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Implante direto de stent através de cateter guia 5F por técnica transradial

Resumos

OBJETIVO: Avaliar o implante de stents sem dilatação prévia com cateter balão convencional para o tratamento das obstruções coronarianas, utilizando-se cateteres guias de baixo perfil através da técnica radial. MÉTODOS: A técnica radial é atraente pela possibilidade de se evitar o trauma provocado pelo balão, menor tempo para sua realização, exposição reduzida à radiação e consumo de contraste em quantidades inferiores às habitualmente usadas neste tipo de procedimento. RESULTADOS: Analisada a experiência inicial de implante direto de stents, através de cateteres de baixo perfil por via radial, em 45 pacientes, com idade média de 65 anos. Em todos os casos houve sucesso no procedimento sem complicações maiores na fase hospitalar. CONCLUSÃO: Os resultados com a população estudada demonstraram ser a técnica radial segura, eficaz e com muito baixo risco de complicações.

implante direto stent; cateter; transradial


OBJECTIVE: To assess stent implantation without previous dilation with a conventional balloon catheter to treat coronary artery obstructions, by using low profile guiding catheters and the transradial approach. METHODS: The transradial approach is attractive due to the possibility of avoiding the trauma caused by the balloon, its shorter time of performance, reduced exposure to radiation, and the use of lower quantities of contrast medium than those usually required in this type of procedure. RESULTS: The initial experience of direct stent implantation with low profile guiding catheters and the transradial approach was analyzed in 45 patients, whose mean age was 65 years. All procedures were successful, with no major complications in the in-hospital phase. CONCLUSION: The results obtained with the population studied proved that the transradial approach is safe, effective, and has very few risks of complications.

direct stent implantation; catheter; transradial


ARTIGO ORIGINAL

Implante direto de stent através de cateter guia 5F por técnica transradial

Wilson Miguel Cecim Coelho; José Luiz Balthazar Jacob; José Dalmo de Araujo Filho; Sumaira Faitarone Frederico; Ivone Eduarda Campos Cabbaz

São José do Rio Preto, SP

Instituto de Moléstias Cardiovasculares - IMC e Sociedade Portuguesa de Beneficência

Endereço para correspondência Endereço para correspondência Wilson Miguel Cecim Coelho Trav. Rui Barbosa, 1382/500 - Cep 66035-500 - Belém, PA, Brazil E-mail: wmccoelho@terra.com.br

RESUMO

OBJETIVO: Avaliar o implante de stents sem dilatação prévia com cateter balão convencional para o tratamento das obstruções coronarianas, utilizando-se cateteres guias de baixo perfil através da técnica radial.

MÉTODOS: A técnica radial é atraente pela possibilidade de se evitar o trauma provocado pelo balão, menor tempo para sua realização, exposição reduzida à radiação e consumo de contraste em quantidades inferiores às habitualmente usadas neste tipo de procedimento.

RESULTADOS: Analisada a experiência inicial de implante direto de stents, através de cateteres de baixo perfil por via radial, em 45 pacientes, com idade média de 65 anos. Em todos os casos houve sucesso no procedimento sem complicações maiores na fase hospitalar.

CONCLUSÃO: Os resultados com a população estudada demonstraram ser a técnica radial segura, eficaz e com muito baixo risco de complicações.

Palavra-chave: implante direto stent, cateter, transradial

A coronariografia através da técnica transradial foi descrita pela primeira vez por Campeau1, em 1989, e, desde então, diversos grupos apresentaram suas experiências relacionadas, tanto ao diagnóstico, como ao tratamento através da angioplastia, utilizando esta via de acesso2-7. Alguns autores4,6 têm demonstrado menor taxa de complicações quando se compara esta técnica à abordagem femoral, descrita por Seldinger. Apesar dos resultados iniciais favoráveis, a via radial apresenta uma curva de aprendizado que dificulta a sua aceitação pela maioria dos cardiologistas intervencionistas. Sabe-se também que a relação > 1 entre o diâmetro do cateter e o calibre da artéria determina um pior prognóstico com relação à trombose tardia da artéria radial.

Alguns fatores justificam a opção por essa técnica para o implante direto de stent, sendo um deles uma menor taxa de complicações vasculares, por se tratar de artéria de pequeno calibre e de fácil compressão e, o outro, pelo maior conforto para o paciente que pode deambular imediatamente após o procedimento, evitando assim o repouso no leito, imposto pela técnica femoral.

A dilatação da lesão coronariana com balão antes da implantação do stent tem sido a técnica habitualmente utilizada, já que ela facilita a passagem e liberação dos stents. Esta estratégia foi particularmente importante para a primeira geração de stents. Nos últimos anos, graças ao importante incremento tecnológico, os stents apresentam-se como dispositivos com melhor fixação, mais baixo perfil e flexibilidade, adquirindo assim um melhor desempenho, permitindo a sua implantação sem a prévia dilatação com balão.

Este estudo observacional e prospectivo foi desenhado para avaliar a segurança e a eficácia da implantação direta de stent, sem dilatação prévia com balão através de um cateter guia de baixo perfil por técnica transradial.

Métodos

Entre fevereiro/2001 e outubro/2002, foram implantados em 45 pacientes, 35 do sexo masculino, 56 stents coronarianos, sem dilatação prévia, utilizando-se cateter guia 5F, através da via radial.

A seleção dos pacientes foi feita considerando-se aqueles que apresentassem lesões únicas, não calcificadas, em vasos sem grandes tortuosidades proximais à lesão, o que poderia dificultar o implante direto do stent e, ainda, pacientes com pulso radial amplo e com teste de Allen normal. O teste consiste na compressão simultânea da artéria radial e ulnar, solicitando-se ao paciente que abra e feche a mão rapidamente, provocando, assim, uma isquemia. Em seguida é liberada a artéria ulnar a perfusão da mão é mantida pelo suprimento da mesma. É importante considerar que os procedimentos foram realizados pelo mesmo operador, que já havia realizado 106 exames diagnósticos, previamente ao estudo, desenvolvendo assim uma curva de aprendizado observada nesta técnica.

A idade média dos pacientes foi de 65 anos (46 a 90), 35 eram homens e 10 mulheres. Com relação ao quadro clínico 15 pacientes participaram com angina estável, 25 com angina instável, 3 com infarto do miocárdio há pelo menos 48h, encaminhados para tratamento de forma eletiva, e 2 assintomáticos com teste provocativo de isquemia positivo. Dentre eles 13 eram diabéticos, 15 fumantes e 26 hipertensos. Todos os pacientes apresentavam teste de Allen normal (tab. I).

A canulação da artéria radial foi feita com abbocath 20 e, em seguida, utilizaram-se 20 mg de mononitrato intra-arterial para prevenir espasmo. Posteriormente, procedeu-se a colocação de uma bainha valvulada (5F 23 cm CORDIS). Foram introduzidas 2.500 unidades de liquemine através da bainha. Um cateter guia 5F (Meditronic Zuma) com 1,47mm de lúmen foi utilizado para cateterização da coronária a ser tratada. Foram usados 15 stents multilink tetra, 12 multilink penta, 22 genic e 7 express para tratar artérias, assim distribuídos: 25 lesões em artérias descendente anterior; 14, em circunflexas; 13, em coronárias direitas; duas em troncos de coronária esquerda protegidos por enxertos; um enxerto de veia safena; e um ramo diagonal. O diâmetro médio das artérias foi de 3,06 mm e a extensão média das lesões de 13,11 mm.

A pressão média de liberação dos stents foi de 15,33 atmosferas. Todos os pacientes receberam liquemine intracoronariano em quantidade suficiente para manter um tempo de coagulação ativada > 250s. Ácido acetilsalicílico na dose 325mg/dia e clopidogrel na dose de 75 mg/dia foram utilizados naqueles pacientes que já vinham fazendo uso destas drogas. Naqueles que não as usavam, foram utilizados 500mg de ácido acetilsalicílico e 300 mg de clopidogrel como dose inicial antes do procedimento. No dia seguinte à angioplastia foi mantido o clopidogrel na dose de 75 mg/dia por 28 dias e ácido acetilsalicílico na dose de 100mg/dia indefinidamente. A bainha foi retirada quando o tempo de coagulação ativado encontrava-se abaixo de 180s e feito um curativo compressivo no local. A alta hospitalar ocorreu no dia seguinte para todos os pacientes, com exceção de uma que referia tonturas e mal estar e que, apesar do exame físico normal, foi mantida em observação por mais um dia, obtendo alta sem intercorrências.

A angiografia foi realizada em pelo menos duas projeções, antes e após o implante do stent. Mononitrato de isosorbida intracoronariano foi utilizado antes das medidas, feitas pela análise quantitativa digital antes do procedimento. Este método permite avaliação precisa do grau de estenose e o calibre da artéria a ser tratada. O sucesso clínico foi definido como sucesso angiográfico sem complicações maiores na fase hospitalar (fig. 1).


Resultados

As características clínicas da população estudada encontram-se na tabela I. Em 11 pacientes foram tratadas duas artérias. Em todos os casos houve sucesso no implante direto do stent com excelente resultado final e toda a população estudada livre de eventos na fase hospitalar. Não houve complicações maiores no acesso vascular. Apenas uma paciente apresentou um hematoma menor, tratado clinicamente.

Discussão

Os incrementos tecnológicos na intervenção coronariana percutânea nos últimos anos têm dedicado especial atenção ao perfil dos cateteres, buscando, assim, reduzir as complicações na via de acesso e possibilitar o uso de artérias de menor calibre, determinando maior conforto ao paciente. Com essa perspectiva, a via radial tem se mostrado uma alternativa muito promissora4. Este estudo observacional demonstrou que o implante direto de stent utilizando um cateter guia 5 F pela via radial é factível, seguro e eficaz e com uma taxa de complicações muito baixa, quase zero.

Outros estudos já demonstraram que o implante direto de stent, sem pré-dilatação, é uma técnica segura e eficaz7-10, porém a utilização de cateter guia 5F e a via radial foi demostrada apenas em uma série de pacientes selecionados, com síndromes isquêmicas agudas11.

Em algumas situações de implante direto de stent se faz necessária a entubação da coronária para que se possa cruzar a lesão. O menor diâmetro do cateter guia 5F, a grande flexibilidade e a ponta suave permitem essa entubação da coronária com maior facilidade e menor risco de complicações.

Os resultados promissores obtidos no presente estudo podem servir de estímulo para que os cardiologistas intervencionistas utilizem esta técnica, buscando assim oferecer aos pacientes um tratamento mais confortável, sem comprometer o resultado do procedimento.

Recebido para publicação em 14/3/03

Aceito em 22/1/03

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  • 2. Kiemeneij F, Laarman GJ. Percutaneous trans radial artery approach for coronary Palmatz-Schatz stent implantation. Am Heart J 1994; 128: 167-74.
  • 3. Spaulding C. Lefevre T. Funch F et al. Left radial approach for coronary angiography: results of a prospective study. Cathet Cardiovasc Diag 1996; 39: 365-70.
  • 4. Brito JC, Azevedo Jr A, Oliveira A, Sohsten RV, Santos Filho A, Carvalho H. Intervenções coronarianas através da artéria radial. Arq Bras Cardiol 2001, 76: 369-73.
  • 5. Morice M-C, Dumas P. Lefevre T. Loubeyre C, Louvard Y, Piechaud JF. Systematic use of transradial approach or suture of the femoral artery after angioplasty: attempt at achieving zero acess site complications. Cathet Cardiovasc Intervent 2000; 51: 417-21.
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  • 10. GertJan L.*, Tamil M., Henk S. et al. Direct coronary stent implantation: safety, feasibility, and predictors of success of the strategy of direct coronary stent implantation. Cathet Cardiovasc Intervent 2001; 52: 443-8.
  • 11. Martial H, Rémi S, Quanming Z et al. Mini-invasive strategy in acute coronary syndromes: direct coronary stenting using 5 Fr guiding catheters and transradial approach. Cathet Cardiovasc Intervent 2002; 55: 340-3.
  • Endereço para correspondência

    Wilson Miguel Cecim Coelho
    Trav. Rui Barbosa, 1382/500 -
    Cep 66035-500 - Belém, PA, Brazil
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      13 Set 2004
    • Data do Fascículo
      Set 2004

    Histórico

    • Recebido
      14 Mar 2003
    • Aceito
      22 Jan 2003
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