DESCRITORES:
Fístula duodenal; Tuberculose; Endoscopia
INTRODUÇÃO
A tuberculose ainda é uma das principais causas de morbidade e mortalidade nos países em desenvolvimento11 Sharma MP, Bhatia V. Abdominal tuberculosis. Indian J Med Res 2004; 120: 305-15.. Em pacientes com infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV), a tuberculose pode infectar locais e apresentações incomuns. Embora a tuberculose possa envolver qualquer parte do trato gastrointestinal, envolvimento duodenal é incomum2. Linfadenite tuberculosa levando à fistula com o duodeno é raramente relatada na literatura. Nós aqui relatamos um caso de linfadenite tuberculosa erodindo na parede duodenal e causando fístula linfadenoduodenal.
RELATO DE CASO
Um homem de 42 anos apresentou febre, dor abdominal e distensão há um mês. Ele também apresentava história de anorexia e perda de 5 kg neste período. O exame sistêmico foi negativo para linfonodos, mas foi significativo para ascite. Ele foi testado positivo para infecção pelo vírus da imunodeficiência humana com contagem de CD4 de 70 células/µl. Os parâmetros laboratoriais mostraram hemoglobina de 11,3 gm/dl, contagem total de leucócitos de 8,4x109/l, função renal e hepática normais. A tomografia computadorizada de abdome com contraste mostrou presença de ascite com múltiplos linfonodos necróticos mesentéricos, peripancreáticos, periduodenais e espessamento omental ( Figura 1). A análise do líquido ascítico mostrou gradiente de albumina de ascite sérica de 0,8 gm/dl, citologia negativa para células malignas, adenosina desaminase (ADA) de 23 u/l e teste de amplificação de ácido nucleico baseado em cartucho (CB-NAAT) foi negativo para Mycobacterium tuberculosis. A endoscopia digestiva alta realizada cinco dias após a tomografia computadorizada de abdome mostrou abaulamento com secreção espessa e esbranquiçada de uma abertura no bulbo duodenal (Figura 2). O CB-NAAT do material esbranquiçado aspirado foi positivo para Mycobacterium tuberculosis. Iniciou-se terapia anti-tuberculose e, posteriormente, terapia anti-retroviral, resultando em melhora de todos os sintomas. A repetição da endoscopia gastrointestinal alta após seis semanas mostrou resolução completa da fístula duodenal.
Tomografia abdominal mostrando linfonodos necróticos grandes periduodenais e peripancreáticos (seta preta)
DISCUSSÃO
Os grupos de linfonodos periduodenais estão comumente envolvidos na linfadenite tuberculosa abdominal11 Sharma MP, Bhatia V. Abdominal tuberculosis. Indian J Med Res 2004; 120: 305-15.,22 Bhansali SK. Abdominal tuberculosis. Experiences with 300 cases. Am J Gastroenterol. 1977; 67(4): 324-37.. A formação de fístula linfadenoduodenal é entidade rara encontrada na prática clínica, apesar do envolvimento comum de linfonodos periduodenais na tuberculose33 Lee DG, Kim GH. Nododuodenal fistula caused by tuberculosis. Korean J Intern Med. 2011; 26(4): 477.,44 Nasa M, Sharma Z, Saraf N, et al. Tubercular lymphadenopathy with duodenal fistula. J Dig Endosc 2016; 7: 74-6.. Há formação de necrose caseosa na linfadenite tuberculosa e esses linfonodos tuberculosos podem corroer os linfonodos adjacentes duodenais resultando em um trajeto fistuloso entre o linfonodo e o duodeno55 Bhatti A, Hussain M, Kumar D, et al. Duodenal tuberculosis. J Coll Physicians Surg Pak. 2012; 22(2): 111-2.. A tomografia com contraste ajuda a identificar a causa da linfadenopatia, bem como o trajeto fistuloso entre o linfonodo e o duodeno33 Lee DG, Kim GH. Nododuodenal fistula caused by tuberculosis. Korean J Intern Med. 2011; 26(4): 477.,44 Nasa M, Sharma Z, Saraf N, et al. Tubercular lymphadenopathy with duodenal fistula. J Dig Endosc 2016; 7: 74-6.. Neste caso, a tomografia abdominal não revelou qualquer comunicação fistulosa entre o linfonodo e o duodeno, mas foi mostrada pela endoscopia digestiva alta, sugerindo uma comunicação fistulosa recentemente desenvolvida. Esta fístula pode ser uma manifestação ou pode se desenvolver após o início da terapia antituberculosa33 Lee DG, Kim GH. Nododuodenal fistula caused by tuberculosis. Korean J Intern Med. 2011; 26(4): 477.,44 Nasa M, Sharma Z, Saraf N, et al. Tubercular lymphadenopathy with duodenal fistula. J Dig Endosc 2016; 7: 74-6.. O manejo da fístula não requer terapia específica adicional além da terapia anti-tuberculosa33 Lee DG, Kim GH. Nododuodenal fistula caused by tuberculosis. Korean J Intern Med. 2011; 26(4): 477.
4 Nasa M, Sharma Z, Saraf N, et al. Tubercular lymphadenopathy with duodenal fistula. J Dig Endosc 2016; 7: 74-6.-55 Bhatti A, Hussain M, Kumar D, et al. Duodenal tuberculosis. J Coll Physicians Surg Pak. 2012; 22(2): 111-2..
Para concluir, este caso significa que a tuberculose pode envolver local incomum ou ter apresentação incomum na infecção pelo HIV. A fístula linfadenoduodenal é apresentação rara de linfadenite tuberculosa. O fluido do local da fístula pode ser usado para o diagnóstico de tuberculose
REFERENCES
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1Sharma MP, Bhatia V. Abdominal tuberculosis. Indian J Med Res 2004; 120: 305-15.
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2Bhansali SK. Abdominal tuberculosis. Experiences with 300 cases. Am J Gastroenterol. 1977; 67(4): 324-37.
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3Lee DG, Kim GH. Nododuodenal fistula caused by tuberculosis. Korean J Intern Med. 2011; 26(4): 477.
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4Nasa M, Sharma Z, Saraf N, et al. Tubercular lymphadenopathy with duodenal fistula. J Dig Endosc 2016; 7: 74-6.
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5Bhatti A, Hussain M, Kumar D, et al. Duodenal tuberculosis. J Coll Physicians Surg Pak. 2012; 22(2): 111-2.
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Fonte de financiamento:
não há
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
14 Maio 2021 -
Data do Fascículo
2021
Histórico
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Recebido
13 Jul 2020 -
Aceito
11 Out 2020