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Análises de livros

ANÁLISES DE LIVROS

A DISEASE ONCE SACRED: A HISTORY OF THE MEDICAL UNDERSTANDING OF EPILEPSY.M J EDDIE & P F BLADIN. ISBN 0 86196 607 4. UM VOLUME (17 X 24 CM) EM BROCHURA COM 248 PÁGINAS. EASTLEIGH, 2001: JOHN LIBBEY & CO LTD (PO BOX 276, EASTLEIGH SO50 5YS ENGLAND UK. FAX 4423 8065 0259).

A compreensão dos fenômenos relacionados à epilepsia tem desafiado pensadores e cientistas desde a Antiguidade. Nesta obra os autores, eminentes epileptólogos australianos, tomam como ponto de partida as bases atuais do conhecimento científico sobre a epilepsia, e guiam o leitor em uma excursão ao passado em uma extensa revisão dos conceitos clínicos, fisiopatológicos e terapêuticos ao longo do curso da história.

O título ("Uma doença outrora sagrada") é uma referência aos escritos clássicos hipocráticos sobre a epilepsia ("Sobre a doença sagrada", onde o "Pai da Medicina" procurou, pela primeira vez na história, demolir o conceito sobre o caráter sobrenatural da doença). O título talvez contenha também uma sutil ironia acerca do fato de que o caráter sobrenatural da epilepsia continue presente na literatura médica até o final do século XIX e talvez ainda não tenha sido de todo erradicada da mente leiga até os dias atuais.

O livro divide-se em quatro partes. Na primeira, os autores tentam apresentar (com sucesso relativo) em linguagem acessível ao não especialista e ao público leigo uma explanação resumida sobre os conceitos contemporâneo de epilepsia, incluindo a descrição e classificação das crises e síndromes epilépticas, segundo os critérios da Liga Internacional Contra a Epilepsia (ILAE).

Em seguida, os autores partem para uma longa jornada na linha do tempo, analisando de forma detalhada, bem documentada, a descrição da fenomenologia clínica das crises epilépticas ao longo da história. Particularmente interessantes são as análises dos conceitos contidos no Sakkiku (um texto médico diagnóstico cuneiforme compilado entre 1067 e 1046 a.C.) contendo a primeira descrição de crises epilépticas. A partir daí são visitados o Oriente distante (China e Índia), a Antiguidade Clássica (Greco-Latina), desmitificando-se a crença de que cabe a Hipócrates e seus discípulos a primazia da descrição da doença. Em seguida são apresentados os conceitos de Areteu da Capadócia, dos latinos Celso e Galeno (que utilizou pela primeira vez a palavra aura), a medicina islâmica da Idade média, dos autores renascentistas e do ilumininsmo (Rolando, Willis, John Locke, Boerhaave, Tissot, do mexicano de Horta - o primeiro autor do Novo Mundo a escrever um livro sobre epilepsia) e outros, que basicamente descreveram crises tônico-clônicas generalizadas e diversas formas de crises parciais, inclusive as crises parciais complexas.

Aos autores do século XIX devemos a ampliação no conhecimento sobre os tipos de crises e síndromes epilépticas, como o conceito de petit mal (Esquirol, 1836), o emprego do termo ausências (Calmeil, 1824), a descrição por West em carta ao Lancet, em 1841, de um relato de caso (de seu próprio filho) de espasmos infantis, do reconhecimento das crises mioclônicas associadas à epilepsia mioclônica juvenil pela neurologista de Genebra, Théodore Herpin, em 1867, e do ponto de partida para as bases atuais da análise clínico-patológica das crises parciais motoras por John Hughlings Jackson em sua famosa palestra "Um estudo sobre as convulsões", de 1870. Os autores também analisam fenômenos correlatos como histeria e eclâmpsia.

O segundo capítulo analisa detalhadamente a compreensão dos fenômenos subjacentes à epilepsia, detendo-se cuidadosamente na dicotomia organicidade - forças sobrenaturais que permeou, na expressão dos autores, lenta e penosamente ao longo dos séculos, as tentativas de compreensão das bases fisiopatológicas da epilepsia até o trabalho magistral de Jackson no final do século XIX e da revolução decorrente da introdução da eletrencefalografia por Berger (1929) e Gibbs (1935), e subsequentemente dos trabalhos de Penfield, Jasper e Gastaut, a partir de meados do século XX.

As diversas formas propostas para o tratamento das epilepsias, uma mescla de superstição, exorcismo e medidas médicas de causar arrepios no médico contemporâneo são revistas no capítulo seguinte, até a introdução dos brometos no tratamento das epilepsias.

O primeiro tratamento reconhecidamente eficaz para crises epilépticas foi apresentado por Sir C. Lolock no congresso da Sociedade Real de Medicina e Cirurgia em Londres, em 1857 – apresentado como tratamento da epilepsia histérica (ou uterina), compreendida neste contexto como crises que ocorriam exclusiva ou predominantemente durante o período menstrual. Ironicamente, o emprego dos brometos baseava-se na observação de que estes causavam impotência reversível em homens, e, portanto, seriam agentes adequados para o tratamento da hiperatividade da função genital interna das pacientes com epilepsia uterina.

A história da introdução das drogas anti-epilépticas e o racional de seu desenvolvimento e utilização clínica são revistas de forma sucinta. As modalidades terapêuticas não medicamentosas são mencionadas de passagem, e, de forma frustrante, pouco se menciona sobre a modalidade cirúrgica para o tratamento da epilepsia.

No breve capítulo final, os autores discorrem sobre o estado atual do conhecimento da epilepsia, destacando os avanços da tecnologia, como o emprego do vídeo-EEG, do desenvolvimento da genética e da neuro-imagem funcional, da melhor compreensão sobre o diagnóstico diferencial, discutem rapidamente o conceito de "cura" da epilepsia, e, não deixam de enfatizar a importância de divulgar para o público leigo e comunidade em geral do conhecimento atual acerca da epilepsia, lembrando que o objetivo primordial da medicina é a saúde e o bem estar do paciente.

Os autores terminam o livro em tom otimista, lembrando que os avanços nestas áreas parecem estar começando a remover o pesado fardo social que ainda hoje aflige os pacientes epilépticos.

Em uma obra que se propõe a cobrir tantos aspectos em um número limitado de páginas, é quase impossível não pecar por excessiva superficialidade em algumas partes e por um certo ranço de "manual de referência" em outras, comprometendo em alguns momentos a fluência e o prazer da leitura.

O livro deve interessar principalmente ao leitor não leigo, especialmente ao leitor com um cabedal de conhecimentos que o permita apreciar as referências ao longo do texto, situando-as dentro de um contexto histórico-filosófico mais amplo.

LUIZ HENRIQUE MARTINS DE CASTRO

COMPREHENSIVE CARE FOR PEOPLE WITH EPILEPSY. M PFAFFIN, R T FRASER, R THORBECKE, U SPECHT, P WOLFF (EDS). CURRENT PROBLEMS IN EPILEPSY 16. ISBN 0 86196 610 4. UM VOLUME (18 X 24 CM) ENCADERNADO, 366 PÁGINAS. EASTLEIGH, 2001: JOHN LIBBEY & CI LTD (PO BOX 276, EASTLEIGH SO50 5YS ENGLAND UK. FAX 4423 8065 0259).

Este livro traz uma interessante análise das várias dificuldades psicossociais apresentadas pelos pacientes com epilepsia e de como conduzi-las. O livro encontra-se dividido em quatro partes.

Na primeira parte discute-se a necessidade da abordagem multidisciplinar para pacientes com as diversas formas de epilepsia, incluindo desde aqueles com epilepsias refratárias até aqueles livres de crises. Ressalta-se a importância da extensão deste trabalho à família e à comunidade sem o que corre-se o risco do insucesso.

A segunda parte é voltada para as diferentes possibilidades de intervenção em relação a áreas específicas como as crises epilépticas em si, as comorbidades, o campo profissional e o preparo psíquico para a cirurgia.

Em relação às crises epilépticas são citadas interessantes formas adjuvantes de tratamento, chamadas de "tratamento conservador não farmacológico", constituídas por um conjunto de condutas capazes de evitar ou atenuar as crises epilépticas, como: medidas de higiene de vida; técnicas capazes de evitar ou atenuar os eventos deflagradores das crises epilépticas, desde que estes possam ser reconhecidos; e, medidas de relaxamento quando do aparecimento das auras epilépticas.

Quanto às comorbidades, são referidas as mais comuns e as condutas a serem adotadas como tratamentos psicoterápico e psiquiátrico, estratégias para controle dos distúrbios emocionais e para as dificuldades de memória, sendo dada especial atenção as freqüentes crises não epilépticas ou pseudocrises.

A questão profissional é discutida em detalhes incluindo como proceder para avaliação, orientação e reabilitação de cada um destes pacientes.

Finalmente são referidos alguns dos programas de abordagem multidisciplinar em uso: o MOSES, programa educacional para pacientes adultos e seus familiares; o PEPE, abordagem psico-educacional para pacientes com epilepsia e dificuldades mentais e/ou de aprendizado; e o PENGUIN, plano de orientação sobre epilepsia para crianças entre 3 e 15 anos de idade.

A terceira parte traz vários exemplos de programas multidisciplinares desenvolvidos no mundo, a maioria deles envolvendo os pacientes epilépticos, seus familiares e a comunidade. São detalhados de modo bastante interessante os programas de Israel, Irlanda, Eslovénia, Alemanha, Holanda, Suécia, Japão cada um deles com suas particularidades.

A última parte discute os aspectos econômicos e de evolução da abordagem multidisciplinar além de mostrar a experiência do Centro de Epilepsia de Bethel, na Alemanha.

O estudo econômico analisa os vários campos da epilepsia como diagnóstico, tratamento e a abordagem multidisciplinar, ressaltando que esta última não necessariamente envolve custos elevados.

A avaliação dos resultados da aplicação da abordagem multidisciplinar é feita em relação a qualidade de vida e aos aspectos neuropsicológicos e profissionais. Neste sentido é mostrada a escala de PESOS que envolve dados clínicos e demográficos, indicadores objetivos e subjetivos de qualidade de vida e módulos para pacientes especiais.

Finalmente é apresentado o estudo prospectivo realizado na Clínica de Epilepsia de Behtel, cujos resultados são avaliados de acordo com a escala de PESOS. Observa-se significativa melhora no grupo que recebeu a abordagem multidisciplinar embora o grupo controle tenha também melhorado.

MARIA LUIZA G. DE MANREZA

GAY MEN'S FRIENDSHIPS. PETER M NARDI. ISBN 0 226 56849 0. UM VOLUME ((14 X 22 CM) COM 253 PÁGINAS. CHICAGO, 1999: THE UNIVERSITY OF CHICAGO PRESS (5801 SOUTH ELLIS AVENUE, CHICAGO , ILLINOIS 60637 USA / www.press.uchicago.edu).

Este livro esboça, numa maneira clara e bem escrita, a evolução que está acontecendo nos Estados Unidos, das associações interpessoais que homens homossexuais estão formando em bases duradouras. Um dos temas principais do livro pode ser encapsulado nas palavras "famílias escolhidas." O autor apresenta a literatura psicológica e socioeconômica, em livros e artigos, que foram publicados sobre este assunto nos últimos 25 anos; um total de 153 livros e 44 artigos é apresentado na bibliografia. A literatura sobre uma evolução semelhante entre lésbicas americanas também é apresentado nestas páginas.

O autor, que declara-se gay, refere a um relacionamento com um outro gay, cujo nome é revelado, que ele tem durante 40 anos. Também descreve os resultados de entrevistas com 191 homens gay e 122 lésbicas que ele pessoalmente fez. Estes estudos aconteceram no estado de Califórnia, onde o autor é membro da faculdade de uma universidade. Qualquer pessoa que tem interesse neste assunto vai achar este livro informante, erudito, e até fascinante.

A situação no Brasil claramente é bem diferente. Se uma evolução semelhante está ocorrendo aqui, é somente em pequenos grupos isolados da classe média em áreas metropolitanas como Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Porto Alegre. Nos últimos 35 anos de clínica psiquiátrica, e morando na sociedade geral no sul do estado da Bahia, nós podemos lembrar de quase nenhuma pessoa que se declarou gay ou lésbica. Entre 3 e 4 por cento da população em todos os países é homossexual. Se a população do Brasil é 170 milhões, e se 65 por cento desta população tem mais de 15 anos de idade, existem, numa estimativa conservadora, 4 milhões de homossexuais neste país. Do que nós sabemos, a literatura médica brasileira neste tipo de problema da personalidade é pequeno, e estudos atualizados quase não existem.

A.H. CHAPMAN

DJALMA VIEIRA E SILVA

O LIVRO DAS CEFALÉIAS. WILSON LUIZ SANVITO, PAULO HÉLIO MONZILLO. UM VOLUME (18 X 27 CM) EM BROCHURA, COM 210 PÁGINAS. SÃO PAULO, 2001: ATHENEU (RUA JESUÍNO PASCOAL 30, SÃO PAULO SP. FAX 11 11 223 5513. E-MAIL edathe@terra.com.br).

Wilson Luiz Sanvito, Professor Titular de Neurologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCM) e Paulo Hélio Monzillo, Professor Convidado da Disciplina de Neurologia da FCM apresentam sua experiência no lidar com as cefaléias neste compêndio. Como seus colaboradores listam Agnaldo Rodrigues da Costa, Antonio Murillo Lemos Ramalho, Luiz Carlos Manganello-Souza e Maria Esther Suarez Alpire – todos integrados nas lides da FCM.

Dentre as oportunas citações com que os autores abrem o livro, vale lembrar parte daquela da pena magistral de Álvaro Lima Costa, mestre cultor da neurologia e das letras no Instituto Deolindo Couto da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Escreve ele: "Na verdade, a dor é uma opinião e, como tal, impregnada de elementos subjetivos, emoções e vivências." e, talvez por esse motivo, Sanvito complete na Apresentação a idéia, ao escrever que "Lidar com a dor é uma das tarefas mais árduas impostas ao médico." Na verdade, é preciso que o médico esteja capacitado para exercer em sua plenitude o primeiro dos seus deveres hipocráticos: "Medicina opus divinum sedare dolorem est ". Daí a importância desta obra, pois fornece elementos essenciais para a conduta nas cefaléias, uma das formas pungentes e das mais delicadas ente todas as dores que pode o ser humano padecer.

Após mencionar os treze tipos de cefaléia, segundo a versão 1988 da International Headache Society, a matéria da obra é distribuída em quinze capítulos, cada qual finalizando com as respectivas referências bibliográficas. Estes compreendem, sucessivamente: anamnese e exame físico; quando investigar uma cefaléia; enxaqueca ou migrânea; cefaléia tipo tensional e cefaléia crônica diária; cefaléia em salvas; cefaléias de curta duração e outras cefaléias não associadas a lesão estrutural; cefaléias dependentes de traumas cranianos e/ou cervicais; cefaléia e doenças cerebrovasculares; cefaléias decorrentes de modificações da pressão intracraniana; cefaléias associadas a distúrbios metabólicos; algias craniofaciais dependentes de neurites e neuropatias e dor de deaferentação; classificação das cefaléias, neuralgias cranianas e dor facial. Um bulário e o índice remissivo encerram o volume.

Certamente que o público-alvo deste livro é o cefaliatra. Mas a qualidade dos conhecimentos e das recomendações de conduta que contém, fazem dele um livro cuja leitura igualmente beneficia o neurologista, assim como o clínico geral ou o médico internista.

ANTONIO SPINA-FRANÇA

TERAPIA INTENSIVA EM NEUROLOGIA E NEUROCIRURGIA: MÉTODOS DE MONITORIZAÇÃO E SITUAÇÕES ESPECIAIS. CHARLES ANDRÉ & GABRIEL R. DE FREITAS. UM VOLUME (14X21 CM) EM BROCHURA, COM 340 PÁGINAS. ISBN 85 7309 602 0. RIO DE JANEIRO, 2002: LIVRARIA E EDITORA REVINTER LTDA (RUA DO MATOSO 170, 20270-130 RIO DE JANEIRO RJ. FAX 21 2563 9701. E-MAIL livraria@revinter.com.br).

Cada vez com mais propriedade, a literatura médica brasileira se enriquece com obras resultantes dos conhecimentos científicos e tecnológicos que fazem parte da vivência e da experiência dos seus autores no tema. É o caso deste livro e seus autores. Charles André é Professor Adjunto de Neurologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e o responsável pelo Setor de Doenças Cerebrovasculares do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da UFRJ. Gabriel Rodríguez de Freitas é Doutorando em Neurologia da UFRJ e ex-estagiário em doenças cerebrovasculares do Centre Hospitalier Universitaire Vaulois, em Lausanne, Suíça. Na produção deste livro, a eles somaram suas contribuições vinte e duas das mais notáveis autoridades, do Rio de Janeiro, na matéria específica de que tratam.

Como chama a atenção, no Prefácio, o Professor Titular de Neurologia da UFRJ, Sérgio Augusto Pereira Novis, os conhecimentos dos cuidados intensivos integram o cabedal do neurologista, que sem ele não mais exerce com plenitude a nossa especialidade. Na Apresentação, completam os autores este modo de ver: hoje, o neurointensivista é figura essencial ao bom desempenho de uma unidade hospitalar de terapia intensiva (UTI). Completo esse modo de ver com minha própria experiência, lembrando o quanto é indispensável a participação ativa do neurologista em qualquer UTI, que como tal se considere e assim se insira no plano assistencial. Com os autores, defendo esse ponto de vista, da mesma forma que defendo o real treinamento em uma UTI de todo o médico residente em neurologia, sem o que ele não mais pode ser considerado apto para exercer a nossa especialidade, a neurologia propriamente dita.

Após cuidadosa apresentação de técnicas, em figuras a cor, sob a designação de Atlas, segue-se a matéria do livro. Ela é distribuída em duas partes: métodos de monitorização e situações especiais. A primeira parte contém sete capítulos sobre: monitorização, com exame neurológico e escalas de avaliação; monitorização da pressão intracraniana e da temperatura cerebral; monitorização da oximetria do bulbo jugular; monitorização eletrencefalográfica contínua; eletroneuromiografia e potenciais evocados; Doppler transcraniano. A segunda parte reune os capítulos sobre: ventilação no paciente neurológico; pós-operatório neurocirúrgico na UTI, a visão do intensivista; pós-operatório neurocirúrgico na UTI, a visão do neurocirurgião; hemorragia subaracnóidea, acompanhamento clínico; manejo clínico do traumatismo cranioencefálico; manejo clínico do traumatismo raquimedular; manejo clínico das infecções do sistema nervoso central; estado de mal epiléptico; miastenia gravis; síndrome de Guillain-Barré; polineuropatia e miopatia do paciente crítico; morte cerebral, diagnóstico e suporte clínico. Referências essenciais ao tema constam no final de cada um dos capítulos. Abreviado índice remissivo encerra o compêndio.

Assim como o livro é útil ao neurologista já experimentado, ele se mostra ainda mais útil para aquele em treinamento. Para estes, sua leitura é obrigatória. Obrigatória deveria também ser sua presença no arsenal de matéria de leitura imediata de toda e qualquer UTI brasileira, universitária ou não.

ANTONIO SPINA-FRANÇA

PRÁTICA PSIQUIÁTRICA NO HOSPITAL GERAL: INTERCONSULTA E EMERGÊNCIA. NEWRY JOSÉ BOTEGA, ORGANIZADOR. ISBN 85 7307 897 9. UM VOLUME (17,5 X 24,5 CM) EM BROCHURA, COM 478 PÁGINAS. PORTO ALEGRE, 2002: ARTMED EDITORA LTDA (AVENIDA JERÔNIMO DE ORNELAS 670, 90040-34-0 PORTO ALEGRE RS. FAX 51 3330 2378).

A prática psiquiátrica no hospital geral tem sido objeto de extensas revisões e debates principalmente após as transformações que vem marcando a Psiquiatria e que procuram transformá-la de uma atividade hospitalocêntrica e manicomial, tal como foi exercida durante o século XIX e grande parte do século XX, em uma especialidade médica, sujeita aos métodos e práticas tradicionais, com forte conteúdo científico e humanístico.

O organizador deste trabalho – Newry José Botega, Professor Livre-Docente do Departamento de Psicologia Médica da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP – aborda, em linguagem simples, exatamente essa questão e, embora a obra seja composta por diferentes autores, mantém sempre coerência, de maneira a compor um pensamento claro e completo.

Mesmo não tendo sido composta em unidades diversas, fica claro ao leitor que se compõe de alguns blocos coesos e coerentes entre si, de maneira tal que fica fácil a localização de temas básicos.

Assim, um primeiro bloco pode ser considerado, no qual se coloca a prática psiquiátrica no hospital geral desde seus primórdios, referidos aqui como sendo o Hospital St. Thomas em 1728, até o momento presente com todas as intercorrências existentes durante seu crescimento e transformações, bem como suas tendências e perspectivas. Da mesma forma, abordam-se desde a necessidade do psiquiatra na unidade geral como as características de sua intervenção, sob os pontos de vista neurológico, clínico, psicodinâmico e familiar, bem como sua formação e saúde mental, detendo-se em um ponto, hoje bastante esquecido pelas visões biologizantes da Psiquiatria, e que consideramos de fundamental importância no exercício da prática psiquiátrica: a relação médico-paciente, caracterizando o médico em sua dimensão compreensiva de acompanhamento ao paciente, no intuito de lhe minorar sofrimento. Assim, aborda, ainda que tangencialmente, as questões referentes à objetividade e ao pragmatismo que caracterizam a prática médica moderna, criticando e apontando a necessidade de novos paradigmas que a enriqueçam.

Um segundo bloco também pode ser facilmente identificado nas descrições referentes às principais patologias psiquiátricas encontradas no hospital geral, bem como quadros médicos gerais envolvendo aspectos psiquiátricos significativos. Passamos, assim, dos quadros depressivos, ansiosos, demenciais e de agitação, à sintomatologia psicológica e psiquiátrica encontradas na gravidez, puerpério, AIDS, pacientes transplantados e em UTIs, bem como nos portadores de dor crônica e, principalmente, naqueles que colocam o médico diante de sua limitação e impotência, os pacientes terminais, que trazem a perspectiva da finitude e da morte diante das quais naufragam grande parte dos projetos existenciais. A preocupação com o paciente enquanto Ser permeia todo o trabalho, ficando explícita quando se abordam questões referentes ao sigilo e às limitações propiciadas pelo ambiente hospitalar, hoje facilmente esquecidas na lida cotidiana e massificante.

Finalmente, um terceiro bloco é constituído pelas abordagens terapêuticas avaliadas aqui desde sua perspectiva psicofarmacológica até a visão psicoterápica nas mais diferentes modalidades, terminando com a descrição dos trabalhos em grupos no hospital geral e culminando com dois capítulos que consideramos fundamentais. Um, referente a interconsultas em Psiquiatria Infantil, área restrita e pouco estudada em nosso meio, e outro, referente a aspectos éticos e legais, os quais consideramos que deveriam constar de qualquer trabalho referente à Psiquiatria, não somente pelas questões legais que suscitam, mas por se constituírem no corolário de um Ser capaz de atribuir significados aos seus atos, de maneira tal a se caracterizar como algo único na escala evolutiva.

Os autores e, principalmente, o organizador responsável pela estruturação da obra, possuem uma boa visão do campo estudado, procurando enfatizar não somente a necessidade da atividade, mas também as formas de operacionalizá-la em nosso meio. Para isso se vale, em muitos capítulos, de quadros e tabelas que facilitam a consulta sem que, no entanto, deslize no mecanicismo observado em diversos trabalhos que procuram simplificar, muitas vezes de maneira pueril, a atividade médica. Deve assim ser utilizado por jovens psiquiatras e por aqueles que já possuem experiência na área, uma vez que sistematiza o modelo proposto.

Tudo isso escrito em português, de maneira simples e compreensível, de forma tal que (mesmo não sendo privilegiado pelas agências estatais de financiamento enquanto livro e língua utilizada) pode vir a se constituir num marco para a estruturação do modelo de interconsulta psiquiátrica em nosso país.

FRANCISCO B. ASSUMPÇÃO JR.

O CICLO DA VIDA HUMANA: UMA PERSPECTIVA PSICODINÂMICA. CLÁUDIO LAKS EIZIRIK, FLÁVIO KAPCZINSKI, ANA MARGARETH SIQUEIRA BASSOLS (EDS). ISBN 85 7307 909 6 UM VOLUME (16 X 23 CM) EM BROCHURA, COM 200 PÁGINAS. PORTO ALEGRE, 2001: ARTMED EDITORA LTDA (AVENIDA JERÔNIMO DE ORNELAS 670, 90040-34-0 PORTO ALEGRE RS. FAX 51 3330 2378).

Este bem composto e organizado livro foi escrito por 26 profissionais que ensinam na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e em suas instituições filiadas. Alguns deles têm diplomas de centros universitários e instituições psiquiátricas na Europa e nos Estados Unidos. O livro foi desenvolvido, durante muitos anos, em cursos para estudantes em Porto Alegre.

O conteúdo do livro pode ser esboçado pelos títulos dos seus capítulos. 1. Noções básicas sobre o funcionamento psíquico. 2. Gestação, parto e puerpério. 3. O bebê os pais. 4. O ciclo vital da família. 5. A criança de 0 a 3 anos. 6. A criança pré-escolar. 7. A idade escolar: latência (6 a 12 anos). 8. A puberdade. 9. O adolescente. 10. Adultos jovens, seus escriptos e cenários. 11. Idade adulta: meia-idade. 12. A velhice. 13. A morte: última etapa do ciclo vital. Cada capítulo tem uma bibliografia bem selecionada; mais ou menos uma metade das referências é em português e a outra, em inglês. O livro não possui um índice, o que é incomum num livro desta natureza, e o que talvez seja um pequeno defeito.

Como a maioria dos livros e artigos de psicologia e psiquiatria, mundialmente, este livro trata, em geral, de pessoas urbanas da classe média; em contraste, 60 por cento dos nossos pacientes, aqui na Bahia, são de regiões rurais e pequenas cidades, e muitos pertencem à classe operária ou até pobre (combinados, 80 por cento da população brasileira).

Os autores incluíram informações bem detalhadas e atualizadas sobre o desenvolvimento e natureza do cérebro, e do corpo humano durante toda a vida de uma pessoa, da gestação até a velhice. Isto é feito numa maneira que dá o máximo de informação com o mínimo de terminologia complexa. A orientação básica deste volume é Freudiana. As contribuições dos mais destacados pós-Freudianos, como Erik Homburger Erickson, Melanie Klein, Wilfred R. Bion, Theodore Lidz e outros recebem muita atenção. Em contraste, os pontos de vistas de Carl Gustav Jung e os seus seguidores, que escreveram sobre a idade média, a velhice e a morte (assuntos que ocupam quase 20 por cento deste livro) não são mencionados. Esses profissionais falam bem mais dos relacionamentos interpessoais das crianças com os seus pais do que as doutrinas Freudianas sobre estes relacionamentos (o complexo de Édipo, a ansiedade de castração, a inveja do pênis, etc.) Estas doutrinas muitas vezes são enfatizadas num livro deste tipo, com estas orientações básicas. Na nossa opinião, isto é um aspecto importante de volume.

Críticas mais importantes do livro podem ser feitas somente se o leitor não é Freudiano, e nós, por bem ou por mal, não somos. Nossos pontos de vista, ou preconceitos, neste assunto não são novos. Em Março, 1980, na época do saudoso Dr. Oswaldo Lange, nós publicamos um artigo neste jornal, "Base para uma psiquiatria científica: os conceitos de Harry Stack Sullivan."

Em sumário, nós recomendamos este bem escrito livro para estudantes, principiantes, até os meio-avançados. Considerando a nossa falta de confiança nas teorias Freudianas, isto é uma recomendação forte.

A.H. CHAPMAN

DJALMA VIEIRA E SILVA

A FACULDADE DE MEDICINA PRIMAZ DO RIO DE JANEIRO EM DOIS SÉCULOS DE HISTÓRIA DO BRASIL. MARLEIDE DA MOTA GOMES, SYLVIA DA SILVEIRA MELLO VARGAS, ALMIR FRAGA VALLADARES (EDITORES).UM VOLUME (19X27 CM) ENCADERNADO, COM 258 PÁGINAS. RIO DE JANEIRO, 2001: EDITORA ATHENEU (RUA BAMBINA 74,. FAX 21 2538 1284. E-MAIL atheneuy@atheneu.co.br).

Coordenando e reunindo as contribuições de uma plêiade de colegas da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), os editores deste livro, Marleide da Mota Gomes, Sylvia da Silveira Mello Vargas e Almir Fraga Valladares - Professores Adjuntos dessa notável casa de ensino - reunem neste livro dados precisos acerca da história, evolução e desempenho daquela que é a escola médica primaz do Rio de Janeiro, hoje designada Faculdade de Medicina da UFRJ. Trata-se de um documentário de grande valor histórico, dada a precisão do conteúdo e dado o critério dentro do qual este documentário foi erigido. À precisão, alie-se o amor à instituição, tanto da parte dos autores dos textos, como dos editores do livro.

Uma reprodução dos quadros da Pinacoteca da Faculdade de Medicina abre o livro. É uma galeria formada pelos quadros dos ilustres da escola, desde o de D. João VI que, como Príncipe Regente a fundou, até aquele do último Diretor, Almir Fraga Valladares - um dos editores desta obra. Edson A Saad escreve a Apresentação do livro e destaca o cuidadoso esforço desenvolvido por todos aqueles que nele colaboram e, particularmente, ao desempenho dos editores. Seguem-se os dezesseis capítulos com a matéria propriamente dita do livro. Sucessivamente aparecem: direções e aspectos político-administrativos; sedes; médicas pioneiras; ciências básicas e currículos; ciências clínicas e populacionais; ciências cirúrgicas e anestesiologia; obstetrícia; ginecologia; pediatria; psiquiatria; medicina legal; otorrinolaringologia; oftalmologia; radiologia, patologia; medicina de reabilitação. Índice Remissivo encerra esse elenco.

Um pouco da história da neurologia pátria consta do texto Ciências Clinicas e Populacionais (Capítulo 5). Aqui, digo eu, história da neurologia brasileira, pois foi na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em que a especialidade deu seus primeiros passos independentes. Antonio Austregésilo Rodrigues Lima, Pai da Neurologia Brasileira, a partir da primeira década do século XX, deu-lhe vida e foro, até 1944. Deolindo Augusto de Nunes Couto, a partir de então, ampliou o alcance da especialidade e, dentre seus muitos feitos, o realce cabe à criação do Instituto de Neurologia, que hoje leva seu nome. Essa foi a casa que serviu de cadinho a muitos dos mais ilustres neurologistas dos dias de hoje e, mais, o cadinho em que se fundiu e se deu forma à Academia Brasileira de Neurologia, órgão maior de todos nós, neurologistas brasileiros, que nela nos orgulhamos de ter, como Patrono, o Professor Deolindo Couto. Seus continuadores no Instituto, com determinação, deram continuidade a tão grande obra, que igualmente enaltece a neurologia do Brasil e a Faculdade de Medicina da UFRJ.

Os cultores da história da medicina encontram neste livro subsídios de primeira grandeza para melhor penetrar e avaliar o desenvolvimento e a evolução da Faculdade de Medicina da UFRJ, de sua fundação até os presentes dias.

ANTONIO SPINA-FRANÇA R

AVANÇOS EM MEDICINA DO SONO. RUBENS REIMÃO. UM VOLUME (14 X 21 CM) EM BROCHURA, COM 446 PÁGINAS. SÃO PAULO, 2001: ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA (AVENIDA BRIGADEIRO LUÍS ANTONIO 278, 01318-901 SÃO PAULO SP / www.apm.org.br).

Rubens Reimão, Livre-Docente de Neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, reuniu aos seus esforços aqueles de 46 outros destacados colegas no preparo do presente livro. Contém ele a maior parte das apresentações feitas no IX Simpósio Brasileiro de Sono e III Congresso Paulista de Sono (São Paulo, 23 e 24 de novembro de 2001).

A matéria é dividida em duas partes. A primeira abrange apresentações programadas como relatos oficiais e a segunda, temas livres. Treze registros compõem esta segunda parte e 46, a primeira. Incluem-se nesta primeira diferentes temas ligados aos seguintes assuntos: sono e memória, aprendizagem e sono, insônia do lactente, apnéia obstrutiva do sono na infância, estudo do sono em adolescentes, agressividade / depressão / sono no idoso, insônia no idoso, estudos populacionais de insônia, sono / ansiedade / qualidade de vida, prevalência de insônia em uma comunidade, insônia crônica e qualidade de vida, insônia e qualidade de vida no idoso, insônia na prática clínica, insônia e transtornos do humor, sono e estresse, sono e fibromialgia, insônia e disfunção têmporo-mandibular polissonografia na insônia, insônia e terapia cognitivo-comportamental, sono / sonho / função alfa e insônia, sonolência diurna excessiva, polissonografia na apnéia obstrutiva do sono, sono e cirurgia da obesidade mórbida, apnéia central do sono e respiração de Cheyne-Stokes na insuficiência cardíaca congestiva, mito de Thelkis e narcolepsia, narcolepsia e acidentes automobilísticos, bruxismo noturno, tratamento auxiliar em condições de parassônia, uso de aparelhos orais e afastadores nasais na apnéia obstrutiva do sono, sono e sonhos em psicoterapia, análise de fobias através dos sonhos, sono / mistério / acalanto, o que o espelho revela que o olho não pode ver, construção da auto-representação mental em indivíduos privados de visão.

A diversidade dos temas listados resulta dos diferentes grupos de especialistas que apresentaram seus dados nesse congresso. Ao mesmo tempo, chama a atenção para a necessidade de reunir por assuntos os progressos que continuamente se registram na área da medicina do sono. De fato, este livro reune temas de interesse em medicina e, também, de interesse a outras áreas das ciências da saúde e a áreas ligadas à investigação em psicologia.

Assim, ao pioneiro dos estudos do sono em medicina no nosso meio, Rubens Reimão, impõe-se, agora, uma nova tarefa: a de dar vida própria a cada campo da sonologia e respectivos desdobramentos. Terá ele mais um motivo de reconhecimento de seus colegas neurologistas, aprofundando a difusão dos conhecimentos de interesse a esta área da medicina e abrindo espaço para que as demais áreas da sonologia também encontrem o seu merecido espaço. É o caso, por exemplo, do fascinante campo da psicologia do sonho dentro de uma visão sonológica, mas criticamente abrangendo idéias e observações de Freud, de Jung, de Sullivan - entre os clássicos do tema. Sem dúvida, esta nova fronteira encontra, entre os cultores da matéria em nosso meio, pessoas verdadeiramente preparadas e sábias. Reuni-las para um esforço comum e rico em frutos é um desafio que parte da sonologia médica. E Rubens Reimão, seu melhor êmulo.

ANTONIO SPINA-FRANÇA

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Jul 2002
  • Data do Fascículo
    Jun 2002
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