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Tomas de Aquino y la psicopatologia. Contribucion al conocimiento de la Psiquiatría Medieval. E. Eduardo Krapf

ANÁLISES DE LIVROS

Dentre suas mais importantes obras destacam-se seus comentários sobre as obras de Aristóteles e as duas "Sumas": a "Summa contra Gentiles" e a "Summa Theologica", esta contendo todo saber teológico, psicológico, filosófico e sociológico do "Santo Doutor". Antes de estudar as opiniões psico-patológicas de Tomas de Aquino, faz o autor breve exposição de sua psicologia normal. Funda-se esta na doutrina aristotélica da unidade psicofísica do ser humano, não admitindo portanto o dualismo psicofísico de Platão. A psique é uma "unidade" não do tipo de uma homogeneidade amorfa, senão uma "unitas multiplex", uma "unidade estruturada", segundo a terminologia moderna. Concebe Tomas de Aquino uma psique funcional estratificada em "anima vegetativa", "anima sensitiva", "anima intelectiva", admitindo o aperfeiçoamento gradual do ser humano, o que se aproxima, como assinala Krapf, da moderna "psicologia evolutiva". Assim é que diferencia os apetites em 3 formas: "naturalis" (substâncias minerais e plantas), "sensitivus" (animais), "intelectivus" (privilégio do ser humano), admitindo igualmente que os seres humanos devem atravessar os estados inferiores da vida psíquica para alcançar os superiores, tal conceito de "integração" do inferior no superior, com corolário inverso de desintegração, sendo o próprio fundamento das concepções de Hughlings Jackson e Freud. Desenvolve o autor os conceitos de "anima vegetativa" (nutrição, crescimento e reprodução), "anima sensitiva" (aspecto cognitivo, intelectivo e o "appetitus sensitivus"). Dentre os sentidos externos dá Tomas de Aquino grande importância ao "tacto"; entre os sentidos internos distingue: "sensus communis", a "imaginatio" ou "phantasia" (função mnésica), a "vis aestimativa" (Instinkt ou instinct respectivamente da psicologia germânica e anglosaxonica) e a "memória sensitiva" (localização do tempo no passado individual). Os sentidos em conjunto constituem o aspecto cognativo da "anima sensitiva". Atrai a atenção o autor para a grande semelhança entre as duas grandes tendências do "appetitus sensitivus" ("concupiscibilis" e "irascibilis") com a concepção dos instintos de Freud: o instinto sexual e o agressivo, a tendência do ser vivo para o gozo e para o agradável postulada por Tomas de Aquino sendo muito semelhante ao "princípio do prazer" de Freud. Os sentidos fornecem material para o aspecto cognativo da alma intelectiva: "ratio" ou "intellectus", o "modus" da alma intelectiva sendo o "appetitus intellectivus" ou a vontade. Razão e vontade são para Tomas de Aquino, forças espirituais que fazem uso de forças materiais.

A seguir, passa Krapf a analisar o aspecto psicopatológico da obra do grande teólogo. Sua posição central é que a psique humana, enquanto é essencialmente humana, não pode adoecer ("Anima enin humana non potest corrunipi. nisi per se corrumperetur"). As virtudes de prudência, justiça, fortaleza, temperança guardam relação com "ratio", "voluntas", "irascibilis", "concupiscibilis". A "insania" é, em primeiro lugar, para Tomas de Aquino, uma doença física, fato para o qual atrai o autor a atenção, visto que é comum atribuir-se à psicopatologia medieval conceito diametralmente oposto. Toda alienação é, para Tomas de Aquino, uma deticiência no uso da razão a qual pode se originar de duas maneiras: ou porque as paixões são demasiado intensas ou porque o aparelho físico funciona tão mal que a razão não pode intervir. As alucinações são consideradas como perturbações dos sentidos, expressando, ao contrário das sensações, algo "interno", acrescentando-se ainda juízo errado sobre a realidade. Comparando-se com os sonhos, aproxima-se Tomas de Aquino das modernas concepções da psicopatologia. Além do conceito de "insani", discute Krapf os demais no campo da psicopatologia encontrados na obra do grande psicologo medieval, tais como os de "ameutes", "phrenetici", "furiosi", "raptus" (este nem sempre patológico, por vezes com significado de extase). Os "melancolici" de Tomas de Aquino são pessoas de ''temperamento" melancólico, por vezes porém, francos doentes mentais com funda depressão ("tristitia"), na "mania" (que como a melancolia, nasce também da "tristitia", apartando-se assim da atual e moderna acepção deste termo em psiquiatria) predominando um afeto mais estenico a "ira". Na obra de Tomas de Aquino encontram-se ainda referências às psicoses orgânicas, à epilepsia (dava grande importância aos fenômenos vaso-motores nesta última enfermidade), aos defeitos de inteligência ("stultitia, hebetudo, ignorantia e preacipitatio") com concepções muito semelhantes às atuais referentes aos oligofrênicos e retardados sociais. Não se preocupou muito com o problema terapêutico e, do ponto de vista da psiquiatria forense, acentuou a irresponsabilidade dos alienados visto não possuirem discernimento e, como acentua Krapf, parece ter-se aproximado do conceito moderno de "responsabilidade limitada". Nas páginas finais do seu substancioso trabalho, refere o autor que o renascimento tomista não ocorreu apenas dentro da teologia, senão surgiu nas mais diversas esferas. Em particular, na psicologia encontrou ele expressão na obra de Franz Brentano, datada de 1874 - "psicologia desde o ponto de vista empírico". Também a fenomenologia (Husserl, Jaspers) de tão larga e fertil aplicação à semiologia psiquiátrica e à moderna psicopatologia, está bem impregnada dos conceitos de Tomas de Aquino.

Concordamos, sem dúvida, com o autor desta lúcida, profunda e bem escrita monografia quando afirma que "pode ser de indiscutível utilidade para os psiquiatras do século XX saber o que ha 700 anos passados, pensou e escreveu o monge napolitano". Tal perspectiva histórico-evolutiva afigura-se-nos útil, quase mesmo indispensável não só para fazer crescer e se fortificar nossa admiração pela invulgar personalidade de uma das maiores figuras entre os doutores da Igreja, çomo também para impregnar nosso atual pensamento em psicopatologia com as profundas meditações de tão sã psicologia e filosofia.

D. MENDONÇA UCHÔA

  • Tomas de Aquino y la psicopatologia. Contribucion al conocimiento de la Psiquiatría Medieval. E. Eduardo Krapf. Monografia com 43 páginas editada por Index, Buenos Aires, 1943

    Com a presente monografia traz o autor importante contribuição para o estudo da medicina mental na Idade Média. Para bem realçar seu objetivo de esclarecer o pensamento sobre a psicopatologia na referida época, escolheu para objeto de seu estudo a obra de Tomas de Aquino (1225-1274), "um dos teólogos mais eminentes de todas as épocas, não só o príncipe indiscutível dos filósofos escolásticos, não só um gênio universal como a humanidade pouco possuiu, senão, ainda mais, um espírito realmente representativo de sua época: a expressão mais pura do pensamento medieval".
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      02 Mar 2015
    • Data do Fascículo
      Dez 1943
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