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Das interpretações claro-escuro no Psico-diagnóstico de Rorschach e os estados de ansiedade. José Leme Lopes

ANÁLISES DE LIVROS

Das interpretações claro-escuro no Psico-diagnóstico de Rorschach e os estados de ansiedade. José Leme Lopes. Tese apresentada ao Concurso de Docência Livre de Clínica Psiquiátrica da Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil. Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, 1943

O A. - com a sua experiência de onze anos de prática do Psico-diagnóstico de Rorschach em adultos e crianças normais, doentes mentais e neuróticos, crianças-problemas e personalidades com distorsões na sua estrutura - dedica a sua tese para Concurso de Docência livre de Clínica Psiquiátrica da Faculdade Nacional de Medicina à revisão das interpretações claro-escuro no célebre método de investigações caracterológicas e às relações entre tais interpretações e as distimias ansiosas. Depois de reconhecer, com discernimento, as limitações da tese de Rorschach, apresenta a resenha histórica dos estudos sobre as respostas baseadas na gradação claro-escuro das manchas, assinalando que Rorschach as mencionou em artigo publicado pouco antes de sua morte, atribuindo-lhes a seguinte significação: "Parecem relacionar-se com a capacidade de adaptação da afetividade, demonstrando, porém, uma adaptação afetiva angustiosa, cautelosa, contida, um auto-domínio em face de outrem, uma tendência à depressão, que se procura vencer em público". "Representam, portanto, acrescenta o A., uma modalidade especial de contacto afetivo, tímido, medroso - que se procura furtar ao conhecimento do meio e que traz, como consequência, uma tristeza íntima, um descontentamento". Hans Binder, Loosli-Usteri, Guirdham, Vernon, Kopfer e outros vieram confirmar que as interpretações claro-escuro têm ligação com a vida afetiva, classificando-se em duas categorias: algumas se originam do eu-percepção - "representam uma tentativa de adaptação afetiva à realidade, mas uma adaptação controlada pela inteligência, cautelosa, tímida, trazendo em consequência constrangimento, dolência, um certo grau de tristeza" - e outras se originam diretamente do eu-instintivo - interpretações que se manifestam sob o estímulo violento das manchas carregadas "sem que a censura e a inteligência lhes possam dar forma compatível com as exigências sociais". Nestas últimas, os impulsos primitivos, "quais forças flutuantes sem possibilidade de canalização, geram os estados de angústia e, porisso, as respostas de tal tipo são encontradiças nas psicopatias e nas neuroses.

No objetivo de fazer a revisão das interpretações claro-escuro, de precisar a técnica de sua apuração e de penetrar em seu significado, sobretudo nas suas relações com os transtornos afetivos, o A. classifica as interpretações claro-escuro em duas categorias: as respostas de textura ou superfície e as de profundidade e difusão. As primeiras, representadas por F (C), exprimiram uma forma particular de adaptação afetiva, enquanto as segundas, representadas por Cies, uma desordem da afetividade - a ansiedade. O A. estuda as respostas claro-escuro em 100 protocolos de indivíduos normais, confirmando a opinião vigente de que tais respostas não são frequentes nos adultos normais, e de que, quando abundantes, denunciam pessoas dotadas de inteligência superior, com riqueza associativa e natureza dotada de sensibilidade finamente diferenciada, capaz de boa adaptação. Em seguida, o A. passa em revista os protocolos de 28 casos, na maioria de neuróticos, nos quais o sintoma capital seria a ansiedade, chegando às conclusões": 1) nos neuróticos, o número de respostas claro-escuro mantém relação com os estados de ansiedade; 2) as interpretações Cies e Cies F representam a ansiedade indefinida, vaga, frequente nas neuroses de angústia; 3) sob a ação do tratamento psicoterápico, à medida que cai, a ansiedade, diminuem "as respostas desse tipo, que são substituídas pelas de texturas e F (C); 4) o número de respostas claro-escuro num protocolo de neurótico é, também, função da estrutura da personalidade, de sua dotação intelectual e artística, que favorece seu aparecimento, especialmente o das variedades C; 5) nas melancolias endógenas ou reacionais, a ansiedade não se revela por interpretações claro-escuro; a grande coartação impede o seu aparecimento; nos períodos de regressão podem surgir de modo semelhante ao encontrado nas distimias neuróticas; 6) a ansiedade enxertada no quadro esquizofrênico não utiliza, no psico-diagnóstico, as interpretações claro-escuro como revelador".

J. Carvalhal Ribas

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    02 Mar 2015
  • Data do Fascículo
    Set 1944
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