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Tratamento cirúrgico do divertículo de Zenker: diverticulopexia versus diverticulectomia

Surgical treatment of Zenker diverticulum: diverticulopexy versus diverticulectomy

Resumos

RACIONAL: Divertículo faringoesofágico, conhecido como de Zenker, é herniação adquirida na mucosa faríngea através de um defeito muscular entre as fibras oblíquas do músculo constritor inferior da faringe e as transversas do músculo cricofaríngeo. OBJETIVO: estudo retrospectivo, não randomizado, compararando os resultados da diverticulopexia e diverticulectomia, ambas associadas à miotomia do músculo cricofaríngeo, no tratamento do divertículo de Zenker. MÉTODOS: Quarenta pacientes foram submetidos a tratamento cirúrgico entre 1989 e 2003, dos quais 38 (95%) foram seguidos. Vinte e oito eram do sexo masculino (70%) e 12 femininos, com média de idade de 62,5 anos (21 a 85 anos). Vinte e quatro pacientes (60%) foram submetidos à diverticulopexia ou elevação, e 16 à diverticulectomia ou ressecção, através de cervicotomia esquerda, com miotomia do músculo cricofaríngeo. RESULTADOS: Resultados excelentes (Visick I), foram verificados em 84,6% dos pacientes submetidos à diverticulectomia e 66,6% dos pacientes submetidos à diverticulopexia. Na análise global de todos os casos estudados, 27 (11 ressecções e 16 elevações - 72,9%) apresentaram Visick I; 8 (2 ressecções e 6 elevações - 21,6%) apresentaram Visick II; e 2 (elevações - 5,4%) apresentaram Visick III. Não foi registrado nenhum caso na classificação de Visick IV. A incidência de complicações pós-operatórias registrada nos dois grupos foi semelhante (P>0,05). Foi verificado a presença de neoplasia maligna em um caso submetido a ressecção (2,5%). CONCLUSÃO: A diverticulopexia com miotomia do músculo cricofaríngeo é mais indicada em doentes geriátricos, pequenos divertículos e doentes com risco operatório elevado. A diverticulectomia é boa opção em grandes divertículos e doentes jovens, para prevenir o risco de transformação maligna. Esta casuística mostrou melhores resultados com a diverticulectomia em comparação com a diverticulopexia.

Divertículo; Esôfago; Zenker; Miotomia


BACKGROUND: Pharyngoesophageal diverticulum, known as Zenker, is an acquired herniation in the pharyngeal mucous through a muscular defect between the oblique fibers of the constrictor muscle of the pharynx and the transverse fibers of the cricopharyngeal muscle. AIM: A non-randomized retrospective study was performed, comparing the results of the diverticulopexy and diverticulectomy, both associated to the cricopharyngeal myotomy, in the Zenker diverticulum treatment. METHODS: Forty patients were submitted to surgical treatment between 1989 and 2003, of which 38 (95%) were followed. Twenty-eight patients were males (70%), with an average age of 62,5 years (21 to 85 years). Twenty-four patients (60%) were submitted to diverticulopexy or elevation, and sixteen to the diverticulectomy or resection, through left cervicotomy, followed by cricopharyngeal myotomy. RESULTS: Excellent results (Visick I) were found in 84,6% of the patients submitted to the diverticulectomy and 66,6% of the patients submitted to the diverticulopexy. General analysis showed that 27 cases (11 resections and 16 elevations - 72,9%) presented Visick I; 8 cases (2 resections and 6 elevations - 21,6%) presented Visick II; and 2 cases (elevations - 5,4%) presented Visick III. No cases were registered under Visick IV classification. The incidence of postoperative complications recorded in the two groups was similar (P > 0,05). The presence of malignant neoplasia was verified in a case submitted to resection (2,5%). CONCLUSION: The cricopharyngeal myotomy and diverticulopexy is suitable in geriatric patients, small diverticulum, and patients with operatory risk. Diverticulectomy is a good option in cases of larger diverticulum and young patients to prevent the risk of malignant transformation. This casuistic presented better results with diverticulectomy than diverticulopexy.

Diverticulum; Esophagus; Zenker; Myotomy


ARTIGO ORIGINAL

Tratamento cirúrgico do divertículo de Zenker: diverticulopexia versus diverticulectomia

Surgical treatment of Zenker diverticulum: diverticulopexy versus diverticulectomy

Nelson Adami Aandreollo; Luiz Roberto Lopes; Nelson Ary Brandalise; Marcelo Amade Camargo; João de Souza Coelho-Neto

Disciplina de Moléstias do Aparelho Digestivo, Departamento de Cirurgia e Gastrocentro, Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - Campinas – SP

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Nelson Adami Andreollo, e-mail: nandreollo@hotmail.com

RESUMO

RACIONAL: Divertículo faringoesofágico, conhecido como de Zenker, é herniação adquirida na mucosa faríngea através de um defeito muscular entre as fibras oblíquas do músculo constritor inferior da faringe e as transversas do músculo cricofaríngeo.

OBJETIVO: estudo retrospectivo, não randomizado, compararando os resultados da diverticulopexia e diverticulectomia, ambas associadas à miotomia do músculo cricofaríngeo, no tratamento do divertículo de Zenker.

MÉTODOS: Quarenta pacientes foram submetidos a tratamento cirúrgico entre 1989 e 2003, dos quais 38 (95%) foram seguidos. Vinte e oito eram do sexo masculino (70%) e 12 femininos, com média de idade de 62,5 anos (21 a 85 anos). Vinte e quatro pacientes (60%) foram submetidos à diverticulopexia ou elevação, e 16 à diverticulectomia ou ressecção, através de cervicotomia esquerda, com miotomia do músculo cricofaríngeo.

RESULTADOS: Resultados excelentes (Visick I), foram verificados em 84,6% dos pacientes submetidos à diverticulectomia e 66,6% dos pacientes submetidos à diverticulopexia. Na análise global de todos os casos estudados, 27 (11 ressecções e 16 elevações – 72,9%) apresentaram Visick I; 8 (2 ressecções e 6 elevações – 21,6%) apresentaram Visick II; e 2 (elevações – 5,4%) apresentaram Visick III. Não foi registrado nenhum caso na classificação de Visick IV. A incidência de complicações pós-operatórias registrada nos dois grupos foi semelhante (P>0,05). Foi verificado a presença de neoplasia maligna em um caso submetido a ressecção (2,5%).

CONCLUSÃO: A diverticulopexia com miotomia do músculo cricofaríngeo é mais indicada em doentes geriátricos, pequenos divertículos e doentes com risco operatório elevado. A diverticulectomia é boa opção em grandes divertículos e doentes jovens, para prevenir o risco de transformação maligna. Esta casuística mostrou melhores resultados com a diverticulectomia em comparação com a diverticulopexia.

Descritores: Divertículo. Esôfago. Zenker. Miotomia.

ABSTRACT

BACKGROUND: Pharyngoesophageal diverticulum, known as Zenker, is an acquired herniation in the pharyngeal mucous through a muscular defect between the oblique fibers of the constrictor muscle of the pharynx and the transverse fibers of the cricopharyngeal muscle.

AIM: A non-randomized retrospective study was performed, comparing the results of the diverticulopexy and diverticulectomy, both associated to the cricopharyngeal myotomy, in the Zenker diverticulum treatment.

METHODS: Forty patients were submitted to surgical treatment between 1989 and 2003, of which 38 (95%) were followed. Twenty-eight patients were males (70%), with an average age of 62,5 years (21 to 85 years). Twenty-four patients (60%) were submitted to diverticulopexy or elevation, and sixteen to the diverticulectomy or resection, through left cervicotomy, followed by cricopharyngeal myotomy.

RESULTS: Excellent results (Visick I) were found in 84,6% of the patients submitted to the diverticulectomy and 66,6% of the patients submitted to the diverticulopexy. General analysis showed that 27 cases (11 resections and 16 elevations - 72,9%) presented Visick I; 8 cases (2 resections and 6 elevations - 21,6%) presented Visick II; and 2 cases (elevations - 5,4%) presented Visick III. No cases were registered under Visick IV classification. The incidence of postoperative complications recorded in the two groups was similar (P > 0,05). The presence of malignant neoplasia was verified in a case submitted to resection (2,5%).

CONCLUSION: The cricopharyngeal myotomy and diverticulopexy is suitable in geriatric patients, small diverticulum, and patients with operatory risk. Diverticulectomy is a good option in cases of larger diverticulum and young patients to prevent the risk of malignant transformation. This casuistic presented better results with diverticulectomy than diverticulopexy.

Headings: Diverticulum. Esophagus. Zenker. Myotomy

INTRODUÇÃO

Divertículo faringoesofágico, descrito inicialmente por Ludlow (1769)19, ou divertículo de pulsão, por Zenker (1877)26, é herniação adquirida na mucosa faríngea através de um defeito muscular entre as fibras oblíquas do músculo constritor inferior da faringe e as transversas do músculo cricofaríngeo. Nesta localização, há área triangular bem delimitada, denominada de triângulo de Killian, na qual as fibras musculares estão rarefeitas, deixando exposta a mucosa da hipofaringe. A mucosa herniando através desta área vai formar o divertículo de Zenker (DZ) de variados tamanhos8.

A ocorrência do DZ é muito variável, sendo mais freqüentemente encontrado no norte da Europa. Não é raro na América do Norte e Austrália, mas muito incomum no Japão e Indonésia. Não há relatos sobre sua freqüência na América do Sul e Brasil, contudo é considerado como de ocorrência pouco freqüente. A sua ocorrência entre os doentes com disfagia é de 1 a 3%, mais comum na faixa etária entre 60 e 90 anos, e predominante no sexo masculino (2:1)5.

Muitas teorias foram lançadas ao longo dos anos sobre a sua etiopatogenia, porém, nenhuma delas tem sido totalmente aceita, apesar de estudos detalhados com manometria e cinerradiografia. A maioria dos autores concorda que a seu aparecimento é secundário à obstrução funcional e aumento da pressão intraluminal ao nível do músculo cricofaríngeo, ou seja decorrente de incoordenação entre as contrações da faringe e o relaxamento do esfíncter esofágico superior. Caracteriza-se por ter evolução progressiva ao longo dos anos4,5,24.

Os sintomas mais freqüentes incluem disfagia referida na região cervical, regurgitação, halitose, tosse à ingestão alimentar e aspiração pulmonar. Ocasionalmente os pacientes poderão apresentar emagrecimento importante, chegando à desnutrição grave e com pneumonias de repetição. O diagnóstico é estabelecido mediante história clínica minuciosa, radiografias contrastadas da faringe e esôfago, endoscopia digestiva alta, e eventualmente utilizando a manometria e a cinerradiografia2,20. Entre as complicações é citada a sua perfuração, considerada muito rara de ocorrer3.

O tratamento é fundamentalmente cirúrgico, com diverticulectomia ou diverticulopexia, seguido de miotomia do músculo cricofaríngeo, embora nos últimos anos, muitos autores advogam o tratamento endoscópico2,10,17,22.

O objetivo deste estudo retrospectivo, não randomizado, é comparar os resultados da diverticulopexia e diverticulectomia, ambas associadas à esofagomiotomia, no tratamento do divertículo de Zenker, através da revisão da experiência ao longo de 14 anos no Hospital das Clínicas da UNICAMP.

MÉTODOS

Quarenta doentes submetidos a tratamento cirúrgico de divertículo faringoesofágico, entre 1989 e 2003, foram estudados, dos quais 38 (95%) tiveram seguimento pós-operatório. Vinte e oito eram do sexo masculino (70%) e 12 do feminino, com média de idade de 62,5 anos (21 a 85 anos).

O diagnóstico foi estabelecido mediante os sintomas e radiografias contrastadas (esofagograma) em todos os casos. A endoscopia digestiva foi possível de ser realizada em 29 doentes (72,5%) e a eletromanometria em 14 (35%).

A queixa principal foi disfagia em 29 doentes (72,5%), regurgitação em 8 doentes (20%), e em 1 doente (2,5%) a tosse frequente. Associados à queixa principal, o emagrecimento importante foi referido em 10 casos (25%) e a regurgitação em 4 casos (10%). Dois doentes apresentavam pirose, um apresentava odinofagia e outro abaulamento cervical. O tempo de história variou de 4 meses a 40 anos, sendo que 28 doentes (70%) relatavam sintomas de 6 meses a 3 anos.

Vinte e quatro doentes (60%) foram submetidos à diverticulopexia ou elevação, e dezesseis (40%) foram submetidos à diverticulectomia ou ressecção, seguido de miotomia do músculo cricofaríngeo, por meio de cervicotomia esquerda.

RESULTADOS

Os divertículos tinham cerca de 1 a 10 cm de extensão (média de 4,5 cm) com colo de 0,5 a 6,5 cm (média de 2,5 cm). A abordagem, em todos os casos, foi através de cervicotomia esquerda longitudinal, na borda interna do músculo esternocleidomastóideo, dissecando-se todos os planos e estruturas cervicais até o isolamento completo do divertículo e de seu óstio na região póstero-inferior da faringe. A diverticulopexia foi realizada em 24 pacientes (60%) e a diverticulectomia em 16 pacientes (40%).

A miotomia realizada consistiu em seccionar toda a musculatura do músculo cricofaríngeo e do esôfago cervical, na extensão aproximada de 3 cm, expondo toda a mucosa. Após a diverticulectomia, o fechamento do óstio diverticular foi com sutura contínua, utilizando-se fio absorvível de acido poliglicólico número 000, sendo que esta sutura foi posteriormente protegida com a musculatura da faringe. Em todos os casos os divertículos ressecados foram enviados para estudo anatomopatológico.

A opção pela diverticulopexia foi nos doentes portadores de divertículos de pequeno e médio tamanho, sendo que foi realizada mediante elevação e retificação do mesmo, seguido de fixação na musculatura da faringe, com fio inabsorvível de prolene 0000, evitando-se passar os pontos na sua luz, ou lacerá-lo. Foram realizados como procedimentos associados ao tratamento do divertículo, a hiatoplastia e gastrofundoplicatura a Nissen modificada em três doentes, a colecistectomia em um doente e a vagotomia troncular e gastroenteroanastomose em um doente, todos através de cirurgia video-laparoscópica.

O estudo anatomopatológico dos divertículos ressecados revelou processo inflamatório crônico em todos os casos. Em um paciente de 79 anos, com três anos de história, tabagista e etilista foi encontrado espessamento da parede com ulceração na mucosa, sendo demonstrado a presença de tumor maligno neuro-endócrino (2,5%). Este doente faleceu cerca de 2 meses após a operação, decorrente de acidente vascular cerebral.

As complicações pós-operatórias consistiram de três fístulas cervicais (2 após diverticulopexia e 1 após diverticulectomia), sendo que, duas delas associadas a abscesso local entre o terceiro e o quarto dia de pós-operatório, com resolução em 8 a 20 dias. Seis doentes (15%) referiram parestesia no local da incisão e outros seis apresentaram disfonia no pós-operatório, com melhora no pós-operatório tardio. Um caso apresentou hematoma na ferida operatória, com resolução ambulatorial completa em 30 dias e um outro teve infecção do trato urinário (Tabela 1). Além disso, um doente de 61 anos com hipertensão arterial e que foi submetido a diverticulopexia evoluiu para óbito (2,5%) no primeiro dia de pós-operatório em decorrência de infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral.

O período de hospitalização pós-operatória variou de dois a 12 dias, com média de 4,7 dias por doente, sendo que 21 doentes permaneceram entre 2 e 4 dias internados (52,5%).

A melhora na disfagia foi notória e referida por todos os doentes logo após a operação. Um doente perdeu totalmente o seguimento, sendo que o tempo de seguimento pós-operatório tardio de 37 doentes foi de dois meses a 11 anos (média de 14 meses). Empregando a classificação de sintomas de Visick, 27 doentes (11 ressecções e 16 elevações) apresentaram Visick I (73%), 8 doentes (2 ressecções e 6 elevações) apresentaram Visick II (21,6%); e 2 doentes (2 elevações) apresentaram Visick III (5,4%). Nenhum doente foi classificado em Visick IV (Tabela 2).

Na avaliação final, 84,6% dos pacientes submetidos à diverticulectomia e 66,6% dos pacientes submetidos à diverticulopexia foram classificados como excelentes (Visick I), com desaparecimento total dos sintomas disfágicos.

DISCUSSÃO

A ocorrência do DZ é pouco frequente no nosso meio, de tal forma que poucos serviços têm número grande de doentes, suficientes para dar experiência satisfatória no seu manuseio e tratamento.

O tratamento cirúrgico do DZ é fundamentalmente baseado na sua etiopatogenia, de tal modo que a maioria dos autores têm preconizado já há anos a diverticulectomia seguido de miotomia do esfincter cricofaríngeo10,11,12. No entanto, Aggerholm & Illum1 mostram os resultados do tratamento de 110 pacientes realizando a diverticulectomia apenas, verificando 16% de recidivas do divertículo, valor este considerado elevado.

Gullane el al.11 compararam pela primeira vez os resultados de três procedimentos: da diverticulectomia seguido por miotomia, da cricofaringomiotomia somente, e da cricofaringomiotomia seguido por diverticulopexia, encontrando resultados muito semelhantes.

Laccourreye et al.15 compararam os resultados entre dois grupos: 14 doentes submetidos a diverticulectomia e 29 a diverticulopexia, todos seguidos de miotomia do cricofaríngeo, verificando que todos os doentes beneficiaram-se igualmente. Konowitz & Biller14, no entanto, recomendam que a diverticulopexia deve ser reservada para pacientes de alto risco.

Loui & Zuckerbraun18 também preocupados com as complicações da diverticulectomia em pacientes muito debilitados ou muito idosos, propõem inicialmente a realização da diverticulectomia seguido da esofagostomia cervical, e posteriormente o fechamento tardio da esofagostomia.

Witterick et al.25 realizaram a diverticulectomia e miotomia do cricofaríngeo em 18 pacientes com DZ e fizeram estudos radiológicos contrastados de controle cerca de 30 meses após, constatando recidiva de pequenos divertículos em 8 deles (44%), que mantinham-se assintomáticos.

Ruiz-Tovar et al.23 relatam sua experiência no tratamento cirúrgico do divertículo em 27 doentes, em período de 20 anos, em que 74% dos casos foram submetidos a diverticulectomia e miotomia do músculo cricofaríngeo. As complicações somaram 21% e a taxa de recidiva foi de 4%.

Leporrier et al.16 comparam os resultados de dois grupos de doentes igualmente divididos, submetidos respectivamente a diverticulectomia seguido de miotomia (19 doentes) e diverticulopexia (19 doentes) no período de 10 anos. Referem que não ocorreu mortalidade e o índice de complicações foi pequeno, sendo um caso com fístula cervical, três com pneumonias, três com disfonia transitória e um hematoma. O resultado foi considerado excelente em 36 casos e bom em 3. Concluem que a diverticulopexia é preferível em doentes geriátricos e a diverticulectomia preferencialmente deve ser empregada em grandes divertículos (maiores que 6 cm) ou em doentes jovens pelo risco de malignização.

O tratamento endoscópico do DZ também encontra muitos adeptos e exige muita experiência para realizá-lo. Foi primeiro descrito na literatura por Mosher em 191721, o qual dividiu o septo entre o divertículo e o esôfago sob controle endoscópico. Porém, foram Dohlman & Mattsson em 19609 que desenvolveram instrumentos rígidos especiais para secção do referido septo, incluindo uma pinça para coagulação, evitando hemorragia local.

Van Overbeek24 relatam os resultados do tratamento endoscópico em 545 doentes ao longo de 30 anos, obtendo melhora muito satisfatória da disfagia em 91% deles, com taxa de complicações muito baixa.

Ishioka et al.13, entre nós, relatam sua experiência utilizando fibroendoscópios para realizar a secção do septo em 42 doentes com DZ, obtendo bons resultados, com 7,1% de recidiva da disfagia.

Bonavina et al.6 analisam os resultados tardios de 5 a 10 anos do tratamento de 297 doentes, comparando tratamento endoscópico (181 casos) com a diverticulectomia seguida de miotomia (116 casos). Referem que 92% dos doentes submetidos a tratamento endoscópico e 94% dos submetidos a operação aberta ficaram livres dos sintomas disfágicos, concluindo que ambas as técnicas apresentam bons resultados. Enfatizam que divertículos menores que 3 cm são contraindicação para o tratamento endoscópico.

A melhora dos sintomas e desaparecimento da disfagia (Visick I e II) ocorreu em 94,6% dos casos desta casuística. Foi registrado apenas um óbito (2,5%). Na avaliação final, 84,6% dos pacientes submetidos à diverticulectomia e 66,6% dos submetidos à diverticulopexia foram classificados como excelentes (Visick I), com desaparecimento total dos sintomas disfágicos. .

Os pacientes submetidos a diverticulectomia necessitam ser mantidos em jejum durante cerca de 72 horas, antes de iniciar alimentação via oral, prolongando o tempo de hospitalização, enquanto que os que são submetidos a diverticulopexia podem ser realimentados mais precocemente, diminuindo a permanência hospitalar. A diverticulopexia teoricamente evita a esofagotomia durante a diverticulectomia, portanto, complicações como mediastinite, fistula cervical e estenose poderão ser evitadas. Na presente casuística a diverticulopexia foi empregada em divertículos de pequeno e médio tamanho.

Assim, a justificativa dos autores deste trabalho que preferem a diverticulopexia ao invés da diverticulectomia é quanto às complicações, menos frequentes na primeira, podendo ser empregada em doentes com risco cirúrgico elevado e nos mais idosos. Todavia, deve ser lembrada ainda possibilidade, embora muito rara, da ocorrência de neoplasias malignas no DZ, incidência por volta de 0,5%. Brücher et al.7 em recente revisão também relatam a ocorrência é muito rara e fazem referência a um caso em que não foi possível o tratamento cirúrgico devido à condição clinica do doente. Na presente casuística foi encontrado um caso ainda mais raro de tumor neuroendócrino associado (2,5%).

Concluindo, os resultados deste estudo mostram que tanto a diverticulectomia como a diverticulopexia podem ser utilizadas, pois beneficiam os doentes. A revisão da literatura mostra que é indispensável a realização da miotomia do esfincter cricofaríngeo, extendendo-a ao esôfago cervical, perfazendo cerca de 3 cm de mucosa exposta. Afastar a possiblidade de neoplasia associada deve ser uma das preocupações do cirurgião. A ressecção do divertículo previne a transformação maligna e pode ser uma forma de diagnosticar a mesma, tendo em vista o risco real do carcinoma "in situ" nos divertículos tratados com elevação ou não. O tratamento endoscópico é praticado e preconizado por número pequeno de especialistas. Portanto, vários métodos podem ser utilizados no tratamento do DZ. E, mesmo tratando-se de doença pouco frequente, é importante conhecer seus sinais e sintomas e diagnosticá-la logo no início, evitando complicações.

CONCLUSÃO

O tratamento cirúrgico do divertículo de Zenker através de cervicotomia esquerda e miotomia, seja ele associado à elevação ou ressecção do divertículo, é procedimento seguro e efetivo, com alto índice de sucesso em longo prazo e baixas taxas de morbidade e mortalidade. A diverticulopexia é mais indicada em doentes geriátricos, pequenos divertículos e doentes com risco operatório elevado. A diverticulectomia é boa opção em grandes divertículos e doentes jovens, para prevenir o risco de transformação maligna. A incidência de complicações nos pacientes submetidos à diverticulectomia não é maior que a apresentada nos submetidos à diverticulopexia e a melhora dos sintomas se mostrou mais efetiva no primeiro grupo deste estudo.

Conflito de interesse: não há.

Fonte financiadora: não há

Recebido para publicação: 22/05/2007

Aceito para publicação:03/09/2007

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  • Endereço para correspondência:

    Nelson Adami Andreollo,
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      29 Mar 2012
    • Data do Fascículo
      Dez 2007

    Histórico

    • Aceito
      03 Set 2007
    • Recebido
      22 Maio 2007
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