecas e escolas) é, por exemplo, um índice bastante forte da popularidade e força da imagem de Lobato nos meios culturais e educacionais, particularmente em aparelhos sociais voltados para a leitura.

O conjunto também privilegia notícias, artigos e entrevistas de Monteiro Lobato a propósito de diferentes circunstâncias da vida nacional, o que dá a medida do peso do escritor como (em linguagem contemporânea nossa) formador de opinião. Mais uma vez, o estudo destes recortes tanto completa um quadro da participação de Lobato na vida pública brasileira de seu tempo quanto especifica, de forma mais detalhada, aspectos desta história do Brasil que se vai tecendo em notícias de jornal redigidas e postas em circulação contemporaneamente aos fatos nelas noticiados.

Encontram-se também sob a guarda da Unicamp uns poucos objetos que acompanharam a transferência do acervo lobatiano para o CEDAE: alguns bem antigos, como leques que pertenceram à esposa do escritor; outros mais recentes, como objetos licenciados, representados por exemplo por band aids com as personagens do Sítio do Pica-pau Amarelo, ou por estojos escolares com a figura de Monteiro Lobato.

Estes objetos, obviamente, reforçam a força da imagem de Monteiro Lobato, agora transformado em pura mercadoria, cujo valor de troca, no entanto, deve-se à posição invejável que desfrutou (e continua desfrutando?) no sistema literário brasileiro.

Fechando o texto

Ou seja: as peças sob guarda da Unicamp cartografam os múltiplos interesses e atividades de Monteiro Lobato, este polêmico intelectual brasileiro que, ao longo de sua vida, dedicou-se a diferentes modalidades de criação, imprimindo sua marca e seu estilo à literatura adulta e à infantil, à tradução, ao jornalismo, à crítica de arte e de literatura, às artes editoriais e às artes visuais, representadas estas pelo desenho, pela pintura e pela fotografia.

Tais são as razões pelas quais a documentação lobatiana disponível no CEDAE, ao lado de sua obra, favorece análise abrangente, fundada em diferentes matrizes metodológicas - da crítica genética à análise sócio-histórica e à estética da recepção - que melhor possam dar conta da pluralidade dela. E que, longe de fugirem de suas contradições ou mesmo de abrandá-las, aprofundem questões já apontadas pela crítica, de forma a permitirem a elaboração de uma síntese dialética - ainda que sempre provisória - que transcenda as contradições, através da inserção destas em contextos cada vez mais abrangentes

REFERÊNCIAS

  • ALBIERI, Thaís de Mattos. São Paulo - Buenos Aires: a trajetória de Monteiro Lobato na Argentina. In: XIV Seminário de Teses em Andamento, v. 3, n. 3, Anais do Seta São Paulo: Unicamp, 2009. p. 913-923. Disponível em: http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/270113 Acesso em: 18 mai. 2022.
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  • 2
    A equipe do CEDAE que trabalhou com os documentos lobatianos era constituída por Flávia Carneiro Leão (orientação e supervisão), Patrícia Cano Saad (arquivista responsável), Cristiano Diniz (na época, estagiário), Alexandra G. B. Soares (Bolsista FAPESP), Giovani Roberto Klein (Bolsista FAEP),
  • 3
    Nascido em 1882, desde muito jovem Monteiro Lobato colaborava em jornaizinhos das escolas que frequentava, tendo sido inclusive fundador (em 1900) de uma Arcádia Acadêmica na Faculdade de Direito de São Paulo. É a partir de 1914, através da publicação dos artigos Velha Praga e Urupês no jornal O Estado de São Paulo que ele se torna figura pública (e polêmica) na vida cultural brasileira. Quatro anos depois (em 1818), quando compra a Revista do Brasil, funda a Editora Monteiro Lobato & Cia e publica Urupês sua importância impõe-se no campo editorial e literário brasileiro, o que lhe serve de alavanca para chegar a outros campos.
  • 4
    Descrição do Fundo está disponível em: https://cedae.iel.unicamp.br/guia.php?view=details&id=3416a75f4cea9109507cacd8e2f2aefc

Editado por

Editor-chefe:

Rachel Esteves Lima

Editor executivo:

Regina Zilberman

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    29 Jul 2022
  • Data do Fascículo
    May-Aug 2022

Histórico

  • Recebido
    04 Mar 2022
  • Aceito
    25 Mar 2022
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